“A quem iremos Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna!” (Jo6, 68)
É com esta declaração de fé de São
Pedro que vamos abordar um tema muito importante.
Porque o Papa Francisco recentemente em um
discurso disse: “Fiquem tranquilos todas as religiões levam a Deus”. Isso é um
engodo, uma inverdade.
Pode todas as religiões levar a Deus se cada
religião tem um ou vários deuses? Todas as religiões servem uma ou mais
divindades, se uma serve a Cristo, a outra serve a Buda, a Shiva, a Alá, a
Javé, a Tupã, a Amon, Anubis, etc, etc. A divindade de uma não é a divindade de
outra. O satanismo que crê e serve ao diabo, pode essa religião levar a Deus?
Quer dizer, nas falas de Francisco que agora não importa mais, se estivermos no espiritismo, no candomblé, no satanismo, no protestantismo, [...] não importa, para ele todas as religiões levam a Deus. Com isso ele tira dois pontos importantes: 1) a missão da Igreja de levar às pessoas ao conhecimento da verdade e à Salvação. 2) E o poder salvífico que só Jesus pode dar. Porque Jesus fundou a Igreja para que ela possa anunciar o Evangelho e levar às pessoas à salvação.
Nosso Senhor disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo14, 6-11). Cabe a nós também hoje, diante das falas de Francisco pensarmos nessas palavras de Francisco como aceitáveis, ou então responder como Pedro "A quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna!". Não há outro Deus, não há outro Senhor que pode nos salvar e não há outra Igreja que senão a verdadeira Igreja Católica [e não esta falsa que está aí usurpando o trono de S. Pedro e ensinando heresias] que é continuadora da missão de Cristo.
Francisco está na contramão do que diz a Doutrina da Santa Igreja, não somente no que diz a Doutrina, mas, também o que disse Nosso Senhor, “Eu sou o caminho”. Nós só podemos chegar até Deus través de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. E o meio, a ponte que nos leva até Ele é a Igreja Católica. Não existe ou meio seguro. A Igreja é como a "barca e Pedro", quem está fora dela corre o rico de morrer no naufrágio, nas tempestades, nos caminhos tortuosos que o inimigo nos oferece.
As religiões possuem seu Deus ou seus deuses, cada qual com uma verdade. Mas, o Deus verdadeiro, revelou-nos pessoalmente através de seu Filho, Jesus, o Verbo encarnado.
Jesus é nosso único caminho de salvação. É por isso que nós dizemos como São Pedro: "A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna!"
Os verdadeiros cristãos seguem este caminho, mesmo enfrentando as dificuldades e as perseguições porque sabem que Jesus Cristo é o próprio Deus conduz a sua 'barca' mesmo diante das tempestades.
Não é atoa que Jesus disse: "Eu sou a videira, meu Pai é o agricultor, todo o ramo, está em mim e não dá fruto, ele corta e o que dá fruto ele poda para que dê mais fruto ainda". (Jo15, 1-2). A Igreja verdadeira, fundada por Jesus, a Igreja dos Apóstolos, santos e doutores, ensinam que só há uma religião verdadeira e possui todos os meios de levar o homem a Deus.
Na Igreja 'Bergogliana' de Francisco isto não é possível porque todas as religiões levam a Deus e se cada religião tem um caminho diferente não levará a lugar nenhum a não ser a perdição. Isso é explicável porque a Igreja Católica verdadeira sempre ensinou que Jesus é o caminho e que o homem chega ao céu através de Cristo, Deus que se aproxima do homem e o salva através de seu Filho. A 'Igreja Bergogliana' de Francisco é oposta e camuflada de 'verdades' porque nela Jesus não é mais o centro, e sim, o próprio homem, é a religião do homem; e o homem não pode salvar-se por si mesmo.
Jesus discursou na sinagoga de Cafarnaum, (Cap. JoVI), falando da Eucaristia. Foi um discurso longo e muito direto. Porém, muitos discípulos não compreenderam, porque ele disse “quem não comer da minha carne e não beber do meu sangue não terão a vida eterna”. Os discípulos acharam aquelas palavras pesadas demais porque não entenderam o que Jesus queria dizer e ficaram escandalizados e muitos se retiraram. Jesus, porém, não os chamou de volta, mas disse aos que ficaram: “Vós também quereis ir?” E Pedro respondeu: “A quem iremos Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna! E nós cremos que tu és o santo de Deus.” E nós, a quem iremos? Às outras religiões ou a Jesus o único que tem palavras de vida eterna?
Pedro dá sua resposta Mt16, 18, quando Jesus os interrogou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo!” [...] “Sobre ti (Pedro) fundarei a minha Igreja!” Esta pergunta que é feita a cada um de nós hoje: Quem é Jesus para mim e para você? E qual será nossa resposta?
Se cremos e professamos como São Pedro que Jesus é o Filho do Deus vivo, se cremos, portanto, que ele é Deus e Senhor da Igreja não há possibilidade alguma de e existir outra senão a verdadeira Igreja de Cristo como única e verdadeira religião capaz de levar os homens a Deus e salva-los.
A Encíclica do Papa Pio XI "Mortalis Animus" nos diz que:
§18. A única religião revelada é a católica - Acreditamos, pois, que os que afirma serem cristão, não possam fazê-lo sem crer que uma Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga, além disso, qual deva ser ela pela vontade do seu Autor, já não estão todos em consenso.
Assim, por exemplo, muitíssimos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concordes em uma só e mesma doutrina, sob um só magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs, embora aderentes, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si.
Entretanto, cristo Senhor instituiu a sua Igreja como uma sociedade perfeita de natureza externa e perceptível pelos sentidos, a qual, nos tempos futuros, prosseguiria a obra da reparação do gênero humano pela regência de uma só cabeça (Mt 16,18 seg.; Lc 22,32; Jo 21,15-17), pelo magistério de uma voz viva (Mc 16,15) e pela dispensação dos sacramentos, fontes da graça celeste (Jo 3,5; 6,48-50; 20,22 seg.; cf. Mt 18,18; etc.). Por esse motivo, por comparações afirmou-a semelhante a um reino (Mt, 13), a uma casa (Mt 16,18), a um redil de ovelhas (Jo 10,16) e a um rebanho (Jo 21,15-17).
Esta Igreja, fundada de modo tão admirável, ao Lhe serem retirados o seu Fundador e os Apóstolos que por primeiro a propagaram, em razão da morte deles, não poderia cessar de existir e ser extinta, uma vez que Ela era aquela a quem, sem nenhuma discriminação quanto a lugares e a tempos, fora dado o preceito de conduzir todos os homens à salvação eterna: "Ide, pois, ensinai a todos os povos" (Mt 28,19).
Acaso faltaria à Igreja algo quanto à virtude e eficácia no cumprimento perene desse múnus, quando o próprio Cristo solenemente prometeu estar sempre presente a ela: "Eis que Eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos?" (Mt 28,20).
Deste modo, não pode ocorrer que a Igreja de Cristo não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista hoje e em todo o tempo, e também que Ela não exista como inteiramente a mesma que existiu à época dos Apóstolos. A não ser que desejemos afirmar que: Cristo Senhor ou não cumpriu o que propôs ou que errou ao afirmar que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra Ela (Mt 16,18).
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Pois bem... Se todas as religiões levassem
a Deus não era necessário Jesus fundar uma Igreja e escolher
para o governo dela pessoas capacitadas que dessem continuidade à sua missão nesse mundo. Bastaria
que os apóstolos e os discípulos ficassem na religião judaica, pois, a Lei de
Moisés estava ainda em vigor antes da morte e ressurreição de Jesus.
Mas, não. Jesus não só veio morrer na cruz, mas, deixou a sua Igreja e os meios pelos quais (os sacramentos) todos possam chegar à salvação, ela tem como missão como continuar de sua missão neste mundo. De modo que ninguém pode se salvar senão através de Cristo e sem o auxílio da sua Igreja. E é nessa Igreja que Jesus está vivo e presente na Eucaristia.
No século III, o bispo São Cipriano de Cartago disse uma frase que é usada até hoje: “Extra Ecclesiam Nulla Salus”, que quer dizer, “fora da Igreja não há salvação”. (Cap. VI par. III, do livro ‘De Catholicae Eccleciae Unitate’ – ‘A Unidade da Igreja Católica’ – ano 251)
Cristo constituiu uma Igreja que é o seu Corpo Místico (Col 1, 18). Ela é a continuação sua na história e continuação invisível, somente quem faz parte
desse Corpo tem os méritos infinitos de Cristo. Como o próprio São Cipriano diz
no mesmo parágrafo “não pode ter Deus por Pai, se não tiver a Igreja por mãe”.
Essa doutrina não é apenas de São Cipriano, mas, de toda a Igreja Católica. Ele é a fonte mais antiga da enunciação desta doutrina e é um dogma da Igreja. O cânon I, do Concílio de Latrão de 1215, declarou infalivelmente “Fora da Igreja não há Salvação”. Nenhum católico seja ele leigo, padre, bispo ou Papa pode negar essa doutrina. E o Papa Francisco fazendo a declaração em 13 de setembro de 2024, que todas as religiões levam a Deus negou esse dogma. Aquele que nega os dogmas, ou seja, uma verdade proclamada pela Santa Igreja não está em comunhão com ela, portanto, se auto excomunga.
[Esse mesmo Papa que está à frente da religião mundial, cujo, Templo foi criado e edificado nos Emirados Árabes por iniciativa e desejo dele de “aproximar” as religiões que, segundo ele creem em Deus e tem por patriarca Abraão. Esse templo abriga em seu meio as três religiões cristianismo, islamismo e judaísmo. Nada mais é do que a iniciativa de unir as religiões a fim de criar uma única religião para a Nova Ordem Mundial. Porque tal poder implica no controle das massas populacionais por esse novo governo que pretendem instaurar.]
A declaração herética do 'Papa Francisco' é muito grave e põe em risco a fé das pessoas, põe em risco à própria Igreja e afasta de todos a verdade, por quê? Porque afasta a necessidade de Cristo para a salvação, pois, o islamismo não crê em Cristo como filho de Deus, o espiritismo não crê em Jesus como filho de Deus, o judaísmo não crê em Jesus como filho de Deus; o budismo e o hinduísmo também não crê em Jesus, os testemunhas de Jeová não crê em Jesus como filho de Deus e nem crê na Santíssima Trindade, as religiões de matrizes africanas não acreditam em Jesus como filho de Deus.
Tantas outras religiões que negam Jesus como Deus e, opondo-se fazem questão de perseguir a Igreja de Cristo. Francisco em nome de um diálogo inter-religioso faz um balaio-de-gatos e joga tudo dentro como se tudo fosse aceitável. Não há outra religião senão a única que Cristo fundou e que leva ao verdadeiro Deus e essa é a verdadeira Igreja Católica.
Agora, na Igreja modernista do C. V. II isso é possível, porque está claro mais do que nunca que essa falsa Igreja que aí está, em tudo se cumpre para a destruição do catolicismo verdadeiro. Nessa falsa Igreja, adepta ao modernismo, sem compromisso com a verdade, que despreza a doutrina dos Santos Padres, dos Concílios anteriores e dos legítimos Papas anteriores. Essa falsa Igreja promove o que há de mais ruim.
A esta Igreja Pio XI já dizia:
§15. Não sabemos, pois, como por essa grande divergência de opiniões seja defendida o caminho para a realização da unidade da Igreja: ela não pode resultar senão de um só magistério, de uma só lei de crer, de uma só fé entre os cristãos. Sabemos, entretanto, gerar-se facilmente daí um degrau para a negligência com a religião ou o Indiferentismo e para o denominado Modernismo. os que foram miseravelmente infeccionados por ele defendem que não é absoluta, mas relativa a verdade revelada, isto é, de acordo com as múltiplas necessidades dos tempos e dos lugares e com as várias inclinações dos espíritos, uma vez que ela não estaria limitada por uma revelação imutável, mas seria tal que se adaptaria à vida dos homens.
Além disso, com relação às coisas que devem ser cridas, não é lícito utilizar-se, de modo algum, daquela discriminação que houveram por bem introduzir entre o que denominam capítulos fundamentais e capítulos não fundamentais da fé, como se uns devessem ser recebidos por todos, e, com relação aos outros, pudesse ser permitido o assentimento livre dos fiéis: a Virtude sobrenatural da fé possui como causa formal a autoridade de Deus revelante e não pode sofrer nenhuma distinção como esta.
Por isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação dogma da Mãe de Deus concebida sem a mancha original e não possuem igualmente uma fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao magistério infalível do Pontífice romano, no sentido definido pelo Concílio Ecumênico Vaticano.
Nem se pode admitir que as
verdades que a Igreja, através de solenes decretos, sancionou e definiu em
outras épocas, pelo menos as proximamente superiores, não sejam, por este
motivo, igualmente certas e nem devam ser igualmente acreditadas: acaso não
foram todas elas reveladas por Deus?
[Parece que Francisco desconhece esse documento do Papa Pio XI. Porque tudo que ele e seus adeptos fazem é o contrário. ]
Pois, o Magistério da Igreja, por decisão divina, foi constituído na terra para que as doutrinas reveladas não só permanecessem incólumes perpetuamente, mas também para que fossem levadas ao conhecimento dos homens de um modo mais fácil e seguro. E, embora seja ele diariamente exercido pelo Pontífice Romano e pelos Bispos em união com ele, todavia ele se completa pela tarefa de agir, no momento oportuno, definindo algo por meio de solenes ritos e decretos, se alguma vez for necessário opor-se aos erros ou impugnações dos hereges de um modo mais eficiente ou imprimir nas mentes dos fiéis capítulos da doutrina sagrada expostos de modo mais claro e pormenorizado.
Por este uso
extraordinário do Magistério nenhuma invenção é introduzida e nenhuma coisa
nova é acrescentada à soma de verdades que estando contidas, pelo menos
implicitamente, no depósito da revelação, foram divinamente entregues à Igreja,
mas são declaradas coisas que, para muitos talvez, ainda poderiam parecer
obscuras, ou são estabelecidas coisas que devem ser mantidas sobre a fé e que
antes eram por alguns colocados sob controvérsia. (Encíclica 'Mortalium Animus' - Pio XI)
Fora da Igreja não há salvação, veja o que ensina o Catecismo:
CIC
846) - explicando que "formulada de modo positivo, significa que toda a
salvação vem de Cristo-Cabeça pela Igreja que é o seu Corpo":
“O santo Concílio «ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De facto, só Cristo é mediador e caminho de salvação. Ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo, que é a Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé e do Baptismo, Cristo confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria Igreja, na qual os homens entram pela porta do Baptismo. É por isso que não se podem salvar aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a Igreja Católica como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela perseverar».”
Pe. Paulo Ricardo assim ensina:
Um axioma católico antigo diz que "extra Ecclesiam nulla salus – fora da Igreja não há salvação". Pregar essa verdade a um mundo dominado pelo indiferentismo religioso pode não ser coisa fácil, mas, como ensina o Papa Paulo VI, "não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas". Não se pode, em nome de uma malfadada referência à caridade cristã, abdicar o anúncio da verdade. Sem esta, de fato, não pode sequer haver autêntico amor, como preleciona Bento XVI: "Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida".
Sem dúvida, o tema da necessidade da Igreja para a salvação e da sua relação com as outras religiões é bastante espinhoso, sendo considerado por alguns um dos assuntos mais angustiantes de toda a eclesiologia.
Para buscar uma resposta, é importante, antes de qualquer coisa, observar a ação prática dos santos. Não é possível conciliar o indiferentismo religioso com a fé católica, pois foi justamente contra essa heresia que os primeiros mártires da Igreja ofereceram o seu testemunho de sangue: muitos deles poderiam ser salvos da degola, da cruz ou da boca do leão simplesmente jogando um punhado de incenso diante da imagem do Imperador. No entanto, eles sabiam que, se fizessem isso, estariam praticando um ato de idolatria. Renunciaram, então, a outras religiões; demonstraram, com a sua vida, que uma só é a religião verdadeira.
Do mesmo modo, não é possível conciliar o
indiferentismo com a fé dos apóstolos, que atravessaram continentes e oceanos
para anunciar o Evangelho aos pagãos; ou com a fé de São Francisco Xavier, que
viajou ao Oriente para converter os povos que não conheciam a Cristo; ou com a
fé dos missionários jesuítas, que evangelizaram o Novo Mundo a um alto custo, enfrentando
desafios tremendos para trazer os povos indígenas à fé cristã. Todo o
sacrifício dos missionários cristãos para evangelizar outros povos está fundado
na convicção da necessidade da Igreja para a salvação dos homens.
Sugerir que a Igreja Católica está no
mesmo nível de outras religiões ou que a salvação pode ser empreendida
simplesmente por esforços humanos significa, portanto, não só caminhar na
contramão dos santos, mas faltar à caridade com que Cristo amou a Sua Igreja e
Se entregou por ela (cf. Ef 5, 25).
Antes de prosseguir ao que responde a
doutrina católica à pergunta "Fora da Igreja existe salvação?", é
importante definir o que é a Igreja. Trata-se da continuação do mistério da
encarnação de Cristo na história. De fato, as graças que Jesus conquistou para
os homens na cruz podiam ser distribuídas:
"Diretamente por si mesmo a todo o gênero humano. [Ele] quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada".
"O eterno pastor e guardião das
nossas almas (cf. 1 Pd 2, 25), querendo perpetuar a salutar obra da redenção,
resolveu fundar a santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os
fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo de uma só fé e amor."
Quando Deus nos veio salvar em Jesus,
havia um abismo entre Deus e o homem. Se esse abismo já existia pela própria
natureza das coisas – Deus é Deus, e as criaturas são criaturas –, ele foi
ainda mais aprofundado pelo pecado original. Sendo impossível que o homem
superasse esse abismo, Deus fez-Se homem. Construiu, assim, o caminho inverso
do da Torre de Babel. Enquanto neste, os homens tentavam edificar uma torre que
atingisse os céus, naquele, foi o próprio Deus quem veio em socorro da fraqueza
humana. Em Cristo estão unidas as duas naturezas: a divina e a humana –
"sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação", como indica
o Concílio de Calcedônia – e é justamente por ser homem e Deus que só Ele pôde
e pode redimir o homem e levá-lo a Deus.
A palavra definitiva da Igreja sobre esse
assunto foi dada em 2000, na declaração Dominus Iesus, da Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé:
Essas duas verdades – "a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação" – parecem estar em contradição, a um primeiro olhar. Diante dessa tensão, o fiel católico não deve simplesmente aceitar uma verdade e negar a outra, mas abraçar as duas verdades. Caso contrário, envereda pelo caminho da heresia.
Nessa matéria, especificamente, é possível
ir para dois extremos: o indiferentismo, que é a heresia que nega a necessidade
da Igreja para a salvação; e o rigorismo, que nega que Deus queira que todos os
homens se salvem.
Ambas as posições já foram reiteradamente condenadas pelo Magistério da Igreja:
"... Entre as coisas que a Igreja
sempre pregou e nunca deixará de pregar está também a afirmação infalível que
nos ensina que 'fora da Igreja não há salvação'."
Atente-se à palavra "infalível" no texto. A expressão "fora da Igreja não há salvação" não é uma mera opção "pastoral" da Igreja em um determinado momento da história, que ela pode abandonar a qualquer instante. Trata-se de um ensinamento constante do Magistério, retirado da Tradição – encontra-se em escritores como Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Orígenes e Cipriano de Cartago –, afirmado pelo IV Concílio Lateranense e reafirmado pelo Concílio de Florença, ensinamento "que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar".
"Por isso, ninguém será salvo se, sabendo que a Igreja foi divinamente instituída por Cristo, todavia não aceita submeter-se à Igreja ou recusa obediência ao Romano Pontífice, vigário de Cristo na terra."
"Ora, o Salvador não apenas ordenou que todas as nações entrassem na Igreja, mas ainda decidiu que a Igreja seria o meio de salvação sem o qual ninguém pode entrar no reino celeste." (...)
"Para que alguém obtenha a salvação eterna não é sempre necessário que seja efetivamente incorporado à Igreja como membro, mas requerido é que lhe esteja unido por voto e desejo."
"Todavia, não é sempre necessário que
este voto seja explícito como o é aquele dos catecúmenos, mas, quando o homem é
vítima de ignorância invencível, Deus aceita também o voto implícito, chamado
assim porque incluído na boa disposição de alma pela qual essa pessoa quer
conformar sua vontade à vontade de Deus.”
O que podemos dizer a partir desse
documento (e de tantos outros sobre a Igreja)? As pessoas que forem salvas,
serão salvas através da Igreja Católica. De que modo? Ou através da explícita e
clara incorporação através do batismo, da profissão de fé e da submissão ao
Romano Pontífice ou por outros meios que só Deus conhece. O que é claro é que a
Igreja Católica será sempre o meio de salvação do homem. É possível expressá-lo
com a fórmula negativa " extra Ecclesiam nulla salus" (que equivale a
dizer: "extra Christum nulla salus"), mas também com a fórmula
positiva, preferida pelo Concílio Vaticano II, "sacramento universal da
salvação".
Essa doutrina está presente em muitos documentos da Igreja, mas pode ser resumida em um parágrafo, contido no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 171:
Que significa a afirmação: 'Fora da
Igreja não há salvação'?
846-848 - Significa que toda a salvação vem de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é o seu corpo. Portanto não poderiam ser salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessária à salvação, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao mesmo tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja mas procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita."
Referências
Papa Paulo VI, Carta Encíclica
Humanae Vitae, 25 de julho de 1968, n. 29
Papa Bento XVI, Carta Encíclica
Caritas in Veritate, 29 de junho de 2009, n. 3
Cf. Ef 5, 25
Papa Pio XII, Carta Encíclica Mystici
Corporis, 29 de junho de 1943, n. 12
Concílio Vaticano I, Constituição
Dogmática Pastor Aeternus, 18 de julho de 1870, n. 1. Cf. Denzinger-Hünnermann,
n. 3050.
Concílio de Calcedônia, 5ª sessão, 22
de outubro de 451. Cf. Denzinger-Hünermann, n. 302.
Cf. At 22, 8; Rm 12, 5; 1 Cor 12,
12-30; Cl 1, 18
Decreto do Santo Ofício Lamentabili,
3 de julho de 1907, n. 52. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3452.
BOFF, Leonardo. Igreja: carisma e
poder. Ed. Ática: São Paulo, 1994. p. 133
Concílio Vaticano II, Constituição
Dogmática Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964, n. 14
Papa João Paulo II, Carta Encíclica
Redemptoris Missio, 7 de dezembro de 1990, n. 9
Congregação para a Doutrina da Fé,
Declaração Dominus Iesus, 6 de agosto de 2000, n. 20
Carta do S. Ofício ao arcebispo de
Boston, 8 de outubro de 1949. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3866
IV Concílio do Latrão, Cap. 1. A fé
católica, 11-30 de novembro de 1215: “Una vero est fidelium universalis
Ecclesia, extra quam nullus omnimo salvatur... – Há uma só Igreja universal dos
fiéis, fora da qual absolutamente ninguém se salva...”. Cf.
Denzinger-Hünnermann, n. 802.
Concílio de Florença, Bula Cantate
Domino, 4 de fevereiro de 1442: “Firmiter credit, profitetur et praedicat,
‘nullos extra catholicam Ecclesiam existentes, non solum paganos’, sed nec
Iudaeos aut haereticos atque schismaticos, aeternae vitae fieri posse
participes, sed in ignem aeternum ituros, ‘qui paratus est diabolô et angelis
eius’ [Mt 25, 41], nisi ante finem vitae eidem fuerint aggregati, tantumque
valere ecclesiastici corporis unitatem, ut solum in ea manentibus ad salutem
ecclesiastica sacramenta proficiant, et ieiunia, eleemosynae ac cetera pietatis
oficia et exercitia militae christianae praemia aeterna parturiant — A Igreja
crê firmemente, confessa e anuncia que ‘nenhum dos que estão fora da Igreja
católica, não só os pagãos’, mas também os judeus ou hereges e cismáticos,
poderá chegar à vida eterna, mas irão para o fogo eterno ‘preparado para o
diabo e para os seus anjos [Mt 25, 41], se antes da morte não tiverem sido a
ela reunidos; ela crê tão importante a unidade do corpo da Igreja, que só para
aqueles que nela perseveram os sacramentos da Igreja trazem a salvação e os
jejuns, as outras obras de piedade e os exercícios da milícia cristã podem
obter a recompensa eterna”. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 1351.
Carta do S. Ofício ao arcebispo de
Boston, 8 de outubro de 1949. Cf. Denzinger-Hünnermann, n. 3867-3870
Concílio Vaticano II, Constituição
Dogmática Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964, n. 48
Catecismo da Igreja Católica –
Compêndio, n. 171