Texto de Cássio Abreu / Revista: "Brasil Cristão" - ed. 09/11
Você já leu a Bíblia Sagrada? Não? - que tal o desafio? Mas, para isso, aproveitando que estamos no mês de setembro, dedicado à Sagrada Escritura, vamos conhecê-la um pouco mais.
Deus é o autor da Bíblia. As verdades reveladas por Deus contidas na Sagrada Escritura, foram escritas por mãos humanas sob a inspiração do Espírito Santo.
A palavra Bíblia significa conjunto de livros, daí o coletivo biblioteca. Segundo a tradição, a Bíblia começou a ser escrita cerca de 1000 anos antes de Jesus Cristo. Totalizando 40 autores. Muitos estudiosos, porém afirmam que ela foi escrita por dezenas de pessoas de diferentes lugares cada um dentro de uma determinada época em uma especial situação. Seu último livro o Apocalipse, foi escrito no ano 80 depois de Jesus Cristo, segundo João, Apóstolo e evangelista.
A lista dos livros é chamada "Cânon das escrituras". Cânon é uma palavra grega que significa medida, regra. O Cânon católico compreende 73 livros: 46 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Os livros da Bíblia atual foi decidido no Concílio de Trento, no ano de 1546 d.C.
Os livros bíblicos estão divididos em:
Pentateuco
Históricos
Sapienciais
Proféticos - compõe o Antigo Testamento ou Primeira Aliança.
Os 04 Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas, João.
As cartas ou Epístolas.
O Apocalipse - compõe do Novo Testamento ou Segunda Aliança.
O termo Testamento não se encontra na Bíblia. Sua origem é hebráica, "berith", que significa, aliança, significa: Tratado ou Pacto.
Portanto a primeira Aliança Deus fez com seu povo no Monte Sinai, logo após ter deixado a escravidão no Egito. Como essa aliança foi quebrada pelo povo, Deus prometeu uma nova aliança que deveria ser feita com o sangue de Jesus Cristo. As denominações: Antigo Testamento e Novo Testamento, começaram a ser usadas no final do século II d. C. quando os escritos dos Evangelhos e dos outros Apóstolos foram acrescentados no Cânon dos livros sagrados.
O Antigo Testamento apresenta a história do mundo desde a criação até os acontecimentos após a volta dos judeus do exílio na Babilônia, no séc. IV a.C.
O Novo Testamento apresenta a história de Jesus Cristo e a pregação de seus ensinamentos durante a vida e após a sua morte, os ensinamentos dos Apóstolos, as ações das primeiras Igrejas Cristãs, e começou a serem escritos por volta do ano I d. C.
Os livros do Antigo Testamento aceito por todos os cristãos como sagrados, também são chamados de "protocanônicos" são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, Samuel I e II, Reis I e II, Crônicas I e II, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Outros Livros aceitos apenas pela Igreja Católica como sagrados são: Tobias, Judite, Macabeus I e II, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc.
Os livros do Novo Testamento são: Evangelhos de: Mateus, Marcos, Lucas e João; Atos dos Apóstolos, Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses I e II,Timóteo I e II, Tito, Filémon, Hebreus, Tiago, Carta de Pedro I e II, Carta de João I, II e III, Carta de Judas, Apocalipse.
A Bíblia foi dividida por capítulos por Stephen Langton, arcebispo da Cantuária, Inglaterra, em 1227 d.C. E em versículos pelo tipógrafo Robert Stephanus, de Paris em 1551 d.C.
Os idiomas originais da Bíblia são três: o hebráico: sendo a maior parte do Antigo Testamento; o Aramaico: Tobias, Judith, fragmentos de Esdras, Daniel, Jeremias, Gênesis e o original de São Mateus. Em Aramaico foram escritos: Sabedoria, II Macabeus, Eclesiástico, Parte de Esther e de Daniel. O Novo Testamento, menos o original de são Mateus.
Existem diferentes versões básicas da Bíblia; a Septuaginta ou Alexandrina que é a principal versão grega por sua antiguidade e autoridade. Sua redação se iniciou no século III a.C (250 a.C); Foi concluída no final do século II a.C (105 a.C).
o nome de "Setenta" se deve ao fato de que a tradição judaica atribui a sua tradução a 70 sábios e "Alexandrina" por ter sido feita em Alexandria, no Egito. Esta tradução foi feita para as leituras nas sinagogas, (templo de reunião e oração dos judeus); No tempo da diáspora, comunidades que se dispersaram para fora da Palestina. E também talvez, uma hipótese, para dar a conhecer aos pagãos.
Nas versões latinas temos a "Ítala Antiga" ou "Vetus Latina", que provém da versão dos "setenta" para a maioria dos livros do Antigo Testamento, e dos originais gregos para os livros do Novo Testamento e Sabedoria, II Macabeus e Eclesiástico. Esteve em uso no Ocidente desde o séc. II até o séc. V. Outra versão é a Vulgata, ao final do séc. IV, o Papa Damasco ordenou que São Jerônimo fizesse uma nova versão latina. Foi denominada "vulgata" porque a intenção era tornar a obra popular. São Jerônimo traduziu diretamente do hebráico e do grego originais para o latim. A "Neo-vulgata" é a mesma versão Vulgata à qual foram incorporados avanços e descobertas mais recentes. O Papa João Paulo II aprovou e promulgou a edição típica em 1979. Para esta nova versão sirva como base segura para fazer traduções da Bíblia às línguas modernas e para realizar estudos bíblicos.
A Bíblia Sagrada é o livro mais vendido de todos os tempos, com mais de 06 bilhões de cópias em todo mundo. O segundo livro mais vendido não chega a 1bilhão de exemplares.
Apesar de ter sido escrita a mais de 2. 000 anos a Bíblia é um livro tão atual como qualquer que foi escrito ontem. Leia um bom capítulo livro do Eclesiástico, por exemplo, e veja o quanto é atual a palavra de Deus. Boa Leitura!
A PALAVRA DO SENHOR E A CATEQUESE
Ir. Nery, fsc.
"A catequese precisa ajudar as pessoas a lerem as Escrituras, na fé e na Tradição da Igreja, para que as palavras nelas contidas sejam sentidas vivas, como Cristo está vivo até hoje".
DEI VERBUM (A Palavra do Senhor). No dia 30 de setembro de 2010 o Papa Bento XVI publicou a Exortação Apostólica pós-sinodal: Verbum Domini, que é uma marco histórico na história da Igreja. Este precioso documento traz a reflexão do Sínodo 2008 sobre a "Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja", e traz também o pensamento do próprio papa sobre o tema. É impressionante a riqueza que ali se encontra e, mais ainda, as consequências para cada fiel e para a Igreja se a Dei Verbum, efetivamente não ficar no papel, mas passar para a vida.
UMA REVOLUÇÃO NA IGREJA - A Verbum Domini constitui uma grande mudança no modo como a Igreja vê e vive a Sagrada Escritura. O Papa Bento XVI declara, no ítem 1, da DV: "Desejo indicar algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra de Deus, fonte de constante renovação, com a esperança com o desejo de que a mesma se torne cada vez mais o coração de toda atividade eclesial". Recomendado, no no. 73: "a pastoral bíblica, não em justaposição com outras formas de pastoral, mas como animação bíblica da pastoral inteira".
E o papa, citando São Jerônimo, confirma que: "ignorar as Escrituras é ignorar Cristo" (VD, 25).
A VERBUM DOMINI E A CETEQUESE - A catequese, que também precisa estar e perpassar tudo na Igreja, recebe na Verbum Domini um impulso e um guia de consequências imensas. O papa acentua, no no. 74: a) A centralidade da Palavra de Deus na catequese; b) O relato sobre os discípulos de Emaús como modelo fundamental para a catequese; c)a formação dos catequizandos para serem discípulos, testemunhas convictas e credíveis de Jesus Ressuscitado; d) A importância do diretório geral para a Catequese (DGC) e do que ele diz sobre a catequese e a Bíblia.
ANIMAR BIBLICAMENTE A CATEQUESE - O papa na Verbum Domini, 74, referindo-se ao DGC, sublinha que:
a) A catequese tem que ser impregnada e embebida de pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas.
b)A catequese será tanto mais rica e eficaz, quanto mais ler os textos com a inteligência e o coração da Igreja.
c) A Igreja precisa ajudar as pessoas a lerem as Escrituras na fé e na Tradição da Igreja, para que as palavras nelas contidas sejam sentidas e vivas, como Cristo está vivo hoje onde duas ou mais pessoas estiverem reunidas em seu nome (Cf. Mt18, 20)
d) Cada fiel deve ser orientado a reconhecer que sua vida pessoal pertence à História da Salvação.
e) É preciso sublinhar a relação entre a Sagrada Escritura e o Catecismo da Igreja Católica.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS - E o papa sugere ainda no no. 74:
a) o contato assíduo com os próprios textos bíblicos na catequese.
b) o conhecimento das figuras, acontecimentos e expressões do texto sagrado.
c) a memorização inteligente e algumas passagens bíblicas, particularmente expressivas dos méritos cristãos.
LEITURA ORANTE DA SAGRADA ESCRITURA E "LECTIO DIVINA" 86-87
Orígenes, um dos mestres nesta leitura da Bíblia, defende que a inteligência das Escrituras exige, ainda mais do que o estudo, a intimidade com Cristo e a Oração.
Realmente é uma convicção que o caminho privilegiado para conhecer Deus é o amor e que não existe uma autêntica scientia Christi sem enamorar-se d'Ele.
Na carta a Gregório, o grande teólogo alexandrino ele recomenda:
"Dedica-te a lectio (leitura) das divinas Escrituras; aplica-te a isto com perseverança. Empenha-te na lectio com a intenção de crer e agradar a Deus. Se durante a lectio te encontras diante de uma porta fechada, bate e ser-te-á aberta por aquele guardião de que falou Jesus: "o guardião abrir-lha-á".
Aplicando-te assim à lectio divina, procura com lealdade e inabalável confiança em Deus o sentido das Escrituras divinas, que nelas amplamente se encerra. Mas não deves contentar-te com o bater e procurar; para compreender as coisas de Deus, tens necessidade de absoluta oratio (Oração). Precisamente para exortar a ela é que o Salvador não se limitou a dizer: "procurai e encontrareis" e "batei e vós será aberto", mas acrescentou: "pedi e recebereis"
Este propósito, porém, deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão. Para nos unir na Verdade nosso caminho para Deus. Sendo uma palavra que se dirige a cada um pessoalmente, é uma palavra que constrói comunidade, que constrói Igreja.
Por isso, o texto sagrado deve sempre abordar a comunhão eclesial. Com efeito, é muito importante a leitura comunitária. Porque o sujeito vivo da Sagrada Escritura não pertence ao passado, porque o seu sujeito, o Povo de Deus inspirado pelo próprio Deus, é sempre o mesmo e, portanto, a Palavra está sempre viva no sujeito vivo.
Então é importante ler a Sagrada Escritura e ouvi-la na comunhão da Igreja, isto é, com todas as grandes testemunhas desta Palavra, a começar dos primeiros Padres até aos Santos (as) de hoje e ao Magistério atuais.
LEITURA ORANTE DA SAGRADA ESCRITURA <Lectio Divina> (DV. 86-87)
Em certo sentido, a leitura orante pessoal e comunitária deve ser vivida sempre em relação com a celebração eucarística prepara, acompanha e prolonga a liturgia eucarística.
Assim também a leitura orante pessoal e comunitária prepara, acompanha e aprofunda o que a Igreja celebra com a proclamação da Palavra no âmbito litúrgico.
Colocando em relação tão estreita lectio e liturgia, podem-se identificar melhor os critérios que devem julgar essa leitura no contexto da pastoral e da vida espiritual do povo de Deus.
Por isso, na leitura orante da Sagrada Escritura, o lugar privilegiado é a liturgia, particularmente a Eucaristia, na qual, ao celebrar o Corpo e Sangue de Cristo no Sacramento, se atualiza no meio de nós a própria Palavra.
IMPORTANTE VOCÊ SABER
.....Neste contexto digo que: a Sagrada Escritura não pode e não deve ser discutida e sim, proclamada, rezada e vivida. Ela ao mesmo tempo nos admoesta e nos repreende na fé cada qual ao seu modo, particular ou comunitário. Quando celebrada impregna em nós o desejo de vivê-la e praticá-la.
É errado pensar que podemos usar os textos sagrados para fundamentalismo religioso, ou para definir um certo credo, ou ainda para julgar as ações das pessoas.
O Espírito Santo, quando oramos sob a luz da Palavra nos inspira às boas ações.
Também não é conveniente achar que devemos interpretar os textos sagrados de qualquer maneira. Mas procurar ajuda naquilo que não entendemos com auxílio do magistério da Igreja seja em uma conversa, seja em uma boa leitura de livros que nos ajudarão a compreender o que na verdade nos quer dizer aquele texto.
Para isso é muito importante os movimentos de Círculos Bíblicos, onde a comunidade cristã passa a meditar e a rezar a palavra de Deus. Como aprendemos no documento Dei Verbum, a leitura divina deve estar sempre aliada à celebração eucarística, uma coisa liga à outra.
E se tratando das Sagradas Escrituras, também é bom lembrar que somente a Igreja pode traduzir e ensinar de forma correta, pois é a Igreja que, através dos bispos católicos romanos zelam pelo Depósito da Fé, ou seja cuidam para que a Palavra de Deus não seja deturpada. Ninguém por mais bem intencionado que seja não tem o direito de traduzir as sagradas escrituras sem prévia autorização do magistério da Igreja. Todos os originais dos escritos proféticos e dos evangelhos (inspirados e os *Apócrifos); estão com a Igreja Católica, o resto é cópia.
É por isso que as Bíblias traduzidas fora da Igreja Católica não devem ser desprezadas mas observadas pois podem conter erros de tradução. Por exemplo: em Bíblias traduzidas por certos autores "crentes" usam a palavra Jeová (errada), no lugar de Javé ou IAVEH=EU SOU O QUE SOU (certa) para identificar o nome de Deus. Isso é muito comum, trocam o mome de alguns personagens da Bíblia. Além de faltar 7 livros que são muito importantes para nós.
Por isso deve-se ter alguns cuidados.
Outro cuidado que devemos ter é com o fundamentalismo bíblico, pois a bíblia não pode ser interpretada ao "pé da letra" pois sua linguagem muitas vezes é indireta ou direta. Muitos textos são difíceis de entender, por isso recomenda-se a ajuda de bons livros ou do próprio padre, teólogo ou de uma pessoa experiente que fez um bom curso na área. Pois a explicação de um texto bíblico não pode ser errada; a Bíblia se lida e vivida, entendida, rezada e orada, sem fundamentalismo pode ser caminho de salvação, do contrário pode ser perdição por causa do fanatismo.
A pessoa que escreve a Bíblia é chamada de EXEGETA.
A pessoa que estuda a Bíblia e faz mestrado e doutorado chama-se TEÓLOGO.
*ESCRITOS APÓCRIFOS - são escritos que foram de diversos autores, mas que não entraram na Bíblia por não serem considerados inspirados. Pois misturam: história concreta, fantasias, mitos e lendas a respeito de Jesus. Algumas coisas são verdadeiras outras não, outras lendas, outras misturam uma coisa e outra...