sábado, 8 de novembro de 2025

CORREDENTORA OU COOPERADORA? MEDIANEIRA? Explicações sobre a polêmica do documento "Mater Populis Fidelis"

         


A polêmica em torno do documento do "Mater Populi Fidelis", publicada pelo Prefeito, Cardeal Victor Manuel Fernadez e pelo secretário da seção doutrinária, Monsenhor Armando Matteo,  aprovada pelo Papa Leão XIV em 7 de outubro de 2025 e publicado no dia 4 de novembro, tem provocado polêmica sobretudo em alguns católicos que não entenderam o real propósito do documento.

Esses católicos de “IBGE” trouxeram o debate para as redes sociais lançando a polêmica em torno desse documento sem ao menos na analisar ou procurar entender as razões pelas quais a Igreja se pronunciou a respeito. Aqui vamos explicar de modo a fazer o amigo(a) leitor católico entender as razões que o documento foi publicado e o seu verdadeiro significado. 

Um grupo de católicos havia pedido aos Papas  que proclamasse mais dois dogmas a respeito de Nossa Senhora: O primeiro, “Maria Corredentora” e, o segundo, “Maria Medianeira de todas as graças”.

Mas, embora alguns santos utilizassem ou desse esse título à Maria como “corredentora” e “medianeira”, o fizeram dentro de um contexto particular, mas a Igreja não aceitou isso como dogma.

O Padre Gabriel Vila Verde veio nas redes sociais nos esclarecer sobre o assunto e aqui eu vou transcrever as falas dele para que todos possam compreender. Esclarece o padre:

“O grande problema do católico é querer levar as coisas na emoção e nunca pelo lado da razão", disse o padre.

Existem dois livros que todo católico deveria conhecer assim, de A ao Z, do alfa ao ômega, um é a bíblia sagrada e, vamos confessar, a grande maioria não conhece, por preguiça porque a Igreja orienta. O outro grande livro é o Catecismo da Igreja Católica, que até muita gente tem, mas, não lê e não conhece. Se perguntar qualquer coisa a respeito do catecismo, até fala, ‘o catecismo, catecismo, catecismo’... Mas não tem conhecimento nenhum do que está escrito nele.

Então, como sacerdote é meu dever explicar aos fiéis católicos. Porque eu digo assim, existem dois tipos de protestantes: aqueles que estão fora da Igreja e, esses protestam por natureza e existem os protestantes de dentro da Igreja que fazem muito mal, aliás, nenhum bem.

Vamos entender, vejam bem! A Igreja ela já proclamou 4 dogmas a respeito da Virgem Maria: A maternidade divina (Maria Mãe de Deus), A virgindade perpétua (ela permaneceu virgem antes, durante e depois do parto), a Imaculada Conceição (foi concebida sem a mancha do pecado original) e, esse último é que vai entrar a questão da redenção de Jesus, e a Assunção ao Céu em corpo e alma, que foi o último dogma proclamado pelo Papa Pio XII em 1950.

De lá pra cá alguns grupos dentro da Igreja, não é a totalidade da Igreja, pediram ao Papa que proclamasse mais dois dogmas: o primeiro que Maria é “Corredentora” e o segundo que Maria Santíssima é “Medianeira de todas as graças”.

O Papa João Paulo II, mesmo utilizando essa palavra corredentora, claro, dentro de um contexto, dentro de uma explicação correta, ele não se atreveu a proclamar esses “títulos” como dogmas, porque? Porque ele não encontrou muito fundamento nessa palavra. Também foi solicitado ao Papa Bento XVI, mas, ele também não quis entrar nesse assunto até porque ele preferia o título de “Cooperadora” e não “Corredentora”. Papa Francisco também disse não. E agora o Papa Leão XIV autorizou que o Cardeal Fernandez publicasse esse documento esclarecendo ao povo de Deus o porquê de não proclamar esses “títulos” como dogmas.

Então, tem muita gente, inclusive, amigos meus, na Internet falando de coisas que não entendem. Não entendem mesmo, se for peneirar sai pouca coisa, “pouca farinha” no que diz respeito ao conhecimento da doutrina católica. Eu não falo de amor e devoção à Nossa Senhora. Vejam bem! Quem tem amor à Nossa Senhora, quando ouve uma notícia dessas vai achar que Nossa Senhora não é corredentora nem medianeira. [...] Como se ofendesse a nossa mãe biológica. Mas, que foi que disse que não proclamar esses “títulos” como dogma a ofende?

Pelo contrário, o catecismo que muita gente diz conhecer, mas não conhece. Se pegarmos o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 963, “Maria Mãe de Cristo, mãe da Igreja”, esses parágrafos vão falar da relação que Nossa Senhora tem com seu filho Jesus. Mas, o parágrafo 969 em diante, vamos ver o que a Igreja diz. O católico não pode apegar em algo que pessoas dizem, “porque fulano diz isso e tem autoridade pra falar”, não tem, a autoridade na Igreja é o catecismo, autoridade na Igreja é o Magistério. Se eu que sou padre dizer algo contrário ao que está escrito aqui e contra o que está escrito na Sagrada Escritura, eu não tenho autoridade, a igreja não me deu autoridade pra isso. No dia da minha ordenação a Igreja disse: “Você promete ensinar a fé católica”; e a fé católica é o que está escrito aqui. Não é a opinião de A ou de B, a devoção de isto ou aquilo.

Assim diz o catecismo: “Essa maternidade de Maria na economia da graça perdura initerruptamente , a partir do consentimento que ela fielmente prestou na anunciação e, que sob a cruz, resolutamente manteve até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assunta aos céus, não abandonou        este múnus salvífico, mas, por sua múltipla intercessão, continua a nos alcançar os dons da salvação eterna. [...] Por isso, a Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de advogada, auxiliadora, protetora e medianeira”. (CIC-969)

        Note que não existe este título “Corredentora” no catecismo. A Igreja utiliza os títulos: Advogada nossa, Auxiliadora, Protetora e Medianeira. Nós vamos entrar mais à frente na explicação do “Medianeira”.

        Vamos continuar...

Parágrafo 970 do catecismo: “A maternidade de Maria em favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui a mediação única de Cristo, ao contrário, mostra sua eficácia. De fato, toda salutar ação da Bem-aventurada Virgem [...] deriva dos superabundantes méritos de Cristo, apoia-se em sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere toda sua força”.

Ou seja, tudo que há em Maria depende de Jesus Cristo. Ela é o que é por causa dele não o contrário. Jesus não é Jesus por causa de Maria, Maria é Maria por causa de Jesus.

Continua o parágrafo [...] “Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor. Entretanto, da mesma forma que o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos – seja pelos ministros, seja pelo povo fiel – e a da mesma forma que a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas criaturas de modos diversos, assim também a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas diversificada cooperação que participa de uma única fonte”.

 

Ou seja, tudo que há em Maria depende de Jesus Cristo. Ela é o que é por causa dele e não o contrário. Nenhuma criatura pode ser equiparada, (ou seja, colocada em pé de igualdade) a Jesus Cristo, nem mesmo Nossa Senhora.

“Corredentora” os santos no passado já utilizam este título. É errado? Depende de como o sentido desta palavra é explicado. Mas se a Igreja proclamar isso como dogma fica uma coisa sem sentido. Por exemplo: Existem algumas paróquias pelo Brasil afora que possui um padroeiro, mas ali naquela mesma paróquia existe um santo de muita devoção, até mesmo de mais devoção que o próprio padroeiro. E aí a Igreja coloca aquele santo como Co padroeiro, ou seja, padroeiro ao lado do principal. Quando eu utilizo a palavra corredentora, o que é que pode gerar na cabeça dos menos esclarecidos, não falo dos protestantes, não! Ah! Mas, a Igreja fez isso para agradar os protestantes. Nada a ver. É porque se eu digo é “corredentora” pode causar uma confusão na mente dos fiéis, como se a redenção oferecida por Jesus precisasse também da redenção da Virgem Maria, o que seria uma heresia, é um absurdo teológico porque a Sagrada Escritura e o catecismo da Igreja e o Magistério sempre apontaram Jesus Cristo como único e necessário Redentor. E a aí o catecismo diz “que nenhuma criatura pode ser equiparada, em matéria de redenção”, a redenção é de Cristo.

Eu já havia explicado, que Nossa Senhora está tão unida a Jesus que se naquele tempo houvesse exame de DNA, e que se alguém pegasse um algodão e, na hora que Jesus estava lá na cruz e se colhesse um pouquinho do sangue e levasse para fazer DNA, ali daria o sangue de Nossa Senhora. Porque Jesus como filho, como Verbo não tem corpo, ele assumiu a natureza humana quando Nossa Senhora deu o seu sim. Então ali ele se torna carne, então o sangue que correu nas veias de Jesus é um sangue humano e o material genético de Jesus homem é om material genético de Maria. Mas, eu não posso dizer que para Jesus me salvar ele depende de uma corredentora ao seu lado. Isso não tem base teológica. É por isso que a Igreja preferiu usar o título de “Cooperadora”, mesmo que lá no passado alguns santos utilizou o título de “Corredentora”, sim, mas a Igreja ela vai compreendendo que certas palavras não precisam ser utilizadas, existem outras que podem explicar de forma melhor sem nenhum problema. Em nada diminui o papel da Virgem Maria na história da Salvação. Ela cooperou gerando o Redentor no seu ventre, dando à luz, cuidando de Jesus em toda sua vida até a descida do Espírito Santo. Desse modo ela estava lá cooperando, colaborando com Cristo na história da salvação.

Mas, corredentora? [...] a palavra “redentor” é exclusiva a Cristo.

Tem gente bradando e não leu o documento, pegou uma frase tipo, “Papa diz que Maria não é corredentora”, pronto! Eis o prato cheio para fazer minha live. Ou até para ganhar seguidores e visualizações. Tem muita gente por aí usando Nossa Senhora para ter engajamento e seguidores. Não é para defender a Fé católica, porque se fosse para defender a Virgem Maria não colocaria o povo contra a Igreja de Cristo. Porque se existe uma coisa que Maria é, é ser mãe de Igreja. E uma coisa que ela não quer é divisão na Igreja.

Como disse Dom Henrique Soares, “Quando colocamos na posição acima da Igreja para julgá-la já deixou de ser católico”.  A Igreja é mãe e mestra.

Ela é mãe na fé e ensina os cristãos. Estamos lendo o catecismo. Ou alguém aqui vai dizer que o catecismo está errado?

É preciso repensar a compreensão de catolicismo.  Repito! Cuidado com essas pessoas que estão utilizando dessas polêmicas para ganhar seguidores, para ter engajamento, porque engajamento na internet é clientela. Quanto mais seguidores eu tenho, mais aumenta a minha clientela, mais conteúdo continuo vendendo. Não seja um católico tolo!

 

Continua [...] “Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor. Entretanto, da mesma forma que o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos – seja pelos ministros, seja pelo povo fiel – e a da mesma forma que a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas criaturas de modos diversos, assim também a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas diversificada cooperação que participa de uma única fonte”. 

Olha a palavra “cooperação” aparecendo no Catecismo. Eu posso dizer que Maria cooperou no mistério da salvação? Posso e isso não é heresia porque ela cooperou mesmo. O sacerdote, a partir do momento que a Igreja o ordena, ele participa do sacerdócio de Cristo. Quando o sacerdote absolve os pecados, ele absolve na pessoa de Cristo, quando consagra o pão e o vinho, o sacerdote consagra na pessoa de Cristo, ou seja, o sacerdote de certo modo coopera, colabora, mas o sacerdote não redime ninguém. Quem vai redimir é Cristo. E essa redenção não precisa de ajuda. O sacerdote colabora com o mistério de Cristo, mas, ele é o Redentor, único e exclusivo de todas as criaturas, inclusive de Nossa Senhora.

 

Vamos entender o mistério da Imaculada Conceição – quando a Igreja afirma que Maria é imaculada, a Igreja não está dizendo que ela não precisou de salvação. Até porque no canto do Magnificat Nossa Senhora diz assim, “a minha alma se engrandece no Senhor, e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador”.  Se Nossa Senhora disse, “meu Salvador”, então é porque ela assumiu que foi salva por Deus. Mas, a salvação de Maria acontece no momento de sua concepção. Aí a Igreja vai dizer, “em vista dos méritos de Cristo, Maria foi isenta do pecado original”, ou seja, naquela hora ela foi salva por Jesus. O Cristo a salvou, ela foi redimida no primeiro instante de sua concepção. Ali aconteceu um grande milagre de salvação e ela entra no grupo dos salvos.

O problema do povo católico é se levar pela emoção. O documento não traz nada de errado e só reafirma aquilo que a Igreja ensina e prega a séculos. Os padres formados em mariologia estão também de acordo com o documento e afirmam que nele não há erros doutrinários. A redenção é única de Jesus e Maria também foi redimida no momento de sua concepção, aí está o dogma

Ah! Mas Maria estava aos pés da cruz, Maria sofreu, derramou lágrimas e todo aquele sofrimento o Pai aproveitou de alguma forma.  Como aproveita o meu e o seu sofrimento, como por exemplo quem oferece os sofrimentos pelos sacerdotes.

Essa palavra “corredenção” mal explicada ou mal compreendida causa confusão. Não se trata de diminuir Nossa Senhora, de tirar a Virgem Maria de seu lugar de honra e coloca-la em um lugar comum, não é isso.

Quanto ao título de “Medianeira”, quer dizer que agora a Igreja tirou o seu título de medianeira? Não. A Igreja só pediu cuidado ao utilizar o título “Medianeira de todas as graças”. Sim ela é medianeira, mas ela alcança de Jesus, seu filho para nós.

Não é a toa que a devoção da Medalha Milagrosa, Nossa Senhora apareceu à Santa Caratina de Labouré, Nossa Senhora aparece derramando graças e diz: “Essas são as graças que as pessoas não me pedem”. E no verso da medalha milagrosa, aparece entrelaçada à cruz a letra M, de Maria, simbolizando a cooperação de Maria na obra da salvação. Mas, na primeira aparição de Nossa Senhora à Santa Catarina, na madrugada do dia 18 para 19 de julho de 1830 ela aponta para o Sacrário e disse que “no momento de provação ela fosse aos pés do altar e lá ela encontraria consolo.”

Ou seja, quando eu digo que Maria participa do mistério da salvação é porque ela aponta Jesus, ela não aponta para si.

E quando dizemos que ela é Medianeira, é porque ela participa da única mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque só há um mediador entre Deus e os homens, afirma a Sagrada Escritura. Assim como o sacerdote participa do único sacerdócio de Jesus Cristo, Maria Santíssima participa da única mediação de Jesus.  Então, ela é sim, medianeira. A Igreja não proibiu de chama-la de medianeira, porque até está no Catecismo. A Igreja só pede no documento uma cautela ao dizer ‘medianeira de todas as graças’ porque isso deve ser explicado. E como ela é medianeira de todas as graças?  A partir do momento em que ela participa da única mediação de Cristo. A Igreja não vai tirar esse título, existem até paróquias e comunidades com esse nome “Medianeira”, a Igreja vai tirar esses nomes? Não vai. Agora a palavra “corredentora” utilizada poucas vezes, nessas poucas vezes foi utilizada dentro de um contexto. Agora proclamar como dogma a Igreja disse que não há necessidade.

Nossa Senhora tem o seu lugar, esse lugar jamais será ocupado por ninguém. Agora o que ela não quer é ocupar o lugar de Jesus. E digo mais, todas as vezes que a gente honra o Filho, Nossa Senhora fica imensamente feliz porque como ela mesmo disse nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que ele vos disser!”       


Fonte: (Padre Gabriel Vila Verde, Youtube) 

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 É coisa de protestante tirar versículos isolados da Bíblia para construir um argumento teológico que lhes agrada e tanto o versículo, quanto o argumento, na maioria das vezes fica sem contexto e o explicável torna inexplicável.

Isso acontece pelo livre exame das Escrituras (Sola Scriptura), e a falta do Magistério. Com isso, muitas doutrinas absurdas e heresias surgem nestas seitas todo dia, pois, sem um consenso entre as denominações, a doutrina em uma determinada igreja não é a mesma de outra causando ainda mais divisões, brigas disputas e confusões. [...] Esse documento quer esclarecer de uma vez por todas qual é o verdadeiro papel de Nossa Senhora na Igreja. Não se trata de diminuir Nossa Senhora, não! Mas, dar-lhe o lugar que ela teve desde sempre na Igreja.    

Na Igreja Católica, o livre exame das Escrituras é vedado. Porque isso cabe ao Magistério da Igreja (aos bispos legítimos sucessores dos Apóstolos), como também a doutrina é uma só em toda parte. Uma só fé, um só Batismo, uma só doutrina.

Nenhum padre, religioso, religiosa, nenhum leigo evangelizador ou catequista, não pode sair por aí ensinando algo que não está no Catecismo e na Sagrada Escritura. O padre Gabriel Vila Verde deixou isso bem claro em seu vídeo quando ele diz, “Eu quando me tornei sacerdote jurei ensinar a Doutrina da Igreja”, isto é nenhum católico pode construir uma doutrina diferente e sair por aí pregando, fazendo vídeos e atacando o Magistério.

Quando a Igreja lança um documento, primeiro temos que ler, entender o que está no documento e se não entender procurar alguém que lhe ajude. O padre Gabriel disse em seu vídeo, “Eu procurei dois dos maiores mariólogos brasileiros para ter a opinião deles sobre este documento e todos eles disseram que não há nada de errado com ele”.

Quando nós damos o título de “Corredentora” à Virgem Maria, sem uma explicação [e isso é muito complicado explicar] dentro de um contexto pode parecer que nós estamos afirmando que para redimir a humanidade Jesus precisou de Maria. E como o padre mesmo explicou, afirmar isso é heresia grave. Maria cuidou do lado humano de Jesus, esteve com ele até aos pés da cruz. Esteve com a Igreja em Pentecostes. Mas, a redenção é única de Cristo porque somente a Deus coube essa missão. Maria, foi serva, ajudou, sim, mas não tem a atribuição redentora. Dizer isso não é ofensa, é colocar Maria no seu devido lugar, que ela sabe muito bem, mas, que alguns católicos não sabem. Maria não pode salvar ninguém porque ela também foi salva, ainda que antecipadamente, como afirma o dogma da Imaculada Conceição, ela aponta para o seu filho Redentor. O problema de alguns católicos é inverter a seta. Atribuem a ela uma função que nem ela mesma ousou dizer, “eis aqui a serva do Senhor faça-se em mim segundo a vossa palavra”, disse Maria ao anjo no momento da Anunciação.        

No passado, alguns santos usaram esse título, mas dentro de um contexto muito específico, no sentido de que ela colaborou em tudo após seu sim no mistério da Redenção.

Jesus feito homem, o Verbo encarnado, precisou de cuidados como toda pessoa humana. Maria e José cuidaram de Jesus. José até certo ponto, Maria até aos pés da cruz. Ela sofreu na alma tudo por nós, conforme Simeão havia predito, “e uma espada vos trans passará a alma”, no entanto, não podemos dizer que Maria é corredentora neste sentido, algo que é obra exclusiva de Jesus.

Então, a palavra corredentora é utilizada muitas vezes de forma errada e causa problemas teológicos graves e é isso que o documento vem tratar.

A Igreja prefere a palavra cooperadora, porque de fato, Maria foi cooperadora da obra da Redenção. Ela foi Mãe, fiel discípula e esteve presente até aos pés da Cruz.

O Catecismo, no parágrafo 960, vai dizer isso. Um dos títulos de Nossa Senhora é “Cooperadora” – Corredentora, não!

Outro fato, é que o documento pede cautela sobre o título de Maria “Medianeira de todas as graças”. "Medianeira", mas,  devemos entender bem essa palavra, o que ela significa.

Significa o caráter intercessor de Maria. Ou seja, ela roga por nós, intercede por nós junto ao seu filho Jesus. Por ser a Mãe de Deus, ela caminha, roga e zela por nós.  

Mas se colocarmos essa palavra “medianeira” no mesmo patamar (em pé de igualdade) de “Mediador” que é Jesus está errado porque damos à Maria uma função que ela não tem. Ao dizermos damos à Maria o papel de salvadora na Mediação única de Cristo e, isso é heresia grave, damos a ela o papel que ela não tem, pois, a Mediação é única e exclusivamente de Cristo. Porém a mediação de Nossa Senhora e de todos os santos só tem sentido porque está ligada à Mediação única de Cristo. Nesse sentido nós também ainda neste mundo podemos mediar, isto é interceder uns pelos outros porque fazemos parte da comunidade dos redimidos, ou seja, da Igreja. 

E mais ainda, é perigoso e errado dizer que Maria é medianeira de todas as graças porque seria certo se pudéssemos excluir a única graça suficiente que é a Salvação. Maria não tem esse papel, a graça da salvação não passa por Maria, ela é exclusiva de Cristo. Então ela é medianeira? Sim, ela é, mas, no caráter de intercessão e não de salvação. Ela é o canal de inúmeras graças, mas, a graça que ela nos concede é por meio de seu filho Jesus Cristo.

O cuidado que devemos ter com essa afirmação “medianeira de todas as graças” é importante, porque devemos analisar também, que no sentido de intercessão todos os santos tem esse papel, de serem canais da graça. Tanto Nossa Senhora, quanto os demais santos são intercessores, porém, a Igreja destaca o papel de Maria em primeiro lugar, não porque ela é maior que os outros no céu, mas, porque ela é a Mãe de Deus.

As palavras se forem bem colocadas e bem aplicadas podem produzir efeitos bons ou ruins, depende do contexto e é isso que a Igreja quer explicar com o documento “Mater Populi Fidelis”. Para que os católicos entendam que certas palavras, se usadas fora de contexto pode provocar confusão. E a Igreja não quer isso, ela quer união.          

   

 

 

      

 

             

      

       

 

      

 

             

      

       

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS - (3) "O PURGATÓRIO"

 

Segundo a doutrina da Igreja Católica, o purgatório é um estado ou processo de purificação final para as almas daqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas que ainda não estão perfeitamente purificadas e, por isso, não podem entrar imediatamente na alegria do céu.


O que é o Purgatório?

Definição do Purgatório segundo a Igreja Católica

O conceito de purgatório, segundo o Catecismo da Igreja Católica 1, desafia a superficialidade com que muitas vezes enxergamos nossa caminhada espiritual. Ele é descrito como um estado de purificação final, destinado às almas que, embora já tenham sido salvas, ainda carregam as consequências temporais dos pecados.

A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados. 

Diferentemente do inferno, onde há a separação definitiva de Deus, o purgatório é transitório e traz a certeza da união definitiva com Deus. A doutrina católica lembra-nos de que, para estarmos na presença de Deus, é necessário que sejamos perfeitos como Ele é perfeito. Essa exigência, que por vezes nos parece rigorosa, é, na verdade, um reflexo do amor de Deus por nós.

 

O purgatório, nesse sentido, é uma expressão do amor divino que nos prepara para esse encontro glorioso, limpando nossa alma de todas as impurezas que possam impedir a plena comunhão com o Criador.

A origem da palavra “Purgatório”

A palavra “purgatório” vem do latim purgatorium, que significa “lugar de purificação”. A raiz purgare implica uma ação de purificar, de limpar, de expurgar aquilo que não serve ou que contamina. Este termo reflete a essência do processo espiritual pelo qual a alma é liberta das imperfeições e dos resquícios dos pecados cometidos durante a vida.

Assim como o fogo purifica o ouro, a alma, no purgatório, é purificada para que, livre de todas as manchas, possa contemplar Deus em Sua plenitude. Essa ideia de purificação é também simbólica de uma jornada interior, onde o homem desprende-se de tudo o que o afasta de Deus.

Conceito e Propósito

Estado de Purificação: O purgatório não é um castigo para os condenados (como o inferno), mas uma misericórdia de Deus para os eleitos (que já estão salvos). A alma no purgatório tem a certeza da salvação eterna.

Necessidade de Santidade: Para estar na presença de Deus, é necessário ser temporais dos pecados (veniais ou já perdoados), que impedem a plena comunhão com Deus.

Fogo Purificador: A Igreja fala de um "fogo purificador". Os teólogos e Papas modernos, como o Papa João Paulo II, costumam descrevê-lo mais como um fogo interior ou um intenso sofrimento espiritual (a "pena de dano", a dor da separação temporária de Deus, e a "pena de sentido", sofrimento pela purificação), que purifica a alma, em vez de um fogo material exterior.

 

Fundamentos Doutrinários e Bíblicos

A doutrina do purgatório, embora a palavra "purgatório" não esteja explicitamente na Bíblia, tem fundamentos na Tradição da Igreja e em referências bíblicas, tais como:

Oração pelos Mortos: A prática de orar e oferecer sacrifícios pelos defuntos, que remonta a tempos antigos, é a principal razão para a doutrina. No Segundo Livro de Macabeus (12, 46), a Escritura elogia a oração pelos mortos para que sejam libertos de seus pecados.

Perdão no Futuro: A passagem do Evangelho de Mateus (12, 32), onde Jesus fala de blasfêmia que não será perdoada "nem neste século nem no século futuro", sugere que algumas faltas podem ser perdoadas no mundo que há de vir.

Concílios Ecumênicos: A doutrina foi formulada e confirmada dogmaticamente em Concílios da Igreja, notavelmente no Primeiro e Segundo Concílios de Lião, no Concílio de Florença de "A Comunhão dos Santos"

O purgatório faz parte da "comunhão dos santos" ou da "Igreja Purgativa". Os fiéis na terra (Igreja Militante) podem ajudar as almas no purgatório por meio de orações, indulgências, esmolas e, principalmente, o Sacrifício Eucarístico (a Missa), para que atinjam mais rapidamente a pureza necessária para a visão beatífica de Deus de forma mais enfática contra a Reforma Protestante, no Concílio de Trento.

O purgatório na tradição e nos concílios da Igreja

A doutrina do purgatório, descoberta e desenvolvida ao longo dos séculos, é uma parte essencial da fé católica. Desde os primeiros séculos, a Igreja manteve a prática de rezar pelos mortos, sinal de que os primeiros cristãos já acreditavam na eficácia das orações para a purificação das almas.

 

Esse entendimento foi formalmente consolidado em vários momentos, mas especialmente no Concílio de Trento, em resposta às objeções levantadas durante a Reforma Protestante. O concílio, realizado no século XVI, reafirmou que o purgatório é um estado de purificação para aqueles que, embora já destinados ao Céu, necessitam de uma purificação final para poderem contemplar a glória de Deus.

 

A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao Purgatório sobretudo nos concílios de Florença e de Trento 2

No decreto sobre o purgatório, o Concílio de Trento declara explicitamente:

 

Se alguém disser que a todo pecador penitente, que recebeu a graça da justificação, é de tal modo perdoada a ofensa e desfeita e abolida a obrigação à pena eterna, que não lhe fica obrigação alguma de pena temporal a pagar, seja neste mundo ou no outro, no purgatório, antes que lhe possam ser abertas as portas para o reino dos céus — seja excomungado. (Sessão VI, cânon 30)

Com isso, o Concílio reafirma que, para aqueles que se encontram em estado de graça, mas ainda carregam marcas de pecados, existe um processo de purificação após a morte.

 

Além disso, documentos como a Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, Concílio Vaticano II, também mencionam o purgatório, registrando que a Igreja, como corpo místico de Cristo, intercede continuamente pelas almas dos falecidos que ainda estão em processo de purificação. Assim, a tradição e os concílios reafirmam que o purgatório é uma expressão da misericórdia de Deus, destinada à purificação final das almas já salvas, e não um caminho de redenção para aqueles que rejeitaram a graça em vida. 

O purgatório e a justiça divina

O purgatório reflete uma visão da justiça divina que transcende qualquer concepção puramente punitiva, pois se fundamenta no amor que busca a plena santificação da alma. O Catecismo da Igreja Católica 3 ensina que o purgatório é reservado para aqueles que morrem em estado de graça, mas precisam de uma purificação final para alcançar a pureza completa antes de entrar no Céu. É um estado onde a justiça de Deus é operada com misericórdia, possibilitando que uma alma, ainda imperfeita, seja dignamente purificada para contemplar o Senhor.

 

Na Constituição Benedictus Deus de 1336, o Papa Bento XII esclarece a importância do purgatório para a purificação das almas. Ele ensina que as almas que morreram em estado de graça, sinceramente arrependidas de seus pecados, mas sem terem satisfeito completamente as penas devidas, passam por um processo de purificação após a morte. Essa declaração destaca a necessidade de uma retribuição final, exigida pela justiça divina, para que a alma seja totalmente purificada de suas faltas e possa se preparar para entrar na presença de Deus no Céu.

 

Esse processo de purificação final é um reflexo do amor exigente de Deus, que nos convida a uma vida de santidade. O purgatório não é um “castigo temporário”, mas uma etapa de transformação necessária, onde a alma termina de ser purificada para ver Deus face a face. A justiça divina é uma afirmação do valor eterno da santidade e da dignidade da alma, que é conduzida, finalmente purificada, ao abraço definitivo de Deus.

 

A Base Bíblica do Purgatório

Textos do Antigo Testamento

A doutrina do purgatório, embora formalmente desenvolvida ao longo dos séculos, encontra bases sugestivas na Escritura, particularmente nas passagens do Antigo Testamento que falam sobre a purificação dos mortos. Um dos textos mais frequentemente citados encontra-se no segundo livro de Macabeus (2 Macabeus 12, 42-46).

 

Nessa passagem, Judas Macabeu, líder do povo judeu, realiza uma coleta para oferecer um sacrifício expiatório em favor de soldados mortos que caíram em combate usando objetos consagrados aos ídolos, um ato contrário à Lei. A Escritura narra que Judas tentou essa oferta tendo em vista a ressurreição e acreditando firmemente que uma santa e piedosa consideração é rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados.

 

Em seguida, organizou uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados. Belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição! Pois, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma belíssima recompensa aguarda os que morrem piedosamente […] 4

A ideia de que aqueles que morreram podem beneficiar-se das orações dos vivos pressupõe que exista um estado intermediário onde as almas estão em processo de purificação e podem ser ajudadas em sua jornada. Tal conceito, embora não utilize o termo “purgatório”, reflete a crença de que Deus permite que determinadas imperfeições das almas sejam sanadas após a morte.

 

Esse aspecto da Escritura evidencia uma compreensão ancestral de que a vida não é encerrada pela morte e que a justiça divina atua de modo a permitir a salvação de todas as almas que se arrependeram, mesmo as que ainda carregam consigo certas falhas.

 

O Segundo Livro de Macabeus é, portanto, uma das referências mais claras de uma prática espiritual que envolve o bem das almas dos falecidos. A inclusão desse livro no cânon da Bíblia pela Igreja Católica reforça a continuidade dessa crença desde o Antigo Testamento, indicando que a misericórdia de Deus é tão vasta que alcança as almas dos que morrem em estado de graça oferecendo-lhes a purificação necessária para que possam, enfim, contemplar a glória divina.

 

No Novo Testamento, encontramos passagens que reforçam a ideia de purificação após a morte, abordando a justiça divina de maneira profunda e específica. Na primeira carta aos Coríntios (1Coríntios 3, 11-15), São Paulo fala sobre o “fogo” que testará o trabalho de cada um no último dia. Ele afirma que a obra de cada um se manifestará, e que esse fogo provará a qualidade do trabalho de cada um. Se o trabalho resistir, o indivíduo será recompensado; caso contrário, ele sofrerá perda, embora ele mesmo será salvo, mas como que passando pelo fogo.

 

O dia (do julgamento) irá demonstrá-lo. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o cons­trutor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo. 5

Essa imagem paulina nos apresenta uma metáfora poderosa de um processo de purificação. O “fogo” descrito por São Paulo não é o fogo da condenação, mas um fogo purificador, que prepara a alma para entrar na comunhão plena com Deus. Esse conceito aponta para a ideia de que algumas almas, ainda que salvas, podem necessitar de um processo de purificação para se libertarem completamente das imperfeições de seus atos e interesses na vida terrena. Esse fogo é, portanto, interpretado pela tradição católica como um símbolo do purgatório.

 

Além disso, no Evangelho de São Mateus 6, Jesus afirma que todo pecado e blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada nem neste século, nem no vindouro. A referência a um “perdão no mundo vindouro” sugere implicitamente que certos pecados podem ser expiados após a morte, reforçando a ideia de um estado onde a alma pode se purificar das consequências de pecados menores.

 

Embora Jesus não defina claramente o purgatório, essa passagem tem sido interpretada pela Igreja como uma possibilidade de purificação além da morte, na qual a justiça divina age em favor daqueles que ainda precisam purificar-se antes da visão beatífica.

 

Os textos do Novo Testamento, quando compreendidos à luz da tradição e da doutrina da Igreja, ajudam a interpretar o purgatório como um estado temporário de purificação. Nesse processo, a justiça e a misericórdia de Deus se manifestam ao permitir que a alma se prepare plenamente para estar em Sua presença.

 

A Tradição Apostólica e os Padres da Igreja

A doutrina do purgatório está intimamente ligada à Tradição Apostólica e aos ensinamentos dos primeiros cristãos. A prática de rezar pelos mortos é sugerida em passagens do Novo Testamento, como em 2 Timóteo 1, 16-18, onde São Paulo menciona Onesíforo:

 

“O Senhor conceda sua misericórdia à casa de Onesíforo, que muitas vezes me reconfortou e não se envergonhou das minhas cadeias! […] O Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia.

Os Padres da Igreja também enfatizaram a importância das orações pelos mortos; Santo Agostinho, em suas Confissões, afirma que se alguém peca e não se arrepende antes de morrer, é necessário que ele sofra o que é justo, mas se é justo que ele sofra, é justo também que nós o ajudemos com nossas orações. Essa reflexão mostra que a nossa intercessão pode auxiliar na purificação das almas.

 

São João Crisóstomo, em uma de suas homilias, disse que quando alguém morre, não devemos esquecer dele em nossas orações, pois isso é um ato de caridade que pode ajudá-lo na sua purificação. Essa ideia indica a crença de que as almas podem se beneficiar da intercessão dos vivos.

 

    São Gregório de Nissa também enfatizou que as almas que partiram podem ser aperfeiçoadas pela oração dos que permanecem. Assim, a Tradição Apostólica e os ensinamentos dos Padres da Igreja oferecem uma base sólida para a doutrina do purgatório, destacando a oração pelos mortos como um elemento fundamental na purificação das almas.

No Catecismo da Igreja Católica, a doutrina do purgatório é apresentada de maneira clara e fundamentada nos parágrafos 1030 a 1032. No parágrafo 1030, somos introduzidos à definição do purgatório como um estado de purificação das almas que, embora tenham morrido em estado de graça, ainda não estão totalmente livres das consequências do pecado. Essa descrição, longe de ser meramente teórica, carrega uma profunda mensagem de esperança e misericórdia.

          Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. 8

A ideia de que essa purificação é necessária para que as almas possam finalmente entrar na plenitude da comunhão com Deus no Céu é reafirmada no parágrafo 1031. Aqui, a Igreja nos lembra que a bondade de Deus é tão vasta que Ele proporciona aos que necessitam uma chance de se purificarem, sublinhando assim a sua justiça que busca não apenas a condenação, mas a salvação plena. A imagem do fogo purificador não é apenas um símbolo de dor, mas uma metáfora da transformação que nos prepara para a beleza divina.

 

O parágrafo 1032 do Catecismo da Igreja Católica, destaca a importância das orações e das boas obras dos vivos em favor das almas em purgação. A Igreja, nesse sentido, atua como um canal de graça, onde a Eucaristia e as indulgências são oferecidas como um ato de caridade. Essa prática de intercessão evidencia a comunhão dos santos, mostrando que mesmo após a morte, as almas continuam a ser parte do mistério da Igreja. Assim, o Catecismo não apenas explica a doutrina do purgatório, mas também nos convida a participar ativamente da salvação, unindo nossos esforços às necessidades das almas que buscam a luz divina.

 

 Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de penitência a favor dos defuntos […] 9

 

O purgatório no contexto da salvação

    A doutrina do purgatório está profundamente entrelaçada com o plano de salvação da Igreja, revelando a maneira como a misericórdia e a justiça de Deus operam na vida dos fiéis. A salvação, segundo a teologia católica, não se limita apenas ao ato da redenção, mas envolve um processo contínuo de purificação e crescimento espiritual que pode se estender além da morte. O purgatório surge, portanto, como um espaço de esperança e de misericórdia, onde as almas são preparadas para a plena comunhão com Deus.

 

    No contexto da salvação, o purgatório oferece uma resposta à realidade do pecado. Todos nós, mesmo os que estão em estado de graça, carregamos imperfeições e falhas que necessitam de purificação. A Igreja ensina que essa purificação é um reflexo do amor de Deus, que deseja que todos alcancem a plenitude da vida eterna. Assim, o purgatório se torna um meio de completar a obra de salvação iniciada por Cristo.

 

    Além disso, a intercessão dos santos e a prática de rezar pelos mortos tornam-se essenciais para essa doutrina. A Igreja acredita que as orações dos vivos podem auxiliar as almas em purificação, contribuindo para o plano de salvação de maneira concreta. As Missas e as indulgências oferecidas em favor dos falecidos são expressões dessa comunhão e do desejo da Igreja de colaborar na purificação das almas.

 

    O purgatório não é apenas um estado de sofrimento, mas uma oportunidade de esperança e renovação, permitindo que as almas se aproximem ainda mais de Deus e, por fim, participem da alegria da vida eterna no Céu.

 

O purgatório e a intercessão dos vivos

O purgatório é uma realidade que destaca a importância da intercessão dos vivos em favor das almas que estão em processo de purificação. A Igreja Católica ensina que as orações, indulgências e Missas oferecidas pelos falecidos são meios eficazes para ajudá-los em sua jornada de purificação. Essa prática é uma expressão concreta da comunhão dos santos, onde os fiéis, tanto vivos quanto mortos, estão unidos em um único corpo místico em Cristo.

 

As orações pelos mortos são uma tradição antiga da Igreja, refletindo o amor e a responsabilidade que os vivos têm em relação aos que já partiram. As intenções de oração, especialmente durante as Missas, oferecem um auxílio espiritual que pode aliviar o sofrimento das almas no purgatório.

 

As indulgências também desempenham um papel importante nesse contexto. Através delas, os fiéis podem ajudar a aliviar o estado das almas no purgatório, oferecendo um ato de caridade que reflete a misericórdia de Deus. Isso é especialmente evidenciado na prática de oferecer Missas em intenção dos falecidos, que é uma forma de intercessão poderosa.

 

A intercessão dos vivos não só é uma expressão de amor e solidariedade, mas também uma parte vital da doutrina católica que enriquece a compreensão do purgatório. Essa prática reforça a ligação entre a Igreja militante (os vivos) e a Igreja triunfante (os santos no Céu), mostrando que todos têm um papel na salvação e purificação das almas, em harmonia com o plano divino de redenção.

 

O Purgatório e as Indulgências

 

O que são indulgências?

As indulgências são uma expressão da misericórdia divina que a Igreja oferece aos fiéis, permitindo a remissão das penas temporais devidas pelos pecados já perdoados. Elas servem como um meio eficaz para ajudar as almas em sua purificação. O conceito de indulgência está fundamentado na crença de que, mesmo após a confissão e absolvição dos pecados, ainda podem permanecer consequências temporais que precisam ser tratadas.

 

A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições, pela ação da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos». «A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na totalidade da pena temporal devida ao pecado». «O fiel pode lucrar para si mesmo as indulgências […], ou aplicá-las aos defuntos». 10

Em essência, as indulgências são um reflexo da caridade e da comunhão entre os membros da Igreja, tanto vivos quanto mortos. Quando alguém recebe uma indulgência, não apenas é beneficiado pessoalmente, mas também pode aplicar esse benefício a almas no purgatório, ajudando-as a alcançar a plenitude da comunhão com Deus.

 

Essa prática evidencia o amor que transcende a vida terrena, mostrando que a solidariedade cristã perdura, mesmo após a morte. Portanto, as indulgências não são meramente um rito, mas uma expressão da busca pela santidade e da esperança na purificação das almas que se encontram em um estado transitório, esperando pela bem-aventurança eterna.

 

Como obter indulgências para as almas do purgatório?

O Catecismo nos ensina que:

 Por meio das indulgências, os fiéis podem obter para si próprios, e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, consequência do pecado. 11

Obter indulgências, plenárias ou parciais, é uma prática que a Igreja oferece como um meio de ajudar as almas do purgatório. As indulgências plenárias removem toda a pena temporal devida pelo pecado, enquanto as parciais reduzem essa pena em uma quantidade específica.

 

Para obter uma indulgência plenária, o fiel deve cumprir certas condições, que incluem a confissão sacramental, a recepção da Eucaristia, a oração pelo Papa e a realização da ação específica que concede a indulgência, como visitar um cemitério e rezar pelos falecidos.

 

Quando se trata de aplicar essas indulgências em sufrágio das almas do purgatório, a intenção é essencial. O fiel deve ter a intenção explícita de ajudar uma alma em purificação ao realizar a ação indulgenciada. Essa prática não só reflete um ato de caridade, mas também a comunhão dos santos na relação que se estabelece entre os vivos e aqueles que já partiram.

 

Ao obter indulgências e aplicá-las a almas no purgatório, os fiéis tornam-se co-participantes da obra de salvação, transformando suas ações em um ato de amor que ressoa na eternidade.

 

As práticas recomendadas pela Igreja para sufragar as almas do purgatório

A Igreja recomenda uma variedade de práticas espirituais que ajudam a sufragar as almas do purgatório, refletindo a caridade cristã e a solidariedade entre os vivos e os mortos. A oração, em suas diversas formas, é a mais essencial dessas práticas. Rezar por aqueles que já partiram é uma maneira de manifestar amor e compaixão, reconhecendo que essas almas, mesmo em purificação, ainda fazem parte da comunhão dos santos.

 

A celebração da Missa em intenção dos falecidos é uma das mais eficazes formas de intercessão

 

A indulgência obtém-se mediante a Igreja que, em virtude do poder de ligar e desligar que lhe foi concedido por Jesus Cristo, intervém a favor dum cristão e lhe abre o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos, para obter do Pai das misericórdias o perdão das penas temporais devidas pelos seus pecados. É assim que a Igreja não quer somente vir em ajuda deste cristão, mas também incitá-lo a obras de piedade, penitência e caridade». 12

Além da Missa, práticas como a Via-Sacra e a recitação do Rosário também oferecem indulgências que podem ser aplicadas em sufrágio das almas, permitindo que as orações dos fiéis contribuam para a purificação.

 

Outras devoções, como as novenas e a recitação de salmos, são igualmente encorajadas, pois todas elas não apenas aproximam os fiéis de Deus, mas também fortalecem o laço espiritual entre os que estão na terra e aqueles que aguardam a entrada na vida eterna.

 

Através dessas práticas, os cristãos reafirmam sua fé na comunhão dos santos, oferecendo suas ações como instrumentos de amor que possibilitam a purificação e a libertação das almas do purgatório.

 

As Almas do Purgatório

O sofrimento das almas no purgatório

O sofrimento das almas no purgatório é um tema que provoca reflexões profundas na vida espiritual dos cristãos. Segundo a doutrina da Igreja, as almas que se encontram neste estado experimentam uma purificação que é caracterizada por um sofrimento que, embora não seja eterno, é real e intenso. A natureza desse sofrimento é espiritual, envolvendo uma dolorosa consciência do apego aos pecados e à imperfeição que afastou a alma da plena comunhão com Deus.

 

Teologicamente, o sofrimento no purgatório é visto como uma consequência do amor de Deus e da busca pela santidade. Ao perceberem a santidade divina, as almas experimentam um desejo ardente de se purificarem para estarem completamente preparadas para a visão beatífica. Essa dor é, portanto, um reflexo do anseio por Deus, uma dor que é amorosa e redentora.

 

A Igreja ensina que o fogo do purgatório, embora simbólico, representa a purificação das almas, permitindo que a justiça divina se realize de maneira que as almas sejam completamente purificadas antes de entrar na presença do Criador.

 

Os Santos Padres da Igreja frequentemente comentaram sobre essa dor purificadora. Santo Agostinho mencionou que as almas dos justos que partiram deste mundo são, na verdade, aliviadas da dor e da angústia, mas precisam passar pela purificação para estarem prontas para a glória eterna. Esse sofrimento, portanto, é um testemunho do amor e da misericórdia de Deus, que deseja que todas as almas cheguem à plenitude da vida em Sua presença.

 

Assim, o sofrimento das almas no purgatório não deve ser visto como um castigo, mas como um processo necessário para a santificação. Essa compreensão é crucial para a prática de orações e indulgências em sufrágio das almas, pois reconhecemos que, mesmo em sua dor, essas almas estão em um caminho de esperança, aguardando a libertação e a promessa da vida eterna em Deus.

 

O consolo e a esperança das almas do purgatório

O purgatório é, além de um estado de purificação e sofrimento, um lugar de esperança para as almas que nele habitam. Essa esperança se fundamenta na certeza de que, após a purificação, essas almas alcançarão a visão beatífica de Deus, a plena realização da salvação prometida. Enquanto o sofrimento é real, a convicção de que a salvação final é certa proporciona um consolo incomensurável.

 

As almas em purgatório vivem com a expectativa de serem totalmente purificadas, sabendo que seu sofrimento não é em vão, mas parte do plano divino de amor e justiça. Santo Tomás de Aquino ressalta que o purgatório é um sinal da misericórdia de Deus, permitindo que aquelas almas que ainda não estão completamente puras se aproximem d’Ele. O “fogo do purgatório” é descrito como um fogo de amor que purifica e transforma, reforçando a ideia de que essa dor é parte do processo de santificação.

 

Além disso, a intercessão dos fiéis na terra é fundamental para essas almas. As orações, indulgências e boas obras realizadas em seu nome não apenas expressam a caridade dos que permanecem, mas também ajudam a acelerar sua purificação. Essa dinâmica reforça a unidade do Corpo Místico de Cristo, onde todos os membros se apoiam mutuamente, mesmo após a morte.

 

Desse modo, o purgatório é um lugar de esperança e consolo, onde as almas se preparam para a alegria eterna. Essa certeza deve encorajar os fiéis a rezarem e praticarem atos de caridade, promovendo a esperança tanto para as almas em purificação quanto para si mesmos, à medida que buscam a glória divina.

 

A comunhão dos santos e o purgatório

O conceito de comunhão dos santos é um dos pilares da fé católica, revelando a ligação entre todos os membros do Corpo Místico de Cristo: a Igreja triunfante, que já desfruta da glória divina; a Igreja militante, que ainda luta nesta terra; e a Igreja padecente, representada pelas almas no purgatório. Este último estado, muitas vezes esquecido, encontra-se profundamente entrelaçado com a comunhão dos santos, onde as almas em purificação estão ligadas aos fiéis que ainda vivem e lutam.

 

Catecismo da Igreja Católica nos ensina que:

 

Na comunhão dos santos, «existe, portanto, entre os fiéis – os que já estão na pátria celeste, os que foram admitidos à expiação do Purgatório, e os que vivem ainda peregrinos na terra – um constante laço de amor e uma abundante permuta de todos os bens» 13

Além disso, a Igreja triunfante, composta pelos santos que gozam da presença de Deus, também intercede por essas almas, oferecendo seus méritos e orações. Essa colaboração entre os membros da Igreja revela a profundidade da misericórdia divina, onde cada ato de amor contribui para a salvação de todos.

 

    Portanto, o purgatório não é apenas um estado de sofrimento, mas uma etapa essencial na comunhão dos santos. Ele nos convida a reconhecer a interdependência entre os membros da Igreja, enfatizando a importância de rezar uns pelos outros. Essa realidade deve nos inspirar a viver nossa fé com um senso renovado de comunidade, sempre atentos às almas que aguardam nossa intercessão, certos de que, no final, seremos reunidos na plenitude do amor divino.

 

Purgatório na vida e devoção dos católicos

Devoções populares pelas almas do purgatório

    A devoção pelas almas do purgatório é uma expressão fundamental da espiritualidade católica, refletindo o amor e a solidariedade dos fiéis para com aqueles que ainda necessitam de purificação. Uma das práticas mais marcantes é a oração pelos mortos, especialmente no Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro.

 

Neste dia, as comunidades se reúnem para lembrar e rezar por seus entes queridos falecidos, oferecendo Missas e orações específicas que visam aliviar o sofrimento das almas em purgação. É um momento de profunda reflexão sobre a vida e a morte, que une os vivos e os que partiram em um laço de amor e esperança.

 

Outra prática devocional popular é a devoção das “almas esquecidas”. Muitas pessoas dedicam orações e ações de caridade em favor das almas que ninguém mais se lembra, reconhecendo a importância de interceder por aqueles que não têm quem reze por eles. Essa devoção é um convite à generosidade e ao amor, lembrando que cada oração é uma oportunidade de oferecer consolo e alívio.

 

Essas práticas não apenas fortalecem a comunhão dos santos, mas também educam os fiéis sobre a importância da caridade e da intercessão, ressaltando que a vida cristã se estende para além dos limites do tempo e do espaço, unindo todos em um único corpo místico de Cristo.

 

Devemos rezar pelas almas do purgatório?

 Sim. É uma atitude de caridade e a nossa comunhão também com a Igreja padecente.  

 

O Dia de Finados

O Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, é uma data de profundo significado para os católicos, marcando um momento de lembrança e intercessão pelas almas que se encontram no purgatório. Essa observância é uma oportunidade valiosa para os fiéis refletirem sobre a realidade da morte e a esperança da vida eterna, enfatizando a importância de rezar por aqueles que já partiram.

 

Neste dia, as comunidades se reúnem para celebrar Missas, oferecendo orações especiais e sufrágios pelas almas dos falecidos. A prática de visitar cemitérios é comum, os fiéis decoram os túmulos com flores e acendem velas, simbolizando a luz da fé que brilha mesmo na escuridão da morte.

 

A intercessão pelas almas no Dia de Finados é uma forma de manifestar a crença na comunhão dos santos. Ao rezar e oferecer sacrifícios em favor das almas do purgatório, os fiéis ajudam na purificação daqueles que estão em transição para a vida eterna, garantindo que suas almas sejam acolhidas na glória de Deus. Essa devoção também nos lembra da fragilidade da vida e da importância de viver em constante preparação para a morte, alimentando a esperança do encontro com Deus e do reencontro com nossos entes queridos na eternidade.

 O Dia de Finados reforça a noção de que a morte não é um fim, mas uma passagem. A intercessão pelas almas do purgatório recorda-nos da responsabilidade cristã de cuidar dos nossos irmãos e irmãs, mesmo após a morte. Através da intercessão, fortalecemos a comunhão entre os vivos e os mortos, reconhecendo que, juntos, caminhamos rumo à vida eterna, unidos na graça de Deus. 

 

Testemunhos e experiências místicas

Os relatos de santos e místicos ao longo da história da Igreja oferecem uma perspectiva única sobre as almas do purgatório, enriquecendo nossa compreensão e devoção a esse estado de purificação.

 

    Santa Catarina de Gênova, por exemplo, descreveu o purgatório como uma experiência de intenso sofrimento. Em suas visões, ela afirmou que, ao compreender a imensidão do amor de Deus, as almas purgantes sentem tamanha dor que isso seria insuportável para um corpo mortal. Esse sofrimento, no entanto, é acompanhado pela certeza da salvação, o que torna a purificação também uma fonte de esperança.

 

Santa Faustina Kowalska, conhecida por suas revelações sobre a infinita misericórdia de Deus, registrou no oitavo dia de sua Novena da Divina Misericórdia a necessidade de rezar pelas almas do purgatório.

 

Hoje, traze-Me as almas que se encontram na prisão do purgatório e mergulha-as no abismo da Minha misericórdia. Que as torrentes do Meu Sangue refresquem o seu ardor. Todas estas almas são muito amadas por Mim. Elas pagam as dívidas à Minha justiça. Está em teu alcance trazer-lhes alívio. Tira do tesouro da Minha Igreja todas as indulgências e oferece-as por elas. Oh! se conhecesses o seu tormento, incessantemente oferecerias por elas a esmola do espírito e pagarias as suas dívidas à Minha justiça.

[…]

Do terrível ardor do fogo do purgatório

ergue-se um lamento [das almas] à Vossa misericórdia;

e recebem consolo, alívio e conforto

na torrente derramada do Sangue e da Água.

    Eterno Pai, olhai com misericórdia para as almas que sofrem no purgatório e que estão encerradas no Coração compassivo de Jesus. Suplico-Vos que, pela dolorosa Paixão de Jesus, Vosso Filho, e por toda a amargura de que estava inundada a sua Santíssima Alma, mostreis Vossa misericórdia às almas que se encontram sob o olhar da Vossa justiça. Não olheis para elas de outra forma senão através das Chagas de Jesus, Vosso Filho muito amado, porque nós cremos que a Vossa bondade e misericórdia são incomensuráveis. Amém. 

    Outro exemplo é São Padre Pio, que frequentemente rezava pelas almas do purgatório e encorajava os fiéis a fazerem o mesmo; ele dizia que as almas que não têm ninguém que reze por elas sofrem mais.

 

    Esses testemunhos não apenas ilustram a realidade do purgatório, mas também nos convidam a praticar uma espiritualidade ativa. Através da oração, da caridade e da devoção, somos chamados a unir nossas intenções e ações, fortalecendo a comunhão dos santos. 


Todos passam pelo purgatório?

    Nem todas as almas passam pelo purgatório. De acordo com a Igreja Católica, o purgatório é reservado àqueles que morrem em estado de graça, destinados ao Céu, mas que ainda precisam de purificação final para se libertarem das consequências dos pecados veniais ou da pena temporal deixada por pecados perdoados.

 

    O Catecismo da Igreja Católica explica que essas almas, embora salvas, passam por um processo de purificação 15 antes de entrarem plenamente na presença de Deus. Por isso, é um estado de esperança, pois elas estão certas da salvação, mas precisam purificar-se completamente para alcançar a santidade necessária para ver Deus face a face.

 

    Por outro lado, aqueles que morrem totalmente purificados, ou em união profunda com Deus, entram diretamente no Céu, como é o caso dos santos canonizados. Já aqueles que morrem em estado de pecado mortal e em separação de Deus não vão para o purgatório, mas se condenam eternamente pela própria escolha. Esse ensinamento da Igreja sublinha que o purgatório é uma expressão da misericórdia divina, oferecendo às almas a chance de purificar o que resta dos pecados, enquanto se prepara para a comunhão plena e eterna com Deus.

 

Quanto tempo uma alma permanece no purgatório?

    A noção de tempo no purgatório é complexa, pois, conforme ensina a Igreja, o tempo terreno não se aplica de modo direto à realidade espiritual após a morte. Para nós, o tempo é uma sequência de momentos, mas, na eternidade, o conceito é diferente. Assim, a duração da purificação no purgatório pode variar de uma alma para outra; enquanto alguns são purificados em pouco tempo, outros podem precisar de um processo mais longo, mas cujo tempo só Deus conhece; portanto, não há como medir, com precisão, quanto tempo uma alma permanece nesse estado de purificação.

 

    Antigamente, as indulgências eram descritas com uma equivalência em dias ou anos, como “100 dias de indulgência”, mas isso não se referia ao tempo exato que a alma permaneceria no purgatório. Esses números aludiam à redução da pena temporal dos pecados, comparando-a aos dias de penitência que seriam feitos na vida terrena. Era uma maneira simbólica de tornar mais compreensível para os fiéis o conceito de indulgência, aproximando-o da experiência humana de tempo.

 

    O essencial é entender que o purgatório é uma etapa temporária e que todas as almas que lá se encontram em purificação estão destinadas ao Céu, onde finalmente experimentarão a comunhão plena com Deus.

 

Por que precisamos rezar pelas almas do purgatório?

    A Igreja Católica ensina que nossas orações podem auxiliar as almas no purgatório, acelerando sua purificação e encurtando seu tempo de adiamento pleno de Deus. Esta intercessão é possível pela “comunhão dos santos”, em que os membros da Igreja militante (nós, que estamos na Terra) podem rezar e oferecer sacrifícios em favor dos membros da Igreja padecente (as almas que estão no purgatório).

 

    Essa comunhão reflete o amor de Deus por nós, como membros do Corpo de Cristo, ao permitir que os méritos espirituais de alguns possam auxiliar na purificação de outros.

 

    A prática de rezar pelos mortos tem raízes bíblicas, como em 2 Macabeus 12, 42-46, onde Judas Macabeu pede orações pelos soldados falecidos para que eles sejam perdoados por seus pecados. Além disso, as tradições da Igreja desde os primeiros séculos recomendam orações e sacrifícios pelos falecidos. Missas, indulgências, o rosário e outras orações são meios de oferecer sufrágios pelas almas.

 

    A Igreja incentiva especialmente essa prática de oração no Dia de Finados e ao longo de novembro, o mês dedicado às almas. Assim, ao rezarmos por elas, expressamos a esperança cristã de que logo alcançarão a plena união com Deus.

 

Se as almas estão salvas, por que precisam ser purificadas?

O purgatório é, antes de tudo, um estado de purificação e não um castigo eterno. Embora as almas que lá já estejam salvas e destinadas ao Céu, elas ainda precisam ser purificadas de suas imperfeições, pois, mesmo depois do perdão dos pecados, permanecem algumas consequências de “pena temporal”. Essa purificação é essencial para que uma alma se liberte totalmente de qualquer apego desordenado e de resquícios do pecado, tornando-se completamente digna de entrar na presença de Deus.

 

A Sagrada Escritura reforça essa necessidade de pureza total ao afirmar que nada de impuro entrará no Céu (Apocalipse 21, 27). O purgatório, então, é uma expressão da misericórdia divina, que concede às almas a oportunidade de alcançar a santidade completa. Nesse processo, a alma é aperfeiçoada e preparada para a união plena e eterna com Deus, como ouro que é refinado no fogo.

    O purgatório é um caminho de esperança, onde a alma se aproxima cada vez mais da santidade que Deus deseja para ela, até que você esteja pronto para a bem-aventurança eterna.

 

O que acontece com uma alma após ser purificada?

Quando uma alma termina seu processo de purificação no purgatório, ela é finalmente acolhida no Céu, na presença de Deus, onde experimenta a plenitude da vida eterna. A alma agora purificada vive em união completa com o Criador, contemplando Sua glória e beleza sem barreiras. É uma recompensa final, onde toda tristeza e imperfeição se dissolvem diante da alegria infinita de estar com Deus. Esse é o destino eterno que a Igreja ensina como a verdadeira meta da existência humana, um chamado à felicidade suprema e à plenitude de tudo o que a alma sempre buscou.

 

Além de gozar da presença divina, a alma no Céu também experimenta a comunhão com todos os anjos e santos, vivendo em harmonia com aqueles que já alcançaram a salvação. Esta é a “comunhão dos santos”, onde cada alma se alegra pela glória dos outros e todos se reúnem juntos da alegria eterna. No Céu, não há mais dor ou sofrimento, pois a alma se encontra em plena harmonia com Deus e com todos os bem-aventurados, participando do amor divino de forma completa e indizível. Esse é o destino último das almas, o cumprimento da promessa de vida eterna para aqueles que viveram em união com Deus e buscaram sua misericórdia.

 Existe sofrimento no purgatório?

Sim, há sofrimento no purgatório, mas ele é fundamentalmente diferente do sofrimento eterno do inferno. O purgatório é um lugar de purificação e esperança, onde as almas passam por um processo de “fogo purificador” (1 Coríntios 3, 15), que liberta de toda imperfeição. Esse sofrimento está ligado ao desejo ardente das almas de estar com Deus e à dor de ainda não poderem gozar plenamente da Sua presença. Entretanto, ao contrário do inferno, onde o sofrimento é marcado pela ausência de esperança, o purgatório é temporário e cheio de confiança na salvação final.

 

A imagem do fogo no purgatório não se refere necessariamente a um fogo literal, mas simboliza o processo de purificação interior. A experiência das almas é de uma dor que, embora intensa, vem acompanhada da certeza da misericórdia divina. Essa dor é comparada ao sofrimento de alguém que precisa se desapegar dos últimos resquícios de pecado antes de entrar na comunhão plena com Deus. Mesmo no meio dessa purificação, as almas sabem que serão unidas a Deus no Céu, o que traz um consolo profundo e fortalece a esperança. Assim, o sofrimento no purgatório, embora real, é transformador e conduz à paz eterna.

 

Podemos ajudar as almas no purgatório?

Sim, segundo a doutrina católica, podemos ajudar as almas no purgatório a alcançar a união com Deus mais rapidamente por meio de nossas orações, sacrifícios e obras de caridade. A Igreja ensina que a Missa oferecida por uma alma falecida é o ato de intercessão mais eficaz, pois, na Eucaristia, Cristo é oferecido ao Pai, e Suas graças infinitas são aplicadas em favor das almas. Nossa oração, em comunhão com Cristo, fortalece e consola essas almas em sua purificação, unindo-nos também à comunhão dos santos.

 

    Além das Missas, as indulgências plenárias e parciais são uma forma especial de interceder pelas almas. Essas indulgências podem reduzir ou até eliminar a pena temporal que uma alma precisa purgar. Um exemplo é a prática de visitar um cemitério e rezar pelos mortos durante a primeira semana de novembro, o que, junto com as outras práticas exigidas, concede uma indulgência plenária, aplicável às almas no purgatório.

 

    Ao praticarmos essas ações, não apenas exercemos nossa caridade, mas também vivemos a unidade do Corpo Místico de Cristo, na qual cada membro pode oferecer ajuda aos demais, especialmente aos que ainda aguardam a purificação final antes da plena comunhão com Deus.

 

O purgatório é um lugar físico?

    O purgatório, segundo a doutrina da Igreja Católica, não deve ser compreendido como um “lugar” físico no sentido tradicional, mas sim como um estado de existência ou condição espiritual. A Igreja ensina que o purgatório é um processo de purificação pelo qual as almas passam para se prepararem para a plena união com Deus no Céu. Essa compreensão enfoca a natureza espiritual da experiência no purgatório, onde as almas são purificadas de suas imperfeições antes de entrarem na presença divina. Assim, a ênfase recai sobre a transformação interior, em vez de um espaço geográfico delimitado.

 

    Embora haja especulação entre alguns teólogos sobre a possibilidade de que, após a ressurreição dos corpos no final dos tempos, a compreensão do purgatório possa ser vista em termos mais materiais, essa visão permanece no âmbito da especulação. A Igreja não fornece uma definição formal que descreva o purgatório como um local físico, mas reafirma que é um estado de purificação essencial para aqueles que já estão salvos, permitindo que finalmente alcancem a plenitude da vida eterna junto a Deus. Essa compreensão enfoca a natureza do amor de Deus, que deseja que todas as almas sejam totalmente purificadas antes de serem unidas a Ele para sempre.

 

Como explicar o purgatório a não-católicos?

    Ao abordar o conceito de purgatório com não-católicos, é essencial destacar que, embora a redenção em Cristo seja completa, as consequências dos pecados cometidos ainda podem afetar nossas almas. Os católicos acreditam que a salvação trazida por Jesus Cristo nos liberta da culpa do pecado, mas ainda restam os efeitos temporais dessa transgressão, que precisam de purificação. Portanto, o purgatório é visto como um meio pelo qual as almas que morreram em estado de graça podem ser qualificadas para a plenitude da vida eterna. É um processo de cura e renovação, no qual a misericórdia divina atua para restaurar a comunhão completa com Deus.

 

    Além disso, é útil enfatizar que o purgatório representa a infinita misericórdia de Deus, que não deseja que nenhuma alma separada dele. Essa doutrina revela um aspecto do amor divino, que oferece a todos a oportunidade de serem purificados antes de entrarem na glória eterna.

 

    Por fim, ao discutir isso com não-católicos, é importante destacar a visão católica de que Deus deseja que todos tenham uma comunhão perfeita com Ele e isso implica em um processo de purificação, uma vez que a santidade é necessária para a entrada no Céu.

 

Conclusão:

    A doutrina do purgatório é fundamental para a fé católica, pois ensina sobre a necessidade de purificação antes de entrarmos na plena presença de Deus. Ela nos lembra de que, mesmo após a morte, o amor e a misericórdia divina continuam a agir em nossas vidas.

 

    O purgatório não é um castigo, mas um estado de esperança, onde as almas são preparadas para a glória eterna. Essa crença nos convida a refletir sobre a natureza da santidade e a importância de viver uma vida que busca a proximidade com Deus, mesmo diante de nossas imperfeições. 

    Além disso, somos chamados a interceder pelas almas que estão em purgatório, oferecendo nossas orações, Missas e boas ações em sufrágio por elas. Ao rezarmos por essas almas, exercitamos a caridade e a solidariedade, unindo-nos à comunhão dos santos. Este gesto não só ajuda os que estão em purificação, mas também nos convida a refletir sobre a imensa misericórdia de Deus em nossas vidas. 

    Que possamos, assim, cultivar uma relação mais profunda com o Senhor e viver na esperança de um encontro pleno com Ele na eternidade. 


 

 

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