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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

É VERDADE O QUE DISSE O PAPA FRANCISCO QUE TODAS AS RELIGIÕES LEVAM A DEUS?

 

“A quem iremos Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna!” (Jo6, 68)

          É com esta declaração de fé de São Pedro que vamos abordar um tema muito importante.

Porque o Papa Francisco recentemente em um discurso disse: “Fiquem tranquilos todas as religiões levam a Deus”. Isso é um engodo, uma inverdade.

 Pode todas as religiões levar a Deus se cada religião tem um ou vários deuses? Todas as religiões servem uma ou mais divindades, se uma serve a Cristo, a outra serve a Buda, a Shiva, a Alá, a Javé, a Tupã, a Amon, Anubis, etc, etc. A divindade de uma não é a divindade de outra. O satanismo que crê e serve ao diabo, pode essa religião levar a Deus?

          Quer dizer, nas falas de Francisco que agora não importa mais, se estivermos no espiritismo, no candomblé, no satanismo, no protestantismo, [...] não importa, para ele todas as religiões levam a Deus. Com isso ele tira dois pontos importantes: 1) a missão da Igreja de levar às pessoas ao conhecimento da verdade e à Salvação. 2) Ele retira de Cristo o poder salvífico que só Jesus pode dar. Porque Jesus fundou a Igreja para que ela possa anunciar o Evangelho e levar às pessoas à salvação. E Jesus disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo14, 6-11). E cabe a nós  também hoje, diante das falas de Francisco pensarmos nessas palavras de Francisco como aceitáveis, ou então responder como Pedro "A quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna!". Não há outro Deus, não há outro Senhor que pode nos salvar e não há outra Igreja que senão a verdadeira Igreja Católica [e não esta falsa que está aí usurpando o trono de S. Pedro e ensinando heresias] que é continuadora da missão de Cristo.

          Francisco está na contramão do que diz a Doutrina da Santa Igreja, não somente no que diz a Doutrina, mas, também o que disse Nosso Senhor. “Eu sou o caminho”.

 Jesus discursou na sinagoga de Cafarnaum, (Cap. JoVI), falando da Eucaristia. Foi um discurso longo e muito direto. Porém muitos discípulos não compreenderam, porque ele disse “quem não comer da minha carne e não beber do meu sangue não terão a vida eterna”. Os discípulos acharam aquelas palavras pesadas demais porque não entenderam o que Jesus queria dizer e ficaram escandalizados e muitos se retiraram. Jesus, porém, não os chamou de volta, mas disse aos que ficaram: “Vós também quereis ir?” E Pedro respondeu: “A quem iremos Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna! E nós cremos que tu és o santo de Deus.”

Aqui Pedro dá uma resposta Mt16, 18, quando Jesus os interroga: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo!” [...] “Sobre ti (Pedro) fundarei a minha Igreja!” Esta pergunta que é feita a cada um de nós: Quem é Jesus? Se cremos e professamos como São Pedro que Jesus é o Filho do Deus vivo, se cremos, portanto, que ele é Deus e Senhor da Igreja não há possibilidade alguma de e existir outra senão a verdadeira Igreja de Cristo como única e verdadeira religião capaz de levar os homens a Deus e a salva-los.

A Encíclica do Papa Pio XI "Mortalis Animus" nos diz que:

§18. A única religião revelada é a católica Acreditamos, pois, que os que afirma serem cristão, não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.

 

Assim, por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si.

 

Entretanto, cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça (Mt 16,18 seg.; Lc 22,32; Jo 21,15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo 3,5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18,18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa (Mt 16,18), a um redil de ovelhas (Jo 10,16) e a um rebanho (Jo 21,15-17). 

Esta Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir todos os homens à salvação eterna: "Ide, pois, ensinai a todos os povos" (Mt 28,19). 

Acaso faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: "Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?" (Mt 28,20). 

Deste modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18).

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Pois bem... Se todas as religiões levassem a Deus não era necessário Jesus ter o trabalho de fundar uma Igreja e escolher para ela pessoas capacitadas que continuassem sua missão nesse mundo. Bastaria que os apóstolos e os discípulos ficassem na religião judaica, pois, a Lei de Moisés estava ainda em vigor antes da morte e ressurreição de Jesus.

Mas, não. Jesus não só veio morrer na cruz, mas, deixou a sua Igreja meios (os sacramentos) pelos quais todos possam chegar à salvação como continuadora de sua missão neste mundo. De modo que ninguém pode se salvar senão através de Cristo e sem o auxílio da sua Igreja. E é nessa Igreja que Jesus está vivo e presente na Eucaristia.

 No século III, o bispo São Cipriano de Cartago disse uma frase que é usada até hoje: “Extra Ecclesiam Nulla Salus”, que quer dizer, “fora da Igreja não há salvação”. (Cap. VI par. III, do livro ‘De Catholicae Eccleciae Unitate’ – ‘A Unidade da Igreja Católica’ – ano 251)

Cristo constituiu uma Igreja que é o seu Corpo é a continuação sua na história e continuação invisível, somente quem faz parte desse Corpo tem os méritos infinitos de Cristo. Como o próprio São Cipriano diz no mesmo parágrafo “não pode ter Deus por Pai, se não tiver a Igreja por mãe”.

Essa doutrina não é apenas de São Cipriano, mas, de toda a Igreja Católica. Ele é a fonte mais antiga da enunciação desta doutrina e é um dogma da Igreja. O cânon I, do Concílio de Latrão de 1215, declarou infalivelmente “Fora da Igreja não há Salvação”. Nenhum católico seja ele leigo, padre, bispo ou Papa pode negar essa doutrina.

No entanto, Francisco em um discurso inter-religioso declarou em 13 de setembro de 2024, que todas as religiões levam a Deus.

[Esse mesmo Papa que está à frente da religião mundial, cujo, Templo foi criado e edificado nos Emirados Árabes por iniciativa e desejo dele de “aproximar” as religiões que, segundo ele creem em Deus e tem por patriarca Abraão. Esse templo abriga em seu meio as três religiões cristianismo, islamismo e judaísmo. Nada mais é do que a iniciativa de unir as religiões a fim de criar uma única religião para a Nova Ordem Mundial. Porque tal poder implica no controle das massas populacionais por esse novo governo que pretendem instaurar.]

Essa frase herética de Francisco é muito grave e põe em risco a fé das pessoas e afasta de todos a verdade, por quê? porque afasta a necessidade de Cristo para a salvação, pois, o islamismo não crê em Cristo como filho de Deus, o espiritismo não crê em Jesus como filho de Deus, o budismo e o hinduísmo também não crê em Jesus, os testemunhas de Jeová não crê em Jesus como filho de Deus e nem crê na Santíssima Trindade, as religiões de matrizes africanas não acreditam em Jesus como filho de Deus. E tantas outras que negam Jesus como Deus e fazem questão até de perseguir a Igreja. Francisco em nome de um diálogo inter-religioso faz um balaio-de-gatos e joga tudo dentro como se tudo fosse aceitável. Quanto que na verdade não há outra religião senão a única que Cristo fundou e que leva ao verdadeiro Deus e essa é a verdadeira Igreja Católica. 

Agora, na Igreja modernista do C. V. II isso é possível porque está claro mais do que nunca que essa falsa Igreja que aí está em tudo se cumpre para a destruição do catolicismo verdadeiro. Nessa falsa Igreja sem compromisso, adepta ao modernismo com a verdade e que despreza a doutrina dos Santos Padres, dos Concílios e dos legítimos Papas anteriores. Essa  falsa Igreja promove o que há de mais ruim. A esta Igreja Pio XI já dizia:

§15. Não sabemos, pois, como por essa grande divergência de opiniões seja defendida o caminho para a realização da unidade da Igreja: ela não pode resultar senão de um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé entre os cristãos. Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a negligência com a religião ou o Indiferentismo e para o denominado Modernismo. os que foram miseravelmente infeccionados por ele defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada, isto é, de acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com as várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada por uma revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos homens. 

Além disso, com relação às coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de modo algum, daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé, como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis: a Virtude sobrenatural da fé possui como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta. 

Por isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de Deus concebida sem a mancha original e não possuem igualmente uma fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério infalível do Pontífice romano, no sentido definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano. 

Nem se pode admitir que as verdades que a Igreja, através de solenes decretos, sancionou e definiu em outras épocas, pelo menos as proximamente superiores, não sejam, por este motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente acreditadas: acaso não foram todas elas reveladas por Deus?

 Parece que Francisco desconhece esse documento do Papa Pio XI. Porque tudo que ele e seus adeptos fazem é o contrário. 

Pois, o Magistério da Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que as doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas também para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo mais fácil e seguro. E, embora seja ele diariamente exercido pelo Pontífice Romano e pelos Bispos em união com ele, todavia ele se completa pela tarefa de agir, no momento oportuno, definindo algo por meio de solenes ritos e decretos, se alguma vez for necessário opor-se aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais eficiente ou imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada expostos de modo mais claro e pormenorizado. 

Por este uso extraordinário do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma coisa nova é acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos implicitamente, no depósito da revelação, foram divinamente entregues à Igreja, mas são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam parecer obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas sobre a fé e que antes eram por alguns colocados sob controvérsia. (Encíclica 'Mortalium Animus' - Pio XI)

Fora da Igreja não há salvação, veja o que ensina o Catecismo:

CIC 846) - explicando que "formulada de modo positivo, significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça pela Igreja que é o seu Corpo":

“O santo Concílio «ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De facto, só Cristo é mediador e caminho de salvação. Ora, Ele torna-Se-nos presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé e do Baptismo, Cristo confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria Igreja, na qual os homens entram pela porta do Baptismo. É por isso que não se podem salvar aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a Igreja Católica como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela perseverar».”

 

Pe. Paulo Ricardo assim ensina:

Um axioma católico antigo diz que "extra Ecclesiam nulla salus – fora da Igreja não há salvação". Pregar essa verdade a um mundo dominado pelo indiferentismo religioso pode não ser coisa fácil, mas, como ensina o Papa Paulo VI, "não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas". Não se pode, em nome de uma malfadada referência à caridade cristã, abdicar o anúncio da verdade. Sem esta, de fato, não pode sequer haver autêntico amor, como preleciona Bento XVI: "Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida".

 

Sem dúvida, o tema da necessidade da Igreja para a salvação e da sua relação com as outras religiões é bastante espinhoso, sendo considerado por alguns um dos assuntos mais angustiantes de toda a eclesiologia.

 

Para buscar uma resposta, é importante, antes de qualquer coisa, observar a ação prática dos santos. Não é possível conciliar o indiferentismo religioso com a fé católica, pois foi justamente contra essa heresia que os primeiros mártires da Igreja ofereceram o seu testemunho de sangue: muitos deles poderiam ser salvos da degola, da cruz ou da boca do leão simplesmente jogando um punhado de incenso diante da imagem do Imperador. No entanto, eles sabiam que, se fizessem isso, estariam praticando um ato de idolatria. Renunciaram, então, a outras religiões; demonstraram, com a sua vida, que uma só é a religião verdadeira. 

Do mesmo modo, não é possível conciliar o indiferentismo com a fé dos apóstolos, que atravessaram continentes e oceanos para anunciar o Evangelho aos pagãos; ou com a fé de São Francisco Xavier, que viajou ao Oriente para converter os povos que não conheciam a Cristo; ou com a fé dos missionários jesuítas, que evangelizaram o Novo Mundo a um alto custo, enfrentando desafios tremendos para trazer os povos indígenas à fé cristã. Todo o sacrifício dos missionários cristãos para evangelizar outros povos está fundado na convicção da necessidade da Igreja para a salvação dos homens.

 

Sugerir que a Igreja Católica está no mesmo nível de outras religiões ou que a salvação pode ser empreendida simplesmente por esforços humanos significa, portanto, não só caminhar na contramão dos santos, mas faltar à caridade com que Cristo amou a Sua Igreja e Se entregou por ela (cf. Ef 5, 25).

 

Antes de prosseguir ao que responde a doutrina católica à pergunta "Fora da Igreja existe salvação?", é importante definir o que é a Igreja. Trata-se da continuação do mistério da encarnação de Cristo na história. De fato, as graças que Jesus conquistou para os homens na cruz podiam ser distribuídas:

 

"Diretamente por si mesmo a todo o gênero humano. [Ele] quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada". 

"O eterno pastor e guardião das nossas almas (cf. 1 Pd 2, 25), querendo perpetuar a salutar obra da redenção, resolveu fundar a santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo de uma só fé e amor."

Quando Deus nos veio salvar em Jesus, havia um abismo entre Deus e o homem. Se esse abismo já existia pela própria natureza das coisas – Deus é Deus, e as criaturas são criaturas –, ele foi ainda mais aprofundado pelo pecado original. Sendo impossível que o homem superasse esse abismo, Deus fez-Se homem. Construiu, assim, o caminho inverso do da Torre de Babel. Enquanto neste, os homens tentavam edificar uma torre que atingisse os céus, naquele, foi o próprio Deus quem veio em socorro da fraqueza humana. Em Cristo estão unidas as duas naturezas: a divina e a humana – "sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação", como indica o Concílio de Calcedônia – e é justamente por ser homem e Deus que só Ele pôde e pode redimir o homem e levá-lo a Deus.

 

Para que o homem se salve, então, ele deve incorporar-se a Cristo, precisa entrar em seu Corpo, que é a Igreja (cf. At 22, 8; Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-30; Cl 1, 18). Infelizmente, no Brasil e no resto do mundo, tem sido divulgada a falsa ideia de que a Igreja Católica é uma instituição humana; alguns de nosso tempo, repetindo o erro de que "foi alheio à mente de Cristo constituir a Igreja como sociedade que devia durar sobre a terra por longo decurso de anos", insinuaram que "a Igreja como instituição não estava nas cogitações do Jesus histórico". No entanto, esse tipo de pensamento não se coaduna com a doutrina católica.

 

A palavra definitiva da Igreja sobre esse assunto foi dada em 2000, na declaração Dominus Iesus, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé:

 

"Antes de mais, deve crer-se firmemente que a 'Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16, 16; Jo 3, 5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal como por uma porta'. Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2, 4); daí 'a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação'.

Essas duas verdades – "a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação" – parecem estar em contradição, a um primeiro olhar. Diante dessa tensão, o fiel católico não deve simplesmente aceitar uma verdade e negar a outra, mas abraçar as duas verdades. Caso contrário, envereda pelo caminho da heresia. 

Nessa matéria, especificamente, é possível ir para dois extremos: o indiferentismo, que é a heresia que nega a necessidade da Igreja para a salvação; e o rigorismo, que nega que Deus queira que todos os homens se salvem.

 Ambas as posições já foram reiteradamente condenadas pelo Magistério da Igreja: 

"... Entre as coisas que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar está também a afirmação infalível que nos ensina que 'fora da Igreja não há salvação'."

Atente-se à palavra "infalível" no texto. A expressão "fora da Igreja não há salvação" não é uma mera opção "pastoral" da Igreja em um determinado momento da história, que ela pode abandonar a qualquer instante. Trata-se de um ensinamento constante do Magistério, retirado da Tradição – encontra-se em escritores como Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Orígenes e Cipriano de Cartago –, afirmado pelo IV Concílio Lateranense  e reafirmado pelo Concílio de Florença, ensinamento "que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar". 

"Por isso, ninguém será salvo se, sabendo que a Igreja foi divinamente instituída por Cristo, todavia não aceita submeter-se à Igreja ou recusa obediência ao Romano Pontífice, vigário de Cristo na terra." 

"Ora, o Salvador não apenas ordenou que todas as nações entrassem na Igreja, mas ainda decidiu que a Igreja seria o meio de salvação sem o qual ninguém pode entrar no reino celeste."

 

(...)

 

"Para que alguém obtenha a salvação eterna não é sempre necessário que seja efetivamente incorporado à Igreja como membro, mas requerido é que lhe esteja unido por voto e desejo." 

"Todavia, não é sempre necessário que este voto seja explícito como o é aquele dos catecúmenos, mas, quando o homem é vítima de ignorância invencível, Deus aceita também o voto implícito, chamado assim porque incluído na boa disposição de alma pela qual essa pessoa quer conformar sua vontade à vontade de Deus.”

O que podemos dizer a partir desse documento (e de tantos outros sobre a Igreja)? As pessoas que forem salvas, serão salvas através da Igreja Católica. De que modo? Ou através da explícita e clara incorporação através do batismo, da profissão de fé e da submissão ao Romano Pontífice ou por outros meios que só Deus conhece. O que é claro é que a Igreja Católica será sempre o meio de salvação do homem. É possível expressá-lo com a fórmula negativa " extra Ecclesiam nulla salus" (que equivale a dizer: "extra Christum nulla salus"), mas também com a fórmula positiva, preferida pelo Concílio Vaticano II, "sacramento universal da salvação".

 Suponha-se que um pagão, como Mahatma Gandhi, se tenha salvado. Como homem de boa vontade, ele salvou-se unido de alguma forma ao mistério da Igreja Católica. Isso é muito diferente de relativizar as coisas, como dizer que "qualquer religião salva" ou que "é importante é respeitar todas as religiões". Com relação a essa última frase, urge fazer um adendo: não é verdade que todas as religiões mereçam respeito, em si mesmas. Essa fórmula vale para os seres humanos, mas não para tudo aquilo que eles fazem ou inventam. Não se pode, por exemplo, aprovar e respeitar: a religião asteca, que matava milhares de pessoas em sacrifício ao deus sol; ou a religião de Moloch, que sacrificava crianças; ou o satanismo, que diviniza a maldade. As outras religiões podem até possuir aspectos positivos, mas eles se devem à Igreja: tudo aquilo que é bom desejo humano, que é aspiração digna de respeito dirige-se à Igreja e dirige as pessoas ao redil de Pedro. 

Essa doutrina está presente em muitos documentos da Igreja, mas pode ser resumida em um parágrafo, contido no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 171:

 

171. Que significa a afirmação: 'Fora da Igreja não há salvação'?

846-848 

Significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo. Portanto não poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessária à salvação, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao mesmo tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita."

 

 

Referências

Papa Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, 25 de julho de 1968, n. 29

Papa Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in Veritate, 29 de junho de 2009, n. 3

Cf. Ef 5, 25

Papa Pio XII, Carta Encíclica Mystici Corporis, 29 de junho de 1943, n. 12

Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Pastor Aeternus, 18 de julho de 1870, n. 1. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3050.

Concílio de Calcedônia, 5ª sessão, 22 de outubro de 451. Cf. Denzinger-Hünermann, n. 302.

Cf. At 22, 8; Rm 12, 5; 1 Cor 12, 12-30; Cl 1, 18

Decreto do Santo Ofício Lamentabili, 3 de julho de 1907, n. 52. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3452.

BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e poder. Ed. Ática: São Paulo, 1994. p. 133

Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964, n. 14

Papa João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Missio, 7 de dezembro de 1990, n. 9

Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus, 6 de agosto de 2000, n. 20

Carta do S. Ofício ao arcebispo de Boston, 8 de outubro de 1949. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3866

IV Concílio do Latrão, Cap. 1. A fé católica, 11-30 de novembro de 1215: “Una vero est fidelium universalis Ecclesia, extra quam nullus omnimo salvatur... – Há uma só Igreja universal dos fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva...”. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 802.

Concílio de Florença, Bula Cantate Domino, 4 de fevereiro de 1442: “Firmiter credit, profitetur et praedicat, ‘nullos extra catholicam Ecclesiam existentes, non solum paganos’, sed nec Iudaeos aut haereticos atque schismaticos, aeternae vitae fieri posse participes, sed in ignem aeternum ituros, ‘qui paratus est diabolô et angelis eius’ [Mt 25, 41], nisi ante finem vitae eidem fuerint aggregati, tantumque valere ecclesiastici corporis unitatem, ut solum in ea manentibus ad salutem ecclesiastica sacramenta proficiant, et ieiunia, eleemosynae ac cetera pietatis oficia et exercitia militae christianae praemia aeterna parturiant — A Igreja crê firmemente, confessa e anuncia que ‘nenhum dos que estão fora da Igreja católica, não só os pagãos’, mas também os judeus ou hereges e cismáticos, poderá chegar à vida eterna, mas irão para o fogo eterno ‘preparado para o diabo e para os seus anjos [Mt 25, 41], se antes da morte não tiverem sido a ela reunidos; ela crê tão importante a unidade do corpo da Igreja, que só para aqueles que nela perseveram os sacramentos da Igreja trazem a salvação e os jejuns, as outras obras de piedade e os exercícios da milícia cristã podem obter a recompensa eterna”. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 1351.

Carta do S. Ofício ao arcebispo de Boston, 8 de outubro de 1949. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3867-3870

Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964, n. 48

Catecismo da Igreja Católica – Compêndio, n. 171

  

 

É VERDADE O QUE DISSE O PAPA FRANCISCO QUE TODAS AS RELIGIÕES LEVAM A DEUS?

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