domingo, 7 de janeiro de 2018

NOSSA SENHORA MÃE DE DEUS. Porque chamamos Maria de “Nossa Senhora Mãe de Deus”?

NOSSA SENHORA MÃE DE DEUS.

Porque chamamos Maria de “Nossa Senhora Mãe de Deus”? 


A Maternidade Divina de Maria 

Em 1854, o papa Pio IX decretou o dogma da Imaculada Conceição de Maria, sugerindo que ela “foi preservada imune de toda mancha do pecado original”.
Celebramos no dia 1° de janeiro a solenidade de Nossa Senhora Mãe de Deus. Dia santo de guarda.
 Muitos cristãos, sobretudo de outras denominações têm dificuldade de entender esse título acompanhado também pelo dogma. Uma verdade de fé que está precisamente descrita nos Evangelhos. O estudo dentro da teologia que estuda a respeito da Virgem Maria é chamado de Mariologia. 
As denominações protestantes que não aceitam a veneração, o culto à Virgem Maria. Essa resistência acontece devido a reforma protestante cujo seus reformadores rejeitaram a Tradição Oral cristã, defendendo apenas só o uso das Escrituras ou "Sola Escriptura" como única verdade de fé.
Também acontece por manipulações tendenciosas ou interpretações errôneas da Bíblia, adulterações grosseiras das Bíblias protestantes no intuito de atacar e denegrir a Igreja Católica e a santidade plena da Virgem Maria atentando contra sua virgindade perpétua inclusive, tirando de Jesus a primogenitura como filho de Deus, dando a entender que Nossa Senhora teve outros filhos após conceber Jesus o que é mais uma mentira, erro de interpretação e heresia. As Bíblias protestantes foram modificadas e uma das razões é justamente para atacar a Virgem Maria e a Igreja Católica Apostólica Romana. Os erros são tão grosseiros que não precisa ser teólogo ou exegeta para descobrir. Basta pegar os escritos originais do grego e do hebraico e comparar. 

Ou seja, para eles somente a Bíblia é suficiente como mensagem de fé, desprezando assim a Tradição Apostólica e os ensinamentos dos santos padres ou "pais" da Igreja em tudo que se refere à fé. 
Ao longo da história da Igreja primitiva, os Apóstolos e os santos padres já veneravam a Virgem Maria. Muitos cristãos já acreditavam na sua imaculada conceição. 
Os dogmas ou verdades de fé proclamada pela Igreja através dos Papas ao longo da história são apenas confirmações daquilo que toda a Igreja já acreditava há muitos séculos. 
O Papa não toma decisões sozinho. Em matéria de fé a Igreja possui assistência do Espírito Santo e não pode errar. Sempre é realizado os Concílios que são reuniões com os bispos, os sucessores dos Apóstolos e com eles a Igreja decide em matéria de fé o que é verdade ou não. Se houver algum erro teológico, esse erro é debatido, corrigido e combatido. E não existe "as doutrinas" mas, uma só fé, um só culto e uma só doutrina.
 Assim, a Igreja define que a interpretação das escrituras cabe apenas ao Magistério da Igreja conforme ensina São Paulo e não admite a interpretação pessoal das Escrituras pois isso leva a muitas erros e à heresia. 
É comum entre as denominações protestantes e seus ramos encontrarmos tantas controvérsias doutrinárias e tantas heresias porque cada qual possui uma doutrina separada.        

Qual é o ensinamento da Igreja a respeito da Maternidade de Maria? 

➤O primeiro dos quatro dogmas marianos é o da maternidade divina de Maria. Primeiro, historicamente. Primeiro, como razão de todos os outros. O dogma que declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”, e foi julgado insuficiente o título de “Christotokos”, ou seja “Mãe de Cristo”. Mas hoje em dia a Igreja aceita que Maria seja chamada de Mãe de Deus e Mãe de Cristo porque sabemos que as duas coisas estão relacionadas.  

Pois bem... A pergunta é: Existe fundamento bíblico que justifique a Igreja ter proclamado Maria como  "Mãe de Deus?"
A resposta é, sim. Existe um forte fundamento bíblico para tal. Se não houvesse a Igreja não faria tal ensinamento.

Houve no passado muito anos de debates sobre o tema, muitos conflitos teológicos aconteceram entre os líderes da época até a Igreja proclamar solenemente a Maternidade divina de Maria.
Hoje, muitos pastores evangélicos com uma certa ignorância teológica até questionam o fato dizendo que Maria não pode ser Mãe de Deus porque Deus é muito mais velho do que ela, como pode uma velho ter uma mãe nova? 
Há uma dificuldade dos nossos irmãos protestantes ou evangélicos em aceitar esse título de Maria como sendo Mãe de Deus porque segundo eles Deus não têm mãe pois, ele é espírito.
Sim, é verdade. Deus Pai é espírito, mas é uma pessoa. A primeira pessoa da Santíssima Trindade.
Os gnósticos e outras seitas filosóficas, principalmente as orientais introduziram um ensinamento que Deus e natureza são a mesma coisa. Que as forças naturais e Deus não se separam. Ora, para nós cristãos esse ensinamento é falso, pois através da Sagrada Escritura e ação de Deus na história nos foi relevado que Deus existe em três pessoas distintas sendo o mesmo Deus. O Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo. Um só Deus, um só Senhor, uma só comunhão.     
Ora, tendo Jesus vindo a esse mundo e se encarnado no ventre de Maria e dela nascido, ela não só gerou um Jesus humano, também gerou um Jesus na sua divindade pois, as duas naturezas de Jesus não se separam, como não se separou após a ressurreição.
Jesus é o filho de Maria e filho de Deus gerado pelo Espírito Santo.

35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.  (Lc1, 35).

E aconteceu que, como todo o povo se batizava, sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu. E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. (Lucas 13, 21-22)
Lucas, o Evangelista mariano, procurou contar em palavras humanas o momento estupendo e inefável da Encarnação de Deus no seio de Maria. O dogma da maternidade divina de Maria está estreitamente ligado ao dogma da Encarnação do Filho de Deus. A partir daquele momento, o mistério e a missão de Cristo – Deus-homem e homem-Deus – une-se para sempre ao mistério e à missão de Maria de Nazaré. O mistério e a missão de Maria, porém, só têm sentido no mistério e na missão de seu Filho. Jesus, autor da Graça, toma carne daquela que ele plenificara de Graça já antes da Anunciação. Criaturas humanas e criaturas angelicais olham extasiadas o fato inimaginável: uma mulher ser genitora de seu genitor e a saúdam como filha de seu filho.
Maria é chamada pelo anjo de “cheia de graça”, porque “a Encarnação do Verbo, a união hispostática do Filho de Deus com a natureza humana se realiza e se consuma precisamente em Maria” (João Paulo II, encíclica Redemptoris Mater, n. 9).

Jesus é o Filho de Deus, é portanto Deus. Logo, é claro que Maria é Mãe de Deus. De Deus Pai? Não! É mãe de Deus Filho. Isto é, Jesus.
49 E ele lhes disse:Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc2, 49).
Jesus, o Filho Unigênito de Deus é o filho de Maria.
O que precisamos entender é:
Quando Maria concebeu Jesus deu a ele seu DNA. O sangue que correu nas veias de Jesus é o mesmo tipo sanguíneo do sangue de Maria. Jesus é homem e Deus, as duas naturezas não se separaram nem mesmo após a ressurreição.
Quando Jesus ressuscitado apareceu aos seus apóstolos e discípulos, eles podiam ver a marca dos pregos em seus pés e mãos. Jesus estava fisicamente vivo corpo, alma e divindade e até comeu com eles.
Se as duas naturezas de Jesus não se separaram, as condições da maternidade de Maria também não se separaram. Nós acreditamos, como a Igreja ensina que Maria está no céu de corpo e alma assim como seu Filho Jesus como prêmio pelo seu SIM e sua fidelidade aos planos de Deus pela salvação de todos dos homens. Por isso, nós a chamamos de a “Cooperadora da Graça” ou “Medianeira das graças”. Porque sabemos que em virtude dela ser a Mãe de Jesus, pelo poder de Deus ela foi escolhida e elevada acima de qualquer criatura humana neste mundo. Deus atende seus pedidos porque se Jesus é o Mediador da Salvação, Maria é medianeira das graças que por meio de seu Filho-Deus nos dá.
É aí que nossos irmãos protestantes entram em contradição. Com a reforma protestante aconteceu que amputaram 1500 anos de história. O Jesus Cristo dos protestantes nasceu sem mãe. Embora eles admitissem o fato de crer apenas no que a Escritura diz, eles rasgaram os capítulos que falam da maternidade de Maria, principalmente Lucas I e II.
Martinho Lutero chegou a falar bem de Maria. Ele a elogiava muito. Escreveu muitas palavras bonitas sobre ela. Mas, seus seguidores ao longo da história esqueceram que Jesus veio a esse mundo através de uma mulher, Maria.
Somente após a reforma, após o protestantismo ter espalhado muitos ensinamentos falsos e muitas heresias que a Maternidade divina de Maria tornou-se incompreensível para alguns cristãos.
Quando a Igreja proclamou o dogma da maternidade Divina de Maria dando a ela o título de “Mãe de Deus” é porque ela já era chamada assim pela Igreja primitiva. Os primeiros cristãos tinham um grande apreço e carinho por ela pois, se Deus Filho a escolheu como sua mãe e o Espírito Santo a fez “Cheia de Graça” quem nós tem o direito desprezá-la?
Cuidado! Negar Maria como Mãe de Deus é negar a divindade de Jesus.

Os Padres da Igreja Primitiva não tinham nenhum problema ao referir-se a Maria como a Mãe de Deus. Eles viam isso como uma consequência natural da Encarnação.
Santo Irineu (189 d.C)
A Virgem Maria, sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que portaria (portaret) Deus” (Contra as Heresias, 5:19:1)
Santo Hipólito de Roma (217 d.C)
Para de todas as gerações eles têm retratado por diante os grandiosos assuntos para a contemplação e para a ação. Assim, também, eles pregavam o advento de Deus em carne e osso para o mundo, seu advento pela impecável e mãe de Deus (Theotokos) Maria no caminho do nascimento e crescimento, e a forma de sua vida e conversa com os homens, e sua manifestação por meio do batismo, e o novo nascimento, que era para ser para todos os homens, e a regeneração pela pia [do batismo]” (Discurso sobre o Fim do Mundo, 1).
Gregório de Taumaturgo (262 d.C)
Para Lucas, nas narrativas dos evangelhos inspirados, oferece um testemunho não apenas para José, mas também a Maria, a Mãe de Deus, e dá este relato com referência à própria família e da casa de Davi” (Quatro Homilias 1).
É nosso dever apresentar a Deus, como sacrifícios, todos os festivais e celebrações de hinário, e em primeiro lugar, [a festa] da Anunciação à santa Mãe de Deus, a saber, a saudação que lhe foi feita pelo anjo, ‘Ave, cheia de graça!’” (Quatro Homilias 2).
Pedro de Alexandria (305 d.C)
Eles vieram para a Igreja da Santíssima Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, que, como se começou a dizer, ele tinha construído no bairro ocidental, em um subúrbio, um cemitério dos mártires.” (Os Atos genuínos de Pedro de Alexandria).
Metódio
Salve a ti para sempre, Virgem Mãe de Deus, nossa alegria incessante, pois para ti Eu volto novamente. Você é o início de nossa festa; Você é o seu meio e fim, a pérola de grande valor, que pertence ao reino; a gordura de cada vítima, o altar vivo do Pão da Vida. Salve, você tesouro do amor de Deus. Salve, você,  fonte de amor do Filho para o homem [...] você brilhava, doce dom-outorgante Mãe , com a luz do sol, você brilhou com os fogos insuportáveis de da mais fervorosa caridade, trazendo no final, aquele que foi concebido de você [...] para manifestar o mistério escondido e indizível, o Filho do Pai invisível, o Príncipe da Paz, que de uma forma maravilhosa mostrou-se como menos do que toda pequenez.”(Oração sobre Simeão e Ana 14).
Cirílo de Jerusalém (350 d.C)
O Pai dá testemunho do céu para seu Filho. O Espírito Santo dá testemunho, descendo corporalmente  na forma de uma pomba. O arcanjo Gabriel é testemunha, trazendo as boas novas a Maria. A Virgem Mãe de Deus é testemunha...” (Leituras Catequéticas 10, 19).
Efraim, o Sírio (351 d.C)
Apesar de ainda ser virgem, ela carregava uma criança em seu ventre, e a serva e obra de sua sabedoria tornou-se a Mãe de Deus” (Cantos de Louvor 1, 20).
Epifânio de Salamissa (374 d.C)
Ser perfeito ao lado do Pai, encarnado entre nós, não na aparência, mas na verdade, ele [o filho] homem remodelada para a perfeição em si mesmo a partir de Maria, a Mãe de Deus através do Espírito Santo” (O homem bem ancorada 75).
Ambrósio de Milão (377 d.C)
A primeira coisa que acende ardor na aprendizagem é a grandeza do professor. O que é maior do que a Mãe de Deus? O que é mais glorioso do que aquela a quem própria Glória escolheu?” (As Virgens 2, 2).
Gregório de Nazianzo (382 d.C)
Se alguém não concorda que santa Maria é Mãe de Deus, ele está em desacordo com a divindade” (Carta a Cledonius Sacerdote 101).
São Jerônimo (401 d.C)
Quanto à forma como a virgem tornou-se Mãe de Deus, ele tem pleno conhecimento; de como ele mesmo nasceu, ele não sabe nada.” (Contra Rufino 2, 10).
Teodóro de Mopsuestia (405 d.C)
Quando, pois, eles perguntam: 'Será que Maria mãe do homem ou Mãe de Deus?' Nós respondemos: ‘Os dois!’.  O primeiro pela própria natureza do que foi feito e outro pela relação.” (A Encarnação 15).
São Cirílo de Alexandria (427 d.C)
Eu fiquei impressionado que alguns estão totalmente em dúvida quanto à existência ou não da Virgem santa ser capaz de ser chamada de Mãe de Deus. Porque, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, como deve ser a Virgem santa que lhe concebeu,  não ser a Mãe de Deus?” (Carta aos monges do Egito 1).
João Cassiano (429 d.C)
Você não pode deixar de admitir que a graça vem de Deus. Ele é Deus, então, quem lhe deu. Mas foi dado por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, o Senhor Jesus Cristo é Deus. Mas se ele é Deus, como ele certamente é, então ela quem deu à luz a Deus é a Mãe de Deus.” (Sobre a Encarnação de Cristo contra Nestório 2, 2).
Concílio de Éfeso (431 d.C)
Finalmente no concílio de Éfeso, isto é dogmatizado:
Confessamos, então, nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, perfeito Deus e perfeito homem, de uma alma racional e de um corpo, gerado antes de todas as eras do Pai em sua divindade, o mesmo nos últimos dias, por nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, de acordo com a sua humanidade, um e o mesmo consubstancial com o Pai em divindade e consubstancial a nós na humanidade, pois a união de duas naturezas ocorreu. Portanto, nós confessamos um só Cristo, um filho, um Senhor. De acordo com esse entendimento da união inconfudível, nós confessamos a Virgem santa como sendo a Mãe de Deus, porque Deus, o Verbo se fez carne e se fez homem e de sua própria concepção unido a si mesmo o templo ele tomou dela” (Formula da União [AD 431 ]).
Se alguém não confessar que o Emanuel é verdadeiro Deus, e que, portanto, a Santíssima Virgem é a Mãe de Deus (Θεοτόκος), na medida em que na carne, ela deu à luz o Verbo de Deus feito carne [como está escrito: "O Verbo era que se fez carne "] seja anátema. (1º Anátema de São Cirílo a Nestório).
Quem negava que Maria era Mãe de Deus, nas épocas primitivas, eram os mesmos hereges que negavam a divindade de Cristo hoje.
Semelhante fato e ao mesmo tempo contraditoriamente, os mesmos protestantes de hoje dizem crer na divindade de Cristo, negam a maternidade Divina de Maria. Criaram um Jesus sem cruz, sem Mãe e negociador de milagres. 
As verdades afirmadas pela Igreja sobre Nossa Senhora são o resultado de uma longa evolução doutrinária. Em vários Concílios Ecuménicos foi sendo definida, ou esclarecida, a posição da Igreja sobre Maria. No último, o Concílio Vaticano II, foi feito um apanhado sobre o lugar de Maria na Igreja – resultado das Escrituras, Tradição e Magistério – nomeadamente no capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium. Nela se esclarece:

[o Concílio] “Não tem, contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós.”

Para além de uma resenha histórica de alguns dos principais documentos conciliares, juntam-se algumas cartas e exortações papais onde a importância de Maria e do seu culto é afirmada e proposta aos fiéis.
1 .   Éfeso (ano 431): Contestando Nestório, patriarca de Constatinopla, aprovou a doutrina de são Cirilo de Alexandria, que, propôs a fé sobre a união pessoal ou hipostática da natureza humana de Jesus Cristo com a pessoa divina do Verbo. Daí concluiu a verdade dogmática da maternidade divina de Maria (DS 250-264).

2.   Calcedónia (ano 451): Convocada para discutir novamente as duas naturezas de Cristo concluía: “Na linha dos santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, “semelhante a nós em tudo com exceção do pecado”(Hb4,15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus, segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e uma só hipóstase.”(DS 301-302).”

3.   Constantinopla II (ano 553): volta a tratar o dogma da maternidade divina e incluiu a virgindade perpétua de Maria (cf. DS 422 e 427). Foi a primeira vez que um concílio chamou à Mãe de Deus “santa” e “sempre virgem”.

4.   Niceia II (ano 787): a veneração dos ícones havia sido abolida por Constatino V através do designado “Concílio de Hieria”, que não teve validade por não terem participado as igrejas ocidentais. Assim, neste Segundo Concílio de Niceia aprovou-se o culto às imagens de nosso Senhor Jesus Cristo, de Maria Santíssima, Mãe de Deus, e dos anjos e santos (cf. DS 600-601), nomeadamente recorrendo-se ás passagens bíblicas de Êxodo 25:19, Números 7:89, Hebreus 9:5, Ezequiel 41:18 e Génesis 31:34.

5.   Trento (anos 1545-1563): no decreto sobre o pecado original, declarou nele não estar incluída a santa e imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus (cf. Sessão VI, DS 1516); afirmou que Maria Santíssima é considerada pela Igreja imune de toda a culpa actual, ainda que mínima (cf. Sessão VII, DS 1573); e renovou a afirmação da liceidade do culto das imagens de “Cristo, da Virgem Mãe de Deus e dos outros santos” (DS 1823).

6.   Vaticano II (anos 1962-1965): no Capítulo VIII da Constituição Dogmática Lumen Gentium intitulado “A Bem-aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no Mistério de Cristo e da Igreja” (cf. DS 4172-4179). Entre os esclarecimentos que nos dá, desde logo um é essencial: “Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e reta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos.
O QUE DIZ O CIC – CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA SOBRE A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA?
 A Igreja, no Catecismo “denomina ‘Encarnação’ o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar a nossa salvação” (CAT. n.461, linha 2), e como nos diz São João no seu Evangelho: “O verbo se fez carne” (Jo 1,14) Nisto, o Verbo que era Deus se fez homem em Jesus Cristo, sem deixar de ser Deus. Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, como nos ensina mais uma vez o Catecismo:
“O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem (CIC n.464).
A Igreja nos seus primeiros séculos, nos Concílios defendia firmemente, desmascarando as heresias, essa realidade de Deus ter se encarnado em seu Filho Jesus Cristo. Diante da heresia Nestoriana que dizia ver em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa do Filho de Deus, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico rebateram esta heresia dizendo que:
 “‘O Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem’. A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que assumiu e a fez sua desde a concepção”(CAT n.466, linha 4).
      Maria Santíssima é Mãe de Deus porque Jesus Cristo, o Verbo feito carne, nasceu dela. Ela concebeu em seu seio virginal pelo o Espírito Santo o Filho de Deus, como nos mostra o Concílio de Éfeso proclamando no ano 431, e relata para nós o Catecismo:
 “Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne” (CAT. n.466, linha 10).
Diz-nos ainda São Basílio de Selêucia (séc. V): “Corpo sagrado que abrigava o Senhor! Em Maria foi anulada a constatação de nosso pecado, pois foi nela que Deus se fez homem, permanecendo Deus. Ele quis submeter-se a esta gravidez, e se humilhou ao nascer como nós; sem abandonar o seio do Pai, satisfez-se com os afagos de sua mãe”.
São Tomás de Aquino também nos diz: A Santíssima Virgem, foi escolhida para ser Mãe de Deus e para tanto o Altíssimo capacitou-a certamente com sua graça. Antes de ser Mãe foi Maria, por conseguinte, adornada de uma santidade tão perfeita, que a pôs à altura dessa grande dignidade” ³.
São Bernardo de Claraval, num de seus sermões sobre a Anunciação, demora-se em observar Maria no exato momento de seu sim à maternidade divina, um sim que mudaria os rumos da história, que recriaria o mundo, que possibilitaria uma nova e eterna comunhão entre Deus e as criaturas. Transcrevo um trecho: “Ó Virgem piedosa, o pobre Adão, expulso do paraíso com sua mísera descendência, implora a tua resposta. Implora-a Abraão, implora-a Davi; e os outros patriarcas, teus antepassados… suplicam esta resposta. Toda a humanidade, prostrada a teus pés, a aguarda. E não é sem razão, pois do teu consentimento depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a libertação dos condenados, a salvação de todos os filhos e filhas de Adão, de toda a tua raça. Responde depressa, ó Virgem! Pronuncia, ó Senhora, a palavra esperada pela terra, pelos infernos e pelos céus. O próprio Rei e Senhor de todos, tanto quanto cobiçou a tua beleza, deseja agora a tua resposta afirmativa, porque por ela decidiu salvar o mundo. Agradaste a ele pelo silêncio, muito mais lhe agradarás pela palavra … Se tu lhe fizeres ouvir a tua voz, ele te fará ver a nossa salvação”.
Este trecho não só é retoricamente bonito, mas também nos ensina como Deus respeitou a liberdade de Maria. Não lhe impôs a maternidade divina. Predestinou-a, mas lhe pediu o consentimento. Elegeu-a desde antes da criação do mundo, ornou-a com todas as bênçãos e graças, mas aguardou seu sim, sua disponibilidade.



O sim de Maria veio acompanhado de uma declaração de humildade: “Sou a serva do Senhor” (Lc 1,38). Volto a citar São Bernardo: “Que sublime humildade é esta que não soube ceder às honras e não sabe orgulhar-se na gloria! É escolhida para ser a Mãe de Deus e se proclama a serva. É certamente sinal de grande humildade não se esquecer de ser humilde quando é oferecida tamanha glória. Não é grande coisa mostrar-se humilde quando se é desprezado; ao contrário, é virtude insigne e rara ser humilde quando se é honrado”.
Com o sim de Maria, o Filho de Deus assumiu a carne humana; “subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com Deus, … tornou-se solidário com os seres humanos e apresentou-se como simples homem” (Fl 2,6-7). A paternidade de Deus une-se para sempre à maternidade da jovem Maria de Nazaré. O “faça-se” de Deus ao criar o universo soma-se ao “faça-se” de Maria para recriar, em seu Filho, todas as coisas na face da terra. Em Jesus Cristo, Messias e Salvador, não se separam mais a paternidade de Deus, que fecundou Maria mediante o Espírito Santo, e a maternidade de Maria, que acreditou no convite.
O “faça-se” de Maria encerra o tempo da espera; as criaturas, tendo à frente o Filho de Deus concebido no seio virginal de uma mulher, entram na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4): “pelo ingresso do eterno no tempo, do divino no humano, o próprio tempo foi redimido e, tendo sido preenchido pelo mistério de Cristo, se torna definitivamente tempo de salvação” (Redemptoris Mater, 1). Maria tornou-se assim, como diz o Prefácio da festa da Imaculada, o início, as primícias da Igreja.
Estamos diante de vários mistérios unidos, que perfazem o grande e inaudito mistério da salvação. É estupendo, mas verdadeiro. É inédito e acima de qualquer inteligência humana, mas é obra, graça e vontade de Deus e, como afirmou o anjo na hora da Anunciação, “para Deus, nada é impossível” (Lc 1,37).
Embevecido diante do mistério da maternidade divina de Maria, São Boaventura (+1274), compôs um longo hino de louvor à maneira do Te Deum. Destaco alguns versos:
“Os coros dos anjos, com vozes incessantes, te proclamam: santa, santa, santa, ó Maria, Mãe de Deus, mãe e virgem ao mesmo tempo! Os céus e a terra estão cheios da majestade vitoriosa do Fruto do teu ventre! O glorioso coro dos apóstolos te aclama Mãe do Criador! Celebram-te todos os profetas, porque deste à luz o próprio Deus! A imensa assembléia dos santos mártires te glorifica como Mãe do Cristo. A multidão triunfante dos confessores prostra-se diante de ti, porque és o Templo da Trindade!”.

Maria é mãe de Deus, segundo a humanidade porque Deus se fez homem em Jesus Cristo, nosso irmão, e isto sem deixar de ser Deus, nosso Senhor. Sendo Jesus inseparavelmente verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Isso é o que a Igreja confessa, isso é o que a Igreja crer e ensina.
“Maria é progenitora de Deus porque o Logos encarnado é verdadeiramente Deus, porque não se perde sua natureza divina por causa da união com a natureza humana nem é limitada de qualquer forma” (MÜLLER; SATTLER, 2000, p. 162).
Maria deu à luz o Logos divino segundo a carne, deu a vida a um ser humano, é Progenitora de Deus.

O discurso de Mãe de Deus parece antes seduzir a aumentar ainda mais o aliás já existente perigo de um monofisismo latente, de uma percepção e valorização apenas da divindade de Jesus Cristo.
Maria não pariu a Deus, a origem de todo ser, atemporal e presente em todo tempo, nem deu à luz e amamentou um ser humano que tivesse sido como todos os demais seres humanos, antes ela foi exigida espiritual e fisicamente, de modo integral, a servir, numa hora histórica concreta, à humanação do Logos de Deus no homem-deus Cristo Jesus (MÜLLER E SATTLER, 2000, p. 162).


OUTROS ENSINAMENTOS


Devemos fazer “jus” à intenção dos padres conciliares de Éfeso. Para isso temos que entender o discurso de Maria como progenitora de Deus como uma confissão Cristológica em forma Mariológica.

Em um contexto eclesiológico, a maternidade de Maria pode ser considerada como protótipo da maternidade da Igreja. Também, aqui fica preservado o traço cristológico do dogma e da Igreja: como uma mãe dá a seu filho a vida preparada por Deus, do mesmo modo a Igreja o faz para os crentes, que no Batismo morrem com Cristo e Nele ressuscitam para uma vida incorruptível.

Então, Maria é um sinal de esperança para todos os homens que estão dispostos a se abrir para a palavra de Deus, para seu Espírito e sua sabedoria.
Fundamentos bíblicos

“Exclamou Isabel em alta voz, „Donde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (LC 1, 42-43).

Qualquer teologia sobre Maria deverá partir da Sagrada Escritura: ora, esta ensina, sobre Maria, diversos pontos, de forma direta e expressa; outros só indireta e implicitamente. A Igreja, com o auxílio da tradição extrai toda a sua mariologia.
Todas as glórias de Maria que a teologia elaborou são o desenvolvimento de doutrinas expressamente contidas na Sagrada Escritura, sobretudo a maternidade divina tal como no-la descrevem Lucas e João.

Muitas dessas glórias não são apenas dela, mas de todos os que pertencem a Cristo, só que ela as possui 300 de forma especial, tendo em vista de sua posição como Mãe de Cristo, Filho de Deus (AUTRAN, 1992, p.14). Não se trata de transformar Maria em uma deusa, mas de reconhecer nela a própria especialidade que Deus a fez em primeiro lugar. Foi Deus quem a escolheu primeiro. 

Os próprios testemunhos marianos do Novo Testamento nos certificam de que a visão do significado de Maria evoluiu historicamente nas primeiras comunidades.
O ponto de partida do anúncio de Jesus Cristo, que é o tema central do Novo Testamento, foi a sua Páscoa. Desse evento nasceu a fé e dele partiu a reflexão teológica da Igreja. Tudo o que se diz de Jesus Cristo, nos escritos neotestamentários, virá iluminado pela luz de sua ressurreição, inclusive os mistérios de sua infância e, conseqüentemente, a figura de Maria.

Como afirma Autran (1992, p. 11) a Imagem de Maria “foi aparecendo no horizonte teológico da Igreja primitiva somente à luz de Jesus e por razões nitidamente Cristológicas. Em momento algum o Novo Testamento fala de Maria por si mesma”.
Resumidamente podemos apontar algumas etapas da lenta descoberta de Maria, de sua figura teológico-simbólica:

São Paulo aos Gálatas (4,4-5), fala-nos da mulher de quem foi formado o Filho enviado pelo Pai, para que recebêssemos a sua adoção. Maria é a garantia da verdadeira humanidade de Jesus.
Deus enviou seu Filho, Nascido de mulher”, esta frase afirma a iniciativa salvadora do Pai e a missão do Filho. O primeiro ato de sua missão é tornar-se filho de uma mulher, assumindo a condição humana no seio materno de Maria, sendo esse nascimento uma passagem, vindo a tornar-se novo, tornando-se homem. Jesus, então, está inserido plenamente na Lei: Ele é judeu como sua mãe e por sua mãe.

É Maria quem esclarece a nossa compreensão de Jesus4. Foi nela e por ela que o Verbo de Deus assumiu concretamente, totalmente uma natureza igual à nossa, uma existência humana na banalidade de nosso dia-a-dia. No seio materno de Maria, o Filho de Deus uniu-se de algum modo a todo homem. Deus feito homem, é o Verbo encarnado.
4 “Graças a sua maternidade bem real: Ele é o homem perfeito que trabalhou com mãos humanas, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana, amou com coração humano...é verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo exceto no pecado” (AUTRAN, 1992, p. 25).
Na Encíclica Redemptoris Mater, do papa João Paulo II, é ilustrado o sentido da locução bíblica em Gálatas 4,4-5: “Essas palavras celebram ao mesmo tempo o amor do Pai, a missão do Filho, o dom do Espírito Santo, a Mulher pela qual nasceu o Redentor e a nossa filiação divina” (RM, n. 1). 301

Lucas em Atos dos Apóstolos 1,14: menciona a presença de Maria na Comunidade pentecostal de Jerusalém. Mateus 12,46-50; 13,53-58: omite qualquer detalhe que possa lançar descrédito sobre a imagem da Mãe de Jesus. Mateus fala da descendência de Jesus e não menciona nada que possa deturpar a imagem da Mãe de Jesus. Na infância do Emanuel, o filho concebido virginalmente por Maria, acentua o caráter extraordinário do seu nascimento.
Mateus divide sua genealogia em três subseções de catorze gerações cada uma (Mt 1,17). Meu interesse aqui é apenas a luz que a genealogia lança sobre a visão que Mateus tem de Maria, a qual ele menciona no final da lista de ancestrais em Mt 1,16.
Que ele tenha uma atenção especial para com Maria pode-se ver por três observações: (a) quando Mateus chega ao nascimento de Jesus, ele rompe o esquema “A gerou (ou foi pai de) B”, que usara para cada um dos outros nascimentos da lista. Em 1,16, porém, ele se refere a Maria, da qual nasceu Jesus. (b) em Mt 1, 18-25 passa a esclarecer a razão pela qual ele não disse em Mt 1, 16: José gerou (foi pai de) Jesus de Maria. Estes versículos são o ponto crucial da genealogia. (c) Maria não só é a única mulher nessa genealogia, e mediante a inclusão de um grupo de quatro mulheres do Antigo Testamento, a saber: Tamar, Raab e a mulher de Urias. Mateus pode estar chamando a atenção para a função de Maria5 (DONFRIED, 1985, p. 88). 5 Neotti afirma que a missão de Maria, porém só têm sentido no mistério e na missão de seu Filho. Jesus, autor da graça, toma carne daquela que Ele plenificara de Graça já antes da Anunciação. Criaturas humanas e angelicais olham extasiadas o fato inimaginável: uma mulher ser genitora de seu genitor e a saúdam como filha de seu filho (2004, p. 27).
Em Mateus a imagem de Maria, Mãe de Jesus, é conhecida e apresentada, como alguém que O tendo concebido virginalmente, sabendo por mensagem evangélica que Ele salvará o seu povo de seus pecados: viu como Deus O protegeu de um rei iníquo, como planejou geograficamente o Seu destino, conduzindo-O a Nazaré.

Lucas 8,19-21; 11,27-28: não só nos dá um retrato altamente positivo da perfeita discípula e Mãe de Cristo, como também mostra-a intimamente associada à obra salvífica do Filho. Lucas procurou contar em palavras humanas o momento estupendo e inefável da encarnação de Deus no seio de Maria. A Realidade da maternidade divina de Maria está estreitamente ligado ao mistério da Encarnação do Filho de Deus.
Segundo Neotti, “a partir daquele momento, o mistério e a missão de Cristo – Deus-homem e homem-Deus – une-se para sempre ao mistério e à missão de Maria de Nazaré” (2004, p. 27). Lucas em 8,19-21 sublinha que a Mãe e os irmãos são exemplo da semente que caiu em terra boa. E como afirma Donfried: “Isso combina plenamente com a forma com que Lucas descreve a primeira resposta de Maria à palavra de Deus em 1,38: „eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra‟” (1985, p. 184). Lucas em 11,27-28: Essa 302 passagem é exclusiva de Lucas, mas essa frase de Jesus soa quase como uma variante da que conclui a cena anterior: em ambas se dá valor, não ao parentesco físico, mas à escuta da palavra de Deus e à sua execução ou conservação.

João insere a figura de Maria no mistério da encarnação, na qualidade de Mãe de Jesus (2,1.3.5.12; 19,25-27) e, provavelmente, no sentido de uma concepção virginal (1,13). Ele a insere também no contexto da revelação de Jesus, seja no sinal de Caná (2,1-12), seja na missão materna para com os discípulos, no momento da cruz e Ressurreição (19,25-27). Maria é a imagem da Igreja-Mãe, Jerusalém, o novo Povo escolhido.
A narrativa de Caná dedica quatro dos dez versículos principais a Maria, presente e atuante, dialogante com Jesus e com os serventes, provocando o primeiro sinal de Jesus. Afirma-nos Autran: “é óbvio que João quis colocar a primeira manifestação da glória de Jesus em relação com a Mãe de Jesus” (1992, p. 127). “Aos pés da Cruz de Jesus, estavam sua Mãe...” (Jo 19,25).
Eis o que escreve Laurentin, a respeito de Maria na Sagrada Escritura:

Duração, progresso: foi segundo essa lei que Maria, pouco a pouco, foi–se tornando conhecida na Igreja. Quase ausente da mensagem primitiva, ausente da catequese, enquanto esteve sobre a terra, no meio da Igreja, ela foi, no sentido mais óbvio da palavra, “descoberta” a partir dessa presença inicial. Duração, progresso: é também segundo essa lei, ou melhor, foi primeiramente por essa lei que Maria viveu. Sua vida é progressão, da obscuridade da fé à luz da visão beatífica; da gratuidade do dom original ao cúmulo de méritos com que deixou a terra; da receptividade inicial às derradeiras consequências de sua missão maternal; da plenitude da graça pessoal e secreta do primeiro instante à plenitude social e manifesta que ela irradia do alto do céu (1965, p. 12).
Maria não é apenas uma simples mulher judia; é a personificação do povo de Deus, filha de Sião. Sua virgindade é o sinal de uma pertença exclusiva ao Senhor. Sua grandeza e o cerne de sua maternidade residem na sua fé-fidelidade à palavra de Deus.
Denominada nos Evangelhos “a Mãe de Deus” (Jo 2,1; 19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

A história do dogma

“À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus” 303
A fé católica na maternidade divina de Maria é professada, já desde o começo do séc. II, de forma clara, por Santo Inácio de Antioquia, São Justino, Santo Irineu e pelos grandes do séc. III. É provável que o título de Mãe de Deus (Theotokos) tivesse já sido usado por Hipólito de Roma e Orígenes, mas de qualquer forma, já aparece nos textos cristãos no fim do século terceiro, início do quarto, principalmente nos escritos de Alexandre de Alexandria, a julgar pela antiqüíssima oração: “Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genitrix”, reagindo à doutrina de Ário.
O título Theotokos, segundo Pelikan, é o mais compreensível vocábulo inventado no oriente para designar Maria no cristianismo do Oriente e, na opinião de muitos, o mais problemático. Esse título não possuía o significado simples de Mãe de Deus, como é traduzido usualmente nas línguas ocidentais, mas o significado mais preciso e completo é “aquela que deu à luz Deus” (PELIKAN, 1996, p. 83).
Este título se espalhou principalmente entre os capadócios tornando-se corrente no fim desse século. Em 428, Nestório6 o questiona indo contra o título tradicional.
 “Nestório era Patriarca de Constantinopla, bispo famoso como orador sacro, como líder organizador, como conhecedor das escrituras. Ensinava que Maria era só mãe do Cristo-homem, porque lhe parecia absurdo uma criatura ser mãe do criador e assim achava que melhor se chamássemos a Virgem Maria como Chrisotokos, ou seja, Mãe de Cristo. O Concílio de Éfeso (431) declarou herética a posição de Nestório que, humildemente, se retirou da vida pública e voltou à vida que levava antes de ser Bispo e patriarca, a vida de monge.” (NEOTTI, 2004, p. 25).

Este título é fruto de uma experiência de fé que se tornou consciente de tudo o que implicava a confissão de Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus.
Como afirma Sesboüé:
Se Jesus é título pessoal, Filho de Deus, Maria, sua Mãe, é efetivamente Mãe de Deus. Ela não é, evidentemente, Mãe de sua divindade: Deus, como Deus, não pode, por hipótese, ter mãe. Maria é Mãe do Verbo encarnado: é aquela que, por geração, lhe deu sua humanidade. Mas Aquele que foi carnal e humanamente gerado nela é o próprio Filho de Deus, que assim tornou-se o Filho de Maria (2005, p. 482).
Em suas primeiras pregações Nestório principalmente questionou a “comunicação de idiomas”, ou atribuição “das propriedades entre a divindade e a humanidade que condiciona todas as outras. Trata-se de saber se os acontecimentos da vida, da paixão e da morte de Jesus devem ser atribuídos ao Verbo de Deus como tal” (SESBOÜÉ, 2005, p. 482).
Contrariando a Tradição comum da Igreja, que como sabemos é enraizada na Sagrada Escritura, Nestório se posiciona afirmando que não. Mas não se poderia dizer que o Verbo de 304.

Deus morreu na cruz se não se afirmasse, antes, que o mesmo foi gerado por Maria. Se assim for, nesse caso interpõem uma separação concreta entre o Verbo de Deus e o Homem Jesus.
Esse ponto que causando confusão e escândalo em 428, levou à convocação do concílio de Éfeso em 4317, cujo principal problema levantado era Cristológico.
7 Como vimos o Concílio de Éfeso teve três assuntos, nós nos voltaremos aqui apenas em sua dimensão propriamente mariana.
8 “Cirilo era Patriarca de Alexandria, também exímio pregador, teólogo refinado, excelente bispo. Ele contestava com veemência, afirmando que não podia haver dois Cristos, um homem e outro Deus. E havendo um só Cristo, embora com duas naturezas inseparáveis, Maria era mãe de Cristo-homem e mãe do Cristo-Deus, portanto sua maternidade era tão divina quanto humana, ela era verdadeiramente Theotokos, Mãe de Deus” (NEOTTI, 2004, p. 25).
As discussões ao redor do título Theotokos, fazem referência também a Maria, assumindo o valor simbólico de partidos a favor ou contra Nestório, eis a argumentação deste que é bem clara expressando a sua tese:
Em toda parte da Escritura divina, quando é feita menção à Economia do Senhor, a geração e a paixão que são apresentadas não são as da divindade, mas as da humanidade de Cristo, de modo que a santa Virgem deve ser chamada mais exatamente de Mãe de Cristo e não Mãe de Deus. Escuta também as palavras dos Evangelhos que proclamam: “Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (MT 1,1). É claro, portanto, que o Deus Verbo não era filho de Davi.” (Carta a Cirilo, apud SESBOÜÉ, 2005, p. 483).

Nestório tem razão quando emprega os termos abstratos divindade e humanidade, porém, está errando quando passa espontaneamente para os termos concretos Cristo, Verbo e Deus.
Segundo Sesboüé, “não é só uma confusão no uso dos termos o que está em causa aqui, mas a recusa, de tipo docetista, do paradoxo da Encarnação” (2005, p. 482).
O Concílio de Éfeso não trouxe uma definição em sentido estrito, aclamando a segunda carta de Cirilo8 a Nestório, que afirmava especialmente:
Que o Verbo se tenha tornado carne não é nada mais além disso: o Verbo, exatamente como nós, participou do sangue e da carne, fez de nosso corpo o seu próprio corpo e fez-se homem descendente de uma mulher, não por ter rejeitado o fato de ser Deus e de ter sido gerado de Deus, mas pela assunção da carne, permanecendo o que era. Eis o que por toda parte proclama o discurso da verdadeira fé; eis o que descobriremos ter sido pensado pelos Padres; foi assim que eles se inspiraram para nomear a Santa Virgem Maria Mãe de Deus, não que a natureza do Verbo ou sua divindade tenha recebido o início de sua existência a partir da santa Virgem, mas porque foi gerado nela seu santo corpo animado por uma alma racional, corpo ao qual o Verbo segundo a hipóstase e por essa razão se diz ter sido gerado segundo a carne (Segunda Carta de Cirilo a Nestório, apud SESBOÜÉ, 2005, p. 483).
A maternidade divina de Maria foi solenemente proclamada no Concílio de Éfeso em 431, tornando dogmaticamente oficial aquilo que a devoção popular já afirmara.

Nas palavras do primeiro Anatematismo de Cirilo de Alexandria contra Nestório: “se alguém não confessar que Emanuel é verdadeiramente Deus e que portanto a Santa Virgem é a Mãe de Deus (Theotokos), pois que dela nasceu de modo carnal e como a Palavra de Deus revestida de carne, que seja excomungado”. Além disso, foi em honra da proclamação de Maria como Theotokos pelo Concílio de Éfeso que, logo após esse sínodo, o Papa Sixto III constituiu o mais importante santuário dedicado a Maria no Ocidente, a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma (PELIKAN, 1996, p. 84).
Proclamando a maternidade divina de Maria o concílio defende contra Nestório, a unicidade da Pessoa divina de Cristo, com a conseqüente afirmação de que, Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Esta mesma verdade de fé está contida na fórmula de união entre alexandrinos e antioquenses, elaborada dois decênios depois no Concílio de Calcedônia.

Tendo resolvido esse problema da Maternidade Divina em Éfeso e reafirmado em Calcedônia, ficava ainda aberto o campo para uma grande casuística de novas formulações, que facilmente poderiam levantar dúvidas a respeito da precisão dogmática daqueles dois Concílios, esses problemas novos são-nos apresentados por Collantes: “1) se era legítimo professar que Cristo era “Um da Trindade”, como faziam os monges escitas, ou 2) que Cristo-Deus padeceu em Sua carne, ou 3) que a sempre Virgem Maria era, própria e verdadeiramente, Mãe do Verbo Encarnado.” (2003, p. 391).

Diante dessas formulações o Papa Hormisdas evitou se pronunciar, mas o Papa João II, incentivado por Justiniano, enviou uma carta ao imperador de Constantinopla, respondendo e justificando as três formulações:
Ensinamos, segundo a reta doutrina, que a gloriosa, santa e sempre Virgem Maria é proclamada, pelos católicos, própria e verdadeiramente, Mãe de Deus e Mãe do Verbo de Deus, nela encarnado. Ele, de fato, nos últimos tempos, se encarnou, própria e verdadeiramente, dignando-se nascer da santa e gloriosa Virgem-Mãe.
Se, portanto, o Filho de Deus nela Se encarnou, própria e verdadeiramente, e dela nasceu, por essa mesma razão confessamos que ela é, própria e verdadeiramente, Mãe de Deus, que nela Se encarnou e dela nasceu. E, na realidade, não se pense que o Senhor Jesus recebeu, por honra ou graça, o nome de Deus, como achava o tolo Nestório; como também verdadeiramente não se vá pensar que ele tomou da Virgem, não um corpo humano, mas uma aparência de corpo ou qualquer coisa de irreal (Carta Olim quidem de João II, apud COLLANTES, 2003, p. 392).
 306 A verdade é que o novo realce dado a esse título levou os crentes a considerar com maior devoção a grandeza de Maria e seu papel junto de seu Filho. A maternidade divina de Maria constitui a mais alta missão, depois da que recebeu Cristo, na face da terra, e esta missão exige a graça divina em toda a sua plenitude.
Na verdade, desta sublime missão de Mãe de Deus nascem, como duma misteriosa e limpidíssima fonte, todos os privilégios e graças, que adornam, duma forma admirável e numa abundância extraordinária, a sua alma e a sua vida. Por isso, com razão declara Santo Tomás de Aquino que a Bem-Aventurada Virgem Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, recebe do bem infinito, que é Deus, uma certa dignidade infinita (NEOTTI, 2004, p. 26).
A partir do Concílio de Éfeso, a maternidade divina de Maria é doutrina da Igreja, por isso desde esse Concílio as gerações começam a proclamar Bem-aventurada a Virgem Santíssima, Santa Mãe de Deus.
No encerramento do Concílio de Éfeso, estando a cidade cheia do povo com tochas nas mãos para uma grande procissão em honra da Mãe de Deus, um anônimo redigiu uma oração que um dos bispos proclamou, e transcrevendo-a aqui encerro este item.
“Nós vos saudamos Maria, Mãe de Deus, tesouro Venerável do mundo inteiro! Luz jamais extinta! Templo jamais destruído, que abrigais Aquele que não pode ser contido! Mãe e Virgem! Por vós a Trindade é santificada! Por vós a Cruz é venerada no mundo inteiro! Por vós o santo Batismo é dado aos que crêem! Por vós é derramado o óleo da alegria! Por vós as igrejas são fundadas no mundo inteiro! Por vós os povos são conduzidos à conversão. Amém!” (NEOTTI, 2004, p. 26).

Maria a Santa Mãe de Deus no Concílio Vaticano II

“Que sublime humildade, é escolhida para
ser Mãe de Deus e se proclama a serva.”
(São Bernardo de Claraval).




Em diferentes ocasiões, o magistério da Igreja considerou a missão educativa de Maria, abordando os vários aspectos desta missão, o Concílio Vaticano II deu-nos um critério fundamental para formular retamente a doutrina mariana, como afirma Autran, “a fidelidade à Sagrada Escritura do jeito como ela é lida e interpretada pela Igreja” (1992, p. 14). A Constituição Dogmática Lumen Gentium principalmente nos números 55 a 59 é um exemplo eloqüente de como propor a figura de Maria e falar dela à luz da palavra de Deus descrita na Bíblia. Vou fixar este item nesta Constituição Dogmática.
307 Num momento de extrema importância da renovação eclesial, a Virgem Maria aparece, na Lumen Gentium, como estrela, como sinal para a nova humanidade, renascida e fortalecida em Jesus Cristo e no Seu mistério de amor. Avelar afirma que “é no quadro mais amplo da História da Salvação que, neste documento conciliar, a vocação-missão educativa da Mãe de Jesus emerge em toda a sua grandeza” (2002, p. 71).
Querendo Deus, sumamente benigno e sábio, realizar a redenção do mundo, “quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher... para que recebêssemos a adoção de filhos” (GL 4,4-5). “O qual, por amor de nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria”9. Este mistério divino da salvação nos é revelado e continuado na Igreja, que o Senhor constituiu como seu corpo, e na qual os fiéis que aderem a Cristo, sua cabeça e estão em comunhão com todos os seus santos, devem também, e “em primeiro lugar, venerar a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo”10 (LG, 52).

9 Símbolo Constantinopolitano.
10 Missal Romano, Cânon da Missa.
Enquanto o Concílio Vaticano II, fala explicitamente da maternidade de Maria, aponta para a dimensão pedagógica da existência daquela que, ao gerar à vida o Salvador, torna-se, inevitavelmente, mãe e mestra da nova humanidade, mãe e mestra espiritual de todos os seguidores de Jesus, mãe e mestra da Igreja.
Assim, o Concílio Vaticano II ampliou o horizonte de compreensão da maternidade de Maria. Renovou a interpretação de Maria e de sua missão ao utilizar critérios antropológicos, uma vez que põe Maria muito próxima de Deus e também muito próxima dos filhos de Deus (AVELAR, 2002, p. 72).
No número 53 da Lumen Gentium, o Concílio nos mostra que a Virgem Maria, na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus, recebeu no seu coração e também no seu corpo, dando a vida ao mundo, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. “...foi enriquecida com a sublime prerrogativa e dignidade de Mãe de Deus Filho...”, e a Igreja católica honra-a como mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto e piedade.
A Bem-Aventurada Virgem, predestinada, desde toda a eternidade, junto com a encarnação do Verbo divino, para ser Mãe de Deus, foi na terra, por disposição da divina providência, a Mãe do Redentor divino, mais que ninguém sua companheira generosa e a humilde escrava do Senhor.
O Concílio quer esclarecer a função da Bem-Aventurada Virgem no mistério do Verbo encarnado e do corpo místico e os deveres dos homens para com a Mãe de Deus, “que é Mãe de Cristo e dos homens, em especial dos fiéis” (LG 54). 308 A Virgem Maria que foi adornada, desde sua conceição, com as belas virtudes e grau de santidade, quando ouviu a saudação do anjo que Deus enviara e que chamou-a “cheia de graça”11, prontamente responde “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”12. “Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus...” (LG 56).
11 LC 1,28.
12 Ibid 1,38.
13 Conforme Jo 19,25.

Portanto, como afirmam os Santos Padres, Maria cooperou na obra da salvação de todos os homens com a liberdade da fé e obediência plena. Compararam dizendo que “a morte veio por Eva, e a vida por Maria” (LG 66). O Concílio Vaticano II, é bastante explícito em ressaltar o aspecto educativo da vida de Maria que, gerando na terra o próprio Filho de Deus Pai, pela fé e pela obediência, exerce a missão da maternidade divina, mediante a qual ela se torna também mãe, educadora e modelo da Igreja.
Essa função de Maria começou desde o início, já quando Maria estava com Deus em seu ventre. Ao visitar Isabel, leva o Senhor, e Isabel a proclama bem-aventurada porque acreditou na promessa de salvação. Essa função continua quando a Virgem Mãe apresenta seu Filho aos Magos, os quais O adoram. Ao apresentar o Menino no templo, da boca do Simeão brota a profecia da Redenção. Quando o Menino ficou no templo sozinho, Maria e José O encontram e Ele diz que estava se ocupando das coisas de seu Pai, ou seja, nossa salvação. Enquanto todas essas cosias aconteciam a Virgem Mãe guardava todas as coisas em seu coração como sabemos a partir do Evangelho.
Assim também a bem-aventurada Virgem avançou no caminho da fé, e conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da qual, por desígnio de Deus, se manteve de pé13, sofreu profundamente com o seu Unigênito e associou-se de coração maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que havia gerado. (LG 58).
Enfim, Maria concebeu a Cristo, gerando-O, alimentando-O, apresentando-O no templo do Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, cooperando de modo absolutamente singular na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural dos fiéis.

Conclusão
Os mistérios da fé expressos em doutrinas e dogmas são historicamente condicionados. Por isso, seu sentido nem sempre é manifesto para quem se encontra em outro ambiente histórico. As fórmulas dogmáticas trazem as marcas do pensamento filosófico e 309 teológico de seu tempo e nem sempre são as mais adequadas para todos os tempos e lugares, e isso este trabalho conseguiu traduzir de forma mais fácil e proveitosa. Quando os dogmas expressam e formulam o sentido da Encarnação divina na história humana, os teólogos fazem-no no contexto de mudanças sociais à luz das tradições da Igreja e essa é sua missão.

É tarefa de eles refletirem criticamente na experiência da fé, levando em consideração o fato de tal experiência interpretada, que faz uso dos símbolos e conceitos de um dado tempo e uma dada cultura. É também tarefa do teólogo recuperar a compreensão do dogma que se tenha perdido nos tempos modernos, a saber, que os dogmas absorvem a pessoa toda: mente, sentimentos, corpo, em um encontro existencial com a verdade, do contrário nos veríamos apenas repetindo fórmulas.
Em seus esforços para responder à Tradição que se concentrou em Maria, os teólogos, ao ouvir o movimento da comunidade de fé, dedicam-se à busca de fórmulas que dêem sentido ao mistério de Maria na vida da Igreja e o tornem explícito.
Este artigo trabalho concentrou a atenção no primeiro dogma mariano, o dogma da Maternidade Divina. Maria nesse dogma é exaltada precisamente em virtudes dos méritos de Jesus Cristo.

No dogma da Maternidade vimos que na e pela carne de Maria, Deus entrou em nosso mundo, realizando a profecia que “toda carne verá a salvação de Deus” (Lc 3,6). E neste dogma vemos o sentido de todos os três outros dogmas marianos. Ele é o primeiro historicamente e em relação aos outros três a saber, Virgindade Perpetua de Maria, Imaculada Conceição e Assunção ao céu.

Concluindo este trabalho posso claramente afirmar que a Maternidade da Virgem Maria perdura até a perpétua consumação dos eleitos e que na carne onde habitou o Verbo Eterno do Pai, ninguém pode encontrar mancha de pecado ou ainda duvidar da sua integridade virginal.
Referências
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AUTRAN, A. M. Maria na Bíblia. São Paulo: Ave Maria. 1992.
BUCKER, B.; BOFF, L.; AVELAR, M. C. Maria e a Trindade. São Paulo: Paulus. 2002.
Catecismo da Igreja Católica, Edição Típica Vaticana. São Paulo: Loyola. 2000. 310 COLLANTES, J. A fé católica, documentos do magistério da Igreja. Goiás; Rio de Janeiro: 2003.
Documentos da Igreja. Encíclicas de João Paulo II. São Paulo: Paulus. 1997.
Documentos do Concílio Vaticano II. Documentos da Igreja. São Paulo: Paulus. 1997.
DONFRIED, K. P. Maria no Novo Testamento. São Paulo: Paulinas. 1985.
LAURENTIN, R. Breve tratado de teologia mariana. Rio de Janeiro: Vozes. 1965.
MULLER, A. SATTLER, D. Mariologia. In: SCHNEIDER, T. (Org). Manual de dogmática. v. l. 3. 2. Ed. Petrópolis: Vozes. 2002.
NEOTTI, C. Imaculada Conceição de Maria. 150 anos da Proclamação do dogma. Rio de Janeiro: Marques Saraiva. 2004.
PELIKAN, J. Maria através dos séculos. Seu papel na história da cultura. São Paulo: Companhia das Letras. 1996.
ROPS, D. A Igreja dos apóstolos e mártires. São Paulo: Quadrante. 1988
SESBOÜÉ, B., A Virgem Maria. In SESBOÜÉ, B.; BOUGEOIS, H.; TIHON, P. (Dir.), Os sinais da salvação (séculos XII – XX). A História dos Dogmas, v. 3. São Paulo: Loyola. 2005.






Sobre a Virgem Maria ensina:

1       ANUNCIAÇÃO
§ 484     A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em quem habitará “corporalmente a plenitude da divindade" (Cl 2,9). A resposta divina à sua pergunta "Como se fará isto, se não conheço homem algum?" (Lc 1,34) é dada pelo poder do Espírito: "O Espírito Santo virá  sobre ti" (Lc 1,35).
§ 490     Para ser a Mãe do Salvador, Maria "foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função[a1]". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça[a2]". Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.
2       ASSENTIMENTO DE MARIA
§ 148     A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da féNa fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada é impossível a Deus" (Lc 1,37[fca3]) e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhorfaça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Isabel a saudou: "Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido" (Lc 1,45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada[fca4].
§ 490     Para ser a Mãe do Salvador, Maria "'foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função[a5]". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça[a6]". Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.
              "FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA...
§494      Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo[a7], Maria respondeu com a "obediência da fé[a8]", certa de que "nada é impossível a Deus": "Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,37-38). Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tomou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção[a9]:

Como diz Santo Irineu, "obedecendo, se fez 
causa de salvação tanto para si
 como para todo o gênero humano [a10]". 
Do mesmo modo, não poucos antigos Padres dizem com ele: 
"O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria;
 o que a virgem Eva ligou pela incredulidade
 a virgem Maria desligou pela fé[a11]”.
Comparando Maria com Eva, 
chamam Maria de "mãe dos viventes" e com freqüência afirmam:
 "Veio a morte por Eva e a vida por Maria[a12]”.
       3       ASSUNÇÃO DE MARIA
              ...TAMBÉM EM SUA ASSUNÇÃO...
§966      "Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho,
        4       CONCEPÇÃO PELO ESPÍRITO SANTO
§ 437     O anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como o do Messias prometido a Israel: "Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor" (Lc 2,11). Desde o inicio Ele é "aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo" (Jo  10,36), concebido como "Santo[a13]" no seio virginal de Maria. José foi chamado por Deus "a receber Maria, sua mulher", grávida "daquele que foi gerado nela pelo Espírito Santo" (Mt 1,21), para que Jesus, "que se chama Cristo", nascesse da esposa de José na descendência messiânica de Davi (Mt 1,16[a14]).
§ 456     Com o Credo niceno-constantinopolitano, respondemos, confessando: "E por nós, homens, e para nossa salvação,  desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem[a15]"
§ 484     A Anunciação a Maria inaugura a "plenitude dos tempos" (Gl 4,4), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações. Maria é convidada a conceber aquele em quem habitará “corporalmente a plenitude da divindade" (Cl 2,9). A resposta divina à sua pergunta "Como se fará isto, se não conheço homem algum?" (Lc 1,34) é dada pelo poder do Espírito: "O Espírito Santo virá  sobre ti" (Lc 1,35).
§ 485     A missão do Espírito Santo está  sempre conjugada e ordenada à do Filho[a16]. O Espírito Santo é enviado para santificar o seio da Virgem Maria e fecundá-la divinamente, ele que é "o Senhor que da  a Vida", fazendo com que ela conceba o Filho Eterno do Pai em uma humanidade proveniente da sua.
§ 486     Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é "Cristo", isto e, ungido pelo Espírito Santo [a17]desde o início de sua existência humana, ainda que sua manifestação só se realize progressivamente: aos pastores[a18], aos magos[a19], a João Batista[a20], aos discípulos[a21]. Toda a Vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, "como Deus o ungiu com o Espírito e com poder" (At 10,38).

       A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA
§495      Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25[a22]), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos[a23]).
§ 723     Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus.Sua virgindade transforma-se em fecundidade única pelo poder do Espírito [a24]e da fé[a25].
        5       IMACULADA CONCEIÇÃO
§ 490     Para ser a Mãe do Salvador, Maria "foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função[a26]". No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça[a27]". Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.
§ 491     Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, "cumulada de graça" por Deus[a28]foi redimida desde a concepção. E isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX:
A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano foi preservada imune de toda mancha do pecado original[a29].
§ 492     Esta "santidade resplandecente, absolutamente única" da qual Maria é "enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição[a30], lhe vem inteiramente de Cristo: "Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime[a31]". Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a "abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo" (Ef 1,3). Ele a "escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor" (Ef 1,4).
§493      Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus "a toda santa" ("Pan-hagia"; pronuncie "pan-haguía"), celebram-na como "imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura[a32]". Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.
Maria, imune do pecado
§ 411 A tradição cristã vê nesta passagem um anúncio do "novo Adão[a33]", que, por sua "obediência até a morte de Cruz" (Fl 2,8), repara com superabundância a desobediência de Adão[a34]. De resto, numerosos Padres e Doutores da Igreja vêem na  mulher anunciada no "proto-evangelho" a mãe de Cristo, Maria, como "nova Eva". Foi ela que, primeiro e de uma forma única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do pecado original [a35]e durante toda a vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado[a36].    
6       MARIA, MEDIANEIRA DA GRAÇA
§ 969     "Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura ininterruptamente, a partir do consentimento que ela fielmente prestou na anunciação, que sob a cruz resolutamente manteve, até a perpétua consumação de todos os eleitosAssunta aos céus, não abandonou este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da  salvação eterna. (...) Por isso, a bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora. protetora, medianeira[a37]."
      7       OBRA DO ESPÍRITO SANTO
§721      Maria, a Mãe de Deus toda santa, sempre Virgem, é a obra prima da missão do Filho e do Espírito na plenitude do tempo pela primeira vez no plano da salvação e porque o seu Espírito a preparou, o Pai encontra a Morada em, que seu Filho e seu Espírito podem habitar entre os homens. E neste sentido que a Tradição da Igreja muitas vezes leu, com relação a Maria, os mais belos textos sobre a Sabedoria: Maria é decantada e representada na Liturgia como o "trono da Sabedoria".
               Nela começam a manifestar-se as "maravilhas de Deus" que o Espírito vai realizar em Cristo e na Igreja.
§722      O Espírito Santo preparou Maria com sua graça. Convinha que fosse "cheia de graça" a mãe daquele em quem "habita corporalmente a Plenitude da Divindade" (Cl 2,9). Por pura graça, ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas; a mais capaz de acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso. É com razão que o anjo Gabriel a saúda como a "filha de Sião": "Alegra-te". É a ação de graças de todo o Povo de Deus, e portanto da Igreja, que ela faz subir ao Pai no Espírito Santo em seu cântico, enquanto traz em si o Filho Eterno.
§723      Em Maria, o Espírito Santo realiza o desígnio benevolente do Pai. É pelo Espírito Santo que a Virgem concebe e dá à luz o Filho de Deus. Sua virgindade transforma-se em fecundidade única pelo poder do Espírito [a38]e da fé[a39].
§724      Em Maria, o Espírito Santo manifesta o Filho do Pai tornado Filho da Virgem. Ela é a Sarça ardente da Teofania definitiva: repleta do Espírito Santoela mostra o Verbo na humildade de sua carne, e é aos Pobres [a40]e às primícias das nações [a41]que ela o dá a conhecer.
§725      Finalmente, por Maria o Espírito Santo começa a pôr em Comunhão com Cristo os homens, "objetos do amor benevolente de Deus[a42]", e os humildes são sempre os primeiros a recebê-lo: os pastores, os magos, Simeão e Ana, os esposos de Caná e os primeiros discípulos.
§726      Ao final desta missão do Espírito, Maria torna-se a "Mulher", nova Eva, "mãe dos viventes", Mãe do "Cristo total[a43]". É nesta qualidade que ela está presente com os Doze, “com um só coração, assíduos à oração" (At 1,14), na aurora dos "últimos tempos" que o Espírito vai inaugurar na manhã de Pentecostes, com a manifestação da Igreja.
     8       PREDESTINAÇÃO DE MARIA
§ 488     "Deus enviou Seu Filho" (Gl 4,4), mas, para "formar-lhe um corpo[a44]" quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, "uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria" (Lc 1,26-27):
              Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida[a45].
§ 489     Ao longo de toda a Antiga Aliança, a missão de Maria foi preparada pela missão de santas mulheres. No princípio está Eva: a despeito de sua desobediência, ela recebe a promessa de uma descendência que será  vitoriosa sobre o Maligno [a46]e a de ser a mãe de todos os viventes[a47][a48]. Em virtude dessa promessa, Sara concebe um filho, apesar de sua idade avançada. Contra toda expectativa humana, Deus escolheu o era tido como impotente e fraco [a49]para mostrar sua fidelidade à sua promessa: Ana, a mãe de Samuel[a50], Débora, Rute, Judite e Ester, e muitas outras mulheres. Maria "sobressai entre (esses) humildes e pobres do Senhor, que dele esperam e recebem com confiança a Salvação. Com ela, Filha de Sião por excelência, depois de uma demorada espera da promessa, completam-se os tempos e se instaura a nova economia[a51]"

            A MATERNIDADE VIRGINAL DE MARIA NO DESÍGNIO DE DEUS
§502      O olhar da fé pode descobrir, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões misteriosas pelas quais Deus, em seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Essas razões tocam tanto a pessoa e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento desta missão por Maria em favor de todos os homens.
§503      A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus Encarnação. Jesus tem um só Pai: Deus[a52]. "A natureza humana que ele assumiu nunca o afastou do Pai...; por natureza, Filho de seu Pai segundo a divindade; por natureza, Filho de sua Mãe, segundo a humanidade; mas propriamente Filho de Deus em suas duas naturezas[a53]."
§504      Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o Novo Adão [a54]que inaugura a nova criação: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do Céu" (1Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois Deus "lhe dá  o Espírito sem medida" (Jo 3,34). É da "plenitude dele", cabeça da humanidade remida[a55], que "nós recebemos graça sobre graça" (Jo 1,16).
§505      Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela fé. "Como se fará  isto?" (Lc 1,34[a56]). A participação na vida divina não vem "do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus" (Jo 1,13). O acolhimento desta vida é virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus [a57]é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria.
§506      Maria é virgem porque sua virgindade é o sinal de sua fé, absolutamente livre de qualquer dúvida[a58]", e de sua doação sem reservas à vontade de Deus[a59]. É sua fé que lhe concede tomar-se a Mãe do Salvador: "Beatior est Maria percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi - Maria é mais bem-aventurada recebendo a fé de Cristo do que concebendo a carne de Cristo[a60]".
§507      Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja. [a61]"A Igreja... torna-se também ela Mãe por meio da palavra de Deus que ela recebe na fé, pois pela pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a virgem que guarda, íntegra e puramente, a fé dada a seu Esposo[a62]."
      9      VIRGINDADE DE MARIA

§496      Desde as primeiras formulações da fé[a63], a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido "do Espírito Santo, sem sêmen[a64]". Os Padres vêem na conceição virginal o sinal de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa:
Assim, Santo Inácio de Antioquia (início do século II): "Estais firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne[a65]Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus[a66], verdadeiramente nascido de uma virgem...ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, {à cruz} por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também ressuscitou verdadeiramente[a67]".
§497      Os relatos evangélicos [a68]entendem a conceição virginal como uma obra divina que ultrapassa toda compreensão e toda possibilidade humanas[a69]: "O que foi gerado nela vem do Espírito Santo", diz o anjo a José acerca de Maria, sua noiva (Mt 1,20). A Igreja vê aí o cumprimento da promessa divina dada pelo profeta Isaias: "Eis que a virgem conceberá  e dará  à luz um filho" (Is 7,14, segundo a tradução grega de Mt 1,23).
§498      Por vezes tem-se estranhado o silêncio do Evangelho de São Marcos e das epístolas do Novo Testamento sobre a concepção virginal de Maria. Houve também quem se perguntasse se não se trataria aqui de lendas ou de construções teológicas sem pretensões históricas. A isto deve-se responder: a fé na concepção virginal de Jesus deparou com intensa oposição, zombarias ou incompreensões da parte dos não-crentes, judeus e pagãos[a70]. Ela não era motivada pela mitologia pagã ou por alguma adaptação às idéias do tempo. O sentido deste acontecimento só é acessível à fé, que o vê no "nexo que interliga os mistérios entre si[a71]", no conjunto dos Mistérios de Cristo, desde a sua Encarnação até a sua Páscoa. Santo Inácio de Antioquia já  dá  testemunho deste nexo: "O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus[a72].
     10  VISITA DE MARIA A ISABEL COMO VISITA DE DEUS AO SEU POVO
§717      “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João” (Jo 1,6). João é "repleto do Espírito Santo, ainda no seio de sua mãe" (Lc 1,15) por obra do próprio Cristo que a Virgem Maria acabava de conceber do Espírito Santo A "visitação" de Maria a Isabel tomou-se, assim, "visita de Deus ao seu povo". 

Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56.
 [a2] Lc 1, 28
 [fca3] Gn 18, 14 Por acaso, existe alguma coisa impossível para Javé? Neste mesmo tempo, no próximo ano, eu voltarei a você, e Sara já terá um filho».
 [fca4] Lc 1, 48        porque olhou para a humilhação de sua serva.

 [a5]  Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56.
 [a6]
 [a7]
 [a8]
 [a9]
 [a12] Lc 1, 28
 [a13] (Lc 1, 35).
 [a14] (Conforme Rm 1, 3 ; 2 Tm 2, 8 ; Ap 22, 16).
 [a15] DS 150
 [a16] cf. Jo 16, 14-15
 [a17] cf. Mt 1, 20 ; Lc 1, 35
 [a18] cf. Lc 2, 8-20
 [a19] cf. Mt 2, 1-12
 [a20] cf. Jo 1, 31-34
 [a21] cf. Jo 2, 11
 [a22] cf. Mt 13, 55
 [a23] DS 251
 [a24] Lc 1,26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré. 27 Foi a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi. E o nome da virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava, e disse: «Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!» 29 Ouvindo isso, Maria ficou preocupada, e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. 30 O anjo disse: «Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça diante de Deus.
31 Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. 32 Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dará a ele o trono de seu pai Davi, 33 e ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó. E o seu reino não terá fim.» 34 Maria perguntou ao anjo: «Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?» 35 O anjo respondeu: «O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus. 36 Olhe a sua parenta Isabel: apesar da sua velhice, ela concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril, já faz seis meses que está grávida. 37 Para Deus nada é impossível.» 38 Maria disse: «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo a deixou.
 [a25] cf Rm 4, 18 Esperando contra toda esperança, Abraão acreditou e tornou-se o pai de muitas nações, conforme foi dito a ele: «Assim será a sua descendência.» 19 Ele não fraquejou na fé, embora já estivesse vendo o próprio corpo sem vigor - ele tinha quase cem anos - e o ventre de Sara já estivesse amortecido. 20 Diante da promessa divina, ele não duvidou, mas foi fortalecido pela fé e deu glória a Deus. 21 Ele estava plenamente convencido de que Deus podia realizar o que havia prometido.
 Gl 4, 26 Mas a Jerusalém do alto é livre, e ela é a nossa mãe. 27 Porque está na Escritura: «Alegre-se, estéril, você que não dava à luz! Grite de alegria, você que não conheceu as dores do parto, porque os filhos da abandonada são mais numerosos do que os filhos daquela que tem marido».
 [a26]  Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56.
 [a27] Lc 1, 28
 [a28] Lc 1, 28
 [a29] DS 2803
 [a30] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56
 [a31] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 53
 [a32] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56
 [a33]" (cf. 1 Coe 15, 21-22. 45)
 [a34] Rm 5,19-20
 [a35] Conforme Pio IX Inffabilis Deus: DS 2803)
 [a36] (Conforme Concílio de Trento : DS 1573)
 [a37] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 62
 [a38] Lc 1,26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré. 27 Foi a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi. E o nome da virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava, e disse: «Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!» 29 Ouvindo isso, Maria ficou preocupada, e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. 30 O anjo disse: «Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça diante de Deus. 31 Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. 32 Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dará a ele o trono de seu pai Davi, 33 e ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó. E o seu reino não terá fim.» 34 Maria perguntou ao anjo: «Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?» 35 O anjo respondeu: «O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus. 36 Olhe a sua parenta Isabel: apesar da sua velhice, ela concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril, já faz seis meses que está grávida. 37 Para Deus nada é impossível.» 38 Maria disse: «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo a deixou.
 [a39] cf Rm 4, 18 Esperando contra toda esperança, Abraão acreditou e tornou-se o pai de muitas nações, conforme foi dito a ele: «Assim será a sua descendência.» 19 Ele não fraquejou na fé, embora já estivesse vendo o próprio corpo sem vigor - ele tinha quase cem anos - e o ventre de Sara já estivesse amortecido. 20 Diante da promessa divina, ele não duvidou, mas foi fortalecido pela fé e deu glória a Deus. 21 Ele estava plenamente convencido de que Deus podia realizar o que havia prometido.
 Gl 4, 26 Mas a Jerusalém do alto é livre, e ela é a nossa mãe. 27 Porque está na Escritura: «Alegre-se, estéril, você que não dava à luz! Grite de alegria, você que não conheceu as dores do parto, porque os filhos da abandonada são mais numerosos do que os filhos daquela que tem marido».
 [a40] Lc 2, 15 Quando os anjos se afastaram, voltando para o céu, os pastores combinaram entre si: «Vamos a Belém, ver esse acontecimento que o Senhor nos revelou.» 16 Foram então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. 17 Tendo-o visto, contaram o que o anjo lhes anunciara sobre o menino. 18 E todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam. 19 Maria, porém, conservava todos esses fatos, e meditava sobre eles em seu coração.
 [a41] Mt 2, 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e lhe prestaram homenagem. Depois, abriram seus cofres, e ofereceram presentes ao menino: ouro, incenso e mirra.
 [a42] Lc 2, 14 «Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados.»
 [a43]  Jo 19, 25 A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. 26 Jesus viu a mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava. Então disse à mãe: «Mulher, eis aí o seu filho.» 27 Depois disse ao discípulo: «Eis aí a sua mãe.» E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.

 [a44] cf. Hb 10, 5
 [a45] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 56 ; cf. 61
 [a46] cf. Gn 3, 15
 [a47] cf. Gn 3, 20
 [a48] cf. Gn 18, 10-14 ; 21, 1-2
 [a49] cf. 1 CoR 1, 27
 [a50] cf. 1 Sm 1
 [a51] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 55
 [a52] cf. Lc 2, 48-49
 [a53] Concílio Friuli em 796 : DS 619
 [a54] 1 Cor 15, 45-47
 [a55] cf. Cl 1, 18
 [a56] cf. Jo 3, 9
 [a57] cf. 2 Cor 11, 2
 [a58] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 63.
 [a59]  cf. 1 Cor 7, 34-35
 [a60] S. Agostinho, De Sancta virginitate . 3 : PL 40, 398
 [a61] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 63.
 [a62] Conforme  Constituição Dogmática Concílio Vaticano II « Lumen gentium » item 64
 [a63] DS 10-64
 [a64] Concílio de Latrão en 649 : DS 503
 [a65] cf. Rm 1, 3.
 [a66] cf. Jo 1, 13
 [a67] (Smyrn. 1-2).
 [a68] cf. Mt 1, 18-25 ; Lc 1, 26-38
 [a69] Lc 1,34
 [a70] cf. S. Justino, dialogus cum Tryphone Iudaeo 66, 67 ; Origenes, Cels. 1, 32. 69 ; e.a
 [a71] DS 3016
 [a72] Santo Inácio de Antioquia – Ad Eph. 19, 1 ; cf. 1 Cor 2, 8


DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGUORI
SOBRE NOSSA SENHORA

Devoto de Maria Santíssima, Santo Afonso escreveu grandes poemas, músicas e livros sobre ela. Sua conversão e vocação e seu sacerdócio foi todo consagrado a Mãe de Jesus.   
Não se cansou de cansou de elogiar as "Glórias que ela recebeu em virtude de ser a Mãe de Deus".  E falando em seus escritos sobre o tratado de nossa alma disse: "Os verdadeiros devotos de Nessa Senhora não se condena mas, se salva. Assim escreveu:


“SALVE, RAINHA,
MÃE DE MISERICÓRDIA”
Eis um trecho da oração composta pelo santo autor, rogando proteção da Santíssima Virgem para essa obra:
“Ó minha caríssima Rainha, aceitai este livro e protegei-o como propriedade vossa. Mas ficai ciente de que por este pequeno obséquio exijo uma recompensa: a de amar-vos doravante mais do que no passado, e que cada um daqueles em cujas mãos for parar o livro, fique abrasado de vosso amor. Que nele aumente de repente o desejo de amar-Vos e de Vos ver amada por todo o mundo. Que de todo coração se ocupe em espalhar e promover vossos louvores e a confiança em vossa poderosíssima intercessão. Amém. Assim espero. Assim seja”.
Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que seja honrada por todos com o título glorioso de Rainha. Se o Filho é Rei — diz o Pseudo Atanásio — justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se Rainha.
Desde o momento que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno — diz São Bernardino de Siena —, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo abade, não foi diversa da de Jesus, como, pois, pode a Mãe ser separada da monarquia do Filho? Por isso deve julgar-se que a glória do reino não só é comum entre Mãe e o Filho, mas também que é a mesma para ambos.
Se Jesus é Rei do Universo, do Universo também é Maria Rainha — escreve Roberto abade. De modo que, na frase de São Bernardino de Siena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria.
Por conseguinte, estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do Céu e da Terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico abade lhe dirige estas palavras: “Continuai, pois, a dominar com toda a confiança; disponde ao vosso arbítrio dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis, pertence-vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as criaturas”.
Maria é Rainha de Misericórdia
Maria é, pois, Rainha. Mas saibamos todos, para consolação nossa, que é uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós, pobres pecadores. Quer por isso a Igreja que a saudemos nesta oração com o nome de Rainha de Misericórdia. O próprio nome de rainha — considera Santo Alberto Magno — denota piedade e providência para com os pobres, enquanto o de imperatriz dá ares de severidade e rigor. A magnificência dos reis e das rainhas consiste em aliviar os desgraçados, diz Sêneca. Enquanto os tiranos governam tendo em vista apenas seus interesses pessoais, os reis devem procurar o bem de seus vassalos. Por isso na sagração dos reis se lhes unge a testa com óleo. É o símbolo da misericórdia e benignidade de que devem estar animados para com seus súditos.
Devem, pois, os reis empenhar-se principalmente nas obras de misericórdia, mas sem omitir, quando necessária, a justiça para com os réus. Não assim Maria. Se bem que seja Rainha, não é rainha de justiça, zelosa do castigo aos malfeitores. É Rainha de Misericórdia, inclina só à piedade e ao perdão dos pecadores. Por isso deseja a Igreja que expressamente lhe chamemos Rainha de Misericórdia. [...]
Quanta não deve ser, pois, a nossa confiança nesta Rainha, sabendo nós quanto Ela é poderosa perante Deus e cheia de misericórdia para com os homens![...]
Recorramos, pois, e recorramos sempre à proteção desta dulcíssima Rainha, se queremos seguramente salvar-nos. Espanta e desanima-nos a visão de nossos pecados? — Lembremo-nos então que Maria foi eleita Rainha de Misericórdia, precisamente para, com sua proteção, salvar os maiores e mais abandonados pecadores que a Ela se recomendam. [...]
Maria é nossa Mãe espiritual
O pecado, quando privou a nossa alma da divina graça, privou-a também da vida. Estávamos, pois, miseravelmente mortos, quando veio Jesus, nosso Redentor, com excessiva misericórdia e amor, restituir-nos a vida pela sua morte na cruz. Ele mesmo o declarou: “Eu vim para elas (as ovelhas) terem a vida, e para a terem em maior abundância” (Jo 10, 10). [...]
Se Jesus é Pai de nossas almas, Maria é a Mãe. Pois concedendo-nos Jesus, deu-nos Ela a verdadeira vida. Em seguida proporcionou-nos a vida da divina graça, quando ofereceu no Calvário a vida do Filho pela nossa salvação. Em duas diferentes ocasiões tornou-se, portanto, Maria nossa Mãe espiritual, como ensinam os Santos Padres. [...]
Jesus quis ser o único a morrer pela redenção do gênero humano. “Eu calquei o lagar sozinho”(Is 63, 3). Mas viu como Maria desejava ardentemente tomar parte na salvação dos homens. Decidiu então que Ela, com o sacrifício e a oferta da vida do seu mesmo Jesus, cooperasse para nossa salvação, e deste modo viesse a ser Mãe de nossas almas. [...]

Maria, imitando nisto Nosso Senhor Jesus Cristo, com seus benefícios e favores dá a quem a ama o seu amor duplicado.
Maria é Mãe muito solícita e desvelada
“Eu sou a Mãe do belo amor” — diz Maria (Ecli. 24, 24). O amor de Maria — observa certo autor — embeleza nossas almas aos olhos de Deus e leva essa amorosa Mãe a nos ter por filhos. Onde está a Mãe, pergunta São Boaventura, que ame seus filhos e vele sobre eles como vós, dulcíssima Rainha, nos amais e cuidais de nosso adiantamento espiritual? [...]
Em todas as batalhas com o inferno seremos sempre vencedores seguramente, se recorrermos à Mãe de Deus e nossa, dizendo e repetindo: “Sob a tua proteção nos refugiaremos, ó Santa Mãe de Deus!” [...]
Alegrai-vos, portanto, todos os que sois filhos de Maria. Sabei que Ela aceita por filhos seus quantos o querem ser. Exultai! Como temer por vossa salvação, tendo esta Mãe que vos defende e protege?
Grandeza do amor de Maria para conosco
Maria não pode deixar de amar-nos. Se, pois, Maria é nossa Mãe, consideremos quanto Ela nos ama. O amor dos pais para com os filhos é um amor necessário. E esta é a razão — adverte Santo Tomás — por que, pondo a divina lei preceito aos filhos de amarem os pais, não pôs preceito expresso aos pais de amarem os filhos. Pois o amor aos próprios filhos é amor com tanta força imposto pela própria natureza, que mesmo as feras mais cruéis — como disse Santo Ambrósio — não podem deixar de amá-los.
Contam os naturalistas que até o tigre, ouvindo o bramido dos filhotes capturados pelos caçadores, se lança ao mar e vai nadando até o navio em que os levam. Se, pois, nem os próprios tigres se esquecem de sua prole — diz nossa Mãe terníssima —, como poderei eu esquecer-me de meus filhos? “Pode acaso uma mulher esquecer sua criança de braço, de sorte que não tenha compaixão do filho de suas entranhas? Mas se ela a esquecer, eu todavia não me esquecerei de ti” (Is 49, 15). “E se em algum tempo — continua a Virgem — se desse o caso de uma mãe se esquecer de um filho, não é possível que eu cesse de amar uma alma, de que sou Mãe”. [...]
Reuníssemos nós, enfim, o amor de todas as mães a seus filhos, de todos os esposos às suas esposas, de todos os anjos e santos para com seus devotos, não igualaria todo esse amor ao que Maria tem a uma só alma. É mera sombra o amor de todas as mães aos seus filhos, quando comparado ao de Maria para conosco, diz o Padre Nieremberg. Muito mais nos ama Ela só — diz o mesmo padre —, do que amam uns aos outros os anjos e santos. [...]
É notório que Maria foi solícita para com todo o gênero humano. É, portanto, muito recomendável a prática de alguns devotos de Maria, os quais — como refere Cornélio a Lápide — costumam pedir ao Senhor lhes conceda aquelas graças, que para eles lhe pede a Santíssima Virgem. E com razão, diz o citado a Lápide, pois a nossa Mãe deseja-nos bens maiores do que nós mesmos poderíamos desejar.
O devoto Bernardino de Busti afirma que Maria deseja fazer-nos bem, e conceder-nos favores, ainda mais do que nós desejamos recebê-los. Segundo Santo Alberto Magno, aplicam-se essas palavras do livro da Sabedoria: “Ela se antecipa aos que a desejam e se lhes patenteia primeiro” (Sab. 6, 14). Antecipa-se Maria a quantos a Ela recorrem, para que a encontrem antes que a busquem. “É tal o bem-querer alvoroçado desta Mãe, diz Ricardo, que vem logo ao nosso socorro e descobre as nossas precisões. Tão boa Mãe é, pois, Maria para todos, até para os ingratos e indiferentes que pouco a invocam e amam! Que Mãe será então para aqueles que a amam e com freqüência a invocam?” “Os que a amam encontram-na facilmente” (Sab. 6, 12). [...]
Tem, pois, razão São Boaventura ao exclamar: “Bem-aventurados aqueles que têm a dita de ser fiéis servos e amantes desta Mãe amantíssima!” Sim, porque esta gratíssima Rainha não admite que a vençam em amor os seus devotos servidores. Maria, imitando nisto Nosso Senhor Jesus Cristo, com seus benefícios e favores dá a quem a ama o seu amor duplicado. Exclamarei, pois, com o inflamado Santo Anselmo: “Sempre arda por vós o meu coração, e toda a minha alma se consuma no vosso amor, ó Jesus, meu amado Salvador, ó Maria, minha amada Mãe. Concedei, pois ó Jesus e Maria, a graça de amar-Vos, já que sem a vossa graça não posso fazê-lo. Concedei à minha alma pelos vossos merecimentos, não pelos meus, que eu vos ame quanto vós mereceis. Ó Deus tão amante dos homens, vós pudestes morrer pelos vossos inimigos. E a quem vo-la pede, poderíeis negar a graça de amar a vós e a vossa Mãe?” [...]
Maria também é Mãe dos pecadores arrependidos






"Por mais culpado que seja um homem, se vem a mim com sincero arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo"
Maria garantiu a Santa Brígida que é Mãe não só dos justos e inocentes, mas também dos pecadores que se querem emendar. Se, desejoso de emenda, recorre um pecador a esta Mãe de Misericórdia, oh, como a encontra pronta para o abraçar e socorrer, ainda mais do que se fosse sua mãe corporal. Era justamente o que o Papa Gregório VII escrevia à princesa Matilde: “Desiste da vontade de pecar e acharás Maria, eu o garanto, mais pronta em amar-te do que tua própria mãe”.
Portanto, quem aspira ser filho desta grande Mãe, é preciso que primeiro deixe o pecado, e depois será sem dúvida aceito por filho. [...]
Mas como ousará chamar-se filho de Maria quem tanto a desgosta com a sua má vida? Certo pecador disse um dia a Maria: “Mostra que és minha Mãe?” E a Virgem lhe respondeu? “Mostra que és meu filho!” Um outro, invocando-a, chamava-lhe Mãe de Misericórdia. Mas Ela lhe disse: “Vós, os pecadores, quando quereis que vos ajude, me chamais de Mãe de Misericórdia; e depois por vossos pecados não cessais de me fazer Mãe de misérias e de dores”. [...]
Efeitos do amor de Maria para com os pecadores
Suponhamos que uma mãe soubesse que dois filhos seus eram inimigos mortais, intentando um tirar a vida do outro. Em tal conjuntura não seria dever de toda boa mãe procurar encarecidamente como pacificá-los? Assim pergunta Conrado de Saxônia. “Ora, Maria é Mãe de Jesus e Mãe dos homens. Aflige-se quando vê um pecador inimizado para com Jesus e tudo faz por reconciliá-lo com seu divino Filho”.
Do pecador só exige a benigníssima Rainha que se recomende a Ela e tenha o propósito de emendar-se. Vendo-o a seus pés a implorar-lhe perdão, não olha para o peso de seus pecados, mas para a intenção com que se apresenta. Se esta é boa, nem que o pobre haja cometido todos os pecados do mundo, abraça-o e como terna Mãe, não desdenha curar-lhe as chagas que traz na alma. Pois é Mãe de Misericórdia, não só de nome, senão de fato, e em verdade tal se mostra pela ternura e pelo amor com que nos socorre. A própria Virgem Santíssima assim o revelou a Santa Brígida. “Por mais culpado que seja um homem, se vem a mim com sincero arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo. Não considero a enormidade de suas faltas, mas tão somente as disposições do seu coração. Não recuso ungir e curar as suas feridas, porque me chamo e realmente sou Mãe de Misericórdia”.
É Maria a Mãe dos pecadores que se querem converter. Como tal não pode deixar de compadecer-se deles. Parece até que sente como próprios os males de seus pobres filhos. A cananéia, ao pedir que o Senhor lhe livrasse a filha do demônio que a atormentava, disse-lhe:“Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim; minha filha está muito atormentada pelo demônio”(Mt 15, 22). Mas se a filha, e não a mãe, era atormentada pelo demônio, parece que deveria dizer:“Senhor, tem piedade de minha filha!” Mas não; ela disse: “Tem compaixão de mim” e com muita razão. Pois sentem as mães como próprios os sofrimentos dos filhos. Ora, do mesmo modo, disse Ricardo de São Lourenço, pede Maria a Deus quando intercede por qualquer pecador que a Ela recorre. Pede-lhe que dela se compadeça. Meu Senhor — parece dizer-lhe — esta pobre alma, que está em pecado, é minha alma; por isso compadecei-vos não tanto dela, como de mim, que sou sua mãe. [...]
No final deste estudo rezemos à Santa Mãe de Deus:




Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!

A vós bradamos os degregados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eias pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.
Rogais por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. 
Amém. 

Lembrai-vos ó puríssima Virgem Maria que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido  ao vosso socorro, implorado aos vossos pés fosse por vós desamparado.
 Eu, embora indigno de pertencer  aos vossos servos, mas cheio do desejo de vossa proteção, venho consagrar-vos inteiramente a vós. Não desprezeis as minhas súplicas ó Mãe do Filho de Deus humano. Mas escutai minha oração e atendei o que vos peço. Amém.

Ave Maria, cheia de graça do Senhor é convosco. Bendita sois entre todas as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria Mãe de Deus. Rogai por nós os pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.   
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