quinta-feira, 22 de outubro de 2015

EVANGELHOS QUE NÃO ESTÃO NA BÍBLIA - EVANGELHOS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO - PARTE 2


  1. Sentença  de Pilatos sobre a condenação de Jesus Cristo
  2. Declaração de José de Arimatéia
  3. Evangelho Segundo o Apóstolo Bartolomeu 



SENTENÇA CONDENATÓRIA DE JESUS - DE PÔNCIO PILATOS


Esta sentença encontra-se gravada numa placa de cobre e, em ambos os lados, lêem-se estas palavras:

"uma placa igual foi encaminhada para cada Tribo".
Foi encontrada dentro de um antigo vaso de mármore branco durante escavações realizadas em Áquila, reino de Nápoles, no ano de 1820, pelos comissionários de artes que acompanhavam o exército francês, após a expedição de Napoleão.
O vaso encontrava-se dentro de uma caixa de ébano na sacristia dos Cartuxos, próximo a Nápoles; atualmente encontra-se na Capela de Caserte. A tradução a seguir, feita a partir do original em hebraico, foi realizada pelos membros da Comissão de Artes. Após muitas súplicas, os Cartuxos conseguiram que a referida placa não fosse levada [para a França],
como reconhecimento dos inúmeros serviços que prestaram ao exército francês.

A SENTENÇA

No ano dezessete do império de Tibério César, a vinte e cinco do mês de março, na Santa Cidade de Jerusalém, sendo sacerdotes e sacrificadores de Deus Anás e Caifás, Pôncio Pilatos, governador da baixa Galiléia, sentado na cadeira principal do pretório, Sentencia:
Jesus de Nazaré a morrer em uma cruz, com outros dois ladrões, afirmando os grandes e notórios testemunhos do povo que: Jesus é sedutor. É sedioso. É inimigo da lei. Chama-se falsamente Filho de Deus.
Chama-se falsamente Rei de Israel. Entrou no Templo, seguido por uma multidão com palmas na mão. Manda ao primeiro centurião, Quirilino Cornélio, que o conduza ao local de suplício. Fica proibido a qualquer pessoa, pobre ou rica, impedir a morte de Jesus.
As testemunhas que firmam a sentença contra Jesus são: Daniel Robian, fariseu. Joannas Zorobatel. Rafael Robani. Capeto, homem público. Jesus sairá da cidade de Jerusalém pela porta de Estruene.



DECLARAÇÃO DE JOSÉ DE ARIMATÉIA


CAPÍTULO I

Eu sou José de Arimatéia, aquele que pediu a Pilatos o corpo do Senhor Jesus para sepultá-lo, e que por este motivo se encontra agora acorrentado e oprimido pelos Judeus, assassinos e rebeldes a Deus, os quais, além disso, tendo a lei em seu poder, foram a causa de aflições para o próprio Moisés e, depois de enraivecer o legislador e de não haverem reconhecido a Deus, crucificaram o Filho de Deus, coisa que ficou bem caracterizada para quem conhecia a condição do Crucificado. Sete dias antes da paixão de Cristo, foram enviados de Jericó ao governador Pilatos dois ladrões cujas culpas eram as seguintes:

O primeiro, chamado Gestas, costumava matar viajantes com a espada, ou deixava-os nus. Quanto às mulheres, ele as pendurava pelos tornozelos, de cabeça para baixo, para depois cortar-lhes os seios. Tinha predileção por beber o sangue das crianças. Nunca conheceu a Deus, não obedecia às leis e, violento com era, vinha executando tais ações desde o início de sua vida.

O segundo, por sua vez, chamava-se Dimas, era de origem Galileia e possuía uma pousada. Assaltava os ricos, mas favorecia os pobres. Mesmo sendo ladrão, parecia-se a Tobias, já que costumava sepultar os mortos. Dedicava-se a saquear a turba dos judeus.

Roubou os Livros da Lei em Jerusalém, deixou nua a filha de Caifás, que era na época a sacerdotisa do santuário, e até mesmo furtou o depósito secreto, colocado por Salomão. Tais eram seus feitos. Também Jesus foi detido na tarde do dia 3 antes da Páscoa. E não havia festa nem para Caifás nem para a turba dos judeus, mas sim uma enorme aflição, por causa do roubo do santuário, que havia sido praticado pelo ladrão. Chamando a Judas Iscariotes, falaram com ele. É necessário dizer que este era sobrinho de Caifás, não era discípulo sincero de Jesus, mas havia sido dolosamente instigado por toda a turba de judeus para que o seguisse. E isto, não com a finalidade de que se deixasse convencer pelas façanhas que Ele operava, nem para que O reconhecesse, mas sim para apanhar-Lhe em alguma mentira. E por esta gloriosa empreitada, davam-lhe presentes e um dracma de ouro por dia. Na época, já estava há dois anos na companhia de Jesus, como disse um dos discípulos, chamado João.

Três dias antes de Jesus haver sido detido, Judas disse aos judeus:
— Eia! Usemos o pretexto de que não foi o ladrão que furtou os Livros da Lei, mas, sim, Jesus em pessoa. Eu próprio comprometo-me a fazer a acusação.
Enquanto isto era dito, Nicodemus, encarregado das chaves do santuário, veio juntar-se a nós e dirigiu-se a todos, dizendo:
— Não façam tal coisa.
Sabe-se que Nicodemus era mais sincero do que todos os judeus juntos. Mas a filha de Caifás, chamada Sara, disse aos gritos:
— Pois ele falou deste lugar santo na frente de todos: sou capaz de destruir este templo e levantá-lo em três dias.
Ao que os judeus responderam:
— Damos-te todos os nossos votos de confiança, — já que tinham-na como profetisa. Uma vez realizado consenso, Jesus foi detido.

CAPÍTULO II

No dia seguinte, que era quarta-feira, levaram-no ao palácio de Caifás à hora nona. E Anás e Caifás perguntaram-Lhe:
— Ouve, por que roubaste nossa Lei e levaste a leilão público as promessas de Moisés e dos profetas?
Jesus nada respondeu. E, diante de toda a assembléia reunida, indagaram d'Ele: — Por que pretendes desfazer num único momento o santuário que Salomão erigiu em quarenta e seis anos?
Jesus nada respondeu a esta pergunta. Sabe-se que o santuário da sinagoga havia sido saqueado pelo ladrão. Mas ao cair a tarde de quarta-feira, a turba dispunha-se a queimar a filha de Caifás porque os Livros da Lei se haviam perdidos e não sabiam como celebrar a Páscoa. Mas ele lhes disse:
— Esperai, filhos, que mataremos este Jesus e encontraremos a Lei e a santa festa celebrar-se-á com toda a solenidade.
Então Anás e Caifás entregaram às escondidas a Judas Iscariotes uma boa quantidade de ouro e lhe confiaram a seguinte missão:
— Dize, conforme nos afirmastes: eu sei que a Lei foi furtada por Jesus, para que o delito recaia sobre ele e não sobre esta irrepreensível donzela.

Quando se puseram de acordo neste particular, Judas disse-lhes:
— Que o povo não saibas que me haveis dado instruções para fazer isto contra Jesus. É melhor soltá-lo e eu me encarregarei de convencer o povo de que a coisa é assim. Assim, astutamente puseram Jesus em liberdade.

Assim, então, quinta-feira, ao amanhecer, Judas entrou no Santuário e disse a todo o povo:
— Que me dareis se eu entregar aquele que fez desaparecer a Lei e roubou os Profetas? Os judeus responderam:

— Se o entregares, te daremos trinta moedas de ouro.
O povo não sabia, porém, que Judas se referia a Jesus, já que muitos reconheciam que era o filho de Deus. Então Judas ficou com as trinta moedas de ouro. Tendo saído durante a quarta e a quinta hora, encontrou Jesus passeando no átrio. Já estando a tarde por cair,  disse aos judeus:
— Dai-me uma escolta de soldados armados de espadas e paus e eu pô-lo-ei em vossas mãos.
Deram-lhe, então, força para prendê-lo. Enquanto iam caminhando, Judas disse-lhes: — Agarrai aquele a quem eu beijar, pois terá sido ele quem roubou a Lei e os Profetas. Depois aproximou-se de Jesus e beijou-O dizendo: — Salve, Mestre.
Era então a tarde de sexta-feira. E, uma vez preso, puseram-no nas mãos de Caifás e dos pontífices, dizendo-lhes Judas:
— Este é aquele que furtou a Lei e os Profetas.
Os judeus, então, submeteram Jesus a um injusto interrogatório, dizendo:
— Por que fizeste isto? — mas ele nada respondeu.
Então, Nicodemus e eu, José, diante daquela cátedra de pestilência, separamo-nos deles, dispostos que estávamos a não perecer juntamente com o conselho dos ímpios.

CAPÍTULO III 

E depois daquela noite fizeram outras coisas terríveis contra Jesus; na madrugada de sexta-feira foram entregá-lo ao governador Pilatos para crucificá-lo; e com este intuito todos acorreram. E o governador Pilatos, depois de interrogá-lo, ordenou que fosse crucificado na companhia de dois ladrões. E foram crucificados, juntamente com Jesus, à esquerda, Gestas, à direita, Dimas.

E o da esquerda começou a gritar, dizendo a Jesus:
— Olha quantas coisas más fiz sobre a terra, e até se soubesse que tu eras rei, teria acabado também contigo. Por que te chamas a ti mesmo de Filho de Deus, se não podes socorrer-te em caso de necessidade? Como, então, prestarás auxílio a qualquer um que o peça? Se tu és o Cristo, desce da cruz para que eu possa crer em ti. Mas, neste momento não te considero como homem, senão como uma besta selvagem que está perecendo juntamente comigo.

E começou a dizer muitas outras coisas contra Jesus enquanto blasfemava e fazia ranger os dentes contra Ele, pois o ladrão tinha sido preso no laço do diabo.
Mas o da direita, cujo nome era Dimas, vendo a graça divina de Jesus, gritava deste modo:
— Conheço-te, ó Jesus Cristo, e sei que és o Filho de Deus. Vejo-Te como Cristo adorado por miríades de anjos. Perdoa os pecados que cometi. Não faças os astros virem contra mim no momento do meu julgamento, ou a lua, quando julgares toda a terra, posto que foi à noite que realizei meus maus propósitos.

Não movas o sol, que agora escurece por Ti, para que eu possa manifestar as maldades de meu coração. Já sabes que não posso oferecer-Te presente algum pela remissão dos meus pecados. A morte já se joga em cima de mim por causa das minhas maldades, mas Tu tens o poder para expiá-las. Livrai-me, Senhor universal, do teu terrível julgamento. Não concedas ao inimigo poder para engolir-me e fazer-se herdeiro de minha alma, como o é desse que está pendurado à esquerda, pois estou vendo como o diabo recolhe sua alma, enquanto suas carnes desaparecem. Tampouco me ordenes passar para o lado dos judeus, pois vejo-os submergir num grande pranto a Moisés e aos profetas, enquanto o diabo se ri às suas costas. Senhor, antes que minha alma saia, ordena que meus pecados sejam apagados e lembra-te de mim, pecador, em teu reino, quando julgares as doze tribos por sobre o trono grande e alto, pois é grande e tormento que preparaste para o teu mundo por tua própria causa.

E, quando o ladrão terminou de dizes isto, Jesus respondeu-lhe:
— Em verdade, em verdade digo-te, Dimas, que hoje mesmo estarás comigo no paraíso. Mas os filhos do reino, os descendentes de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Moisés serão arremessados fora, para as trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Mas tu serás o único que habitará o paraíso até a minha segunda vinda, quando julgarei aqueles que não reconheceram meu nome.

E acrescentou:
— Vai agora e dize aos querubins e aos anjos da sexta hierarquia, que estão brandindo a espada de fogo e guardando o paraíso de Adão, a primeira das criaturas, que depois de ter vivido ali foi arremessado por haver prevaricado e por não ter guardado meus mandamentos: nenhum dos primeiros verá o paraíso até que eu venha de novo para julgar os vivos e os mortos. Assim disse Jesus Cristo, o Filho de Deus, aquele que desceu das alturas dos céus, aquele que saiu inseparavelmente do seio do Pai invisível e desceu ao mundo para encarnar-se e ser crucificado para salvar Adão, a quem formou, para conhecimento das milícias dos arcanjos, guardiões do paraíso e ministros de meu Pai.

Quero e ordeno que adentre aquele que está crucificado comigo, e que receba por mim a remissão de seus pecados e que entre no paraíso com o corpo incorruptível e engalanado, e que habite onde ninguém jamais poderá habitar.
E eis que, quando disse isto, Jesus entregou seu espírito. Isto aconteceu numa sexta-feira, à nona hora. As trevas cobriram a terra inteira e sobreveio um grande terremoto que derrubou o santuário e o pináculo do templo. 

CAPÍTULO  IV

Então eu, José, reclamei o corpo de Jesus e coloquei-o num sepulcro novo, ainda não usado. O cadáver daquele que estava à direita não pôde ser encontrado, enquanto que o da esquerda tinha adquirido o aspecto de um dragão. Pelo fato de ter pedido o corpo de Jesus para dar-lhe sepultura, os judeus, deixando-se levar por um impulso de cólera, encarceraram-me no mesmo lugar onde se costumava colocar os malfeitores. Isto aconteceu-me na tarde do Sabath em que nossa nação estava prevaricando. Quantas terríveis atribulações este Sabath infligiu à nossa mesma nação!

Precisamente na tarde do primeiro dia da semana, na quinta hora, quando me encontrava na prisão, Jesus veio ter comigo, acompanhado daquele que tinha sido crucificado à sua direita e a quem enviara ao paraíso. Havia uma grande luz no recinto.

Imediatamente a casa ficou suspensa em seus quatro ângulos, o espaço interior ficou e eu pude sair. Então reconheci primeiro a Jesus e depois ao ladrão, que trazia uma carta para Jesus. Enquanto caminhávamos até a Galileia, brilhou uma luz tamanha que a criação não podia suportá-la. O ladrão, por sua vez, exalava um forte perfume procedente do paraíso. Depois, Jesus sentou-se e leu assim:

— Os querubins e os hexaptérigos receberam de tua divindade a ordem de guardar o jardim do paraíso. Soubemos disto pelo ladrão que foi crucificado juntamente Contigo, por
tua disposição. Ao ver nele o sinal dos pregos e o resplendor das letras da tua divindade, o
fogo extinguiu-se, já que não podia suportar o sinal ofuscante. Nós, tomados de um grande
temor, ficamos amedrontados, pois ouvimos o autor do céu e da terra e da criação inteira que descia das alturas até as partes mais baixas da terra por causa de Adão, a primeira das criaturas. Ao ver a cruz imaculada, que fulgurava em meio ao ladrão e que fazia reverberar um resplendor sete vezes maior que o do sol, um grande temor apoderou-se de nós, presas da agitação dos infernos. E nós e os ministros do inferno, em coro, dissemos aos brados:

"Santo, Santo, Santo é Aquele que impera nas alturas". E as divindades deixavam escapar este grito: "Senhor, Tu Te manifestaste no céu e sobre a terra, dando a alegria dos séculos, depois de ter salvo a própria criatura da morte".

CAPÍTULO V

Enquanto eu ia contemplando isto, a caminho da Galileia, em companhia de Jesus e do ladrão, Aquele transfigurou-se e já não era o mesmo de antes da crucificação, senão que era luz por completo. Os anjos serviam-no continuamente, e Jesus mantinha conversação com eles. Passei por três dias ao seu lado, sem que nenhum dos seus discípulos O acompanhasse, mas tão somente o ladrão.

Em meio à festa dos ázimos, veio o seu discípulo João, e até então não havíamos visto o ladrão nem sabíamos o que tinha sido feito dele. João então perguntou a Jesus: — Quem é este, já que ainda não mo permitiste vê-lo?

Mas Jesus não respondeu nada. Então ele atirou-se aos seus pés e disse:
— Senhor, sei que desde o princípio me amaste. Por que não me fazes ver aquele homem?

Jesus disse-lhe:
— Por que vais em busca do mistério? És obtuso de inteligência? Não sentes o perfume do paraíso que inundou este lugar? Não percebes quem era? O ladrão suspenso da cruz tornou-se herdeiro do paraíso. Em verdade, em verdade te digo que somente ele o é até que chegue o grande dia.

E João disse:
— Faze-me digno de vê-lo".
Enquanto João ainda estava falando, o ladrão apareceu de repente. Então aquele, atônito, caiu ao chão. O ladrão não conservava a mesma figura que tinha antes da chegada de João, mas parecia-se com um rei majestoso ao extremo, engalanado como estava com a cruz. Ouviu-se uma voz, emitida por uma grande multidão, que dizia assim:

— Chegaste ao lugar do paraíso que te havia sido preparado. Nós fomos designados por Aquele que te enviou para servir-te até que venha o grande dia.
Ao produzir-se esta voz, o ladrão e eu ficamos invisíveis. Então encontrei-me em minha própria casa e já não via Jesus.

Tendo sido testemunha ocular destas coisas, deixei-as escritas para que todos acreditem em Jesus Cristo crucificado, nosso Senhor, e já não sirvam à Lei de Moisés, senão que deem crédito aos milagres e maravilhas operados por Ele, de maneira que, crendo, sejam herdeiros da vida eterna e possamos encontrar-nos todos no reino dos céus. Porque a Ele lhe convém glória, força, bem-aventurança e majestade pelos séculos dos séculos. Amém.



EVANGELHO SEGUNDO O APÓSTOLO BARTOLOMEU



A Conversa de Bartolomeu e Cristo com Beliel.


PARTE I

- Depois que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos, acercou-se dele Bartolomeu e abordou-o desta maneira:
— Desvela-nos, Senhor, os mistérios dos céus. Jesus respondeu-lhe:
— Se não me despojar deste corpo carnal não os poderei desvelar. Bartolomeu, pois, acercando-se do Senhor, disse-lhe: —Tenho algo a dizer-lhe, Senhor.
Jesus, por sua vez, respondeu:

— Já sei o que me vais dizer. Dize-me, pois, o que quiseres. Pergunta e eu te darei a razão. Bartolomeu, então, falou:
— Quando ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e os anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas.....
... eu estava a tudo contemplando. Eu vi como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e o ranger de dentes que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde foste depois da cruz. Jesus, então, respondeu desta forma:

— Feliz de ti, Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer.
Quando desapareci da cruz, desci aos Infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às suplicas do arcanjo Gabriel.

Então disse Bartolomeu: — E o que significa aquela voz que se ouviu?
Responde-lhe Jesus:

— Era a voz do Tártaro que dizia a Belial: a meu modo de ver, Deus se fez presente aqui.
Quando desci, pois, com meus anjos ao Inferno para romper os ferrolhos e as portas de bronze, dizia ele ao Diabo: parece-me que é como se Deus tivesse vindo à terra. E os anjos dirigiram seus clamores às potestades, dizendo: levantai, ó príncipes, as portas e fazei correr as cortinas eternas, porque o Reino da Glória vai descer à terra. E o Inferno disse: quem é esse Rei da Glória que vem do céu a nós?

Mas quando já havia descido quinhentos passos, o Inferno encheu-se de turbação e disse: parece-me que é Deus que baixa à terra, pois ouço a voz do Altíssimo e
não o posso agüentar. E o Diabo respondeu: não percas o ânimo, Inferno; recobra teu vigor, que Deus não desce à terra. Quando voltei a baixar outros quinhentos passos, os anjos e potestades exclamaram: alçai as portas ao vosso Reino e elevai as cortinas eternas, pois es que está para entrar o Rei da Glória. Disse de novo o Inferno: ai de mim! Já sinto o sopro de Deus. E disse o Diabo ao Inferno: para que me assustas, Inferno? Se somente é um profeta que tem algo semelhante com Deus ...
Apanhemo-lo e levemo-lo à presença desses que crêem que está subindo ao céu. Mas replicou o Inferno: e quem é entre os profetas? Informa-me. É, por acaso, Enoch, o escritor mui verdadeiro? Mas Deus não lhe permite baixar à terra antes de seis mil anos. Acaso te referes a Elias, o vingador? Mas este não poderá descer até o final do mundo. Que farei? Para nossa perdição, é chegado o fim de tudo, pois aqui tenho escrito em minha mão o número dos anos. Belial disse ao Tártaro:

não te perturbes. Assegura bem teus poderes e reforça os ferrolhos. Acredita-me, Deus não baixa à terra. Responde o Inferno: não posso ouvir tuas belas palavras. Sinto que se me arrebenta o ventre e minhas entranhas enchem-se de aflição. Outra coisa não pode ser: Deus apresentou-se aqui. Ai de mim! Aonde irei esconder-me de seu rosto, da sua força do grande Rei?
Deixa-me que me esconda em tuas entranhas, pois fui criado antes de ti. Naquele preciso momento, entrei. Eu o flagelei e o atei com correntes que não se rompem. Depois fiz sair a todos os Patriarcas e voltei novamente para a cruz.
— Dize-me, Senhor — disse-lhe Bartolomeu. — Quem era aquele homem de talhe gigantesco a quem os anjos levavam em suas mãos?
Jesus respondeu:

— Aquele era Adão, o primeiro homem que foi criado, a quem fiz descer do céu à terra. E eu lhe disse: por ti e por teus descendentes fui pregado na cruz. Ele, ao ouvir isso, deu um suspiro e disse: assim, rendo-me a ti, Senhor. De novo disse Bartolomeu:

— Vi também os anjos que subiam diante de Adão e que entoavam hinos, mas um destes, o mais esbelto de todos, não queria subir. Tinha em suas mãos uma espada de fogo e fazia sinais somente a ti. Os demais rogavam que ele subisse ao céu, mas ele não queria.
Quando, porém, tu o mandaste subir, vi uma chama que saia de suas mãos e que chegava à cidade de Jerusalém.

Disse Jesus:
— Era um dos anjos encarregados de vingar o trono de Deus. E estava suplicando a mim. A chama que viste sair de suas mãos feriu o edifício da sinagoga dos judeus para dar testemunho de mim, por terem eles me sacrificado.
Quando falou isso, disse aos apóstolos: — Esperai-me neste lugar, porque hoje se oferece um sacrifício no paraíso e ali hei de estar para recebê-los.
Falou Bartolomeu:
— Qual é o sacrifício que se oferece hoje no paraíso? Jesus respondeu:
— As almas dos justos, que saíram do corpo, vão entrar hoje no Éden e, se eu não estiver lá presente, não poderão entrar. Bartolomeu continuou: — Quantas almas saem diariamente deste mundo?
Disse-lhe Jesus:  — Trinta mil.—

Insistiu Bartolomeu: — Senhor, quando te encontravas entre nós ensinando-nos tua palavra, recebia sacrifícios no paraíso? — Respondeu-lhe Jesus: — Em verdade te digo eu, meu amado, que, quando me encontrava entre vós ensinando-vos a palavra, estava simultaneamente sentado junto de meu Pai. Disse-lhe Bartolomeu: — Quantas almas nascem diariamente no mundo? Responde-lhe Jesus:

— Uma só a mais do que as que saem do mundo. Dizendo isto, deu-lhes a paz e desapareceu no meio deles.

PARTE II

1. Estavam os apóstolos em um lugar chamado Chiltura, com Maria, a Mãe de Jesus Cristo. Bartolomeu, acercando-se de Pedro, André e João, disse-lhes:

— Por que não pedimos à Cheia de Graça que nos diga como concebeu ao Senhor e como pôde carregar em seu seio e dar à luz o que não pôde ser gestado?
Eles vacilaram em perguntar-lhe. Disse Bartolomeu a Pedro: — Tu, como corifeu e nosso mestre que és, acerca-te e pergunta-lhe. Mas, ao ver todos vacilantes e em desacordo, Bartolomeu acercou-se dela e disse:

— Deus te salve, Tabernáculo do Altíssimo! Aqui viemos todos os apóstolos a perguntar-te como concebeste ao que é incompreensível, e como carregaste em teu seio aquele que não pôde ser gestado, ou como, enfim, deste à luz tanta grandeza. Maria respondeu: — Não me interrogueis acerca deste mistério. Se começar a falar-vos dele, sairá fogo de minha boca e consumirá toda a terra. Eles insistiram e Maria, não querendo dar-lhes ouvidos, disse:

— Oremos.—
Os apóstolos puseram-se de pé atrás de Maria. Esta disse a Pedro: — E tu, Pedro, que és chefe e grande pilar, estás de pé atrás de nós? Pois não disse o Senhor que a cabeça do varão é Cristo e a da mulher é o varão?’

Eles replicaram:
— O Senhor plantou sua tenda em ti e em tua pessoa houve por bem ser contido. Tu deves ser nossa guia na oração. Maria, então, disse-lhes:
— Vós sois estrelas brilhantes do céu. Vós sois os que devem orar. Disseram eles:
— Tu deves orar, pois que sois a Mãe do Rei Celestial. Maria colocou-se diante deles e elevando as mãos aos céus começou a dizer:

— Ó Deus, tu que és o Grande, o Sapientíssimo, o Rei dos séculos, inexplicável, inefável, aquele que com uma palavra deu consistência às magnitudes siderais, aquele que fundamentou em afinada harmonia a excelsitude do firmamento, aquele que separou a obscuridade tenebrosa da luz, aquele que alicerçou em um mesmo lugar os mananciais das águas; tu que deste base à terra, tu que não podendo ser contido nos sete céus, te
dignaste a ser contido em mim sem dor alguma, sendo Verbo Perfeito do Pai, por quem todas as coisas foram feitas; da glória, Senhor, a teu magnífico nome, manda-me falar na presença de teus santos apóstolos.
Terminada a oração, disse:

— Sentemo-nos no chão e vem tu, Pedro, que és o chefe. Senta-te à minha direita e apoia com tua esquerda meu braço. Tu, André faz o mesmo do lado esquerdo. Tu, João, que és virgem, segura meu peito. E tu, Bartolomeu, põe-te de joelhos atrás de mim e apóia minhas costas para que, ao começar falar, meus ossos não se desarticulem.
Quando fizeram isso, começou ela a falar:

— Estando eu no templo de Deus, aonde recebia alimento das mãos de um anjo, apareceu-me certo dia uma figura que me pareceu ser angélica. Mas seu semblante era indescritível, e não levava nas mãos nem o pão nem o cálice, como o anjo que anteriormente tinha vindo a mim. Eis que de repente, rasgou-se o véu do templo e sobreveio um grande terremoto.

Joguei-me por terra, não podendo suportar o semblante do anjo, mas ele estendeu-me sua mão e levantou-me. Olhei para o céu e vi uma nuvem de orvalho que aspergiu-me da cabeça aos pés. Então ele enxugou-me com o seu manto e disse-me: salve, cheia de graça, cálice da eleita. Deu, então, um golpe com sua mão direita e apareceu um pão muito grande, que colocou sobre o altar do templo. Comeu em primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também. Deu outro golpe com a ourela esquerda de sua túnica e apareceu um cálice muito grande e cheio de vinho. Bebeu em primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também. E meus olhos viram um cálice transbordante e um pão.

Disse-me, então: ao cabo de três anos, eu te dirigirei novamente minha palavra e conceberás um filho pelo qual será salva toda a criação. Tu és o cálice do mundo.
A paz esteja contigo, minha amada, e minha paz te acompanhará sempre. Após isto, desapareceu de minha presença, ficando o templo como estava anteriormente.
Ao terminar de falar, começou a sair fogo de sua boca.
Quando o mundo estava para ser destruído, apareceu o Senhor que disse a Maria: — Não desveles este mistério, porque se o fizerdes no dia de hoje sofrerá a criação inteira um cataclismo. Os apóstolos, consternados, temeram que o Senhor pudesse irar-se contra eles.

PARTE III

O Senhor caminhou com eles até o Monte Moria e se sentou no meio deles. Como tinham medo, hesitavam em perguntar-lhe. Jesus incitou-os:
— Perguntai-me o que quiserdes, pois dentro de sete dias partirei para o meu Pai e já não estarei visível a vós nesta forma.
Eles, vacilantes, disseram: — Permite-nos ver o abismo, como nos prometeste.
Respondeu Jesus:
— Melhor seria para vós não verdes o abismo; mas, se o queres, segui-me e o vereis.
Ele os conduziu ao local chamado Cherudik, cujo significado é lugar de verdade, e fez um sinal aos anjos do Ocidente. A terra abriu-se como um livro e o abismo apareceu. Ao vê-lo, os apóstolos prostraram-se em terra, mas o Senhor os ergueu dizendo:
— Não vos dizia, há pouco, que não vos faria bem verdes o abismo?’

PARTE  IV

Jesus tomou-os de novo e pôs-se a caminho do monte das Oliveiras. Pedro disse a Maria: — Oh tu, cheia de graça, roga ao senhor que nos revele os arcanjos celestiais. 

Maria respondeu a Pedro: — Oh tu, pedra escolhida por acaso não prometeu ele fundar sua Igreja sobre ti?

Pedro insistiu:

— A ti, que és um amplo tabernáculo, cabe perguntar.  Disse Maria:

— Tu és a imagem de Adão e este não foi formado da mesma maneira que Eva. Observa o sol e vê que, tal qual Adão, ele se avantaja em brilho aos demais astros. Observa também a lua e vê como está enodoada pela transgressão de Eva. Porque pôs Adão ao oriente e Eva ao Ocidente, ordenando a ambos que ofereçam a face mutuamente.
Quando chegaram ao cimo do monte o Senhor afastou-se um pouco deles, e Pedro disse a Maria:
— Tu és aquela que desfez a infração de Eva, transformando-a de vergonha em regozijo.
Quando Jesus retornou, disse-lhe Bartolomeu:
— Senhor, mostra-nos o inimigo dos homens para que vejamos quem é e quais são suas obras, já que nem mesmo de ti se apiedou, fazendo-te pender do patíbulo.
Jesus, fixando nele seu olhar, disse-lhe:

— Teu coração é duro. Não te é dado ver isso que pedes. Então, Bartolomeu, todo agitado, caiu aos pés de Jesus, dizendo:
— Jesus Cristo, chama inextinguível, criador da luz eterna, tu que hás dado a graça universal a todos os que te amam e que nos hás outorgado por meio da Virgem Maria o fulgor perene da tua presença neste mundo, concede-nos o nosso desejo.
Quando Bartolomeu acaba de falar, o Senhor ergueu-se dizendo:
— Vejo que é teu desejo ver o adversário dos homens. Mas lembra-te que, ao fitá-lo, não apenas tu mas também os demais apóstolos e Maria caireis por terra e ficareis como mortos. Mas todos lhe disseram:

— Senhor, vejamos-lo. Então fê-los descer do monte das Oliveiras. E, havendo lançado um olhar enfurecido aos anjos que custodiavam o Tártaro, ordenou a Micael que fizesse soar a trombeta fortemente. Quando este o fez, Belial subiu aprisionado por 6 064 anjos e atado com correntes de fogo. O dragão tinha de altura mil e seiscentos côvados e de largura, quarenta. Seu rosto era como uma centelha e seus olhos, tenebrosos. Do seu nariz saía uma fumaça mal-cheirosa e sua boca era como a face de um precipício.

Ao vê-lo, os apóstolos caíram por terra sobre os rostos e ficaram como que mortos. Jesus acercou-se deles, ergueu-os e infundiu-lhes ânimo.

Disse a Bartolomeu:
— Pisa com teu próprio pé sua cerviz e pergunta-lhe quais foram suas obras até agora e como engana os homens.
Jesus estava de pé com os demais apóstolos.
Bartolomeu, temeroso, ergueu a voz e disse: — Bendito seja desde agora e para sempre o nome de teu reino imortal. Quando ele acabou de dizer isso, Jesus o exortou de novo: — Anda, pisa a cerviz de Belial. Bartolomeu caminhou apressadamente para Belial e pisou-lhe o pescoço, deixando-o a tremer.

Bartolomeu fugiu assustado, dizendo: — Deixa-me pegar a borda de tuas vestes para que me atreva a aproximar-me dele.
Jesus respondeu-lhe: — Não podes tocar a fímbria das minhas vestes porque não são as mesma que eu tinha antes de ser crucificado.

Disse-lhe Bartolomeu:
— Tenho medo, Senhor, de que, assim como não se compadeceu dos anjos, da mesma maneira me esmague também a mim.

Respondeu Jesus:

— Mas por acaso não se acertaram todas as coisas graças à minha palavra e à inteligência de meu Pai? A Salomão se submeteram os espíritos. Vai tu, pois, em meu nome, e pergunta-lhe o que quiseres. Ao fazer Bartolomeu o sinal da cruz e orar a Jesus, irrompeu um incêndio e as vestes do apóstolo foram tomadas pelas chamas.

Disse-lhe então Jesus de novo: — Pisa, como te disse, na cerviz, de maneira que possas
perguntar-lhe qual é o seu poder. Bartolomeu, pois, se foi e pisou-lhe a cerviz, que trazia
oculta até as orelhas, dizendo-lhe:
— Dizei-me quem és tu e qual é teu nome.
Bartolomeu, afrouxou-lhe um pouco as ligaduras e lhe disse:
— Conta tudo quanto tens feito. Respondeu Belial:

— A princípio me chamava Satanail, que quer dizer mensageiro de Deus, Mas, desde que não reconheci a imagem de Deus, meu nome foi mudado para Satanás, que quer dizer anjo guardião do tártaro.

Bartolomeu falou de novo: — Conta tudo sem nada ocultar. Ele respondeu:
— Juro-te pela glória de Deus que, ainda que quisesse ocultá-lo, ser-me-ia impossível. Está aqui presente aquele que me acusa. E se me fosse possível vos faria desaparecer a todos da mesma maneira que o fiz com aquele que pregou para vós. Também fui chamado primeiro anjo porque, quando Deus fez o céu e a terra, apanhou um punhado de fogo e formou-me a mim primeiro e o segundo foi Micael, e o terceiro Gabriel, e o quarto Rafael, e o quinto Uriel, o sexto Xathsnael e assim outros seis mil anjos, cujos nomes me é
impossível pronunciar, pois são os lictores de Deus e me flagelam sete vezes a cada dia e sete vezes a cada noite. Não me deixam um momento e são os encarregados de minar minhas forças. Os anjos vingadores são estes que estão diante do trono de Deus. Eles foram criados primeiro.

Depois destes foi criada a multidão dos anjos: no primeiro céu há cem miríades; no segundo, cem miríades; no terceiro, cem miríades; no quarto, cem miríades; no quinto, cem
miríades, no sexto, cem miríades; no sétimo, cem miríades. Fora do âmbito dos sete céus está o primeiro firmamento, onde residem as potestades que exercem sua atividade sobre o homem. Há também outros quatro anjos: Um é Bóreas, cujo nome é Vroil Cherum, tem na mão uma vara de fogo e neutraliza a força que a umidade exerce sobre a terra, para que esta não chegue a secar. Outro anjo está no Aquilon e seu nome é Elvisthá.

Etalfatha tem a ser cargo o Aquilon. E ambos, ele e Mauch, que está na Bóreas, mantêm em suas mãos tochas incendiadas e varas de fogo para neutralizar o frio, o frio dos ventos, de maneira que a terra não se resseque e o mundo não pereça. Cedor cuida do Austro, para que o sol não perturbe a terra, pois Levenior apaga a chama que sai da boca daquele, para que a terra não seja abrasada. Há outro anjo que exerce domínio sobre o mar e reduz o empuxo das ondas. O mais não estou a revelar. Insistiu Bartolomeu:

— Anda dize-me, malfeitor e mentiroso, ladrão desde o berço, cheio de amargura, engano, inveja e astúcia, velho réptil, trapaceiro, lobo rapace, como te arrumas para induzir os homens a deixar o Deus vivo, criador de todas as coisas, que fez o céu e a terra e tudo que neles está contido? Pois és sempre inimigo do gênero humano.

Disse o Anticristo:

— Dir-te-ei. Es aqui uma roda que sobe do abismo e tem sete facas de fogo. A primeira delas tem doze canais.
Perguntou-lhe Bartolomeu: — Quem está nas facas?

Respondeu o Anticristo: — No canal ígneo da primeira faca ficam os inclinados ao sortilégio, à adivinhação e à arte de encantamento e também os que neles creem e o buscam, já que por malícia de seu coração buscaram adivinhações falsas.

No segundo canal de fogo vão os blasfemos, que maldizem de Deus, de seu próximo e das Escrituras.
Também ficam ai os feiticeiros e os que os buscam e lhes dão crédito. Entre os meus encontram-se também os suicidas, os que se lançam à água, ou se enforcam, ou se ferem com a espada. Todos esses estarão comigo.

No terceiro canal vão os homicidas, os que se entregam à idolatria e os que se deixam dominar pela avareza ou pela inveja, que foi o que me arrojou do céu à terra. Nos demais canais vão os perjuros, os soberbos, os ladrões, os que desprezam os peregrinos, os que não dão esmolas, os que não ajudam os encarcerados, os caluniadores, os que não amam o próximo e os demais pecadores que não buscam a Deus ou o servem debilmente. A todos esses eu os submeto ao meu arbítrio.
                       
Tornou, então, Bartolomeu:

— Dize-me, diabo mentiroso e insincero! Fazes tu essas Coisas pessoalmente ou por intermédio de teus iguais?
Respondeu-lhe o Anticristo:
—Oh se eu pudesse sair e fazer essas coisas por mim mesmo! Em três dias destruiria o mundo inteiro.
Desgraçadamente, porém, nem eu nem nenhum dos que foram arrojados juntamente comigo podemos sair.
Temos, todavia, outros ministros mais fracos que, por sua vez, atraem outros colegas ao quais emprestamos nossa vestimentas e mandamos semear insídias que enredem as almas dos homens com muita suavidade, afagando-as, para que se deixem dominar pela
embriaguez, a avareza, a blasfêmia, o homicídio, o furto, a fornicação, a apostasia, a idolatria, o abandono da Igreja, o desprezo da Cruz, o falso testemunho, enfim, tudo o que Deus abomina. Isso é o que nós fazemos.

 A uns nós os deitamos ao fogo. A outros, nós os lançamos das árvores para que se afoguem. A uns rompemos pés e mãos e a outros lhes arrancamos os olhos. Estas e outras coisas são o que fazemos. Oferecemos ouro e prata e tudo mais que é cobiçável no mundo e àqueles que não conseguimos que pequem despertos fazemo-los pecar adormecidos.

Também direi os nomes dos anjos de Deus que nos são contrários. Um deles chama-se Mermeoth, que é o que domina as tempestades. Meus satélites o conjuram e ele lhe dá permissão para que habitem onde queiram; mas ao voltar se incendeiam. Há outros cinqüenta anjos que têm debaixo do seu poder o raio. Quando algum espírito, dentre os nossos, quiser sair pelo mar ou pela terra, esses anjos desferem contra ele uma descarga de pedra. Com isso ateiam o fogo e fazem fender as rochas e as árvore. E quando conseguem dar conosco nos perseguem, obedecendo ao mandato daquele a quem servem. Graças a esse mandato, tu podes exercer poder sobre mim, pelo que me vejo obrigado, muito a meu pesar, a revelar-te o segredo e as coisas que não pensava dizer-te.

Continuou Bartolomeu:

— Que tens feito e o que continuas fazendo ainda? Revela-me, Satanás!

Este respondeu:
— Tinha pensado não confessar-te todo o segredo, mas, por aquele que preside ao Universo, cuja cruz me lançou ao cativeiro, não posso ocultar-te nada.
Disse o Senhor Jesus a Bartolomeu:

— Afrouxa-lhes as ligaduras e ordena-lhe que retorne a seu lugar até a vinda do Senhor. Quanto ao mais, já me encarregarei eu mesmo de revelar-vos. Porque é necessário nascer de novo para que aqueles que passaram pela prova possam entrar no Reino dos céus, de onde foi expulso este inimigo por sua soberba, juntamente com aqueles de cujo conselho se servia.

Após isso, disse o apóstolo Bartolomeu ao Anticristo:

— Volta condenado e inimigo dos homens, ao abismo até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual há de vir julgar os vivos e mortos e ao mundo inteiro por meio do fogo e a condenar-te a ti e a todos os teus semelhantes. Não tentes daqui em diante continuar
praticando isso que foste obrigado a revelar.
Satanás, lançando vozes misturadas com rugidos e gemidos, disse:
— Ai de mim, que tenho me servido de mulheres para enganar a tantos e acabei por ser burlado por uma virgem! Agora vejo-me aferrolhado e atado com cadeias de fogo pelo seu filho e estou ardendo de péssima maneira. Ó virgindade, que estás sempre contra mim! Ainda não se passaram os sete mil anos.

Como, pois, me vi condenado a confessar as coisas que acabo de dizer?

O apóstolo Bartolomeu, admirando a audácia do inimigo e confiando no poder do salvador, disse a Satã:
— Dize-me, imundíssimo demônio, a causa pela qual foste banido do mais alto do céu. Pois prometeste revelar-me tudo.

Respondeu o Diabo: — Quando Deus se propôs a formar Adão, pai dos homens, à sua imagem, ordenou a quatro anjos que trouxessem terra das quatro partes do globo e água dos quatro rios do paraíso. Eu estava no mundo naquela ocasião e o homem passou a ser um animal vivente nos quatros rincões da terra onde eu estava.

Então Deus o abençoou porque era sua imagem. Depois vieram render-lhe suas homenagens Micael, Gabriel e Uriel. Quando voltei ao mundo, disse-me o arcanjo Micael: adora essa figura que Deus fez segundo sua vontade. Eu me dei conta de que a criatura havia sido feita de barro e disse: eu fui feito de fogo e água e antes do que este. Eu não adoro o barro da terra. De novo me disse Micael: adora-o, antes que o Senhor se aborreça contigo. Eu repliquei: o Senhor não se irritará comigo. Eu vou colocar meu trono contra o dele. Então Deus enfureceu-se comigo, mandou abrir as comportas do céu e me arrojou à terra. Depois que fui expulso, perguntou o Senhor aos demais anjos que estavam às minhas ordens se se dispunham a render-se diante da obra que havia feito com suas mãos e eles disseram:

Assim como vimos que nosso chefe não dobrou sua cerviz, da mesma maneira não adoraremos um ser inferior a nós. Naquele momento mesmo foram eles expulsos como eu. Ficamos adormecidos durante um período de quarenta anos. Ao despertar, percebi que
dormiam os que estavam abaixo de mim e os despertei, seguindo meu capricho. Depois discuti com eles uma forma de lograr o homem por cuja causa fui expulso do céu. Tomada a resolução, descobri como podia seduzi-lo. Tomei em minhas mãos umas folhas de figueira, enxuguei com elas o suor do meu peito e das minhas axilas e atirei-as ao rio. 

Eva, então, ao beber daquela água, conheceu o desejo carnal e o ofereceu ao marido. A ambos pareceu doce o sabor e não deram conta do amargo de haverem prevaricado. Se não houvessem bebido dessa água, jamais poderia eu enredá-los, pois outro meio eu não tinha para poder superá-los senão esse.

O apóstolo Bartolomeu pôs-se a orar, dizendo :

— Oh, Senhor Jesus cristo! Ordena-lhe que entre no Inferno porque se mostra insolente comigo.
Disse Jesus Cristo a Satã: —Vai, desce ao abismo e fica ali até minha chegada. No mesmo instante o Diabo desapareceu.
Bartolomeu, caindo aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, começou a dizer, banhado em lágrimas:
— Abba! Pai! Tu que continuas sendo único e glorioso Verbo do Pai, por que foram feitas todas as coisas; tu, a quem não te puderam conter os sete céus e que tiveste por habitar o seio de uma Virgem; a quem a Virgem gerou e deu à luz sem dor; tu, Senhor, elegeste aquela a quem verdadeiramente pudeste chamar mãe, rainha e escrava. Mãe, porque por ela te dignaste descer e dela tomaste carne mortal. E rainha porque a constituíste rainha das virgens. Tu que chamas os quatro rios e eles obedecem tuas ordens e se apressam
a servi-te. O primeiro, o rio dos Filósofos, para a unidade da Igreja e da Fé, que foi revelada no mundo.

O segundo, o Geon, porque foi feito da terra, ou também pelos dois testamentos. O terceiro, o tigre, porque aos que cremos no Pai, no Filho e no Espirito Santo, Deus único por quem foram feitas todas as coisas no céu e na terra, nos foi revelada a Trindade sempiterna, que está nos céus. O quarto, o Eufrates, porque tu te dignaste saciar toda alma vivente por meio do banho da regeneração, que representava a imagem dos Evangelhos que correm por toda a órbita da Terra e que te dignaste anunciar por teus servos, para que, por meio da confissão e da fé, sejam salvos todos os que creem em teu nome grande e terrível e em teus santos Evangelhos, de maneira que possam alcançar a vida que ainda não possuem.

Continuou Bartolomeu:

— É lícito revelar estas coisas a todos os homens. Disse-lhe Jesus:

— Pode dá-las a conhecer a todos que sejam crentes e observem este mistério que acabo de desvendar-vos. Pois entre os gentios há alguns que são idólatras, ébrios, fornicadores, maldosos, feiticeiros, malvados, que seguem as artimanhas do inimigo e que odeiam o próximo. Todos esses não são dignos de ouvir esse mistério. Mas são dignos de ouvi-lo todos os que guardam meus mandamentos, os que recebem em si as palavras de Vida eterna que não têm fim, e todos os que têm fim, e todos os que têm parte nos céus com os
Santos, justos e fiéis no reino do meu Pai. Todos aquele que se hajam conservado imunes ao erro da iniquidade e hajam seguindo o caminho da salvação e da justiça, devem ouvir este mistério.

E tu, Bartolomeu, és feliz, juntamente a tua geração. Bartolomeu, ao escrever todas essas coisas que ouviu dos lábios de Nosso Senhor Jesus Cristo, mostrou toda sua alegria no rosto e bendisse o Pai, o Filho e o Espirito Santo, dizendo: — Glória a Ti, Senhor, redentor dos pecadores, vida dos justo, amante da castidade. O Senhor disse, então, batendo no peito:
— Eu, sou bom, manso e benigno, misericordioso e clemente, forte e justo, admirável e santo, médico e defensor de órfãos e viúvas, remunerador dos justos e fiéis, juiz de vivos e mortos, luz de luz e resplendor da claridade, consolador dos atribulados e cooperador dos
pupilos; Alegrai-vos comigo, amigos meus, e recebei meu presente. Hoje vou dar-vos um dom celeste. A todos os que em mim tenham depositado suas aspiração e sua fé, e a vós, estou galardoando com a vida eterna.

Bartolomeu e os demais apóstolos puseram-se a glorificar o Senhor Jesus, dizendo:

— Glória a ti, pai dos céus, rei da vida eterna, foco de luz inextinguível, sol radiante e resplendor da claridade perpétua, reis dos reis, senhor dos senhores. A ti seja dada a magnificência, a glória, o império, o reino, a honra e o poder, juntamente com o Pai e o Espirito Santo. Bendito seja o Senhor Deus de Israel porque nos visitou e redimiu seu povo da mão de seus inimigos e usou conosco de misericórdia e justiça. Louvai a Nosso Senhor Jesus Cristo todas as nações e crede que ele é o juiz de vivos e mortos e o salvador dos fiéis. O qual vive e reina, juntamente com o Pai e o Espirito Santo, por todos os séculos dos séculos.

REFLEXÃO:

Nesses três escritos é interessante a gente entender o contexto histórico  do fatos e às circunstâncias que levou Jesus até a morte de Cruz. A principio não é novidade saber que as acusações apresentadas por Pilatos, pois, conhecemos de cor dos outros evangelhos que Jesus foi acusado pelos sumos sacerdotes de pregar uma falsa doutrina, incitar o povo, ir contra César, não obedecer as leis do Templo como não respeitar o sábado, e se dizer Filho de Deus (que era tido como blasfêmia pela Lei mosaica). Bem, isso tudo nós já sabemos. também a data histórica da morte de Jesus, segundo a inscrição foi no ano 17 de Tibério Cesar, no dia 25 de março.

Roma e Jesus Cristo - Contexto Histórico

Os judeus que acreditavam em Jesus, e viam grande possibilidade de fazê-lo Rei de Israel por direito, acreditavam que ele era o Messias. A ideia que eles tinham do Messias era diferente da nossa; eles acreditavam que Deus mandaria um Messias, um salvador que viria com poder de destruir Roma e devolver a paz e o seu País para o povo.

E quando viram os feitos de Jesus, acreditavam que ele era esse "Messias" enviado de Deus. Quando Jesus vai em Jerusalém, pois já se aproximava a hora de seu sacrifício na Cruz, o povo o recebe como um rei, gritando "Hosana ao filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor!"   - Mas Jesus não veio para isso. Pode ser que Judas ao entregar Jesus, pudesse pensar: "Ah ele tem poder de sobra para se livrar dessas acusações"... Mas Jesus foi preso. Não resistiu a prisão. 

Um fato curioso que não aparece nos outros Evangelhos tidos como inspirados é uma primeira falsa acusação contra Jesus. 
Segundo lemos no texto de Arimatéia, Dimas, um dos dois ladrões que foi crucificado com Jesus havia roubado o tesouro do Templo e as Leis de Moisés. Além de violentar a filha de Caifás.

Os sacerdotes queriam acusar Jesus de ter sido ele o autor de tal infâmia. Chamaram Judas Iscariotes e lhe propuseram um acordo, mas ele vendo que as acusações contra Jesus não se sustentariam aconselhou em particular os acusadores de desistirem dessa ideia. Judas era astuto, entregaria Jesus, mas não daquele modo. Pois todos sabiam que horas antes Jesus estava com eles e o povo e logo, haveriam muitas testemunhas a favor de Jesus.  Era preciso uma acusação bem mais sustentável, que o mantivesse preso, indícios o suficiente para levar Jesus para a prisão e à morte.

Se há uma coisa que está de acordo nos apócrifos e nos evangelhos inspirados é a maneira com que os sacerdotes e os escribas buscavam sempre uma oportunidade para condenar Jesus à morte. Judas Iscariotes foi apenas um instrumento a mais para a trama da prisão e condenação de Jesus. 

Judas não só era o traidor mas o caguete, ou seja, o "dedo duro". Era o ponto de ligação com os sumos sacerdotes. Lucas diz que ele buscava ocasião oportuna para trair Jesus. E assim o fez. Mas, Jesus sabia de suas intenções. O que levou Judas a condenação não foi o fato de trair o Cristo, porque Jesus disse que todo pecado contra ele seria perdoado, menos contra o Espírito Santo. 

Mas, foi o fato, pelo qual ele, por sentimento e remorso, acabou se suicidando. Mas também é prematuro dizer se Jesus o condenou ou não após sua morte. Os primeiros cristãos e alguns teólogos sustentam ideia de que Judas se condenou, pelo fato de em alguns evangelhos haver esta passagem como por exemplo: no versículo 22 do Capítulo XXII de Lucas.  (Lc22, 22)     

Os sacerdotes e fariseus que eram inimigos de Jesus, e não podendo julgar pelas leis de Roma levaram ao Governador, ao Tribuno Pôncio Pilatos a fim de que ele desse fim a Jesus. 
Pilatos o interrogou, não conseguiu muita coisa diferente do que ele já ouvia dizer. E à principio considerou Jesus inocente de tudo aquilo que o acusavam. Os próprios evangelhos registraram este fato. Qual era a principal acusação que fazia de Jesus um malfeitor político e a pena era a cruz para que se pusesse como rei ante Cesar. Mas quando Pilatos pergunta a Jesus ele diz: "Sou rei!" "O meu reinado não é neste mundo!" E agora? Se Jesus não se intitulava rei de Israel, (do mundo), sustentaria as acusações? Pilatos disse: -"não encontro culpa nele vou mandar chicoteá-lo e soltá-lo". Mas, ainda pesavam ainda uma forte acusação: "ele se fez filho de Deus!"  
Mas aí nesta altura os fariseus e os sacerdotes tinham instigado e subornado pessoas do povo para fazer um tumulto e foram até Pilatos para pediriam a sua crucifixão. 

Ora, segundo as leis do Templo eles não podiam matar nem muito menos se tornarem impuros às vésperas do Sabath e da celebração da Páscoa, então pressionaram Pilatos que temendo uma insurreição, lavou as mãos diante do povo, e sentenciou Jesus à morte de Cruz. E para que não restasse nenhuma dúvida que era os judeus a causa da morte de Jesus, mandou escrever um letreiro em três idiomas, Hebraico, Grego e Latim: "Jesus Nazareno Rei dos Judeus" e pô-lo sobre a cruz.  Disseram: "Não escreva isto, escreva: ele se fez o Rei dos Judeus" - Pilatos retruca: "o que escrevi, escrevi!"  Ou seja, Pilatos sabia que foram eles que disseram que Jesus se fazia rei dos judeus, pois Jesus havia negado esse reinado: "Se meu reino fosse deste mundo, meus ministros lutariam pra me defender, mas meu reino não é daqui!" - E com essas palavras Pilatos ficou em "saia justa". "Eu não posso condenar esse homem, tomai-o vós mesmos e o  crucificai". Jesus foi preso, sem julgamento e sem direito à defesa como previa as leis de Roma. Prisão e sentença o puseram na Cruz. 

Pilatos representa o poder político do mundo, corrompido pelas forças do mal e os fariseus e os sacerdotes representam todos aqueles que usam de liderança religiosa para perseguirem as pessoas. Em que esses fatos com os de hoje se parecem?    Quantos inocentes são presos sem defesa? Quantos morrem inocentes condenados por um crime que nem cometeram ainda no ventre materno? Quantos cristãos perseguidos no mundo todo? Quantos políticos corruptos que em conchavos tramam a destruição da Igreja e os direitos humanos? Quantos que lavam as mãos diante das injustiças contra os pobres e necessitados?...         

O fato de que queriam acusar Jesus de ter roubado o tesouro do Templo e as Leis. Só que não deu certo porque não haveria provas de tal ato. Outro fato é conhecer um pouco daquele tido como traidor que segundo José de Arimateia, Judas Iscariotes era sobrinho de Caifás o Sumo Sacerdote.
Notem que diante do conceito teológico Judas Iscariotes foi escolhido para a missão de entregar Jesus. Os cristãos por séculos a fio o tem como um traidor, um mercenário. Judas Iscariotes era dentre os 12 apóstolos o tesoureiro, cuidava das finanças do grupo.  
  
Parece estranho dizer assim, mas, Jesus já tinha conversado com ele a respeito dessas coisas. Na última ceia Jesus deixou deixou bem claro que havia um traidor entre eles. Judas foi o único que não comungou o Corpo e Sangue de Jesus. Ele comeu o pão molhado na água. (Jo13, 25-26) - Mateus, também faz menção a respeito: ..."O traidor é aquele pôs comigo a mão no prato..."  (Mt26, 21-23) 

Então até aqui não podemos dizer que ele foi um traidor por acaso, mas havia com um propósito. O propósito de levar Jesus ao Sacrifício na Cruz. Não nos cabe aqui julgar os métodos, nem a vontade de Deus. Mas uma coisa podemos entender: Que a missão de Jesus foi realizada dentro do tempo e da História para não ficar esquecida. Jesus cumpriu passo a passo essa missão e não condenou ninguém neste mundo, nem mesmo os que lhe puseram na Cruz. A estas palavras Jesus disse: "Pai perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem!". De fato, se formos analisar o contexto a situação. Eles não sabiam mesmo o que estavam fazendo. Mas Deus Pai e Jesus sabia. E por isso o perdão era necessário naquele momento da agonia da Cruz.
     
No contexto histórico Judas se tornou um malfeitor, um traidor, porque era muito  ambicioso, foi levado pela própria ambição, e ajudou a armar as acusações contra Jesus. 

Esse Judas histórico representa o que a humanidade pagã faz com aqueles que não creem no Cristo. Quantos hoje se vendem e acusa a Igreja, se opõem ao Papa e a doutrina da Igreja, e se vendem por dinheiro? Quantos que se dizem "cristãos" se prestam ao serviço da traição e por dinheiro dizem absurdos e se revoltam contra Jesus e o Sumo Pontífice? Quantos não suportam a ideia de que temos uma lei a seguir e a Igreja como mãe e mestra?
Quantos traem seus próprios princípios cristãos em troca de dinheiro? Esses são os verdadeiros traidores de Jesus.    

Importante observar também que nestes escritos temos dois personagens que aparece de forma não muito clara na cena do Calvário. Os dois ladrões. Que pelos apócrifos sabemos que são Jestas e Dimas. Os demais evangelhos (tidos como inspirados) não revelam nada de quem foram e porque aqueles malfeitores estavam ali na cena do Calvário. Apenas falam que enquanto um zombava de Jesus o outro pedia perdão.  Porque Jesus foi posto entre dois ladrões? Jesus não era ladrão. 

Gestas e Dimas representa os dois lados da humanidade. Uma que comete todo tipo de crimes (representada por Jestas) e barbáries, conhece o Cristo, mas não se arrepende; e a Bíblia disse que o destino daqueles que rejeitam a Cristo é o próprio inferno.

A outra são aqueles que acometido de todos os pecados se voltam para Deus, pede perdão e através de Jesus Cristo é novamente reconciliada e vão para o céu porque creram e aceitaram a Salvação e por isso, procuram a partir do perdão vivê-la intensamente. Dimas é o retrato da própria Igreja. Santa e pecadora.   

 Ou...    Os ladrões que foram crucificados junto com Jesus, que segundo Arimatéia, eram: Jestas e Dimas. Jestas era uma ladrão sanguinário e muito cruel. Dimas, era um ladrão meio "bonzinho" que só roubava os ricos, mas tinha a ombridade de enterrar suas vitimas. Dimas foi quem roubou o Templo e eles queriam acusar Jesus pelo feito. Enquanto Jestas acusava Jesus e blasfemava, Dimas Orava e pedia perdão. Eis aí diante da cruz de Jesus, a "cruz" da humanidade bem representada. De um lado a humanidade corrompida pelo pecado, que cega não vê, representada por Jestas, que não reconhece Jesus como Salvador e por isso não se salva. 

Por outro lado Dimas, representa todos os convertidos, os cristãos;  os pecadores que arrependidos buscam o perdão de seus pecados e pela graça salvífica de Jesus na Cruz,pelo batismo são lavados e purificados de seus pecados. Diante de da Cruz de Jesus, na cena do calvário está o retrato da humanidade inteira.      

Segundo Arimateia, Jesus foi preso duas vezes,  em uma delas não houve sustentação das acusações e ele foi libertado. 
Mas, o que mais nos ensina este texto de Arimateia?

O pecador pode alcançar a graça de ser perdoado até minutos antes da morte e nunca depois. Foi o que aconteceu com Dimas. Dimas é quele que reconheceu Jesus como Senhor e Salvador e reconheceu seus pecados diante do Senhor e com toda humildade orou e pediu perdão pelos seus pecados.

 Dimas, era vitima de uma situação, foi escravizado pelos crimes. Mas ele tinha consciência que tudo que fazia era errado. Representa a humanidade escravizada por satanás  pelo pecado. Em sua oração diante de Jesus ele cita os profetas, prova de que ele sabia das Leis, só não as cumpria. Representa aqueles cristãos que também conhecem a Lei mas não a cumpre. 

Com isso, Jesus revela o grande amor do Pai e o perdão é incondicional. Jesus não só perdoou, mas o transformou. É isso que Jesus faz com cada um; Ele nos perdoa para nos transformar em outras pessoas, nos revigora. 

A graça do perdão é tão somente para a santidade. Jesus nos lava e nos purifica não importa em que situação estejamos, desde que o busquemos arrependidos e consciente que erramos. 

Como consequência Jesus o perdoou e automaticamente deu-lhe a salvação e Dimas foi o primeiro santo a entrar no Céu antes de todo mundo. "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!" Não é maravilhoso a misericórdia de Deus?

Ele morre perdoado, sobe ao Céu e volta a Jesus trazendo a "carta" do Céu para Jesus. O que é essa carta? Provavelmente era o selo da libertação, pois, os relatos seguintes mostra que Jesus foi ao inferno resgatar todos que lá estava vítimas do Pecado Original. Adão foi o primeiro a ser libertado e junto com eles todos os justos que aguardavam a Salvação de Jesus. Quantos hoje prometem um "céu" que não podem dar? 

Na segunda parte e ainda mais profunda, Jesus revela ao Apóstolo Bartolomeu os mistérios e por que era preciso que Jesus após a morte fosse até o inferno. E depois apresenta o diálogo entre Beliel (satanás) ... esse Beliel a  antiga serpente o dragão infernal que o Apocalipse apresenta querendo devorar a mulher... e Bartolomeu que segundo as ordens de Cristo permitiu que ele contasse como aconteceu, como e porque ele tinha tanto ódio do ser humano e quais eram suas obras. E lhe foi revelado.

O diabo tem ódio do ser humano porque não aceitava se curvar diante da obra da criação muito menos do homem que Deus criou à sua imagem. Dois pecados que satanás cometeu e que não podia cometer, pois os anjos não tem livre arbítrio. Um foi o orgulho, "como pode eu um anjo de luz me render a uma criatura e adorá-lo?"; O segundo, foi a desobediência: "Não não me curvarei ao homem, nem eu nem meus emissários". E por consequência foi expulso do céu. E para se vingar satanás corrompeu Eva que por sua vez levou Adão ao pecado... O homem foi vitima de uma armadilha de satã; e por isso mesmo Deus não permitiu que o mal dominasse a vida do homem e mandou o Salvador.

Na terceira parte mostra-nos a importância de Nossa Senhora, ela foi escolhida para fazer aquilo que Eva não fez. Ou seja, coube a Maria trazer a salvação ao mundo. Ela gerou Jesus. E aqui notamos o carinho, amor e a consideração dos Apóstolos por ela. Tal reconhecimento e respeito com aquela que sem dúvidas era a Mãe de Deus (Encarnado). Hoje como nós vemos tanto ódio das pessoas por Nossa Senhora, tantas blasfêmias ditas a seu respeito não é nada mais e nada menos que instigado por satanás que não aceita que uma Mulher possa tê-lo derrotado e pisado sua cabeça conforme nos apresenta o Apocalipse. Essa mulher, essa criatura divina, a Mãe do Senhor trouxe a salvação à humanidade. E aqui Jesus entra no ventre de uma mulher, um ser humano, ainda que imaculado. Ele se curva a ser um de nós sujeito ao sofrimento da Cruz. Jesus faz muito mais do que Deus tinha pedido que satã fizesse, ele vem até nós e se torna humano. Isso era demais para o diabo, ele mais uma vez foi rebaixado, destruído em seu próprio orgulho. Maria Santíssima por sua vez ao contrário de Eva se fez obediente e serva do Senhor, foi por ele assistida até sua partida deste mundo. 

Outro fato e que merece atenção: 

Note que: Nossa Senhora e os outros Apóstolos reconhece a Pedro como chefe da Igreja. Pedro  e os Apóstolos não se sobrepõem e reconhecem a santidade a a importância de Nossa Senhora como Mãe de Deus e da Igreja. Ela mais do que ninguém devia estar à frente de seu povo.

Como pode que nos dias de hoje as pessoas não reconhecerem a autoridade do Papa e duvidam da pureza da Virgem Imaculada. Enquanto que os Apóstolos a chamavam de "A Cheia de Graça", a "Bem-Aventurada"  e "Tabernáculo do Altíssimo." São os primeiros títulos que Nossa Senhora recebeu .Como pode então, as seitas desmerecê-la de tal ato? Como podem tratá-la como uma qualquer? Que direito temos de duvidar da Igreja e do Santo Padre o papa se nem mesmo Maria Santíssima, a mais importante das criaturas lhe respeitava?     

A explicação está bem clara como nos revela o evangelho de Bartolomeu. 

É Satanás que ainda exerce influência neste mundo. Ele mora neste mundo e manda  seus emissários vistam suas "vestes"; ou  seja, ele usa as pessoas que  se passam de bonzinhos pregadores da palavra, "lobos em pele de cordeiro", a pele de satanás, para corromper aqueles que pertencem a santa Igreja de Cristo; e quantos estão sendo dominados por esse mundo e pelas falsas doutrinas. Quantos falsos doutores e falsos pregadores que estão levando a muitos o ódio pela Santa Igreja e pelo Sumo Pontífice? Quantos desviados do verdadeiro caminho são levados ao pecado da desobediência. E o mundo hoje está cheio deles. Não se iluda meu caro irmão. Firme sua fé!

Agora eu e você, caro leitor, irmão católico, temos a certeza que estamos no caminho certo e por isso, temos a missão de esclarecer as pessoas que não tiveram a oportunidade que eu e você está tendo de conhecer a verdade. Hoje senão das poucas, a única que ainda prega Jesus Crucificado, morto e ressuscitado é a verdadeira Igreja de Cristo. Isso é coisa do diabo, porque o diabo aceita Jesus Ressuscitado, mas não o aceita pregado na cruz, porque a Cruz é sinal de sua derrota. Foi nela que ele foi derrotado e perdeu a chave do inferno. O diabo tem pavor de Cristo Crucificado, porque ele queria ver Jesus derrotado e não conseguiu. Jesus venceu!
Quando vocês verem os líderes das seitas dizerem: "ah!, a cruz de Jesus deve estar vazia, porque Jesus está ressuscitado!" - Sim, sabemos disso, mas não há cruz sem Jesus. E ele mesmo ressuscitado, apresentou aos seus Apóstolos com as mãos e os pés perfurados. Mas por outro lado, nós vemos a imagem de Cristo na Cruz e percebemos que foi nela que Jesus nos salvou. 

Pois, se pela árvore uma vez Adão condenou toda humanidade, pela árvore da Cruz Jesus, o "Novo Adão" nos resgatou, nos ensina São Paulo. Como pode a nós rejeitar a Cruz de Jesus? Se somos cristãos que direito temos de rejeitar o sinal de nossa salvação? E São Paulo vem nos dizer que: "A Cruz que entes era sinal de pavor e escândalo, para nós é sinal de salvação porque nela Jesus pagou por nossos crimes". Só que os falsos pregadores se esquecem disso...           

Muitos que se dizem cristãos, não querem nem mesmo ter a humildade de Dimas  em aceitar as "cruzes" da vida em razão de seus crimes perante Deus. Jesus nos salvou, mas não nos deixou a par dos dos sofrimentos deste mundo, porque estes são calvários que nos expiam, nos purificam e nos fazem enxergar nossa pequenez e nos faz voltar e reconhecer que nada somos sem Jesus. As seitas ensinam que ninguém nasceu para sofrer, Jesus ensina que é preciso passar pelo sofrimento e pela dor; renunciar a si mesmo e carregar a cruz do dia a dia se quisermos segui-lo. É diante da Cruz de Jesus que nós voltamos nossos olhos para ver o quanto as seitas nos enganam e empurram muitos para a perdição eterna. 

Como antes Jesus fazia tantos milagres e continua fazendo. Muitos creem em milagres e não creem na salvação. Buscam milagres, mas não buscam a Jesus. Se milagres fossem tão importantes  Jesus não seria condenado. No entanto, aquele povo que viu tudo diante de seus olhos e as maravilhas com que Jesus operava milagres, condenaram Jesus ao pior dos castigos com, ou sem milagres. Depois satanás usa de suas diversas peles e faz milagres esplendorosos para se fingir de Deus. Mas, enquanto Deus não cobra pelos milagres, satanás cobra uma coisa muito cara, a sua alma, ela é mais cara para Jesus do que para o homem, pois foi para salvar a humanidade que Jesus sofreu na Cruz. Satanás esta usando pessoas dentro e fora da Igreja. Ele influencia, religiosos, governos, instituições renomadas, gente de toda espécie, usa os meios de comunicação, e tudo que é tecnologia e ideologias, para tirar a fé dos cristãos, para afastar os homens do verdadeiro caminho. Ele não escondeu de Bartolomeu que usa todos seus meios perversos para corromper os filhos de Deus. Ele não mentiu para Bartolomeu porque sob autoridade de Cristo, ele não podia mentir, não naquele momento, e não hesitou em dizer que é o pai da enganação.
Porque ele odeia os homens? Ele nos odeia porque Deus nos ama. Ele não tinha livre arbítrio, nós temos. O que ele fez contra Deus não tem volta. Por outro lado, Deus nos ama a tal ponto de nos dar a chance de voltar atrás e rever nossas más atitudes. Por isso, é errado dizer que Deus condena o homem. Não! o homem mesmo se condena quando não obedece a Deus. Vai para o inferno quem quer.   Pense nisto!  


"E conhecendo a verdade está mesma os liberte!" Amém. 
        

      

A QUARTA-FEIRA DE CINZAS E A QUARESMA

  A  Cinza não apaga pecados. A cinza é um sacramental, um rito penitencial, é sinal de conversão; para nos lembrar que somos pó e ao pó v...