Texo de: Elmando V. de Toledo
O Evangelho segundo Mateus 21, 1-11, narra que Jesus e os discípulos estavam indo à Jerusalém, chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras. Então Jesus mandou que eles conseguissem-no um jumentinho emprestado. Isso deveria acontecer para se cumprisse a profecia de Zacarias, (Zac9, 9): "Dizei a filha de Sião, (Jerusalém), eis que teu rei vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho da que leva o jugo." E os discípulos assim o fizeram.
Jesus entrou na cidade e foi aclamado rei com estas palavras: "Hosana, (viva, salve), o Filho de Davi!" ... "Bendito o que vem em nome do Senhor!"
Ora, todo judeu devia ir celebrar a Páscoa, a festa mais importante dentro da Tradição judaica. Jesus foi várias vezes à Jerusalém com seus pais, Maria e José. Assim como todo Judeu, era muito importante ir à Jerusalém como manda a Lei de Moisés. Era importante ficar ali, ir ao Templo e celebrar a Páscoa. Jerusalém era muito significativa, a cidade sagrada, imponente onde ficava o Templo de Deus construído pelo rei Salomão. Mas Jerusalém estava entregue a um domínio estrangeiro, os Romanos. O povo não aceitava mais a opressão de Roma, os castigos, os impostos. E tinha que aguentar as muitas cargas e preceitos que os sacerdotes impunham para que o povo cumprisse. Portanto, a opressão castigava o povo judeu dos dois lados. Mesmo com tudo isso, podiam ainda esperar pelo Messias, o Enviado de Deus. Esse "Messias" deveria vir com poder e glória e em nome de Deus para libertar Israel do poder dos romanos. E restituir o trono de Davi que foi tomado. Esperavam um Rei especial com poderes divinos que acabasse com aquela opressão. Mas o propósito de Jesus, a salvação que Jesus vinha trazer era outra. Jesus era Rei, mas não deste mundo, não daquele momento, ele devia salvar a humanidade do pecado e restituir-nos a condição de filhos de Deus. E Jesus sabia disso, sabia que dali, de Jerusalém só sairia para ser depositado no sepulcro. Muitas coisas iriam acontecer. Mateus diz que Jesus entrou na cidade vai o Templo, e depois volta à Betânia para descansar. Betânia era um povoado perto de Jerusalém e Jesus tinha amigos lá, Marta, Maria e Lázaro, no qual ele tinha ressuscitado. De manhã Ele volta à Jerusalém e começa a ensinar.
Jesus entrou na cidade e foi aclamado como Rei, mas não pelos ricos, nem pelos sacerdotes que viam em Jesus uma ameaça. Foi aclamado pelo povo simples que de certa forma, viram o que Jesus tinha realizado o queriam como rei de Israel. Muitos estavam convictos de que Ele era mesmo o Rei que o povo precisava e que devia fazer um levante para tomar Jerusalém, libertá-la dos romanos e assumir o trono de Davi. Pois Jesus era descendente de Davi. Mas não era essa a missão do Rei Jesus naquele momento. Ele não entra na cidade em um cavalo, com roupas finas, nem chega em uma carruagem. Mas foi montado em um jumentinho emprestado. Que rei é esse que vem montado em um jumentinho? ... podiam pensar... E Jesus foi aclamado pelo povo simples cheio de ilusão. Ainda não viam em Jesus o Cristo o Salvador. Mas viam uma esperança remota de um rei, um conquistador. Logo perguntaram: "quem é este homem?" - "Este é Jesus o profeta de Nazaré da Galiléia!" (Mt21, 10-11) Logo mais adiante, o Evangelho vai mostrar que Jesus mostra, ao dizer diante de Pilatos, ser Ele, não o Rei do mundo, mas o Rei do Céu. (Jo18,37). Cumprindo as profecias Jesus se sacrificaria como unica vítima, santa e perfeita pelos pecados de "toda humanidade!" a messiandade de Jesus está justamente em conseguir no sacrifício da Cruz o resgate de todas as criaturas para Deus. E não apenas para um grupo, para um momento como eles achavam que devia ser a missão do Messias.
Mateus. segue seu evangelho, dizendo que Jesus ficou em Jerusalém. Isto significa que Jesus deve ter ficado ali por muitos dias. Aconteceram muitos ensinamentos e realizado muitos milagres que despertaram a inveja dos sacerdotes. Mas, uma das principais causas que levou Jesus à condenação, foi o fato de Jesus, podemos dizer, desmoralizar os fariseus diante do povo. As duras palavras de Jesus, vão tocar nas feridas abertas que eles tinham: o orgulho, a prepotência, a inveja, a avareza e a falta de caridade. (Mt23-39) - E Jesus termina lamentando a hipocrisia daquela gente, tão dura de coração e que não O aceitaram. Oh! como Jesus queria que fosse diferente!
Que seu povo aceitasse a salvação que havia chegado até eles e se convertessem... Jesus chega a dizer, que: Ele queria que os filhos de Jerusalém fossem mais fiéis. E queria abrigá-los no seu amor, como uma galinha põe os pintinhos debaixo das asas para aquecê-los e protegê-los... (V.39). Mas não foi assim. Aquelas duras palavras de Jesus,o coração fechado dos fariseus, serviram para instigar ainda mais o ódio dos que iam contra o projeto de Jesus. Começava então tramar a morte de Jesus.
E mais... quando Jesus vê que o Templo do Senhor, cheio de pessoas inescrupulosas, fazendo dali um comércio e não uma casa de Oração, Jesus ficou furioso e expulsou aquela gente toda.O evangelho narra que Jesus chegou a chicoteá-los com uma corda dizendo: "Minha casa é uma casa de Oração, como podem transformá-la em um covil de ladrões?" e Jesus estava se referindo as palavras do profeta Isaías, (Is56, 7) e deJeremias (Jr7,11). Ler (Mt21, 12-13).
Mas Jesus permanece ali em Jerusalém por uns bons dias, fazendo curas e ensinando a quem quisesse ouvir. É importante saber disto, porque quando celebramos a Semana Santa e recordamos estes acontecimentos, dá a idéia de que Jesus entrou em Jerusalém e logo foi preso e condenado. Não foi bem assim. Aconteceram muitas coisas até o momento da Paixão.
Mas logo o povo esquece as palavras de Jesus, e instigados pela inveja dos sacerdotes entregam Jesus à morte.
É preciso fazer uma boa leitura do Evangelho para compreender que Jesus ficou em Jerusalém até as vésperas da celebração da Páscoa. Ele antecipou em celebrar a Páscoa com seus discípulos. E sabemos muito bem que Nossa Senhora também estava em Jerusalém. Pois era dever de todo judeu e das judias estar em Jerusalém para a festa da Páscoa. Havia dias de preparação para esta grande festa. E foi 3 dias antes que Jesus celebrou a sua Ceia Pascal e vai se entregar como a vítima suprema pelos pecados do mundo.
Talvez muitas pessoas, no tempo de Jesus, tinham uma visão errada sobre a sua missão, o Rei Jesus para eles era alguém que ia resolver uma situação política do momento. Eles não sabiam nem podiam imaginar quem era Jesus e qual era seu propósito. Embora tivessem vistos os milagres e a pregação do Mestre. Jesus várias vezes disse que eles compreenderiam mais tarde. Ao cear com os Apóstolos, Jesus disse: "O que ora faço não sabeis, mas compreenderás mais tarde!" - A fraqueza humana, as ilusões dos Apóstolos e discípulos de Jesus fizeram com que eles no momento da morte de Jesus, esquecessem muitas coisas. Uma delas é que Jesus várias vezes ressuscitou os mortos, e várias vezes disse que era preciso que ele morresse e ressuscitasse. Mas quando veio a fraqueza, o medo e a angústia, ficaram presos no terror dos acontecimentos na visão do Senhor morto naquele madeiro. Solitário, abandonado, rejeitado e humilhado. Chagado e nu. Esqueceram-se logo daquela realeza que eles tanto gritavam: "Hosa na ao Filho de Davi, Rei de Israel, bendito o que vem em nome do Senhor!" Aliás, foram poucos que estavam com Jesus aos pés da Cruz, o evangelho narra que aos pés da Cruz de Jesus estava: João, Maria de Cléofas, Maria Madalena e Nossa Senhora. Os outros não se sabe, o que se sabe é que quando Jesus foi preso, muitos dos que estavam com Jesus no monte das Oliveiras fugiram, arrancaram suas roupas, fugiram nus para não serem vistos pelos soldados.
Após a ressurreição puderam ver a glória deste Rei, um rei muito mais soberano. O Rei não apenas de Israel, mas, de toda humanidade. São Paulo chega a dizer que: "diante da realeza de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos infernos". Mesmo Tomé não quis acreditar na ressurreição, talvez ao ver a forma com que o mataram, foi preciso ver para crer.
A humanidade e muitos cristãos ainda não acreditam no poder e na realeza divina de Jesus. Ainda agem como os judeus do tempo de Jesus, que esperavam um messias vingativo. Deus não age assim. O que assola a humanidade e a natureza certamente é a falta de fé e de amor para com Deus, o próximo e a natureza. Querem aceitar Jesus, como um simples profeta, e não como o Filho de Deus. Que bom se todos pudessem dizer as mesmas palavras do centurião romano aos pés da Cruz de Jesus: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!" - porque as vezes vemos a Cruz e não vemos nela o sinal de nossa salvação. Toda realeza, todo amor de um Rei está impregnado nela. E não nos prostramos diante desta realeza de Jesus Cristo. Preferimos as ilusões deste mundo, estamos longe da humildade e da compreensão das nossas próprias mazelas. Jesus, para quem quem o aceita é Rei e Senhor, aquele que venceu o pecado. Assumiu nossas fraquezas para nos salvar. Este Rei veio para os justos e injustos. Olhar e contemplar a cruz de Jesus é se dar conta do quanto Deus nos amou e quanto Jesus Rei do Universo se fez pobre, humilhou-se a tal ponto por nosso amor e pela nossa salvação. Muitos não têm coragem de olhar para a Cruz, preferem-nas ver bem longe de seus olhos, longe das nossas casas, paredes a ambientes sociais, porque a Cruz de Jesus exige nosso compromisso em uma sociedade mais humana, justa e fraterna. E muitos não aceitam essa Realeza humilde de Jesus exposta no amor extremo e total da Cruz. Uma cruz para um Rei? ... não é possível crer. Quantas cruzes colocamos na vidas das pessoas... Mas principalmente a cruz do egoísmo, nesta Jesus não está. Que Jesus crucificamos hoje com nossa falta de amor, de respeito humano? O Rei Jesus não é aclamado na pessoa do pobre, mas sim, vaiado na cruz do desespero, da solidão e da falta de oportunidade de vida e muitos irmãos são entregues aos algozes do capitalismo.
São Paulo chega a dizer em sua carta que: "Poderia um justo morrer por um injusto?" "Por uma pessoa muito boa talvez, mas quem morreria por um injusto?" e Jesus fez isso por amor a nós. E muitas vezes preferimos acreditar e muitas coisas, muitas ideologias e filosofias que nos tiram a graça de aceitar esse Rei Jesus. Ou ainda queremos fazer como aqueles judeus que diante do Cristo no Pretório, diziam: "Não temos ou rei senão a César!", poderíamos dizer: "Não temos outro rei, senão, nossa ganância, nossa moda, nossa sensualidade, nosso dinheiro, nossos ídolos artistas, nossos políticos e nossa incredulidade, nossa auto suficiência em achar que podemos fazer de tudo sem necessitar de Deus ..." É o que os fariseus pensavam, só porque criam em um Deus lá das alturas. Se esqueceram de perceber a grandeza do amor de Deus que mandou Jesus seu Filho. Estavam mais preocupados com as vestes, com os ritos, com o cumprimento das leis...
Quanta decepção tiveram com o Rei Jesus que lhes ensinou a olharem os lírios, os pássaros, os campos, se Deus não deixa faltar nada a um simples pardal e veste de linho o lírio, mais bonito e alvo que as vestes de Salomão, o quanto não poderá fazer por nós? Será que não valemos mais para Deus do que eles? Será que Deus nos abandonaria? ... Que lição o Rei Jesus deu aos fariseus e nos dá hoje.
Que Barrabás existe em nossa vida que escolhemos no lugar de Jesus... os vícios, a corrupção, a falta de moral, a incredulidade, a falta de caridade, a idolatria, a confiança no poder humano, a prepotência, a omissão diante da verdade, a falta de solidariedade e de compromisso com os mais necessitados... E quando o Rei vier, como fará?
Este Rei Jesus poderá dizer: "Vinde a mim!" ou "Afastai de mim, porque não fizeste o que eu vos pedi!" Mt25, 31-46.
Mas essa passagem da entrada de Jesus em Jerusalém também vem nos por diante de várias perguntas:
O que esperamos de Jesus?
Estamos caminhando mais uma vez para celebrar a Páscoa Cristã. Que sentido esta Páscoa tem para mim?
Será que eu creio que realmente Jesus é o Messias o salvador do mundo?
Ou será que estou agindo por impulso como fizeram o povo de Jerusalém quando O condenaram?