quarta-feira, 5 de novembro de 2025

CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS (PARTE 2) "CREIO NA RESURREIÇÃO DA CARNE E NA VIDA ETERNA"

 



(Catecismo da Igreja Católica, Artigo 2, parágrafos: 998 – 1004)

 

Professamos no Credo quem cremos na ressurreição da carne e na vida eterna.

Todos os anos celebramos o dia de finados sem ao menos meditarmos o que significa este artigo do Credo.

Os batizados que morrendo em estado de graça, por meio de Cristo lhe é concedida a graça da vida eterna. Mesmo aqueles que estão no purgatório aguardam a purificação da alma para entrar definitivamente nas núpcias do Cordeiro.

Assim explica o Catecismo:

 

O Credo cristão – profissão de nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e em sua ação criadora, salvadora e santificadora – culmina na proclamação da ressurreição dos mortos no fim dos tempos e na vida eterna.

 

[Vale lembrar que a doutrina da reencarnação não serve para o cristão. Porque doutrina espírita da reencarnação é oposta à doutrina cristã e a Sagrada Escritura. Os espíritas ensinam que o espírito sai do corpo, isto é, desencarna e volta reencarnando-se várias vezes até atingir um estado puro e quando este atinge este estado puro se transforma em espírito de luz. Para atingir tal perfeição o espírito passará por esse processo quantas vezes for necessário até conseguir seu total objetivo. Enquanto que a Palavra de Deus nos ensina que o homem morre uma só vez, depois virá o juízo e a ressurreição. Em particular, o primeiro juízo logo após a morte e sem segundo lugar o juízo final quando todos ressuscitarão e serão destinados uns para a salvação eterna, outros para a condenação eterna. Não existe meio termo.]

 

Cremos firmemente – e assim professamos – que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade:

 

“Se o Espírito daquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais, pelo Espírito que habita em vós” (Romanos8, 11).

 

O termo “carne” designa o homem em sua condição de fraqueza e de mortalidade. A “ressurreição da carne” significa que, após a morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas que também nossos “corpos mortais” (Romanos8, 11) readquirirão vida.

Crer na ressurreição dos mortos foi, desde o início, um elemento essencial da fé cristã. “Fiducia christianorum resurrectio mortuorum; ilíam credentes, sumus – A confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos cristãos”.

 

“Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento é a nossa fé. Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram”.

1Coríntios15, 12.14-20)

 

[Portanto, o cristão não pode crer e nem professar a doutrina da reencarnação; porque nossa fé está na ressurreição. Porque Cristo ressuscitou para que um dia nós também pudéssemos ressuscitar.]

 

A ressurreição de Cristo e a nossa revelação progressiva da ressurreição.  

 

A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus ao seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos foi se impondo como consequência intrínseca da fé em um Deus criador do homem por inteiro, alma e corpo. O Criador do céu e da terra é também aquele que mentem fielmente sua aliança com Abraão e sua descendência. Nesta dupla perspectiva, começará a se exprimir a fé na ressurreição. Nas provações, os mártires Macabeus confessam:

“O Rei do Universo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que moremos por suas leis (2Macabeus7, 9). É melhor para nós, entregues à morte pelos homens, esperar, da parte de Deus, que seremos ressuscitados por Ele” (2Macabeus7, 14)

 

Os fariseus e muitos outros contemporâneos do Senhor esperavam a ressurreição. Jesus a ensina com firmeza. Aos saduceus que a negavam, ele responde: “Acaso não estais errados, porque não compreendeis as Escrituras, nem o poder de Deus? (Marcos12, 14). A fé na ressurreição baseia-se na fé em Deus, que “é Deus não dos mortos, mas de vivos” (Marcos12, 27).

Mais ainda: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: “Eu sou a ressurreição e a vida” (João11, 25). É Jesus mesmo quem, no último dia, há de ressuscitar os que nele tiveram crido e que tiverem comido seu corpo e bebido seu sangue. Desde já, ele fornece um sinal de garantia disto, restituindo a vida a alguns mortos, anunciando com isso a própria ressurreição, que, no entanto, será de outra ordem. Deste acontecimento único ele fala como do ‘sinal de Jonas’, do sinal do Templo: anuncia sua ressurreição, quer ocorrerá no terceiro dia depois de ser entregue à morte.

Ser testemunha de Cristo é ser “testemunha de sua ressurreição” (Atos1, 22), “nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos” (Atos10, 41). A esperança cristã na ressurreição está toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Ressuscitaremos com ele, por ele.

Desde o início, a fé cristã na ressurreição deparou com inúmeras compreensões e oposições. Em nenhum ponto da fé cristã se depara mais com mais contradição do que em torno da ressurreição da carne. Aceita-se muito comumente que, depois da morte, a vida da pessoa humana prossegue de modo espiritual. Como, porém, crer que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para vida eterna?

 

De que maneira os mortos ressuscitam?

 

O que é ressuscitar? Na morte, que é a separação da alma do corpo, o homem cai na corrupção, ao passo que sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida a seu corpo glorificado. Deus, em sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os as nossas almas, pela virtude da ressurreição de Jesus.

Quem ressuscitará? Todos os homens que morreram: “Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para a condenação” (João 5, 29).

De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo – “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” (Lucas24, 39).

Ele, porém, voltou à vida terrestre. Da mesma maneira, nele “todos ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora”; porém este corpo será “transfigurado em corpo de glória”, em corpo espiritual” (1Corínmtios 14, 44).

 

“Mas, dirá alguém, em que forma é que os mortos vão ressuscitar? Com qual corpo voltarão? Insensato! Aquilo que semeias morre primeiro e só depois é vivificado; e o que semeais não é a planta já desenvolvida – como será mais tarde – mas um simples grão digamos, de trigo ou de qualquer outro cereal [...]. Coisa semelhante acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível [...]. É preciso que este ser corruptível se vista de incorruptibilidade e este ser mortal se vista de imortalidade” (1Coríntios15, 35-37.42.52-53).

 

Este “como” ultrapassa nossa imaginação e nosso entendimento, sendo acessível somente na fé. Nossa participação na Eucaristia, no entanto, já nos dá um antegozo da transfiguração de nosso corpo por Cristo:

 

“Assim como o pão, fruto da terra, depois de ser recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum, mas Eucaristia, constituída por duas realidades, uma terrestre e outra celeste, da mesma forma nossos corpos que participam da Eucaristia não são mais corruptíveis, pois têm a esperança da ressurreição”.

 

Quando? Definitivamente “no último dia” (João6, 39-40.44-54), “no fim do mundo”. Com efeito, a ressureição dos mortos está intimamente associada à Parusia, isto, é a segunda vinda de Cristo:

 

“Pois o Senhor mesmo, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do céu. E então ressuscitarão, em primeiro lugar” (1Tessaloniossenses 4, 16).

 

Ressuscitado com Cristo

Se é verdade que Cristo nos ressuscitará no “último dia”, também é verdade que, de certo modo, já ressuscitamos com Cristo, graças ao Espírito Santo, a vida cristã é, já na terra uma participação na morte e ressurreição de Cristo:

“No Batismo, fostes sepultados com ele, com ele também fostes ressuscitados, pela fé na força de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. [...] Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus”. (Colossenses2, 12; 3,1)

Unidos a Cristo pelo Batismo, os crentes, já participam realmente da vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece “escondida com Cristo em Deus” (Colossenses3,3). “Ele nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez sentar nos céus, em seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos “manifestados com Ele, cheios de glória”. (Colossenses3, 4)

Enquanto aguardam esse dia, o corpo e alma do crente participam desde já da dignidade de ser “de Cristo”; daí a exigência do respeito para com seu próprio corpo, mas também para com o de outrem, particularmente quando este sofre.

 

“O corpo não é para a prostituição, ele é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo; Deus, que ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará também a nós, pelo seu poder. Acaso ignorais que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e que recebestes de Deus? [...] Não pertenceis a vós mesmos. [...] Então, glorificai a Deus no vosso corpo”. (1Coríntios6,5.19-20)  

 

        

 

 

NOTA DOUTRINAL "MATER PUPULI FIDELIS" (1)

 

DICASTERIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

 

“Mãe Fiel do Povo”

 


Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos

referindo-se à cooperação de Maria na obra da salvação

 

Apresentação:

Esta Nota responde a inúmeras perguntas e propostas recebidas pela Santa Sé nas últimas décadas — particularmente por este Dicastério — referentes à devoção mariana e a certos títulos marianos. Essas são questões que preocuparam os Papas recentes e que foram abordadas repetidamente ao longo dos últimos trinta anos nos diversos fóruns de estudo do Dicastério, como Congressos, Assembleias Ordinárias, etc. Isso proporcionou ao Dicastério uma vasta gama de material para fundamentar esta reflexão.

 

O texto, ao esclarecer a natureza aceitável ou inaceitável de certos títulos e expressões referentes a Maria, visa aprofundar os fundamentos da devoção mariana, especificando o lugar de Maria em sua relação com os fiéis, à luz do Mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isso implica uma profunda fidelidade à identidade católica e, ao mesmo tempo, um esforço ecumênico particular.

 

O tema central que permeia todas estas páginas é a maternidade de Maria em relação aos crentes , uma questão que surge repetidamente, com afirmações que são retomadas diversas vezes, enriquecendo-as e completando-as, em espiral, com novas considerações.

 

A devoção mariana, inspirada pela maternidade de Maria, é aqui apresentada como um tesouro da Igreja. A piedade do povo fiel de Deus, que encontra refúgio, força, ternura e esperança em Maria, não é vista como algo a ser corrigido, mas sobretudo a ser valorizado, admirado e encorajado; visto que é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude evangélica de confiança no Senhor, que o próprio Espírito Santo desperta livremente nos crentes. De fato, os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”. [1]

 

Ao mesmo tempo, existem alguns grupos de reflexão mariana, publicações, novas devoções e até petições por dogmas marianos que não compartilham as mesmas características da devoção popular. Em vez disso, propõem um desenvolvimento dogmático específico e são expressos intensamente nas redes sociais, frequentemente suscitando dúvidas entre os fiéis mais simples. Por vezes, tratam-se de reinterpretações de expressões usadas no passado com diversos significados. Este documento leva em consideração essas propostas para indicar em que sentido algumas correspondem a uma genuína devoção mariana inspirada no Evangelho e em que sentido outras devem ser evitadas por não promoverem uma contemplação adequada da harmonia da mensagem cristã como um todo.

 

Além disso, diversas passagens desta Nota oferecem uma análise bíblica aprofundada que ajuda a demonstrar como a autêntica devoção mariana se manifesta não apenas na rica Tradição da Igreja, mas também nas Sagradas Escrituras. Essa forte influência bíblica é complementada por textos dos Padres e Doutores da Igreja e de Papas recentes. Assim, em vez de propor limitações, a Nota busca acompanhar e sustentar o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

[1] Conselho Episcopal Latino-Americano, V Conferência Geral dos Bispos Latino-Americanos e Caribenhos (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265. Citado no n. 78 desta Nota .

 

Introdução

 

1. [ Mater Populi fidelis ] A Mãe do Povo Fiel[1] é contemplada com afeto e admiração pelos cristãos porque, se a graça nos torna semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita de sua ação que transforma nossa humanidade. Ela é a manifestação feminina de tudo o que a graça de Cristo pode realizar em um ser humano. Diante de tamanha beleza, movidos pelo amor, muitos fiéis sempre buscaram se referir à Mãe com as mais belas palavras e exaltaram o lugar especial que ela ocupa ao lado de Cristo.

 

2. Recentemente, este Dicastério publicou as Normas para Proceder no Discernimento de Alegados Fenômenos Sobrenaturais. [2] É comum que certos títulos[3] e expressões referentes à Virgem Maria sejam usados ​​em conexão com tais fenômenos. Esses títulos, alguns dos quais já aparecem nos escritos dos Padres da Igreja, nem sempre são usados ​​com precisão; às vezes seu significado é alterado ou podem ser mal interpretados. Além dos problemas terminológicos, alguns títulos apresentam dificuldades significativas quanto ao seu conteúdo porque, frequentemente, há uma incompreensão da figura de Maria que tem sérias repercussões nos níveis cristológico[4], eclesiológico[5] e antropológico.[6]

 

3. O principal problema na interpretação destes títulos aplicados à Virgem Maria é como entender a associação de Maria na obra redentora de Cristo, isto é, “qual é o significado da cooperação única de Maria no plano de salvação?”[7] Este documento, sem pretender esgotar a reflexão ou ser exaustivo, procura preservar o equilíbrio necessário que, dentro dos mistérios cristãos, deve ser estabelecido entre a mediação única de Cristo e a cooperação de Maria na obra de salvação, e pretende também mostrar como isto se expressa em vários títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da salvação.

 

4. Tradicionalmente, a cooperação de Maria na obra da salvação tem sido abordada sob duas perspectivas: sua participação na Redenção objetiva realizada por Cristo durante sua vida e, particularmente, na Páscoa, e a influência que ela exerce atualmente sobre aqueles que foram redimidos. Na realidade, essas questões estão inter-relacionadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvífica de Cristo é atestada nas Escrituras, que apresentam o evento salvador realizado em Jesus Cristo como uma promessa no Antigo Testamento e como um cumprimento no Novo Testamento. Assim, Maria é prefigurada em Gênesis 3:15 porque ela é a Mulher que participa da vitória final sobre a serpente. Portanto, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria como "Mulher" no Calvário ( João 19:26). Da mesma forma, em Caná, Jesus a chama de "Mulher" ( João 2:4), referindo-se ao papel de Maria, ao lado Dele, na "Hora" da cruz.

 

6. Ali, na “Hora”, a cooperação de Maria se manifesta, quando ela novamente diz o “sim” da Anunciação, e nesse momento sagrado, o Evangelho passa de colocar a palavra “Mulher” nos lábios de Jesus (Jo 19,26) para apresentá-la como “Mãe” ( Jo 19,27). Quando o Evangelho explica que, em resposta, o discípulo que nos representa a todos a acolheu, usa um verbo ( lambano ) que no Evangelho assume o significado de “acolher” na fé (cf. Jo 1,11-12; 5,43 e 13,20). É o mesmo verbo que o quarto Evangelho usa para expressar que a Luz veio aos seus e eles não a “acolheram” ( Jo 1,11). Ou seja, o discípulo que estava em nosso lugar ao lado de Maria a acolheu como sua mãe na fé. Somente depois de nos confiar Maria como nossa mãe é que Jesus reconhecerá que “já estava consumado” ( Jo 19,28). Essa alusão solene à plenitude nos impede de interpretar o episódio superficialmente. A maternidade de Maria em relação a nós faz parte do cumprimento do plano divino que se realiza na Páscoa de Cristo. De maneira semelhante, o livro do Apocalipse apresenta a “Mulher” ( Ap 12,1) como a mãe do Messias (cf. Ap 12,5) e como a mãe dos “outros filhos” ( Ap 12,17).

 

7. Vale lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada”[8] dos eventos da infância de Jesus[9] que aparecem nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas aconselha os seus leitores: “Visto que muitos se dedicaram a elaborar um relato dos acontecimentos que se cumpriram entre nós, tal como nos transmitiram aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares”, também ele resolveu “investigar cuidadosamente tudo desde o princípio” ( Lc 1,1-3). Entre essas testemunhas oculares, Maria destaca-se como participante direta na concepção, no nascimento e na infância do Senhor Jesus. O mesmo se pode dizer dos relatos da Paixão, uma vez que a sua mãe estava “perto da cruz de Jesus” ( Jo 19,25) e aguardava o Pentecostes, quando os apóstolos estavam “em oração, com algumas mulheres e com Maria, mãe de Jesus” ( At 1,14).

 

8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova Filha de Sião que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas ecoa as promessas proféticas que prenunciaram a alegria messiânica (cf. Sofonias 3,14-17; Zacarias 9,9). Nela se cumprem as promessas que fizeram João Batista exultar de alegria (cf. Lucas 1,41). Isabel se apresenta como indigna de receber a visita de Maria: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” ( Lc 1,43). Isabel não diz: “Quem sou eu para que o meu Senhor venha me visitar?”. Ela se refere diretamente à mãe , revelando assim a ligação indissociável entre a missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lucas 1,41), de modo que sua atitude para com Maria é apresentada como um modelo de fé. As palavras seguintes que ela profere, movida pelo Espírito, são: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!” ( Lc 1,42). É notável que, sob a influência do Espírito, não basta chamar Jesus de “bem-aventurado”, mas também chama sua mãe de “bem-aventurada”. Ele os contempla intimamente unidos neste momento de alegria messiânica. Maria aparece aqui como a “Bem-aventurada” por excelência: “Bem-aventurada aquela que acreditou” ( Lc 1,45); “o meu espírito exulta” ( Lc 1,47); “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). Isso adquire maior significado quando consideramos que, no Evangelho de Lucas, essa felicidade não aparece como um estado de espírito, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nas crianças (cf. Lc 6,20-22), que têm uma grande recompensa no céu (cf. Lc 6,23).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Padres da Igreja preocupavam-se principalmente com a maternidade divina de Maria ( Theotokos ), sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), sua santidade perfeita, livre de pecado ao longo de sua vida ( Panagia ), e seu papel como a nova Eva,[10] centrando sua reflexão na associação de Maria com a Redenção de Cristo no mistério da Encarnação. O "sim" de Maria à saudação do Arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se fizesse carne em seu ventre (cf. Lc 1,26-37), dá à humanidade a possibilidade de ser divinizada. Por essa razão, Santo Agostinho chama a Virgem de "cooperadora" na Redenção, enfatizando tanto a ação de Maria ao lado de Cristo quanto sua subordinação a Ele, porque Maria coopera com Cristo para que "os fiéis possam nascer na Igreja",[11] e, portanto, podemos chamá-la de Mãe do Povo Fiel .

 

10. Durante o primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja estava enraizada na liturgia. A grande e rica diversidade de tradições litúrgicas no Oriente cristão buscava ser um eco fiel das Sagradas Escrituras, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi , que se tornou lex credendi , moldou a Mariologia Oriental por meio da hinografia, da iconografia e da piedade popular.[12] Por exemplo, as festas marianas foram estabelecidas no Oriente a partir do século V, difundindo-se posteriormente para o Ocidente no século VII. A participação da Mãe de Deus na obra da salvação é comemorada não apenas nas anáforas e liturgias eucarísticas das Igrejas Orientais, mas, sobretudo, por meio dos textos dos hinos utilizados nas Horas Canônicas, presentes nas diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. A hinografia está repleta de composições dedicadas a Maria com alegorias bíblicas[13], que permitiram uma compreensão mais profunda do mistério fundamental da Encarnação e do seu significado para a Redenção em Cristo, numa linguagem repleta de simbolismo poético capaz de expressar o temor e a admiração daqueles que, sendo da mesma linhagem de Maria, contemplam as maravilhas que o Todo-Poderoso realizou nela.[14]

 

11. Os ensinamentos dos primeiros concílios ecumênicos começaram a delinear o dogma de Maria, Mãe de Deus, posteriormente proclamado no Concílio de Éfeso. O cristianismo oriental sempre defendeu doutrinariamente os dogmas definidos por esses primeiros concílios, pelo menos nas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, incorporou às suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas as narrativas e lendas marianas populares relacionadas à infância e morte de Jesus. Essas narrativas buscam nutrir a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo das imagens poéticas, que não têm outro objetivo senão despertar a admiração. Essa veneração da Mãe de Deus também se manifesta por meio da iconografia, que oferece uma imagem visual de Maria e do Verbo Encarnado. É significativo que a iconografia tradicional dessas Igrejas, ligada aos Concílios de Éfeso e Calcedônia, represente predominantemente Maria como "Theotokos" [15], e tenha sido criada para retratar a Virgem-Mãe apresentando seu Filho, o menino Jesus, ao mundo e o abraçando, enquanto intercede pela humanidade diante dele. Assim, a iconografia mariana oriental, como um querigma e uma vívida lembrança visual da teologia dos primeiros concílios e dos Padres da Igreja, visa ser uma tradução visual dos títulos específicos aplicados à Virgem. [16] Por essa razão, os ícones devem ser "lidos" no contexto da liturgia e dos hinos. Maria não é o objeto de um culto colocado ao lado de Cristo, mas sim inserida no mistério de Cristo por meio da Encarnação. [17] Ela é o ícone no qual o próprio Cristo é venerado. Ela é a Theotokos , a Virgem Mãe que apresenta seu filho Jesus, o Cristo, e é, ao mesmo tempo, a Odēgētria que mostra, apontando com a mão, o único Caminho que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental[18] concentrou sua atenção na relação entre a Virgem Maria e o mistério da Redenção sangrenta no Calvário, ligando a imagem da espada de Simeão à cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da cruz era entendida como um sinal de força cristã, repleta de amor materno. São Bernardo fala da cooperação de Nossa Senhora no sacrifício redentor em um comentário sobre a Apresentação de Jesus no Templo.[19] Arnoldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval (falecido após 1159), foi o primeiro a considerar a cooperação de Maria com o sacrifício no Calvário ao lado de seu Filho, Jesus Cristo.[20]

 

13. A cooperação da Mãe com o Filho na obra da salvação foi explicada pelo Magistério da Igreja.[21] Como afirma o Concílio Vaticano II, “Os Santos Padres acreditam corretamente que Deus não usou Maria como um instrumento puramente passivo, mas que ela colaborou pela sua fé livre e obediência na salvação dos homens.” [22] Esta associação da Virgem está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e ressurreição) como no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição destaca a primazia e a singularidade de Cristo na Redenção, porque mesmo a primeira redimida é redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer possibilidade de sua própria ação.[23] Desta condição especial de ser “primeiramente redimida” por Cristo, “primeiramente transformada” pelo Espírito Santo, Maria é capaz de cooperar mais intensa e profundamente com Cristo e com o Espírito, tornando-se um protótipo[24], modelo e exemplo do que Deus quer realizar em cada redimido.[25]

 

15. A colaboração de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, porque é fruto de uma iniciativa do Pai, que olhou para a humildade do seu Servo (cf. Lc 1,48); brota da kenosis do Filho, que se humilhou assumindo a forma de Servo (cf. Fl 2,7-8); e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que dispôs o coração da jovem de Nazaré a responder na Anunciação e ao longo da sua vida de comunhão com o Filho. São Paulo VI ensinou que “na Virgem Maria tudo se refere a Cristo e tudo depende dele: por meio dele, Deus Pai a escolheu desde toda a eternidade como sua Mãe santíssima e a adornou com dons do Espírito Santo que não foram concedidos a mais ninguém”.[26] O “sim” de Maria não é uma mera condição prévia para algo que poderia ter sido realizado sem o seu consentimento e colaboração. A sua maternidade não é meramente biológica e passiva,[27] mas uma maternidade “plenamente ativa ”[28] que se une ao mistério salvífico de Cristo como instrumento desejado pelo Pai no seu plano de salvação. Ela “é a garantia de que Ele, como ‘nascido de mulher’ ( Gl 4:4), é autenticamente homem, mas ela é também, desde a proclamação do dogma niceno, a Theotokos , aquela que dá à luz a Deus”.[29]

 

Títulos que fazem referência à cooperação de Maria na salvação.

 

16. Entre os títulos pelos quais Maria tem sido invocada (Mãe da Misericórdia, Esperança dos pobres, Auxílio dos cristãos, Socorro, Advogada, etc.), há alguns que se referem, em maior medida, à sua cooperação na obra redentora de Cristo, como Corredentora e Medianeira.

 

Corredentora

17. O título de Corredentora surge no século XV como uma correção à invocação de Redentora (abreviação de Mãe do Redentor) que Maria vinha recebendo desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um papel aos pés da cruz, dando origem ao título de Corredentora , que aparece pela primeira vez em um hino anônimo do século XV de Salzburgo.[30] Embora a designação de Redentora tenha sido mantida durante os séculos XVI e XVII, desapareceu completamente no século XVIII, sendo substituída por Corredentora . A pesquisa teológica sobre a cooperação de Maria na Redenção durante a primeira metade do século XX levou a uma compreensão mais profunda do significado do título de Corredentora. [31]

 

18. Alguns Papas usaram este título sem se deterem muito na sua explicação.[32] Geralmente, apresentaram-no de duas maneiras precisas: em relação à maternidade divina, na medida em que Maria, como mãe, tornou possível a Redenção realizada em Cristo,[33] ou em referência à sua união com Cristo aos pés da cruz redentora.[34] O Concílio Vaticano II evitou usar o título de Corredentora por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II usou-o, pelo menos sete vezes, relacionando-o especialmente ao valor salvífico do nosso sofrimento oferecido ao lado do de Cristo, ao qual Maria está unida sobretudo na cruz.[35]

 

19. Na Feria IV, em 21 de fevereiro de 1996, o Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, ao ser questionado sobre a aceitabilidade do pedido do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici por uma definição do dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as graças, respondeu em seu voto dissidente: “Negativo. O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles contida não é madura. Uma doutrina definida da fé divina pertence ao depósito da fé, isto é, à revelação divina transmitida nas Escrituras e na tradição apostólica. No entanto, não está claro como a doutrina expressa nos títulos está presente nas Escrituras e na tradição apostólica.”[36] Mais tarde, em 2002, ele expressou publicamente sua oposição ao uso desse título: “A fórmula ‘Corredentora’ desvia-se muito da linguagem das Escrituras e dos Padres da Igreja e, portanto, causa mal-entendidos… Tudo vem Dele, como as Epístolas aos Apóstolos e aos Apóstolos.” as Efésios e Colossenses, em especial, afirmam: Maria é o que é graças a Ele. A palavra “Corredentora” obscureceria essa origem.” O Cardeal Ratzinger não negou que havia boas intenções e aspectos valiosos no uso proposto deste título, mas sustentou que era “um nome impróprio”.[37]

 

20. O então Cardeal referia-se às Epístolas aos Efésios e Colossenses, onde o vocabulário utilizado e o dinamismo teológico dos hinos apresentam tão claramente a singular centralidade redentora e a fonte do Filho encarnado que a possibilidade de acrescentar outras mediações é excluída, porque “toda bênção espiritual” nos é concedida “em Cristo” ( Ef 1,3), porque somos filhos adotivos por meio dele (cf. Ef 1,5) e nele fomos agraciados (cf. Ef 1,6), “pelo seu sangue temos a redenção” ( Ef 1,7) e ele “derramou abundantemente a sua graça sobre nós” ( Ef 1,8). Nele “ também herdamos” ( Ef 1,11) e fomos predestinados. E Deus quis que nele “habitasse toda a plenitude” ( Cl 1,19) e “por meio dele e para ele aprouve reconciliar todas as coisas” ( Cl 1,20). Tal elogio, referente ao lugar único de Cristo, nos convida a colocar qualquer criatura em uma posição claramente receptiva e a exercer uma cautela religiosa e delicada ao considerarmos qualquer forma de possível cooperação na área da Redenção.

 

21. O Papa Francisco expressou, pelo menos três vezes, a sua clara oposição à utilização do título Corredentora , argumentando que Maria “ nunca quis tirar nada do seu Filho. Ela nunca se apresentou como corredentora. Não, como discípula .”[38] A obra da redenção foi perfeita e não precisa de mais nada. Portanto, “Nossa Senhora não quis tirar nenhum título de Jesus […]. Ela não pediu para ser uma quase-redentora ou uma corredentora: não. O Redentor é um só, e este título não se duplica.”[39] Cristo “é o único Redentor: não há corredentoras com Cristo”[40], porque “o sacrifício da cruz, oferecido com um coração amoroso e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita.”[41] Embora possamos prolongar os seus efeitos no mundo (cf. Col 1,24), nem a Igreja nem Maria podem substituir ou aperfeiçoar a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que foi perfeita e não precisa de acréscimos.

 

22. Dada a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, o uso do título Corredentora para definir a cooperação de Maria é sempre inadequado. Este título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã, porque "não há salvação em nenhum outro, pois não há nenhum outro nome debaixo do céu, dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos" ( Atos 4:12). Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações para evitar que se desvie do seu significado correto, ela não serve à fé do Povo de Deus e torna-se inadequada . Neste caso, não contribui para exaltar Maria como a primeira e principal colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem para a nossa salvação, o único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra para a Mãe. Na verdade, ela, como "escrava do Senhor" ( Lc 1,38), aponta para Cristo e nos pede para fazermos "tudo o que ele nos disser" ( Jo 2,5).

 

Mediadora

 

23. O conceito de mediação foi utilizado na patrística oriental a partir do século VI. Nos séculos posteriores, Santo André de Creta,[42] São Germano de Constantinopla,[43] e São João Damasceno,[44] utilizaram este título com significados diferentes. No Ocidente, o seu uso tornou-se mais frequente a partir do século XII, embora só no século XVII tenha sido declarado como uma tese doutrinal. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Mechelen, com a colaboração académica da Universidade Católica de Lovaina e o apoio de bispos, clérigos e do povo belga, solicitou ao Papa Bento XV uma definição dogmática da mediação universal de Maria, mas o Papa não concordou. Aprovou apenas uma festa com a sua própria Missa e Ofício de Maria Medianeira.[45] De então até 1950, desenvolveu-se a investigação teológica sobre a questão, culminando na fase preparatória do Concílio Vaticano II. O Concílio não entrou em declarações dogmáticas[46], mas preferiu apresentar uma síntese extensa "da doutrina católica sobre o lugar que a Bem-Aventurada Virgem Maria ocupa no mistério de Cristo e da Igreja".[47]

 

24. A afirmação bíblica sobre a mediação exclusiva de Cristo é inequívoca. Cristo é o único Mediador, “pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos” ( 1 Tm 2,5-6). A Igreja explicou o papel único de Cristo porque, como Filho eterno e infinito, a humanidade que Ele assumiu está hipostaticamente unida a Ele. Esse papel pertence exclusivamente a essa humanidade, e as consequências que dele decorrem só podem ser aplicadas a Cristo. Nesse sentido preciso, o papel do Verbo Encarnado é exclusivo e único. Diante de tamanha clareza na Palavra revelada, exige-se especial prudência ao aplicar a expressão “Mediadora” a Maria. Perante a tendência de ampliar o alcance da cooperação de Maria com base nesse termo, é importante esclarecer tanto seu valioso alcance quanto suas limitações.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar o uso muito comum da palavra “mediação” nas mais variadas esferas da vida social, onde é entendida simplesmente como cooperação, ajuda ou intercessão. Consequentemente, é inevitável que seja aplicada a Maria num sentido subordinado e que de modo algum pretenda acrescentar eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Além disso, é evidente que Maria desempenhou um papel real em tornar possível a verdadeira Encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, pois era necessário que o Redentor “nascesse de mulher” ( Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que esta não foi meramente uma mediação biológica, uma vez que destaca a presença ativa de Maria ao pedir (cf. Lc 1,29.34) e aceitar com uma firme decisão: “ Faça-se ” ( Lc 1,38). Esta resposta de Maria abriu as portas da Redenção que toda a humanidade aguardava e que os santos descreveram com drama poético.[48] Nas bodas de Caná, Maria também desempenha um papel mediador ao apresentar a Jesus as necessidades dos noivos (cf. Jo 2,3) e ao pedir aos servos que sigam as instruções de Jesus (cf. Jo 2,5).

 

27. A terminologia da mediação no Concílio Vaticano II refere-se principalmente a Cristo e, por vezes, também a Maria, mas de forma claramente subordinada.[49] De facto, para ela, preferia-se outra terminologia centrada na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria, com expressões como “ intercessão múltipla” e “proteção materna”.[52] Estes dois aspetos, em conjunto, constituem a natureza específica da cooperação de Maria na ação de Cristo através do Espírito. A rigor, não podemos falar de qualquer mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.[53] Por isso é necessário lembrar sempre, e não obscurecer, a convicção cristã de que « a proclamação de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que no seu evento de encarnação, morte e ressurreição levou à plenitude a história da salvação, que tem nele a sua plenitude e o seu centro», deve ser firmemente acreditada como um facto perene da fé da Igreja.[54]

 

Maria na mediação única de Cristo

 

28. Ao mesmo tempo, precisamos lembrar que a singularidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, ou seja, Cristo possibilita diversas formas de participação no cumprimento de seu plano salvífico porque, em comunhão com ele, todos podemos ser, de alguma forma, cooperadores com Deus, “mediadores” uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). Precisamente porque Cristo tem poder infinitamente supremo, ele pode capacitar seus irmãos e irmãs a serem capazes de uma cooperação genuína na realização de seus desígnios. O Concílio Vaticano II afirmou que “a mediação única do Redentor não exclui, mas antes dá origem, nas criaturas, a uma cooperação diversa que partilha da mesma fonte”.[55] Por conseguinte, “o conteúdo desta mediação partilhada deve ser explorado com maior profundidade, sempre sob a norma do princípio da mediação única de Cristo”.[56] É verdade que a Igreja prolonga no tempo e comunica em todo o lado os efeitos do evento pascal de Cristo[57] e que Maria tem um lugar único no coração da Mãe Igreja.[58]

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se evidente quando partimos da convicção de que o Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes a colaborarem com Ele em Sua obra. Isso não ocorre por qualquer fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte de Cristo, mas precisamente por causa de Seu glorioso poder, que é capaz de nos aceitar generosa e livremente como colaboradores em Sua obra. O que deve ser enfatizado neste caso é precisamente isto: quando Ele nos permite acompanhá-Lo e, sob o impulso de Sua graça, dar o melhor de nós mesmos, é o Seu próprio poder e misericórdia que são, em última análise, glorificados.

 

Frutíferos na glória de Cristo

 

30. Particularmente esclarecedor é o texto: “Quem crê em mim fará também as obras que eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( Jo 14,12). Os crentes, unidos a Cristo ressuscitado, que retornou ao seio do Pai, podem realizar obras que superam as maravilhas do Jesus terreno, mas sempre graças à sua união com o Cristo glorioso pela fé. Isso se manifestou, por exemplo, na admirável expansão da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado fez da sua Igreja participante desta sua obra (cf. Mc 16,15). Desta forma, a sua glória não foi diminuída, mas antes manifestada ainda mais, mostrando-se como um poder capaz de transformar os crentes, tornando-os fecundos juntamente com Ele.

 

31. Nos Padres da Igreja, essa ideia encontrou uma expressão singular no comentário sobre João 7:37-39, pois alguns interpretaram a promessa dos "rios de água viva" como referente aos crentes. Ou seja, os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em João 7:38 porque faz fluir de nós rios de água: "a alma humana, que é à imagem de Deus, pode conter em si mesma e produzir de si mesma fontes, nascentes e rios".[59] Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo "para que a fonte de água que jorra para a vida eterna abunde em vós".[60] São Tomás de Aquino expressou isso afirmando que, se um crente "se apressa em comunicar aos outros os diversos dons da graça que recebeu de Deus, água viva flui de seu coração".[61]

 

32. Se isso é verdade para cada crente, cuja cooperação com Cristo se torna cada vez mais frutífera quanto mais se deixa transformar pela graça, deve-se afirmar com ainda maior razão em relação a Maria, de modo único e supremo. Ela é a “cheia de graça” ( Lc 1,28) que, sem impedir a obra de Deus, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da graça, que permaneceu firme aos pés da cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo ao lado de seu Filho, oferecendo a dor de seu coração materno transpassado pela espada (cf. Lc 2,35). Ela esteve unida a Cristo desde a Encarnação até a cruz e a Ressurreição de um modo exclusivo e superior a tudo o que qualquer outro crente possa experimentar.

 

33. Tudo isso não por seus próprios méritos, mas porque os méritos de Cristo na cruz foram plenamente aplicados a ela de uma maneira única e antecipada, para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Ela é, em última análise, um hino à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento de sua beleza aponta imediatamente para a glorificação da fonte de todo o bem: a Trindade. A incomparável grandeza de Maria reside no que ela recebeu e em sua confiante disposição de ser preenchida pelo Espírito. Quando tentamos atribuir a ela funções ativas paralelas às de Cristo, nos afastamos daquela incomparável beleza que é especificamente dela. A expressão "mediação participativa" pode expressar um sentido preciso e valioso do lugar de Maria, mas, se mal compreendida, pode facilmente obscurecê-lo e até mesmo contradizê-lo. A mediação de Cristo, que em alguns aspectos pode ser "inclusiva" ou participativa, em outros aspectos é exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos crentes

 

34. No caso de Maria, esta mediação ocorre de modo materno [63], tal como fez em Caná [64] e como foi confirmado na cruz. [65] O Papa Francisco explicou-o desta forma: “Ela é a Mãe. E este é o título que recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da cruz (cf. Jo 19,25-27). Vossos filhos, tu és Mãe. […] Ela recebeu o dom de ser a Mãe dele e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe.” [66]

 

35. O título de Mãe tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e nos Padres da Igreja, é proposto pelo Magistério, e sua formulação progrediu até a exposição do Concílio Vaticano II[67] e a expressão " maternidade espiritual" na encíclica Redemptoris Mater. [68] Esta maternidade espiritual de Maria brota de sua maternidade física do Filho de Deus. Ao dar à luz fisicamente a Cristo, por meio de sua aceitação livre e crente desta missão, a Virgem deu à luz na fé todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo, isto é, ela deu à luz o Cristo inteiro , cabeça e membros.[69]

 

36. A participação da Virgem Maria, como Mãe, na vida de seu Filho, desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição, confere um caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora de Cristo, especialmente para a Igreja, “quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; na invocação confiante, quando experimenta a intercessão de seu Advogado e Auxiliador”.[70] Este aspecto materno é o que caracteriza a relação da Virgem com Cristo e sua colaboração em cada momento da obra de salvação. Em sua missão como Mãe, Maria tem uma relação singular com o Redentor e também com aqueles que foram redimidos, dos quais ela mesma é a primeira. “Maria é o tipo (modelo) da Igreja e do novo nascimento que há de acontecer nela”, mas ainda mais, ela é o símbolo e “compêndio desta mesma Igreja”.[71] É uma maternidade que nasce da doação total de si mesma e do chamado para se tornar serva do mistério.[72] Nessa maternidade de Maria está sintetizado tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria em toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui certas características:

 

a) Ela encontra seu fundamento no fato de ela ser a Mãe de Deus e se estende à sua maternidade para com os discípulos de Cristo[73] e até mesmo para com todos os seres humanos.[74] Nesse sentido, a cooperação de Maria é única e distinta da cooperação de “outras criaturas”.[75] Sua intercessão tem uma característica que não é a de uma mediação sacerdotal, como a de Cristo, mas se situa na ordem e analogia da maternidade.[76] Ao associar a intercessão de Maria à sua obra, os dons que nos chegam do Senhor são apresentados a nós com um aspecto materno, repletos da ternura e proximidade da Mãe[77] que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,27).

 

(b) A cooperação materna de Maria está em Cristo e, portanto, é participativa, isto é , “como uma participação nesta única fonte que é a mediação do próprio Cristo”.[78] Maria entra de modo completamente pessoal na única mediação de Cristo.[79] O papel materno de Maria “de modo algum diminui ou lança sombra sobre a única mediação de Cristo, mas antes manifesta a sua eficácia. De facto, toda a influência da Bem-Aventurada Virgem na salvação dos homens” provém da “superabundância dos méritos de Cristo, baseia-se na sua mediação, depende inteiramente dela e dela retira toda a sua eficácia”. [80] Na sua maternidade, Maria não é um obstáculo colocado entre os seres humanos e Cristo ; pelo contrário, o seu papel materno está indissoluvelmente unido ao de Cristo e dirigido para Ele. Assim entendida, a maternidade de Maria não procura enfraquecer a única adoração devida somente a Cristo, mas antes encorajá-la.[81] Portanto, títulos e expressões referentes a Maria que a apresentem como uma espécie de “para-raios” contra a justiça do Senhor devem ser evitados, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus. O Concílio Vaticano II reafirmou como deve ser a veneração de Maria: “uma veneração dirigida ao centro cristológico da fé cristã, para que ‘enquanto a Mãe é honrada, o Filho seja devidamente conhecido, amado e glorificado’”.[82] Em suma, a maternidade de Maria está subordinada [83] à eleição do Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo.

 

c) A Igreja não é apenas um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria, mas é precisamente na dimensão sacramental da Igreja que o seu papel materno se desenvolve sempre.[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade encontra-se na comunhão eclesial e não fora dela; ela lidera a Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende com Maria a sua própria maternidade[85]: na acolhida da Palavra de Deus que evangeliza, converte e proclama Cristo; no dom da vida sacramental através do Batismo e da Eucaristia; e na educação e formação materna que ajuda os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Por esta razão, pode-se dizer que “a fecundidade da Igreja é a própria fecundidade de Maria; e realiza-se na vida dos seus membros na medida em que revivem, ‘em pequena medida’, o que a Mãe viveu, isto é, amam com o amor de Jesus”.[87] Como Mãe, tal como a Igreja, Maria espera que Cristo seja concebido em nós,[88] ela não toma o seu lugar. Portanto, “graças à imensa fonte que jorra do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os crentes, de diferentes maneiras, tornam-se canais de água viva. Assim, o próprio Cristo desdobra a sua glória na nossa pequenez”.[89]

 

Intercessão

 

38. Maria está singularmente unida a Cristo por sua maternidade e por ser cheia de graça. Isso é sugerido na saudação do anjo (cf. Lc 1,28), quando ele usa uma palavra ( kecharitōmenē ) que é única e exclusiva em toda a Bíblia. Ela, que recebeu o poder do Espírito Santo em seu ventre e foi a Mãe de Deus, torna-se, por meio desse mesmo Espírito, a Mãe da Igreja.[90] Devido a essa união peculiar na maternidade e na graça, sua oração por nós tem um valor e uma eficácia que não podem ser comparados a nenhuma outra intercessão. São João Paulo II vinculou o título de “mediadora” a essa função de intercessão materna. Pois ela “se coloca ‘no meio’, isto é, age como mediadora não como uma estranha, mas em seu papel de mãe, consciente de que, como tal, pode — ou melhor, ‘tem o direito de’ — tornar presentes as necessidades da humanidade ao seu Filho”.[91]

 

39. A fé católica ensina nas Escrituras que aqueles que estão com Deus no céu podem continuar a praticar esses atos de amor, intercedendo por nós e nos acompanhando. Vemos, por exemplo, que os anjos são “espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação” ( Hb 1,14). Há relatos de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5,4; 12,12; At 12,7-11; Ap 8,3-5). Anjos auxiliaram Jesus no deserto da tentação (cf. Mt 4,11) e durante a sua Paixão (cf. Lc 22,43). No Salmo, somos prometidos que “ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos” ( Sl 92,11).

 

40. Esses textos indicam que o céu não está completamente separado da terra. Isso abre a possibilidade de intercessão por nós por parte daqueles que estão no céu. O livro de Zacarias nos apresenta um anjo de Deus que diz: “Senhor Todo-Poderoso, até quando negarás misericórdia a Jerusalém e às cidades de Judá, contra as quais tens estado irado durante estes setenta anos?” ( Zc 1:12). De modo semelhante, o livro do Apocalipse fala dos “mortos”, os mártires no céu, que intercedem, pedindo a Deus que aja na terra para nos libertar da injustiça: “Vi debaixo do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Eles clamavam em alta voz: ‘Até quando, ó Senhor, santo e verdadeiro, esperarás para julgar e vingar o nosso sangue dos habitantes da terra?’” ( Ap 6 :9-10). Já na tradição judaico-helenística aparecia a convicção de que os justos falecidos intercedem pelo povo (cf. 2 M 15,12-14).

 

41. Maria, que no céu ama o “remanescente de seus filhos” ( Ap 12,17), assim como acompanhou a oração dos apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), também acompanha agora as nossas orações com a sua intercessão materna. Desta forma, ela continua a atitude de serviço e compaixão que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11) e que hoje continua a dirigir a Jesus, dizendo: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). No seu cântico de louvor, vemos Maria como mulher do seu povo, louvando a Deus porque “ele exaltou os humildes e saciou de bens os famintos” ( Lc 1,52-53), porque “socorreu o seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia, como prometera aos nossos pais” ( Lc 1,54-55), e reconhecemos a sua prontidão quando vem sem demora em auxílio da sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). Por essa razão, o povo de Deus deposita sua firme confiança em sua intercessão.

 

42. Entre os escolhidos e glorificados ao lado de Cristo, a Mãe ocupa o primeiro lugar; portanto, podemos afirmar que Maria tem uma colaboração única na obra salvífica que Cristo realiza na sua Igreja. Esta é uma intercessão que a torna um sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma, porque o quis livremente, o Senhor dá à sua própria ação em nós um rosto materno.[92]

 

Proximidade materna

 

43. A presença das diversas invocações, imagens e santuários marianos manifesta esta verdadeira maternidade de Maria, que a aproxima da vida dos seus filhos. A aparição da Mãe ao indígena São Juan Diego no Monte Tepeyac serve de exemplo. Maria chama-o com as ternas palavras de uma mãe: “Meu filhinho, meu Juanito”. E, perante as dificuldades que São Juan Diego expressa no cumprimento da missão que lhe foi confiada, Maria revela a força da sua maternidade: “Não estou eu aqui, eu que tenho a honra de ser tua mãe? […] Não estás tu no meu colo, no abraço dos meus braços?”[93]

 

44. Esta experiência do afeto materno de Maria, vivenciada por São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que recebem o afeto de Maria e que colocam em suas mãos “as necessidades da vida diária e abrem com confiança seus corações para pedir sua intercessão materna e obter sua proteção reconfortante”.[94] Além das extraordinárias manifestações de sua proximidade, há expressões constantes e cotidianas de sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Mesmo quando não pedimos sua intercessão, ela se mostra próxima como Mãe, para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar a autodoação salvífica de Cristo e a acolher a ação santificadora do Espírito. Tão grande é o seu valor para a Igreja que os pastores devem evitar qualquer exploração política dessa proximidade da Mãe. O Papa Francisco advertiu sobre isso em diversas ocasiões e expressou sua preocupação com “propostas de várias vertentes ideológicas e culturais que buscam se apropriar do encontro de um povo com sua mãe”.[95]

 

Mãe da graça

 

45. Este sentido de “Mãe dos Fiéis” permite-nos falar da ação de Maria também em relação à nossa vida de graça. Mas é importante notar que certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, são facilmente impregnadas de imagens e simbolismos que, na verdade, transmitem outros significados, menos aceitáveis. Por exemplo, Maria é apresentada como se possuísse um reservatório de graça separado de Deus, onde não se percebe tão claramente que o Senhor, na sua generosa e livre onipotência, quis associá-la à comunicação daquela vida divina que brota de um único centro, o Coração de Cristo, e não de Maria.[96] É também comum que ela seja apresentada ou imaginada como uma fonte da qual flui toda a graça. Se considerarmos que a habitação da Trindade (graça incriada) e a participação na vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que este mistério possa ser condicionado por uma “passagem” pelas mãos de Maria. Imagens desse tipo exaltam Maria a tal ponto que a centralidade do próprio Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger expressou que o título de Maria, Medianeira de Todas as Graças, não estava claramente fundamentado no Apocalipse[97], e em consonância com essa convicção podemos reconhecer as dificuldades que isso acarreta tanto na reflexão teológica quanto na espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como dispositiva. Por um lado, por causa de sua natureza intercessora [98] , visto que a intercessão materna é uma expressão daquela “proteção materna” [99] que nos permite reconhecer em Cristo o único Mediador entre Deus e a humanidade. Por outro lado, sua presença materna em nossas vidas não exclui várias ações de Maria que incentivam a abertura de nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, ela nos ajuda, de várias maneiras, a nos prepararmos para a vida de graça que só o Senhor pode infundir em nós.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo e não de qualquer outro. Santo Agostinho afirmou que “este reino da morte é destruído em cada ser humano somente pela graça do Salvador” [100] e explicou-o claramente com a redenção do homem injusto: “Quem quereria morrer por um homem injusto, por um ímpio, senão somente Cristo, tão inocente que pode justificar até mesmo o injusto? Portanto, meus irmãos, não tínhamos obras meritórias, mas apenas deméritos. Mas, embora as obras dos homens fossem tais, sua misericórdia não os abandonou e […] em vez da punição devida, concedeu-lhes a graça que não mereciam […] para nos redimir, não ao preço do ouro ou da prata, mas ao preço do seu sangue derramado.” [101] Por esta razão, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que “somente Cristo pode merecer por outro a primeira graça”. [102] Nenhum outro ser humano pode merecê-la em sentido estrito ( condign ), e sobre este ponto não há dúvida alguma: “Ninguém pode ser justo senão aquele a quem são comunicados os méritos da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”.[103] A plenitude da graça de Maria também existe porque ela a recebeu livremente, antes de qualquer ação sua, “em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”.[104] Somente os méritos de Jesus Cristo, entregues até o fim, são os que nos são aplicados em nossa justificação, a qual, “tendo como objetivo o bem eterno da participação divina, é uma obra mais excelente do que a criação do céu e da terra”.[105]

 

48. No entanto, um ser humano pode participar do bem de seu irmão por meio de seu desejo, e é razoável ( congruente ) que Deus atenda a esse desejo de caridade, que a pessoa pode expressar “por meio da oração” ou “por meio de obras de misericórdia”.[106] É verdade que esse dom da graça só pode ser concedido por Deus, uma vez que “ultrapassa toda a proporção de nossa natureza”[107] e há uma distância infinita[108] entre nossa natureza e sua vida divina. Não obstante, ele pode fazê-lo atendendo ao desejo da Mãe, que, dessa forma, se associa alegremente à obra divina como uma humilde serva.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que fazer. Ela intercede revelando a Cristo nossas deficiências, necessidades e sofrimentos para que Ele possa agir com seu poder divino[109]: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). Também hoje, ela nos ajuda a nos prepararmos para a ação de Deus[110]: “Fazei tudo o que ele vos disser” ( Jo 2,5). Suas palavras não são uma mera instrução, mas se tornam uma verdadeira instrução materna que introduz a pessoa, sob a ação do Espírito, ao profundo significado do mistério de Cristo.[111] Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir nossas vidas a Cristo e à sua graça,[113] porque só Ele opera no mais íntimo do nosso ser.

 

Onde só Deus pode chegar

 

50. Como nos recorda o Catecismo , a graça santificante é “antes de tudo o dom do Espírito que nos justifica e santifica”.[114] Não é meramente um auxílio, uma energia que se possui, mas sim “o dom gratuito da vida de Deus infundida pelo Espírito Santo em nossas almas”,[115] que pode ser descrito como a habitação da Trindade em nosso ser mais íntimo, como amizade com Deus, como uma aliança com o Senhor. Só Deus pode fazer isso, porque envolve superar uma desproporção “infinita”.[116] Essa autodoação da Trindade, essa “entrada na alma”[117] ( illabitur ) por parte do próprio Deus, implica um efeito transformador inerente no ser mais íntimo do crente.[118] São Tomás de Aquino usou para esta penetração no interior do ser humano este verbo que só poderia ser aplicado a Deus, illabi , visto que só Deus, não sendo uma criatura, pode alcançar essa intimidade pessoal sem violar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Só Deus alcança o centro mais íntimo de uma pessoa para efetuar a sua elevação e transformação quando se dá como amigo, e por isso “nenhuma criatura pode conferir graça”.[120] São Tomás repete isto ao falar da graça sacramental: como causa principal , “só Deus produz o efeito interior do sacramento. Pois só Ele penetra na alma, onde o efeito sacramental é produzido – ninguém pode agir imediatamente onde Ele não está – visto que a graça, que é um efeito interior do sacramento, vem só de Deus”.[121]

 

51. Outros autores expressaram uma visão semelhante,[122] mas São Boaventura merece menção especial. Ele ensinou que, quando Deus opera com a graça santificante em um ser humano, Ele torna essa pessoa absolutamente imediata a Si mesmo.[123] Por meio da graça, Deus se aproxima plenamente do ser humano, com absoluta imediatidade, com um “aprofundamento” no íntimo do ser que só Ele pode alcançar.[124] A própria graça criada, então, não age como um “intermediário”, mas é um efeito direto da amizade que Deus concede ao tocar diretamente o coração humano. E assim, como Deus é quem transforma a pessoa quando se dá como amigo, não há meio-termo entre Deus e o ser humano transformado.[125] Somente Deus é capaz de penetrar tão profundamente, tão intensamente, para santificar, a ponto de se tornar absolutamente imediato , e somente Ele pode fazê-lo sem negar a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus[127] assume uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da salvação. Unida hipostaticamente ao Filho por uma graça que “é indubitavelmente infinita”[128], esta Humanidade “teve graça no mais alto grau. Portanto, pela eminência da graça que recebeu, é sua prerrogativa [ competit sibi ] tornar esta graça disponível aos outros. Isto é próprio da cabeça.”[129] Esta Humanidade participa da efusão da graça santificante, que transborda ou “se torna redundante” a partir dela.[130] Consequentemente, “ segundo a sua humanidade , ela é a fonte de toda a graça”, como a Cabeça da qual a graça flui para os outros (“ in alios transfunderetur ”).[131] Esta natureza humana é inseparável da nossa salvação, uma vez que “pela Encarnação, todas as ações salvíficas do Verbo de Deus são sempre realizadas em união com a natureza humana que ele assumiu para a salvação de todos os homens”.[132] Através desta natureza humana assumida, o Filho de Deus “uniu-se de algum modo a cada homem” e “pela oferta mais livre do seu sangue mereceu a vida por nós”.[133] Pela graça, os fiéis estão unidos a Cristo e participam do seu Mistério Pascal, para que possam viver uma união íntima e única com ele, que São Paulo expressou com estas palavras: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” ( Gl 2,20).

 

53. Nenhuma pessoa humana, nem mesmo os apóstolos ou a Bem-Aventurada Virgem Maria, pode agir como dispensador universal da graça. Somente Deus pode conceder a graça,[134] e Ele o faz por meio da humanidade de Cristo,[135] visto que “Cristo, o homem, possui a plenitude da graça como Unigênito do Pai”.[136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja preeminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela, como nós, é filha adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, “filha de vosso Filho”.[137] Ela coopera na economia da salvação por uma participação derivada e subordinada; portanto, qualquer linguagem sobre sua “mediação” na graça deve ser entendida em remota analogia com Cristo e sua mediação única.[138]

 

54. Na perfeita imediaticidade entre o ser humano e Deus na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação trinitária podem ser concebidas como algo que nos chega por intermédio de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos dizer é que Maria deseja este bem para nós e o pede juntamente conosco. A liturgia, que é também a lex credendi , permite-nos reafirmar esta cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas na intercessão materna. De facto, na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição, ao explicar em que sentido o privilégio concedido a Maria foi feito para o bem do Povo, afirma-se que ela foi designada “advogada da graça”[139], isto é, que intercede, pedindo-nos o dom da graça.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II, “a influência da Bem-Aventurada Virgem Maria na salvação dos homens […] favorece e de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo”.[140] Por esta razão, deve-se evitar qualquer descrição que sugira, de modo neoplatônico, uma espécie de efusão gradual da graça, como se a graça de Deus descesse por meio de vários intermediários — como Maria — enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada de nossos corações. Tais interpretações afetam negativamente a compreensão adequada do encontro íntimo, direto e imediato que a graça proporciona entre o Senhor e o coração do crente.[141] O fato é que somente Deus justifica.[142] Somente o Deus Trino. Somente Ele nos eleva para superar a infinita desproporção que nos separa da vida divina; somente Ele opera Sua habitação trinitária em nós; somente Ele entra em nós, transformando-nos e nos tornando participantes de Sua vida divina. Maria não é honrada ao ser atribuída qualquer mediação na realização desta obra exclusivamente divina.

 

A água viva que flui

 

56. No entanto, como Maria é cheia de graça e como a bondade tende sempre a comunicar-se, surge de imediato a ideia de uma espécie de “transbordamento” da graça de Maria, que só pode ter um significado próprio se não contradizer o que foi dito até agora. Isto não apresenta qualquer dificuldade se nos referirmos, sobretudo, às formas de cooperação que já mencionámos (intercessão e proximidade materna que nos convidam a abrir os nossos corações à graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação variada por parte da criatura “que participa na mesma fonte”.[143]

 

57. A natureza fundamentalmente instrumental da cooperação dos fiéis — especialmente de Maria — na comunicação da graça reflete-se na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que fluem dos corações dos fiéis (cf. Jo 7,38). Embora esta seja uma imagem poderosa, que poderia ser interpretada como se os fiéis fossem canais para a transmissão aperfeiçoadora da graça santificante, os Padres da Igreja, ao especificarem como se dá este derramamento dos rios do Espírito, expressaram-no em termos de ações instrumentais. Por exemplo, a pregação, o ensino e outras formas de transmissão do dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica-o à ciência das Escrituras ou à percepção dos sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria, este transbordamento de águas é o ensinamento dos mistérios da fé,[145] “mistagogia pura” no seu sentido mais profundo, que não é meramente intelectual, mas uma disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém sustenta que é o ensinamento das Escrituras quando conduz à luz.[147] São João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estêvão ou à autoridade da palavra de Pedro.[148] Santo Ambrósio afirma: “Estes são os rios que ouvem com os seus ouvidos a Palavra de Deus e falam, para infundir a Palavra nos corações de cada um”[149], e aplica-o desta forma: “para que a água da doutrina celestial possa fluir […] para que a seiva da palavra do Senhor possa permear (aspergir)”[150] os corações de cada um.[151] Para São Jerônimo também, a água é o ensinamento do Salvador[152], assim como para São Gregório Magno, que também ensina que é “uma vontade piedosa para com o próximo”.[153] Estas interpretações dos rios de água viva que os crentes derramam centram-se no conhecimento das Escrituras e dos seus mistérios; não se referem, em geral, a um conhecimento meramente intelectual, mas a um conhecimento de sabedoria e à iluminação do coração para se abrir à própria realidade dos Mistérios.

 

59. Em outros Padres e Doutores da Igreja, encontramos também uma explicação mais ampla, que inclui, além da pregação ou da catequese, obras que oferecem ajuda ao próximo em suas necessidades, ou um testemunho de amor. Assim, Santo Hilário entende os rios de água viva como as obras do Espírito Santo por meio das virtudes que atuam em benefício do próximo.[154] Santo Agostinho aplica-o à “benevolência, com a qual se deseja ajudar o próximo”.[155] Na Idade Média, essa perspectiva continuou, chegando a São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva se manifestam porque, quando alguém “se apressa em comunicar aos outros os diversos dons da graça que recebeu de Deus, águas vivas fluem de seu coração”.[156]

 

60. Quando São Tomás de Aquino fala dos “diversos dons da graça” para o serviço ao próximo, ele se refere aos vários dons carismáticos, porque “como se diz ( 1 Cor 12,10), a um é dado o dom de línguas, a outro o dom da cura, etc.”[157] Este aspecto também está presente em São Cirilo de Jerusalém, que indica que os rios do Espírito, que são comunicados através dos crentes, manifestam-se quando “ele usa a língua de alguns para o carisma da sabedoria; ilumina a mente de outros com o dom da profecia; a este concede o poder de expulsar demônios [...]. [O Espírito] fortalece a temperança em alguns; a misericórdia em outros; a este ensina a prática do jejum e a vida ascética.”[158]

 

61. Podemos dizer algo semelhante em relação à interpretação de João 14:12, referindo-se aos crentes que realizam “obras maiores” ( meizona ) do que as do Cristo terreno. Os crentes participam da obra de Cristo na medida em que também, de alguma forma, inspiram fé em outros por meio da proclamação da Palavra. Isso é explicitamente declarado em João 17:20b: “aqueles que creem em mim por meio da palavra deles”. O mesmo é sugerido em João 14:6-11, onde as obras de Cristo são aquelas que revelam o Pai (v. 8). As obras dos crentes, centradas na proclamação do Evangelho por meio de palavras, são paralelas às obras de Cristo. Jesus proclama: “Se vocês guardarem a minha palavra, eles também guardarão a de vocês” ( João 15:20c). E assim como quem ouve a palavra de Cristo tem a vida eterna (cf. Jo 5:24), Jesus proclama que outros crerão por meio da palavra dos crentes (cf. Jo 17:20). No entanto, isso implica não apenas palavras, mas também o testemunho eloquente dos crentes, e por essa razão Jesus pede ao Pai que os crentes sejam unidos para que “o mundo creia” ( João 17:21).

 

Amor que se comunica no mundo

 

62. O Evangelho de João associa intimamente a caridade fraterna a esta partilha do bem. De facto, a afirmação “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” ( Jo 14,15) é paralela a “Quem crê em mim fará também as obras que eu faço” ( Jo 14,12). Quando Cristo fala do fruto que espera dos seus discípulos, termina por identificá-lo com o amor fraterno (cf. Jo 15,16-17). São Paulo, também, depois de falar das várias obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Cor 12), propõe um caminho ainda mais excelente quando diz: “Buscai os melhores dons ( ta meizona ). E eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente ( kath'hyperbolēn )”: o amor ( 1 Cor 12,31; cf. 13,1). As obras de amor ao próximo, mesmo o trabalho diário ou o esforço para mudar este mundo, tornam-se, então, um canal de cooperação com a obra salvífica de Cristo.

 

63. Papas recentes também expressaram essa opinião. São João XXIII ensinou que “quando um cristão está espiritualmente unido ao divino Redentor, ao realizar suas atividades em empreendimentos temporais, seu trabalho se torna uma continuação do de Jesus Cristo, de quem extrai sua força e poder salvador […] para estender aos outros os frutos da redenção”.[159] São João Paulo II compreendeu essa colaboração como a reconstrução, junto com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa dos pecados, porque “o Coração de Cristo quis necessitar de nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”, e “esta é a verdadeira reparação pedida ao Coração do Salvador”.[160] O Papa Bento XVI afirmou que “os homens, recipientes do amor de Deus, tornam-se sujeitos da caridade, chamados a fazer de si mesmos instrumentos da graça para difundir a caridade de Deus e tecer laços de caridade. A doutrina social da Igreja responde a essa dinâmica de caridade recebida e oferecida”.[161] E o Papa Francisco ensinou que, para Santa Teresa de Lisieux, “não se trata apenas de permitir que o Coração de Cristo estenda a beleza da seu amor no próprio coração através da confiança total, mas também permitindo que ele alcance os outros através da própria vida e transforme o mundo […] e se tornem atos de amor fraterno pelos quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, oferecemos novas expressões ao poder restaurador do Coração de Cristo.”[162]

 

64. Esta é a cooperação possibilitada por Cristo e realizada pela ação do Espírito, que, no caso de Maria, se distingue da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que o próprio Cristo lhe atribuiu na cruz.

 

Criterios

 

65. Qualquer outra forma de entender esta cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir a Maria alguma forma de intervenção ou instrumentalidade aperfeiçoadora ou causalidade secundária na comunicação da graça santificante[163], deve prestar especial atenção a alguns critérios já mencionados na Constituição Dogmática Lumen gentium :

 

a) Devemos refletir sobre como Maria fomenta a nossa união “imediata”[164] com o Senhor, que Ele próprio realiza ao conceder a graça, e que só podemos receber de Deus[165], mas sem entender a união com Maria como mais imediata do que a união com Cristo. Este risco está presente, sobretudo, na ideia de que Cristo nos dá Maria como instrumento ou causa secundária que aperfeiçoa a comunicação da Sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II enfatizou que “toda a influência salvífica da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens não provém de uma necessidade inescapável, mas da boa vontade de Deus”.[166] Esta influência só pode ser compreendida em termos da livre vontade de Deus, que, embora a sua própria ação seja transbordante e superabundante, livre e gratuitamente escolhe associá-la à sua obra. Portanto, não é permitido apresentar a ação de Maria como se ele precisasse dela para realizar a salvação.

 

c) Devemos entender a mediação de Maria não como um complemento para permitir que Deus opere plenamente, com maior riqueza e beleza, mas sim “de tal forma que não diminui nem acrescenta à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”.[167] Ao explicar a mediação de Maria, deve-se enfatizar que Deus é o único Salvador, que aplica exclusivamente os méritos de Jesus Cristo, os únicos necessários e completamente suficientes para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em nada do que Ele não faz (ela não tira nem acrescenta). Se, na comunicação da graça, ela nada acrescenta à mediação salvífica de Cristo, Maria não deve ser considerada o instrumento principal desse dom.[168] Se ela acompanha uma ação de Cristo, pela obra do próprio Cristo, ela não deve de modo algum ser entendida como paralela. Antes, estando associada a Ele, Maria recebe de seu Filho um dom que a coloca além de si mesma, porque lhe é concedida a graça de acompanhar a obra do Senhor com seu caráter materno. Retornamos então ao ponto mais seguro: a contribuição dispositiva de Maria , onde é de fato possível considerar uma ação na qual ela contribui com algo próprio na medida em que “pode dispor de alguma forma” [169] de outros. Pois “pertence ao poder supremo conduzir ao fim último, enquanto os poderes inferiores ajudam na obtenção deste fim, dispondo ”. [170]

 

66. Tudo o que foi dito acima não ofende nem humilha Maria, porque todo o seu ser está voltado para o seu Senhor. “A minha alma engrandece ao Senhor” ( Lc 1,46). Para ela, não há glória senão a de Deus. Como Mãe, a sua alegria se multiplica ao ver como Cristo manifesta a beleza inexaurível e transbordante da sua glória, curando, transformando e preenchendo com Ele os corações daqueles filhos que ela acompanhou na sua caminhada até o Senhor . Portanto, qualquer perspectiva dirigida a ela que nos distraia de Cristo, ou que a coloque no mesmo nível do Filho de Deus, estaria fora da dinâmica própria de uma fé autenticamente mariana.

 

Obrigado

 

67. Alguns títulos, como Medianeira de Todas as Graças, têm limitações que dificultam uma compreensão adequada do lugar único de Maria. De fato, ela, a primeira redimida, não poderia ter sido mediadora da graça que ela mesma recebeu. Este não é um detalhe insignificante, pois revela algo central: que também nela, o dom da graça a precede e procede da iniciativa absolutamente gratuita da Trindade, em consideração aos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu sua justificação por nenhuma ação anterior sua,[171] mas também não por nenhuma ação posterior.[172] Para Maria também, a amizade com Deus pela graça será sempre gratuita. Sua preciosa figura é o supremo testemunho da receptividade crente daquela que, mais e melhor do que qualquer outra pessoa, se abriu com docilidade e completa confiança à obra de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Por outro lado, o título mencionado corre o risco de retratar a graça divina como se Maria fosse meramente uma distribuidora de bens ou energias espirituais desconectada de nossa relação pessoal com Jesus Cristo. No entanto, a expressão “graças”, referindo-se à ajuda maternal de Maria em diferentes momentos da vida, pode ter um significado aceitável. O plural expressa toda a assistência, inclusive material, que o Senhor pode nos conceder atendendo à intercessão da Mãe; assistência que, por sua vez, prepara os corações para se abrirem ao amor de Deus. Dessa forma, Maria, como mãe, tem uma presença na vida cotidiana dos fiéis muito maior do que a proximidade de qualquer outro santo.

 

69. Por sua intercessão, ela pode implorar por nós os impulsos interiores do Espírito Santo que chamamos de “graças atuais”. Estas são a ajuda do Espírito Santo que atua tanto nos pecadores para dispô-los à justificação,[173] quanto naqueles já justificados pela graça santificante, para encorajá-los a crescer. É neste preciso sentido que o título “Mãe da Graça” deve ser interpretado. Ela colabora humildemente para nos ajudar a abrir nossos corações ao Senhor, que somente ele pode nos justificar pela ação da graça santificante — isto é, quando ele derrama sobre nós sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos torna participantes de sua vida divina. Esta é exclusivamente a obra do próprio Senhor, mas não exclui a possibilidade de que, por meio da ação materna de Maria, os fiéis possam receber palavras, imagens e diversos encorajamentos que os ajudem a progredir na vida, a preparar seus corações para a graça que o Senhor concede ou a crescer na vida da graça, recebida gratuitamente.

 

70. Essas graças que nos chegam do Senhor são apresentadas a nós num aspecto materno, repleto da ternura e proximidade da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,25-28). Maria realiza, assim, uma ação singular para nos ajudar a abrir o coração a Cristo e à sua graça santificadora que eleva e cura. Quando ela se comunica enviando diversos “movimentos”, estes devem sempre ser entendidos como estímulos para abrirmos nossas vidas Àquele que age no íntimo do nosso ser.

 

Nossa união com Maria

 

71. O Concílio preferiu chamar Maria de “ Mãe na ordem da graça ”[174], o que expressa melhor a universalidade da cooperação materna de Maria e que é inegável num sentido preciso: ela é a Mãe de Cristo, que é Graça por excelência e Autora de toda a graça.

 

72. Esta maternidade de Maria na ordem da graça — que brota do Mistério Pascal de Cristo — implica também que cada discípulo estabelece com Maria “uma relação única e irrepetível”. São João Paulo II falou de uma “dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo”, que se expressa como “uma resposta ao amor de uma pessoa e, especificamente, ao amor da mãe”.[175] A vida da graça inclui a nossa relação com a Mãe. A união com Cristo pela graça une-nos, ao mesmo tempo, a Maria numa relação feita de confiança, ternura e afeto incondicional.

 

O primeiro discípulo

 

73. Ela é “a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Jesus”.[176] Maria é a primeira daqueles que “ouvem a palavra de Deus e a guardam” ( Lc 11,28); ela é a primeira a se colocar entre os humildes e pobres do Senhor para nos ensinar a esperar e receber, com confiança, a salvação que vem somente de Deus. Maria “tornou-se, assim, em certo sentido, a primeira ‘ discípula ’ de seu Filho, a primeira a quem ele pareceu dizer: ‘Segue-me’, mesmo antes de dirigir esse chamado aos apóstolos ou a qualquer outra pessoa (cf. Jo 1,43)”.[177] Ela é um modelo de fé e caridade para a Igreja por causa de sua obediência à vontade do Pai, sua cooperação na obra redentora de seu Filho e sua abertura à ação do Espírito Santo.[178] Por esta razão, Santo Agostinho disse que “é mais importante para Maria ser discípula de Cristo do que ter sido mãe de Cristo”.[179] E o Papa Francisco insistiu que “ela é mais discípula do que mãe”.[180] Maria é, em suma, “a primeira e mais perfeita discípula de Cristo”.[181]

 

74. Para cada cristão, Maria é “a primeira a crer”, e é precisamente com esta sua fé, como esposa e mãe, que ela deseja agir sobre todos os que se confiam a ela como filhos.[182] E faz isso com um afeto amoroso, cheio de sinais de proximidade que os ajudam a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo atue cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a conservar a graça recebida e a meditar sobre a obra que Deus realiza nas suas vidas (cf. Lc 2,19).

 

75. No caso de alegados fenómenos sobrenaturais, que tenham recebido um juízo positivo da Igreja, onde aparecem algumas das expressões ou títulos como os acima citados, será tido em conta que «no caso de ser concedido um Nihil obstat pelo Dicastério [ ...], tais fenómenos não se tornam objeto de fé - isto é, os fiéis não são obrigados a dar-lhes um assentimento de fé».[183]

 

Mãe do povo fiel

 

76. “Maria, a primeira discípula, é a Mãe.”[184] Na cruz, Cristo nos dá Maria e, assim, “Ele nos conduz a ela, porque não quer que andemos sem mãe.”[185] Ela é a Mãe crente que se tornou “Mãe de todos os crentes”[186] e, ao mesmo tempo, é “a Mãe da Igreja evangelizadora”[187], que nos acolhe como Deus escolheu nos chamar, não apenas como indivíduos isolados, mas como um Povo em jornada.[188] “Nossa Mãe Maria sempre quer caminhar conosco, estar perto de nós, nos ajudar com sua intercessão e seu amor.”[189] Ela é a Mãe do Povo fiel, que “caminha no meio do seu povo, movida por amorosa ternura, e assume suas angústias e vicissitudes.”[190]

 

O amor faz uma pausa, contempla o mistério, desfruta-o em silêncio.

 

77. Os fiéis não se distanciam de Cristo, nem do Evangelho, quando se aproximam dela, mas são capazes de ler “nessa imagem materna todos os mistérios do Evangelho”.[191] Pois nesse rosto materno veem refletido o Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que para diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina e nos eleva à sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e que não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). Em seu rosto materno, muitos pobres reconhecem o Senhor que “derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes” ( Lc 1,52). O rosto dessa mulher canta o mistério da Encarnação. Naquele rosto da Mãe, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da cruz, e naquele mesmo rosto, banhado pela luz da Páscoa, percebe que Cristo está vivo. E ela, que recebeu o Espírito Santo em plenitude, é quem sustenta os apóstolos na oração no Cenáculo (cf. At 1,14). Portanto, podemos dizer que, “de certo modo, a fé de Maria, fundamentada no testemunho apostólico da Igreja, torna-se constantemente a fé do Povo de Deus em seu caminho”.[192]

 

78. Como disseram os bispos latino-americanos, os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”.[193] Os simples e os pobres não separam a Mãe gloriosa da Maria de Nazaré que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, reconhecem a simplicidade por trás da glória e sabem que Maria nunca deixou de ser uma deles. Ela é aquela que, como qualquer mãe, carregou o seu filho no ventre, amamentou-o, criou-o com amor com a ajuda de São José e não lhe faltou a ansiedade e as dúvidas da maternidade (cf. Lc 2,48-50). Ela é aquela que canta ao Deus que "enche de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias" ( Lc 1,53), que sofre com os noivos que ficam sem vinho para o casamento (cf. Jo 2,3), que sabe correr para ajudar a prima necessitada (cf. Lc 1,39-40), que se deixa ferir, como que transpassada por uma espada, por causa da história do seu povo, onde o seu filho é "um sinal de contradição" ( Lc 2,34), que entende o que é ser migrante ou exilada (cf. Mt 2,13-15), que na sua pobreza só pode oferecer duas pombinhas (cf. Lc 2,24) e que sabe o que é ser desprezada por ser da família do pobre carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). Os povos que sofrem reconhecem Maria caminhando ombro a ombro com eles e, portanto, procuram sua Mãe para implorar sua ajuda.[194]

 

79. A proximidade da Mãe produz uma piedade mariana “popular”, que tem diversas expressões entre os diferentes povos. Os variados rostos de Maria – coreana, mexicana, congolesa, italiana e tantos outros – são formas de inculturação do Evangelho que refletem, em todos os lugares da terra, “a ternura paterna de Deus” [195] que alcança o próprio coração dos nossos povos.

 

80. Contemplemos a fé do Povo de Deus, onde multidões de fiéis reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, assim como o próprio Cristo nos propôs na cruz. O Povo de Deus ama peregrinar aos diversos santuários marianos, onde encontra consolo e força para seguir em frente, como quem, em meio ao cansaço e à dor, recebe o carinho de sua Mãe. O Congresso Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teológico dessa experiência. Não há melhor maneira de encerrar esta Nota do que com estas palavras:

 

“Destacamos as peregrinações, onde o Povo de Deus, em sua jornada, pode ser reconhecido. Ali, o crente celebra a alegria de se sentir imerso no meio de tantos irmãos e irmãs, caminhando juntos rumo a Deus que os espera. O próprio Cristo se torna peregrino e caminha ressuscitado entre os pobres. A decisão de partir para o santuário já é uma confissão de fé, a jornada é um verdadeiro cântico de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino repousa sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério e o desfruta em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui com confiança, é a melhor expressão de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que nada pode fazer sozinho. Um breve instante condensa uma vívida experiência espiritual.” [196]

 

Mãe dos fiéis, rogai por nós.

 

O Sumo Pontífice Leão XIV, no dia 7 de outubro de 2025, memória litúrgica da Santíssima Virgem do Rosário, aprovou a presente Nota, deliberada na Sessão Ordinária deste Dicastério, de 26 de março de 2025, e ordenou a sua publicação.

 

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, o memorial litúrgico de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

Monsenhor Armando Matteo

 

Secretario

 

para a Seção Doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

7 de outubro de 2025

 

__________________

 

[1] Cf. Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade, 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para proceder no discernimento de alegados fenómenos sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns desses fenômenos, ou aparições, a Virgem Maria é referida com títulos como Corredentora, Redentora, Sacerdotisa, Medianeira, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe Espiritual, etc.

 

[4] Cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. ibid ., n. 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. ibid ., n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 3: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e Abertura da Porta Santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação entre Adão e Cristo encontrada nos textos de São Paulo ( Rm 5,18-19 e 1 Cor 15,22) serviu aos Padres da Igreja para estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, São Justino Mártir, Dialogus cum Trypho, 100, 5-6: PG 6, 710CD-711A; Santo Irineu de Lyon, Adversus haereses, III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi , 17, 5: PL 1, 782B. Este paralelo antitético Eva-Maria é a primeira abordagem dos Padres da Igreja ao tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a perdição, a fé de Maria nos trouxe a salvação. A grande abundância de testemunhos na patrística, sobre o tema da Virgem como a nova Eva, oferece elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher , porque em Maria a mulher recupera seu esplendor primitivo e encontra sua plenitude definitiva; b) Maria e Cristo como esposa-companheira, que constitui com seu Filho o binômio exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração messiânica; c) Maria e a Igreja , estabelecendo em Maria uma dupla relação com a Igreja, a de exemplaridade, como protótipo, e a de Mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Por exemplo, cf. Santo Efrém, Hinos da Natividade : SC 459; São João Damasceno, In dormitionem Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus , Roma 1885, 152: “Por meio de ti, tornamo-nos participantes da natureza divina, ó sempre Virgem, Theotokos , pois tu deste à luz o Deus encarnado para nós. Portanto, como é justo, todos nós te louvamos devotamente” (tradução do grego original do Theotokion do Kathisma poético após a primeira estase ). Outro exemplo, mais significativo, de expressão devocional mariana é o célebre Hymnus Akathistos (século V), em 24 estrofes; o título significa simplesmente que ele é ouvido em pé, não sentado, como se ouve o Evangelho, como sinal de especial reverência à Virgem-Mãe Maria, a quem o poeta adorna com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas, pedindo-lhe que aceite sua oferta poética e interceda pela salvação da humanidade do pecado terreno: cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos Inno alla Madre di Dio , Roma 2017.

 

[15] A evidência mais antiga deste título vem do Egito e data do século III. Cf. Papiro 470 da Biblioteca John Rylands (Manchester, Reino Unido) que transmite grande parte da invocação mariana em grego. A versão latina desta oração diz: « Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatis, sed a periculis cunctis libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta».

 

[16] As representações iconográficas tradicionais da Virgem seguem uma série de modelos estabelecidos, em particular: a Odēghētria , que aponta com a mão para o caminho até seu filho Jesus Cristo em seu colo; a Eleousa , Ternura, que mostra o vínculo íntimo entre Mãe e Filho, que repousa o rosto no de Maria; e a Platytera , a Maior dos Céus, porque carrega Cristo dentro de si, representando o menino Jesus em seu seio. A maioria dos outros modelos deriva dessas três, como a Galaktotrophousa , que amamenta o Menino com seu leite; a Kyriōtissa , ou Senhora, que segura o Menino em seus joelhos como um trono; a Panagia , ou Santíssima, vestida com um manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; e a Deēsis , que aparece à direita de seu Filho entronizado em majestade ( Pantokrator ), intercedendo, junto com São João Batista à esquerda, por nós. Em outros ícones, Maria aparece em intercessão junto com os outros santos, frequentemente com São João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Audiência Geral (27 de maio de 2009): L'Osservatore Romano , 28 de maio de 2009, 1; São Gregório de Narek, Prex 26 e 80: Ad Deiparam : SC 78, 160-164, 428-432.

 

[18] Autores orientais como Tiago de Sarug († 521), São Romano, o Cantor († 555-562), São João Damasceno († 749) e João, o Geômetra († 1000) já haviam abordado o tema da cooperação de Maria no sacrifício redentor de Cristo na cruz.

 

[19] Cf. São Bernardo de Claraval, Sobre a Purificação da Mãe de Deus , III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Cf. Arnaldo de Bonneval, De laudibus BM Virginis I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] No magistério anterior ao Concílio Vaticano II destacam-se: Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Iucunda semper expecte (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1895), 177-184; Id., Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta Apostólica Inter sodalicia à Irmandade de Nossa Senhora da Assunção (1904), 1905-1906), 1906-1907; Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Id., Carta Encíclica Ad caeli Reginam (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Parte 1 , Roma 1854, 616: (DH 2803): “A Santíssima Virgem Maria foi preservada imune de toda mancha do pecado original no primeiro instante de sua concepção por uma graça e privilégio singular de Deus Todo-Poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”; Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 53: AAS 57 (1965), 58: “Redimida da maneira mais sublime em vista dos méritos de seu Filho”.

 

[24] Cf. Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus na Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “mãe-enfermeira”. Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia na Concelebração Eucarística com os novos cardeais e a apresentação do anel cardinalício (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Signum magnum (13 de maio de 1967), n.º 5: AAS 59 (1967), 469: “Maria, assim que soube pela voz do anjo Gabriel que Deus a havia escolhido como a destemida Mãe de seu Filho Unigênito, sem demora deu seu assentimento a uma obra que empregaria todas as energias de sua frágil natureza, declarando: ‘ Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra ’ ( Lc 1,38)”.

 

[29] HU von Balthasar , Theodramatics. The Persons of Drama: Man in Christ, Vol. 3 , Madrid 1993, 274; cf. São Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium : DH 251: “Desta forma eles [os Santos Padres] não tiveram objeção em chamar a santa Virgem de Mãe de Deus”; Concílio Ecumênico de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Pelo que sabemos hoje, isso ocorreu no século XV, pelas mãos de um hinógrafo beneditino, que nos legou a seguinte oração manuscrita, preservada no mosteiro de São Pedro em Salzburgo: « Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ». «Pia, doce e bondosa / que não és digna de tristeza / se tirares daqui as lágrimas / compassiva com o Redentor / pelo escravo transgressor / serás Corredentora». De compassione BMV , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi , XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título de corredentora de várias maneiras: a) Cooperação imediata, cristotípica ou maximalista, que coloca a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à própria Redenção (Redenção objetiva). Nesse sentido, os méritos de Maria, embora subordinados aos de Cristo, teriam valor redentor para a salvação; b) Cooperação mediata ou minimalista, que se limitaria ao “sim” da Anunciação. Esta seria uma cooperação mediada, que torna possível a Encarnação como um passo anterior à Redenção; c) Cooperação imediata, receptiva ou eclesiotípica, cooperando na Redenção objetiva no sentido de que ela aceitou os frutos do sacrifício redentor do Salvador representando a Igreja. Uma cooperação imediata, mas receptiva, visto que Maria simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, tornando-se a “primeira Igreja”.

 

[32] Sob o Pontificado de São Pio X, o título de Corredentora aparece em um documento da Sagrada Congregação dos Ritos e em dois do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, que elogia o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome "de sua mãe, nossa Corredentora, a Bem-Aventurada Maria"; Id., Oração Indulgente (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual Maria é chamada de "Corredentora da raça humana". O primeiro Papa a usar o termo Corredentora foi Pio XI, na Bússola de 20 de julho de 1925, dirigida à Rainha do Rosário de Pompeia: Pio XI, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , em Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628: “Lembra-te também que no Calvário foste constituída Corredentora, cooperando com a crucificação do teu coração na salvação do mundo, juntamente com o teu Filho crucificado”; cf. Id., Discurso “Ecco di nuovo” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 de dezembro de 1933, 1.

 

[33] Cf. Id., Mensagem radiofônica por ocasião do encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): L'Osservatore Romano , 29-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Id., À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário do Vale de Pompeia, in Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): L'Osservatore Romano , 11 de dezembro de 1980, 2; Id., Audiência Geral (8 de setembro de 1982): L'Osservatore Romano , 10 de setembro de 1982, 2; Id., Angelus (4 de novembro de 1984): L'Osservatore Romano , 5 a 6 de novembro de 1984, 7; Id., Homilia no Santuário de Nossa Senhora da Madrugada em Guayaquil, Equador (31 de janeiro de 1985): L'Osservatore Romano , 2 de fevereiro de 1985, 6; Id., Angelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): L'Osservatore Romano , 1-2 de abril de 1985, 10; Discurso aos Peregrinos da “Opera Federativa Trasporto Ammalati a Lourdes” (OFTAL) (24 de março de 1990): L'Osservatore Romano , 25 de março de 1990, 4; Id., Angelus (6 de outubro de 1991): L'Osservatore Romano , 7-8 de outubro de 1991, 7. Após a Quarta Feira da então Congregação para a Doutrina da Fé, datada de 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II deixou de usar o título de Corredentora. É importante notar também que este título não aparece na Carta Encíclica Redemptoris Mater de 25 de março de 1987, que é o documento por excelência no qual São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J. Card. Ratzinger, Atas da IV Reunião de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] J. Ratzinger - P. Seewald, Deus e o Mundo. Uma conversa com Peter Seewald, Madrid 2005, 287-288.

 

[38] Francisco, Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Id., Meditações diárias. A Dolorosa, Discípula e Mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[40] Id., Audiencia geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Pio XII, Carta Encíclica Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), n. 10: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Cf. Santo André de Creta, Sobre o Nascimento da Virgem Maria , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Cf. São Germano de Constantinopla, Na Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria : PG 98, 322 AC.

 

[44] Cf. São João Damasceno, Sobre a Dormição da Mãe de Deus, I: PG 96, 712B-713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, Bento XV, a pedido do Cardeal Désiré-Joseph Mercier, concedeu a toda a Bélgica o Ofício e a Missa da Bem-Aventurada Virgem Maria “Mediadora de Todas as Graças”, a ser celebrada em 31 de maio. A Sé Apostólica concedeu posteriormente o mesmo Ofício e Missa a muitas outras dioceses e congregações religiosas mediante pedido: cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, “Um Novo Dogma Mariano?” : L’Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10: “A Constituição Lumen Gentium , que após cuidadosa consideração não contém a definição dogmática de mediação, foi aprovada com 2.151 votos a favor de 2.156 eleitores […] e apenas 33 anos após a promulgação da Lumen Gentium […] o panorama eclesial, teológico e exegético não mudou substancialmente”. Esta declaração da Pontifícia Academia Mariana Internacional ecoou a Declaração da Comissão Teológica estabelecida durante o XII Congresso Internacional Mariológico (Czestochowa, 12 a 24 de agosto de 1996), que considerou inapropriado prosseguir com a definição dogmática de Maria como “Mediadora”, “Corredentora” e “Advogada”. Cf. Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa, Petição para a Definição do Dogma de Maria Mediadora, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa : L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, p. 10.

 

[47] São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Cf. São Bernardo de Claraval, Homilias em louvor da Virgem Mãe, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. ibid ., nn. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. ibid ., nn. 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65

 

[52] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013) 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. em Números , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] S. Ambrosio, Ep. 11, 24: PL 16 , 1106D.

 

[61] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “pela singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador da raça humana”.

 

[63] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. ibid ., n. 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. ibid ., n. 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações diárias. A Mãe Dolorosa, Discípula e Mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[67] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 44: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: “Maria, portanto, como Mãe de Cristo, é também Mãe dos fiéis e de todos os pastores; isto é, da Igreja”; Catecismo da Igreja Católica , n. 963.

 

[70] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] Cf. HU von Balthasar, Theodramatics. The Persons of Drama: Man in Christ, Vol . 3, Madrid 1993, 307.

 

[72] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 56: AAS 57 (1965), 60: “Ela se entregou inteiramente, como serva do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho. Com ele e em dependência dele, pela graça de Deus todo-poderoso, ela se colocou a serviço do mistério da Redenção.”

 

[73] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 69: AAS 57 (1965), 66: “Mãe de Deus e Mãe dos homens”.

 

[75] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n.º 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da Maternidade espiritual de Maria está presente nos primeiros textos do período patrístico e tem seu fundamento bíblico sobretudo no Evangelho de São João, mais especificamente na cena da cruz.

 

[76] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: “Manifesta-se como uma nova maternidade segundo o espírito e não só segundo a carne, isto é, a solicitude de Maria pelos homens , indo ao seu encontro em toda a gama das suas necessidades”.

 

[77] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus . 53º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n.º 2: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4: “A participação de Maria ocorreu durante o próprio evento e como mãe; portanto, estende-se à totalidade da obra salvífica de Cristo”.

 

[80] Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica , n. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: “[Maria] aponta para o Mediador: ela é a Odegéria. Na iconografia cristã, a sua presença está em todo o lado, por vezes com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em relação a Ele. As suas mãos, os seus olhos, a sua atitude são um ‘catecismo’ vivo e apontam sempre para o fundamento, o centro: Jesus. Maria está totalmente dirigida a Ele.”

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4: AAS 95 (2003), 8; citando o Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63: “Função subordinada de Maria”.

 

[84] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. ibid . n. 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da recitação do Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia sobre o Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L'Osservatore Romano , 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[89] Id., Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.

 

[90] Cf. Id., Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican mopohua: Aqui é contado… o grande evento , Cuautitlán 2003, nn. 23, 119.

 

[94] São João Paulo II, Audiência Geral (13 de agosto de 1997), n. 4: L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francisco, Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): AAS 115 (2023), 53; cf. Id., Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): AAS 116 (2024), 12.

 

[96] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Cf. J. Card. Ratzinger, Atas do quarto domingo de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este caráter intercessório da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos últimos Papas. Cf. Pio IX, Const. Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904 ) , 455; Pio XII, Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[100] Santo Agostinho, Sobre os méritos e remissão dos pecados e sobre o batismo de crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Id., Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a. 6, co.

 

[103] Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid. , q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid. , q. 114, a. 5, co.

 

[108] Cf. ibid ., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 de junho de 2016, 8.

 

[111] Cf. Id., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica , n.º 2674.

 

[112] Cf. Francisco, Palavras sobre a oração do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , n.º 2003.

 

[115] Ibid. , n. 1999.

 

[116] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a. 1, co.; Quaestiones disputatae de Veritate, 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Cf. Id., Suma Teológica , III, q. 64, a. 1, co.: «[…] Só Deus guiará a alma» .

 

[118] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; ibid ., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Cf. São Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Summa contra gentios , II, cap. 98, n. 18; ibid ., III, cap. 88, n. 6.

 

[120] Cf. Id., Questões Disputadas sobre a Verdade , q. 27, a. 3, sc 5.

 

[121] Id., Summa Theologiae , III, q. 64, a. 1, co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, De ecclesiasticis dogmatibus , 83: PL 58, 999B. Também São João Cassiano, Collationes , VII, 13: PL 49, 683A. Além disso, Didymus Caecus, De Spiritu Sancto , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Cf. Santa Boaventura, Collationes in Hexaemeron , XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Cf. Id., Sententiarum Lib. Eu , d.14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Cf. ibid ., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Cf. ibid ., q. 2, fund. 4 e 8, 251-252.

 

[127] Cf. Eu sou. Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 33, a. 3; ibid. , III, pág. 23, a. 4.

 

[128] Id., Compendium theologiae , I, n. 215; cf. Id., Suma Teológica , III, q. 2, a. 10.

 

[129] Id., Summa Theologiae , III, q. 8, a. 5, co.; cf. ibid ., q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[131] Id., Questões Disputadas sobre a Verdade , q. 29, a. 5, co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10: AAS 92 (2000), 750-751; cf. Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Concílio Pastoral Gaudium et Spes , n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Cf. Id., Super Ioannem, cap. 1, v. 16, leção 10; Suma Teológica , I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[137] Dante Alighieri, Paradiso , XXXIII, 1.

 

[138] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade do Concílio Ecumênico Vaticano II, promulgado sob os cuidados de São Paulo VI, revisado sob os cuidados de São João Paulo II, terceira edição típica, Vatican Press 2008, 8 de dezembro, Na Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Maria Virgínia, Prefácio: Sobre o Mistério de Maria e da Igreja , 879.

 

[140] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica , n.º 2002.

 

[142] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I, q. 25, a. 3, ad 4. Justificar , como criar , "só pode ser feito imediatamente por Deus".

 

[143] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Cf. Origens, Hom. em Gênesis , XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Cf. São Cirilo de Alexandria, Com. em Ioannem , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Cf. Id., Comentário sobre Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, Hom. em Ioannem , 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Id., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Cf. Id., Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. São Jerônimo, Comm. sobre Zacarias , III, 14, 8.9: PL 25, 1528 C.

 

[153] São Gregório Magno, Homenagem a Ezequiel , I, 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Cf. Santo Hilário, Tratado sobre os Salmos , 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho, Sobre o Evangelho de João , 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid .; cf. Id., Summa Theologiae , II-II, q. 178, a. 1, sc

 

[158] São Cirilo de Jerusalém, Catequese Mistagógica XVI, 12: PG 33, 933B.

 

[159] São João XXIII, Carta anexa Mater et Magistra (15 de maio de 1961): AAS 53 (1961), 462.

 

[160] São João Paulo II, Carta ao Propósito Geral da Companhia de Jesus , Paray-le-Monial (5 de outubro de 1986): L'Osservatore Romano , 6 de outubro de 1986, 7; citado por Francisco, Carta enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 5, a. 6, co. e ad 1; Id., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos usados ​​por São Tomás de Aquino para explicar por que nenhuma criatura pode conferir graça, mas somente Deus, não podem ser considerados superados, nem dentro de sua própria obra nem posteriormente.

 

[164] Segundo Concílio Ecuménico, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 25, art. 3, anúncio 4; Id., Scriptum super Sententiis , II, d. 26, q. 1, a. 2, co; ibid ., IV, d. 5, q. 1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Cf. Id., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Mais uma vez lembramos que: "Mas a mente, na qual existe graça, nenhuma criatura pode escapar".

 

[166] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Ibid ., n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Cf. São Tomás de Aquino, Summa contra gentiles , livro 2, capítulo 21, n. 7. Um instrumento contribui com algo próprio: «Todo agente instrumental realiza a ação do agente principal por meio de uma ação própria e connatural a si mesmo».

 

[169] Ibid ., livro 3, capítulo 147, n. 6; cf. Id., Suma Teológica , I, q. 45, a. 5, co.

 

[170] Id., Summa Theologiae , I-II, q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532.

 

[172] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 114, a. 5, co.: “Um homem que já está em estado de graça não pode merecer a graça que já possui.” Embora a pessoa justificada possa merecer crescimento na vida da graça, o fato de ser justificado, de ser amigo de Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “disposição final”, simultânea à efusão da graça santificante, é a obra imediata da própria graça. É “a disposição final, que a forma necessariamente segue”: São Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae , Livro 5, Lição 2, n. 5; cf. Id., Scriptum super Sententiis , I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Summa contra Gentiles , Livro 2, Capítulo 19, n. 6; Compendium Theologiae , I, n. 105.

 

[174] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 53: AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Audiencia geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[181] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​​​Dicastery para a Doutrina da Fé, Normas para proceder no discernimento de alegados fenómenos sobrenaturais (17 de maio de 2024), n.º 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência Geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI, Carta Encíclica Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. ibid ., n. 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Primeira Bênção Apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025): L'Osservatore Romano , 9 de maio de 2025, 3.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Episcopal Latino-Americano, V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265.

 

[194] Cf. S. Juan Pablo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[196] Conselho Episcopal Latino-Americano, V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259.

 

[01462-ES.01] [Texto original: espanhol]

 

Texto em italiano

 

DICASTERIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

 

Mãe Fiel do Povo

 

Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos

 

referindo-se à cooperação de Maria

 

para a obra da salvação

 

Apresentação

 

Esta Nota responde a inúmeras questões e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas — particularmente a este Dicastério — sobre assuntos referentes à devoção mariana, especialmente certos títulos marianos. Essas questões suscitaram preocupações entre os Pontífices recentes e foram abordadas repetidamente ao longo dos últimos trinta anos nos diversos campos de estudo do Dicastério, como Congressos, Sessões Ordinárias, etc. Isso permitiu que este Dicastério tivesse acesso a uma vasta gama de material que constitui a base desta reflexão.

 

Este texto, ao esclarecer o significado aceitável ou inaceitável de certos títulos e expressões referentes a Maria, busca também explorar os fundamentos corretos da devoção mariana, esclarecendo o lugar de Maria em sua relação com os fiéis, à luz do mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isso implica uma profunda fidelidade à identidade católica e, ao mesmo tempo, um esforço ecumênico particular.

 

O tema subjacente que permeia estas páginas é a maternidade de Maria para com os crentes , uma questão que surge frequentemente, com afirmações que se repetem muitas vezes, enriquecidas e completadas, como uma espiral, com novas considerações.

 

A devoção mariana, inspirada pela maternidade de Maria, é aqui apresentada como um tesouro da Igreja. Não se trata de corrigir a piedade do povo fiel de Deus, que reencontra em Maria refúgio, força, ternura e esperança, mas sobretudo de a valorizar, reconhecer a sua beleza e promovê-la, uma vez que é uma expressão mistagógica e simbólica daquela atitude evangélica de confiança no Senhor que o próprio Espírito Santo inspira livremente nos crentes. De facto, os pobres «encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho». [1]

 

Ao mesmo tempo, existem alguns grupos de reflexão mariana, publicações, novas formas de devoção e apelos a dogmas marianos que não partilham as mesmas características da devoção popular, mas que, em última análise, propõem um desenvolvimento dogmático específico e são intensamente divulgados através de plataformas mediáticas, suscitando frequentemente dúvidas entre os crentes mais simples. Por vezes, são reinterpretações de expressões usadas no passado com significados diferentes. Portanto, este documento examina estas propostas, para indicar como algumas delas correspondem a uma genuína devoção mariana inspirada no Evangelho, ou como outras devem ser evitadas por não promoverem uma compreensão adequada da harmonia da mensagem cristã no seu conjunto.

 

Além disso, diversas passagens desta Nota oferecem amplas perspectivas bíblicas que ajudam a demonstrar como a autêntica devoção mariana se manifesta não apenas na Tradição da Igreja, mas também nas Sagradas Escrituras. Essa importante referência bíblica é aqui complementada por textos dos Padres, Doutores da Igreja e Pontífices recentes. Assim, em vez de impor limitações, a Nota busca acompanhar e apoiar o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Manuel Cardeal Fernández

Prefetto

 

[1] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265. Citado na n. 78 da Nota .

 

Introdução

 

1. [ Mater Populi fidelis ] A Mãe do Povo Fiel [1] é contemplada com afeto e admiração pelos cristãos porque, uma vez que a graça nos torna semelhantes a Cristo, Maria é a expressão eminente da ação pela qual Ele transforma a nossa humanidade; e ela é também a manifestação feminina de tudo o que a graça de Cristo pode operar no ser humano. Diante de tamanha beleza, movidos pelo amor, muitos fiéis sempre procuraram referir-se à Mãe com as mais belas palavras e exaltaram o lugar especial que ela ocupa junto a Cristo.

 

2. Recentemente, este Dicastério publicou as Normas para proceder no discernimento dos supostos fenômenos sobrenaturais . [2] É frequente que, em relação a esses fenômenos, sejam utilizados certos títulos[3] e expressões referentes à Virgem Maria. Esses títulos, alguns dos quais já presentes nos Santos Padres, nem sempre são usados ​​com precisão; por vezes, seu significado é alterado ou são mal interpretados. Além dos problemas terminológicos, alguns títulos apresentam importantes dificuldades quanto ao seu conteúdo, uma vez que frequentemente resultam em uma compreensão errônea da figura de Maria, com sérias repercussões nos níveis cristológico,[4] eclesiológico[5] e antropológico.[6]

 

3. Na interpretação destes títulos referentes à Virgem Maria, a questão é como entender a associação de Maria com a obra redentora de Cristo, isto é: “Qual é o significado desta cooperação singular de Maria no plano de salvação?”[7] Este documento, sem pretender esgotar a reflexão ou ser exaustivo, pretende manter o equilíbrio necessário que, dentro dos mistérios cristãos, deve ser estabelecido entre a mediação única de Cristo e a cooperação de Maria na obra de salvação, e pretende também mostrar como isto se expressa em vários títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da salvação.

 

4. Tradicionalmente, a cooperação de Maria na obra da salvação tem sido abordada sob uma dupla perspectiva: tanto do ponto de vista de sua participação na Redenção objetiva , consumada por Cristo em sua vida e particularmente com a Páscoa, quanto da influência que ela exerce atualmente sobre aqueles que foram redimidos. Na realidade, essas perspectivas estão inter-relacionadas e não podem ser abordadas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvífica de Cristo é atestada pelas Escrituras, que apresentam o evento salvífico realizado em Jesus Cristo como uma promessa nos escritos do Antigo Testamento e como um cumprimento no Novo Testamento. Assim, Maria já é vislumbrada em Gênesis 3:15, porque ela é a Mulher que participa da vitória definitiva sobre a serpente. Por isso, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria como "Mulher" na cena do Calvário ( João 19:26). Mesmo em Caná, Jesus a chama de "Mulher" ( João 2:4), referindo-se a Maria e ao seu papel, juntamente com Ele, na "hora" da Cruz.

 

6. Nessa “hora”, a cooperação de Maria se manifesta, quando ela retorna para pronunciar o “sim” da Anunciação e, nesse momento sagrado, o Evangelho passa de colocar a palavra “Mulher” nos lábios de Jesus ( Jo 19,26) para apresentar Maria como “Mãe” ( Jo 19,27). Quando o Evangelho explica que, em resposta, o discípulo – que representa todos nós – a acolheu, usa um verbo ( lambano ) que no Evangelho assume o significado de “acolher” pela fé (cf. Jo 1,11-12; 5,43 e 13,20). É o mesmo verbo que o quarto Evangelho usa para dizer que a Luz veio entre os seus e eles não o “acolheram” ( Jo 1,11). Ou seja, o discípulo que ocupou o nosso lugar ao lado de Maria a acolheu como Mãe pela fé. Somente depois de confiar Maria como sua Mãe, Jesus reconhecerá que "tudo estava consumado" ( Jo 19,28). Essa alusão solene à plenitude impede uma interpretação superficial do episódio. A maternidade de Maria para conosco faz parte do cumprimento do plano divino que se realiza com a Páscoa de Cristo. De modo semelhante, o Apocalipse apresenta a "Mulher" ( Ap 12,1) como a mãe do Messias (cf. Ap 12,5) e como a mãe dos "outros filhos" ( Ap 12,17).

 

7. Vale lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada”[8] dos eventos da infância de Jesus[9] que aparecem nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas adverte os seus leitores: “Visto que muitos já procuraram relatar os acontecimentos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares”, também ele resolveu “investigar cuidadosamente cada detalhe, desde o princípio” ( Lc 1,1-3). Entre essas testemunhas oculares, destaca-se Maria, a protagonista direta da concepção, do nascimento e da infância do Senhor Jesus. O mesmo se pode dizer dos relatos relativos à Paixão, quando ela estava “junto à cruz de sua mãe Jesus” ( Jo 19,25), e aguardava o Pentecostes, quando os apóstolos estavam “orando com as mulheres e com Maria, mãe de Jesus” ( At 1,14).

 

8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova Filha de Sião que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas reúne as promessas proféticas que anunciavam a alegria messiânica (cf. Sofonias 3,14-17; Zacarias 9,9). Nela se cumprem as promessas que fizeram João Batista exultar de alegria (cf. Lucas 1,41). Isabel se apresenta como indigna de receber a visita de Maria: “E por que me acontece isto, que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” ( Lc 1,43). Isabel não diz: “Quem sou eu para que o meu Senhor venha me visitar?”. Ela se refere diretamente à sua mãe , e por isso podemos perceber a ligação indissociável entre a missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lucas 1,41), de modo que sua atitude diante de Maria se apresenta como um modelo de fé. As palavras que ela pronuncia, movida pelo Espírito, são: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!”. ( Lc 1,42). É surpreendente que, sob a ação do Espírito, não lhe baste chamar Jesus de "bem-aventurado", mas também chame sua mãe de "bem-aventurada": neste momento de alegria messiânica, ela os contempla intimamente unidos. Maria aparece aqui como aquela que é "bem-aventurada" por excelência: "Bem-aventurada aquela que acreditou" ( Lc 1,45); "o meu espírito exulta" ( Lc 1,47); "todas as gerações me chamarão bem-aventurada" ( Lc 1,48). Isso adquire ainda maior importância se notarmos que, no Evangelho segundo Lucas, essa felicidade não aparece como um estado de espírito, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nos pequeninos (cf. Lc 6,20-22), que recebem uma grande recompensa no céu (cf. Lc 6,23).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Santos Padres estavam principalmente interessados ​​na maternidade divina de Maria ( Theotokos ), na sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), na sua santidade perfeita, livre de pecado ao longo de toda a sua vida ( Panagia ) e no seu papel como a nova Eva,[10] concentrando a sua reflexão na associação de Maria com a Redenção de Cristo no mistério da Encarnação. O "sim" de Maria, em resposta à saudação do Arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se fizesse carne no seu ventre (cf. Lc 1,26-37), dá ao ser humano a possibilidade de ser divinizado. Por esta razão, Santo Agostinho chama a Virgem de "cooperadora" na Redenção, sublinhando tanto a ação de Maria unida a Cristo como a sua subordinação a Ele, porque Maria coopera com Cristo para que "os fiéis nasçam na Igreja"[11] e, por esta razão, podemos chamá-la de Mãe do Povo fiel .

 

10. Durante o primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja remete à liturgia. A grande e rica diversidade das tradições litúrgicas do Oriente cristão pretendia ser um eco fiel da Sagrada Escritura, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi , que se tornou a lex credendi , moldou a Mariologia Oriental, da hinografia à iconografia e à piedade popular.[12] Por exemplo, a partir do século V, instituíram-se no Oriente as festas marianas, que posteriormente, no século VII, passaram para o Ocidente. A participação da Mãe de Deus na obra da salvação é comemorada não só nas anáforas e liturgias eucarísticas das Igrejas Orientais, mas sobretudo através dos textos hinográficos utilizados nas horas canônicas, presentes nas diferentes tradições litúrgicas do Oriente cristão. Na hinografia , há uma abundância de composições dedicadas a Maria com alegorias bíblicas,[13] nas quais se invoca a intercessão da Mãe de Deus, o que permitirá uma compreensão mais profunda do mistério fundamental da Encarnação e do seu significado à vista da Redenção em Cristo, com uma linguagem repleta de simbolismo poético, capaz de expressar o espanto e a admiração daqueles que, sendo da mesma linhagem de Maria, contemplam as maravilhas que o Todo-Poderoso operou nela.[14]

 

11. Os ensinamentos dos primeiros Concílios Ecumênicos começam a delinear o dogma de Maria como Mãe de Deus, posteriormente proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre apoiou doutrinariamente os dogmas definidos por esses primeiros Concílios, pelo menos nas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, acolheu em suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas as narrativas e lendas marianas populares relacionadas aos relatos da infância e morte de Jesus. Essas narrativas buscam nutrir a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo de imagens poéticas, que não têm outro propósito senão inspirar admiração. Essa veneração da Mãe de Deus também se manifesta por meio da iconografia , que oferece uma imagem visual de Maria e do Verbo Encarnado. Permanece significativo que as iconografias tradicionais dessas Igrejas, ligadas aos Concílios de Éfeso e Calcedônia, representem Maria principalmente como "Theotokos" [15] e tenham sido criadas para contemplar nela a Virgem Mãe que se apresenta ao mundo e acolhe seu Filho, o Menino Jesus, enquanto intercede pela humanidade diante Dele. Assim, a iconografia mariana oriental, como um querigma e memória visual da teologia dos primeiros Concílios e dos Santos Padres, visa ser uma tradução visual dos títulos específicos atribuídos à Virgem [16]. Por essa razão, os ícones devem "ser lidos" levando-se em conta a liturgia e os hinos. Maria não é um objeto de culto colocado ao lado de Cristo, mas inserida no mistério de Cristo por meio da Encarnação [17]. Ela é o ícone no qual o próprio Cristo é venerado. Ela é a Theotokos , a Virgem Mãe que apresenta seu Filho Jesus, o Cristo, e é ao mesmo tempo a Hodēgētria que mostra, indicando com a mão, o único caminho que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental[18] voltou seu olhar para a relação que une a Virgem Mãe ao mistério da Redenção sangrenta no Calvário e conectou a profecia proferida por Simeão com a Cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da Cruz foi entendida como um sinal de fortaleza cristã, repleta de amor materno. São Bernardo, em um comentário sobre a apresentação de Jesus no templo, fala da cooperação de Nossa Senhora no sacrifício redentor.[19] Arnoldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval († após 1159), considerou pela primeira vez a cooperação de Maria no sacrifício do Calvário, juntamente com seu Filho Jesus Cristo.[20]

 

13. A cooperação da Mãe com o Filho na obra da salvação foi ilustrada pelo Magistério da Igreja.[21] Como diz o Concílio Vaticano II, “os Santos Padres sustentam corretamente que Maria não foi um mero instrumento passivo nas mãos de Deus, mas que cooperou na salvação do homem através da fé livre e da obediência”.[22] Esta associação da Virgem está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e ressurreição) como no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição destaca a primazia e a singularidade de Cristo na Redenção, porque a primeira dos redimidos é também redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer possibilidade de sua própria ação.[23] Nesta condição especial de ser “primeiramente redimida” por Cristo e “primeiramente transformada” pelo Espírito Santo, Maria pode cooperar mais intensa e profundamente com Cristo e com o Espírito, tornando-se um protótipo,[24] modelo e exemplo do que Deus quer realizar em cada redimido.[25]

 

15. A colaboração de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, uma vez que é fruto da iniciativa do Pai, que observou a humildade da sua serva (cf. Lc 1,48); decorre da kenosis do Filho, que se humilhou assumindo a forma de Servo (cf. Fl 2,7-8), e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que dispôs o coração da jovem de Nazaré de tal modo que ela respondeu tanto na Anunciação como ao longo da sua vida de comunhão com o Filho. São Paulo VI ensinou que «na Virgem Maria tudo é relativo a Cristo e tudo depende d'Ele: por Ele, Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu para ser uma Mãe santíssima e a adornou com dons do Espírito, concedidos a ninguém mais».[26] O «sim» de Maria não é simplesmente uma condição prévia para algo que poderia ter sido alcançado sem o seu consentimento e colaboração. Sua maternidade não é simplesmente biológica e passiva,[27] mas é uma maternidade “plenamente ativa ”[28] que se une ao mistério salvífico de Cristo como instrumento amado do Pai em seu plano de salvação. Ela “é a garantia de que Ele, na medida em que ‘nasceu de uma mulher’ ( Gl 4:4), é autenticamente homem, mas ela é também, desde a proclamação do dogma de Niceia, a Theotokos , aquela que dá à luz a Deus.”[29]

 

Títulos que fazem referência à cooperação de Maria na salvação.

 

16. Entre os títulos pelos quais Maria tem sido invocada (Mãe da Misericórdia, Esperança dos Pobres, Auxílio dos Cristãos, Socorro, Advogada, etc. ), há alguns que se referem, em maior medida, à sua cooperação na obra redentora de Cristo, como Corredentora e Medianeira.

 

Corredentrice

 

17. O título de Corredentora surge no século XV como uma correção da invocação de Redentora (abreviação de Mãe do Redentor) que Maria vinha recebendo desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um papel aos pés da Cruz, o que dá origem ao título de Corredentora , título que encontramos pela primeira vez em um hino anônimo do século XV em Salzburgo.[30] Embora o título Redentora tenha sido preservado ao longo dos séculos XVI e XVII, desapareceu completamente no século XVIII, sendo substituído por Corredentora . A investigação teológica sobre a cooperação de Maria na Redenção, durante a primeira metade do século XX, levou a uma compreensão mais profunda do título de Corredentora .[31]

 

18. Alguns Pontífices usaram este título sem se deterem a explicá-lo.[32] Geralmente, apresentaram-no de duas maneiras distintas: em relação à maternidade divina, uma vez que Maria, como mãe, tornou possível a Redenção realizada por Cristo;[33] em referência à sua união com Cristo junto à Cruz redentora.[34] O Concílio Vaticano II evitou usar o título Corredentora por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II usou-o, pelo menos em sete ocasiões, ligando-o sobretudo ao valor salvífico do nosso sofrimento oferecido juntamente com o de Cristo, a quem Maria se une especialmente sob a Cruz.[35]

 

19. Na Feria IV de 21 de fevereiro de 1996, o Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, quando questionado se o pedido do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para uma definição do dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as graças era aceitável, respondeu em seu voto particular o seguinte: « Negativo . O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles contida não está madura. Uma doutrina definida de fide divina pertence ao depositum fidei , isto é, à revelação divina transmitida nas Escrituras e na tradição apostólica. Ainda não está claro como a doutrina expressa nos títulos está presente nas Escrituras e na tradição apostólica».[36] Posteriormente, em 2002, ele expressou publicamente sua opinião contra o uso deste título: «A fórmula “Corredentora” se afasta muito da linguagem das Escrituras e da patrística e, portanto, causa mal-entendidos… Tudo vem d'Ele, como afirmam sobretudo as Epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Maria é o que é graças a Ele. O termo “Corredentora” obscureceria sua origem». O Cardeal Ratzinger não negou que houvesse boas intenções e aspectos valiosos na proposta de usar este título, mas sustentou que se tratava de «terminologia incorreta».[37]

 

20. O então Cardeal mencionou as Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, onde o vocabulário utilizado e o dinamismo teológico dos hinos apresentam a singular centralidade redentora e a fonte do Filho encarnado de tal forma que excluem a possibilidade de acrescentar outras mediações, visto que “toda bênção espiritual” nos é dada “em Cristo” ( Ef 1,3), porque nEle somos filhos adotivos (cf. Ef 1,5) e nEle fomos agraciados (cf. Ef 1,6), “pelo seu sangue temos a redenção” ( Ef 1,7) e Ele “derramou sobre nós” ( Ef 1,8) a sua graça. nEle “ fomos feitos herdeiros” ( Ef 1,11) e fomos predestinados. Deus também quis que nEle “habitasse toda a plenitude” ( Cl 1,19) e que “por meio dEle e para Ele todas as coisas fossem reconciliadas” ( Cl 1,20). Este louvor ao lugar único de Cristo convida tanto a colocar cada criatura num papel claramente receptivo quanto a uma cautela religiosa e prudente ao considerar qualquer forma de possível cooperação na Redenção.

 

21. O Papa Francisco expressou, em pelo menos três ocasiões, a sua posição claramente contrária ao uso do título de Corredentora , afirmando que Maria " nunca quis tomar nada de seu Filho para si. Ela nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula ".[38] A obra da Redenção foi perfeita e não requer nenhum acréscimo. Portanto, "Nossa Senhora não quis tomar nenhum título de Jesus [...]. Ela não pediu para si ser uma quase-redentora ou uma corredentora: não. Há apenas um Redentor e este título não pode ser duplicado".[39] Cristo "é o único Redentor: não há corredentores com Cristo".[40] Porque "o sacrifício da Cruz, oferecido com um espírito amoroso e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita".[41] Embora possamos prolongar seus efeitos no mundo (cf. Col 1,24), nem a Igreja nem Maria podem substituir ou aperfeiçoar a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que foi perfeita e não precisa de acréscimos.

 

22. Dada a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, é sempre inadequado usar o título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Este título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã, porque "não há salvação em nenhum outro, pois não há nenhum outro nome debaixo do céu, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" ( Atos 4:12). Quando uma expressão requer numerosas e contínuas explicações para evitar que se afaste do seu significado correto, ela não serve à fé do Povo de Deus e torna-se inadequada . Neste caso, não ajuda a exaltar Maria como a primeira e maior colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o papel exclusivo de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem para a nossa salvação, o único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não constituiria uma verdadeira honra à Mãe. Na verdade, ela, como "serva do Senhor" ( Lc 1,38), aponta para Cristo e nos pede para fazermos "tudo o que ele nos disser" ( Jo 2,5).

 

Mediador

 

23. O conceito de “mediação” tem sido usado na Patrística Oriental desde o século VI. Nos séculos seguintes, Santo André de Creta,[42] São Germano de Constantinopla[43] e São João Damasceno[44] usaram este título com diferentes significados. No Ocidente, tem sido usado com mais frequência desde o século XII, embora só no século XVII tenha sido afirmado como tese doutrinal. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malines, com a colaboração científica da Universidade Católica de Lovaina e o apoio dos bispos, do clero e do povo belga, pediu ao Papa Bento XV uma definição dogmática da Mediação universal de Maria; contudo, o Papa não a concedeu, mas apenas aprovou uma festa, com sua própria Missa e o ofício de Maria Medianeira.[45] De então até 1950, foi conduzida uma investigação teológica sobre a questão, que chegaria à fase preparatória do Concílio Vaticano II. No entanto, o Concílio não entrou em declarações dogmáticas [46] e preferiu oferecer uma síntese extensa sobre «a doutrina católica sobre o lugar que deve ser atribuído à Bem-Aventurada Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja».[47]

 

24. A expressão bíblica que se refere à mediação exclusiva de Cristo é peremptória. Cristo é o único Mediador: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo em resgate por todos” ( 1 Tm 2,5-6). A Igreja explicou este lugar único de Cristo pelo fato de que, sendo Ele o Filho eterno e infinito, a humanidade que assumiu está hipostaticamente unida a Ele. Este lugar é exclusivo da Sua humanidade, e as consequências que dele derivam só podem ser aplicadas a Cristo. Neste sentido preciso, o papel do Verbo encarnado é exclusivo e único. Dada esta clareza do Verbo revelado, é necessária especial prudência ao aplicar este título de “Mediadora” a Maria. Diante da tendência de ampliar o âmbito da cooperação de Maria, partindo deste termo, é conveniente especificar tanto o seu precioso significado quanto os seus limites.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar o uso muito comum do termo "mediação" nas mais diversas esferas da vida social, onde é entendido simplesmente como cooperação, assistência, intercessão. Consequentemente, ele é inevitavelmente aplicado a Maria em um sentido subordinado e de modo algum pretende acrescentar qualquer eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que houve uma verdadeira mediação de Maria para tornar possível a verdadeira Encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, pois era necessário que o Redentor “nascesse de mulher” ( Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que não se tratava de uma mediação meramente biológica, pois destaca a presença ativa de Maria, que pergunta (cf. Lc 1,29.34) e aceita decisivamente: “ Fiat ” ( Lc 1,38). Essa resposta de Maria abriu as portas para a Redenção esperada por toda a humanidade e que os santos descreveram com dramatismo poético.[48] Nas bodas de Caná, Maria também desempenha um papel de mediadora, quando apresenta a Jesus as necessidades dos esposos (cf. Jo 2,3) e quando pede aos servos que sigam as instruções de Jesus (cf. Jo 2,5).

 

27. No Concílio Vaticano II, o termo mediação refere-se sobretudo a Cristo e, por vezes, também a Maria, embora de forma claramente subordinada.[49] De facto, preferia-se uma terminologia diferente em referência a ela, centrada na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria, com expressões como « intercessão múltipla» e «proteção materna».[52] Estes dois aspetos, em conjunto, configuram a especificidade da cooperação de Maria na ação de Cristo através do Espírito. A rigor, não podemos falar de outra mediação da graça senão a do Filho de Deus encarnado.[53] Por esta razão é necessário lembrar sempre, e não esconder, a convicção cristã de que «a verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único Salvador, que na sua encarnação, morte e ressurreição completou a história da salvação, que tem nele a sua plenitude e o seu centro, deve ser firmemente crida como um facto perene da fé da Igreja».[54]

 

Maria na mediação única de Cristo

 

28. Ao mesmo tempo, precisamos lembrar que a singularidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, isto é, Cristo torna possíveis diferentes formas de mediação no cumprimento de seu plano salvífico para que, em comunhão com ele, todos possamos ser, de alguma forma, colaboradores de Deus, “mediadores” uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). Precisamente porque Cristo detém um poder supremo e infinito, ele pode capacitar seus irmãos e irmãs, tornando-os capazes de uma verdadeira cooperação na realização de seus planos. O Concílio Vaticano II afirmou que “a mediação única do Redentor não exclui, mas antes inspira nas criaturas uma cooperação variada que participa de uma única fonte”.[55] Por esta razão, “o conteúdo desta mediação participativa precisa ser explorado mais profundamente, mas deve sempre permanecer regido pelo princípio da mediação única de Cristo”.[56] Permanece verdade que a Igreja prolonga no tempo e comunica em toda parte os efeitos do evento pascal de Cristo,[57] e que Maria ocupa um lugar único no coração da Mãe Igreja.[58]

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se evidente se partirmos da convicção de que o Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes a colaborarem com Ele em Sua obra. Isso não acontece por causa de qualquer fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte do próprio Cristo, mas precisamente por causa de Seu glorioso poder, que é capaz de nos envolver, generosa e livremente, como colaboradores em Sua obra. O que deve ser enfatizado aqui é precisamente isto: quando Ele nos permite acompanhá-Lo e, sob o impulso de Sua graça, dar o melhor de nós mesmos, é o Seu poder e a Sua misericórdia que são, em última análise, glorificados.

 

Frutíferos na glória de Cristo

 

30. O seguinte texto é particularmente esclarecedor: “Quem crê em mim fará também as obras que eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( Jo 14,12). Os crentes, unidos a Cristo ressuscitado, que retornou ao seio do Pai, podem realizar obras que ultrapassam as maravilhas do Jesus terreno, mas sempre graças à sua união, pela fé, com o Cristo glorioso. Foi o que se manifestou, por exemplo, na admirável expansão da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado fez da sua Igreja participante desta sua obra (cf. Mc 16,15). Desta forma, a sua glória não foi diminuída, mas manifestada ainda mais, mostrando-se como um poder capaz de transformar os crentes, tornando-os fecundos juntamente com Ele.

 

31. Nos Padres da Igreja, esta visão encontrou uma expressão particular no comentário de Jo 7,37-39, visto que alguns interpretaram a promessa dos “rios de água viva” como se referindo aos crentes. Ou seja, os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em Jo 7,38 porque faz fluir rios de água de nós: “A alma humana, feita à imagem de Deus, pode conter em si mesma e produzir de si mesma poços, fontes e rios”.[59] Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo “para que a fonte de água que jorra para a vida eterna abunde em vós”.[60] São Tomás de Aquino expressou isto afirmando que se um crente “se apressa em comunicar aos outros os vários dons da graça que recebeu de Deus, água viva flui do seu coração”.[61]

 

32. Se isso é verdade para todo crente, cuja cooperação com Cristo se torna tanto mais frutífera quanto mais ele ou ela se deixa transformar pela graça, com muito mais razão se deve dizer o mesmo de Maria, de modo único e supremo. Pois ela é aquela "cheia de graça" ( Lc 1,28) que, sem colocar obstáculos no caminho da obra de Deus, disse: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra" ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da graça, que permaneceu firme aos pés da Cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo com seu Filho, oferecendo a dor de seu coração materno transpassado pela espada (cf. Lc 2,35). Ela permaneceu unida a Cristo desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição de um modo exclusivo e superior a tudo o que possa acontecer a qualquer crente.

 

33. Tudo isso não por causa de seus méritos, mas porque os méritos de Cristo na Cruz foram plenamente aplicados a ela, de modo especial e antecipado, para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Em suma, Maria é um hino à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer testemunho de sua beleza remete imediatamente à glorificação da fonte de todo o bem: a Trindade. A incomparável grandeza de Maria reside no que ela recebeu e em sua confiante disposição de se deixar preencher pelo Espírito. Quando tentamos atribuir a ela funções ativas, paralelas às de Cristo, nos distanciamos daquela incomparável beleza que lhe é própria. A expressão "mediação participada" pode expressar um sentido preciso e precioso do lugar de Maria, mas, se não for adequadamente compreendida, pode facilmente obscurecê-lo e até mesmo contradizê-lo. A mediação de Cristo, que em certos aspectos pode ser "inclusiva" ou participada, em outros aspectos é exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos Crentes

 

34. No caso de Maria, esta mediação realiza-se de forma materna ,[63] exatamente como aconteceu em Caná[64] e como foi ratificado sob a Cruz.[65] O Papa Francisco explicou-o assim: «Ela é Mãe. E este é o título que recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da Cruz (cf. Jo 19,26-27). Vossos filhos, vós sois Mãe. […] ela recebeu o dom de ser Sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe».[66]

 

35. O título de Mãe tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e nos Santos Padres, foi proposto pelo Magistério e a formulação de seu conteúdo se desenvolveu até a exposição do Concílio Vaticano II[67] e até a expressão maternidade espiritual na encíclica Redemptoris Mater .[68] Esta maternidade espiritual de Maria flui da maternidade física do Filho de Deus. Ao gerar fisicamente Cristo, partindo de sua livre e crente aceitação desta missão, a Virgem gerou na fé todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo, isto é, ela gerou o Cristo inteiro , cabeça e membros.[69]

 

36. A participação da Virgem Maria, como Mãe, na vida de seu Filho, desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição, confere um caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora de Cristo, e é especialmente verdadeira para a Igreja, “quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; na invocação confiante, quando experimenta a intercessão de seu Advogado e Auxiliador”.[70] Este aspecto materno é o que caracteriza a relação da Virgem com Cristo e sua colaboração em cada momento da obra da salvação. Em sua missão como Mãe, Maria tem uma relação única com o Redentor e também com os redimidos, dos quais ela mesma é a primeira. “Maria é tipologia (modelo) da Igreja e do novo nascimento que nela ocorre”, mas ainda mais ela é o símbolo e a “síntese da própria Igreja”.[71] É uma maternidade que nasce da doação total de si e do chamado para se tornar serva do mistério.[72] Essa maternidade de Maria resume tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria em toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria apresenta algumas características específicas:

 

a) Ela encontra seu fundamento no fato de ela ser a Mãe de Deus e estender a maternidade aos discípulos de Cristo[73] e também a todos os seres humanos.[74] Nesse sentido, a cooperação de Maria é singular e se distingue da cooperação “de outras criaturas”.[75] Sua intercessão tem uma característica que não é a de uma mediação sacerdotal, como a de Cristo, mas se situa na ordem e analogia da maternidade.[76] Ao associar a intercessão de Maria à sua obra, os dons que nos chegam do Senhor são apresentados a nós com um aspecto materno, cheio da ternura e proximidade da Mãe[77] que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,27).

 

b) A cooperação materna de Maria está em Cristo e, portanto, é partilhada , isto é, é «uma participação nesta fonte única que é a mediação do próprio Cristo».[78] Maria entra de modo completamente pessoal na mediação única de Cristo.[79] A função materna de Maria «de modo nenhum obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo, mas antes mostra a sua eficácia. Toda a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens» provém «da superabundância dos méritos de Cristo; por isso, funda-se na mediação destes, depende absolutamente dela e dela retira toda a sua eficácia».[80] Na sua maternidade, Maria não é um obstáculo colocado entre os seres humanos e Cristo ; pelo contrário, a sua função materna está indissoluvelmente ligada à de Cristo e orientada para Ele. Compreendida desta forma, a maternidade de Maria não pretende enfraquecer a adoração única que é devida somente a Cristo, mas antes estimulá-la.[81] É necessário, portanto, evitar títulos e expressões referentes a Maria que a apresentem como uma espécie de “para-raios” diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus. O Concílio Vaticano II reiterou o que deveria ser o culto dedicado a Maria: “Um culto orientado para o centro cristológico da fé cristã, de modo que ‘quando a Mãe é honrada, o Filho [...] seja devidamente conhecido, amado e glorificado’”.[82] Em última análise, a maternidade de Maria está subordinada [83] à eleição pelo Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo.

 

c) A Igreja não é apenas um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria: é precisamente a dimensão sacramental da Igreja que é o lugar onde a sua função materna se expressa sempre.[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade encontra-se na comunhão eclesial e não fora dela; ela guia a Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende a sua própria maternidade com Maria:[85] na acolhida da Palavra de Deus que evangeliza, converte e proclama Cristo; no dom da vida sacramental do Batismo e da Eucaristia, e na educação e formação materna que ajuda os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Por isso, pode-se dizer que «a fecundidade da Igreja é a mesma fecundidade de Maria; e realiza-se na existência dos seus membros na medida em que estes revivem, 'em miniatura', o que a Mãe viveu, isto é, amam segundo o amor de Jesus».[87] Maria, como Mãe, como a Igreja, espera que Cristo seja gerado em nós,[88] não para tomar o seu lugar. Por esta razão, “graças à imensa fonte que flui do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os crentes, de diferentes maneiras, tornam-se canais de água viva. Desta forma o próprio Cristo manifesta a sua glória na nossa pequenez.”[89]

 

Intercessão

 

38. Maria está unida a Cristo de modo único por causa de sua maternidade e por ser cheia de graça. Isso é sugerido na saudação do anjo (cf. Lc 1,28), que usa uma palavra ( kecharitōmenē ) que é única e exclusiva em toda a Bíblia. Ela, que recebeu em seu ventre o poder do Espírito Santo e foi a Mãe de Deus, torna-se, pelo mesmo Espírito, Mãe da Igreja.[90] Devido a essa união particular de maternidade e graça, sua oração por nós tem um valor e uma eficácia que não podem ser comparados a nenhuma outra intercessão. São João Paulo II vinculou o título de "mediadora" a essa função de intercessão materna, pois ela "se coloca 'no meio', isto é, age como mediadora não como uma estranha, mas em sua posição de mãe, consciente de que, como tal, pode – aliás, 'tem o direito' – de fazer conhecer as necessidades da humanidade a seu Filho".[91]

 

39. A fé católica lê nas Escrituras que aqueles que estão com Deus no céu podem continuar a realizar atos semelhantes de amor, intercedendo por nós e acompanhando-nos. Vemos, por exemplo, que os anjos são "espíritos enviados para servir aqueles que herdarão a salvação" ( Hb 1,14). Fala-se de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5,4; 12,12; At 12,7-11; Ap 8,3-5). Há anjos que ajudam Jesus no deserto, quando foi tentado (cf. Mt 4,11) e nos momentos da Paixão (cf. Lc 22,43). No Salmo, somos prometidos que Deus "dará ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos" ( Sl 91,11).

 

40. Esses textos nos mostram que o céu não está completamente separado da terra. Isso abre a possibilidade de obtermos intercessão daqueles que estão no céu. O livro de Zacarias nos apresenta um anjo de Deus que diz: “Ó Senhor dos Exércitos, até quando negarás misericórdia a Jerusalém e às cidades de Judá, contra as quais estás irado? Estes setenta anos!” ( Zc 1:12). De modo semelhante, o Apocalipse nos fala dos “mortos”, os mártires no céu, que intercedem, pedindo a Deus que aja na terra para nos libertar da injustiça: “Vi debaixo do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam com grande voz: ‘Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgarás e vingarás o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’” ( Ap 6:9-10). Já na tradição judaico-helenística estava estabelecida a crença de que os justos intercediam pelo povo após a morte (cf. 2 Mac 15:12-14).

 

41. Maria, que no céu ama “o restante da sua descendência” ( Ap 12,17), assim como acompanhou a oração dos apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), continua agora a acompanhar as nossas orações com a sua intercessão materna. Desta forma, ela mantém a atitude de serviço e compaixão que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11) e ainda hoje continua a dirigir-se a Jesus para lhe dizer: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). No seu cântico de louvor, vemos Maria como mulher do seu povo, que louva a Deus porque “ele exaltou os humildes e saciou de bens os famintos” ( Lc 1,52-53), porque “socorreu o seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia, como prometera aos nossos pais” ( Lc 1,54-55), e reconhecemos a sua prontidão quando se aproxima sem demora para socorrer a sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). Por essa razão, o povo de Deus confia firmemente em sua intercessão.

 

42. Entre os eleitos e os glorificados com Cristo, a Mãe vem em primeiro lugar, pelo que podemos afirmar que há uma colaboração singular de Maria na obra salvífica que Cristo realiza na sua Igreja. É uma intercessão que a transforma num sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma, como Ele o quis livremente, o Senhor dá um rosto materno à sua ação para conosco.[92]

 

Proximidade materna

 

43. A presença de diversas devoções, imagens e santuários marianos manifesta essa maternidade concreta de Maria que se aproxima da vida de seus filhos. Um exemplo disso é a manifestação da Mãe ao santo indígena Juan Diego no Monte Tepeyac. Maria o chama com as ternas palavras de uma mãe: “Meu filhinho, meu Juanito”. E, diante das dificuldades que São Juan Diego lhe apresenta no cumprimento da missão que lhe foi confiada, Maria revela-lhe a força de sua maternidade: “Não estou eu aqui, eu que sou tua mãe? […] Não estás tu no dobramento do meu manto, no dobramento dos meus braços?”[93]

 

44. A experiência do afeto materno de Maria, vivida por São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que acolhem o afeto de Maria e colocam em suas mãos “as necessidades da vida diária e abrem com confiança seus corações para implorar sua intercessão materna e obter sua reconfortante proteção”.[94] Além dessas extraordinárias manifestações de sua proximidade, há constantes expressões diárias de sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Mesmo quando não pedimos sua intercessão, ela se mostra próxima como Mãe, para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar o dom salvífico de Cristo e a acolher a ação santificadora do Espírito. Seu valor para a Igreja é tão grande que os pastores devem evitar qualquer exploração política dessa proximidade da Mãe. O Papa Francisco advertiu em diversas ocasiões e expressou sua preocupação com “várias propostas ideológicas e culturais que buscam se apropriar do encontro de um povo com sua Mãe”.[95]

 

Mãe da Graça

 

45. Este sentido de “Mãe dos crentes” permite-nos falar da ação de Maria também em relação à nossa vida de graça. Contudo, convém notar como certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, são facilmente carregadas de imagens e simbolismos que, na verdade, transmitem outros conteúdos, menos aceitáveis. Por exemplo, Maria é apresentada como tendo um depósito de graça separado de Deus, onde não se percebe tão claramente que o Senhor, na sua generosa e livre onipotência, quis associá-la à comunicação daquela vida divina que flui de um único centro, que é o Coração de Cristo, e não Maria.[96] É também frequente que ela seja apresentada ou imaginada como uma fonte da qual flui toda a graça. Se tivermos em conta que a habitação trinitária (graça incriada) e a participação na vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que este mistério possa ser condicionado por uma “passagem” pelas mãos de Maria. Imagens desse tipo exaltam Maria de tal forma que a centralidade do próprio Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger explicou que o título de Maria mediadora de todas as graças não estava claramente fundamentado na Revelação divina,[97] e em consonância com essa convicção podemos reconhecer as dificuldades que ele acarreta tanto na reflexão teológica quanto na espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como dispositiva . Por um lado, por causa de seu caráter intercessório ,[98] visto que a intercessão materna é uma expressão daquela “proteção materna”[99] que nos permite reconhecer em Cristo o único Mediador entre Deus e os homens. Por outro lado, sua presença materna em nossa vida não exclui as diversas ações de Maria que motivam a abertura de nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, de várias maneiras, ela nos ajuda a nos prepararmos para a vida de graça que só o Senhor pode infundir em nós.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo e de mais ninguém. Santo Agostinho afirmou que “este reinado de morte é destruído em cada homem somente pela graça do Salvador”[100] e explicou isso claramente em termos da redenção do injusto: “Mas quem quereria morrer por um injusto, por um ímpio, por um homem iníquo, senão somente Cristo, tão inocente que pôde justificar até mesmo o injusto? Portanto, meus irmãos, não tivemos obras meritórias, mas apenas deméritos. Mas, embora tais fossem as obras dos homens, sua misericórdia […] em vez da devida punição, concedeu a graça indevida […] não ao preço do ouro ou da prata, mas ao preço do seu sangue, que ele derramou”.[101] Portanto, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que “ninguém pode merecer a primeira graça por outro, senão somente Cristo”.[102] Nenhum outro ser humano pode merecê-la em sentido estrito ( de condigno ), e sobre este ponto não há dúvida: “Ninguém pode ser justo senão aquele a quem são comunicados os méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”.[103] No entanto, a plenitude da graça de Maria também existe porque ela a recebeu livremente, antes de qualquer ação, “em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”.[104] Somente os méritos de Jesus Cristo, que se entregou para o fim, são aplicados em nossa justificação, a qual, tendo “como fim último o bem eterno da participação divina, é uma obra maior que a criação do céu e da terra”.[105]

 

48. No entanto, um ser humano pode participar com o seu desejo pelo bem do seu irmão, e é razoável ( congruente ) que Deus satisfaça esse desejo de caridade que a pessoa expressa “com a sua oração” ou “através de obras de misericórdia”.[106] É verdade que este dom da graça só pode ser derramado por Deus, uma vez que “ultrapassa a proporção da natureza”[107] e existe uma distância infinita[108] entre a nossa natureza e a sua vida divina. Contudo, Ele pode fazê-lo satisfazendo o desejo da Mãe, que, desta forma, se associa alegremente à obra divina como uma humilde serva.

 

49. Tal como em Caná, Maria não diz a Cristo o que fazer. Ela intercede, revelando a Cristo as nossas falhas, necessidades e sofrimentos para que Ele possa agir com o seu poder divino:[109] «Eles não têm vinho» ( Jo 2,3). Também hoje ela nos ajuda a prepararmo-nos para a ação de Deus:[110] «Fazei tudo o que ele vos disser» ( Jo 2,5). As suas palavras não são uma simples indicação, mas tornam-se uma autêntica pedagogia materna que introduz a pessoa, sob a ação do Espírito, no profundo significado do mistério de Cristo.[111] Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir a nossa existência a Cristo e à sua graça,[113] porque Ele é o único que opera na parte mais íntima do nosso ser.

 

Onde só Deus pode chegar

 

50. Como nos recorda o Catecismo , a graça santificante é “antes de tudo o dom do Espírito que nos justifica e santifica”.[114] Não é simplesmente uma ajuda, uma energia que possuímos, mas “é o dom gratuito que Deus nos dá da sua vida, infundida na nossa alma pelo Espírito Santo”[115], que pode ser descrito como a habitação da Trindade na parte mais íntima de nós mesmos, como amizade com Deus, como uma aliança com o Senhor. Só Deus pode fazer isto, porque implica vencer uma desproporção “infinita”.[116] Este dom da Trindade, esta “penetração [do próprio Deus] na alma”[117] ( illabitur ), implica um efeito transformador inerente à parte mais íntima do crente.[118] Para indicar essa penetração nas profundezas do ser humano, São Tomás de Aquino usou este verbo, aplicável somente a Deus, illabi , visto que somente Deus, não sendo uma criatura, pode alcançar a intimidade pessoal sem violar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Somente Deus alcança o centro mais íntimo da pessoa para realizar sua elevação e transformação quando se entrega como amigo e, por essa razão, “nenhuma criatura pode conferir graça”.[120] São Tomás repete isso ao falar da graça sacramental: como causa principal , “somente Deus causa o efeito interior dos sacramentos. Tanto porque somente Deus penetra a alma, na qual o efeito sacramental é produzido, quanto porque nada pode agir imediatamente onde Ele não está. Tanto porque a graça, que é o efeito interior dos sacramentos, vem exclusivamente de Deus”.[121]

 

51. Outros autores expressaram-se de maneira semelhante;[122] entre eles destaca-se São Boaventura, que ensinou que quando Deus opera com a graça santificante em um ser humano, torna-o absolutamente imediato [123] a si mesmo. Deus, por meio da graça, aproxima-se totalmente do ser humano, com absoluta imediatidade, com uma “penetração” nas profundezas que só ele pode alcançar.[124] Essa mesma graça criada, então, não opera como um “intermediário”, mas é um efeito direto da amizade que Deus concede tocando diretamente o coração humano. E assim, como Deus opera a transformação da pessoa quando se dá como amigo, não há intermediário entre Deus e o ser humano transformado.[125] Somente Deus é capaz de penetrar tão profundamente, a fim de santificar, a ponto de se tornar absolutamente imediato , e somente ele pode fazer isso sem destruir a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus,[127] assume uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da salvação. Hipostaticamente unido ao Filho por uma graça que «é indubitavelmente infinita»,[128] nesta humanidade «a graça encontra-se na sua maior excelência. Por isso, a abundância da graça que recebeu permite-lhe [ competit sibi ] comunicá-la aos outros. Esta é a sua função como cabeça».[129] Esta humanidade participa na efusão da graça santificante, que dela transborda ou “superabunda”.[130] Consequentemente, « segundo a sua humanidade , ele é o princípio de toda a graça», como a cabeça da qual ela chega aos outros (« in alios trasfundetur »).[131] Esta natureza humana é inseparável da nossa salvação, uma vez que «com a Encarnação, todas as ações salvíficas do Verbo de Deus são sempre realizadas em unidade com a natureza humana que ele assumiu para a salvação de todos os homens»[132]. Através desta natureza humana assumida, o Filho de Deus «uniu-se de certo modo a cada homem» e «pelo seu sangue livremente derramado mereceu a vida para nós»[133]. Pela graça, os fiéis estão unidos a Cristo e participam no seu Mistério Pascal, de tal modo que podem viver uma união íntima e única com ele, que São Paulo expressou nestas palavras: «Já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim» ( Gl 2,20).

 

53. Nenhuma pessoa humana, nem mesmo os Apóstolos ou a Bem-Aventurada Virgem Maria, pode agir como dispensador universal da graça. Somente Deus pode dar a graça,[134] e o faz por meio da humanidade de Cristo,[135] visto que “Cristo-Homem detém a plenitude da graça como Filho unigênito do Pai”.[136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja eminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela mesma, como nós, é filha adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, “filha de vosso Filho”.[137] Ela coopera na economia da salvação por meio de uma participação derivada e subordinada; portanto, qualquer expressão referente à sua “mediação” da graça deve ser entendida em remota analogia com Cristo e sua mediação única.[138]

 

54. Na perfeita imediaticidade entre o ser humano e Deus, na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação da Trindade podem ser concebidas como algo que nos chega por meio de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos dizer é que Maria deseja esse bem para nós e o pede juntamente conosco. A liturgia, que também é lex credendi , permite-nos reafirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas na intercessão materna. De fato, na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição, quando se explica em que sentido o privilégio concedido a Maria foi para o bem do Povo, afirma-se que ela foi colocada como “advogada da graça”,[139] isto é, como aquela que intercede pedindo por nós o dom da graça.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II, “toda influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens [...] promove e de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo”.[140] Por esta razão, deve-se evitar qualquer descrição que sugira, de modo neoplatônico, uma espécie de efusão gradual da graça, como se a graça de Deus descesse por meio de intermediários distintos – como Maria – enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada de nossos corações. Essas interpretações têm um impacto negativo na compreensão correta do encontro íntimo, direto e imediato que a graça proporciona entre o Senhor e o coração do crente.[141] O fato é que somente Deus justifica.[142] Somente o Deus Trino, somente Ele, nos eleva para superar a infinita desproporção que nos separa da vida divina; somente Ele realiza em nós a habitação trinitária; somente Ele entra em nós, transformando-nos e tornando-nos participantes de sua vida divina. Não é honra para Maria atribuir-lhe qualquer mediação na realização desta obra exclusivamente divina.

 

A água viva que flui

 

56. Não obstante, dado que Maria é cheia de graça e que o bem tende sempre a ser comunicado, surge facilmente a ideia de uma espécie de “transbordamento” da graça que Maria possui, o qual só pode ter um significado adequado se não contradizer o que foi dito até agora. Não há dificuldade se se tratar principalmente das formas de cooperação que já mencionamos (intercessão materna e proximidade que nos convida a abrir os nossos corações à graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação variada por parte da criatura “participando de uma única fonte”.[143]

 

57. A natureza fundamentalmente decisiva da cooperação dos fiéis — principalmente de Maria — na comunicação da graça aparece expressa na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que fluem dos corações dos fiéis (cf. Jo 7,38). Embora esta seja uma imagem poderosa, que poderia ser interpretada como se os fiéis fossem canais para uma transmissão aperfeiçoadora da graça santificante, os Padres da Igreja, ao especificarem como ocorre esse derramamento dos rios do Espírito, expressaram-no por meio de ações decisivas. Por exemplo, a pregação, o ensino e outras formas de transmissão do dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica-o ao conhecimento das Escrituras ou à percepção dos sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria, este transbordamento de água é o ensinamento dos mistérios da fé,[145] “mistagogia pura” em seu sentido profundo, que não é meramente intelectual, mas toca a disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém sustenta que é o ensinamento das Escrituras quando conduz à luz.[147] São João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estêvão ou à autoridade da palavra de Pedro.[148] Santo Ambrósio diz: «Estes são os rios que escutam com seus ouvidos a Palavra de Deus e falam, para que possam infundir a Palavra nos corações dos indivíduos»,[149] e aplica-o desta maneira: «Que a água da doutrina celestial flua […] que a areia da palavra do Senhor impregne»[150] os corações de cada um.[151] Para São Jerônimo também, a água é o ensinamento do Salvador,[152] assim como para São Gregório Magno, que também ensina que é «uma vontade piedosa para com o próximo».[153] Estas interpretações dos rios de água viva que fluem dos crentes e se concentram no conhecimento das Escrituras e dos seus mistérios, não se referem, em geral, a um conhecimento meramente intelectual, mas sim a um conhecimento sapiencial e iluminador do coração, para que este se abra à própria realidade dos Mistérios.

 

59. Em vários Padres e Doutores da Igreja, encontramos também uma explicação mais ampla, que integra, além da pregação ou da catequese, obras que oferecem auxílio ao próximo em suas necessidades, ou um testemunho de amor. Dessa forma, Santo Hilário entende os rios de água viva como obras do Espírito Santo por meio das virtudes que atuam em benefício do próximo.[154] Santo Agostinho aplica a imagem à “benevolência, pela qual se deseja ajudar o próximo”.[155] Na Idade Média, essa perspectiva continuou até São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva se manifestam porque, “quando alguém se apressa em aconselhar o próximo e em comunicar aos outros os diversos dons da graça recebidos de Deus, águas vivas fluem de seu coração”.[156]

 

60. Quando São Tomé fala dos “diferentes dons da graça” para o serviço dos outros, ele se refere aos diferentes dons carismáticos, pois “como está escrito ( 1 Cor 12,10), a um o dom de línguas; a outro o de curar, etc.”[157] Este aspecto também está presente em São Cirilo de Jerusalém, que indica que os rios de água do Espírito, que são comunicados através dos crentes, manifestam-se quando ele “usa a língua de alguém como dom de sabedoria; ilumina a mente de outros com o dom da profecia; a este concede o espírito de expulsar demônios [...] fortalece a temperança em alguns e a verdadeira misericórdia em outros; a outros ainda ensina a prática do jejum e do ascetismo.”[158]

 

61. Algo semelhante pode ser dito sobre a interpretação de João 14:12, que fala de crentes realizando “obras maiores” ( meizona ) do que as do Cristo terreno. Os crentes participam da obra de Cristo no sentido de que eles também, de alguma forma, estimulam a fé de outros ao proclamarem a Palavra. Isso é explicitamente declarado em João 17:20b: “Aqueles que creem em mim por meio da palavra deles”. O mesmo é sugerido em João 14 :6-11, onde as obras de Cristo são aquelas que manifestam o Pai (v. 8). As obras dos crentes, centradas na proclamação do Evangelho por meio da palavra, são colocadas em paralelo com as obras de Cristo. Jesus proclama: “Se eles guardaram a minha palavra, também guardarão a tua” ( João 15:20c). E, visto que quem ouve a Palavra de Cristo tem a vida eterna (cf. Jo 5:24), Jesus anuncia que outros crerão por meio da palavra dos crentes (cf. Jo 17:20). No entanto, não se trata apenas de palavras, mas também do testemunho eloquente dos crentes, e é por isso que Jesus pede ao Pai que os crentes estejam unidos para que "o mundo creia" ( João 17:21).

 

Amor que se comunica no mundo

 

62. O Evangelho de João associa intimamente a caridade fraterna a esta comunicação do bem. De fato, a afirmação "se me amardes, guardareis os meus mandamentos" ( Jo 14,15) é paralela a "quem crê em mim também fará as obras que eu faço" ( Jo 14,12). Quando Cristo fala do fruto que espera de seus discípulos, acaba por identificá-lo com o amor fraterno (cf. Jo 15,16-17). Mesmo São Paulo, depois de ter falado das várias obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Cor 12), propõe um caminho mais excelente quando diz: "Buscai com afinco os melhores dons ( ta meizona ). E eu vos mostrarei o caminho mais excelente ( kath'hyperbolēn ): o amor" ( 1 Cor 12,31). As obras de amor para com o próximo, mesmo o trabalho diário ou o esforço para mudar este mundo, tornam-se, então, um canal de cooperação com a obra salvífica de Cristo.

 

63. Pontífices recentes também se expressaram nesse sentido. São João XXIII ensinou que “quando se realizam as atividades, mesmo que de natureza temporal, em união com Jesus, o divino Redentor, todo o trabalho se torna, por assim dizer, uma continuação de sua obra, imbuída de poder redentor […] contribui-se para estender e difundir o fruto da redenção aos outros”.[159] São João Paulo II compreendeu essa colaboração como a reconstrução, junto com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa do pecado, porque “o Coração de Cristo quis precisar de nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza” e “esta é a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador”.[160] O Papa Bento XVI afirmou que “como recipientes do amor de Deus, os homens e as mulheres são constituídos sujeitos da caridade, chamados a se tornarem eles mesmos instrumentos da graça, a derramar a caridade de Deus e a tecer redes de caridade. A doutrina social da Igreja responde a essa dinâmica de caridade recebida e dada”.[161] E o Papa Francisco ensinou que, para Santa Teresa do Menino Jesus, «não se trata apenas de permitir que o Coração de Cristo difunda a beleza do seu amor nos nossos corações, através da confiança total, mas também de que, através da própria vida, ele alcance os outros e transforme o mundo […] e se traduza em atos de amor fraterno com os quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, oferecemos novas expressões ao poder restaurador do Coração de Cristo»[162]

 

64. Esta é a cooperação possibilitada por Cristo e realizada pela ação do Espírito que, no caso de Maria, se distingue da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que o próprio Cristo lhe atribuiu na Cruz.

 

Critérios

 

65. Qualquer outra forma de entender esta cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir a Maria alguma forma de intervenção ou instrumentalidade aperfeiçoadora ou causa secundária na comunicação da graça santificante,[163] deve prestar particular atenção a alguns critérios já mencionados na Constituição Dogmática Lumen gentium :

 

a) Devemos refletir sobre como Maria fomenta a nossa união “imediata”[164] com o Senhor, que Ele próprio realiza conferindo a graça, e que só podemos receber de Deus,[165] mas sem entender a união com Maria como mais imediata do que a com Cristo. Este risco está presente sobretudo na ideia de que Cristo nos dá Maria como instrumento ou causa secundária e aperfeiçoadora na comunicação da sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II enfatizou que “toda influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens não provém de uma necessidade objetiva, mas de uma disposição puramente gratuita de Deus”.[166] Esta influência só pode ser concebida com base na livre decisão de Deus que, embora a sua própria ação seja transbordante e superabundante, deseja associá-la livre e gratuitamente à sua obra. Por esta razão, não é correto apresentar a ação de Maria como se Ele precisasse dela para realizar a salvação.

 

c) Devemos entender a mediação de Maria não como um complemento para que Deus possa operar plenamente, com maior riqueza e beleza, mas “para que nada seja tirado ou acrescentado à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”.[167] Ao explicar a mediação de Maria, deve-se enfatizar que Deus é o único Salvador, que aplica exclusivamente os méritos de Jesus Cristo, os únicos necessários e plenamente suficientes para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em nada do que Ele não faz (ela não tira) nem O completa (acrescenta). Se na comunicação da graça ela nada acrescenta à mediação salvífica de Cristo, Maria não deve ser considerada o instrumento principal desse dom.[168] Se ela acompanha uma ação de Cristo, por meio da obra do próprio Cristo, ela não deve de modo algum ser entendida como uma mediação paralela. Antes, estando associada a Ele, é Maria quem recebe do Filho um dom que a coloca além de si mesma, porque lhe é concedido acompanhar a obra do Senhor com seu caráter materno. Voltemos então ao ponto mais certo: a contribuição dispositiva de Maria , através da qual podemos pensar numa ação em que ela contribui com algo próprio na medida em que “pode dispor outros de alguma forma”[169]. Porque “cabe ao poder supremo conduzir ao fim último, enquanto os poderes inferiores colaboram dispondo [o sujeito] à realização desse fim”.[170]

 

66. O que foi dito não ofende nem humilha Maria, porque todo o seu ser está voltado para o seu Senhor. «A minha alma engrandece ao Senhor» ( Lc 1,46): para ela não há outra glória senão a de Deus. Sendo Mãe, a sua alegria é duplicada quando vê Cristo manifestar a beleza inexaurível e superabundante da sua glória, curando, transformando e preenchendo com Ele os corações destes filhos que ela acompanhou na sua caminhada rumo ao Senhor . Portanto, um olhar dirigido a ela que nos desviasse de Cristo, ou que a colocasse no mesmo nível do Filho de Deus, seria estranho à dinâmica de uma fé autenticamente mariana.

 

Os agradecimentos

67. Alguns títulos, como o de Medianeira de todas as graças , têm limitações que não facilitam uma compreensão correta do papel único de Maria. De fato, ela, que é a primeira redimida, não pode ter sido a mediadora da graça que ela mesma recebeu. Este não é um detalhe insignificante, porque revela algo central: que, também nela, o dom da graça a precede e procede da iniciativa absolutamente gratuita da Trindade, em antecipação dos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu a sua própria justificação por causa de qualquer ação anterior,[171] muito menos por qualquer ação posterior.[172] Também para Maria, a amizade com Deus pela graça será sempre gratuita. A sua preciosa figura é o supremo testemunho da receptividade crente daquela que, mais e melhor do que qualquer outra, se abriu com docilidade e plena confiança à obra de Cristo, e ao mesmo tempo é o melhor sinal do poder transformador desta graça.

 

68. Em outro sentido, o título mencionado anteriormente corre o risco de apresentar a graça divina como se Maria tivesse sido convertida em distribuidora de bens ou energia espiritual, desconectada de nossa relação pessoal com Jesus Cristo. No entanto, a expressão "obrigação", referindo-se ao apoio materno de Maria em diferentes momentos da vida, pode ter um significado aceitável. O plural expressa toda a ajuda, inclusive material, que o Senhor pode nos dar ao ouvir a intercessão da Mãe; ajuda que, por sua vez, dispõe os corações a se abrirem ao amor de Deus. Dessa forma, Maria, como mãe, tem uma presença na vida cotidiana dos fiéis muito superior à proximidade que qualquer outro santo possa ter.

 

69. Por sua intercessão, ela pode implorar por nós os impulsos interiores do Espírito Santo, que chamamos de “graças atuais”. São aqueles auxílios do Espírito Santo que atuam também nos pecadores para dispô-los à justificação,[173] e também naqueles que já são justificados pela graça santificante, para estimulá-los ao crescimento. O título “Mãe da graça” deve ser interpretado precisamente neste sentido. Maria colabora humildemente para que possamos abrir nossos corações ao Senhor, que somente ele pode nos justificar pela ação da graça santificante: isto é, quando ele infunde em nós sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos torna participantes de sua vida divina. Esta é obra exclusiva do próprio Senhor, mas não exclui a possibilidade de que, por meio da ação materna de Maria, os fiéis possam alcançar aquelas palavras, imagens e diferentes estímulos que os ajudam a progredir na vida e a preparar seus corações para a graça que o Senhor infunde, bem como a crescer na vida da graça, recebida gratuitamente.

 

70. Essas ajudas que nos chegam do Senhor se apresentam com um aspecto maternal, repleto da ternura e proximidade da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,25-28). Maria desenvolve, assim, uma ação singular para nos ajudar a abrir o coração a Cristo e à sua graça santificante, que eleva e cura. Quando ela se comunica despertando diversas “movimentações”, estas devem sempre ser entendidas como incentivos para abrirmos nossas vidas Àquele que age no âmago do nosso ser.

 

Nossa união com Maria

 

71. O Concílio preferiu chamar Maria de “ Mãe na ordem da graça ”,[174] expressão que melhor transmite a universalidade da cooperação materna de Maria e que é inegável num sentido preciso: ela é a Mãe de Cristo, que é Graça por excelência e Autora de toda a graça.

 

72. Esta maternidade de Maria na ordem da graça – que brota do Mistério Pascal de Cristo – implica também que cada discípulo estabelece com Maria “uma relação única e irrepetível”. São João Paulo II falou de uma “dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo”, que se expressa como uma “resposta ao amor de uma pessoa e, especificamente, ao amor da Mãe”.[175] A vida da graça inclui a nossa relação com a Mãe. A união com Cristo, pela graça, une-nos ao mesmo tempo a Maria numa relação de confiança, ternura e afeto incondicional.

 

O primeiro discípulo

 

73. Maria é “a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Jesus”.[176] Ela é a primeira daqueles que “ouvem a palavra de Deus e a guardam” ( Lc 11,28); ela é a primeira a se colocar entre os humildes e pobres do Senhor, para nos ensinar a esperar e a receber, com confiança, a salvação que vem somente de Deus. Maria “tornou-se, assim, em certo sentido , a primeira ‘ discípula ’ de seu Filho , a primeira a quem Ele pareceu dizer ‘segue-me’, mesmo antes de dirigir este chamado aos apóstolos ou a qualquer outra pessoa (cf. Jo 1,43)”.[177] Ela é um modelo de fé e caridade para a Igreja por causa de sua obediência à vontade do Pai, sua cooperação na obra redentora do Filho e sua abertura à ação do Espírito Santo.[178] Por esta razão, Santo Agostinho disse que "é mais importante para Maria ter sido discípula de Cristo do que ter sido mãe de Cristo".[179] E o Papa Francisco insistiu que "ela é mais discípula do que mãe".[180] Maria é, em última análise, "a primeira e mais perfeita discípula de Cristo".[181]

 

74. Para cada cristão, Maria é “aquela que ‘creu’ primeiro, e precisamente com esta sua fé, como esposa e mãe, deseja agir sobre todos aqueles que se confiam a ela como filhos”.[182] E faz isso com um afeto repleto de sinais de proximidade, que os ajuda a crescer na sua vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo atue cada vez mais plenamente. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a guardá-la e a meditar sobre a obra que Deus realiza nas suas vidas (cf. Lc 2,19).

 

75. No caso de alegados fenómenos sobrenaturais, que já tenham recebido um juízo positivo da Igreja, onde ocorram algumas das expressões ou títulos como os acima mencionados, deve-se levar em conta que «no caso em que um Nihil obstat é concedido pelo Dicastério [...], tais fenómenos não se tornam objeto de fé - isto é, os fiéis não são obrigados a dar-lhes um assentimento de fé».[183]

 

Mãe dos Fiéis

 

76. “Maria, a primeira discípula, é a Mãe”.[184] Na Cruz, Cristo nos dá Maria e, assim, “nos conduz a ela porque não quer que caminhemos sem mãe”.[185] Ela é a Mãe crente que se tornou a “Mãe de todos os crentes”,[186] e, ao mesmo tempo, é “a Mãe da Igreja evangelizadora”,[187] que nos acolhe como Deus quis, não apenas como indivíduos isolados, mas como um Povo em movimento:[188] “Nossa Mãe Maria sempre quer caminhar conosco, estar perto de nós, nos ajudar com sua intercessão e seu amor”.[189] Ela é a Mãe do Povo fiel, que “caminha entre o seu povo, movida por uma ternura carinhosa, e assume sobre si as suas angústias e vicissitudes”.[190]

 

O amor para, contempla o mistério, desfruta em silêncio.

77. Os fiéis não se distanciam de Cristo, nem do Evangelho, quando se aproximam dela, mas permanecem capazes de ler “nessa imagem materna todos os mistérios do Evangelho”.[191] Pois, nesse rosto materno, veem refletido o Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que para diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina sobre nós e nos eleva à sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e que não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). Em seu rosto materno, muitos pobres reconhecem o Senhor que “derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes” ( Lc 1,52). O rosto desta mulher canta o mistério da Encarnação. Neste rosto da Mãe, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e nesse rosto, iluminado pela luz da Páscoa, percebe que Cristo está vivo. E ela, que recebeu o Espírito Santo em plenitude, é quem sustenta os apóstolos reunidos em oração no Cenáculo (cf. At 1,14). Por isso podemos dizer que, «de certo modo, a fé de Maria, com base no testemunho apostólico da Igreja, torna-se incessantemente a fé do Povo de Deus peregrino».[192]

 

78. Como afirmaram os bispos latino-americanos, os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. A mensagem essencial do Evangelho está refletida nela”.[193] Os simples e os pobres não separam a Mãe gloriosa de Maria de Nazaré, que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, reconhecem a simplicidade por trás da glória e sabem que Maria não deixou de ser uma deles. Ela é aquela que, como toda mãe, carregou seu filho no ventre, amamentou-o, criou-o com amor com a ajuda de São José, e não ficou isenta dos choques e dúvidas da maternidade (cf. Lc 2,48-50). Ela é aquela que canta ao Deus que "encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos" ( Lc 1,53), que sofre com os esposos que ficaram sem vinho para a sua festa (cf. Gn 2,3), que sabe correr para socorrer o primo necessitado (cf. Lc 1,39-40), que se deixa ferir, como que transpassada por uma espada, por causa da história do seu povo, do qual o seu Filho é um "sinal de contradição" ( Lc 2,34); ela é aquela que compreende o que significa ser migrante ou exilada (cf. Mt 2,13-15), que na sua pobreza só pode oferecer duas pombinhas (cf. Lc 2,24) e que sabe o que significa ser desprezada por pertencer à família de um pobre carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). As pessoas que sofrem reconhecem Maria caminhando ao seu lado e por essa razão procuram a Mãe para implorar sua ajuda.[194]

 

79. A proximidade da Mãe produz uma piedade mariana “popular”, que encontra diferentes expressões em diferentes povos. As muitas faces de Maria – coreana, mexicana, congolesa, italiana e muitas outras – são formas de inculturação do Evangelho que refletem, em todos os lugares da terra, “a ternura paterna de Deus”[195] que atinge as profundezas dos nossos povos.

 

80. Contemplemos a fé do Povo de Deus, na qual multidões de irmãos e irmãs crentes reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, tal como o próprio Cristo nos propôs da Cruz. O Povo de Deus ama peregrinar aos diversos santuários marianos, onde encontra consolo e força para prosseguir, como aqueles que, em meio ao trabalho e à dor, recebem o carinho de sua Mãe. A Conferência Aparecida expressou de forma clara e bela o profundo valor teológico desta experiência. Nada melhor do que concluir esta Nota com estas palavras:

 

« Destaquemos as peregrinações, onde podemos reconhecer o Povo de Deus em seu caminho. Ali, o crente celebra a alegria de se sentir imerso entre tantos irmãos e irmãs, caminhando juntos rumo a Deus que os espera. O próprio Cristo torna-se peregrino e, ressuscitado, caminha entre os pobres. A decisão de partir para o santuário já é uma confissão de fé; a jornada é um verdadeiro hino de esperança; e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino repousa sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor detém-se, contempla o mistério e o saboreia em silêncio. Ele também se comove, derrama todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui com confiança, é a mais bela expressão de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que nada pode realizar sozinho. Um breve instante condensa uma vívida experiência espiritual ».[196]

 

Mãe dos fiéis, rogai por nós.

 

O Sumo Pontífice Leão XIV, em 7 de outubro de 2025, Memória Litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria do Rosário, aprovou esta Nota , deliberou na Sessão Ordinária deste Dicastério, na Feira de 26 de março de 2025, e ordenou a sua publicação.

 

Celebrada em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, a Memória Litúrgica de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

Monsenhor Armando Matteo

 

Secretário

 

para a Seção Doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

7.10.2025

 

______________________

 

[1] Cf. Santo Agostinho de Hipona, Sobre a Santa Virgindade, 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para Proceder no Discernimento de Presumidos Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns desses fenômenos, ou aparições, a Virgem Maria é chamada pelo título de Corredentora, Redentora, Sacerdotisa, Medianeira, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe espiritual , etc.

 

[4] Cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. ibid ., n. 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. ibid ., n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] São João Paulo II, Audiência Geral : Maria, singular cooperadora na Redenção (Jo 19,25-26) (9 de abril de 1997), n. 3: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e Abertura da Porta Santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação entre Adão e Cristo que aparece nos textos de São Paulo ( Rm 5,18-19 e 1Cor 15,22) serviu aos Santos Padres para estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, São Justino, Dialogus cum Tryphone , 100, 5-6: PG 6, 710CD-711A; Santo Irineu de Lyon, Adversus haereses , III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi , 17, 5: PL 1, 782B. Este paralelo antitético Eva-Maria é a primeira abordagem dos Santos Padres ao tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a perdição, a fé de Maria nos trouxe a salvação. A grande abundância de testemunhos na Patrística, sobre o tema da Virgem como a nova Eva, oferece-nos elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher , porque em Maria a mulher retorna ao seu esplendor primitivo e encontra a sua plenitude definitiva; b) Maria e Cristo como esposo, que constitui com o seu Filho o binômio exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração messiânica; c) Maria e a Igreja , estabelecendo em Maria uma dupla relação com a Igreja, a de exemplaridade, como protótipo, e a de Mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho de Hipona, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Por exemplo, cf. Santo Efrém, Hinos da Natividade : SC 459; São João Damasceno, In dormitione Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus , Roma 1885, 152: «Por meio de ti, tornamo-nos participantes da natureza divina, ó sempre Virgem, Theotokos , já que por nós deste à luz o Deus encarnado. Portanto, como devemos, todos te magnificamos com devoção» (tradução do grego original do Theotokion do Kathisma poético após a primeira estase ). Um exemplo adicional e mais significativo de devoção mariana é o famoso Hino Akathistos (do século V), em 24 estrofes: o título significa simplesmente que ele é ouvido em pé, não sentado, como se ouve o Evangelho, como sinal de particular reverência à Virgem Maria, a quem o poeta se dirige com os mais belos adjetivos e metáforas ricas em simbolismo, implorando-lhe que aceite sua oferenda poética e interceda pela salvação da humanidade do pecado (cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos. Hino à Mãe de Deus , edição métrica, mistagogia e comentário sobre o texto, Centro di Cultura Mariana , Roma 2017).

 

[15] A evidência mais antiga deste título vem do Egito no século III. Cf. Papiro 470 da Biblioteca John Rylands (Manchester, Reino Unido), que contém grande parte do texto grego desta oração mariana. A versão latina desta oração é a seguinte: « Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatis, sed a periculis cunctis libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta ”.

 

[16] As representações iconográficas da Virgem seguem uma série de modelos estáveis, em particular: a Odēghētria , aquela que indica com a mão “o caminho” para o seu filho Jesus Cristo ainda no ventre; a Eleousa , ou Ternura, onde aparece o vínculo íntimo entre Mãe e Filho, este último repousando o rosto no da Mãe; e a Platytera , a maior do céu, porque carrega Cristo dentro de si, representada com o pequeno Jesus no peito. Destes três modelos derivam a maioria das outras representações, como a Galaktotrophousa que amamenta o Menino; a Kyriōtissa , ou Senhora, que segura o menino nos joelhos como se fossem um trono; a Panagia , ou Toda Santa, vestindo um manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; Na Deēsis , a Virgem aparece à direita de seu Filho entronizado em majestade ( Pantokratōr ), enquanto intercede junto com João Batista, colocado à esquerda, em favor de todos nós . Em outros ícones, Maria aparece unida aos santos em intercessão, frequentemente com João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Audiência Geral : Catequese sobre São Teodoro Estudita (27 de maio de 2009): L'Osservatore Romano , 28 de maio de 2009, 1; São Gregório de Narek, Prex 26 e 80: Ad Deiparam : SC 78, 160-164; 428-432.

 

[18] Autores orientais como Santiago de Sarug († 521), São Romano, o Cantor († 555-562), São João Damasceno († 749) e João, o Geômetra († 1000) já haviam abordado o tema da cooperação de Maria no sacrifício redentor de Cristo na Cruz.

 

[19] Cf. São Bernardo de Chiaravalle, Sobre a Purificação da Virgem Maria , III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Cf. Arnaldo di Bonneval, De laudibus BM Virginis , I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] No Magistério anterior ao Concílio Vaticano II destacam-se: Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Iucunda semper expecte (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1851), 177-184; Id., Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta Encíclica Inter sodalicia , à Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Id., Carta Encíclica Ad caeli Reginam (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Romae 1854, 616: «… a Santíssima Virgem Maria, desde o primeiro instante da sua conceição, por uma graça e privilégio singular de Deus todo-poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada livre de toda mancha do pecado original» (DH 2803); Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 53: AAS 57 (1965), 58: «Redimida de modo eminente em vista dos méritos de seu Filho».

 

[24] Cf. Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus na Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “mãe que amamenta”: cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia na Concelebração Eucarística com os novos Cardeais e apresentação do anel cardinalício (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Signum magnum (13 de maio de 1967), n. 5: AAS 59 (1967), 469: «Maria, assim que foi tranquilizada pela voz do Anjo Gabriel de que Deus a havia escolhido como a Mãe Imaculada de seu Filho Unigênito, sem hesitar deu seu assentimento a uma obra que empregaria todas as energias de sua natureza frágil, declarando: Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra ( Lc 1,38)».

 

[29] HU von Balthasar , Teodrammatica. Le persone del dramma , Milão 1983, 308; cf. São Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium : DH 251: «Assim eles (os Santos Padres) se permitiram chamar a santa Virgem Mãe de Deus»; Concílio de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Pelo que sabemos, isto aconteceu no século XV, por um hinógrafo beneditino, que nos deixou a seguinte oração escrita, conservada no mosteiro de São Pedro em Salzburgo: « Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ». « Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ». « Pia dulcis et benigna / não merecedora de dor / se daqui arrancas a conversão / compartilhando a Paixão do Redentor / pelo prisioneiro pecador / tornaste-te Corredentora »: De compassion BMV , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi , XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título de corredentora de diferentes maneiras: a) Cooperação imediata , cristotípica ou maximalista , que coloca a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à própria Redenção (Redenção objetiva). Nesse sentido, os méritos de Maria, se bem subordinados aos de Cristo, teriam um valor redentor para a salvação; b) Cooperação mediada ou minimalista , limitada ao “sim” da Anunciação. Esta seria uma cooperação mediada, que torna possível a Encarnação como um passo anterior à Redenção; c) Cooperação imediata, receptiva ou eclesiotípica , cooperando na Redenção objetiva no sentido de que ela aceitou os frutos do sacrifício redentor do Salvador, representando a Igreja. Uma cooperação imediata, porém receptiva, Maria, de fato, simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, tornando-se a “primeira Igreja”.

 

[32] Durante o Pontificado de São Pio X, o título de Corredentora é encontrado em um documento da Sagrada Congregação dos Ritos e do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, que elogia o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome "de sua mãe, nossa corredentora, bem-aventurada Maria"; Id., Oração de Reparação à Bem-Aventurada Virgem Maria (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual Maria é chamada de "corredentora da raça humana". O primeiro Papa a usar o termo Corredentora foi Pio XI, no Breve de 20 de julho de 1925, dirigindo-se à Rainha do Rosário de Pompéia: «Mas lembra-te também que no Calvário te tornaste Corredentora, cooperando através da crucificação do teu coração para a salvação do mundo, juntamente com o teu Filho crucificado»: Pio XI, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , in Sacra Penitenzieria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Typis Polyglottis Vaticanis, Romae 1952 2 , n. 628; cf. Id., Discurso “Eis outra vez” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 de dezembro de 1933, 1.

 

[33] Cf. Id., Mensagem de rádio no encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): L'Osservatore Romano , 20-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Id., À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário no Vale Pompeiano , na Sagrada Penitenciaria Apostólica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): Insegnamenti III/2 (1980), 1646; Id., Audiência Geral (8 de setembro de 1982): Insegnamenti V/3 (1982), 404; Id., Angelus (4 de novembro de 1984): Insegnamenti VII/2 (1984), 1151; Id., Homilia no Santuário de Nossa Senhora de Alborada em Guayaquil (Equador) (31 de janeiro de 1985): Insegnamenti VIII/1 (1985), 319; Id., Angelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): Insegnamenti VIII/1 (1985), 890; Id., Discurso aos Peregrinos da Obra Federal para o Transporte dos Doentes a Lourdes (OFTAL) (24 de março de 1990): Insegnamenti XIII/1 (1990), 743; Id., Angelus (6 de outubro de 1991): Insegnamenti XIV/2 (1991), 756. Após a Feira IV da então Congregação para a Doutrina da Fé, em 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II deixou de usar o título de Corredentora. É importante notar, porém, que esse título não consta da Carta Encíclica Redemptoris Mater de 25 de março de 1987, documento por excelência no qual São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J. Ratzinger, Atas da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] J. Ratzinger ‒ P. Seewald, Deus e o Mundo. Ser cristão no novo milênio. Em conversa com Peter Seewald , Milão 2001, 278.

 

[38] Francisco, Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Id., Meditações diárias : Nossa Senhora das Dores, Discípula e Mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[40]Id., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Pio XII, Carta Encíclica Haurietis Aquas (15 de maio de 1956) n. 10: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Cf. Santo André de Creta, Sobre o Nascimento da Virgem Maria , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Cf. São Germano de Constantinopla, Na Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria : PG 98, 322 AC.

 

[44] Cf. São João Damasceno, In dormitionem Deiparae I: PG 96, 712B-713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, Bento XV, a pedido do Cardeal Désiré-Joseph Mercier, concedeu à Igreja da Bélgica o Ofício e a Missa da Bem-Aventurada Virgem Maria, "Mediadora de todas as graças", a ser celebrado em 31 de maio. A Sé Apostólica concedeu posteriormente o mesmo Ofício e Missa a numerosas outras dioceses e congregações religiosas, mediante pedido: cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, Um Novo Dogma Mariano? : L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10: «A Constituição Lumen gentium , que por escolha ponderada não contém a definição dogmática de mediação, foi aprovada com 2151 votos a favor de 2156 votantes […] Apenas 33 anos após a promulgação da Lumen gentium […] o panorama eclesial, teológico e exegético não mudou substancialmente». Esta declaração da Pontifícia Academia Mariana Internacional foi adicionada à Declaração da Comissão Teológica criada no âmbito do XII Congresso Internacional Mariológico (Częstochowa, 12-24 de agosto de 1996), que considerou inadequado prosseguir com a definição dogmática de Maria como “mediadora”, “corredentora” e “advogada”. Cf. Comissão Teológica do Congresso de Częstochowa, Pedido de Definição do Dogma de Maria como Medianeira, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão Teológica do Congresso de Częstochowa : L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, p. 10.

 

[47] São Paulo VI, Discurso na conclusão da terceira sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Cf. São Bernardo de Chiaravalle, Homilias em louvor da Virgem Mãe , IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. Ibid. , nn. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. Ibid. , nn. 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65.

 

[52] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013), 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. sobre os Números , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] Santo Ambrósio, Epístola 11, 24: PL 16, 1106 D.

 

[61] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Romae 1854, 616: «… por singular graça e privilégio de Deus todo-poderoso, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano» (DH 2803).

 

[63] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. ibid. , n. 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. ibid. , n. 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações diárias: Nossa Senhora das Dores, Discípula e Mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[67] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 44: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. São Paulo VI, Discurso na Conclusão da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: «Maria, como Mãe de Cristo, deve também ser considerada Mãe de todos os fiéis e dos Pastores, isto é, da Igreja»; Catecismo da Igreja Católica , n. 963.

 

[70] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] Cf. HU von Balthasar, Theodramatica . Vol 3: As Pessoas do Drama , Milão 1983, 308.

 

[72] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 56: AAS 57 (1965), 60: «Ela se consagrou totalmente como serva do Senhor à pessoa e obra de seu Filho, servindo ao mistério da redenção em dependência dele e com ele, com a graça de Deus todo-poderoso».

 

[73] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 69: AAS 57 (1965), 66: “Mãe de Deus e mãe dos homens”.

 

[75] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática, Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos textos mais antigos dos Padres e tem seu fundamento bíblico sobretudo no Evangelho de São João, mais especificamente na cena da Cruz.

 

[76] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: «Manifesta-se como uma nova maternidade segundo o espírito e não só segundo a carne, isto é, a preocupação de Maria pelos homens , o seu sair ao seu encontro na vasta gama das suas necessidades e carências».

 

[77] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus , 53º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral: Maria, cooperadora singular na Redenção (9 de abril de 1997), n. 2: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4: «A participação de Maria, porém, ocorreu durante o próprio evento e na condição de mãe; estende-se, portanto, à totalidade da obra salvífica de Cristo».

 

[80] Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica , n. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: «[Maria] aponta para o Mediador: ela é a Hodegetria . Na iconografia cristã, a sua presença está em todo o lado, por vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, os seus olhos, a sua atitude são um “catecismo” vivo e apontam sempre para a pedra angular, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele».

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4: AAS 95 (2003), 8; citando o Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63: “Função Subordinada de Maria”.

 

[84] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. ibid., n. 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da recitação do Santo Rosário na Basílica Papal de Santa Maria Maior (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia para o Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L'Osservatore Romano , 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[89] Id., Carta Encíclica Dilexit nos . Sobre o Amor Humano e Divino do Coração de Jesus Cristo (24 de outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.

 

[90] Cf. Id., Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican Mopohua : Aqui é contado… o grande evento, Cuautitlan 2003, nn. 23, 119.

 

[94] São João Paulo II, Audiência Geral (13 de agosto de 1997), n. 4, L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francisco, Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): AAS 115 (2023), 53; cf. Id., Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): AAS 116 (2024), 12.

 

[96] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Cf. J. Ratzinger, Atas da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este carácter intercessor da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos últimos Papas. Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Romae 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 (1903-1904 ) , 455; Pio XII, Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954) n. 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 5-71, 63.

 

[100] Santo Agostinho de Hipona, Sobre os méritos e remissão dos pecados e sobre o batismo de crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Id., Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a. 6, co.

 

[103] Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Acta Pontificis Maximi. Parte I , Roma 1854, 616.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid. , q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid. , q. 114, a. 5, co.

 

[108] Cf. ibid. , q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 de junho de 2016, 8.

 

[111] Cf. Id., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica , n. 2764.

 

[112] Cf. Id., Palavras durante a Recitação do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , n. 2003.

 

[115] Ibid. , n. 1999.

 

[116] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q.114, a. 1, co.; Id., Quaestiones disputatae de Veritate , 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Cf. Id., Suma Teológica , III, q. 64, a. 1, co.: «[…] Só Deus guiará a alma ».

 

[118] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; ibid ., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Cf. São Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Id., Summa contra gentiles , II, cap. 98, n. 18; ibid. , III, cap. 88, 6.

 

[120] Cf. Id., Questões Disputadas sobre a Verdade , q. 27, a. 3, sc 5.

 

[121] Id., Summa Theologiae , III, q. 64, a.1 co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, De Ecclesiasticis Dogmatibus , 83: PL 58, 999B. Também São João Cassiano, Collationes , VII, 13: PL 49, 683A. Além disso, Didymus Caecus, De Spiritu Sancto , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Cf. São Boaventura, Collationes in Hexaemeron , XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Cf. Id., Sententiarum Lib. Eu ia . 14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Cf. ibid ., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Cf. ibid ., q. 2, fund. 8 e 4, 251-252.

 

[127] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 33. a. 3; ibid ., III, q. 23, a. 4.

 

[128] Id., Compendium theologiae , I, n. 215; cf. Id., Suma Teológica , III, q. 2, a. 10.

 

[129] Id., Summa Theologiae , III, q. 8, a. 5, co.; cf. ibid. , q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[131] Id., Questões Disputadas sobre a Verdade , q. 29, a. 5 co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10: AAS 92 (2000), 750-751; cf. Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Pastoral Gaudium et Spes (7 de dezembro de 1965), n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Cf. Id., Super Ioannem , cap. I, v. 16, leção 10; Id., Summa Theologiae , I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[137] Dante Alighieri, Paradiso , XXXIII, 1.

 

[138] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade de São Paulo, Papa VI, promulgado sob os cuidados de São João Paulo II, revisado por ele , terceira edição típica, Vatican Press 2008, 879.

 

[140] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica , n. 2002.

 

[142] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I, q. 25, a.3, ad 4. Justificar , como criar , «pode ser feito, imediatamente, somente por Deus».

 

[143] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Cf. Orígenes, Hom. em Gênesis , XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Cf. São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre João , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Cf. Id., Comentário sobre Isaías , V, II, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, Hom. em Ioannem , 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explicação dos Doze Salmos, Salmo 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Id., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Cf. Id., Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. São Jerônimo, Comm. sobre Zacarias , III, 14, 8.9: PL 25, 1528 C.

 

[153] São Gregório Magno, Homenagem a Ezequiel , I, 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Cf. Santo Hilário, Tratado sobre os Salmos , 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho de Hipona, Sobre o Evangelho de João , 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid.; cf. Id., Summa Theologiae , II-II, q.178 a. 1 pb

 

[158] São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 12: PG 33, 934B.

 

[159] São João XXIII, Carta Encíclica Mater et Magistra (15 de maio de 1961), 237: AAS 53 (1961), 462.

 

[160] São João Paulo II, Carta ao Superior Geral da Companhia de Jesus, (Paray-le-Monial, 5 de outubro de 1986): L'Osservatore Romano, 19 de outubro de 1986, 7, cit. in Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 5, a. 6, co. e ad 1; Id., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos que São Tomás de Aquino usou para explicar por que nenhuma criatura pode conferir graça, mas somente Deus, não podem ser considerados superados, nem em sua própria obra, nem posteriormente.

 

[164] Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 25, art. 3, anúncio 4; Id., Scriptum super Sententiis , II, d. 26, q. 1, a. 2, co.; ibid. , IV, d. 5, q.1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Cf. Id., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Mais uma vez lembramos que: «Mas da mente, na qual há graça, nenhuma criatura pode escapar».

 

[166] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Cf. São Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios , livro 2, capítulo 21, n. 7. Um instrumento contribui com algo próprio: «Todo agente instrumental realiza a ação do agente principal por meio de alguma ação própria e connatural a si mesmo».

 

[169] Ibidem. , livro 3, capítulo 147, n. 6; cf. Id., Suma Teológica , I, q. 45, a. 5 co.

 

[170] Id., Summa Theologiae , I-II, q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532.

 

[172] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 114, a. 5, co.: «Quando alguém está na graça, a graça que já recebeu não pode ser merecida». Mesmo que a pessoa justificada possa merecer crescer na vida da graça, o fato de ser justificada, de ser amiga de Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “disposição final”, simultânea ao dom da graça santificadora, é a obra imediata dessa mesma graça. É a "ultima disposizione, alla quale segue, di necessitat, la forma", em São Tomás de Aquino, Sententiae Metaphysicae , lib. 5, aula. 2, n. 5; cf. Id, Scriptum super Sententiis , I, d. 17, q.2, a.3, co.; Id., Summa contra Gentiles , lib. 2, boné. 19, n. 6; Compêndio teológico , I, n. 105.

 

[174] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964) , n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 53, AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho de Hipona, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[181] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​​​Dicastery para a Doutrina da Fé, Normas para Proceder no Discernimento de Presumidos Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024), n. 12, AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência Geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI, Carta Encíclica Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 217-252, 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. ibid. , n. 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Primeira Bênção Apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025): L'Osservatore Romano , 9 de maio de 2025, 3.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013): n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265.

 

[194] Cfr. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[196] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259.

 

[01462-IT.01] [Texto original: espanhol]

 

Texto em francês

 

DICASTERIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

 

Mãe Fiel do Povo

 

Nota doutrinária sobre certos títulos marianos

 

que se referem à cooperação de Maria

 

para a obra da salvação

 

Apresentação

 

Esta Nota responde a inúmeras perguntas e propostas recebidas ao longo das últimas décadas pela Santa Sé — em particular por este Dicastério — sobre assuntos relacionados à devoção mariana e a certos títulos marianos. São questões que têm preocupado os Papas recentes e que foram abordadas repetidamente nos últimos trinta anos nos diversos órgãos do Dicastério, como os Congressos, as Assembleias Ordinárias, etc. Isso proporcionou ao Dicastério material abundante e rico, que serve de base para esta reflexão.

 

Ao esclarecer a aceitabilidade de certos títulos e expressões referentes a Maria, este texto também visa aprofundar os verdadeiros fundamentos da devoção mariana, especificando o lugar de Maria em sua relação com os fiéis, à luz do mistério de Cristo, o único Mediador e Redentor. Isso implica uma profunda fidelidade à identidade católica e, ao mesmo tempo, um esforço ecumênico particular.

 

O eixo que percorre todas estas páginas é a maternidade de Maria para com os fiéis , uma questão que surge diversas vezes, com afirmações constantemente repetidas, enriquecendo-as e complementando-as, como uma espiral, com novas considerações.

 

A devoção mariana, inspirada pela maternidade de Maria, é aqui apresentada como um tesouro da Igreja. O objetivo não é corrigir, mas sim valorizar, admirar e encorajar a piedade do povo fiel de Deus que, em Maria, encontra refúgio, força, ternura e esperança, porque ela é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude evangélica de confiança no Senhor, que o próprio Espírito Santo inspira livremente nos crentes. De fato, os pobres encontram “a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela, veem refletida a mensagem essencial do Evangelho” [1].

 

Ao mesmo tempo, existem grupos de reflexão mariana, publicações, novas devoções e demandas por dogmas marianos que não exibem as mesmas características da devoção popular, mas que, em última análise, oferecem um certo grau de desenvolvimento dogmático e são fortemente expressos nas redes sociais, muitas vezes suscitando dúvidas entre os fiéis mais comuns. Essas propostas são, por vezes, reinterpretações de expressões usadas no passado com diversos significados. Este documento leva em consideração essas propostas a fim de indicar em que medida algumas correspondem a uma autêntica devoção mariana inspirada no Evangelho e em que medida outras devem ser evitadas por não promoverem uma contemplação adequada da harmonia da mensagem cristã como um todo.

 

Além disso, diversas passagens desta Nota oferecem um amplo desenvolvimento bíblico que ajuda a mostrar como a autêntica devoção mariana se manifesta não apenas na rica Tradição da Igreja, mas também nas Sagradas Escrituras. Essa excepcional influência bíblica é complementada por textos dos Padres, Doutores da Igreja e Papas recentes. Dessa forma, em vez de propor limitações, a Nota busca acompanhar e apoiar o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Card. Fernandez

 

Prefeito

 

[1] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265. Citado na nota n. 78 .

 

Introdução

 

1. [ Mater populi fidelis ] A Mãe do Povo Fiel[1] é contemplada com afeto e admiração pelos cristãos porque, se a graça nos torna semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita de sua ação que transforma nossa humanidade. Ela é a manifestação feminina de tudo o que a graça de Cristo pode realizar em um ser humano. Diante de tamanha beleza, movidos pelo amor, muitos fiéis sempre procuraram se referir à Mãe com as mais belas palavras e exaltaram o lugar especial que ela ocupa junto a Cristo.

 

2. Este Dicastério publicou recentemente as Normas Processuais para o Discernimento dos Alegados Fenômenos Sobrenaturais [2]. Em relação a esses fenômenos, é comum o uso de certos títulos [3] e expressões referentes à Virgem Maria. Esses títulos, alguns dos quais já aparecem nos escritos dos Santos Padres, nem sempre são usados ​​com precisão; às vezes, seu significado é alterado ou são mal interpretados. Além dos problemas terminológicos, alguns títulos apresentam dificuldades significativas de conteúdo, pois frequentemente há uma incompreensão da figura de Maria com sérias repercussões nos níveis cristológico [4], eclesiológico [5] e antropológico [6].

 

3. O principal problema na interpretação destes títulos aplicados à Virgem Maria é compreender como Maria está associada à obra redentora de Cristo, isto é: “Qual é o significado da cooperação única de Maria no plano de salvação?”[7] Sem pretender esgotar a discussão ou ser exaustivo, este documento procura preservar o equilíbrio necessário que deve ser estabelecido, nos mistérios cristãos, entre a mediação única de Cristo e a cooperação de Maria na obra de salvação, e pretende também mostrar como esta cooperação se expressa em vários títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da salvação.

 

4. Tradicionalmente, a cooperação de Maria na obra da salvação tem sido abordada sob duas perspectivas: primeiro, a partir de sua participação na Redenção objetiva, realizada por Cristo durante sua vida e particularmente na Páscoa, e segundo, a partir da influência que ela exerce atualmente sobre aqueles que foram redimidos. Na realidade, essas perspectivas estão interligadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvífica de Cristo é atestada nas Escrituras, que apresentam o evento salvífico realizado em Jesus Cristo como uma promessa nos escritos do Antigo Testamento e como um cumprimento no Novo Testamento. Assim, Maria já aparece em Gênesis 3:15, porque ela é a Mulher que participa da vitória final sobre a serpente. Portanto, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria como "Mulher" no Calvário ( João 19:26). Em Caná também, Jesus a chama de "Mulher" ( João 2:4), referindo-se a Maria e ao seu papel, ao seu lado, na "Hora" da Cruz.

 

6. Ali, nesta “Hora”, a colaboração de Maria se manifesta quando ela pronuncia novamente o “sim” da Anunciação, e neste momento sagrado, o Evangelho passa da palavra “Mulher” nos lábios de Jesus (Jo 19,26) para a apresentação de Maria como “Mãe” ( Jo 19,27). Quando o Evangelho explica que, em resposta, o discípulo, que nos representa a todos, a acolheu, usa um verbo ( lambano ) que, no Evangelho, assume o significado de “acolher” na fé (cf. Jo 1,11-12; 5,43 e 13,20). Este é também o verbo usado pelo quarto Evangelho para expressar que a Luz veio aos seus e que eles não a “acolheram” ( Jo 1,11). Isso significa que o discípulo, que ocupou o nosso lugar ao lado de Maria, a acolheu como mãe na fé. É somente depois de nos dar Maria como nossa mãe que Jesus reconhece que “está consumado” ( Jo 19,28). Essa alusão solene ao cumprimento impede uma interpretação superficial do episódio. A maternidade de Maria para conosco faz parte do cumprimento do plano divino, que se realiza na Páscoa de Cristo. De maneira semelhante, o livro do Apocalipse apresenta a “Mulher” ( Ap 12,1) como a mãe do Messias (cf. Ap 12,5) e como a mãe dos “outros filhos” ( Ap 12,17).

 

7. É importante lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada” [8] dos eventos da infância de Jesus [9] que aparecem nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas adverte os seus leitores: “Visto que muitos se dedicaram a elaborar um relato dos acontecimentos que se cumpriram entre nós, assim como aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares nos transmitiram […] também eu decidi […] investigar tudo diligentemente desde o princípio” ( Lc 1,1-3). Entre essas testemunhas oculares, destaca-se Maria, a protagonista direta da concepção, do nascimento e da infância do Senhor Jesus. O mesmo se pode dizer dos relatos da Paixão, visto que “perto da cruz de Jesus” estava “sua mãe” ( Jo 19,25), e da expectativa do Pentecostes, quando os apóstolos estavam “sempre orando com algumas mulheres, incluindo Maria, mãe de Jesus” ( At 1,14).

 

8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova Filha de Sião que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas retoma as promessas proféticas que prenunciavam a alegria messiânica (cf. Sofonias 3,14-17; Zacarias 9,9). Nela se cumprem as promessas que encheram João Batista de alegria (cf. Lucas 1,41). Isabel se apresenta como indigna de receber a visita de Maria: “Por que me é concedido isto, que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” ( Lc 1,43). Isabel não diz: “Quem sou eu para que o meu Senhor me visite?”. Ela se refere diretamente à mãe , o que nos mostra o vínculo indissolúvel entre a missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lucas 1,41), de modo que sua atitude para com Maria possa ser apresentada como um modelo de fé. Movida pelo Espírito, ela profere as seguintes palavras: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!”. ( Lc 1,42). É notável que, sob a influência do Espírito, não basta que ela declare Jesus “bem-aventurado”, mas que também declare a mãe “bem-aventurada”. Ela os contempla intimamente unidos neste momento de alegria messiânica. Maria aparece aqui como a mulher “bem-aventurada” por excelência: “Bem-aventurada aquela que acreditou” ( Lc 1,45); “O meu espírito exulta” ( Lc 1,47); “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). Isso se torna ainda mais importante se notarmos que, no Evangelho de Lucas, essa felicidade não aparece como um estado de espírito, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nos pequeninos (cf. Lc 6,20-22), que recebem uma grande recompensa no céu (cf. Lc 6,23).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Santos Padres estavam principalmente interessados ​​na maternidade divina de Maria ( Theotokos ), na sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), na sua santidade perfeita, livre de pecado ao longo de toda a sua vida ( Panagia ), e no seu papel como a nova Eva[10], centrando a sua reflexão na associação de Maria com a Redenção de Cristo no mistério da Encarnação. O “sim” de Maria à salvação do arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se fizesse carne no seu ventre (cf. Lc 1,26-27), dá aos seres humanos a possibilidade de serem divinizados. Santo Agostinho declara, portanto, a Virgem “cooperadora” da Redenção, insistindo tanto na ação de Maria com Cristo como na sua subordinação a Ele, pois Maria coopera com Cristo para que “os fiéis nasçam na Igreja”[11] e, por esta razão, podemos chamá-la de Mãe do Povo fiel .

 

10. Durante o primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja esteve ligada à liturgia. A grande e rica diversidade de tradições litúrgicas no Oriente cristão procurava ser um eco fiel das Sagradas Escrituras, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi , que se tornou lex credendi , moldou a Mariologia Oriental com base na hinografia, na iconografia e na piedade popular.[12] Por exemplo, a partir do século V , as festas marianas foram estabelecidas no Oriente, difundindo-se posteriormente para o Ocidente no século VII . A participação da Mãe de Deus na obra da salvação é mencionada não só em todas as anáforas e liturgias eucarísticas das Igrejas Orientais, mas também, e sobretudo, nos textos hinográficos utilizados nas horas canônicas, presentes nas diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. A hinografia abunda em composições dedicadas a Maria e ricas em alegorias bíblicas[13] nas quais se invoca a intercessão da Mãe de Deus e que possibilitaram aprofundar o mistério fundamental da Encarnação e seu significado para a Redenção em Cristo, graças a uma linguagem rica em simbolismo poético capaz de expressar a admiração e o espanto daqueles que, sendo da mesma linhagem de Maria, contemplam as maravilhas que o Todo-Poderoso realizou nela[14].

 

11. Os ensinamentos dos primeiros concílios ecumênicos começaram a delinear o dogma de Maria, Mãe de Deus, posteriormente proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre defendeu doutrinariamente os dogmas definidos por esses primeiros concílios, pelo menos nas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, incorporou às suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas as narrativas e lendas marianas populares relacionadas às histórias da infância e morte de Jesus. Essas narrativas buscam nutrir a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo das imagens poéticas, cujo único propósito é inspirar admiração. Essa veneração da Mãe de Deus também se manifesta por meio da iconografia, que oferece uma imagem visual de Maria e do Verbo Encarnado. Permanece significativo que a iconografia tradicional dessas Igrejas, ligada aos Concílios de Éfeso e Calcedônia, represente predominantemente Maria como “Theotokos” [15] e tenha sido criada para contemplar a Virgem Mãe que se apresenta ao mundo e acolhe seu Filho, o Menino Jesus, enquanto intercede pela humanidade junto a Ele. Assim, a iconografia mariana oriental, como um querigma e uma colorida lembrança visual da teologia dos primeiros concílios e dos Santos Padres, visa ser uma tradução visual dos títulos específicos que se aplicam à Virgem [16]. É por isso que os ícones devem ser “lidos” à luz da liturgia e dos hinos. Maria não é o objeto de um culto colocado ao lado de Cristo, mas está inserida no mistério de Cristo por meio da Encarnação [17]. Ela é o ícone no qual o próprio Cristo é venerado. Ela é a Theotokos, a Virgem Mãe que apresenta seu filho Jesus, o Cristo, e é, ao mesmo tempo, a Odigitria que mostra, apontando para ele com a mão, o único Caminho que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental [18] voltou-se para a relação entre a Virgem Mãe e o mistério da cruel Redenção do Calvário, associando a imagem da espada de Simeão à Cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da Cruz era entendida como um sinal da força cristã, repleta de amor materno. São Bernardo, em um comentário sobre a Apresentação de Jesus no Templo, fala da cooperação de Nossa Senhora no sacrifício redentor[19]. Arnaud, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval (falecido após 1159), foi o primeiro a considerar a cooperação de Maria no sacrifício do Calvário, unida a seu Filho Jesus Cristo[20].

 

13. A cooperação da Mãe e do Filho na obra da salvação foi exposta pelo Magistério da Igreja.[21] Como afirma o Concílio Vaticano II, “os Santos Padres consideram Maria não apenas como um instrumento passivo nas mãos de Deus, mas como alguém que traz para a salvação da humanidade a cooperação de sua fé livre e obediência”.[22] Esta associação da Virgem está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e ressurreição) quanto no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição enfatiza a primazia e a singularidade de Cristo na Redenção, porque mesmo a primeira redimida é redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer possibilidade de sua própria ação.[23] É a partir desta condição particular de ser “a primeira redimida” por Cristo, de ser “a primeira transformada” pelo Espírito Santo, que Maria pode cooperar mais intensamente e mais profundamente com Cristo e com o Espírito, tornando-se um protótipo[24], um modelo e um exemplo do que Deus quer realizar em cada redimida.[25]

 

15. A colaboração de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, porque é fruto de uma iniciativa do Pai, que viu a humildade de sua Serva (cf. Lc 1,48); brota da kenosis do Filho, que se humilhou assumindo a forma de Servo (cf. Fl 2,7-8); e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que dispôs o coração da jovem de Nazaré de tal modo que ela respondeu à Anunciação e ao longo de sua vida à comunhão com seu Filho. São Paulo VI ensinou que “na Virgem, tudo se relaciona com Cristo e tudo depende dele: foi para ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu como sua Santíssima Mãe e a adornou com dons do Espírito não concedidos a nenhuma outra” [26]. O “sim” de Maria não é meramente uma condição prévia para algo que poderia ter sido realizado sem o seu consentimento ou cooperação. Sua maternidade não é simplesmente biológica e passiva[27], mas é uma maternidade “plenamente ativa ”[28] que se une ao mistério salvífico de Cristo como instrumento amado do Pai em seu plano de salvação. Ela “é a garantia de que Ele é verdadeiramente homem, como ‘nascido de uma mulher’ ( Gl 4:4), mas ela é também, desde a proclamação do dogma niceno, a Theotokos , aquela que dá à luz a Deus”[29].

 

Títulos que fazem referência à cooperação de Maria na salvação.

 

16. Entre os títulos pelos quais Maria foi invocada (Mãe da Misericórdia, Esperança dos pobres, Auxílio dos cristãos, Auxiliadora, Advogada, etc.), alguns se referem mais à sua colaboração na obra redentora de Cristo, como Corredentora e Medianeira.

 

Corredentora

 

17. O título Corredentora surge no século XV como uma correção à invocação de Redentor (abreviação de Mãe do Redentor), que Maria recebia desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um papel aos pés da Cruz, o que dá origem ao título de Corredentora , que aparece pela primeira vez num hino anônimo do século XV em Salzburgo.[30] Embora o nome Redentor tenha sido mantido nos séculos XVI e XVII , desapareceu completamente no século XVIII , sendo substituído por Corredentora. A pesquisa teológica sobre a cooperação de Maria na Redenção durante a primeira metade do século XX levou a uma compreensão mais profunda do significado do título Corredentora .[31]

 

18. Alguns Papas usaram este título sem se deterem muito na sua explicação.[32] Geralmente, apresentaram-no de duas maneiras específicas: em relação à maternidade divina, na medida em que Maria, como mãe, tornou possível a Redenção realizada em Cristo,[33] ou em referência à sua união com Cristo perto da Cruz redentora.[34] O Concílio Vaticano II evitou usar o título Corredentora por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II usou-o pelo menos sete vezes, relacionando-o em particular ao valor salvífico dos nossos sofrimentos oferecidos com os de Cristo, a quem Maria está unida sobretudo na Cruz.[35]

 

19. Na Feria IV, em 21 de fevereiro de 1996, o Prefeito da então chamada Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, em resposta à pergunta sobre se o pedido do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para uma definição do dogma de Maria como corredentora ou mediadora de todas as graças era aceitável, respondeu em seu voto pessoal : “Negativo. O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina que eles contêm não é madura. Uma doutrina definida da fé divina pertence ao depósito da fé, isto é, à revelação divina transmitida nas Escrituras e na tradição apostólica. No entanto, não está claro como a doutrina expressa nos títulos está presente nas Escrituras e na tradição apostólica”[36]. Mais tarde, em 2002, ele se manifestou publicamente contra o uso desse título: “A fórmula ‘Corredentora’ está muito distante da linguagem das Escrituras e da patrística e, portanto, causa mal-entendidos… Tudo procede Dele, como afirmam especialmente as Epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Maria é o que é graças a Ele. A palavra ‘Corredentora’ obscureceria essa origem.” O Cardeal Ratzinger não negou que haveria boas intenções e aspectos válidos na proposta de usar esse título, mas sustentou que era um “termo errôneo”.[37]

 

20. O Cardeal da época referia-se às Epístolas aos Efésios e Colossenses, onde o vocabulário utilizado e o dinamismo teológico dos hinos apresentam de tal modo a singular centralidade redentora e a primazia do Filho encarnado que a possibilidade de acrescentar outras mediações se exclui, porque “toda bênção espiritual” nos é dada “em Cristo” ( Ef 1,3); porque somos filhos adotivos dEle (cf. Ef 1,5) e nEle fomos cheios de graça (cf. Ef 1,6), “Nele fomos redimidos pelo seu sangue” ( Ef 1,7) e “ Ele derramou abundantemente a sua graça sobre nós” ( Ef 1,8). nEle , “fomos separados” ( Ef 1,11) e fomos predestinados. E Deus quis que “ toda a plenitude habitasse nele” ( Colossenses 1:19) e que, “por meio dele, reconciliasse consigo todas as coisas” ( Colossenses 1:20). Tal louvor à posição singular de Cristo nos convida a colocar cada criatura em uma posição claramente receptiva e a exercer prudência religiosa e delicada ao considerarmos qualquer forma possível de cooperação no âmbito da Redenção.

 

21. O Papa Francisco declarou claramente a sua posição pelo menos três vezes contra o uso do título Corredentora , alegando que Maria “ nunca quis tomar nada para si do seu Filho. Ela nunca se apresentou como corredentora . Não, discípula ”[38] . A obra da redenção foi perfeita e não precisa de acréscimos. É por isso que “a Virgem não quis obter nenhum título de Jesus [...]. Ela não pediu para ser uma quase-redentora ou uma corredentora: não. Há apenas um Redentor e este título não é duplicado”[39]. Cristo “é o único Redentor: não há corredentores com Cristo”[40]. Porque “o sacrifício da Cruz, oferecido com um coração amoroso e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita”[41]. Embora possamos prolongar seus efeitos no mundo (cf. Col 1,24), nem a Igreja nem Maria podem substituir, nem aperfeiçoar, a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que foi perfeita e não precisa de acréscimos.

 

22. Dada a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, o uso do título Corredentora para definir a cooperação de Maria é sempre inadequado. Este título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e pode, portanto, gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã, porque " não há salvação em nenhum outro", pois "não há outro nome debaixo do céu, dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos" ( Atos 4:12). Quando uma expressão requer inúmeras e constantes explicações para evitar que se desvie do seu significado correto, ela não serve à fé do Povo de Deus e torna-se um obstáculo . Neste caso, não contribui para exaltar Maria como a primeira e maior colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem para a nossa salvação, o único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra para a Mãe. De fato, como “serva do Senhor” ( Lc 1,38), ela nos aponta para Cristo e nos pede: “Fazei tudo o que ele vos disser” ( Jo 2,5).

 

Mediador

 

23. O conceito de mediação é utilizado na patrística oriental desde o século VI . Nos séculos subsequentes, Santo André de Creta[42], São Germano de Constantinopla[43] e São João Damasceno[44] utilizaram este título com diferentes significados. No Ocidente, o seu uso tornou-se mais frequente a partir do século XII , embora só no século XVII tenha sido formulado como uma tese doutrinal. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Mechelen, com a colaboração académica da Universidade Católica de Leuven e o apoio dos bispos, do clero e do povo da Bélgica, solicitou ao Papa Bento XV uma definição dogmática da mediação universal de Maria, mas o Papa não concordou. Aprovou apenas uma festa litúrgica, com a sua própria Missa e o Ofício de Maria Medianeira[45]. A partir dessa altura, até 1950, foram realizadas pesquisas teológicas sobre a questão, que conduziriam à fase preparatória do Concílio Vaticano II. O Concílio não entrou em declarações dogmáticas[46], mas preferiu apresentar uma ampla síntese "da doutrina católica sobre o lugar ocupado pela Santíssima Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja"[47].

 

24. A expressão bíblica que se refere à mediação exclusiva de Cristo é decisiva. Cristo é o único Mediador, “pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos” ( 1 Tm 2,5-6). A Igreja explicou esta posição única de Cristo porque, sendo o Filho eterno e infinito, a humanidade que Ele assumiu está hipostaticamente unida a Ele. Esta posição é exclusiva dessa humanidade, e as consequências que dela decorrem só podem aplicar-se a Cristo. Neste sentido preciso, o papel do Verbo Encarnado é exclusivo e único. Diante de tamanha clareza na Palavra revelada, é necessária especial cautela ao aplicar o termo “Mediadora” a Maria. Dada a tendência de ampliar o âmbito da cooperação de Maria com base neste termo, é necessário esclarecer tanto o seu precioso significado quanto as suas limitações.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar o fato de que o termo “mediação” é comumente usado nas mais variadas esferas da vida social, onde é entendido simplesmente como cooperação, assistência ou intercessão. Consequentemente, é inevitável que seja aplicado a Maria em um sentido subordinado, e de modo algum pretende acrescentar eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que houve uma verdadeira mediação por parte de Maria para tornar possível a Encarnação do Filho de Deus na nossa humanidade, uma vez que era necessário que o Redentor “nascesse de mulher” ( Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que esta não foi uma mediação puramente biológica, pois destaca a presença ativa de Maria que questiona (cf. Lc 1,29.34) e aceita firmemente: “ Faça-se em mim segundo a tua palavra ” ( Lc 1,38). Esta resposta de Maria abriu as portas da Redenção que toda a humanidade esperava e que os santos descreveram em drama poético.[48] Nas bodas de Caná, Maria também desempenhou um papel mediador quando apresentou a Jesus a necessidade dos noivos (cf. Jo 2,3) e pediu aos servos que seguissem as instruções de Jesus (cf. Jo 2,5).

 

27. A terminologia da mediação no Concílio Vaticano II refere-se principalmente a Cristo e, por vezes, também a Maria, mas de forma claramente subordinada.[49] De facto, preferiu-se usar uma terminologia diferente, centrada na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria, com expressões como “ intercessão múltipla” e “proteção materna”.[52] Estes dois aspetos, em conjunto, constituem a natureza específica da cooperação de Maria com a ação de Cristo através do Espírito. A rigor, não se pode falar de uma mediação da graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.[53] É por isso que é necessário recordar sempre, e não obscurecer, a convicção cristã de que “é realmente necessário crer firmemente , como elemento permanente da fé da Igreja, na verdade sobre Jesus Cristo , Filho de Deus, Senhor e único Salvador, que pela sua encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, da qual ele é a plenitude e o centro”[54].

 

Maria, por meio da mediação única de Cristo

 

28. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que a singularidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, ou seja, Cristo torna possível várias formas de participação na realização do seu plano salvífico, de modo que, em comunhão com ele, todos possamos ser, de certo modo, cooperadores de Deus, “mediadores” uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). É precisamente porque Cristo tem um poder infinitamente supremo que ele pode capacitar seus irmãos e irmãs a cooperarem plenamente na realização dos seus desígnios. O Concílio Vaticano II afirmou que “a única mediação do Redentor não exclui, mas antes fomenta, uma cooperação variada por parte das criaturas, dependente da única fonte” [55]. É por isso que “o conteúdo desta mediação partilhada deve ser esclarecido e deve permanecer guiado pelo princípio da única mediação de Cristo” [56]. É verdade que a Igreja prolonga no tempo e comunica em todo o lado os efeitos do evento pascal de Cristo[57] e que Maria tem um lugar único no coração da mãe Igreja[58].

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se evidente se partirmos da convicção de que o Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes a colaborarem com Ele em Sua obra. Não é por qualquer fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte de Cristo, mas precisamente por causa de Seu glorioso poder, que Ele é capaz de nos tomar, generosa e livremente, como colaboradores em Sua obra. O que deve ser enfatizado neste caso é precisamente isto: quando Ele nos permite acompanhá-Lo e, sob o impulso de Sua graça, damos o melhor de nós mesmos, é o Seu próprio poder e misericórdia que são, em última análise, glorificados.

 

Frutíferos na glória de Cristo

 

30. O seguinte texto é particularmente esclarecedor: “Quem crê em mim fará também as obras que eu faço e obras maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( Jo 14,12). Os crentes, unidos a Cristo ressuscitado, que retornou ao seio do Pai, podem realizar obras que superam as maravilhas do Jesus terreno, mas sempre graças à sua união pela fé com o Cristo glorioso. Isto se manifestou, por exemplo, na maravilhosa expansão da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado permitiu que a sua Igreja participasse da sua obra (cf. Mc 16,15). Desta forma, a sua glória não foi diminuída, mas manifestou-se ainda mais, revelando-se como um poder capaz de transformar os crentes, tornando-os fecundos com Ele.

 

31. Entre os Padres da Igreja, essa ideia encontrou expressão particular no comentário sobre João 7:37-39, porque alguns interpretaram a promessa de “rios de água viva” como referente aos crentes. Ou seja, os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em João 7:38 porque faz brotar rios de água de nós: “A alma do ser humano, que é à imagem de Deus, é capaz de conter em si mesma e de fazer brotar de si mesma fontes, mananciais e rios”[59]. Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo “para que a fonte de água que jorra para a vida eterna abunde em vós”[60]. São Tomás de Aquino expressou isso afirmando que se um crente “se apressa em comunicar aos outros os vários dons da graça que recebeu de Deus, água viva flui de seu peito”[61].

 

32. Se isso é verdade para todo crente, cuja colaboração com Cristo se torna cada vez mais frutífera à medida que se deixa transformar pela graça, quanto mais se deve dizer de Maria, de modo único e supremo. Pois ela é aquela “cheia de graça” ( Lc 1,28) que, sem impedir a obra de Deus, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da graça, que permaneceu firme aos pés da Cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo com o Filho, oferecendo a dor do seu coração materno transpassado pela espada (cf. Lc 2,35). Ela esteve unida a Cristo, da Encarnação à Cruz e à Ressurreição, de um modo exclusivo e superior a tudo o que possa acontecer a qualquer crente.

 

33. Tudo isso não aconteceu por causa de seus próprios méritos, mas porque os méritos de Cristo na Cruz foram plenamente e especialmente aplicados a ela de maneira antecipada, para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Ela é, em suma, um hino à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento de sua beleza nos leva imediatamente à glorificação da fonte original de todo o bem: a Trindade. A incomparável grandeza de Maria reside no que ela recebeu e em sua confiante disposição de ser preenchida pelo Espírito. Quando tentamos atribuir a ela funções ativas paralelas às de Cristo, nos afastamos dessa incomparável beleza que lhe é própria. A expressão "mediação participativa" pode expressar um sentido preciso e precioso do lugar de Maria, mas, se mal compreendida, pode facilmente obscurecê-lo e até mesmo contradizê-lo. A mediação de Cristo, que em alguns aspectos pode ser "inclusiva" ou participativa, é, em outros aspectos, exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos Crentes

 

34. No caso de Maria, esta mediação se dá de modo materno [63], como fez em Caná [64] e ratificou sob a Cruz [65]. Assim explicou o Papa Francisco: “Ela é Mãe. Este é o título que recebeu de Jesus, precisamente ali, no momento da Cruz (cf. Jo 19,26-27). Vossos filhos, vós sois Mãe. [...] ela recebeu o dom de ser sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe” [66].

 

35. O título de Mãe tem suas raízes na Sagrada Escritura e nos escritos dos Santos Padres; é proposto pelo Magistério, e a formulação de seu significado evoluiu até a exposição do Concílio Vaticano II[67] com a expressão “ maternidade espiritual ” na encíclica Redemptoris Mater [68]. Esta maternidade espiritual de Maria flui da maternidade física do Filho de Deus. Ao dar à luz fisicamente a Cristo, por meio de sua livre e crente aceitação desta missão, a Virgem deu à luz na fé todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo; isto é, ela deu à luz o Cristo inteiro , cabeça e membros[69].

 

36. A participação da Virgem Maria, como Mãe, na vida de seu Filho, da Encarnação à Cruz e à Ressurreição, confere um caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora de Cristo, especialmente para a Igreja “quando considera a maternidade espiritual de Maria em relação a todos os membros do Corpo Místico; uma invocação confiante, quando experimenta a intercessão de seu Advogado e Auxiliador”[70]. É este aspecto materno que caracteriza a relação da Virgem com Cristo e sua colaboração em cada etapa da obra de salvação. Em sua missão como Mãe, Maria tem uma relação única com o Redentor e também com aqueles que foram redimidos, dos quais ela é a primeira. “Maria é o tipo (modelo) da Igreja e do novo nascimento que ocorre nela”, mas ainda mais, ela é o símbolo e “a síntese desta mesma Igreja”[71]. É uma maternidade que nasce da doação total de si e do chamado para se tornar serva do mistério[72]. Nessa maternidade de Maria está sintetizado tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e o lugar atual de Maria em toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui certas características:

 

a) Ela encontra seu fundamento em ser Mãe de Deus e se estende à maternidade em relação aos discípulos de Cristo[73] e, na verdade, a todos os seres humanos[74]. Nesse sentido, a cooperação de Maria é única e distinta da cooperação “de outras criaturas”[75]. Sua intercessão tem uma característica que não é a de uma mediação sacerdotal, como a de Cristo, mas que se situa na ordem e analogia da maternidade[76]. Ao associar a intercessão de Maria à sua obra, os dons que nos chegam do Senhor são apresentados a nós em um aspecto materno, repletos da ternura e proximidade da Mãe[77] que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,27).

 

b) A cooperação materna de Maria está em Cristo e, portanto, é partilhada, isto é, segundo “uma participação na única fonte” [78], que é a mediação do próprio Cristo. Maria entra de modo completamente pessoal na única mediação de Cristo [79]. O papel materno de Maria “de modo nenhum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo: pelo contrário, manifesta o seu poder. Pois toda a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre a humanidade” provém da “superabundância dos méritos de Cristo; apoia-se na sua mediação, da qual depende inteiramente e da qual retira todo o seu poder” [80] . Na sua maternidade, Maria não é um obstáculo entre os seres humanos e Cristo ; pelo contrário, o seu papel materno está indissoluvelmente ligado ao de Cristo e dirigido para Ele. Compreendida desta forma, a maternidade de Maria não visa enfraquecer a única adoração que é devida somente a Cristo, mas sim estimulá-la [81]. É por isso que devemos evitar títulos e expressões que se referem a Maria e a apresentam como uma espécie de “para-raios” diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus. O Concílio Vaticano II reafirmou que a veneração de Maria deve ser “uma veneração dirigida ao centro cristológico da fé cristã, para que, ‘pela honra dada à sua Mãe, o Filho [...] possa ser conhecido, amado, glorificado’”[82]. Em suma, a maternidade de Maria está subordinada [83] à eleição do Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo.

 

(c) A Igreja não é apenas um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria, mas é também, precisamente na sua dimensão sacramental, o lugar onde a sua função materna se desenvolve sempre.[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade encontra-se na comunhão eclesial, e não fora dela; ela conduz à Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende com Maria a sua própria maternidade:[85] no acolhimento da Palavra de Deus que evangeliza, converte e proclama Cristo, no dom da vida sacramental do Batismo e da Eucaristia, e na educação e formação materna que ajudam os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Pode-se dizer que “a fecundidade da Igreja é a mesma que a de Maria; realiza-se na vida dos seus membros na medida em que revivem “em miniatura” o que a Mãe experimentou, isto é, amam segundo o amor de Jesus”[87]. Como Mãe, tal como a Igreja, Maria aguarda o nascimento de Cristo dentro de nós[88]; ela não toma o seu lugar. É por isso que, “graças à imensa fonte que jorra do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os crentes tornam-se de várias maneiras canais de água viva. Desta forma, Cristo manifesta a sua glória na nossa pequenez”[89].

 

Intercessão

38. Maria está unida a Cristo de modo único por causa de sua maternidade e por ser cheia de graça. Isso é sugerido pela saudação do anjo (cf. Lc 1,28), quando ele usa uma palavra ( kecharitōmenē ) que é única e sem paralelo em toda a Bíblia. Aquela que recebeu o poder do Espírito Santo em seu ventre e que foi a Mãe de Deus torna-se, por esse mesmo Espírito, a Mãe da Igreja.[90] Por causa dessa união especial na maternidade e na graça, sua oração por nós tem um valor e uma eficácia que não podem ser comparados a nenhuma outra intercessão. São João Paulo II vinculou o título “mediadora” a essa função de intercessão materna. Porque ela “se coloca ‘ no meio ’ , isto é, age como mediadora não de fora, mas em seu lugar como mãe , consciente, como tal, de poder mostrar ao Filho as necessidades dos homens – ou melhor, de ‘ter o direito’ de fazê-lo”[91].

 

39. A fé católica nos ensina nas Escrituras que aqueles que estão próximos de Deus no céu podem continuar a praticar esses atos de amor, intercedendo por nós e nos acompanhando. Vemos, por exemplo, que os anjos são “espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação” ( Hb 1,14). Falamos de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5,4; 12,12; At 12,7-11; Ap 8,3-5). Há anjos que auxiliam Jesus no deserto da tentação (cf. Mt 4,11) e durante a Paixão (cf. Lc 22,43). No Salmo, somos informados de que “Ele deu ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos” ( Sl 91,11).

 

40. Esses textos nos dizem que o céu não está completamente separado da terra. Isso abre a possibilidade para que aqueles que estão no céu intercedam por nós. O livro de Zacarias nos apresenta um anjo de Deus que diz: “Senhor Todo-Poderoso, até quando demorarás a ter misericórdia de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais tens demonstrado a tua ira durante estes setenta anos?” ( Zacarias 1:12). Da mesma forma, o livro do Apocalipse fala dos “mortos”, os mártires no céu, que intercedem para pedir a Deus que aja na terra para nos libertar da injustiça: “Então vi debaixo do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Eles clamavam com grande voz: ‘Até quando, Soberano Senhor, santo e verdadeiro, esperarás para vingar o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’” ( Apocalipse 6:9-10). Já na tradição judaica helenística, aparecia a convicção de que os justos que morriam intercediam pelo povo (cf. 2 M 15, 12-14).

 

41. Maria, que no céu ama “o restante de seus filhos” ( Ap 12,17), assim como acompanhou a oração dos Apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), agora também acompanha as nossas orações com a sua intercessão materna. Desta forma, ela continua a ter a atitude de serviço e compaixão que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), e continua hoje a dirigir-se a Jesus para lhe dizer: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). No seu cântico de louvor, vemos Maria como uma mulher do seu povo que louva a Deus porque “ele exaltou os humildes e saciou de bens os famintos” ( Lc 1,52-53), porque “socorreu o seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia, como prometera aos nossos pais” ( Lc 1,54-55), e reconhecemos a sua prontidão quando vem sem demora em auxílio da sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). É por isso que o povo de Deus tem firme confiança em sua intercessão.

 

42. Entre os escolhidos e glorificados com Cristo, a Mãe ocupa o primeiro lugar, e podemos, portanto, afirmar que há uma colaboração única de Maria na obra salvífica que Cristo realiza na sua Igreja. É uma intercessão que a torna um sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma, porque o quis livremente, o Senhor dá um rosto materno à sua ação em nós.[92]

 

Proximidade materna

43. A existência de várias invocações, imagens e santuários marianos manifesta esta verdadeira maternidade de Maria, que se aproxima da vida de seus filhos. Um exemplo é a manifestação da Mãe ao índio São Juan Diego no Monte Tepeyac. Maria o chama com a ternura de uma mãe: “Meu filho caçula, meu Juanito”. E, diante das dificuldades que São Juan Diego lhe apresenta no cumprimento da missão que lhe foi confiada, Maria revela-lhe a força de sua maternidade: “Não estou eu aqui, eu que tenho a honra de ser sua mãe? [...] ... Não estás tu no meu colo, no vão do meu braço?”[93]

 

44. A experiência do afeto materno de Maria, partilhada por São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que acolhem o afeto de Maria, colocam nas suas mãos “as necessidades da vida quotidiana e abrem com confiança os seus corações para pedir a sua intercessão materna e obter a sua proteção reconfortante”.[94] Mais do que manifestações extraordinárias da sua proximidade, existem expressões diárias constantes da sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Mesmo quando não lhe pedimos a intercessão, ela mostra-se próxima como uma Mãe para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar o dom salvífico de Cristo, a acolher a ação santificadora do Espírito. O seu valor para a Igreja é tão grande que os pastores devem evitar qualquer instrumentalização política desta proximidade da Mãe. O Papa Francisco já advertiu em várias ocasiões sobre este assunto e expressou a sua preocupação com “propostas ideológicas e culturais de vários tipos que procuram apropriar-se do encontro de um povo com a sua Mãe”.[95]

 

Mãe da Graça

 

45. Este significado de “Mãe dos Fiéis” permite-nos falar da ação de Maria também em relação à nossa vida de graça. Mas é preciso notar que certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, são facilmente carregadas de imagens e simbolismos que, na verdade, transmitem outros significados, menos aceitáveis. Por exemplo, Maria é apresentada como se tivesse um depósito de graça separado de Deus; e não se percebe claramente que o Senhor, na sua generosa e livre onipotência, quis associá-la à comunicação desta vida divina que flui de um único centro, um centro que é o Coração de Cristo e não de Maria.[96] Ela também é frequentemente apresentada ou imaginada como uma fonte da qual flui toda a graça. Se levarmos em conta que a habitação trinitária (graça incriada) e a participação na vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que este mistério possa ser condicionado por uma “passagem” pelas mãos de Maria. Tais imaginários exaltam Maria a tal ponto que a centralidade do próprio Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger afirmou que o título de Maria Medianeira de Todas as Graças também não se fundamenta claramente na Revelação[97] e, de acordo com essa convicção, podemos reconhecer as dificuldades que acarreta, tanto para a reflexão teológica como para a espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como uma disposição. Por um lado, devido à sua natureza intercessora [ 98] , a intercessão materna é uma expressão daquela “proteção materna” [99] que nos permite reconhecer em Cristo o único Mediador entre Deus e a humanidade. Por outro lado, a sua presença materna em nossas vidas não impede diversas ações de Maria que motivam a abertura de nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, ela nos ajuda, de várias maneiras, a nos prepararmos para a vida de graça que só o Senhor pode infundir em nós.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo, e não de qualquer outro. Santo Agostinho afirmou que “este reino da morte é destruído em cada ser humano somente pela graça do Salvador” [100] e explicou-o claramente pela redenção do homem injusto: “Quem quereria morrer por um injusto, por uma pessoa ímpia, senão Cristo, tão inocente que pode justificar até mesmo o injusto? Portanto, meus irmãos, não tínhamos mérito, mas apenas deméritos. Mas, embora as obras dos homens fossem tais, a Sua misericórdia não os abandonou e […] em vez da punição devida, concedeu-lhes a graça que não mereciam […] para nos redimir, não com ouro ou prata, mas com o Seu sangue derramado.” [101] É por isso que, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que “somente Cristo pode merecer a primeira graça por outro” [102]. Nenhum outro ser humano pode merecê-la em sentido estrito ( de condigno ), e sobre este ponto não há dúvida: “Só aquele a quem são comunicados os méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo pode ser justo”[103]. A plenitude da graça de Maria também existe porque ela a recebeu livremente, antes de qualquer ação de sua parte, “em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”[104]. Os méritos de Jesus Cristo, que se entregou até o fim, são aplicados a nós em nossa justificação, que, “tendo como fim o bem eterno da participação em Deus, é uma obra maior do que a criação do céu e da terra”[105].

 

48. No entanto, os seres humanos podem participar do bem de seus irmãos e irmãs por meio de seus desejos, e é razoável ( congruo ) que Deus atenda a esse desejo de caridade, que uma pessoa pode expressar “por meio da oração” ou “por meio de obras de misericórdia”.[106] É verdade que esse dom da graça só pode ser concedido por Deus, uma vez que “ultrapassa as proporções de nossa natureza”[107] e há uma distância infinita[108] entre nossa natureza e Sua vida divina. Contudo, Ele pode fazê-lo atendendo ao desejo da Mãe, que assim se une alegremente à obra divina como uma humilde serva.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que Ele deve fazer. Ela intercede, revelando a Cristo nossas falhas, nossas necessidades e nossos sofrimentos, para que Ele possa agir com seu poder divino[109]: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). Hoje também, ela nos ajuda a nos prepararmos para a ação de Deus[110]: “Fazei tudo o que ele vos disser” ( Jo 2,5). Suas palavras não são meras instruções, mas se tornam uma verdadeira pedagogia materna que, pela ação do Espírito, conduz a pessoa ao profundo significado do mistério de Cristo[111]. Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir nossas vidas a Cristo e à sua graça[113], porque só Ele opera nas profundezas do nosso ser.

 

Onde só Deus pode ir

50. Como nos recorda o Catecismo , a graça santificante é “antes de tudo o dom do Espírito que nos justifica e santifica”[114]. Não é simplesmente um auxílio, uma energia a ser possuída, mas “o dom gratuito que Deus nos dá da sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossas almas”[115], que pode ser descrito como a habitação da Trindade em nosso ser mais íntimo, como amizade com Deus, como aliança com o Senhor. Só Deus pode fazer isso, pois envolve vencer uma desproporção “infinita”[116]. Essa autodoação da Trindade, esse “entrelaçamento da alma”[117] ( illabitur ) por parte do próprio Deus, implica um efeito transformador inerente à parte mais profunda do crente.[118] São Tomás de Aquino usou um verbo para essa penetração no interior do ser humano que só poderia se aplicar a Deus, illabi , porque somente Deus, não sendo uma criatura, pode alcançar essa intimidade pessoal sem violar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Somente Deus alcança o centro mais íntimo de uma pessoa para realizar sua elevação e transformação, quando Ele se dá como amigo, e por essa razão, “nenhuma criatura pode conferir graça”.[120] São Tomás repete isso ao falar da graça sacramental: como causa principal, “só Deus produz o efeito interior do sacramento. Porque só Ele penetra na alma, onde ocorre o efeito sacramental — ninguém pode agir imediatamente onde Ele não está — já que a graça, que é um efeito interior do sacramento, vem somente de Deus”.[121]

 

51. Outros autores expressaram opiniões semelhantes,[122] mas vale a pena mencionar São Boaventura. Ele ensinou que, quando Deus opera com a graça santificante em um ser humano, Ele torna essa pessoa absolutamente imediata a Si mesmo.[123] Deus, por meio da graça, aproxima-se plenamente do ser humano, com absoluta imediatidade, em uma “intimidade” profunda no ser humano que somente Ele pode alcançar.[124] A graça criada, portanto, não age como um “intermediário”, mas é um efeito direto da amizade que Deus concede ao tocar diretamente o coração humano. Visto que é Deus quem efetua a transformação da pessoa quando Se dá como amigo, não há intermediário entre Deus e o ser humano transformado.[125] Somente Deus é capaz de penetrar dessa maneira, tão profundamente, para santificar, a ponto de Se tornar absolutamente imediato , e somente Ele pode fazê-lo sem aniquilar a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus[127] assume uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da salvação. Unida hipostaticamente ao Filho por uma graça que “é sem dúvida infinita”[128], esta Humanidade “recebeu a graça no mais alto grau. Portanto, devido à eminência da graça que recebeu, pertence a ela [ competit sibi ] transmitir esta graça aos outros. Isto é próprio da Cabeça”[129]. Esta humanidade participa da efusão da graça santificante, que dela flui ou “emana”[130]. ​​Consequentemente, “ segundo a sua humanidade , ele é o princípio de toda a graça”, como a Cabeça da qual a graça flui para os outros (“ in alios transfunderetur ”)[131]. Esta natureza humana é inseparável da nossa salvação porque “pela Encarnação, todas as ações salvíficas que o Verbo de Deus realiza são sempre realizadas com a natureza humana que Ele assumiu para a salvação de todos os homens” [132]. Por meio desta natureza humana assumida, o Filho de Deus “uniu-se de certo modo a cada homem” e “pelo seu sangue livremente derramado, mereceu-nos a vida” [133]. Pela graça, os fiéis estão unidos a Cristo e participam do seu Mistério Pascal, para que possam experimentar uma união íntima e única com Ele, que São Paulo expressou nestas palavras: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” ( Gl 2,20).

 

53. Nenhum ser humano, nem mesmo os apóstolos ou a Bem-Aventurada Virgem Maria, pode agir como dispensador universal da graça. Somente Deus pode dar a graça,[134] e Ele o faz por meio da humanidade de Cristo,[135] pois “a plenitude da graça de Cristo homem é a do Filho unigênito do Pai”.[136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja eminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela é, como nós, filha adotiva do Pai e também, como escreveu o poeta Dante Alighieri, “filha de vosso Filho”.[137] Ela coopera na economia da salvação por uma participação derivada e subordinada; portanto, qualquer conversa sobre sua “mediação” na graça deve ser entendida por analogia distante com Cristo e sua mediação única.[138]

 

54. Na perfeita imediaticidade entre os seres humanos e Deus para a comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação da Trindade podem ser concebidas como algo que nos chega por meio de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos dizer é que Maria deseja esse bem para nós e o pede conosco. A liturgia, que também é lex credendi ( lei da fé ), permite-nos reafirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas na intercessão materna. De fato, na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição, quando se explica em que sentido o privilégio concedido a Maria foi estabelecido para o bem do povo, diz-se que ela se dispôs a ser “advogada da graça”,[139] isto é, que ela intercede para pedir o dom da graça para nós.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II, “a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens [...] a união imediata dos fiéis com Cristo não é de modo algum impedida, mas, pelo contrário, favorecida”[140]. Por esta razão, devemos evitar qualquer descrição que sugira, de maneira neoplatônica, uma espécie de efusão da graça em etapas, como se a graça de Deus descesse por meio de vários intermediários — como Maria — enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada de nossos corações. Tais interpretações afetam negativamente a compreensão adequada do encontro íntimo, direto e imediato que a graça proporciona entre o Senhor e o coração do crente[141]. O fato é que somente Deus justifica; somente o Deus Trino[142]. Só Ele nos eleva para vencer a infinita desproporção que nos separa da vida divina; só Ele realiza em nós a Sua habitação trinitária; só Ele entra em nós, transformando-nos e tornando-nos participantes da Sua vida divina. Não é uma honra para Maria atribuir a ela qualquer mediação na realização desta obra exclusivamente divina.

 

Água fresca jorrando para fora

56. No entanto, como Maria é cheia de graça, e a bondade tende sempre a ser comunicada, surge facilmente a ideia de uma espécie de “transbordamento” da graça de Maria, que só pode ter sentido adequado se não contradizer o que foi dito até agora. Isto não constitui uma dificuldade se se referir principalmente às formas de cooperação que já mencionámos (intercessão e proximidade materna, que nos convidam a abrir os nossos corações à graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação variada por parte da criatura “em dependência da única fonte”[143].

 

57. A natureza fundamentalmente decisiva da cooperação dos fiéis — principalmente de Maria — na comunicação da graça é evidente na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que brotam dos corações dos fiéis (cf. Jo 7,38). Embora esta seja uma imagem poderosa, que poderia ser interpretada como os fiéis sendo canais para uma transmissão perfectiva da graça santificante, os Padres da Igreja, ao especificarem como se dá esse derramamento dos rios do Espírito, expressaram-no por meio de ações de natureza mais procedimental, como a pregação, o ensino e outras formas de transmissão do dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica-o ao conhecimento das Escrituras ou à percepção dos sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria, este transbordamento de água é o ensinamento dos mistérios da fé,[145] “mistagogia pura” no seu sentido mais profundo, que não é meramente intelectual, mas diz respeito à disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém sustenta que o ensinamento das Escrituras conduz à luz.[147] São João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estêvão ou à autoridade da palavra de Pedro.[148] Santo Ambrósio afirma: “Estes são os rios que ouviram a Palavra de Deus com os seus ouvidos e que falam, para que a Palavra seja infundida no coração de cada um”[149], e aplica-o desta forma: “Que a água da doutrina celestial flua [...] que a seiva da palavra do Senhor permeie”[150] o coração de cada um.[151] Para São Jerônimo também, a água é o ensinamento do Salvador,[152] assim como para São Gregório Magno, que também ensina que é “uma vontade piedosa para com o próximo”.[153] Essas interpretações, dos rios de água viva que os crentes derramam, concentram-se no conhecimento das Escrituras e seus mistérios; elas geralmente não se referem ao conhecimento puramente intelectual, mas ao conhecimento sapiencial e à iluminação do coração para se abrir à própria realidade dos Mistérios.

 

59. Em outros Padres e Doutores da Igreja, encontramos também uma explicação mais ampla, que inclui, além da pregação ou da catequese, obras que auxiliam os outros em suas necessidades, ou um testemunho de amor. Assim, Santo Hilário entende os rios de água viva como as obras do Espírito Santo por meio das virtudes que atuam para o bem do próximo.[154] Santo Agostinho aplica-o à “benevolência com que se deseja ajudar o próximo”.[155] Na Idade Média, essa perspectiva continua até São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva se manifestam porque, quando alguém “se apressa em aconselhar o próximo e em comunicar aos outros os diversos dons da graça recebidos de Deus, rios de água viva fluem de seu peito”.[156]

 

60. Quando São Tomás fala dos “diversos dons da graça” para o serviço ao próximo, ele se refere aos vários dons carismáticos, pois “como está escrito ( 1 Cor 12,10), a um é dado o dom de línguas, a outro o dom da cura, etc.”[157] Este aspecto também está presente em São Cirilo de Jerusalém, que indica que os rios da água do Espírito, que fluem através dos crentes, se manifestam quando “Ele usa a língua de alguns para o dom da sabedoria; ilumina a mente de outros com o dom da profecia; a um, concede o poder de expulsar demônios [...]. [O Espírito] fortalece a temperança em alguns, a misericórdia em outros e ensina ainda outro a praticar o jejum e a vida ascética.”[158]

 

61. Algo semelhante pode ser dito sobre a interpretação de João 14:12 a respeito dos crentes que realizam “obras maiores” ( meizona ) do que as de Cristo na terra. Os crentes participam da obra de Cristo na medida em que também, de certa forma, despertam a fé em outros por meio da proclamação da Palavra. Isso é explicitamente declarado em João 17:20b: “Aqueles que creem em mim por meio da palavra deles”. O mesmo é sugerido em João 14:6-11, onde as obras de Cristo são aquelas que manifestam o Pai (v. 8). As obras dos crentes, que se concentram em proclamar o Evangelho por meio da palavra, são paralelas às obras de Cristo. Jesus declara: “Se eles guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa” ( João 15:20c). Assim como aqueles que ouvem a palavra de Cristo têm a vida eterna (cf. Jo 5:24), Jesus anuncia que outros crerão por meio da palavra dos crentes (cf. Jo 17:20). Isso diz respeito não apenas às palavras, mas também ao testemunho eloquente dos crentes, e é por isso que Jesus pede ao Pai que os crentes estejam unidos para que “o mundo creia” ( João 17:21).

 

Amor que se comunica por todo o mundo.

62. O Evangelho de João relaciona intimamente a caridade fraterna a essa partilha do bem. De fato, a afirmação “se me amardes, guardareis os meus mandamentos” ( Jo 14,15) é paralela a “quem crê em mim fará as obras que eu faço” ( Jo 14,12). Quando Cristo fala do fruto que espera de seus discípulos, ele o identifica, em última análise, com o amor fraterno (cf. Jo 15,16-17). São Paulo, também, depois de falar das várias obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Cor 12), propõe um caminho melhor quando diz: “Buscai com zelo os maiores dons ( ta meizona ), e eu vos mostrarei um caminho que supera todos eles ( kath'hyperbolēn )”: o amor ( 1 Cor 12,31–13,1). As obras de amor para com o próximo, incluindo o trabalho diário ou o compromisso de transformar este mundo, tornam-se, então, um canal de cooperação na obra salvífica de Cristo.

 

63. Papas recentes também se expressaram desta forma. São João XXIII ensinou que, quando um cristão está espiritualmente unido ao divino Redentor, ao realizar sua atividade em empreendimentos temporais, seu trabalho se torna como uma continuação do de Jesus Cristo, de quem ele recebe sua força e poder salvador […] ele contribui para estender aos outros os frutos da redenção.[159] São João Paulo II compreendeu esta colaboração como uma reconstrução, com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa dos pecados, porque “o Coração de Cristo quer precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”, e “esta é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Salvador”.[160] O Papa Bento XVI afirmou que, “como objetos do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos da caridade, chamados a se tornarem eles mesmos instrumentos da graça, a difundir a caridade de Deus e a tecer laços de caridade”. A doutrina social da Igreja responde a esta dinâmica de caridade recebida e dada”[161]. E o Papa Francisco ensinou que, para Santa Teresa do Menino Jesus, “não se trata apenas de permitir que o Coração de Cristo, através da confiança total, derrame a beleza do seu amor no coração de alguém, mas também de permitir que ele alcance os outros e transforme o mundo […] através de atos de amor fraterno pelos quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, oferecemos novas expressões do poder restaurador do Coração de Cristo”[162].

 

64. A cooperação é possibilitada por Cristo e realizada pela ação do Espírito que, no caso de Maria, distingue-se da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que o próprio Cristo lhe atribuiu na Cruz.

 

Critérios

65. Qualquer outra forma de entender a cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir-lhe uma forma de intervenção ou capacidade de aperfeiçoamento ou causalidade secundária na comunicação da graça santificante[163], deve prestar particular atenção a certos critérios já indicados na Constituição Dogmática Lumen gentium:

 

a) Devemos refletir sobre como Maria fomenta a nossa união “imediata”[164] com o Senhor, que Ele próprio produz conferindo a graça, e que só podemos receber de Deus[165], mas sem entender a união com Maria como mais imediata do que a união com Cristo. Este risco reside, sobretudo, na ideia de que Cristo nos dá Maria como instrumento ou causa perfectiva secundária na comunicação da Sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II observou que “toda a influência salvífica da Bem-Aventurada Virgem sobre a humanidade tem sua origem numa disposição puramente gratuita de Deus: não provém de nenhuma necessidade objetiva”[166]. Essa influência só pode ser compreendida em termos da livre decisão de Deus, que, embora sua própria ação seja transbordante e superabundante, livre e gratuitamente escolhe associá-la à sua obra. Portanto, não é permitido apresentar a ação de Maria como se Ele precisasse dela para efetuar a salvação.

 

(c) Devemos entender a mediação de Maria não como um complemento para permitir que Deus aja plenamente, com maior riqueza e beleza, mas “de tal modo que dela resulte nenhuma derrogação, nenhuma adição em relação à dignidade e eficácia do único Mediador, Cristo”[167]. Para explicar a mediação de Maria, é preciso enfatizar que Deus é o único Salvador, que aplica exclusivamente os méritos de Jesus Cristo, os únicos necessários e absolutamente suficientes para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em algo que Ele não faz (derrogação) nem o completa (acréscimo). Se, na comunicação da graça, ela nada acrescenta à mediação salvífica de Cristo, Maria não deve ser considerada um instrumento primário desse dom[168]. Se ela acompanha uma ação de Cristo, por meio da obra do próprio Cristo, isso não deve ser entendido como paralelo. Ao contrário, por estar associada a Ele, é Maria quem recebe de seu Filho um dom que a coloca além de si mesma, porque lhe é dado acompanhar a obra do Senhor com seu caráter materno. Retornamos, portanto, ao ponto mais certo: a contribuição dispositiva de Maria , onde podemos de fato pensar em uma ação na qual ela traz algo que lhe é próprio, na medida em que ela “pode dispor de certa maneira” [169] para os outros. Pois “pertence ao poder supremo conduzir ao fim último, enquanto os poderes menores ajudam a atingir esse fim, dispondo dele ” [170].

 

66. Tudo o que precede não ofende nem humilha Maria, porque todo o seu ser está voltado para o seu Senhor. “A minha alma engrandece ao Senhor!” ( Lc 1,46). Para ela, não há glória senão a de Deus. Como Mãe, ela redobra a sua alegria ao ver como Cristo manifesta a beleza inexaurível e transbordante da sua glória, curando, transformando e preenchendo com Ele os corações daqueles filhos que ela acompanhou na sua caminhada até o Senhor . Portanto, qualquer olhar dirigido a ela que nos afaste de Cristo, ou que a coloque no mesmo nível do Filho de Deus, estaria fora da dinâmica própria de uma fé mariana autêntica.

 

As graças

67. Certos títulos, como o de Medianeira de Todas as Graças, têm limitações que dificultam uma compreensão adequada da posição singular de Maria. De fato, ela, a primeira a ser redimida, não poderia ter sido a mediadora da graça que ela mesma recebeu. Este não é um detalhe menor, pois destaca um ponto central: nela também, o dom da graça a precede e procede da iniciativa inteiramente gratuita da Trindade, em virtude dos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu sua justificação por nenhuma de suas ações anteriores[171], nem por nenhuma ação posterior[172]. Para Maria também, sua amizade com Deus pela graça será sempre gratuita. Sua preciosa figura é o supremo testemunho da receptividade crente daquela que, mais e melhor do que qualquer outra, se abriu com docilidade e plena confiança à obra de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Por outro lado, o título mencionado corre o risco de retratar a graça divina como se Maria fosse uma distribuidora de bens ou energias espirituais, desvinculada de nossa relação pessoal com Jesus Cristo. No entanto, a palavra “graças”, em referência à ajuda maternal de Maria em vários momentos da vida, pode ter um significado aceitável. O plural expressa toda a ajuda, inclusive material, que o Senhor pode nos oferecer ao ouvir a intercessão da Mãe; ajuda que, por sua vez, dispõe os corações a se abrirem ao amor de Deus. Desta forma, Maria, como mãe, está presente no cotidiano dos fiéis de uma maneira que supera a proximidade que qualquer outro santo pode ter.

 

69. Por sua intercessão, ela pode implorar por nós os impulsos interiores do Espírito Santo que chamamos de “graças atuais”. Estas são as ajudas do Espírito Santo que atuam também nos pecadores para os dispor à justificação[173], e também naqueles que já foram justificados pela graça santificante, para os estimular ao crescimento. É neste sentido preciso que o título “Mãe da Graça” deve ser interpretado. Maria colabora humildemente para que possamos abrir nossos corações ao Senhor, que somente Ele pode nos justificar pela ação da graça santificante, isto é, quando nos infunde com Sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos torna participantes de Sua vida divina. Esta é exclusivamente a obra do Senhor, mas não exclui que, por meio da ação materna de Maria, palavras, imagens e diversos impulsos possam chegar aos fiéis para ajudá-los a progredir na vida, a preparar seus corações para a graça que o Senhor infunde ou a crescer na vida de graça recebida gratuitamente.

 

70. Esta ajuda, que nos vem do Senhor, apresenta-se com um aspecto maternal, repleto da ternura e proximidade da Mãe que Jesus quis partilhar connosco (cf. Jo 19,25-28). Maria realiza, assim, uma ação singular para nos ajudar a abrir o coração a Cristo e à sua graça santificadora que eleva e cura. Quando ela se comunica enviando vários “movimentos”, estes devem sempre ser entendidos como estímulos para abrirmos as nossas vidas Àquele que opera no íntimo do nosso ser.

 

Nossa união com Maria

71. O Concílio preferiu chamar Maria « na ordem da graça, nossa Mãe »[174], o que expressa melhor a universalidade da cooperação materna de Maria, que é inegável num sentido preciso: ela é a Mãe de Cristo, que é graça por excelência e a Autora de toda a graça.

 

72. Esta maternidade de Maria na ordem da graça — que brota do Mistério Pascal de Cristo — implica também que cada discípulo estabelece com Maria “uma relação única e insubstituível”. São João Paulo II falou de uma “dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo”, que se expressa como “a resposta ao amor de uma pessoa e, em particular, ao amor da mãe ”.[175] A vida da graça inclui a nossa relação com a Mãe. A união com Cristo pela graça une-nos, ao mesmo tempo, a Maria numa relação de confiança, ternura e afeto incondicional.

 

O primeiro discípulo

 

73. Maria é “a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Jesus”[176]. Maria é a primeira daqueles que “ouvem a palavra de Deus e a guardam” ( Lc 11,28); ela é a primeira a se colocar entre os humildes e pobres do Senhor para nos ensinar a esperar e a receber, com confiança, a Salvação que vem somente de Deus. Maria “tornou-se, assim, em certo sentido, a primeira ‘discípula’ de seu Filho , a primeira a quem Ele pareceu dizer: ‘Segue-me!’, mesmo antes de dirigir este chamado aos Apóstolos ou a qualquer outra pessoa (cf. Jo 1,43)”[177]. Ela é um modelo de fé e caridade para a Igreja por causa de sua obediência à vontade do Pai, sua colaboração na obra redentora de seu Filho e sua abertura à ação do Espírito Santo[178]. É por isso que Santo Agostinho disse que “é mais importante para Maria ser discípula de Cristo do que ter sido sua mãe”[179]. E o Papa Francisco insistiu que “ela é mais discípula do que Mãe”[180]. Maria é, em suma, “a primeira e mais perfeita discípula de Cristo”[181].

 

74. Para cada cristão, Maria é “aquela que primeiro ‘creu’, e é precisamente com esta fé de esposa e mãe que ela deseja agir sobre todos aqueles que se confiam a ela como filhos” [182]. Ela o faz com um afeto repleto de sinais de proximidade que os ajudam a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo opere cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a conservar a graça recebida e a meditar sobre a obra que Deus realiza em sua vida (cf. Lc 2,19).

 

75. No caso de alegados fenómenos sobrenaturais que tenham sido objeto de juízo positivo da Igreja, onde apareçam certas expressões ou títulos como os acima citados, convém lembrar que «no caso em que seja concedido um Nihil obstat pelo Dicastério, tais fenómenos não se tornam objetos de fé - isto é, os fiéis não são obrigados a dar-lhes o seu assentimento»[183].

 

Mãe dos Fiéis

 

76. “Maria, a primeira discípula, é a Mãe”[184]. Na Cruz, Cristo nos dá Maria e, assim, “Ele nos conduz a ela, pois não quer que andemos sem mãe”[185]. Ela é a Mãe crente que se tornou “Mãe de todos os crentes”[186] e, ao mesmo tempo, é “a Mãe da Igreja evangelizadora”[187], que nos acolhe como Deus escolheu nos chamar, não apenas como indivíduos isolados, mas como um povo em movimento[188]: “Nossa Mãe Maria sempre quer caminhar conosco, estar perto de nós, nos ajudar por sua intercessão e seu amor”[189]. Ela é a Mãe do povo fiel; ela “caminha no meio do seu povo, movida por uma delicada ternura, e assume suas angústias e suas vicissitudes”[190].

 

O amor faz uma pausa, contempla o mistério e se deleita no silêncio.

 

77. Os fiéis não se afastam de Cristo nem do Evangelho quando se aproximam dela, mas sabem ler “nesta imagem materna todos os mistérios do Evangelho”[191]. Porque neste rosto materno se reflete o Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que está diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina e nos levanta até à sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e que não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). No seu rosto materno, muitos pobres reconhecem o Senhor, que “derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes” ( Lc 1,52). O rosto desta mulher canta o mistério da Encarnação. No rosto da Mãe, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e nesse mesmo rosto, banhado pela luz da Páscoa, percebe que Cristo está vivo. E é ela, que recebeu o Espírito Santo em sua plenitude, quem sustenta os Apóstolos na oração no Cenáculo (cf. At 1,14). É por isso que podemos dizer que, “com base no testemunho apostólico da Igreja, de certo modo, a fé de Maria se torna constantemente a fé do Povo de Deus em seu caminho”[192].

 

78. Como disseram os bispos latino-americanos, os pobres “encontram também a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela, veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”[193]. Os simples e os pobres não separam a Mãe gloriosa e Maria de Nazaré, que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, reconhecem a simplicidade por trás da glória e sabem que Maria nunca deixou de ser uma deles. É ela quem, como toda mãe, carregou o seu filho no ventre, amamentou-o, criou-o com ternura com a ajuda de São José, e não esteve isenta dos choques e dúvidas da maternidade (cf. Lc 2,48-50). É ela quem canta o Deus que “encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” ( Lc 1,53); quem sofre com os noivos que ficaram sem vinho para a sua festa (cf. Jo 2,3); que sabe correr para ajudar a sua prima necessitada (cf. Lc 1,39-40); que se deixa ferir, como que transpassada por uma espada, por causa da história do seu povo, onde o seu filho é “um sinal de contradição” ( Lc 2,34); que compreende o que é ser migrante ou exilada (cf. Mt 2,13-15); que, na sua pobreza, só pode oferecer duas pequenas pombas (cf. Lc 2,24) e que sabe o que é ser desprezada por ser da família de um pobre carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). Os povos que sofrem reconhecem Maria caminhando ao seu lado, e é por isso que procuram a sua Mãe para implorar a sua ajuda.[194]

 

79. A proximidade da Mãe dá origem a uma piedade mariana “popular”, que se expressa de maneira diferente por diferentes povos. As diferentes faces de Maria – coreana, mexicana, congolesa, italiana e tantas outras – são formas de inculturação do Evangelho que refletem, em todos os lugares da terra, “a ternura paterna de Deus”[195] que atinge o próprio coração dos nossos povos.

 

80. Contemplemos a fé do Povo de Deus, onde multidões de fiéis reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, tal como o próprio Cristo a apresentou a nós na Cruz. O Povo de Deus ama peregrinar aos diversos santuários marianos, onde encontra consolo e força para perseverar, como quem, no cansaço e no sofrimento, recebe o abraço da Mãe. A Conferência Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teológico desta experiência. Nada melhor do que concluir esta Nota com estas palavras:

 

“ Damos ênfase às peregrinações, onde se pode reconhecer o Povo de Deus em sua jornada. Ali, o crente celebra a alegria de se sentir imerso no meio de tantos irmãos e irmãs, caminhando juntos rumo a Deus que os espera. O próprio Cristo se torna peregrino e caminha, ressuscitado dos mortos, entre os pobres. A decisão de partir para o santuário já é um ato de fé, a jornada é um verdadeiro cântico de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino recai sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor fixa-se nela, contempla o mistério e o saboreia em silêncio. Ao mesmo tempo, comove-se, deixando transbordar todo o peso de sua dor e anseios. A súplica sincera, que flui com plena confiança, é a melhor expressão de um coração que renunciou à sua própria autossuficiência, reconhecendo que nada pode fazer sozinho. Uma vívida experiência espiritual condensa-se num breve instante. ”[196]

 

Mãe dos fiéis, rogai por nós.

 

O Sumo Pontífice Leão XIV, em 7 de outubro de 2025, Memória Litúrgica da Bem-Aventurada Virgem do Rosário, aprovou a presente Nota, deliberada durante a sessão ordinária deste Dicastério, de 26 de março de 2025, e ordenou a sua publicação.

 

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, Memória Litúrgica de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

Monsenhor Armando Matteo

 

Secretário

 

para a Seção Doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

7 de outubro de 2025

 

_________

 

[1] Cf. Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas processuais para o discernimento de alegados fenómenos sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns desses fenômenos, ou aparições, a Virgem Maria é referida por títulos como Corredentora, Redentora, Sacerdotisa, Medianeira, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe Espiritual, etc.

 

[4] Cf. S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. ibid ., n. 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. ibid ., n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 3: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Missa e abertura da Porta Santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987) 396.

 

[10] A relação que aparece nos textos de São Paulo entre Adão e Cristo ( Rm 5,18-19 e 1 Cor 15,22) serviu aos Santos Padres para estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, São Justino, Diálogo com Trifão, o Judeu, 100: PG 6, 710CD-711A; Santo Irineu de Lyon, Contra as Heresias, III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, Sobre a Carne de Cristo , 17, 5: PL 1, 782B. Este paralelo antitético entre Eva e Maria é a primeira abordagem feita pelos Padres ao tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a perdição, a fé de Maria nos trouxe a salvação. A grande abundância de testemunhos patrísticos sobre o tema da Virgem como a nova Eva oferece elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher , porque em Maria a mulher recupera seu esplendor original e encontra sua plenitude definitiva; b) Maria e Cristo como esposo-companheiro, que constitui com seu Filho o par exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração messiânica; c) Maria e a Igreja , estabelecendo em Maria uma relação dupla com a Igreja: a de exemplaridade, como protótipo, e a de Mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Por exemplo, cf. Santo Efrém, Hinos da Natividade: SC 459; São João Damasceno, In dormitione Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus , Roma 1885, 152: “Por meio de ti, tornamo-nos participantes da natureza divina, ó sempre Virgem, Theotokos , porque por nós deste à luz o Deus encarnado. Portanto, todos te magnificamos como é justo” (trad. do original grego do Theotokion do Poético Kathisma após a primeira estase ). Outro exemplo, mais significativo, da expressão da devoção mariana é o famoso Akathistos ( século V a.C. ), em 24 estrofes; o título significa simplesmente que se ouve em pé, não sentado, como se ouve o Evangelho como sinal de especial respeito pela Virgem-Mãe Maria, a quem o poeta celebra com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas, pedindo-lhe que aceite a sua oferta poética e que interceda para salvar a humanidade do pecado da terra: cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos Inno alla Madre di Dio , Roma 2017.

 

[15] A evidência mais antiga deste título vem do Egito no século III . Cf. Papiro 470 da Biblioteca John Rylands (Manchester, Reino Unido) que transmite grande parte da invocação mariana em grego. A tradução latina desta oração diz: " Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatis, sed a periculis cunctis libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta ".

 

[16] As representações iconográficas tradicionais da Virgem seguem uma série de padrões estáveis. Em particular, a Odēghētria , com a mão, mostra “o caminho” para o seu filho Jesus Cristo no colo; a Eleousa , que é a Ternura, onde se manifesta o vínculo íntimo entre Mãe e Filho: o seu rosto repousa sobre o de Maria; e a Platytera , a maior no céu, carrega Cristo dentro de si, representado como o menino Jesus no seu peito. A maioria das outras são inspiradas por estes três padrões, como a Galaktotrophousa , que alimenta a criança com o seu leite; a Kyriōtissa , ou Senhora, que segura o Menino no colo como se estivesse num trono; a Panagia , ou Santíssima, vestida com um manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; ou a Deesis, onde ela aparece à direita do seu Filho entronizado ( Pantokratōr ) intercedendo por nós, com João Batista à esquerda. Em outros ícones, Maria aparece em intercessão com outros santos, frequentemente com João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Audience générale (27 de maio de 2009): L'Osservatore Romano , 28 de maio de 2009, 1; S. Grégoire de Narek, Prex 26 et 80, Ad Deiparam : SC 78, 160-164, 428-432.

 

[18] Autores orientais como São Tiago de Sarug (†521), São Romano, o Cantor (†555-562), São João Damasceno (†749) e João, o Geômetra (†1000) já haviam abordado o tema da cooperação de Maria no sacrifício redentor de Cristo na Cruz.

 

[19] Cf. São Bernardo de Claraval, Sobre a Purificação da Mãe de Deus, III, 2: PL 183, 370C .

 

[20] Cf. Arnaud de Bonneval, De laudibus BM Virginis I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] No magistério anterior ao Concílio Vaticano II, notamos: Pio IX, Const. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Iucunda semper expecte (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1851), 177-184; Id., Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453, 453; Bento XV, Carta Apostólica Inter sodalicia , à Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Id., Carta Encíclica Ad caeli Reginam (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616: (DH 2803) “A Bem-Aventurada Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original desde o primeiro instante de sua concepção, pela singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso, em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”; Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n.º 53: AAS 57 (1965), 58: “Redimida de modo eminente em consideração aos méritos de seu Filho”.

 

[24] Cf. Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus na Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “mãe que nutre”. Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia para a Concelebração Eucarística com os novos Cardeais e a apresentação do anel cardinalício (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Signum magnum, (13 de maio de 1967), n. 5: AAS 59 (1967), n. 5: AAS 59 (1967), 469: “Maria, assim que foi tranquilizada pela voz do anjo Gabriel de que Deus a havia escolhido como Mãe sem temer seu Filho único, sem demora, deu seu assentimento a uma obra que empregaria todas as energias de sua frágil natureza, declarando: ‘ Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra ’ ( Lc 1,38)”.

 

[29] HU Von Balthasar, Theodramatik. Bd. 2 As pessoas dos jogos. Teil 2 Die Personen in Christus, Einsiedeln 21998, 272;; cf. São Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium : DH 251: “Desta forma, [os Santos Padres] não tiveram objeção em chamar a Santa Virgem Mãe de Deus”, Concílio Ecumênico de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Pelo que sabemos hoje, isto ocorreu no século XV ; um hinógrafo beneditino legou-nos a seguinte oração manuscrita, preservada na Abadia de São Pedro em Salzburgo: " Pia, dulcis et benigna/nullo prorsus luctu digna/si fletum hinc eligeres/ut compassa Redemptori/captivato transgressori/tu corredemptrix fieres ." "Pia, doce e boa, não és digna de nenhuma dor; se daqui removeres as lágrimas, sofrendo com o Redentor pelo cativo transgressor, serás corredentora": De compassione BMV , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi, XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título de Corredentora de diferentes maneiras: a) Cooperação imediata, cristotípica ou maximalista, que situa a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à própria Redenção (Redenção objetiva). Nesse sentido, os méritos de Maria, embora subordinados aos de Cristo, teriam um valor redentor para a salvação; b) Cooperação mediata ou minimalista, limitada ao “sim” da Anunciação. Esta seria uma cooperação mediata, que tornaria possível a Encarnação como um passo preliminar para a Redenção; c) Cooperação imediata receptiva ou eclesial, cooperando na Redenção objetiva na medida em que aceitou os frutos do sacrifício redentor do Salvador representando a Igreja. Uma cooperação imediata, mas receptiva, visto que Maria simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, tornando-se a “primeira Igreja”.

 

[32] Durante o pontificado de São Pio X, o título de Corredentora aparece em um documento da Sagrada Congregação dos Ritos e em dois documentos do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, que elogia o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome “de sua mãe, nossa Corredentora, a Bem-Aventurada Maria”; Id., Oração Indulgente (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, onde Maria é chamada de “Corredentora da raça humana”. O primeiro papa a usar o termo Corredentora foi Pio XI, na Bússola de 20 de julho de 1925, dirigida à Rainha do Rosário de Pompeia, em Pius XI, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , em Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n.º 628: “Lembra-te também que no Calvário foste constituída Corredentora, colaborando com a crucificação do teu coração na salvação do mundo, com o teu Filho crucificado.” Cf. Id., Discurso “ Ecco di nuovo ” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 de dezembro de 1933, 1.

 

[33] Cf. Id., Mensagem radiofônica por ocasião do encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): L'Osservatore Romano , 29-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Id., À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário no Vale Pompeiano no Sacra Penitentiary Apostólico, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): L'Osservatore Romano , 11 de dezembro de 1980, 2; Id., Audiência Geral (8 de setembro de 1982): L'Osservatore Romano , 10 de setembro de 1982, 2; Id., Angelus (4 de novembro de 1984): L'Osservatore Romano , 5 a 6 de novembro de 1984, 7; Id., Homilia no Santuário de Nossa Senhora de Alborada em Guayaquil, Equador (31 de janeiro de 1985): L'Osservatore Romano , 2 de fevereiro de 1985, 6; Id., Ângelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): L'Osservatore Romano , 1-2 de abril de 1985, 10; Discurso aos peregrinos da “Opera Federativa Trasporto Ammalati a Lourdes” (OFTAL) (24 de março de 1990): L'Osservatore Romano , 25 de março de 1990, 4; Ângelus (6 de outubro de 1991): L'Osservatore Romano , 7-8 de outubro de 1991, 7. Após a Quarta Feira da Congregação para a Doutrina da Fé, em 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II deixou de usar o título de Corredentora. É importante notar também que este título não aparece na Carta Encíclica Redemptoris Mater de 25 de março de 1987, que é o documento preeminente em que São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J. Ratzinger, Relatório da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] P. Seewald - J. Ratzinger, Deus e o Mundo. Uma conversa com Peter Seewald, Madrid 2005, 287-288.

 

[38] Francisco, Homilia para a festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Id., Meditações diárias A Mulher das Dores, Discípula e Mãe (3 de abril de 2020) L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[40]Ibid., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Torta XII, Lett. Enc. Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), n. 10: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Cf. Santo André de Creta, Sobre o Nascimento da Virgem Maria , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Cf. São Germano de Constantinopla, Sobre a Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria PG 98, 322 a.C.

 

[44] Cf. São João Damasceno, Sobre a Dormição da Mãe de Deus, I: PG 96, 712B – 713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, a pedido do Cardeal Désiré-Joseph Mercier, Bento XV concedeu a toda a Bélgica o Ofício e a Missa da Virgem Maria “Mediadora de Todas as Graças”, a ser celebrada em 31 de maio. Posteriormente, a Sé Apostólica concedeu, mediante pedido, o mesmo Ofício e Missa a muitas outras dioceses e congregações religiosas. cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n.º 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, “ Um Novo Dogma Mariano?” , L’Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10: “A Constituição Lumen gentium , que, após cuidadosa consideração, não contém a definição dogmática de mediação, foi aprovada por 2.151 votos de 2.156 votantes [...] e, apenas 33 anos após a promulgação da Lumen gentium [...], o panorama eclesial, teológico e exegético não mudou substancialmente”. Esta declaração da Pontifícia Academia Mariana complementou a Declaração da Comissão Teológica estabelecida para o 12º Congresso Internacional Mariológico (Czestochowa, 12 a 24 de agosto de 1996), que considerou inadequado prosseguir com a definição dogmática de Maria como “mediadora”, “corredentora” e “advogada”; cf. Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa , Petição para a Definição do Dogma de Maria como Medianeira, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa : L'Osservatore Romano, 4 de junho de 1997, n.º 10.

 

[47] São Paulo VI, Discurso de encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Cf. São Bernardo de Claraval, Hom. Em louvor da Virgem Mãe, IV , 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. ibid ., nn. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. ibid., nn. 60, 62, 63, 65 : AAS 57 (1965), 62 ; 63 ; 64 ; 65.

 

[52] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013), 1019-1137, 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. em Números , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] S. Ambrose, Ep. 11, 24: PL 16 , 1106D.

 

[61] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854) em Pio IX, Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “Pela singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso, em consideração aos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana.”

 

[63] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. ibid., n. 21 : AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. ibid., n. 23 : AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações diárias Nossa Senhora das Dores, discípula e mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[67] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 4: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. São Paulo VI, Discurso de Encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: “Maria, portanto, como Mãe de Cristo, é também Mãe dos fiéis e de todos os pastores; isto é, da Igreja”; Catecismo da Igreja Católica , n. 963.

 

[70] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] Cf. HU von Balthasar, Theodramatics. Vol. 2 The Characters of the Play. Part 2 The Characters in Christ, Einsiedeln 2 1998, 306.

 

[72] Cf. Conc. Oecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium , n. 56: AAS 57 (1965), 60: “Ela se entregou inteiramente, como serva do Senhor, à pessoa e obra de seu Filho, para servir, em dependência dele e com ele, pela graça de Deus Todo-Poderoso, no mistério da Redenção”.

 

[73] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Conc. Oecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium , n. 69: AAS 57 (1965), 66: “Mãe de Deus e Mãe dos homens”.

 

[75] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n.º 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n.º 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos primeiros textos patrísticos e encontra seu fundamento bíblico especialmente no Evangelho de São João, mais precisamente na cena da Cruz.

 

[76] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: “Manifesta-se concretamente como a nova maternidade segundo o espírito e não segundo a carne, isto é, a solicitude de Maria pelos homens , o facto de ela ir ao encontro de toda a gama das suas necessidades”.

 

[77] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus . 53º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19 .

 

[78] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412. cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 2: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4: “A participação de Maria ocorreu durante o próprio evento e na sua condição de mãe; consequentemente, estende-se à totalidade da obra salvífica de Cristo”.

 

[80] Conc. Oecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica, n. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: “[Maria] aponta para o Mediador: ela é a Odigitria . Na iconografia cristã, ela está presente em todo lugar, às vezes até em grande relevo, mas sempre em relação ao seu Filho e em relação a Ele. Suas mãos, seus olhos, sua atitude são um ‘catecismo’ vivo e sempre apontam para o eixo, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele.”

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4: AAS 95 (2003), 8; citando o Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Conc. Oecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63: “O papel subordinado de Maria”.

 

[84] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. ibid., n. 43 : AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da recitação do Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia para o Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L'Osservatore Romano , 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[89] Id., Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.

 

[90] Cf. Id., Audiência Geral (18 de novembro de 2020), L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican Mopohua: Aqui é contado… o grande evento, Cuautitlán 2003, nn. 23, 119.

 

[94] São João Paulo II, Audiência Geral (13 de agosto de 1997), n. 4, L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francisco, Homilia na festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022), AAS 115 (2023): 53; cf. Id., Homilia na festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): AAS 116 (2024), 12.

 

[96] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Cf. J. Ratzinger, Relatório da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este carácter intercessório da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos papas recentes. Cf. Torta IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Lett. enc. Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; S. Pio X, Lett. enc. Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 (1903-1904), 455; Pio XII, Lett. enc. Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[100] Santo Agostinho, Sobre os méritos e remissão dos pecados e sobre o batismo de crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Id., Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 6. com.

 

[103] Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854), in Pio IX Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854 , 616.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid., q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid., q. 114, a. 5, co.

 

[108] Cf. ibid., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 de junho de 2016, 8.

 

[111] Cf. Id., Audiência Geral (24 de março de 2021), L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica , n.º 2764.

 

[112] Cf. Francisco, Palavras do Santo Padre durante a recitação do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 61: AAS 57 (1965), 5-71, 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , n.º 2003.

 

[115] Ibid. , n. 1999.

 

[116] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 1, co. ; Quaestiones disputatae de Veritate, 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Cf. Id., Suma Teológica, III, q. 64, a. 1, co; cf. ibid ., q. 8, a. 8, anúncio 1, co. : « [...] só Deus guiará a alma» .

 

[118] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; ibid ., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Cf. São Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Summa contra gentios , II, cap. 98, n. 18; ibid ., III, cap. 88, n. 6.

 

[120] Cf. Eu ia. , Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, pb 5.

 

[121] Id., Suma Teológica, III, q. 64, a. 1, co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, Sobre os Dogmas Eclesiásticos, 83: PL 58, 999B; igualmente São João Cassiano, Collationes VII, 13: PL 49, 683A; e também Dídimo Ceco, Sobre o Espírito Santo , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Cf. São Boaventura, Collationes in Hexaemeron , XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Cf. Id., Sententiarum Lib. Eu , d.14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Cf. ibid ., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Cf. ibid ., q. 2, fund. 4 e 8, 251-252.

 

[127] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 33, a. 3; ibid ., III, q. 23, a. 4.

 

[128] Id., Compendium theologiae , I, n. 215; cf. Id., Suma Teológica , III, q. 2, a. 10.

 

[129] Id., Summa Theologiae , III, q. 8, a. 5, co. ; cf. ibid ., q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Id., Compendium Theologiae , I, n. 214.

 

[131] Id. , Questões Disputadas sobre a Verdade, q. 29, a. 5, co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10: AAS 92 (2000), 750-751, cf. Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Pastoral Gaudium et Spes , n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Cf. Id., Super Ioannem, cap. 1, v. 16, leção 10; Suma Teológica , I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Id., Compendium Theologiae , I, n. 214.

 

[137] Dante Alighieri, Paraíso , XXXIII, 1.

 

[138] Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade de São Paulo, Papa VI, promulgado sob os cuidados de São João Paulo II, revisado por ele , terceira edição típica, Vatican Press 2008, 879.

 

[140] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n.º 2002.

 

[142] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 25, a. 3, ad 4. A criação e a justificação " só podem ser feitas imediatamente por Deus somente".

 

[143] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Cf. Orígenes, Hom. em Gênesis , XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Cf. São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre João , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Cf. Id., Comentário sobre Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, em Ioannem , 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Id., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Cf. Id., Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. São Jerônimo, Comentário sobre Zacarias, III, 14, 8.9: PL 25, 1528C.

 

[153] S. Gregório Magno, Hom. em Ezequiel I , 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Cf. S. Hilaire de Poitiers, Tractatus no Salmos 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho, Sobre o Evangelho de João , 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid.; cf. Id., Summa Theologiae, II-II, q. 178a. 1, sc

 

[158] São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 12: PG 33, 933B.

 

[159] Cf. S. João XXIII, Lett. enc. Mater et Magistra (15 de maio de 1961), AAS 53 (1961), 462.

 

[160] São João Paulo II, Carta ao Superior Geral da Companhia de Jesus , Paray-le-Monial (5 de outubro de 1986): L'Osservatore Romano , 6 de outubro de 1986, 7; citado por Francis, Lett. enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 5, a. 6, co. et ad 1; Id., Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos usados ​​por São Tomás de Aquino para explicar por que nenhuma criatura pode conferir graça, mas somente Deus, não podem ser considerados ultrapassados, nem em sua própria obra nem posteriormente.

 

[164] Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 25, art. 3, anúncio 4; Id., Scriptum super Sententiis II , d. 26, q. 1, a. 2 co; ibid. , IV, d. 5, q. 1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Cf. Id., Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Mais uma vez lembramos que: "Mas da mente, na qual há graça, nenhuma criatura pode escapar".

 

[166] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Cf. São Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios , livro 2, capítulo 21, n. 7. Um instrumento traz a sua própria contribuição: “Todo agente instrumental realiza a ação do agente principal através de alguma ação própria e connatural a si mesmo”.

 

[169] Ibid., livro 3, capítulo 147, n. 6; cf. Id., Suma Teológica I, q. 45, a. 5 co.

 

[170] Id., Summa Theologiae I-II , q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532 .

 

[172] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 114, a. 5 co.: “Um homem que já está na graça não pode merecer a graça que já tem.” Se a pessoa justificada pode merecer crescimento na vida da graça, o fato de ser justificado, de ser amigo de Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “disposição final”, concomitante com a efusão da graça santificante, é a obra imediata da própria graça. É “a disposição final, necessariamente seguida da forma”: São Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae , livro 5, lect. 2, n. 5; cf. Id., Scriptum super Sententiis, I, d. 17, q. 2, a. 3, co; Id., Summa contra Gentiles , livro 2, cap. 19, n. 6; Id., Compendium theologiae , I, n. 105.

 

[174] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 53: AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021), L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[181] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n.35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​​​Dicastery para a Doutrina da Fé, Normas Procedimentais para o Discernimento de Alegados Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024), n.º 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência Geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI, Lett. enc. Deus caritas (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. ibid. , n. 113 : AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Primeira Bênção Apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025), L'Osservatore Romano , 9 de maio de 2025, 3.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Episcopal Latino-Americano, 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265.

 

[194] Cfr. S. João Paulo II, Lett. enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[196] Conselho Episcopal Latino-Americano, 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259.

 

[01462-FR.01] [Texto original: espanhol]

 

 

 

Texto em inglês

 

DICASTERIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

 

Mãe Fiel do Povo

 

Nota doutrinária sobre alguns títulos marianos

 

Em relação à cooperação de Mary

 

na Obra da Salvação

 

Apresentação

 

A presente Nota responde a inúmeros pedidos e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas, e particularmente a este Dicastério, referentes a questões relativas à devoção mariana e a certos títulos marianos. São questões que preocuparam os Papas recentes e que foram abordadas repetidamente nos últimos trinta anos em diversas áreas de estudo do Dicastério, como Congressos e Assembleias Ordinárias. Isso permitiu ao Dicastério compilar um vasto e rico corpo de material que fundamenta a presente reflexão.

 

Ao esclarecer em que sentido certos títulos e expressões referentes a Maria são aceitáveis ​​ou não, este texto também visa aprofundar os fundamentos da devoção mariana, especificando o lugar de Maria em sua relação com os fiéis à luz do Mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isso implica uma profunda fidelidade à identidade católica, ao mesmo tempo que exige um esforço ecumênico específico.

 

O tema central que permeia todas essas páginas é a maternidade de Maria em relação aos fiéis . Ele aparece repetidamente no documento, com afirmações revisitadas diversas vezes, cada vez com novas considerações, enriquecendo-as e completando-as em um padrão espiral.

 

A devoção mariana, gerada pela maternidade de Maria, é apresentada aqui como um tesouro da Igreja. A piedade do fiel Povo de Deus — que encontra em Maria refúgio, força, ternura e esperança — não é aqui contemplada para ser corrigida, mas, sobretudo, para ser apreciada, admirada e incentivada. Pois essa piedade é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude evangélica de confiança no Senhor, que o Espírito Santo desperta livremente nos crentes. De fato, os pobres “encontram também o afeto e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela, veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”.[1]

 

Contudo, existem alguns grupos de reflexão mariana, publicações, novas devoções e até mesmo pedidos de dogmas marianos que não compartilham as mesmas características da devoção popular. Em vez disso, propõem um desenvolvimento dogmático particular e se expressam intensamente através das redes sociais, muitas vezes semeando confusão entre os fiéis comuns. Por vezes, essas iniciativas envolvem até mesmo reinterpretações de expressões usadas no passado com diversos significados. Este documento analisa tais propostas para indicar como algumas respondem a uma genuína devoção mariana inspirada pelo Evangelho e como outras devem ser evitadas, uma vez que não fomentam uma contemplação adequada da harmonia da mensagem cristã como um todo.

 

Além disso, diversas passagens desta Nota oferecem um amplo desenvolvimento bíblico para mostrar como a autêntica devoção mariana se encontra não apenas na rica Tradição da Igreja, mas também na Sagrada Escritura. A forte influência bíblica deste documento é acompanhada por textos dos Padres e Doutores da Igreja, bem como de Pontífices recentes. Portanto, em vez de propor limites, a presente Nota busca acompanhar e sustentar o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Manuel Cardeal Fernandez

 

Prefeito

 

[1] Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe , Documento Final (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), parágrafo 265. Citado no parágrafo 78 desta Nota.

 

Introdução

 

1. [ Mater Populi Fidelis ] A Mãe do Povo Fiel de Deus[1] é vista com afeto e admiração pelos cristãos porque, uma vez que a graça nos torna semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita da ação de Cristo que transforma nossa humanidade. Ela é a manifestação feminina de tudo o que a graça de Cristo pode realizar em um ser humano. Diante de tamanha beleza e movidos pelo amor, muitos fiéis ao longo da história procuraram se referir à Mãe usando as mais belas palavras para exaltar o lugar especial que ela ocupa ao lado de Cristo.

 

2. Recentemente, este Dicastério publicou as Normas para Proceder no Discernimento de Alegados Fenômenos Sobrenaturais .[2] Certos títulos[3] e expressões referentes à Virgem Maria são frequentemente usados ​​em conexão com tais fenômenos. No entanto, esses títulos — alguns dos quais já aparecem nos escritos dos Padres da Igreja — nem sempre são empregados com precisão, e seus significados são às vezes alterados ou mal interpretados. Além das questões terminológicas, alguns títulos apresentam dificuldades significativas quanto ao seu conteúdo, pois podem frequentemente levar a uma compreensão equivocada do papel de Maria, o que acarreta sérias repercussões nos níveis cristológico,[4] eclesiológico[5] e antropológico.[6]

 

3. O principal problema na interpretação desses títulos aplicados à Virgem Maria é como se deve entender sua associação com a obra de Redenção de Cristo — isto é, “qual é o significado da cooperação única de Maria no plano de salvação?”[7] O presente documento, sem pretender ser abrangente ou exaustivo, busca manter o equilíbrio necessário que deve ser estabelecido dentro dos mistérios cristãos entre a mediação exclusiva de Cristo e a cooperação de Maria na obra de salvação, e busca mostrar como isso é expresso em vários títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da salvação

 

4. A cooperação de Maria na obra da salvação tem sido tradicionalmente abordada sob uma dupla perspectiva: sua participação na redenção objetiva realizada por Cristo durante sua vida terrena — particularmente no Mistério Pascal — e a influência que ela exerce atualmente sobre aqueles que foram redimidos. De fato, essas duas questões estão inter-relacionadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvífica de Cristo é atestada nas Escrituras, que apresentam o evento salvífico realizado em Jesus Cristo como uma promessa no Antigo Testamento e como um cumprimento no Novo Testamento. Maria é prefigurada em Gênesis 3:15 porque ela é a mulher que participa da vitória definitiva sobre a serpente. Portanto, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria como “Mulher” no Calvário ( João 19:26). Em Caná, da mesma forma, ele a chama de “Mulher” ( João 2:4), referindo-se a Maria e ao seu papel, juntamente com ele, na “hora” da Cruz.

 

6. Nessa “hora”, a cooperação de Maria se manifesta quando ela renova o “Sim” da Anunciação. Nesse momento sagrado, o Evangelho passa de colocar nos lábios de Jesus a palavra “Mulher” ( Jo 19,26) para apresentá-la como “Mãe” ( Jo 19,27). Quando o Evangelho explica que, em resposta, o discípulo (que representa todos nós) a acolheu, usa um verbo ( lambano ) que, neste Evangelho, carrega o sentido de “receber” pela fé (cf. Jo 1,11-12; 5,43; e 13,20). O quarto Evangelho usa esse mesmo verbo para transmitir que a Luz veio aos seus e eles não o “receberam” ( Jo 1,11). Em outras palavras, o discípulo que tomou o nosso lugar ao lado de Maria a acolheu como mãe pela fé. Somente depois de nos confiar a Maria como nossa mãe, Jesus reconheceu que “tudo estava agora cumprido” ( Jo 19,28). Esta alusão solene à plenitude impede qualquer interpretação superficial do evento. A maternidade de Maria em relação a nós faz parte do cumprimento do plano divino, realizado no Mistério Pascal de Cristo. De maneira semelhante, o Livro do Apocalipse apresenta a “Mulher” ( Ap 12,1) como a mãe do Messias (cf. Ap 12,5) e a mãe dos “outros filhos” ( Ap 12,17).

 

7. Vale lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada”[8] dos eventos da infância de Jesus[9] que aparecem nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas informa os seus leitores que “visto que muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos acontecimentos que se cumpriram entre nós, tal como nos foram transmitidos por aqueles que foram testemunhas oculares desde o princípio”, também ele resolveu investigar “tudo com precisão e de novo” ( Lc 1,1-3). Entre essas testemunhas oculares, Maria destaca-se como a protagonista direta da conceção, do nascimento e da infância de Jesus. O mesmo se pode dizer dos relatos da Paixão, visto que Maria estava “junto à cruz de Jesus” como “sua mãe” ( Jo 19,25), e também do período que antecedeu o Pentecostes, quando os Apóstolos estavam “permanecendo em oração, juntamente com as mulheres e Maria, mãe de Jesus” ( At 1,14).

 

8. O Evangelho de Lucas apresenta Maria como a nova “Filha de Sião”, que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas reúne as promessas proféticas que prenunciaram a alegria messiânica (cf. Sofonias 3,14-17; Zacarias 9,9). Em Maria, essas promessas encontram seu cumprimento, fazendo João Batista saltar de alegria (cf. Lucas 1,41). Isabel se apresenta como indigna de receber a visita de Maria, dizendo: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” ( Lc 1,43). Ela não diz: “Quem sou eu para que o meu Senhor venha me visitar?”, mas se refere diretamente à mãe , apontando assim para a ligação indissociável entre a missão de Cristo e a missão de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lucas 1,41), de modo que sua atitude para com Maria é apresentada como um modelo de fé. Então, movida pelo Espírito, Isabel diz: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!” ( Lc 1,42). É notável que, sob a ação do Espírito, não basta que ela chame Jesus de “bem-aventurado”; ela também chama sua mãe de “bem-aventurada”, percebendo-os como intimamente unidos neste momento de alegria messiânica. Maria aparece aqui como aquela que é eminentemente bem-aventurada: “Bem-aventurada aquela que acreditou” ( Lc 1,45); “o meu espírito exulta” ( Lc 1,47); “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). Esta descrição adquire ainda maior significado quando notamos que, no Evangelho de Lucas, tal bem-aventurança não é vista como um estado de espírito, mas como o cumprimento das promessas messiânicas entre as crianças (cf. Lc 6,20-22), que receberão uma “grande recompensa” ( Lc 6,23).

 

9. No que diz respeito ao desenvolvimento teológico destes temas nos primeiros séculos do cristianismo, os Padres da Igreja preocuparam-se principalmente com a maternidade divina de Maria ( Theotokos ), a sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), a sua santidade perfeita como alguém que esteve livre do pecado ao longo da sua vida ( Panagia ) e o seu papel como a Nova Eva,[10] refletindo sobre a associação de Maria com a Redenção de Cristo no contexto do mistério da Encarnação. O “Sim” de Maria à mensagem de Gabriel — para que o Verbo de Deus se fizesse carne no seu ventre (cf. Lc 1,26-37) — abre à humanidade a possibilidade da divinização. Por esta razão, Santo Agostinho chama a Virgem de “cooperadora” na Redenção de Cristo, enfatizando assim tanto a ação de Maria ao lado de Cristo como a sua subordinação a ele, pois Maria coopera com Cristo para que “os fiéis possam nascer na Igreja”.[11] Por esta razão, podemos chamá-la de Mãe do Povo Fiel de Deus .

 

10. Durante o primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja era inseparável da liturgia. A grande e rica diversidade das tradições litúrgicas cristãs orientais buscava ser um eco fiel das Sagradas Escrituras, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi , que se desenvolveu na lex credendi , moldou a Mariologia Oriental por meio de sua hinografia, iconografia e piedade popular.[12] Por exemplo, a partir do século V, as festas marianas foram estabelecidas primeiro no Oriente e, posteriormente, a partir do século VII, se espalharam para o Ocidente. As Igrejas Orientais comemoravam a participação da Mãe de Deus na obra da salvação não apenas em suas anáforas e liturgias eucarísticas, mas, sobretudo, por meio dos textos hinográficos usados ​​em suas Horas canônicas, que estão presentes nas diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. A sua hinografia é abundante em composições dedicadas a Maria, com alegorias bíblicas,[13] que permitem um envolvimento mais profundo com o mistério fundamental da Encarnação e o seu significado para a nossa Redenção em Cristo. Estes hinos empregam uma linguagem repleta de simbolismo poético, capaz de transmitir o espanto e a admiração daqueles que — partilhando a mesma natureza que Maria — contemplam as maravilhas que o Todo-Poderoso realizou nela.[14]

 

11. Os ensinamentos dos primeiros Concílios Ecumênicos começaram a delinear o dogma de Maria, Mãe de Deus, que foi posteriormente proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre defendeu os dogmas definidos por esses primeiros concílios, pelo menos entre as Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, em suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas, o Oriente cristão recebeu as narrativas e lendas marianas populares sobre a infância e a morte de Jesus. Tais relatos buscam nutrir a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo de imagens poéticas, cujo único propósito é despertar admiração. Essa veneração da Mãe de Deus também se manifesta por meio da iconografia , que oferece uma representação visual de Maria e do Verbo Encarnado. É significativo que os ícones tradicionais dessas Igrejas — ligados aos Concílios de Éfeso e Calcedônia — retratem Maria principalmente como a “ Theotokos ” (“Mãe de Deus”).[15] Ícones desse tipo foram criados para contemplar a Virgem Mãe, que apresenta seu Filho, o menino Jesus, ao mundo e que o abraça enquanto intercede pela humanidade diante dele. Assim, a iconografia mariana oriental, como um querigma e lembrete visual em cores da teologia dos primeiros Concílios e dos Padres da Igreja, busca ser uma tradução visual dos títulos que são aplicados exclusivamente à Virgem.[16] Por essa razão, os ícones devem ser “lidos” à luz da liturgia e dos hinos da Igreja. Maria não é o objeto de uma devoção que é colocada ao lado de Cristo, mas está inserida no mistério de Cristo por meio da Encarnação.[17] Ela é o ícone no qual Cristo é venerado. Ela é a Theotokos , a Virgem Mãe que nos apresenta seu Filho, Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, ela também é a Odēgētria que aponta com a mão para nos mostrar o único Caminho, que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental[18] voltou seu olhar para a relação que conecta a Virgem Mãe com o mistério da Redenção sangrenta de Cristo no Calvário, associando a profecia de Simeão sobre a espada com a Cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da Cruz era vista como um sinal de fortaleza cristã, repleta de amor materno. São Bernardo de Claraval falou da cooperação de Nossa Senhora no sacrifício redentor ao comentar a Apresentação de Jesus no Templo.[19] Arnoldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval (X depois de 1159), foi o primeiro a considerar a cooperação de Maria com o sacrifício do Calvário, ao lado de seu Filho, Jesus Cristo.[20]

 

13. A cooperação da Mãe com o seu Filho na obra da Salvação foi ensinada pelo Magistério da Igreja.[21] Como afirma o Concílio Vaticano II, “com razão, portanto, os santos Padres veem Maria não apenas como um instrumento passivo nas mãos de Deus, mas como cooperando livremente na obra da salvação humana pela fé e obediência”.[22] Esta cooperação está presente não só na vida terrena de Jesus (na sua conceção, nascimento, morte e Ressurreição), mas também ao longo da vida da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição destaca a primazia e a unicidade de Cristo na obra da Redenção, pois ensina que Maria — a primeira a ser redimida — foi ela própria redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer possível ação sua.[23] Desta condição especial de ser a primeira redimida por Cristo e a primeira transformada pelo Espírito Santo, Maria é capaz de cooperar mais intensa e profundamente com Cristo e o Espírito, tornando-se o protótipo,[24] modelo e exemplo daquilo que Deus quer realizar em cada pessoa redimida.[25]

 

15. A cooperação de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, pois é fruto da iniciativa do Pai, que “olhou para a humildade da sua serva” ( Lc 1,48); brota da kenōsis do Filho, que se humilhou assumindo a forma de servo (cf. Fl 2,7-8); e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que preparou o coração da jovem de Nazaré para responder na Anunciação e ao longo de sua vida de comunhão com o Filho. São Paulo VI ensinou que “na Virgem Maria, tudo se refere a Cristo e depende d'Ele. Foi com vistas a Cristo que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu para ser a Santíssima Mãe e a adornou com dons do Espírito não concedidos a mais ninguém”.[26] O “Sim” de Maria não é uma mera condição prévia para algo que poderia ter sido realizado sem o seu consentimento e cooperação. Sua maternidade não é apenas biológica, nem passiva por natureza,[27] mas é uma maternidade “plenamente ativa ”[28] que se une ao mistério salvífico de Cristo como instrumento desejado pelo Pai em seu plano de salvação. Ela é “a garantia de que ele é verdadeiramente homem, ‘nascido de mulher’ ( Gl 4,4)” e, após a proclamação do dogma niceno, ela também é reconhecida como sendoa “Theotokos, a portadora de Deus”.[29]

 

Títulos que fazem referência à cooperação de Maria na salvação

 

16. Entre os títulos usados ​​para invocar Maria (“Mãe da Misericórdia”, “Esperança dos Pobres”, “Auxílio dos Cristãos”, “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, “Nossa Advogada”, etc.), há alguns que enfatizam mais sua cooperação na obra redentora de Cristo, como “Corredentora” e “Mediadora”.

 

Corredentora

 

17. O título “Corredentora” surgiu pela primeira vez no século XV como uma correção à invocação “Redentora” (como uma forma abreviada do título “Mãe do Redentor”), que havia sido atribuído a Maria desde o século X. São Bernardo atribuiu a Maria um papel aos pés da Cruz que deu origem ao título “Corredentora”, que aparece pela primeira vez em um hino anônimo do século XV de Salzburgo.[30] Embora a designação “Redentora” tenha persistido ao longo dos séculos XVI e XVII, desapareceu completamente no século XVIII, tendo sido substituída pelo título “Corredentora”. A pesquisa teológica sobre a cooperação de Maria na Redenção de Cristo na primeira metade do século XX levou a uma compreensão mais profunda do que o título “Corredentora” significa.[31]

 

18. Alguns Papas usaram o título “Corredentora” sem elaborar muito sobre o seu significado.[32] Geralmente, apresentaram o título de duas maneiras específicas: em referência à maternidade divina de Maria (na medida em que ela, como Mãe, tornou possível a Redenção que Cristo realizou[33]) ou em referência à sua união com Cristo na Cruz redentora.[34] O Concílio Vaticano II absteve-se de usar o título por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II referiu-se a Maria como “Corredentora” em pelo menos sete ocasiões, relacionando particularmente este título ao valor salvífico dos nossos sofrimentos quando oferecidos juntamente com os sofrimentos de Cristo, a quem Maria está unida especialmente na Cruz.[35]

 

19. Na reunião da Feria IV , em 21 de fevereiro de 1996, o Cardeal Joseph Ratzinger, que era então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, foi questionado se o pedido do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para definir um dogma que declarasse Maria como a “Corredentora” ou “Mediadora de Todas as Graças” era aceitável. Em seu voto pessoal , ele respondeu: “Negativo. O significado preciso desses títulos não é claro, e a doutrina neles contida não é madura. Uma doutrina definida da fé divina pertence ao Depositum Fidei — isto é, à revelação divina transmitida nas Escrituras e na tradição apostólica. No entanto, não está claro como a doutrina expressa nesses títulos está presente nas Escrituras e na tradição apostólica.”[36] Mais tarde, em 2002, ele manifestou publicamente sua opinião contra o uso do título: “a fórmula 'Corredentora' se afasta demais da linguagem das Escrituras e dos Padres e, portanto, dá origem a mal-entendidos… Tudo vem d'Ele [Cristo], como nos dizem, em particular, a Carta aos Efésios e a Carta aos Colossenses; Maria também é tudo o que é por meio d'Ele. A palavra 'Corredentora' obscureceria essa origem.” Embora o Cardeal Ratzinger não tenha negado que possa ter havido boas intenções e aspectos valiosos na proposta de usar este título, ele sustentou que eles estavam “sendo expressos de maneira errada”.[37]

 

20. O então Cardeal Ratzinger referiu-se às Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, onde o vocabulário e o dinamismo teológico dos hinos apresentam a singular centralidade redentora do Filho encarnado de tal forma que não deixam espaço para qualquer outra forma de mediação — pois “toda bênção espiritual” nos é concedida “em Cristo” ( Ef 1,3); somos adotados como filhos e filhas por meio dele (cf. Ef 1,5); nele fomos agraciados (cf. Ef 1,6); “temos a redenção pelo seu sangue” ( Ef 1,7); e a sua graça foi “derramada abundantemente sobre nós” ( Ef 1,8). “ Nele , fomos feitos herança, tendo sido predestinados” ( Ef 1,11). Nele, “agradou a Deus fazer habitar toda a plenitude” ( Colossenses 1:19) e por meio dele, Deus quis “reconciliar todas as coisas” ( Colossenses 1:20). Tal louvor pelo lugar único de Cristo nos chama a situar cada criatura em uma posição claramente receptiva em relação a ele e a exercer cautela cuidadosa e reverente sempre que propusermos qualquer forma de possível cooperação com ele no âmbito da Redenção.

 

21. Em pelo menos três ocasiões, o Papa Francisco expressou sua clara oposição ao uso do título “Corredentora”, argumentando que Maria “ nunca quis apropriar-se de nada de seu Filho para si mesma. Ela nunca se apresentou como co-Salvadora. Não, como discípula”. [38] A obra redentora de Cristo foi perfeita e não precisa de acréscimo; Portanto, “Nossa Senhora não quis tirar nenhum título de Jesus… Ela não pediu para si mesma ser uma quase-redentora ou uma co-redentora: não. Há apenas um Redentor, e este título não pode ser duplicado.”[39] Cristo “é o único Redentor; não há co-redentores com Cristo.”[40] Pois “o sacrifício da Cruz, oferecido em espírito de amor e obediência, apresenta a satisfação mais abundante e infinita.”[41] Embora sejamos capazes de estender seus efeitos no mundo (cf. Col 1,24), nem a Igreja nem Maria podem substituir ou aperfeiçoar a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que foi perfeita e não precisa de acréscimos.

 

22. Dada a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, é  sempre  inadequado usar o título “Corredentora” para definir a cooperação de Maria. Esse título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, pode criar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã, pois “não há salvação em nenhum outro, porque debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” ( Atos 4:12). Quando uma expressão exige muitas explicações repetidas para evitar que se desvie de seu significado correto, ela não serve à fé do Povo de Deus e se torna inútil . Neste caso, a expressão “Corredentora” não contribui para exaltar Maria como a primeira e principal colaboradora na obra da Redenção e da graça, pois corre o risco de eclipsar o papel exclusivo de Jesus Cristo — o Filho de Deus feito homem para a nossa salvação, o único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito —, o que não seria uma verdadeira honra para a sua Mãe. De fato, como “serva do Senhor” ( Lc 1,38), Maria nos direciona a Cristo e nos pede que “façamos tudo o que ele nos disser” ( Jo 2,5).

 

Mediatrix

 

23. O conceito de mediação aparece nos Padres da Igreja Oriental a partir do século VI. Nos séculos seguintes, Santo André de Creta,[42] São Germano de Constantinopla[43] e São João Damasceno[44] empregaram este título com diferentes significados. No Ocidente, esta expressão tornou-se mais frequente a partir do século XII, embora não tenha sido formalmente articulada como uma tese doutrinal até o século XVII. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Mechelen — com a colaboração acadêmica da Universidade Católica de Lovaina e o apoio dos bispos, clérigos e leigos da Bélgica — solicitou ao Papa Bento XV que emitisse uma definição dogmática da mediação universal de Maria. No entanto, o Santo Padre não atendeu a este pedido; apenas aprovou uma festa com sua própria Missa e o Ofício de Maria Medianeira.[45] De então até 1950, a pesquisa teológica sobre esta questão continuou a se desenvolver até a fase preparatória do Concílio Vaticano II. O Concílio não entrou em declarações dogmáticas[46], mas preferiu apresentar uma síntese extensa “da doutrina católica sobre o lugar a atribuir à Bem-Aventurada Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja”.[47]

 

24. A afirmação bíblica sobre a mediação exclusiva de Cristo é conclusiva. Cristo é o único Mediador, “pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos” ( 1 Tm 2,5-6). A Igreja esclareceu este lugar único de Cristo à luz do fato de ele ser o Filho eterno e infinito de Deus, unido hipostaticamente à humanidade que assumiu. Isso é exclusivo da humanidade de Cristo, e as consequências que dela derivam só podem ser aplicadas a ele. Nesse sentido preciso, o papel do Verbo Encarnado é exclusivo e único. Dada essa clareza na Palavra revelada de Deus, é necessária especial prudência ao aplicar o termo “Mediadora” a Maria. Em resposta à tendência de ampliar o alcance da cooperação de Maria por meio desse título, é útil especificar o alcance de seu valor, bem como seus limites.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar o fato de que a palavra “mediação” é comumente usada em muitas áreas da vida cotidiana, onde é entendida simplesmente como cooperação, assistência ou intercessão. Consequentemente, é inevitável que o termo seja aplicado a Maria em um sentido subordinado. Usado dessa forma, não pretende acrescentar qualquer eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que Maria teve um verdadeiro papel mediador ao possibilitar a Encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, visto que o Redentor deveria “nascer de mulher” ( Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que isso envolveu não apenas uma mediação biológica, pois destaca o envolvimento ativo de Maria ao fazer perguntas (cf. Lc 1,29.34) e aceitar com firme resolução: “ fiat ” ( Lc 1,38). A resposta de Maria abriu as portas da Redenção que toda a humanidade aguardava e que os santos descreveram com drama poético.[48] Nas bodas de Caná, Maria também desempenha um papel mediador ao apresentar as necessidades dos noivos a Jesus (cf. Jo 2,3) e instruir os servos a seguirem as suas orientações (cf. Jo 2,5).

 

27. A terminologia do Concílio Vaticano II sobre mediação refere-se principalmente a Cristo; por vezes, refere-se também a Maria, mas de forma claramente subordinada.[49] De facto, o Concílio preferiu usar uma terminologia diferente para ela: uma centrada na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria , usando expressões como “ intercessão múltipla” e “auxílio materno”.[52] Estes dois aspetos definem, em conjunto, a natureza específica da cooperação de Maria na ação de Cristo através do Espírito. A rigor, não podemos falar de qualquer outra mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.[53] Portanto, devemos sempre recordar, e nunca obscurecer, a convicção cristã que “deve ser firmemente acreditada como um elemento constante da fé da Igreja” a respeito da “verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único Salvador, que através do evento de sua encarnação, morte e ressurreição levou à plenitude a história da salvação, e que tem nele sua plenitude e centro”.[54]

 

Maria na Mediação Única de Cristo

28. Ao mesmo tempo, precisamos lembrar que a unicidade da mediação de Cristo é “inclusiva”. Ele possibilita várias formas de participação em seu plano salvífico porque, em comunhão com Ele, todos podemos nos tornar, de alguma forma, cooperadores com Deus e “mediadores” uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). Precisamente por causa do poder infinitamente supremo de Cristo, Ele pode elevar seus irmãos e irmãs para torná-los capazes de uma cooperação genuína na realização de seus planos. O Concílio Vaticano II afirmou que “a mediação única do Redentor não exclui, mas antes dá origem a uma cooperação multifacetada que nada mais é do que uma participação em uma só fonte”.[55] Por isso, “o conteúdo desta mediação participativa deve ser explorado mais profundamente, mas deve permanecer sempre coerente com o princípio da mediação única de Cristo”.[56] De fato, a Igreja estende no tempo e comunica em toda parte os efeitos do Mistério Pascal de Cristo,[57] e Maria ocupa um lugar único no coração da Mãe Igreja.[58]

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se evidente quando partimos da convicção de que o Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes a colaborarem com Ele em Sua obra. Isso não acontece por alguma fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte de Cristo, mas sim por causa de Seu glorioso poder, que é capaz de nos arrebatar, generosa e livremente, como colaboradores em Sua obra. O que deve ser enfatizado, neste caso, é que quando Cristo nos permite acompanhá-Lo e — sob o impulso de Sua graça — dar o nosso melhor, são, em última análise, Seu poder e Sua misericórdia que são glorificados.

 

Frutíferos em Cristo Glorioso

30. O seguinte texto é particularmente esclarecedor em relação a este tema: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( Jo 14,12). Os crentes unidos a Cristo ressuscitado, que retornou à direita do Pai, podem realizar feitos que superam as maravilhas feitas por Jesus terreno, mas sempre graças à sua união pela fé com o Cristo glorioso. Isto se evidenciou, por exemplo, na maravilhosa expansão da Igreja primitiva, pois o Ressuscitado participou desta obra com a sua Igreja (cf. Mc 16,15). Desta forma, a glória de Cristo não foi diminuída, mas tornou-se ainda mais visível, mostrando-se um poder capaz de transformar os crentes e torná-los fecundos juntamente com Ele.

 

31. Entre os Padres da Igreja, essa ideia encontrou uma expressão peculiar em seus comentários sobre João 7:37-39, visto que alguns interpretaram a promessa de Cristo dos “rios de água viva” como referente aos crentes. Nessa interpretação, os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em João 7:38 fazendo jorrar de nós torrentes de água: “a alma humana, feita à imagem de Deus, pode conter e derramar poços, fontes e rios”.[59] Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo, “para que a fonte de água que jorra para a vida eterna transborde em vós”.[60] São Tomás de Aquino expressou isso dizendo que, se um crente “se apressa em compartilhar os diversos dons da graça recebidos de Deus, água viva flui de seu coração”.[61]

 

32. Se isso é verdade para todo crente — cuja cooperação com Cristo se torna cada vez mais frutífera na medida em que se deixa transformar pela graça — quanto mais se deve afirmar isso de Maria, de modo único e supremo. Pois ela é aquela que é “cheia de graça” ( Lc 1,28) e que disse, sem colocar nenhum obstáculo à obra de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da Graça, que permaneceu firme aos pés da cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo ao lado de seu Filho e oferecendo a dor de seu coração materno transpassado pela espada (cf. Lc 2,35). Da Encarnação à cruz e à Ressurreição, ela esteve unida a Cristo de um modo único, que supera em muito o de qualquer outro crente.

 

33. Tudo isso não se deve aos seus próprios méritos, mas porque os méritos de Cristo na Cruz foram aplicados a ela plenamente — de maneira particular e antecipatória — para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Ela é, em última análise, um hino à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento de sua beleza aponta imediatamente para a glorificação da fonte original de todo o bem: a Trindade. A incomparável grandeza de Maria reside no que ela recebeu e em sua confiante prontidão em se deixar alcançar pelo Espírito. Quando nos esforçamos para atribuir a ela papéis ativos paralelos aos de Cristo, nos afastamos da incomparável beleza que é exclusivamente dela. A expressão “mediação participativa” pode expressar um sentido preciso e valioso do papel de Maria, mas, se mal interpretada, pode facilmente obscurecê-lo ou mesmo contradizê-lo. A mediação de Cristo, que em alguns aspectos pode ser “inclusiva” ou compartilhada, é em outros aspectos exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos Crentes

 

34. No caso de Maria, esta mediação ocorre de forma maternal ,[63] tal como aconteceu em Caná[64] e como foi confirmado na cruz.[65] O Papa Francisco explicou-o desta forma: “Ela é Mãe. E este é o título que recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da cruz (cf. Jo 19,26-27). Vossos filhos , tu és Mãe … Ela recebeu o dom de ser a Mãe dele e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe.”[66]

 

35. O título “ Mãe ” tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e nos Padres da Igreja. É apresentado pelo Magistério e seu conteúdo se desenvolveu gradualmente até o ensinamento do Concílio Vaticano II[67] e o uso do termo “ maternidade espiritual ” na encíclica Redemptoris Mater. [68] A maternidade espiritual de Maria brota de sua maternidade física do Filho de Deus. Ao gerar fisicamente Cristo — por meio de sua aceitação livre e crente dessa missão — Maria também, na fé, deu à luz todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo. Em outras palavras, ela deu à luz o Cristo total : Cabeça e membros.[69]

 

36. A participação da Virgem Maria, como Mãe, na vida de seu Filho — da Encarnação à cruz e à Ressurreição — confere um caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora, especialmente para a Igreja, “quando [a Igreja] contempla a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; na sua invocação confiante [dela]; quando experimenta a intercessão da sua advogada e auxiliadora”.[70] Este aspecto materno caracteriza a relação da Virgem com Cristo e a sua colaboração em cada momento da obra da salvação. Na sua missão como Mãe, Maria tem uma relação singular com o Redentor e com aqueles que foram redimidos, dos quais ela é a primeira: “Maria é o tipo [modelo] da Igreja e do novo nascimento que ocorre na Igreja”; de facto, ela é o símbolo e “o epítome da própria Igreja”.[71] Esta maternidade nasce da sua doação total de si e da sua vocação para ser serva do mistério.[72] Na maternidade de Maria , está sintetizado tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o seu lugar atual em toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui algumas características definidoras:

 

a) Fundamenta-se no facto de ela ser a Mãe de Deus e a sua maternidade estender-se aos discípulos de Cristo[73] e até a todos os seres humanos.[74] Neste aspeto, a cooperação de Maria é singular e distinta da cooperação de todas as “outras criaturas”.[75] A sua intercessão não tem a característica da mediação sacerdotal (como a de Cristo), mas situa-se, antes, na ordem e analogia da maternidade.[76] Ao associar a intercessão de Maria à obra de Cristo, os dons que nos são dados pelo Senhor são apresentados com um aspeto materno, imbuídos da ternura e proximidade da Mãe[77] que Jesus quis partilhar connosco (cf. Jo 19,27).

 

b) A cooperação materna de Maria está em Cristo e é, portanto, participativa . Em outras palavras, envolve “uma participação na única fonte que é a mediação do próprio Cristo”.[78] Maria entra na mediação única de Cristo de uma maneira completamente pessoal.[79] Seu papel materno “de modo algum obscurece ou diminui essa mediação única de Cristo, mas antes mostra seu poder. Toda a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem” sobre nós brota da “superabundância dos méritos de Cristo, repousa em sua mediação, depende inteiramente dela e dela extrai todo o seu poder”. [80] Em sua maternidade, Maria não é um obstáculo colocado entre os seres humanos e Cristo . Pelo contrário, seu papel materno está indissoluvelmente ligado ao papel de Cristo e é dirigido a Ele. Compreendida dessa maneira, a maternidade de Maria não busca enfraquecer a adoração única devida somente a Cristo, mas, ao contrário, busca acendê-la.[81] Portanto, é preciso evitar títulos e expressões que apresentem Maria como uma espécie de “para-raios” diante da justiça do Senhor, como se ela fosse uma alternativa necessária diante da insuficiência da misericórdia de Deus. O Concílio Vaticano II reafirmou como deve ser a devoção dedicada a Maria, a saber, “uma devoção dirigida ao centro cristológico da fé cristã, de modo que ‘quando a Mãe é honrada, o Filho… é devidamente conhecido, amado e glorificado’”.[82] Em última análise, a maternidade de Maria é subordinada [83] — à eleição do Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo.

 

c) A Igreja não é apenas um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria, mas é precisamente na dimensão sacramental da Igreja que a sua maternidade se desdobra sempre .[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade encontra-se na comunhão da Igreja e não fora dela, guiando a Igreja e acompanhando-a. A Igreja aprende a sua própria maternidade com Maria[85] — acolhendo a Palavra de Deus que evangeliza, converte e proclama Cristo; no dom da vida sacramental do Batismo e da Eucaristia; e na educação e formação materna que ajuda os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Por esta razão, pode-se dizer que “a fecundidade da Igreja é a mesma fecundidade de Maria; realiza-se na vida dos seus membros na medida em que estes revivem, 'em miniatura', o que a Mãe viveu, ou seja, amam segundo o amor de Jesus”.[87] Como Mãe, Maria espera que Cristo seja gerado em nós[88] e não toma o seu lugar; o mesmo acontece com a Igreja. Assim, “graças às abundantes graças que emanam do lado aberto de Cristo, de diferentes maneiras a Igreja, a Virgem Maria e todos os fiéis tornam-se eles próprios rios de água viva. Desta forma, Cristo manifesta a sua glória na e através da nossa pequenez”.[89]

 

Intercessão

38. Maria está unida a Cristo de modo único pela sua maternidade e pela sua plenitude de graça. Isto é sugerido na saudação do anjo (cf. Lc 1,28), que usa uma palavra ( kecharitōmenē ) que só se encontra aqui e em nenhum outro lugar da Bíblia. Ela, que recebeu no seu ventre o poder do Espírito Santo e se tornou Mãe de Deus, por esse mesmo Espírito, torna-se Mãe da Igreja.[90] Devido a esta união singular na maternidade e na graça, a sua oração por nós tem um valor e uma eficácia incomparáveis ​​a qualquer outra intercessão. São João Paulo II associou o título “Mediadora” a este papel de intercessão materna, observando que Maria “se coloca ‘no meio’, isto é, age como mediadora não como uma estranha, mas na sua posição de mãe. Ela sabe que, como tal, pode apontar ao seu Filho as necessidades da humanidade.”[91]

 

39. A fé católica ensina nas Escrituras que aqueles que estão com Deus no céu podem continuar a praticar atos de amor, intercedendo por nós e acompanhando-nos. Por exemplo, vemos que os anjos são “espíritos ministradores enviados para servir em favor daqueles que hão de alcançar a salvação” ( Hb 1,14). As Escrituras falam de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5,4; 12,12; At 12,7-11; Ap 8,3-5). Anjos ministraram a Jesus no deserto durante suas tentações (cf. Mt 4,11) e em sua Paixão (cf. Lc 22,43). Os Salmos nos prometem que “aos seus anjos deu ordens para que te guardem em todos os teus caminhos” ( Sl 91,11).

 

40. Essas passagens nos dizem que o céu não está totalmente separado da terra, o que abre a possibilidade de que aqueles que estão no céu possam interceder por nós. O livro de Zacarias apresenta um anjo de Deus que diz: “Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás misericórdia de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais tens estado irado durante estes setenta anos?” ( Zc 1:12). De modo semelhante, Apocalipse fala dos “mortos”, os mártires no céu, que intercedem, suplicando a Deus que aja na terra para nos libertar da injustiça: “Vi debaixo do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. Eles clamavam com grande voz: ‘Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, esperarás para julgar e vingar o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’” ( Ap 6:9-10). Já na tradição judaica helenística existia a convicção de que os mortos justos intercediam em favor do povo (cf. 2 Mac 15:12-14).

 

41. Maria, no céu, ama o “resto da sua descendência” ( Ap 12,17) e, assim como acompanhou a oração dos Apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), agora acompanha as nossas orações do céu com a sua intercessão materna. Desta forma, continua a atitude de serviço e compaixão que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), dirigindo-se ainda hoje a Jesus para dizer: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). No seu cântico de louvor, vemos Maria como uma mulher do seu povo, que louva a Deus porque “ele exaltou os humildes e saciou de bens os famintos” ( Lc 1,52-53) e porque “socorreu Israel, seu servo, lembrando-se da sua misericórdia, da promessa que fizera aos nossos pais” ( Lc 1,54-55). E reconhecemos a sua prontidão quando foi sem demora em ajudar a sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). Por estas razões, o Povo de Deus confia firmemente na sua intercessão.

 

42. Entre os escolhidos e glorificados com Cristo, em primeiro lugar está a sua Mãe. Portanto, podemos afirmar que Maria tem uma colaboração única na obra salvífica que Cristo realiza na sua Igreja. Com esta intercessão, Maria pode tornar-se para nós um sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma, porque o quis livremente, o Senhor dá à sua ação em nós um rosto materno.[92]

 

Proximidade Materna

43. As diversas invocações, imagens e santuários marianos mostram a verdadeira maternidade de Maria, que se aproxima da vida de seus filhos. Um exemplo disso pode ser visto em como ela apareceu a São Juan Diego no Monte Tepeyac e se dirigiu a ele com as ternas palavras de uma mãe: “Meu querido e caçula filho, Juan”. Quando São Juan Diego expressou suas dificuldades em cumprir a missão que lhe fora confiada, Maria mostrou-lhe a força de sua maternidade: “Não estou eu aqui, que sou tua mãe?... Não estás tu no interior do meu manto, no entrelaçar dos meus braços?”[93]

 

44. Essa experiência do afeto materno de Maria, vivida por São Juan Diego, é a experiência pessoal de todos os cristãos que recebem o afeto de Maria e colocam “suas necessidades diárias” em suas mãos, abrindo com confiança “seus corações para implorar sua intercessão materna e obter sua proteção reconfortante”.[94] Além das extraordinárias manifestações de sua proximidade, há expressões constantes e diárias de sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Mesmo quando não pedimos sua intercessão, ela se mostra próxima de nós como Mãe para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar a autodoação salvífica de Cristo e a receber a ação santificadora do Espírito. O valor dessa proximidade materna para a Igreja é tão grande que os pastores não devem permitir que ela seja mal utilizada para fins políticos. Em diversas ocasiões, o Papa Francisco alertou sobre isso e demonstrou preocupação com “diversas propostas ideológicas e culturais que buscam se apropriar do encontro de um povo com sua Mãe”.[95]

 

Mãe da Graça

 

45. Essa compreensão do título “Mãe dos Crentes” nos permite falar do papel de Maria em relação à nossa vida de graça. No entanto, deve-se observar que certas expressões que poderiam ser teologicamente aceitáveis ​​podem facilmente se carregar de conceitos e simbolismos que transmitem noções menos aceitáveis. Por exemplo, Maria às vezes é retratada como se possuísse um repositório de graça separado de Deus. Nessa noção, não fica tão claro que foi o Senhor quem — em sua generosa e livre onipotência — quis associá-la à participação daquela vida divina que brota do único centro que é o Coração de Cristo, e não o de Maria.[96] Ela também é frequentemente retratada ou imaginada como uma fonte da qual flui toda a graça. Se considerarmos que a habitação trinitária (graça incriada) e nossa participação na vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que esse mistério dependa de uma “passagem” pelas mãos de Maria. Essas noções elevam Maria a tal ponto que a própria centralidade de Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger já afirmou que o título “ Maria, Medianeira de Todas as Graças ” não estava claramente fundamentado na Revelação.[97] Em consonância com essa convicção, podemos reconhecer as dificuldades que esse título apresenta, tanto em termos de reflexão teológica quanto de espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como uma ajuda na preparação para recebermos a graça santificadora de Deus. Isso se vê em como, por um lado, sua intercessão materna [98] é a expressão daquela “ajuda materna” [99] que nos permite reconhecer Cristo como o único Mediador entre Deus e a humanidade. Por outro lado, sua presença materna em nossas vidas não impede diversas ações de Maria destinadas a nos encorajar a abrir nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Dessa forma, ela nos ajuda — de várias maneiras — a nos prepararmos para receber a vida de graça que só o Senhor pode derramar em nós.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo e de mais ninguém. Santo Agostinho afirmou que “este reinado de morte só é destruído em qualquer homem pela graça do Salvador”[100] e explicou este ponto claramente à luz da redenção do homem injusto: “Quem quereria morrer por um homem injusto, por um homem ímpio, senão somente Cristo, aquele que foi tão justo que pôde justificar até mesmo o injusto? Assim, meus irmãos, não tínhamos obras meritórias, mas apenas deméritos. Embora as obras dos homens fossem de tal natureza, a sua misericórdia não os abandonou e… em vez da punição devida, ele lhes deu a graça que não mereciam… [Ele fez isso] para nos redimir, não com ouro ou prata, mas ao preço do derramamento do seu sangue.”[101] Assim, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que “ninguém pode merecer por outro a sua primeira graça, senão somente Cristo.”[102] Nenhum outro ser humano pode merecê-la no sentido estrito ( de condigno ), e sobre este ponto, não pode haver dúvida: “ninguém pode ser justo a menos que os méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo lhe sejam concedidos”.[103] Da mesma forma, a plenitude da graça de Maria existe porque ela a recebeu livremente, antes de qualquer ação de sua parte, “em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”.[104] Somente os méritos de Jesus Cristo, que se entregou até o fim, são aplicados a nós para nossa justificação — que, visto que “termina no bem eterno da participação divina, é uma obra maior do que a criação do céu e da terra”.[105]

 

48. Podemos, no entanto, participar desejando o bem do outro, e é conveniente ( congruo ) que Deus atenda a esse desejo caridoso que pode ser expresso “em oração” ou por “obras de misericórdia”.[106] Ora, é verdade que somente Deus pode derramar o dom da graça em si, visto que essa capacidade “ultrapassa a proporção da nossa natureza”[107] e há uma distância infinita[108] entre a nossa natureza e a sua vida divina. Contudo, Deus pode conceder esse dom, atendendo ao desejo da Mãe, que assim se associa alegremente à obra de Deus como uma humilde serva.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que ele deve fazer. Em vez disso, ela intercede apresentando-lhe as nossas carências, necessidades e sofrimentos para que ele possa agir com o seu poder divino:[109] “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). Ainda hoje, ela nos ajuda a preparar-nos para a ação de Deus:[110] “Fazei tudo o que ele vos disser” ( Jo 2,5). As suas palavras não são uma simples sugestão, mas tornam-se uma verdadeira pedagogia materna que, sob a ação do Espírito Santo, nos introduz no profundo significado do mistério de Cristo.[111] Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir as nossas vidas a Cristo e à sua graça,[113] porque é só Deus quem opera no nosso íntimo.

 

Onde só Deus pode chegar

50. Como nos lembra o Catecismo , a graça santificante é “antes de tudo o dom do Espírito que nos justifica e santifica”.[114] Não é simplesmente uma ajuda ou uma energia que possuímos, mas é “o dom gratuito que Deus nos dá da sua própria vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma”,[115] que pode ser descrito como a habitação da Trindade no nosso ser mais íntimo, como amizade com Deus e como aliança com o Senhor. Só Deus pode realizar isto porque implica vencer uma desproporção “infinita”.[116] Essa autodoação da Trindade — pela qual o próprio Deus “entrará”[117] ( illabitur ) na alma — implica uma transformação intrínseca na parte mais íntima do crente.[118] Para descrever essa ação de “penetrar” em nossa parte mais íntima, São Tomás de Aquino usa um verbo, illabi , que só pode se aplicar a Deus, já que somente Ele, não sendo uma criatura, pode alcançar essa parte mais interior de nós sem violar nossa liberdade e identidade.[119] De fato, somente Deus alcança nosso centro mais íntimo para realizar a elevação e a transformação quando Ele se dá como Amigo e, portanto, “nenhuma criatura pode conferir graça”.[120] São Tomás reitera esse ponto ao falar sobre a graça sacramental: como causa principal , “somente Deus produz o efeito interior do sacramento: primeiro, porque somente Deus pode entrar na alma onde o efeito sacramental ocorre (e nenhum agente pode operar imediatamente onde Ele não está): segundo, porque a graça que é um efeito interior do sacramento vem somente de Deus”.[121]

 

51. Outros autores se expressaram de maneira semelhante.[122] Nesse contexto, vale destacar São Boaventura, que ensinou que, quando Deus opera com a graça santificante em um ser humano, torna essa pessoa absolutamente imediata a si mesmo.[123] Pela graça, Deus se aproxima plenamente do ser humano, com uma imediaticidade absoluta, uma “penetração” na parte mais íntima da pessoa que só Deus pode realizar.[124] A graça criada, então, não opera como um “intermediário”, mas é o efeito direto da amizade que Deus concede, que toca diretamente o coração humano. E assim, como é Deus quem opera a transformação da pessoa quando se dá como Amigo, não há intermediário entre Deus e a pessoa transformada.[125] Só Deus é capaz de penetrar tão profundamente, de nos santificar a ponto de se tornar absolutamente imediato a nós, e só Deus pode fazer isso sem anular a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus[127] assumiu uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da salvação. Unida hipostaticamente ao Filho por uma graça que é “indubitavelmente infinita”,[128] esta humanidade recebeu a graça “de maneira suprema; e, portanto, desta preeminência da graça que recebeu, é dele que esta graça é concedida aos outros, e isto pertence à natureza da Cabeça”.[129] A sua humanidade participa na efusão da graça santificante, que transborda ou “reflui”[130] dela. Por isso, “ele é, em certo sentido, a fonte de toda a graça segundo a sua humanidade ”, como Cabeça de quem ela flui para os outros (“ in alios transfunderetur ”).[131] Esta natureza humana é inseparável da nossa salvação, uma vez que “com a encarnação, todas as ações salvíficas do Verbo de Deus são sempre realizadas em unidade com a natureza humana que ele assumiu para a salvação de todos os homens”.[132] Através desta natureza humana assumida, o Filho de Deus “uniu-se de certo modo a cada homem” e nessa natureza “mereceu a vida para nós pelo seu sangue que derramou livremente”.[133] Pela graça, os fiéis estão unidos a Cristo e participam do seu Mistério Pascal, para que possam viver uma união íntima e única com ele, que São Paulo expressou nestas palavras: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim” ( Gl 2,20).

 

53. Nenhuma pessoa humana — nem mesmo os Apóstolos ou a Bem-Aventurada Virgem — pode agir como dispensador universal da graça. Somente Deus pode conceder a graça,[134] e o faz por meio da humanidade de Cristo,[135] visto que “o homem Cristo possuía a suprema plenitude da graça, por ser o unigênito do Pai”.[136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja preeminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela, como nós, é filha adotiva do Pai e, como escreve Dante Alighieri, “filha de vosso Filho”.[137] Ela coopera na economia da salvação por uma participação derivada e subordinada. Portanto, qualquer expressão sobre sua “mediação” na graça deve ser entendida como uma analogia distante a Cristo e sua mediação única.[138]

 

54. Na perfeita imediaticidade entre o ser humano e Deus na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação trinitária podem ser concebidas como algo que nos chega por meio de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos dizer é que Maria deseja esse bem para nós e o pede, juntamente conosco. A liturgia, que também é lex credendi , permite-nos reafirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas em sua intercessão materna. De fato, ao explicar em que sentido o privilégio concedido a Maria foi ordenado para o bem do Povo de Deus, a liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição afirma que ela se tornou uma “advogada da graça”[139] — isto é, ela intercede pedindo a Deus que possamos receber o dom da graça.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II, “a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem… não impede de modo algum a união imediata dos fiéis com Cristo, mas, antes, a promove”.[140] Por esta razão, deve-se evitar qualquer descrição que sugira uma efusão neoplatônica da graça por etapas, como se a graça de Deus descesse por meio de vários intermediários (como Maria), enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada de nossos corações. Tais interpretações têm um impacto negativo na compreensão adequada do encontro íntimo, direto e imediato que a graça opera entre o Senhor e o coração do crente.[141] O fato é que somente Deus, o Deus Trino, justifica.[142] Somente Deus nos eleva para superar a desproporção infinita que nos separa da vida divina; somente Ele age em nós com sua habitação trinitária; somente Ele entra em nós e nos transforma, tornando-nos participantes de sua vida divina. Não honra Maria atribuir-lhe qualquer mediação na realização desta obra que pertence exclusivamente a Deus.

 

A Água Viva Que Flui

56. Ao mesmo tempo, como Maria é cheia de graça e como o bem procura sempre comunicar-se aos outros, surge facilmente a ideia de uma espécie de “transbordamento” de graça de Maria — uma ideia que só pode ter um significado apropriado se não contradizer o que já foi dito. Tal interpretação não apresenta dificuldades se estivermos lidando especialmente com as formas de cooperação que já foram discutidas (a intercessão de Maria e a sua proximidade maternal que nos convidam a abrir os nossos corações à graça santificadora de Deus), e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação variada por parte da criatura “que participa desta única fonte”.[143]

 

57. O papel fundamentalmente preparatório que os crentes, e especialmente Maria, desempenham quando cooperam com Deus na sua comunicação da graça, expressa-se na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que fluem dos corações dos crentes (cf. Jo 7,37-39). Embora esta poderosa imagem possa ser interpretada como se os crentes fossem canais de uma transmissão aperfeiçoadora da graça santificante, os Padres da Igreja falaram deste derramamento dos rios do Espírito no contexto de ações que nos preparam para receber a graça santificante de Deus, como a pregação, o ensino e outras formas de transmitir o dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica a imagem dos “rios de água viva” ao estudo das Escrituras ou à percepção de seus sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria, esse transbordamento de águas significa o ensinamento dos mistérios da fé[145] — a “mistagogia pura” em seu sentido mais profundo, que não é meramente intelectual, mas diz respeito à disposição ou preparação da pessoa como um todo para a graça de Deus.[146] São Cirilo de Jerusalém sustenta que a imagem significa o ensinamento das Escrituras quando as coisas vêm à luz.[147] São João Crisóstomo a conecta à sabedoria de Estêvão ou à autoridade da palavra de Pedro.[148] Santo Ambrósio afirma: “Estes são os rios que ouvem a palavra de Deus com os seus ouvidos e falam, para que possam derramar a palavra nos corações de cada um;”[149] e aplica-o assim: “que a água da doutrina celestial jorre... que gotas de orvalho da palavra do Senhor sejam aspergidas”[150] nos corações de cada pessoa.[151] Para São Jerônimo também, a água é o ensinamento do Salvador,[152] assim como para São Gregório Magno, que ensina ainda que a água significa “uma vontade piedosa para com o próximo”.[153] Estas interpretações dos “rios de água viva”, que os crentes derramam, centram-se no conhecimento das Escrituras e dos seus mistérios. Geralmente não se referem apenas ao conhecimento intelectual, mas a um conhecimento “sapiencial” e à iluminação do coração, para que o coração se abra à própria realidade dos Mistérios.

 

59. Entre vários Padres e Doutores da Igreja, encontramos também uma explicação mais ampla, que inclui — além da pregação e da catequese — obras que oferecem ajuda aos outros em suas necessidades ou que servem como testemunho de amor. Dessa forma, Santo Hilário de Poitiers entende os rios de água viva como significando as obras do Espírito Santo por meio das virtudes que atuam em benefício do próximo.[154] Santo Agostinho aplica a imagem à “boa vontade pela qual [uma pessoa] deseja zelar pelos interesses do seu próximo”.[155] Na Idade Média, essa perspectiva continuou até São Tomás de Aquino, para quem os “rios de água viva” se manifestam quando alguém “age prontamente para ajudar os outros e compartilhar com eles os diversos dons da graça que recebeu de Deus”, pois tal pessoa “terá água viva fluindo do seu coração”.[156]

 

60. Quando São Tomás fala dos “diferentes dons da graça” para o serviço ao próximo, ele se refere aos vários dons carismáticos porque, como ele observa, “como está escrito ( 1 Cor 12,10), ‘a um é dado o dom de línguas, a outro o dom de curar, etc.’”[157] Este aspecto também está presente no pensamento de São Cirilo de Jerusalém, que indica que os rios da água do Espírito — transmitidos através dos crentes — se manifestam quando “o Espírito faz de um homem um mestre da verdade divina, inspira outro a profetizar, dá a outro o poder de expulsar demônios… mostra a outro como ajudar os pobres, ensina outro a jejuar e a levar uma vida de ascetismo.”[158]

 

61. Algo semelhante pode ser dito sobre a interpretação de João 14:12, que se refere aos crentes realizando “obras maiores” ( meizona ) do que as que Cristo realizou durante sua vida terrena. Os crentes participam da obra de Cristo na medida em que também, de alguma forma, acendem a fé de outros por meio da proclamação da Palavra, como João 17:20 afirma explicitamente: “aqueles que crerem em mim por meio da palavra deles”. A mesma ideia está implícita em João 14:6-11, onde as obras de Cristo revelam o Pai (v. 8) e as obras dos crentes — focadas em anunciar o Evangelho com suas palavras — são colocadas ao lado das suas. De fato, Jesus proclama: “Se eles guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa” ( Jo 15:20c), e assim como quem ouve a Palavra de Cristo tem a vida eterna (cf. Jo 5:24), também Jesus proclama que outros virão a crer por meio da palavra dos seus crentes (cf. Jo 17:20). No entanto, isso envolve não apenas suas palavras, mas também seu testemunho eloquente. É por isso que Jesus pede ao Pai que seus fiéis sejam unidos: para que “o mundo creia” ( João 17:21).

 

O amor que se doa ao mundo

62. O Evangelho de João associa intimamente a caridade fraterna à partilha deste bem. De facto, a afirmação: «Se me amardes, guardareis os meus mandamentos» ( Jo 14,15) é paralela à declaração: «Quem crê em mim fará também as obras que eu faço» ( Jo 14,12). Quando Cristo fala do fruto que espera dos seus discípulos, identifica-o, em última análise, com o amor fraterno (cf. Jo 15,16-17). Da mesma forma, depois de discutir as várias obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Cor 12), São Paulo propõe um caminho ainda mais excelente quando diz: «buscai com zelo os maiores dons [ ta meizona ], e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente [ kath'hyperbolēn ]»: o amor ( 1 Cor 12,31; cf. 13,1). As obras de amor para com o próximo — mesmo os trabalhos diários ou os esforços para mudar este mundo — podem então se tornar um canal para cooperar com a obra salvadora de Cristo.

 

63. Papas recentes também expressaram ideias semelhantes. São João XXIII ensinou que “uma vez que estão unidos em mente e espírito com o divino Redentor, mesmo quando estão envolvidos nos assuntos do mundo, o seu trabalho torna-se uma continuação do seu trabalho, penetrado de poder redentor… para estender aos outros os frutos da Redenção”.[159] São João Paulo II compreendeu esta colaboração como uma reconstrução, juntamente com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa do pecado, pois “o Coração de Cristo quis necessitar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza”; De fato, continuou ele, “esta é a verdadeira reparação solicitada pelo Coração do Salvador”.[160] O Papa Bento XVI afirmou que “como objetos do amor de Deus, os homens e as mulheres tornam-se sujeitos da caridade; são chamados a fazer de si mesmos instrumentos da graça, de modo a derramar a caridade de Deus e a tecer redes de caridade. Esta dinâmica de caridade recebida e dada é o que dá origem ao ensinamento social da Igreja”.[161] O Papa Francisco ensinou que, para Santa Teresa de Lisieux, tratava-se “não só de permitir que o Coração de Cristo preenchesse o seu coração, através da sua plena confiança, com a beleza do seu amor, mas também de deixar que esse amor, através da sua vida, se difundisse aos outros e, assim, transformasse o mundo”, de uma forma que “se expressa em atos de amor fraterno pelos quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, oferecemos o poder curativo do Coração de Cristo”.[162]

 

64. Esta cooperação, tornada possível por meio de Cristo e estimulada pela ação do Espírito, distingue-se, no caso de Maria, da cooperação de qualquer outro ser humano devido ao caráter materno que o próprio Cristo lhe conferiu na cruz.

 

Critérios

65. Qualquer outra forma de entender a cooperação de Maria na ordem da graça — especialmente se se pretende atribuir-lhe alguma forma de intervenção perfectiva, instrumentalidade perfectiva ou causalidade secundária na comunicação da graça santificante[163] — deve prestar especial atenção a alguns critérios que já estavam implícitos na Constituição Dogmática Lumen Gentium :

 

a) Devemos refletir sobre como Maria fomenta a nossa “união imediata”[164] com o Senhor — que o próprio Senhor produz conferindo a graça e que só podemos receber de Deus[165] — e não pensar na nossa união com Maria como sendo mais imediata do que a nossa união com Cristo. Este risco está presente, sobretudo, na noção de que Cristo nos dá Maria como instrumento ou como causa secundária e aperfeiçoadora na comunicação da sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II destacou que “a influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens não se origina de nenhuma necessidade interior, mas da disposição de Deus”.[166] Essa influência só pode ser pensada à luz da livre decisão de Deus, que — embora sua própria ação seja transbordante e superabundante — livre e gratuitamente quer associar Maria à sua obra. Portanto, não é aceitável apresentar a ação de Maria como se Deus precisasse dela para realizar a salvação.

 

c) Devemos entender a mediação de Maria não como um auxílio complementar que permitiria a Deus operar plenamente, com maior riqueza e beleza; em vez disso, sua mediação deve ser entendida de tal forma que “não tira nem acrescenta nada à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”.[167] Ao explicar a mediação de Maria, deve-se enfatizar que somente Deus é nosso Salvador e que somente Deus aplica os méritos de Jesus Cristo, os únicos méritos necessários e totalmente suficientes para a nossa justificação. Maria não suplanta o Senhor em nenhuma ação que Ele já não tenha realizado (isto é, ela não lhe tira nada), nem o complementa (isto é, ela não lhe acrescenta nada). Visto que ela não acrescenta nada à mediação salvífica de Cristo na comunicação da graça, ela não deve ser considerada o agente instrumental dessa concessão gratuita.[168] Se ela acompanha uma ação de Cristo — em virtude de sua própria obra — ela nunca deve ser considerada paralela a Ele. Ao contrário, por estar associada a Cristo, Maria recebe de seu Filho um dom que a coloca além de si mesma, um dom que lhe permite acompanhar a obra do Senhor com seu caráter materno. Retornamos, então, ao ponto mais seguro, que é a contribuição de Maria em nos preparar para receber a graça santificadora de Deus; nesse contexto, pode-se, de fato, pensar nela como alguém que contribui com algo de si mesma na medida em que “pode causar alguma disposição”[169] nos outros. Pois “pertence ao poder supremo alcançar o fim último, enquanto os poderes inferiores contribuem para a obtenção desse fim último, preparando-nos para ele”.[170]

 

66. Tudo o que foi dito acima não ofende nem humilha Maria, porque todo o seu ser está voltado para o Senhor: “A minha alma engrandece ao Senhor” ( Lc 1,46). Para Maria, não há outra glória senão a glória de Deus. Como Mãe, ela se alegra ainda mais ao ver como Cristo manifesta a beleza inexaurível e superabundante de sua glória divina, curando, transformando e preenchendo os corações daqueles filhos que ela acompanhou em seu caminho para o Senhor . Portanto, qualquer olhar dirigido a ela que nos distraia de Cristo ou que a coloque no mesmo nível do Filho de Deus estaria fora da dinâmica própria de uma fé autenticamente mariana.

 

Graças

67. Alguns títulos, como “ Mediadora de Todas as Graças ”, têm limitações que não favorecem uma compreensão correta do lugar único de Maria. De fato, ela, a primeira redimida, não poderia ter sido a mediadora da graça que ela mesma recebeu. Este não é um ponto menor, pois revela algo central: mesmo no caso de Maria, o dom da graça a precede e provém da iniciativa absolutamente livre da Trindade em vista dos méritos de Cristo. Como todos nós, ela não mereceu sua justificação por uma ação anterior sua,[171] nem o fez por qualquer ação posterior.[172] Mesmo no caso de Maria, sua amizade com Deus pela graça é sempre concedida livremente. Sua figura venerada é o supremo testemunho da receptividade crente daquela que, mais do que qualquer outra, se abriu com docilidade e completa confiança à obra de Cristo e que, ao mesmo tempo, se apresenta como o maior sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Por outro lado, o título “ Mediadora de Todas as Graças ” corre o risco de apresentar Maria como aquela que distribui bens ou energias espirituais à parte de nossa relação pessoal com Jesus Cristo. Contudo, o termo “graças”, quando visto em referência à ajuda maternal de Maria em vários momentos de nossas vidas, pode ter um significado aceitável. A forma plural expressa todos os auxílios — inclusive materiais — que o Senhor pode nos conceder quando atende à intercessão de sua Mãe. Esses auxílios, por sua vez, preparam nossos corações para se abrirem ao amor de Deus. Dessa forma, Maria, como Mãe, tem uma presença na vida cotidiana dos fiéis que é muito maior do que a proximidade que qualquer outro santo poderia ter.

 

69. Por meio de sua intercessão, Maria pode implorar a Deus que nos conceda aqueles impulsos internos do Espírito Santo que são chamados de “graças atuais”. São os auxílios dados pelo Espírito Santo que operam até mesmo nos pecadores para prepará-los para a justificação[173] e que encorajam aqueles já justificados pela graça santificante a um maior crescimento. É nesse sentido específico que o título “Mãe da Graça” deve ser compreendido. Ela coopera humildemente para que possamos abrir nossos corações ao Senhor, que somente Ele pode nos justificar pela ação da graça santificante: isto é, quando Deus derrama em nós sua vida trinitária, habita em nós como Amigo e nos torna participantes de sua vida divina. Esta é exclusivamente a obra do Senhor. Ao mesmo tempo, isso não exclui a possibilidade de que as palavras, imagens ou vários estímulos que recebemos por meio da intercessão materna de Maria possam nos ajudar a perseverar na vida, a preparar nossos corações para a graça que o Senhor infunde ou a crescer na vida de graça que recebemos gratuitamente.

 

70. Essas ajudas que vêm do Senhor nos são apresentadas com um aspecto maternal, repleto da ternura e proximidade da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,25-28). Deste modo, Maria realiza uma atividade singular para nos ajudar a abrir o coração a Cristo e à sua graça santificadora, que nos eleva e nos cura. Sempre que ela nos traz diversos “movimentos”, estes devem ser compreendidos como impulsos para abrirmos nossas vidas Àquele que, somente ele, age em nosso íntimo.

 

Nossa União com Maria

71. O Concílio Vaticano II preferiu chamar Maria de nossa “ Mãe na ordem da graça ”,[174] o que expressa bem a universalidade da cooperação materna de Maria. Este título é inegável em sentido preciso, pois ela é a Mãe de Cristo: aquele que é Graça por excelência e o Autor de todas as graças.

 

72. Esta maternidade de Maria na ordem da graça — que flui do Mistério Pascal de Cristo — implica também que cada discípulo estabelece com Maria “uma relação única e irrepetível”. São João Paulo II referiu-se a uma “dimensão mariana da vida de um discípulo de Cristo”, expressa como uma “resposta ao amor de uma pessoa e, em particular, ao amor de uma mãe”.[175] De facto, a vida da graça inclui a nossa relação com a Mãe de Cristo, pois a nossa união com Cristo pela graça implica também a união com Maria numa relação de confiança, ternura e afeto sincero.

 

O Primeiro Discípulo

73. Ela é “a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu os caminhos de Jesus”.[176] Maria é a primeira daqueles que “ouvem a palavra de Deus e a guardam” ( Lc 11,28). Ela é a primeira a se colocar entre os humildes e pobres do Senhor, a nos ensinar com confiança a esperar e a receber a salvação que vem somente de Deus. Assim, Maria, “como Mãe, tornou-se a primeira ‘discípula’ de seu Filho; a primeira a quem ele pareceu dizer: ‘Segue-me’, mesmo antes de dirigir este chamado aos Apóstolos ou a qualquer outra pessoa (cf. Jo 1,43)”.[177] Ela é um modelo de fé e caridade para a Igreja por sua obediência à vontade do Pai, sua cooperação na obra redentora de seu Filho e sua abertura à ação do Espírito Santo.[178] Por esta razão, Santo Agostinho disse que “significa mais para Maria ter sido discípula de Cristo do que ter sido mãe de Cristo”.[179] O Papa Francisco insistiu que “ela é mais discípula do que Mãe”.[180] Maria é, em última análise, “a primeira e a mais perfeita das discípulas de Cristo”.[181]

 

74. Maria é, para cada cristão, “aquela que primeiro ‘creu’, e precisamente com a sua fé como Esposa e Mãe ela deseja agir sobre todos aqueles que se confiam a ela como seus filhos”.[182] Ela faz isso com um afeto repleto de sinais de proximidade que os ajudam a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo aja cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a conservar a graça já recebida e a meditar sobre a obra que Deus está realizando em suas vidas (cf. Lc 2,19).

 

75. Caso surjam expressões ou títulos, como os mencionados acima, em casos de alegados fenómenos sobrenaturais que já tenham recebido um juízo positivo da Igreja, deve-se ter em mente que “sempre que um Nihil obstat é concedido pelo Dicastério… tais fenómenos não se tornam objetos de fé, o que significa que os fiéis não são obrigados a dar-lhes um assentimento de fé”.[183]

 

Mãe do Povo Fiel de Deus

 

76. “Maria, a primeira discípula, é Mãe.”[184] Na Cruz, Cristo nos confia a Maria, e assim “nos trouxe a ela porque não queria que viajássemos sem mãe.”[185] Ela é a Mãe crente que se tornou a “Mãe de todos os crentes”;[186] ao mesmo tempo, ela é “Mãe da Igreja que evangeliza”,[187] que nos acolhe como Deus quis nos chamar — isto é, não apenas como indivíduos isolados, mas como um povo em jornada[188]: “Nossa Mãe Maria sempre quer caminhar ao nosso lado, permanecer perto de nós, nos ajudar com sua intercessão e seu amor.”[189] Ela é a Mãe do Povo Fiel de Deus, que “se move no meio de seu povo com terno e amoroso cuidado; ela faz suas as suas ansiedades e aflições.”[190]

 

O amor faz uma pausa, contempla o mistério e o desfruta em silêncio.

 

77. O fiel Povo de Deus não se distancia de Cristo ou do Evangelho quando se aproxima de Maria; pelo contrário, pode ver “nesta imagem materna todos os mistérios do Evangelho”.[191] No seu rosto materno, vê um reflexo do Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que se detém diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina e nos eleva à sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e que não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). No seu rosto materno, muitos dos pobres reconhecem o Senhor que “derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes” ( Lc 1,52). O seu semblante canta o mistério da Encarnação. No rosto da Mãe que foi transpassada pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e nesse mesmo rosto — banhado pela luz pascal — percebe que Cristo está vivo. E foi ela, que recebeu o Espírito Santo em plenitude, quem sustentou os Apóstolos na oração no Cenáculo (cf. At 1,14). Portanto, podemos dizer que “a fé de Maria, segundo o testemunho apostólico da Igreja, continua de algum modo a tornar-se a fé do Povo de Deus peregrino”.[192]

 

78. Como afirmaram os bispos latino-americanos, os pobres “encontram o afeto e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela, veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”.[193] O povo, na sua simplicidade e pobreza, não separa a Mãe gloriosa da Maria de Nazaré que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, reconhece a simplicidade por detrás da glória e sabe que Maria não deixou de ser uma deles. Ela é aquela que, como qualquer mãe, carregou o seu filho no ventre, amamentou-o e criou-o com amor com a ajuda de São José — mas que também experimentou as convulsões e incertezas da maternidade (cf. Lc 2,48-50). Ela é aquela que canta sobre Deus que “encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” ( Lc 1,53); que sofre com os noivos que ficam sem vinho para a sua festa de casamento (cf. Jo 2,3); que sabe como ir depressa para socorrer a prima necessitada (cf. Lc 1,39-40); que se deixa ferir, como que transpassada por uma espada, por causa da história do seu povo, onde o seu Filho é “um sinal de contradição” ( Lc 2,34); que compreende o que significa ser migrante ou exilado (cf. Mt 2,13-15); que, na sua pobreza, só pode oferecer dois pombinhos (cf. Lc 2,24); e que sabe o que significa ser desprezada por vir de uma família pobre de carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). O povo sofredor reconhece Maria como caminhando ao seu lado e, por isso, procura a sua Mãe para implorar a sua ajuda.[194]

 

79. A proximidade da Mãe dá origem a uma piedade mariana “popular” que assume formas diferentes em diferentes povos. As várias faces de Maria — coreana, mexicana, congolesa, italiana e tantas outras — são formas de o Evangelho ser inculturado, refletindo, em todos os lugares da terra, “a ternura paterna de Deus”,[195] que atinge o âmago dos nossos povos.

 

80. Contemplemos a fé do Povo de Deus, onde multidões de fiéis reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, assim como o próprio Cristo nos encorajou a fazer da cruz. O Povo de Deus gosta de peregrinar aos diversos santuários marianos, encontrando neles consolo e força para perseverar — como aqueles que, em meio ao cansaço e à dor, recebem o carinho de sua Mãe. O Congresso Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teológico dessa experiência. Nada melhor conclui esta Nota do que as suas palavras:

 

“Destacamos as peregrinações, onde o Povo de Deus pode ser reconhecido em sua jornada. Ali, o crente celebra a alegria de se sentir rodeado por tantos irmãos e irmãs, caminhando juntos rumo a Deus, que os espera. O próprio Cristo se torna peregrino e caminha, ressuscitado, entre os pobres. A decisão de partir para o santuário já é uma confissão de fé; o caminhar é um verdadeiro cântico de esperança; e a chegada é o encontro do amor. O olhar do peregrino repousa sobre uma imagem que simboliza o afeto e a proximidade de Deus. O amor pausa, contempla o mistério e o desfruta em silêncio. Também se comove, derramando toda a carga de sua dor e seus sonhos. A oração confiante, que flui sinceramente, é a melhor expressão de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que sozinho nada se pode fazer. Uma experiência espiritual viva se condensa em um breve instante.” [196]

 

Mãe do Povo Fiel de Deus, rogai por nós.

 

O Sumo Pontífice Leão XIV, na Audiência concedida ao Prefeito abaixo assinado, juntamente com o Secretário da Seção Doutrinária do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 7 de outubro, Memória de Nossa Senhora do Rosário, aprovou a presente Nota , decidida na Sessão Ordinária deste Dicastério em 26 de março de 2025, e ordenou a sua publicação.

 

Dado em Roma, nas dependências do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, memória de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

Monsenhor Armando Matteo

 

Secretário

 

para a Seção Doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

07/10/2025

 

_____________________

 

[1] Cf. Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para Proceder no Discernimento de Alegados Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024).

 

[3] Em alguns desses fenômenos, ou aparições, a Virgem Maria é referida por títulos como “Corredentora”, “Redentora”, “Sacerdotisa”, “Mediadora”, “Mediadora de Todas as Graças”, “Mãe da Graça”, “Mãe Espiritual”, etc.

 

[4] Cf. Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. ibid., 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. ibid., 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), par. 3: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e Abertura da Porta Santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação entre Adão e Cristo encontrada nos textos de São Paulo (cf. Rm 5,18-19 e 1 Cor 15,22) permitiu aos Padres estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, Justino Mártir, Dialogus cum Tryphone , 100, 5-6: PG 6, 710CD-711A; Irineu de Lyon, Adversus haereses, III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi , 17, 5: PL 1, 782B. Este paralelo antitético entre Eva e Maria é a primeira abordagem que os Padres adotaram para o tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a perdição, a fé de Maria nos trouxe a salvação. A grande abundância de testemunhos patrísticos que descrevem a Virgem como a nova Eva oferece alguns elementos teológicos interessantes: (a) Maria e “ a mulher ”, porque em Maria a mulher recupera seu esplendor primitivo e encontra sua plenitude definitiva; (b) Maria e Cristo como esposo-parceiro, que forma com seu Filho o par exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração messiânica; (c) Maria e a Igreja , por meio da qual se estabelece uma dupla relação entre Maria e a Igreja: a de ser um exemplo (como protótipo) e a de ser a Mãe da Igreja.

 

[11] Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Por exemplo, cf. Efrém, Hinos da Natividade : SC 459; João Damasceno, In dormitione Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus , Roma 1885, 152: “Tornamo-nos participantes da natureza divina por meio de ti, ó Theotokos, sempre virgem; pois deste à luz Deus-feito carne por nossa causa. Portanto, como convém, todos nós te magnificamos devotamente” (trad. do grego original do Theotokion do Kathisma poético após a primeira estase ). Outro exemplo mais significativo de expressão devocional mariana é o famoso Hino Akathistos de vinte e quatro estrofes (século V); o título simplesmente significa que o hino deve ser ouvido em pé, não sentado (como o Evangelho é ouvido em pé), como sinal de especial reverência à Virgem-Mãe Maria. Nesse hino, o poeta adorna Maria com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas, pedindo-lhe que aceite sua oferenda poética e interceda pela salvação da humanidade do pecado terreno (cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos Inno alla Madre di Dio , Roma 2017).

 

[15] A evidência mais antiga deste título remonta ao século III no Egito. Cf. Papiro 470 da Biblioteca John Rylands (Manchester, Reino Unido), que inclui em grego grande parte da invocação mariana. A versão latina desta oração diz: “ Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus, sed a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta ” (“Recorremos a vós em busca de proteção, Santa Mãe de Deus. Atendei às nossas orações e socorrei-nos em nossas necessidades. Livrai-nos de todo perigo, Virgem gloriosa e bendita”; tradução inglesa, Little Office of the Blessed Virgin Mary , Catholic Book Publishing, Nova Jersey 1988, 186).

 

[16] As representações iconográficas tradicionais da Virgem seguem uma série de modelos bem estabelecidos, em particular: a Odēghētria (“aquela que mostra o Caminho”), na qual ela indica com a mão o caminho para seu filho, Jesus, que está sentado em seu colo; a Eleousa (“Ternura”), que mostra o vínculo íntimo entre Mãe e Filho, com a Criança encostando a face na de Maria; a Platytera (“Mais espaçosa que os céus”), porque ela carrega Cristo dentro de si, representado como a Criança em seu peito. Desses três modelos deriva a maioria dos outros, como a Galaktotrophousa , aquela que alimenta a Criança com seu leite; a Kyriōtissa ou “Senhora”, que segura a Criança em seus joelhos como em um trono; a Panagia (“Toda Santa”), vestida com um manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; e na Deēsis, onde Maria aparece à direita de seu Filho entronizado em majestade ( Pantokratōr ), intercedendo por nós, frequentemente ao lado de João Batista à sua esquerda. Em outros ícones, Maria aparece intercedendo ao lado de outros santos — frequentemente incluindo João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Audiência Geral (27 de maio de 2009): L'Osservatore Romano , 28 de maio de 2009, 1; Gregório de Narek, Prex 26 e 80: Ad Deiparam ; SC 78, 160–164, 428–432.

 

[18] Autores orientais como São Jacó de Serugh (X 521), São Romano o Melodista (X555-562), São João Damasceno (X749) e João Geômetra (X1000) já haviam abordado o tema da cooperação de Maria com o sacrifício redentor de Cristo na cruz.

 

[19] Ver Bernardo de Claraval, In Purificationem Deiparae, III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Cf. Arnaldo de Bonneval, De laudibus BM Virginis , I, 3c. 12,4: PL 189, 1727A.

 

[21] No Magistério anterior ao Concílio Vaticano II destacam-se: Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Iucunda Semper Expectatione (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1851), 177-184; Carta Encíclica Adiutricem Populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; Pio X, Carta Encíclica Ad Diem Illum Laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta Apostólica Inter Sodalicia à Cofradía de Ntra. Sra de la Buena Muerte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta Encíclica Mystici Corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “[A] Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, pela singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do Pecado Original”; Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 53: AAS 57 (1965), 58: “Redimida, de modo mais sublime, em razão dos méritos de seu Filho”.

 

[24] Cf. Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “mãe-enfermeira”. Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 20: AAS 79 (1987), 361-433, 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia sobre a Solenidade da Anunciação do Senhor (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. Paulo VI, Exortação Apostólica Signum Magnum (13 de maio de 1967), 5: AAS 59 (1967), 469: “Maria, assim que foi tranquilizada pela voz do Anjo Gabriel de que Deus a havia escolhido como a mãe imaculada de Seu Filho Unigênito, deu sem hesitar o seu consentimento a uma obra que teria ocupado todas as energias da sua natureza frágil e declarou: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’ ( Lc 1,38)”.

 

[29] HU von Balthasar , Theo-Drama: Theological Dramatic Theory: Dramatis Personae: Persons in Christ , vol. 3, trad. G. Harrison, San Francisco 1992, 295. Cf. Cirilo de Alexandria, Segunda Carta a Nestório : “Por esta razão [os Santos Padres] não hesitaram em falar da santa Virgem como a Mãe de Deus”: DH 251; e Concílio de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Pelo que se sabe até hoje, isto ocorreu no século XV, quando um hinógrafo beneditino legou à posteridade a seguinte oração manuscrita, que se conserva no Mosteiro de São Pedro em Salzburgo: “ Pia, dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ” (“Amorosa, doce e bondosa / totalmente indigna de qualquer tristeza / se daqui em diante escolheres chorar / como alguém que sofre com o Redentor / pelo pecador cativo / serás corredentora”): De compassione BMV , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi , XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título “Corredentora” de diferentes maneiras: (a) Cooperação imediata, cristotípica ou maximalista, que coloca a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à Redenção de Cristo (redenção objetiva). Nessa compreensão, os méritos de Maria, embora subordinados aos de Cristo, teriam um valor redentor para a salvação; (b) Cooperação mediada ou minimalista, que se limitaria ao seu “Sim” na Anunciação . Essa seria uma cooperação mediada que torna possível a Encarnação como um passo preliminar à Redenção de Cristo; (c) Cooperação imediata, mas receptiva ou eclesiotípica, cooperando na redenção objetiva na medida em que aceitou os frutos do sacrifício redentor do Salvador, representando a Igreja. Essa seria uma cooperação imediata, mas também receptiva, visto que Maria simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, tornando-se assim a “primeira Igreja”.

 

[32] Durante o pontificado de São Pio X, o título “Corredentora” aparece em um documento da Sagrada Congregação dos Ritos e em dois documentos do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt quos amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, que elogia o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome “de sua mãe, nossa Corredentora, a Bem-Aventurada Maria”; Oração indulgenciada (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual Maria é chamada de “Corredentora da raça humana”. O primeiro Papa a usar o termo “Corredentora” foi Pio XI, em um Breve datado de 20 de julho de 1925 sobre a Rainha do Rosário de Pompeia: Pio XI, Ad BVM a Sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , em Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion indulgentiarum , Roma 1952, n. 628: “Lembra-te também que no Calvário te tornaste a Corredentora, cooperando com a crucificação do teu coração para a salvação do mundo, juntamente com o teu Filho crucificado;” Cf. Alocução “Ecco di Nuovo” aos Peregrinos da Diocese de Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 de dezembro de 1933, 1.

 

[33] Cf. Pio XI, Mensagem de rádio por ocasião do encerramento do Jubileu da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): LʼOsservatore Romano 28/29 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Pio XI, À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário do Vale de Pompeia , na Penitenciária Apostólica, Enchiridion indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): Insegnamenti III/2 (1980), 1646; Audiência Geral (8 de setembro de 1982): Insegnamenti V/3 (1982), 404; Angelus (4 de novembro de 1984): Insegnamenti VII/2 (1984), 1151; Homilia no Santuário de Nossa Senhora da Madrugada em Guayaquil (Equador) (31 de janeiro de 1985): Insegnamenti VIII/1 (1985), 319; Angelus (31 de março de 1985): Insegnamenti VIII/1 (1985), 890; Discurso aos Peregrinos da “Opera Federativa Trasporto Ammalati a Lourdes” (24 de março de 1990): Insegnamenti XIII/1 (1990), 743; Angelus (6 de outubro de 1991): Insegnamenti XIV/2 (1991), 756. No entanto, após a Feria IV da Congregação para a Doutrina da Fé, de 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II deixou de usar o título de “Corredentora”. É importante notar também que esse título não aparece em sua Encíclica Redemptoris Mater , de 25 de março de 1987 — o documento por excelência no qual São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J. Ratzinger, Atas da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] J. Ratzinger – P. Seewald, Deus e o Mundo: Crer e Viver em Nosso Tempo: Uma Conversa com Peter Seewald , trad. H. Taylor, São Francisco 2002, 306.

 

[38] Francisco, Homilia na Festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Francisco, Meditação diária sobre “Nossa Senhora das Dores: Discípula e Mãe” (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8.

 

[40] Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Pio XII, Carta Encíclica Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), 10: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Cf. André de Creta, Sobre o Nascimento de Maria, IV: PG 97, 865A.

 

[43] Cf. Germano de Constantinopla, Na Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria : PG 98, 322 a.C.

 

[44] Cf. João Damasceno, Sobre a Dormição da Mãe de Deus , I: PG 96, 712B-713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, o Papa Bento XV — a pedido do Cardeal Désiré-Joseph Mercier — concedeu a todo o país da Bélgica o Ofício e a Missa da Bem-Aventurada Virgem Maria “Mediadora de Todas as Graças”, a ser celebrada anualmente em 31 de maio. A Sé Apostólica concedeu posteriormente, mediante pedido, o mesmo Ofício e Missa a muitas outras dioceses e ordens religiosas: cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, “Um Novo Dogma Mariano? Comentário sobre a Declaração da Academia Mariana”, L'Osservatore Romano (Edição Semanal em Inglês), 25 de junho de 1997, 10: “A Constituição Lumen gentium , que por escolha deliberada não contém uma definição dogmática de mediação, foi aprovada por 2.151 votos de 2.156… Apenas 33 anos após a promulgação da Lumen gentium … o panorama eclesial, teológico e exegético… não mudou substancialmente”. Esta afirmação da Pontifícia Academia Mariana Internacional foi acrescentada à Declaração da Comissão Teológica criada no âmbito do 12º Congresso Mariológico Internacional (Czestochowa, 12-24 de agosto de 1996), que considerou inadequado proceder com uma definição dogmática de Maria como “Mediadora”, “Corredentora” e “Advogada”. Cf. Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa , “Pedido de Definição do Dogma de Maria como Mediadora, Corredentora e Advogada”: L'Osservatore Romano (edição semanal em inglês), 25 de junho de 1997, 10.

 

[47] Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Cf. Bernardo de Claraval, Homenagem em louvor da Virgem Mãe, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. ibid. , 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. ibid. , 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65.

 

[52] Ibid., 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), parágrafo 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), parágrafo 14.

 

[57] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), 288: AAS 105 (2013), 1136.

 

[59] Orígenes, In Numeros homilae , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] Ambrósio, Epístola 29, 24: PL 16, 1106D.

 

[61] Tomás de Aquino, Comentários sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “pela singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador da raça humana”.

 

[63] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. ibid . , 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. ibid ., 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações diárias “Nossa Senhora das Dores: Discípula e Mãe ” (3 de abril de 2020).

 

[67] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 4: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: “Maria, então, como Mãe de Cristo, deve também ser considerada Mãe dos fiéis e de todos os pastores; isto é, da Igreja”; Catecismo da Igreja Católica , par. 963.

 

[70] Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] HU von Balthasar, Theo-Drama: Theological Dramatic Theory: Dramatis Personae: Persons in Christ, vol. 3, trad. G. Harrison, San Francisco 1992, 333.

 

[72] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 56: AAS 57 (1965), 60: “[E]la dedicou-se totalmente, como serva do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, sob e com ele, servindo ao mistério da redenção, pela graça de Deus Todo-Poderoso”.

 

[73] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 69: AAS 57 (1965), 66: “Mãe de Deus e Mãe da humanidade”.

 

[75] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática, Lumen Gentium , 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos primeiros textos patrísticos e tem seu fundamento bíblico principalmente no Evangelho de João — especificamente, no relato da Cruz.

 

[76] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 21: AAS 79 (1987), 388: “[A] descrição do evento de Caná delineia o que se manifesta de fato como um novo tipo de maternidade segundo o espírito e não apenas segundo a carne, isto é, a solicitude de Maria pelos seres humanos, vindo ao encontro deles na grande variedade de suas necessidades e desejos.”

 

[77] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), 2: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4: “Maria… cooperou durante o próprio evento e no papel de mãe; assim, a sua cooperação abrange toda a obra salvífica de Cristo”.

 

[80] Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica , par. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: “[Maria] indica o Mediador: ela é a Odigitria . Sua presença está em toda parte na iconografia cristã, às vezes muito proeminente, mas sempre em relação ao seu Filho e em conexão com ele. Suas mãos, seus olhos, seu comportamento são uma 'catequese' viva, sempre indicando a pedra angular, o centro: Jesus. Maria está completamente voltada para ele (cf. CIC , 2674).”

 

[82] João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de Outubro de 2002), 4, citando o Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 62: AAS 57 (1965), 63: “[E]ste papel subordinado de Maria”.

 

[84] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Ibid . , 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da oração do Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior , (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia na Missa do Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L'Osservatore Romano , 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[89] Francisco, Carta Encíclica Dilexit Nos (24 de outubro de 2024), 176: L'Osservatore Romano , 24 de outubro de 2024, 10.

 

[90] Cf. Francisco, Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): L'Osservatore Romano , 2 de janeiro de 2024,

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican mopohua: Aqui é contado… o grande evento , Cuautitlán 2003, nn. 23, 119.

 

[94] João Paulo II, Audiência Geral (13 de agosto de 1997), 4: L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francis, Homily on the Feast of Our Lady of Guadalupe (12 de dezembro de 2022): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2022, 8; cf. Homily on the Feast of Our Lady of Guadalupe (12 de dezembro de 2023): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2023, 11.

 

[96] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit Nos (24 de outubro de 2024), 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Cf. J. Ratzinger, Atas da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , nos Arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de Março de 1987), 21: AAS 79 (1987), 389. Este carácter intercessor da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos Papas recentes. Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Adiutricem Populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; Pio X, Carta Encíclica Ad Diem Illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 ( 1903-1904 ), 455; Pio XII, Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[100] Agostinho, Sobre os Méritos e Remissão dos Pecados e sobre o Batismo de Crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Agostinho, Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 6, co.

 

[103] Concílio de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , cap. 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616.

 

[105] Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid . , q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid . , q. 114, a. 5, co.

 

[108] Cf. ibid., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 de junho de 2016, 8.

 

[111] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica , par. 2764.

 

[112] Cf. Francisco, Observações do Santo Padre na oração do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , par. 2003.

 

[115] Ibid ., parágrafo 1999.

 

[116] Cf. Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a.1, co.; Quaestiones disputatae de Veritate, 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 64, a. 1, co.: “ Somente Deus guiará a alma .”

 

[118] Cf. Concílio de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , cap. 7 (DH 1528-1531), e Cânon 11 dos Cânones sobre a Justificação (DH 1561).

 

[119] Cf. Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Summa contra gentios , II, cap. 98, n. 18; ibid., III, cap. 88, n. 6.

 

[120] Cf. Tomás de Aquino , Questões Disputadas sobre a Verdade , q. 27, a. 3, sc 5.

 

[121] Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 64, a. 1, co.

 

[122] Por exemplo, ver Genádio de Massília, Sobre Dogmas Eclesiásticos , 83: PL 58, 999B; João Cassiano, Collationes , VII, 13: PL 49, 683A; Jerônimo, Interpretatio libri Didymium de Spiritu Sancto , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Cf. Boaventura, Collationes in Hexaemeron , XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Cf. Boaventura, Sententiarum Lib. Eu , d.14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Cf. ibid., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Cf. ibid., q. 2, fund. 4 e 8, 251-252.

 

[127] Cf. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 33, a. 3; ibid . , III, q. 23, a. 4.

 

[128] Tomás de Aquino, Compendium theologiae , I, no. 215; cf. Suma Teológica , III, q. 2, a. 10.

 

[129] Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 8, a. 5, co.; cf. ibid . , q. 2, a. 12; um. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Tomás de Aquino, Compêndio de Teologia , I, n.º 214.

 

[131] Tomás de Aquino, Questões Disputadas sobre a Verdade, q. 29, a. 5, co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), 10; cf. Francisco, Carta Encíclica Dilexit Nos (24 de outubro de 2024), 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Pastoral Gaudium et Spes (7 de dezembro de 1965), 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Cf. Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Cf. Tomás de Aquino, Sobre o Evangelho de João, cap. 1, v. 16, lição 10; Suma Teológica , I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Tomás de Aquino, Compêndio de Teologia , I, n.º 214.

 

[137] Dante Alighieri, Divina Comédia , Paradiso , XXXIII, 1.

 

[138] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, Prefácio para a Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, Missal Romano , Catholic Book Publishing, Nova Jersey 2011, 873.

 

[140] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica , par. 2002.

 

[142] Cf. Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 25, a. 3, ad 4. A justificação, tal como a criação, “pertence somente a Deus para fazer imediatamente”.

 

[143] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Cf. Orígenes, Homilias sobre Gênesis XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Ver Cirilo de Alexandria, In Ioannis Evangelium , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Ver Cirilo de Alexandria, Comentário sobre o Profeta Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica, XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. João Crisóstomo, Hom. em Ioannem , 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Ambrósio, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Ambrose, De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Cf. Ambrósio, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. Jerônimo, Comm. sobre Zacarias , III, 14, 8.9: PL 25, 1528 C.

 

[153] Gregório Magno, Hom. em Ezequiel , I, 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Cf. Hilário, Tractatus sobre Salmos , 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Agostinho, Sobre o Evangelho de João , 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid.; cf. Suma Teológica, II-II, q. 178, a. 1, sc

 

[158] Cirilo de Jerusalém, Catequese mística XVI, 12: PG 33, 933B .

 

[159] João XXIII, Carta Encíclica Mater et Magistra (15 de maio de 1961): AAS 53 (1961), 462.

 

[160] João Paulo II, Carta ao Superior Geral da Companhia de Jesus , Paray-le-Monial (5 de outubro de 1986): L'Osservatore Romano , 6 de outubro de 1986, 7, citado por Francisco, Carta Encíclica Dilexit Nos (24 de outubro de 2024), 182: AAS 116 (2024),

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Carta Encíclica Dilexit Nos (24 de outubro de 2024), 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 5, a. 6, co. e ibid ., ad 1; Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos que São Tomás de Aquino usou para explicar por que somente Deus, e nenhuma criatura, pode conferir a graça não podem ser considerados superados, nem dentro de sua própria obra nem posteriormente.

 

[164] Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 60: AAS 57 (1965), 62; cf. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 25, a. 3, anúncio 4; Scriptum super Sententiis., II, d. 26, q. 1, a. 2, co.; ibid ., IV, d. 5, q. 1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Cf. Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Mais uma vez, pode-se recordar que: “Mas a mente, na qual há graça, nenhuma criatura pode escapar”.

 

[166] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Ibid . , 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Cf. Tomás de Aquino, Summa contra Gentiles , II, cap. 21, par. 7. Um agente instrumental contribui com algo próprio: “Todo agente instrumental realiza a ação do agente principal por meio de alguma ação própria e connatural a si mesmo”.

 

[169] Ibidem . , III, cap. 147, par. 6; cf., Suma Teológica , I, q. 45, a. 5, co.

 

[170] Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Cf. Concílio de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532.

 

[172] Cf. Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 114, a. 5, co.: “[Q]uando alguém tem graça, a graça já possuída não é merecida.” Embora a pessoa justificada possa merecer crescimento na vida da graça, o fato de ser justificado, de ser amigo de Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “disposição final”, que ocorre simultaneamente com a efusão da graça santificante, é em si obra imediata da graça. É “a disposição final da qual a forma necessariamente se segue”: Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae , lib. 5, lect. 2, n. 5; cf. Scriptum super Sententiis , I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Summa contra gentiles , lib. 2, cap. 19, n. 6; Compendium theologiae , I, n. 105.

 

[174] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, 53: AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Agostinho, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[181] Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para Proceder no Discernimento de Alegados Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024), parágrafo 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência Geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013) , 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI, Carta Encíclica Deus Caritas Est (25 de Dezembro de 2005), 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. ibid., 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Primeira Bênção Apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025): O Observatório Romano , 9 de maio de 2025,

 

[190] Francisco, Mensagem para a 37ª Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), par. 265.

 

[194] Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia sobre a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[196] Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), par. 259.

 

[01462-EN.01] [Texto original: Espanhol

 

DICASTERI DA DOUTRINA

 

Mãe fiel do povo

 

Notas didáticas sobre alguns títulos marianos,

 

que se referem à participação de Maria na obra da salvação.

 

Prefácio

Esta nota responde a inúmeras perguntas e sugestões recebidas pela Santa Sé – particularmente por este Dicastério – ao longo das últimas décadas, referentes a questões de devoção mariana e certos títulos marianos. São questões que têm ocupado os Papas recentes e que têm sido repetidamente debatidas nos últimos trinta anos nas diversas áreas de atuação do Dicastério, como congressos e sessões ordinárias. Isso permite que este Dicastério se baseie em uma vasta e rica gama de material para estas considerações.

 

Embora o texto esclareça o sentido em que certos títulos e expressões referentes a Maria são aceitáveis ​​ou não, ele visa simultaneamente, por meio do aprofundamento dos fundamentos apropriados da devoção mariana, iluminar o lugar de Maria em sua relação com os fiéis à luz do mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isso pressupõe uma profunda fidelidade à identidade católica e, ao mesmo tempo, um compromisso ecumênico particular.

 

O princípio orientador que permeia todas as páginas do documento é a maternidade de Maria em relação aos fiéis , uma questão que aparece repetidamente, com afirmações que são retomadas diversas vezes, enriquecidas e complementadas em um nível mais elevado com novas considerações.

 

A veneração de Maria, que deriva de sua maternidade, é aqui apresentada como um tesouro da Igreja. Estas reflexões não pretendem corrigir a veneração do povo fiel de Deus, que encontra refúgio, força, ternura e esperança em Maria, mas sim destacá-la, admirá-la e promovê-la, visto que é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude de confiança no Senhor, fundamentada no Evangelho, que o próprio Espírito Santo desperta livremente nos fiéis. De fato, os pobres encontram “no rosto de Maria a ternura e o amor de Deus. Nisto veem refletida a mensagem essencial do Evangelho”.[1]

 

Ao mesmo tempo, existem diversos círculos marianos, publicações, novas formas de devoção mariana e investigações sobre dogmas marianos que não exibem as mesmas características da piedade popular, mas que, em última análise, propõem um certo desenvolvimento dogmático e se expressam amplamente por meio das redes sociais, muitas vezes causando dúvidas entre os fiéis comuns. Por vezes, tratam-se de reinterpretações de expressões usadas no passado com significados diferentes. Este documento examina essas sugestões a fim de mostrar em que medida algumas delas correspondem a uma devoção mariana genuína, inspirada no Evangelho, e em que medida outras devem ser evitadas por não contribuírem para uma contemplação adequada da mensagem cristã em sua totalidade harmoniosa.

 

Por outro lado, diversas passagens desta nota revelam um extenso desenvolvimento bíblico que ajuda a demonstrar como a autêntica devoção mariana se manifesta não apenas na rica tradição da Igreja, mas também nas próprias Sagradas Escrituras. Este claro fundamento bíblico é sustentado por textos dos Padres da Igreja, Doutores da Igreja e Papas recentes. Desta forma, a nota busca menos definir limites do que acompanhar e fortalecer o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Manuel Kard. Fernandez

 

prefeito

 

[1] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n.º 265; citado no n.º 78 desta nota .

 

introdução

 

1. [ Mater populi fidelis ] Os cristãos contemplam a Mãe do povo fiel de Deus[1] com afeto e admiração, pois, como a graça nos torna semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita dessa sua obra, que transforma a nossa humanidade. Ela é a expressão feminina de tudo o que a graça de Cristo pode realizar numa pessoa. Em vista dessa beleza, muitos crentes, por amor, sempre se esforçaram para dirigir-se à Mãe com as mais belas palavras e para enfatizar o lugar especial que ela ocupa junto a Cristo.

 

2. Recentemente, este Dicastério publicou normas para o procedimento de avaliação de alegados fenómenos sobrenaturais . [2] Ocorre frequentemente que certos títulos [3] e designações são utilizados em conexão com os referidos fenómenos relacionados com a Virgem Maria. Estes títulos, alguns dos quais já constam dos escritos dos Padres da Igreja, nem sempre são utilizados com precisão; por vezes, o seu significado é alterado, ou podem ser mal interpretados. Para além dos problemas terminológicos, alguns títulos também apresentam dificuldades significativas em termos de conteúdo, uma vez que frequentemente conduzem a uma incompreensão da figura de Maria, o que tem sérias implicações a nível cristológico, [4] eclesiológico, [5] e antropológico. [6]

 

3. O principal problema na interpretação destes títulos aplicados à Virgem Maria é a questão de como deve ser entendida a participação de Maria na obra de salvação de Cristo, ou seja, “qual é o significado da participação única de Maria no plano de salvação?”[7] Este documento, sem pretender tratar o assunto de forma exaustiva ou ser exaustivo, procura manter o equilíbrio necessário que deve ser preservado nos mistérios da fé cristã entre a mediação única de Cristo e a participação de Maria na obra de salvação, e também procura mostrar como isso se expressa nos vários títulos marianos.

 

A participação de Maria na obra da salvação.

 

4. Tradicionalmente, o envolvimento de Maria na obra da salvação é visto sob uma dupla perspectiva: em primeiro lugar, sua participação na redenção objetiva que Cristo realizou durante sua vida, particularmente no Mistério Pascal, e em segundo lugar, sua influência atual sobre os redimidos. Na realidade, essas questões estão interligadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. Essa participação de Maria na obra redentora de Cristo é atestada nas Sagradas Escrituras, que apresentam o evento da salvação realizada em Jesus Cristo como uma promessa no Antigo Testamento e como seu cumprimento no Novo Testamento. Assim, em Gênesis 3:15, percebemos a presença de Maria, pois ela é a mulher que participa da vitória final sobre a serpente. Portanto, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria como "mulher" na cena do Calvário ( João 19:26). Em Caná, também, Jesus a chama de "mulher" ( João 2:4), referindo-se assim a Maria e ao seu papel, juntamente com ele, na "hora" da cruz.

 

6. Ali, nesta “hora”, a participação de Maria torna-se visível, pois ela diz novamente o seu “sim”, tal como fez na Anunciação. Neste momento sagrado, o Evangelho passa a apresentá-la como “mãe” ( João 19,27), colocando a palavra “mulher” na boca de Jesus ( João 19,26). Quando o Evangelho explica que o discípulo, que nos representa a todos, a recebeu, usa um verbo ( lambano ) que, no Evangelho, assume o significado de “receber com fé” (cf. João 1,11-12; 5,43; e 13,20). É o mesmo verbo que o quarto Evangelho usa para expressar que a luz veio aos seus seguidores e eles não a “receberam” ( João 1,11). Ou seja, o discípulo que tomou o nosso lugar ao lado de Maria recebeu-a como sua mãe com fé. Só depois de Jesus nos ter dado Maria como nossa mãe é que soube que “tudo está consumado” ( João 19,28). Esta alusão solene à completude impede uma interpretação superficial deste episódio. A maternidade de Maria para conosco faz parte do cumprimento do plano divino, realizado no Mistério Pascal de Cristo. De maneira semelhante, o Livro do Apocalipse apresenta a “mulher” ( Ap 12,1) como mãe do Messias (cf. Ap 12,5) e como mãe de seus “depois” ( Ap 12,17).

 

7. Convém lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada”[8] dos acontecimentos da infância de Jesus[9] mencionados nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas informa os seus leitores: “Muitos já se dedicaram a escrever um relato de tudo o que aconteceu e se cumpriu entre nós, segundo a tradição daqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra”. Assim, também ele resolveu “investigar tudo cuidadosamente desde o princípio” ( Lc 1,1-3). Entre essas testemunhas oculares, Maria, protagonista imediata da conceção, do nascimento e da infância de Jesus Senhor, merece uma menção especial. O mesmo se aplica aos relatos da Paixão, quando a sua mãe esteve “perto da cruz de Jesus” ( Jo 19,25), e à espera do Pentecostes, quando os apóstolos “permaneciam unânimes em oração, com as mulheres e com Maria, mãe de Jesus” ( At 1,14).

 

8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova filha de Sião, que recebe e participa da alegria da salvação. Lucas retoma as promessas proféticas que anunciavam a alegria messiânica (cf. Sofonias 3,14-17; Zacarias 9,9). Nela, cumprem-se as promessas que fizeram João Batista exultar de alegria (cf. Lucas 1,41). Isabel confessa sua indignidade diante da visita de Maria: “Quem sou eu para que a mãe do meu Senhor venha me visitar?” ( Lc 1,43). Isabel não diz: “Quem sou eu para que o meu Senhor venha me visitar?”. Ela se refere diretamente à mãe , o que aponta para a ligação indissociável entre a missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lucas 1,41), de modo que sua atitude para com Maria resplandece como um modelo de fé. As palavras seguintes que ela profere, movida pelo Espírito, são: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” ( Lc 1,42). É notável que, inspirada pelo Espírito Santo, ela não se contente em chamar Jesus de “bem-aventurado”, mas também chame sua mãe de “bem-aventurada”. Ela os vê intimamente unidos neste momento de alegria messiânica. Maria aparece aqui como a “Bem-aventurada” por excelência: “Bem-aventurada aquela que creu” ( Lc 1,45); “o meu espírito exulta” ( Lc 1,47); “desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). Isso adquire ainda maior significado, visto que essa bem-aventurança no Evangelho de Lucas não aparece como um estado de espírito, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nas crianças (cf. Lc 6,20-22), pois a sua recompensa no céu será grande (cf. Lc 6,35).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Padres da Igreja estavam principalmente interessados ​​na maternidade divina de Maria ( Theotokos ), em sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), em sua santidade perfeita, livre de pecado durante toda a sua vida ( Panagia ), e em seu papel como a nova Eva,[10] concentrando-se, dentro do mistério da Encarnação, na contemplação da união de Maria com a salvação por meio de Cristo. O "sim" de Maria à saudação do Arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se fizesse carne em seu ventre (cf. Lc 1,26-37), dá à humanidade a possibilidade de ser deificada. Portanto, Santo Agostinho chama a Virgem de "cooperadora" na salvação, enfatizando assim tanto a cooperação de Maria com Cristo quanto sua submissão a ele, pois Maria trabalha com Cristo para que "os fiéis possam nascer na Igreja",[11] e, portanto, podemos chamá-la de Mãe do Povo fiel de Deus .

 

10. Durante o primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja concentrou-se na liturgia. A grande e rica diversidade de tradições litúrgicas no Oriente cristão procurava ser um eco fiel das Sagradas Escrituras, dos concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi , que se tornou a lex credendi , moldou a Mariologia Oriental, desde a hinografia e iconografia até a piedade popular.[12] Por exemplo, as festas marianas foram introduzidas no Oriente a partir do século V e posteriormente adotadas pelo Ocidente no século VII. A participação da Mãe de Deus na obra da redenção é celebrada não apenas na anáfora e nas liturgias eucarísticas das Igrejas Orientais, mas sobretudo nos textos hinográficos das horas canônicas das diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. Na hinografia existem inúmeras composições dedicadas a Maria com alegorias bíblicas;[13] elas permitiram um aprofundamento do mistério fundamental da Encarnação e seu significado para a salvação em Cristo em uma linguagem repleta de simbolismo poético, que por sua vez é capaz de expressar o espanto e a admiração daqueles que são da mesma linhagem de Maria e contemplam os milagres que o Todo-Poderoso realizou nela.[14]

 

11. Os ensinamentos dos primeiros concílios ecumênicos começaram a desenvolver o dogma referente a Maria, Mãe de Deus, que foi posteriormente proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre defendeu os dogmas definidos por esses primeiros concílios, pelo menos nas igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, incorporou narrativas e lendas marianas populares, particularmente relatos da infância e morte de Jesus, em suas tradições litúrgicas, hínicas e iconográficas. Essas narrativas buscam nutrir a piedade do povo de Deus e dar expressão ao lirismo da imagética poética, que visa nada mais do que despertar admiração. Essa mesma veneração da Mãe de Deus também se expressa na iconografia , que oferece uma imagem visual de Maria e do Verbo Encarnado. É significativo que as iconografias tradicionais das igrejas intimamente ligadas aos Concílios de Éfeso e Calcedônia geralmente representem Maria como a "Theotokos" [15]. Foram criadas com o objetivo de apresentar a Virgem Mãe em forma pictórica , abraçando seu Filho, o Menino Jesus, ao mundo, enquanto intercede pela humanidade diante de seu Filho. A iconografia mariana oriental, entendida como um querigma e memória visual em cores da teologia dos primeiros concílios e dos Padres da Igreja, busca, portanto, ser uma tradução visual dos títulos específicos dados à Mãe de Deus. [16] Por essa razão, os ícones devem ser "lidos" a partir da perspectiva da liturgia e da hinografia. Maria não é venerada ao lado de Cristo; antes, por meio da Encarnação, ela faz parte do mistério de Cristo. [17] Ela é o ícone no qual o próprio Cristo é venerado. Ela é a Theotokos , a Virgem Mãe, que nos mostra seu filho Jesus, o Cristo, e ela é também a Hodēghētria , que aponta com a mão para o único caminho, que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental[18] concentra-se na relação que une a Virgem Maria ao mistério do ato sangrento da redenção no Gólgota e relaciona a imagem da espada de Simeão à cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da cruz é entendida como um sinal de coragem cristã repleta de amor materno. São Bernardo de Claraval, num comentário sobre a Festa da Apresentação de Jesus no Templo, fala da participação da Mãe de Deus no sacrifício da redenção.[19] Arnaldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval (falecido depois de 1159), é o primeiro a considerar a participação de Maria no sacrifício de seu filho Jesus Cristo na cruz.[20]

 

13. A cooperação da Mãe com o seu Filho na obra da salvação foi exposta pelo Magistério da Igreja.[21] O Concílio Vaticano II afirma: “Com razão, portanto, os santos Padres estão convencidos de que Maria não foi meramente usada passivamente por Deus, mas cooperou livremente na fé e na obediência para a salvação da humanidade.”[22] Esta união com a Virgem está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (conceção, nascimento, morte e ressurreição) como no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição sublinha a primazia e a singularidade de Cristo na salvação, pois, mesmo antes de qualquer possibilidade de sua própria ação, a primeira redimida é também redimida por Cristo e transformada pelo Espírito Santo.[23] Deste estado especial de ser a “primeira dos redimidos por Cristo” e a “primeira transformada pelo Espírito Santo”, Maria pode cooperar mais intensa e profundamente com Cristo e o Espírito, tornando-se assim o protótipo,[24] modelo e exemplo daquilo que Deus quer realizar em cada redimido.[25]

 

15. A participação de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, pois é fruto de uma iniciativa do Pai, que olhou para a humildade de sua serva (cf. Lc 1,48); brota da kenosis do Filho, que se humilhou e assumiu a forma de servo (cf. Fl 2,7-8); e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que preparou o coração da jovem de Nazaré para sua resposta na Anunciação e ao longo de sua vida em comunhão com o Filho. São Paulo VI ensinou: “Com Maria, tudo está relacionado e depende de Cristo: com Ele em mente, Deus Pai a escolheu desde toda a eternidade como Mãe Santíssima e a dotou com os dons do Espírito Santo, que não foram dados a mais ninguém.”[26] O “sim” de Maria não é meramente uma condição prévia para algo que poderia ter acontecido sem o seu consentimento e cooperação. A sua maternidade não é simplesmente biológica e passiva,[27] mas uma maternidade “ real ”,[28] que se coloca à disposição do mistério de Cristo como instrumento amado pelo Pai para o seu plano de salvação. Ela “garante que ele, como ‘nascido da [mulher]’ ( Gl 4:4), é um homem real, mas ela é também, uma vez proclamado o dogma niceno, Theotokos , Mãe de Deus”.[29]

 

Títulos relacionados à participação de Maria na obra da salvação.

 

16. Entre os títulos pelos quais Maria é invocada (Mãe da Misericórdia, Esperança dos Pobres, Auxílio dos Cristãos, Advogada, Intercessora, etc.), existem alguns que se referem mais à sua participação na obra redentora de Cristo, como Corredentora e Medianeira.

 

Co-resgatador

 

17. O título Corredentora surge no século XV como uma correção da invocação Redentora (abreviação de Mãe do Redentor), como Maria era chamada desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um pergaminho aos pés da cruz, o que pode ser considerado a origem do título Corredentora , que aparece pela primeira vez em um hino anônimo de Salzburgo[30] do século XV. Embora o título Redentora tenha sido mantido nos séculos XVI e XVII, desapareceu completamente no século XVIII, sendo substituído por Corredentora . A pesquisa teológica sobre a participação de Maria na salvação na primeira metade do século XX levou a uma investigação mais aprofundada do conteúdo do título Corredentora. [31]

 

18. Alguns papas usaram este título sem maiores explicações.[32] Geralmente, usaram-no de duas maneiras diferentes: ou em referência à maternidade divina, na medida em que Maria, como mãe de Jesus Cristo, tornou possível a redenção realizada por meio dele,[33] ou em referência à sua união com Cristo na obra da redenção na cruz.[34] O Concílio Vaticano II evitou usar o título Corredentora por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II usou-o pelo menos sete vezes, relacionando-o principalmente com o valor salvífico do nosso sofrimento em união com o sofrimento de Cristo, com o qual Maria está unida, especialmente na cruz.[35]

 

19. Por ocasião da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, respondeu à questão de saber se a reivindicação do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici por uma definição do dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as Graças era aceitável com seu voto pessoal : “Negativo. O significado preciso desses títulos não é claro, e a doutrina neles contida não está totalmente desenvolvida. Uma doutrina definida de fé pertence ao depositum fidei , isto é, à revelação divina, que é mediada na Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica.” Ainda não está claro como a doutrina expressa nos títulos está contida nas Sagradas Escrituras e na Tradição Apostólica.”[36] Mais tarde, em 2002, ele se manifestou publicamente contra o uso desse título: “A fórmula ‘Corredentora’ [se distancia] [demasiado] da linguagem das Escrituras e dos Padres e [portanto] dá origem a mal-entendidos… Tudo vem dele, como dizem especialmente a Epístola aos Efésios e a Epístola aos Colossenses; Maria também é tudo o que é por meio dele. A palavra ‘Corredentora’ obscureceria essa origem.” O Cardeal Ratzinger não negou que houvesse boas intenções e aspectos valiosos no uso proposto desse título, mas estava convencido de que eles eram expressos “em uma palavra falsa”.[37]

 

20. O Cardeal, na época, referia-se às Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, nas quais o vocabulário utilizado e a dinâmica teológica dos hinos apresentam a singular centralidade soteriológica do Filho de Deus encarnado como a verdadeira fonte, de modo a excluir a possibilidade de acrescentar quaisquer outras mediações, pois “todas as bênçãos” nos são dadas “em Cristo” (cf. Ef 1,3), porque por meio dele nos tornamos filhos (cf. Ef 1,5) e somos agraciados nele (cf. Ef 1,6), “pelo seu sangue temos a redenção” ( Ef 1,7) e ele nos “dotou ricamente de toda a sabedoria e entendimento” ( Ef 1,8). Por meio dele , “fomos também predestinados e designados herdeiros” ( Ef 1,11). E Deus desejava “habitar nele com toda a sua plenitude ” ( Colossenses 1:19), “para reconciliar todas as coisas por meio dele” ( Colossenses 1:20). Tal louvor à posição singular de Cristo exige que se veja todas as criaturas em um papel claramente receptivo e que se exerça uma cautela fiel e prudente ao se considerar qualquer forma de possível participação no âmbito da salvação.

 

21. O Papa Francisco expressou a sua posição inequívoca contra o uso do título Corredentora em pelo menos três ocasiões , afirmando que Maria “nunca procurou reivindicar nada de seu Filho para si mesma. Ela nunca se apresentou como Corredentora. Não, Discípula.”[38] A obra da redenção está completa e não requer nenhum acréscimo. Portanto, “a Mãe de Deus não quis tirar nenhum título de Jesus […]. Ela não pediu para ser uma quase-Redentora ou Corredentora para si mesma: não. O Redentor é um só, e este título não é duplicado.”[39] Cristo “é o único Redentor: não há Corredentoras além de Cristo.”[40] Pois, “o sacrifício oferecido na cruz com uma disposição amorosa e obediente oferece a satisfação devida pelos pecados da raça humana em medida abundante e infinita.”[41] Podemos prolongar os seus efeitos no mundo (cf. Col 1,24), mas nem a Igreja nem Maria podem substituir ou aperfeiçoar a obra de redenção já completa e indispensável do Filho de Deus encarnado.

 

22. Dada a necessidade de demonstrar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da redenção, o uso do título Corredentora é sempre inadequado ao definir a participação de Maria nela. Esse título acarreta o risco de obscurecer a mediação única de Cristo na salvação e, portanto, pode levar à confusão e ao desequilíbrio na harmonia das verdades cristãs, pois "a salvação não se encontra em nenhum outro, porque debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12). Contudo, quando um termo exige muita e constante explicação para refutar uma compreensão divergente e errônea, ele não serve à fé do povo de Deus e torna-se inadequado. Nesse caso, não é útil enfatizar Maria como a primeira e maior colaboradora na obra da redenção e da graça, pois o perigo de obscurecer a posição exclusiva de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem para a nossa salvação e que, somente ele, é capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra para a Mãe. Pois, como " serva do Senhor " (Lucas 1:38), ela nos aponta para Cristo e nos exorta: " Fazei tudo o que ele vos disser " (João 2:5).

 

mediador

 

23. O conceito de mediação tem sido usado na Patrística Oriental desde o século VI. Nos séculos posteriores, Santo André de Creta,[42] São Germano de Constantinopla,[43] e São João Damasceno,[44] usaram este termo com significados diferentes. No Ocidente, foi usado com mais frequência a partir do século XII, embora não tenha sido formulado como uma tese doutrinal até o século XVII. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Mechelen, em colaboração acadêmica com a Universidade Católica de Leuven e com o apoio dos bispos, do clero e do povo belga, pediu ao Papa Bento XV uma definição dogmática da mediação universal de Maria. No entanto, o Papa não atendeu a esse pedido; ele apenas aprovou uma festa particular de "Maria, Medianeira de Todas as Graças" com sua própria Missa e Ofício.[45] A partir de então, até 1950, foram realizados diversos estudos teológicos sobre esta questão, que contribuíram para a fase preparatória do Concílio Vaticano II. No entanto, o Concílio absteve-se de fazer quaisquer pronunciamentos dogmáticos sobre o assunto[46] e preferiu apresentar uma síntese abrangente do “ensinamento católico sobre o lugar de Maria no mistério de Cristo e da Igreja”[47].

 

24. O juízo bíblico sobre a mediação exclusiva de Cristo é inequívoco. Cristo é o único mediador, “pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos” ( 1 Tm 2,5-6). A Igreja explicou esta posição única de Cristo afirmando que ele é o Filho eterno e infinito; ele está hipostaticamente unido à humanidade que assumiu; o papel de mediador pertence exclusivamente à humanidade de Cristo, e as consequências daí resultantes só podem aplicar-se a Cristo. Precisamente neste sentido, a posição do Verbo encarnado é exclusiva e única. Em vista desta clareza na Palavra revelada de Deus, é necessária especial cautela ao aplicar o título de “Mediadora” a Maria. Dada a tendência de expandir o âmbito da cooperação de Maria com base neste termo, é apropriado determinar com mais precisão a extensão da validade deste termo e onde se encontram os seus limites.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar o fato de que a palavra “mediação” é usada com muita frequência nas mais diversas áreas da vida social, onde é simplesmente entendida como cooperação, ajuda ou intercessão. É, portanto, inevitável que seja aplicada a Maria em um sentido subordinado e que de modo algum pretenda acrescentar algo em eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que houve uma forma de mediação real por meio de Maria para tornar possível a verdadeira Encarnação do Filho de Deus, visto que era necessário que o Redentor “nascesse de mulher” ( Gl 4,4). A narrativa da Anunciação mostra que esta não foi meramente uma mediação biológica, pois sublinha a presença ativa de Maria quando ela, pensativa (cf. Lc 1,29.34), afirma com firmeza: “ Faça-se em mim ” ( Lc 1,38). A resposta de Maria abriu a porta para a salvação que toda a humanidade esperava e que os santos descreveram com drama poético.[48] Maria também desempenha um papel mediador no casamento em Caná, quando descreve a Jesus a situação difícil dos noivos (cf. Jo 2,3) e quando pede aos servos que sigam as instruções de Jesus (cf. Jo 2,5).

 

27. O conceito de mediação nos documentos do Concílio Vaticano II refere-se principalmente a Cristo e, por vezes, a Maria, mas de forma claramente subordinada.[49] De facto, tem-se preferido usar um termo diferente para ela, que se centra na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio articula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria , usando expressões como “intercessão múltipla” e “proteção materna”.[52] Estes dois aspetos, em conjunto, constituem a característica distintiva da cooperação de Maria na ação de Cristo através do Espírito Santo. A rigor, não se pode falar de outra mediação da graça senão a do Filho de Deus encarnado.[53] É, portanto, necessário recordar sempre a convicção cristã e não a obscurecer: “Deve- se crer firmemente que Jesus Cristo, Filho de Deus, é o Senhor e o único Redentor, que, pela sua encarnação, morte e ressurreição, completou a história da salvação, que encontra nele a sua plenitude e o seu centro.”[54]

 

Maria, sob a única mediação de Cristo.

28. Ao mesmo tempo, não se deve esquecer que a singularidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, ou seja, Cristo possibilita diferentes formas de participação na realização do seu plano de salvação, pois em comunhão com ele todos podemos ser, em certo sentido, cooperadores de Deus, “mediadores” uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). Precisamente porque Cristo possui poder infinito e supremo, ele pode permitir e capacitar seus irmãos e irmãs a participarem verdadeiramente na realização dos seus planos. O Concílio Vaticano II afirmou: “Assim, ‘a singularidade da mediação do Redentor no reino criado não exclui, mas antes desperta, diferentes formas de participação na única fonte de cooperação’[55]. Por esta razão, ‘é necessário um esforço profundo para compreender o que significa esta mediação participativa, que, no entanto, deve sempre permanecer normatizada pelo princípio da mediação única de Cristo’[56]. É verdade que a Igreja estende os efeitos do evento pascal de Cristo ao longo do tempo e os comunica em todo o mundo[57] e que Maria ocupa um lugar único no coração da Mãe Igreja.[58]

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se clara quando partimos da convicção de que o Senhor ressuscitado encoraja, transforma e capacita os crentes a colaborarem com Ele em Sua obra. Isso não ocorre por causa de qualquer fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte de Cristo, mas sim por causa de Seu glorioso poder, que nos permite participar generosa e livremente como colaboradores em Sua obra. O ponto a enfatizar aqui é este: quando Ele nos permite acompanhá-Lo e, impulsionados por Sua graça, dar o melhor de nós mesmos, é, em última análise, o Seu próprio poder e misericórdia que são glorificados.

 

Frutificantes em Cristo glorificado

30. Particularmente esclarecedor é o texto: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( João 14,12). Os crentes que estão unidos a Cristo ressuscitado, retornado ao seio do Pai, podem realizar obras que superam os milagres do Jesus terreno, mas sempre graças à sua união com o Cristo glorioso pela fé. Isso se demonstrou, por exemplo, na surpreendente expansão da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado permitiu que a sua Igreja participasse da sua obra (cf. Marcos 16,15). Desta forma, a sua glória não foi diminuída, mas antes revelada ainda mais, demonstrando-se como um poder capaz de transformar os crentes e torná-los fecundos com Ele.

 

31. Entre os Padres da Igreja, essa ideia encontrou expressão particular em seus comentários sobre João 7:37-39, pois alguns interpretaram a promessa de “rios de água viva” como referente aos crentes. Ou seja, os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anuncia em João 7:38 porque faz fluir de nós rios de água: “A alma do homem, formada à imagem de Deus, pode ter poços, fontes e rios dentro de si e fazê-los brotar de si mesma.”[59] Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo, “para que a fonte de água flua abundantemente dentro de vós e jorre para a vida eterna.”[60] São Tomás de Aquino expressou isso assim: “Quando um crente se apressa em transmitir aos outros os vários dons da graça que recebeu de Deus, água viva flui de dentro dele.”[61]

 

32. Se isso é verdade para todo crente, cuja cooperação com Cristo se torna cada vez mais frutífera quanto mais se deixa transformar pela graça, é tanto mais verdade para Maria, de modo único e incomparável. Ela é “aquela agraciada” ( Lc 1,28), que, sem impedir a obra de Deus, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da Graça, que permaneceu na cruz (cf. Jo 19,25), que sofreu com seu Filho e ofereceu a dor de seu coração materno, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35). Ela esteve unida a Cristo desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição de modo exclusivo e superior a qualquer outro crente.

 

33. Tudo isso, porém, não por seus próprios méritos, mas porque os méritos de Cristo na cruz lhe foram aplicados de maneira especial e antecipada, para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Ela é, em última análise, um hino à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento de sua beleza leva diretamente à glorificação da fonte de todo o bem, ou seja, a Trindade. A incomparável grandeza de Maria reside no que ela recebeu e em sua confiante disposição de ser cheia do Espírito Santo. Se nos esforçarmos para atribuir a ela funções ativas em paralelo com as de Cristo, nos distanciamos dessa incomparável beleza própria de Maria. A expressão “mediação participativa” pode expressar uma compreensão precisa e útil da posição de Maria, mas — mal compreendida — pode facilmente obscurecê-la e até mesmo contradizê-la. A mediação de Cristo, que em alguns aspectos pode ser “inclusiva” ou participativa, é em outros aspectos exclusiva e intransferível.

 

Mãe dos Crentes

 

34. No que diz respeito a Maria, esta mediação ocorre numa forma materna ,[63] como aconteceu em Caná[64] e como foi confirmado na Cruz.[65] O Papa Francisco explicou-o desta forma: “Ela é a Mãe. E esse é o título que ela recebeu de Jesus ali mesmo, no momento da Cruz (cf. Jo 19,25-27). Vossos filhos, tu és Mãe. [...] Ela recebeu o dom de ser vossa Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe.”[66]

 

35. O título Mãe tem suas raízes na Sagrada Escritura e nos Padres da Igreja; foi proposto pelo Magistério, e a formulação de seu conteúdo continuou até a exposição do Concílio Vaticano II[67] e o conceito de maternidade espiritual na encíclica Redemptoris Mater [68]. Esta maternidade espiritual de Maria resulta de sua maternidade física do Filho de Deus. Ao dar vida corporal a Cristo, a Mãe de Deus, por meio de sua livre e fiel aceitação desta missão na fé, gerou todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo; isto é, ela deu à luz o Cristo inteiro , Cabeça e Membros.[69]

 

36. A participação da Virgem Maria como Mãe na vida de seu Filho, desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição, confere à sua cooperação na obra redentora de Cristo um caráter singular e único, especialmente para a Igreja, “quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; numa invocação confiante, quando experimenta a intercessão de sua Medianeira e Auxiliadora”.[70] É este aspecto materno que caracteriza a relação da Virgem com Cristo e a sua cooperação em cada momento da obra de salvação. Na sua missão como Mãe, Maria tem uma relação única com o Redentor e também com os redimidos, dos quais ela própria é a primeira. “Maria é o tipo da Igreja e do novo nascimento que nela ocorre; ela é mais: ela é o verdadeiro símbolo e o epítome desta própria Igreja”.[71] É uma maternidade que brota da sua total doação e vocação para se tornar serva do mistério.[72] Nesta maternidade de Maria está resumido tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria em toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui algumas características especiais:

 

a) Sua base reside no fato de ela ser a Mãe de Deus e continuar sua maternidade para com os discípulos de Cristo[73] e para com todas as pessoas.[74] Nesse sentido, a cooperação de Maria é única e distinta da cooperação de “outras criaturas”.[75] Sua intercessão não tem a característica da mediação sacerdotal, como a de Cristo, mas sua mediação se situa na ordem e analogia da maternidade.[76] Ao vincular a intercessão de Maria com suas ações, os dons que nos foram concedidos pelo Senhor são revelados a nós em um aspecto materno, caracterizado pela ternura e proximidade daquela mãe[77] que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,27).

 

b) A participação materna de Maria ocorre em Cristo e, portanto, é participativa ; é “participação na única fonte”,[78] que é a mediação do próprio Cristo. Maria entra na única mediação de Cristo de uma maneira completamente pessoal.[79] A vocação materna de Maria “para com a humanidade, porém, de modo algum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo, mas antes revela a sua eficácia. Toda influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre a humanidade” brota da “abundância dos méritos de Cristo, baseia-se na sua mediação, depende inteiramente dela e dela extrai toda a sua eficácia”.[80] Na sua maternidade, Maria não é um obstáculo entre a humanidade e Cristo ; pelo contrário, o seu papel materno está indissoluvelmente ligado e dirigido a Cristo. Compreendida desta forma, a maternidade de Maria não visa diminuir a veneração única que é devida somente a Cristo, mas sim vibrá-la.[81] Portanto, títulos e designações que se referem a Maria e a apresentam como uma espécie de “para-raios” para a justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus, devem ser evitados. O Concílio Vaticano II reafirmou como deve ser a veneração de Maria, ou seja, uma veneração “orientada para o centro cristológico da fé cristã, de modo que ‘quando a Mãe é honrada, o Filho [...] é devidamente conhecido, amado e glorificado’”.[82] Finalmente, a maternidade de Maria está sujeita à livre escolha do Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo .[83]

 

c) A Igreja não é apenas um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria, mas a dimensão sacramental da Igreja é precisamente onde o seu papel materno se realiza para sempre.[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade tem o seu lugar dentro da comunidade eclesial e não fora dela; conduz à Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende a sua própria maternidade com Maria:[85] na recepção da Palavra de Deus, que evangeliza, converte e proclama Cristo; no dom da vida sacramental no Batismo e na Eucaristia; e na educação e formação materna que ajuda os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Portanto, pode-se dizer que “a fecundidade da Igreja é a mesma que a fecundidade de Maria, e realiza-se na vida dos seus membros na medida em que imitam ‘em pequena medida’ o que a Mãe viveu, isto é, amam segundo o amor de Jesus”.[87] Como mãe, Maria, como a Igreja, espera que Cristo nasça em nós;[88] ela não toma o seu lugar. Por isso, “graças à poderosa fonte que jorra do lado aberto de Cristo, […] a Igreja, Maria e todos os fiéis tornam-se, de diferentes maneiras, doadores de água viva. Desta forma, o próprio Cristo desdobra a sua glória na nossa pequenez”.[89]

 

intercessão

38. Devido à sua maternidade e ao fato de ser “cheia de graça”, Maria está singularmente unida a Cristo. Isso é indicado na saudação do anjo (cf. Lc 1,28), quando ele usa a palavra ( kecharitōmenē ) , única e exclusiva em toda a Sagrada Escritura . Ela, que recebeu o poder do Espírito Santo em seu ventre e se tornou Mãe de Deus, torna-se, pelo mesmo Espírito, Mãe da Igreja.[90] Devido a essa união especial na maternidade e na graça, sua oração por nós tem um valor e uma eficácia incomparáveis ​​a qualquer outra intercessão. São João Paulo II aplicou o título de “Mediadora” a essa função de intercessão materna, pois “ela se coloca ‘entre’, isto é, age como Medianeira não como uma estranha, mas em sua posição de mãe, e está ciente de que, como tal, pode apresentar ao Filho as necessidades dos homens; aliás, ela tem o ‘direito’ de fazê-lo”.[91]

 

39. A fé católica lê nas Sagradas Escrituras que aqueles que estão com Deus no céu podem continuar a praticar os mesmos atos de amor, intercedendo por nós e, assim, acompanhando-nos. Vemos, por exemplo, que os anjos são “espíritos ministradores enviados para ajudar aqueles que hão de herdar a salvação” ( Hebreus 1:14). Fala-se de tarefas realizadas por anjos (cf. Tobias 5:4; 12:12; Atos 12:7-11; Apocalipse 8:3-5). Há anjos que auxiliam Jesus no deserto da tentação (cf. Mateus 4:11) e na Paixão (cf. Lucas 22:43). No Salmo, somos prometidos que “ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos” ( Salmo 91:11).

 

40. Esses textos nos mostram que o céu não está totalmente separado da terra. Isso abre a possibilidade de que aqueles que estão no céu possam interceder por nós. O livro de Zacarias nos apresenta um anjo de Deus que diz: “Então o anjo do Senhor falou e disse: ‘Senhor Todo-Poderoso, até quando reterás a tua misericórdia de Jerusalém e das cidades de Judá, sobre as quais tens estado irado por setenta anos?’” ( Zacarias 1:12). De maneira semelhante, o livro do Apocalipse fala dos “mortos”, os mártires no céu, que pedem a Deus que aja na terra para nos livrar da injustiça: “Quando o Cordeiro abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas de todos os que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: ‘Até quando, Senhor, santo e verdadeiro, demorarás em executar juízo e vingar o nosso sangue dos habitantes da terra?’” ( Apocalipse 6:9-10). Mesmo na tradição judaico-helenística, existia a crença de que os justos falecidos intercediam pelo povo (cf. 2 Macabeus 15:12-14).

 

41. Maria, que no céu ama os seus “filhos restantes” ( Ap 12,17), assim como acompanhou a oração dos apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), agora acompanha a nossa oração com a sua intercessão materna. Desta forma, ela continua a atitude de serviço e misericórdia que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), e dirige-se hoje a Jesus com as palavras: “Eles já não têm vinho” ( Jo 2,3). No seu hino de louvor, vemos Maria como a mulher do seu povo, louvando a Deus, porque “ele exalta os humildes e farta de bens os famintos” ( Lc 1,52-53). Pois “ele ajudará o seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia para com os nossos pais” ( Lc 1,54-55), e reconhecemos a prontidão de Maria quando ela vem imediatamente em auxílio da sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). Portanto, o povo de Deus confia firmemente em sua intercessão.

 

42. Entre os escolhidos e glorificados com Cristo, sua mãe ocupa o primeiro lugar. Portanto, podemos afirmar que há uma participação única de Maria na obra salvífica que Cristo realiza em sua Igreja. É uma intercessão que a torna um sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma, o Senhor, porque o quis livremente, dá à sua própria ação para conosco um rosto materno.[92]

 

Proximidade materna

43. As diversas invocações, imagens e santuários marianos são expressões desta maternidade real de Maria, que se revela próxima da vida de seus filhos. Um exemplo disso é a aparição da Mãe de Deus ao santo indígena Juan Diego no Monte Tepeyac, no México. Maria o chama com as ternas palavras de uma mãe: “Meu filho caçula, meu Juanito”. E quando ele lhe conta sobre as dificuldades em cumprir a tarefa que lhe foi confiada, Maria revela-lhe o poder de sua maternidade: “Não estou eu aqui, eu que tenho a honra de ser sua mãe? [...] Não estás tu no meu colo, no meio dos meus braços?”[93]

 

44. Esta experiência do afeto materno de Maria, que São Juan Diego teve, é a experiência pessoal dos cristãos que experimentam o afeto de Maria e que “a ela confiam as necessidades da vida diária e abrem seus corações com confiança para pedir sua intercessão materna e receber sua proteção consoladora”.[94] Além das extraordinárias expressões de sua proximidade, há expressões constantes e cotidianas de sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Mesmo que não peçamos diretamente sua intercessão, ela nos mostra sua proximidade como mãe para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar a autodoação salvífica de Cristo e a receber a ação santificadora do Espírito. Seu valor para a Igreja é tão grande que os pastores da Igreja devem evitar qualquer instrumentalização política dessa proximidade da Mãe. O Papa Francisco alertou sobre isso em diversas ocasiões e expressou sua preocupação com “as ideias de vários tipos, ideológica e culturalmente influenciadas, que buscam controlar o encontro de um povo com sua Mãe”.[95]

 

Mãe da Graça

 

45. Este significado de “Mãe dos Crentes” permite-nos falar da ação de Maria também em relação às nossas vidas de graça. Contudo, é preciso notar que certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, são facilmente impregnadas de imagens e simbolismos que, na verdade, transmitem outros conteúdos, menos aceitáveis. Por exemplo, Maria é retratada como tendo uma reserva de graça separada de Deus , e não é tão claro que o Senhor, na sua generosa e livre onipotência, tenha pretendido associá-la à comunicação daquela vida divina que brota de um único centro, a saber, o coração de Cristo, e não de Maria.[96] Ela também é frequentemente vista ou imaginada como uma fonte da qual flui toda a graça. Considerando que a habitação trinitária (graça incriada) e a participação na vida divina (graça criada) estão inextricavelmente ligadas, não podemos supor que este mistério possa ser condicionado por uma “passagem” pelas mãos de Maria. Tais ideias glorificam Maria de tal forma que a posição central do próprio Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser prejudicada. O Cardeal Ratzinger expressou a opinião de que o título Maria, Medianeira de todas as Graças, também não está claramente fundamentado na Revelação,[97] e de acordo com esta convicção podemos reconhecer as dificuldades que isto acarreta tanto para a reflexão teológica como para a espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como preparatória . Por um lado, devido à sua natureza intercessora, [98] pois a intercessão materna é uma expressão daquela “proteção materna” [99] que nos permite reconhecer em Cristo o único mediador entre Deus e a humanidade. Por outro lado, a sua presença materna em nossas vidas não impede diversas ações de Maria que motivam a abertura de nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, ela nos ajuda de várias maneiras a nos prepararmos para uma vida de graça , que só o Senhor pode nos conceder.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo e não de qualquer outro. Santo Agostinho afirmou que “o domínio da morte em cada pessoa é destruído somente pela graça do Redentor”[100], e ilustrou isso vividamente ao se referir à redenção do injusto: “Quem desejaria morrer por uma pessoa injusta, por uma pessoa ímpia, senão somente Cristo, que é tão inocente que pode justificar até mesmo o injusto? Portanto, meus irmãos, não tivemos obras meritórias, mas apenas transgressões”. Mas, embora as obras dos homens fossem tais, a sua misericórdia não os abandonou e [...] em vez do castigo que mereciam, deu-lhes a graça que não mereciam [...] para nos redimir, não pelo preço do ouro ou da prata, mas pelo preço do seu sangue derramado."[101] Assim, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode adquirir mérito para outro, ele responde que 'somente Cristo pode 'merecer' a primeira graça para outro'.[102] Nenhum outro ser humano pode 'merecê-la' no sentido estrito da palavra ( de condigno ), e sobre este ponto não pode haver dúvida: 'Ninguém pode ser justo senão aquele a quem são comunicados os méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo'.[103] A plenitude da graça de Maria também existe porque ela a recebeu sem qualquer mérito próprio, antes de qualquer ação sua, 'por causa dos méritos de Jesus Cristo, o Redentor do gênero humano'.[104] Somente os méritos de Jesus Cristo, que se entregou até o fim, são aplicados a nós para a nossa justificação, que, “já que seu objetivo é o bem eterno da participação divina, é uma obra mais excelente do que a criação do céu e da terra”.[105]

 

48. No entanto, o homem pode participar nisto com o seu desejo pelo bem do seu próximo, e é razoável ( congruo ) que Deus satisfaça este desejo de caridade, que o homem pode expressar “através da sua oração” ou “através de obras de misericórdia”.[106] É verdade que esta dádiva da graça só pode ser concedida por Deus, uma vez que “ultrapassa toda a medida da nossa natureza”[107] e existe uma distância infinita entre a nossa natureza e a sua vida divina.[108] Mas Deus pode fazê-lo satisfazendo o desejo da mãe, que se une alegremente como humilde serva à obra divina.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que fazer; ela intercede por nós, apresentando-nos as nossas falhas, necessidades e sofrimentos, para que Ele possa agir com o Seu poder divino:[109] “Eles já não têm vinho” ( João 2:3). Hoje também, ela nos ajuda a preparar-nos para a ação de Deus:[110] “Fazei tudo o que ele vos disser” ( João 2:5). As suas palavras não são uma simples instrução, mas tornam-se uma verdadeira pedagogia materna que, sob a ação do Espírito Santo, introduz as pessoas ao profundo significado do mistério de Cristo.[111] Maria escuta, decide e age,[112] para nos ajudar a abrir as nossas vidas a Cristo e à Sua graça,[113] pois só Ele opera nas profundezas do nosso ser.

 

Para um lugar que só Deus pode alcançar.

50. Como nos recorda o Catecismo , a graça santificante é “antes de tudo o dom do Espírito que nos justifica e santifica”;[114] não é simplesmente um auxílio, uma energia que se possui, mas “é o dom gratuito de Deus para nós, a sua vida, que é derramada nas nossas almas pelo Espírito Santo”[115] que pode ser descrita como a habitação da Santíssima Trindade no nosso ser mais íntimo, como amizade com Deus, como uma aliança com o Senhor. Só Deus é capaz disto, porque implica vencer uma distância “infinita”.[116] Esta “autodoação” da Trindade, esta “entrada na alma” ( illabitur )[117] por parte do próprio Deus, implica um efeito transformador no ser mais íntimo do crente.[118] São Tomás de Aquino usa o verbo illabi , aplicável somente a Deus , para esta penetração na parte mais íntima do ser humano, visto que somente Deus, não sendo uma criatura, é capaz desta intimidade pessoal (com o homem) sem violar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Somente Deus alcança a parte mais íntima de uma pessoa para elevá-la e transformá-la quando se revela a ela como um amigo, e portanto “nenhuma criatura pode conceder a graça”.[120] São Tomás repete isso ao falar da graça sacramental: Como causa principal , “só Deus efetua a ação interior do sacramento. Pois só ele penetra na alma onde a ação sacramental é realizada (ninguém pode agir diretamente onde ele não está presente), de modo que a graça, que é um efeito interior do sacramento, vem somente de Deus”.[121]

 

51. Outros autores expressaram opiniões semelhantes,[122] com menção particular a São Boaventura. Ele ensinou que, quando Deus opera em uma pessoa com a graça santificante, concede-lhe absoluta proximidade consigo mesmo.[123] Por meio da graça, Deus se aproxima do homem com absoluta proximidade, por uma “penetração” no íntimo do ser humano, da qual somente Ele é capaz.[124] A própria graça criada não age como “mediadora”, mas é o efeito imediato da amizade que Deus concede ao tocar diretamente o coração humano. Visto que é Deus quem efetua a transformação do homem quando este se volta para Ele como amigo, não há mediador entre Deus e o ser humano transformado.[125] Somente Deus é capaz de penetrar tão profundamente — com absoluta proximidade — a fim de santificar, e somente Ele pode fazê-lo sem obliterar a pessoa humana.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e unigênito de Deus[127] assume uma natureza humana, que ocupa uma posição única na economia da salvação. Unida hipostaticamente ao Filho por uma graça que é “indubitavelmente infinita”,[128] esta humanidade “recebeu a graça no mais alto grau. Devido à prerrogativa da graça que recebeu, é seu direito [ competit sibi ] transmitir esta graça aos outros. Este é o seu direito como Cabeça”.[129] Esta humanidade participa da efusão da graça santificante, que flui dele ou “flui”.[130] Consequentemente, Cristo é “ segundo a sua humanidade o princípio de toda a graça” como Cabeça de quem a graça é derramada sobre os outros (“ in alios transfunderetur ”).[131] Esta natureza humana de Cristo está indissoluvelmente ligada à nossa salvação, pois “com a Encarnação, todos os atos salvíficos do Verbo de Deus são sempre realizados em unidade com a sua natureza humana, que ele assumiu para a salvação de todos os homens”.[132] Através desta natureza humana assumida, o Filho de Deus “uniu-se de certo modo a cada ser humano” e “como um cordeiro sacrificial inocente, derramou voluntariamente o seu sangue e obteve vida para nós”.[133] Pela graça, os crentes estão unidos a Cristo e participam do seu Mistério Pascal, de modo que lhes é possível uma união íntima e única, que São Paulo expressa nas palavras: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” ( Gl 2,20).

 

53. Nenhuma pessoa humana, nem mesmo os Apóstolos ou a Mãe de Deus, pode agir como doadora universal da graça. Somente Deus pode conceder a graça,[134] e o faz por meio da humanidade de Cristo,[135] pois “a plenitude da graça em Cristo, na forma de homem , pertence a ele como Filho unigênito do Pai”.[136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja preeminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela é, como nós, filha adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, “filha de vosso Filho”.[137] Ela age na economia da salvação por meio de uma participação derivada e subordinada; portanto, qualquer menção à “mediação” da graça por Maria deve ser entendida em remota analogia a Cristo e à sua mediação única.[138]

 

54. Nem mesmo Maria pode intervir na perfeita imediaticidade entre o homem e Deus na comunicação da graça. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação da Santíssima Trindade podem ser entendidas como algo que nos chega por meio de Maria ou dos santos. O que podemos afirmar com certeza é que Maria deseja esse bem para nós e reza por ele conosco. A liturgia, que é também a lex credendi , permite-nos afirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça em si, mas na intercessão materna. Na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, quando se explica em que sentido o privilégio foi concedido a Maria em relação ao bem do povo, afirma-se que ela foi designada como “advocata gratiae”[139], isto é, como advogada que intercede por nós pedindo o dom da graça.

 

55. O Concílio Vaticano II ensina que, por meio da salutar “influência da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens, a união imediata dos fiéis com Cristo não é de modo algum impedida, mas antes promovida”.[140] Por esta razão, deve-se evitar qualquer descrição que, de maneira neoplatônica, sugira uma espécie de efusão encenada da graça, como se a graça de Deus descesse por meio de vários mediadores — como Maria — enquanto sua fonte real (Deus) permanece separada de nossos corações. Tais interpretações prejudicam a correta compreensão do encontro íntimo, direto, imediato e produtor de graça entre o Senhor e os corações dos fiéis.[141] É claro: somente Deus é a fonte da justificação,[142] somente o Deus Trinitário. Somente Ele nos eleva para vencer a distância infinita que nos separa da vida divina; somente Ele opera sua habitação trinitária em nós; somente Ele tem acesso ao nosso ser interior; Ele nos transforma e nos concede a participação em sua vida divina. Maria não é honrada ao se atribuir a ela qualquer mediação na realização desta obra exclusivamente divina.

 

A água viva que flui

56. Apesar de Maria ser cheia de graça e de a bondade tender sempre a comunicar-se, surge facilmente a ideia de que Maria possui uma espécie de “abundância” de graça, o que só faz sentido se não contradizer o que foi dito até agora. Isto não apresenta dificuldades quando se refere, em particular, às formas de cooperação de Maria já mencionadas (intercessão e proximidade materna, que nos convidam a preparar os nossos corações para a graça santificante), que o Concílio Vaticano II descreveu como uma “participação diferente” da criatura “na única fonte”.[143]

 

57. O caráter fundamentalmente preparatório da participação dos fiéis — especialmente de Maria — na mediação da graça se expressa na interpretação tradicional das “correntes de água viva” que brotam dos corações dos fiéis (cf. Jo 7,38). Embora esta seja uma imagem poderosa que poderia ser interpretada como os fiéis sendo canais para uma transmissão perfeita da graça santificante, os Padres da Igreja, ao discutirem como ocorre esse derramamento das correntes do Espírito, ilustraram-no por meio de ações preparatórias, como a pregação, a instrução e outras formas de transmissão da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica isso ao conhecimento das Sagradas Escrituras ou à percepção de seu conteúdo espiritual.[144] Para São Cirilo de Alexandria, esse transbordamento de água significa o ensinamento dos mistérios da fé,[145] 'mistagogia pura' em seu sentido mais profundo, que não deve ser entendida meramente intelectualmente, mas significa a disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém diz que é o ensinamento das Sagradas Escrituras quando conduz à luz.[147] São João Crisóstomo se refere à sabedoria de Estêvão ou à autoridade da palavra de Pedro.[148] Santo Ambrósio de Milão diz: “Estes são os rios que ouvem e falam a palavra de Deus com os seus ouvidos, para derramar a palavra nos corações de todos”,[149] e aplica-o desta forma: “para que a água da doutrina celestial possa fluir [...], para que o néctar da palavra do Senhor possa aspergir o coração de todos”.[150][151] Para São Jerônimo, também, a água é a doutrina do Redentor,[152] assim como para São Gregório Magno, que ensina que ela significa, [também do interior do homem] “boa vontade para com o próximo”.[153] Estas interpretações das correntes de água viva que fluem do interior dos fiéis centram-se no conhecimento das Sagradas Escrituras e dos seus mistérios e geralmente referem-se não a um conhecimento puramente intelectual, mas a um conhecimento sapiencial e iluminador do coração, que serve para abrir à realidade dos próprios mistérios da fé.

 

59. Encontramos também explicações mais extensas em outros Padres da Igreja e Doutores da Igreja, que, além da pregação ou catequese, incluem também obras que ajudam o próximo necessitado ou um testemunho de amor. Por exemplo, Santo Hilário de Poitiers entende as correntes de água viva como as obras de virtude realizadas pelo Espírito Santo, que servem ao bem do próximo.[154] Santo Agostinho aplica esta imagem à "benevolência com que se quer ajudar o próximo".[155] Na Idade Média, esta visão continuou até São Tomás de Aquino, para quem as correntes de água viva se manifestam porque, quando alguém "se apressa em socorrer o próximo e transmite aos outros vários dons de graça recebidos de Deus, [...] águas vivas"[156] fluem de dentro dele.

 

60. Quando São Tomás fala dos “diferentes dons da graça” para o serviço ao próximo, ele se refere aos diferentes dons carismáticos, pois “como está escrito ( 1 Cor 12,10), a um é dado o dom de línguas, a outro o dom da cura, etc.”[157] Este aspecto também é encontrado em São Cirilo de Jerusalém, que destaca que as correntes do Espírito, mediadas pelos fiéis, se revelam quando “ele […] usa a língua de alguns para o carisma da sabedoria, ilumina a mente de outros com o dom da profecia; a estes últimos, dá o poder de expulsar demônios […]. Fortalece a temperança em alguns, a misericórdia em outros; a estes últimos, ensina a perseverar no jejum e nos exercícios de uma vida ascética.”[158]

 

61. Podemos dizer algo semelhante a respeito da interpretação de João 14:12, que fala de crentes que realizam “obras maiores” ( meizona ) do que o Cristo terreno. Os crentes participam da obra de Cristo na medida em que eles também, de certa forma, levam outros à fé por meio da proclamação da Palavra. Isso é explicitamente declarado em João 17:20b: “os que creem em mim por meio da palavra deles”. O mesmo é sugerido em João 14:6-11, onde são as obras de Cristo que revelam o Pai (v. 8). As obras dos crentes que se concentram em proclamar o evangelho por meio da Palavra são colocadas em paralelo com as obras de Cristo. Jesus proclama: “Se eles guardaram a minha palavra, também guardarão a tua” ( João 15:20c). E assim como aqueles que ouvem a palavra de Cristo têm a vida eterna (cf. João 5:24), proclama Jesus, também outros chegarão à fé por meio da palavra dos crentes (cf. João 17:20). Mas não se trata apenas das palavras, mas também do testemunho eloquente dos crentes, e por isso Jesus pede ao Pai que os crentes sejam um, para que “o mundo creia” ( João 17:21).

 

Amor que se comunica com o mundo

62. O Evangelho de João associa intimamente o amor fraterno à partilha de bens. A afirmação “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” ( João 14:15) é, de fato, um paralelo a “Quem crê em mim fará também as obras que eu faço” ( João 14:12). Quando Cristo fala do fruto que espera de seus discípulos, ele o identifica, em última análise, com o amor fraterno (cf. João 15:16-17). São Paulo, também, depois de falar das várias obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Coríntios 12), propõe um caminho superior quando diz: “Mas buscai com zelo os maiores dons ( ta meizona ). Para isso vos mostrarei um caminho superior ( kath'hyperbolēn ): o amor” ( 1 Coríntios 12:31; cf. 13:1). As obras de caridade, mesmo o trabalho diário ou os esforços para mudar este mundo, tornam-se, então, um canal para participar da obra de salvação de Cristo.

 

63. Papas recentes também expressaram sentimentos semelhantes. São João XXIII ensinou: “Portanto, quando os fiéis estão unidos de todo o coração ao nosso santo Redentor em seu trabalho no mundo, seu trabalho, em certo sentido, continua a obra do próprio Jesus Cristo; recebe dele poder e força redentores [...] e ajuda a comunicar e difundir as bênçãos da redenção cristã aos outros.” [159] São João Paulo II compreendeu essa cooperação como uma restauração, realizada em conjunto com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa do pecado, pois “o Coração de Cristo queria nossa cooperação para restaurar a bondade e a beleza”, e “esta é a verdadeira reparação exigida pelo Coração do Redentor.” [160] O Papa Bento XVI enfatizou: “Como recipientes do amor de Deus, as pessoas são designadas a serem portadoras da caridade e são chamadas a se tornarem instrumentos da graça, a difundir o amor de Deus e a tecer redes de caridade.” O ensinamento social da Igreja aborda essa dinâmica de amor recebido e dado. [161] E o Papa Francisco ensinou que, para Santa Teresa de Lisieux, não se trata apenas de permitir que o Coração de Cristo, por meio da confiança plena, difunda a beleza do seu amor nos nossos corações, mas também de permitir que ele, por meio da própria vida, alcance os outros e transforme o mundo [...] e o transforme em atos de amor fraterno com os quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, damos nova expressão ao poder curativo do Coração de Cristo. [162]

 

64. Esta é a cooperação possibilitada por Cristo e realizada pela ação do Espírito Santo, que, no caso de Maria, difere da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que o próprio Cristo lhe atribuiu na cruz.

 

critérios

65. Qualquer outra forma de entender esta cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir-lhe alguma forma de intervenção ou instrumentalidade aperfeiçoadora ou causalidade secundária na mediação da graça santificante[163], deve prestar particular atenção a alguns critérios já indicados na Constituição Dogmática Lumen gentium :

 

a) É importante considerar como Maria facilita nossa união “imediata”[164] com o Senhor, que ele mesmo realiza ao nos conceder a graça, e que só podemos receber de Deus,[165] sem, contudo, entender a união com Maria como mais imediata do que a união com Cristo. Esse perigo surge especialmente da ideia de que Cristo coloca Maria ao nosso lado como um meio ou causa secundária aperfeiçoadora na comunicação de sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II enfatizou que “toda influência salutar da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens não provém de qualquer necessidade objetiva, mas da boa vontade de Deus”.[166] Esta influência só pode ser concebida como resultante da livre decisão de Deus, que, embora as suas próprias ações sejam abundantes e múltiplas, livre e gratuitamente deseja incluir Maria na sua obra. Portanto, não é permitido apresentar as ações de Maria como se Ele precisasse delas para a sua obra salvífica.

 

c) Não devemos entender a mediação de Maria como um suplemento através do qual Deus pode operar perfeitamente, com maior riqueza e maior beleza, mas sim de tal forma que “[isso] não diminui nem aumenta a dignidade e a eficácia de Cristo, o único Mediador”.[167] Ao explicar a mediação de Maria, deve-se enfatizar que Deus é o único Redentor, que aplica exclusivamente os méritos de Jesus Cristo, os quais são os únicos necessários e plenamente suficientes para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em nada do que Ele não faz (ela não tira nem tira nada). Se, na comunicação da graça, ela nada acrescenta à mediação da salvação de Cristo, Maria não deve ser considerada o instrumento principal deste dom.[168] Se ela acompanha uma ação de Cristo, através da ação do próprio Cristo, isso não é de modo algum comparável à sua ação. Mas, não obstante, uma vez que está unida a Ele, é Maria quem recebe de seu Filho um dom que a eleva muito acima de si mesma, pois lhe é concedido acompanhar a obra do Senhor com a sua natureza materna. Retornamos, portanto, ao ponto mais certo, a contribuição preparatória de Maria , que pode ser pensada como uma ação na qual ela contribui com algo de si mesma, na medida em que ela 'pode de alguma forma preparar os outros',[169] pois 'é o poder supremo que conduz ao fim final, enquanto os poderes inferiores contribuem para a obtenção deste fim final através da preparação . '[170]

 

66. Tudo o que foi dito até agora não se dirige contra Maria nem a diminui, pois todo o seu ser está voltado para o seu Senhor: “A minha alma engrandece ao Senhor!” ( Lucas 1:46). Para ela, não há glória senão a glória de Deus. Como mãe, a sua alegria é dupla quando vê Cristo revelar a beleza inexaurível e abundante da sua glória, curando, transformando e preenchendo com Ele os corações dos filhos que acompanhou na sua caminhada até o Senhor . Portanto, qualquer foco nela que nos distraia de Cristo ou a coloque no mesmo nível do Filho de Deus permaneceria fora da dinâmica inerente a uma genuína fé mariana.

 

As graças

67. Alguns títulos, como Medianeira de Todas as Graças , têm limitações que não facilitam uma compreensão adequada do papel único de Maria. De fato, ela, a primeira redimida, não poderia ter sido Medianeira da graça que ela mesma recebeu. Este não é um detalhe insignificante, pois revela algo central: que mesmo no caso dela, o dom da graça precede e procede da iniciativa absolutamente livre do Deus Trino em vista dos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não “mereceu” sua justificação por qualquer conquista anterior[171] nem por qualquer posterior[172]. Para Maria também, sua amizade com Deus pela graça será sempre um dom imerecido. Sua forma preciosa é o melhor testemunho da receptividade fiel de uma pessoa que, mais e melhor do que todas as outras, foi dócil e totalmente aberta à ação de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Por outro lado, o título mencionado acarreta o risco de se encarar a graça divina como se Maria fosse uma distribuidora de bens ou energias espirituais, independente da nossa relação pessoal com Jesus Cristo. Contudo, a expressão “graças”, referindo-se à assistência maternal de Maria em vários momentos da vida, pode ter um significado aceitável. O plural expressa toda a ajuda, incluindo a ajuda material, que o Senhor pode nos conceder por intercessão da Mãe; ajuda que, por sua vez, prepara os corações para se abrirem ao amor de Deus. Assim, Maria, como Mãe, está presente no dia a dia dos fiéis de uma forma que supera em muito a proximidade de qualquer outro santo.

 

69. Por sua intercessão, ela pode implorar por nós os impulsos interiores do Espírito Santo, que chamamos de “graças atuais”. Estas são as ajudas do Espírito Santo que atuam também nos pecadores para prepará-los para a sua justificação,[173] e também naqueles que já são justificados pela graça santificante, para encorajá-los a um maior crescimento. É precisamente neste sentido que o título “Mãe da Graça” deve ser compreendido. Ela humildemente nos ajuda a abrir nossos corações ao Senhor, que somente ele pode nos justificar pela ação da graça santificante, isto é, quando derrama em nós a sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos permite participar da sua vida divina. Esta é unicamente a obra do próprio Senhor, mas não exclui a possibilidade de que, por meio da obra materna de Maria, palavras, imagens e diversas sugestões possam chegar aos fiéis, ajudando-os a progredir na vida, a preparar seus corações para a graça que o Senhor derrama ou a crescer na vida da graça recebida sem ser merecida.

 

70. Essas ajudas que o Senhor nos concede são oferecidas em forma materna, repletas da ternura e proximidade da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19,25-28). Maria realiza, assim, uma atividade única para nos ajudar a abrir nossos corações a Cristo e à sua graça santificadora, que restaura e cura. Quando ela se comunica despertando diversos “movimentos”, estes devem sempre ser compreendidos como impulsos para abrirmos nossas vidas Àquele que age em nós.

 

Nossa união com Maria

71. O Concílio preferiu referir-se a Maria como “[Mãe] na ordem da graça”[174], o que expressa melhor a universalidade da cooperação materna de Maria e é, em certo sentido, indiscutível: ela é a Mãe de Cristo, para quem a graça é absoluta e a autora de toda a graça.

 

72. Esta maternidade de Maria na ordem da graça , que resulta do Mistério Pascal de Cristo, significa também que cada discípulo entra numa “relação única e irrepetível” com Maria. São João Paulo II falou de uma “dimensão mariana na vida dos discípulos de Cristo”, que se expressa como uma “resposta ao amor de uma pessoa e, em particular, ao amor da Mãe”.[175] A vida da graça inclui a nossa relação com a nossa Mãe. A união com Cristo pela graça une-nos, ao mesmo tempo, a Maria numa relação de confiança, ternura e afeição incondicional.

 

O primeiro discípulo

73. Ela “[é] a primeira discípula que melhor aprendeu as coisas de Jesus”.[176] Maria é a primeira entre aqueles que “ouvem a palavra de Deus e a praticam” ( Lc 11,28); ela é a primeira a ir ao encontro dos humildes e pobres do Senhor, para que possamos aprender a esperar e receber com confiança a salvação que vem somente de Deus. Assim, Maria tornou-se “ em certo sentido a primeira ‘discípula’ de seu Filho , a primeira a quem ele pareceu dizer: ‘Segue-me’, mesmo antes de dirigir este chamado aos apóstolos ou a qualquer outra pessoa (cf. Jo 1,43)”.[177] Ela é um modelo de fé e amor para a Igreja por meio de sua obediência à vontade do Pai, por sua cooperação na obra redentora de seu Filho e por sua abertura à ação do Espírito Santo.[178] É por isso que Santo Agostinho disse que “para Maria, ser discípula de Cristo era mais importante do que ser mãe de Cristo”.[179] E o Papa Francisco enfatizou que 'ela é mais discípula do que mãe'.[180] Maria é, em última análise, 'a primeira e mais perfeita discípula de Cristo'.[181]

 

74. Para todo cristão, Maria é “a primeira a crer”, e é precisamente “com esta fé, como Virgem e Mãe, que ela deseja influenciar todos aqueles que se confiam a ela como filhos”.[182] E faz isso com um afeto expresso em muitos sinais de proximidade, que os ajudam a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo opere cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina todos os cristãos a receber a graça, a valorizar a graça recebida e a refletir sobre a obra que Deus realiza em suas vidas (cf. Lc 2,19).

 

75. No caso de alegados fenómenos sobrenaturais que tenham recebido um juízo positivo da Igreja e nos quais apareçam algumas das expressões ou títulos acima mencionados, deve-se ter em consideração o seguinte: “Se o Dicastério conceder um Nihil obstat […], tais fenómenos não se tornam objetos de fé – isto é, os fiéis não são obrigados a dar-lhes assentimento.”[183]

 

Mãe do povo fiel

 

76. “Maria, a primeira discípula, é a mãe.”[184] Na cruz, Cristo nos dá Maria e, assim, “nos conduz a ela, pois não quer que andemos sem mãe.”[185] Ela é a mãe fiel que se tornou a “mãe de todos os crentes”[186] e, ao mesmo tempo, é “a mãe da Igreja missionária”[187], que nos acolhe como Deus quis que fôssemos chamados a reunir, não apenas como indivíduos isolados, mas como um povo a caminho.[188] “Nossa mãe Maria sempre quer caminhar conosco, estar perto de nós e nos amparar com sua intercessão e seu amor.”[189] Ela é a mãe do povo fiel, que “caminha entre o seu povo, movida por uma ternura carinhosa, e cuida de seus medos e infortúnios.”[190]

 

O amor faz uma pausa, contempla o mistério e se alegra no silêncio.

77. Quando os fiéis se voltam para ela, não se distanciam de Cristo nem do Evangelho, mas podem ler “nesta imagem materna todos os mistérios do Evangelho”.[191] Pois neste semblante materno veem refletido o Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que está diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina para nós e nos pressiona contra a sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e que não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). No semblante materno de Maria, muitos pobres reconhecem o Senhor que “derruba os poderosos dos seus tronos e exalta os humildes” (cf. Lc 1,52). O rosto desta mulher canta o mistério da Encarnação. Neste rosto da Mãe, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e neste mesmo rosto, banhado pela luz pascal, reconhece que Cristo vive. E ela, que recebeu o Espírito Santo em abundância, é quem ampara os Apóstolos na oração no Cenáculo (cf. At 1,14). Portanto, podemos dizer que “em certo sentido, a fé de Maria, com base no testemunho apostólico da Igreja, torna-se incessantemente a fé do Povo de Deus em sua peregrinação”.[192]

 

78. Como disseram os bispos latino-americanos, os pobres encontram “no rosto de Maria a terna afeição e o amor de Deus. Nela reconhecem a essência da mensagem do Evangelho”.[193] Os simples e os pobres não separam a Mãe gloriosa de Maria de Nazaré, que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, reconhecem a simplicidade por trás da glória e sabem que Maria não deixou de ser uma deles. Ela é aquela que, como toda mãe, carregou seu filho no ventre, amamentou-o, criou-o com amor com a ajuda de São José e não desconhecia as dificuldades e os questionamentos da maternidade (cf. Lc 2,48-50). Ela é aquela que canta sobre Deus, que “sacia os famintos e despede os ricos de mãos vazias” ( Lc 1,53), que se compadece dos noivos que ficam sem vinho para a festa de casamento (cf. Jo 2,3), que corre em auxílio de seu primo necessitado (cf. Lc 1,39-40), que se sente como se fosse transpassada por uma espada por causa da história de seu povo, na qual seu filho é “um sinal de contradição” ( Lc 2,34), que entende o que significa ser migrante ou exilado (cf. Mt 2,13-15), que em sua pobreza só pode oferecer dois pombinhos em sacrifício (cf. Lc 2,24) e que sabe o que significa ser desprezada por pertencer à família de um pobre carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). Os povos sofredores reconhecem Maria como companheira em sua jornada e, portanto, recorrem à sua mãe para pedir sua ajuda.[194]

 

79. A presença da Mãe dá origem a uma piedade mariana “popular”, que encontra diferentes expressões entre os diferentes povos. As várias faces de Maria (coreana, mexicana, congolesa, italiana e tantas outras) são formas de inculturação do Evangelho, refletindo em todas as partes do mundo a “ternura paterna de Deus”[195] que atinge o próprio coração dos nossos povos.

 

80. Consideremos a fé do Povo de Deus, na qual multidões de irmãos e irmãs reconhecem espontaneamente Maria como sua Mãe, assim como o próprio Cristo a ofereceu a nós na Cruz. O Povo de Deus desfruta de peregrinações aos diversos santuários marianos, onde encontra consolo e força para a sua jornada, como aqueles que, em meio ao cansaço e à dor, recebem o carinho da Mãe. A Assembleia Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teológico desta experiência. Por isso, convém concluir esta nota com estas palavras:

 

“ Damos especial ênfase às peregrinações: nelas, o povo de Deus está em movimento. Os fiéis se alegram por poderem mergulhar em um grupo tão grande de irmãos e irmãs e caminhar com eles rumo a Deus, que os espera a todos. O próprio Cristo se torna peregrino e, como Ressuscitado, viaja com os pobres. A decisão de partir em peregrinação para um lugar de culto já é uma profissão de fé; a própria jornada é verdadeiramente um cântico de esperança, e a chegada, um encontro de amor. O olhar do peregrino se dirige para uma representação pictórica que simboliza a proximidade e o terno afeto de Deus. O amor se detém, contempla o mistério e se alegra nele em silêncio. Sente-se também uma profunda comoção e deixa-se desprender o peso de todo o sofrimento e de todas as ilusões. A genuína oração de súplica, que flui confiantemente do coração, expressa melhor que se despediu de toda a autossatisfação e compreendeu que nada se pode realizar sozinho. Um breve instante pode encapsular uma vívida experiência espiritual.” [196]

 

Mãe dos fiéis, rogai por nós.

 

O Papa Leão XIV aprovou a presente nota, que foi adotada na Sessão Ordinária deste Dicastério em 26 de março de 2025, no dia 7 de outubro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, e ordenou a sua publicação.

 

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, o memorial litúrgico de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Kard. Fernandez

 

prefeito

 

Prelado Armando Matteo

 

Secretário

 

para a seção doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

7 de outubro de 2025

 

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[1] Ver Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para o Procedimento de Avaliação de Alegados Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns desses fenômenos ou aparições, a Virgem Maria recebe títulos como Corredentora, Redentora, Sacerdotisa, Medianeira, Medianeira de todas as Graças, Mãe Espiritual, etc.

 

[4] Cf. São Paulo VI, Carta Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. Ibid ., nº 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. Ibid ., nº 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] Olá. Johannes Paul II., Generalaudienz (9. abril de 1997), Nr. 3: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e Abertura da Porta Santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação entre Adão e Cristo nos textos paulinos ( Rm 5,18-19 e 1 Cor 15,22) serviu aos Padres da Igreja como base para o paralelo Eva-Maria; por exemplo, São Justino, Dialogus cum Tryphon, 100, 5-6: PG 6, 710CD-711A; Santo Irineu de Lyon, Adversus haereses, III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi , 17, 5: PL 1, 782B. Este paralelismo antitético Eva-Maria é a primeira abordagem dos Padres da Igreja ao tema da participação de Maria na obra redentora de Cristo: se Eva nos trouxe a destruição, a fé de Maria nos trouxe a salvação. A grande riqueza de testemunhos nos escritos patrísticos sobre o tema da Virgem Maria como a nova Eva oferece elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher , porque em Maria a mulher recupera seu esplendor original e encontra sua plenitude final; b) Maria e Cristo como esposa, que com seu filho forma o binômio exemplar e redentor da recapitulação messiânica ou da restauração messiânica; c) Maria e a Igreja , visto que se percebe em Maria uma relação dupla com a Igreja: a de modelo, protótipo e mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Veja, por exemplo, Santo Efrém, Hinos da Natividade: SC 459; São João Damasceno, In dormitionem Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Veja, por exemplo, Octoëchus magnus, Roma 1885, 152: “Por meio de ti, tornamo-nos participantes da natureza divina, ó Sempre Virgem, Mãe de Deus, pois tu geraste o Deus encarnado por nós; portanto, cantamos-te com reverente louvor” (tradução do grego do Theotokion do Kathisma poético da primeira Stasis ). Outro exemplo mais significativo de devoção mariana é o famoso Hino Acatisto (do século V) em 24 estrofes; o título significa simplesmente que se o segue de pé, não sentado como na leitura do Evangelho, como sinal de especial veneração à Virgem Maria, a quem o poeta adorna com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas, pedindo-lhe que aceite o seu sacrifício poético e que interceda pela redenção da humanidade do pecado terreno: cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos. Inno alla Madre di Dio , Roma 2017.

 

[15] A evidência mais antiga vem do Egito cristão do século III (cf. Papiro 470 na Biblioteca John Rylands [Manchester, Reino Unido]), que contém em grego a oração de Maria, também conhecida em latim: Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatis, sed a periculis cunctis libera nos sempre, Virgo gloriosa et benedicta.

 

[16] As representações tradicionais da Mãe de Deus baseiam-se, em particular, em três protótipos iconográficos: a Hodēghētria , que aponta com a mão “o caminho” para o seu filho Jesus Cristo no colo; a Eleousa , a Terna, em quem o vínculo íntimo entre mãe e filho é mostrado pelo rosto do Menino Jesus repousando contra o rosto de Maria; e a Platytera , a “Mais Além dos Céus”, porque carrega Cristo dentro de si e, portanto, o Menino Jesus é representado em seu peito. A maioria das outras figuras deriva dessas três formas básicas, como a Galaktotrophousa , que amamenta a criança em seu seio; a Kyriōtissa , a Senhora, que segura a criança nos joelhos como se estivesse em um trono; a Panhagia , ou Santíssima, envolta em um manto vermelho como sinal da plenitude da santidade; ou a Desis , que aparece entronizada em majestade ( Pantokratōr ) à direita de seu filho e, junto com São João Batista à esquerda, intercede por nós. Em outros ícones, Maria aparece em intercessão junto com os outros santos, frequentemente com São João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo Povo de Deus.

 

[17] Cf. Bento XVI., Generalaudienz (27. maio 2009): L'Osservatore Romano , 28. maio 2009, 1; Olá. Gregory v. Narek, Prex 26 e 80 ad Deiparam: SC 78, 160-164, 428-432.

 

[18] Autores orientais como São Tiago de Sarug († 521), São Romano o Melod († 555-562), São João Damasceno († 749) e Joannes Géomètres († 1000) já haviam abordado a questão da participação de Maria no sacrifício redentor de Cristo na cruz.

 

[19] Ver São Bernardo de Claraval, In Purificationem Deiparae , III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Ver Arnaldus von Bonneval OSB, De laudibus BM Virginis I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] No Magistério anterior ao Concílio Vaticano II, devem ser mencionados: Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Encíclica Iucunda sempre expecte (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1895), 177-184; Ders., Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Encíclica Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta Apostólica Inter sodalicia, à Sociedade de Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Ders., Encíclica Ad caeli Reginam , (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22]II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium, nº. 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “…A Bem-Aventurada Virgem Maria [foi] preservada de toda mancha do pecado original no primeiro instante de sua concepção pela singular graça e favor de Deus Todo-Poderoso em consideração aos méritos de Cristo Jesus, Redentor do gênero humano”; Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 53: AAS 57 (1965), 58: “Redimida de modo sublime em consideração aos méritos de seu Filho”.

 

[24] Ver Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] São Paulo VI, Carta Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “ama de leite materna”; cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987) , n.º 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia para a Solenidade da Anunciação do Senhor (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. São Paulo VI, Carta Apostólica Signum magnum (13 de maio de 1967), n.º 5: AAS 59 (1967), 469: “Quando Maria recebeu a certeza pela voz do anjo Gabriel de que Deus a havia escolhido para ser a mãe inviolável de seu Filho unigênito, ela imediatamente consentiu em uma obra que exigiria toda a força de sua natureza delicada, declarando: ‘ Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’ ( Lc 1,38)”.

 

[29] HU von Balthasar , Theodramatics. Vol. 2 The Characters of the Play. Part 2 The Characters in Christ, Einsiedeln 2 1998, 272; cf. São Cirilo de Alexandria, Segunda Carta a Nestório: DH 251: “E assim eles [os santos Padres] ousadamente se propuseram a chamar a santa Virgem Mãe de Deus”; Concílio de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Pelo que sabemos, isso ocorreu no século XV; um hinógrafo beneditino deixou a seguinte oração manuscrita, preservada na Abadia de São Pedro em Salzburgo: “ Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ” . que sofre com o Redentor, então serás co-redentora do pecador cativo”. De compaixão BMV , 20: G.M. Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi, XLVI, Leipzig 1905, nos. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título Corredentora de diferentes maneiras: a) como cooperação direta, semelhante à de Cristo, ou máxima , que associa a colaboração de Maria como sendo muito próxima, direta e imediata à própria salvação (salvação objetiva). Nesse sentido, os méritos de Maria, mesmo que subordinados aos de Cristo, teriam um valor redentor para a salvação; b) uma cooperação mediada ou melhor, mínima , que se limitaria ao “sim” da Anunciação. Seria uma cooperação mediadora que torna possível a Encarnação como etapa preliminar da salvação; c) uma cooperação diretamente receptiva ou eclesiotípica , que participa da salvação objetiva no sentido de que ela aceita os frutos do sacrifício redentor do Redentor vicariamente pela Igreja, no sentido de uma cooperação direta, mas receptiva, visto que Maria recebeu a salvação de Cristo de forma bastante simples e se tornou a “primeira Igreja”.

 

[32] Durante o pontificado de São Pio X, o título Corredentora aparece em um documento da Congregação dos Ritos e em dois documentos do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, no qual se faz o voto de acrescentar ao nome de Jesus o nome de “sua Mãe, nossa Corredentora, a Bem-Aventurada Maria”; Ibid., Oração de Indulgência (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual Maria é referida como “Corredentora da raça humana”. O primeiro papa a usar o termo Corredentora foi Pio XI, em um breve papal de 20 de julho de 1925, no qual se dirige a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia; Pio XI, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana : Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628: “Lembra-te também que te tornaste Corredentora no Gólgota, pois tu, com teu Filho crucificado, pela crucificação de teu coração, participaste da salvação do mundo”; cf. o mesmo, discurso “ Ecco di nuovo” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 de dezembro de 1933, p. 1.

 

[33] Ver Idem, Mensagem radiofônica por ocasião da conclusão do Ano Santo da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): L’Osservatore Romano , 29-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Ver Ders., À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário do Vale de Pompeia: Sacra Poenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum, No.

 

[35] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): L'Osservatore Romano, 11 de dezembro de 1980, 2; Idem, Audiência Geral (8 de setembro de 1982): L'Osservatore Romano, 10 de setembro de 1982, 2; Idem, Angelus (4 de Novembro de 1984): L'Osservatore Romano, 5-6 de Novembro de 1984, 7; Idem, Homilia no Santuário de Nossa Senhora da Madrugada em Guayaquil (Equador) (31 de janeiro de 1985): L'Osservatore Romano, 2 de fevereiro de 1985, 6; Idem, Angelus (31 de março de 1985): L'Osservatore Romano, 1-2 de abril de 1985, 10; Idem, Discurso aos peregrinos da “Opera Federativa Trasporto Ammalati a Lourdes” (OFTAL) (24 de março de 1990): L'Osservatore Romano, 25 de março de 1990, p. 4; Idem, Angelus (6 de outubro de 1991): L'Osservatore Romano, 7-8 de outubro de 1991, p. 7. Após a Feria IV da então Congregação para a Doutrina da Fé, de 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II deixou de usar o título de Corredentora. É importante notar também que esse título não aparece em sua encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), embora seja o documento por excelência no qual o Papa apresenta a importância de Maria na obra da salvação.

 

[36] J. Cardeal Ratzinger, Protocolo da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , original italiano nos arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] J. Ratzinger – P. Seewald, Deus e o Mundo. Fé e Vida em Nosso Tempo. Uma Conversa com Peter Seewald, Munique 3 2001, 263-264.

 

[38] Francisco, Homilia para a Memória de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Idem, Meditações Diárias. As Sete Dores de Maria (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8

 

[40]Idem, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Pio XII, Encíclica Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), n.º 10: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Ver Santo André de Creta, In Nativitatem Mariae , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Ver São Germano de Constantinopla, Na Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria: PG 98, 322 AC.

 

[44] Ver São João de Damasco, In Dormitionem Deiparae, I: PG 96, 712B-713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, a pedido do Primaz da Bélgica, Cardeal Désiré-Joseph Mercier, o Papa Bento XV concedeu a toda a Bélgica o Ofício e a Missa em honra da Mãe de Deus, “Mediadora de Todas as Graças”, para a celebração anual de 31 de maio. Mais tarde, a Santa Sé também concedeu o mesmo Ofício e Missa a muitas outras dioceses, ordens religiosas e congregações a seu pedido: cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n.º 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, Um Novo Dogma Mariano?: L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10: “A Constituição Lumen gentium , que após cuidadosa consideração não contém uma definição dogmática de mediação, foi adotada por 2.151 votos de 2.156 votantes [...] e apenas 33 anos após a promulgação da Lumen gentium [...] o ambiente eclesiástico, teológico e exegético não mudou significativamente.” Esta declaração da Pontifícia Academia Mariana Internacional complementou a declaração da Comissão Teológica, que foi emitida no XII. A Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa, estabelecida no Congresso Mariológico Internacional (Czestochowa, 12 a 24 de agosto de 1996), considerou inadequada a manutenção da definição dogmática de Maria como “Mediadora”, “Corredentora” e “Advogada”; cf. Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa , Petição referente à definição do dogma de Maria como Medianeira, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa: L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, p. 10.

 

[47] São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Veja São Bernardo de Claraval, Homilias em louvor da Virgem Mãe, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , nos. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. ibid., Nos. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. ibid., Nos. 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65.

 

[52] Ebd. , No. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Ver Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55]II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium , nº. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.º 14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013), 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. sobre os Números , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] Hl. Ambrosius, Ep. 11, 24: PL 16, 1106D.

 

[61] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Apost. Const. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , 616 (DH 2803): “…pela graça e preferência únicas de Deus Todo-Poderoso em vista dos méritos de Cristo Jesus, Redentor do gênero humano, …”.

 

[63] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. ibid., nº 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. ibid., nº 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações diárias. As sete dores de Maria (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, p. 8.

 

[67] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , nos. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 4: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: “Portanto, Maria, como Mãe de Cristo, deve também ser considerada como Mãe de todos os fiéis e pastores, isto é, da Igreja”; cf. Catecismo da Igreja Católica , n. 963.

 

[70] São Paulo VI, Carta Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] Cf. HU von Balthasar , Theodramatics. Vol. 2 The Characters of the Play. Part 2 The Characters in Christ, Einsiedeln 2 1998, 306.

 

[72] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n.º 56: AAS 57 (1965), 60: “Ela abraçou a vontade salvadora de Deus com todo o seu coração e não foi impedida pelo pecado, e como serva do Senhor entregou-se inteiramente à pessoa e à obra de seu Filho, e assim serviu sob ele e com ele na graça de Deus Todo-Poderoso o mistério da redenção”.

 

[73] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n.º 69: AAS 57 (1965), 66: “Mãe de Deus e Mãe do Homem”.

 

[75] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n.º 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos primeiros textos patrísticos e tem sua base bíblica principalmente no Evangelho de João, mais precisamente na cena aos pés da cruz.

 

[76] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n.º 21: AAS 79 (1987), 388: “… que se manifesta concretamente como uma nova maternidade segundo o Espírito e não só da carne, ou seja, o cuidado de Maria pelas pessoas, o seu voltar-se para elas em toda a amplitude das suas necessidades e aflições”.

 

[77] Cf. Francisco, Homilia para a Solenidade de Maria, Mãe de Deus . 53º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n.º 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n.º 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. São João Paulo II , Audiência Geral (9 de abril de 1997), n.º 2: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4: “A participação de Maria ocorre durante o próprio evento (nota: no Calvário) e na sua condição de mãe; estende-se, portanto, a toda a obra salvífica de Cristo”.

 

[80] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n.º 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica , n.º 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: “E Maria aponta para o Mediador: Ela é a “Hodēgētria” . Na iconografia cristã, ela é onipresente, aliás, por vezes ocupa um lugar muito especial, mas sempre em relação com o seu Filho e dependente d'Ele. As suas mãos, os seus olhos, a sua postura são um “Catecismo” vivo e apontam sempre para o eixo, o centro: Jesus. Em Maria, tudo está relacionado com Jesus.”

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4: AAS 95 (2003), 8; ele cita o Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, no. 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n.º 62: AAS 57 (1965), 63: “O papel subordinado de Maria”.

 

[84] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. ibid., nº 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da oração do Rosário na Basílica de Santa Maria Maior (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia sobre o Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L'Osservatore Romano , 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Ver Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[89]Ders., Enz. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nº. 176: AAS 116 (2024), 1424 .

 

[90] Ver Idem, Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Ver Francisco, Homilia para a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican mopohua: Aqui se conta… o grande acontecimento , Cuautitlán 2003, nº 23, 119.

 

[94] Olá. João Paulo II., Audiência Geral (13 de agosto de 1997), Nr. 4: L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francisco, Homilia para a Memória de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): AAS 115 (2023), 53; cf. Idem, Homilia para a Memória de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): AAS 116 (2024), 12.

 

[96] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n.º 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n.º 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Ver J. Cardeal Ratzinger, Protocolo da Feria IV de 21 de fevereiro de 1996 , original italiano nos arquivos do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Esta característica da intercessão da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos últimos Papas; cf. Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , 597-619; Leão XIII, Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Encíclica Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 455; Pio XII, Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium , nº. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[100] Santo Agostinho, Sobre os Méritos e Remissão dos Pecados e sobre o Batismo de Crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Teólogo, Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 6, co.

 

[103] Concílio de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , 616.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ebd., q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ebd., q. 114, a. 5, co.

 

[108] Ver ibid., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 de junho de 2016, p. 8.

 

[111] Ver Idem, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica , n.º 2674.

 

[112] Ver Francisco, Discurso no final do mês mariano (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n.º 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , n.º 2003.

 

[115] Ibid., nº 1999.

 

[116] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q.114, a. 1, co.: Quaestiones disputatae de Veritate, 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Veja Ders., Summa Theologiae , III, q. 64, a. 1, co.: «[…] Só Deus guiará a alma» .

 

[118] Ver Concílio de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; ibid., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Ver São Tomás de Aquino, Quastiones disputatae de Veritate, q. 28, a. 2, anúncio 8; Ders., Summa contra Gentiles, II, cap. 98, não. 18; ibid ., III, cap. 88, não. 6.

 

[120] Ver Der. , Questões disputadas de verdade q. 27, a. 3, pb 5.

 

[121] Ders., Suma Teológica, III, q. 64, a. 1, co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, De Ecclesiasticis Dogmatibus , 83: PL 58, 999B. Da mesma forma São João Cassiano, Collationes, VII, 13: PL 49, 683A. Também Didimus Caecus, De Spiritu Sancto , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Ver São Boaventura, Collationes in Hexaemeron, XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Ver Ders., Sententiarum Lib . Eu ia. 14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Ver ibid. , q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Ver ibid. , q. 2, fund. 4 u. 8, 251-252.

 

[127] Ver São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 33, a. 3; ibid. , III, q. 23, a. 4.

 

[128] Ders., Compendium theologiae , I, No. cf. Ders., Suma Teológica III, q. 2, a. 10.

 

[129] Ders., Suma Teológica, III, q. 8, a. 5, co.; vgl. ebd. , q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Ders., Compendium theologiae , I, No.

 

[131] Ders. , Questões Disputadas sobre a Verdade, q. 29, a. 5, co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10: AAS 92 (2000), 750-751; cf. Francisco, Enz. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nos. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes , nº 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Ver São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Ver Ders., Super Ioannem, cap. 1, v. 16, leção 10; Der . , Suma Teológica, I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Ders., Compendium theologiae , I, No.

 

[137] Dante Alighieri, Paradiso , XXXIII, 1.

 

[138] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade do Concílio Ecumênico Vaticano II, promulgado sob os cuidados de São Paulo VI, revisado sob os cuidados de São João Paulo II, terceira edição típica, Vatican Press 2008, 8 de dezembro, Na Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Maria Virgínia, Prefácio: Sobre o Mistério de Maria e da Igreja , 879.

 

[140] II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium, nº. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[141] Ver Catecismo da Igreja Católica, n.º 2002.

 

[142] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 25, a.3, ad 4. A justificação do pecador, assim como a criação, “[é] adequada para ser diretamente atribuída a Deus”.

 

[143]II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium, nº. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Vgl. Origins, Hom. em Genesis XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Ver São Cirilo de Alexandria, Comm. em Ioannem , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Veja Ders., Comm. em Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Ver São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica, XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, Hom. em Ioannem, 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explicação dos Salmos, XII, Salmo 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Ders., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Ver Ders., Explicação Psalmorum, XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Veja São Jerônimo, Comm. sobre Zacarias, III, 14, 8.9: PL 25, 1528C.

 

[153] Cf. Hl. Gregor o Grande, Hom. em Ezequiel, I, 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Ver Santo Hilário de Poitiers, Tractatus in Psalmos, 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho, Sobre o Evangelho de João , 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid.; ver Ders., Summa Theologiae, II-II, q. 178, a. 1, sc

 

[158] Hl. Cirilo v. Jerusalém, Catequeses mistagógica, XVI, 12: PG 33, 933B.

 

[159] Págs. João XXIII., Enz. Mater et Magistra (15 de maio de 1961): AAS 53 (1961), 462.

 

[160] Pg. João Paulo II, Carta ao Superior Geral da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias , Paray-le-Monial ( 5 de outubro de 1986): Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n.º 182: AAS 116(2024),1427.

 

[161] Bento XVI, Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n.º 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Franzisco, Enz. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nº. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 5, a. 6, co. et ad 1; Idem, Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos usados ​​por São Tomás de Aquino para explicar por que nenhuma criatura, mas somente Deus, pode conceder a graça, não podem ser considerados obsoletos, nem em sua própria obra nem posteriormente.

 

[164] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nº 60: AAS 57 (1965), 62; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 25, a. 3, anúncio 4; Ders., Scriptum super Sententiis , II, d. 26, q. 1, a. 2, co.; ibid., IV, d. 5, q. 1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Veja Ders., Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Deve-se lembrar novamente: »Mas a mente, na qual há graça, nenhuma criatura pode escorregar.«

 

[166] II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium , nº. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Ed. , nº. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Veja São Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios , livro 2, capítulo 21, n.º 7. Um instrumento dá a sua própria contribuição: «Todo agente instrumental executa a ação do agente principal por meio de alguma ação própria e connatural a si mesmo.»

 

[169] Ibid., livro 3, capítulo 147, no. 6; ver Ders., Summa Theologiae I, q. 45, a. 5, co.

 

[170] Ders., Summa Theologiae , I-II, q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Ver Concílio de Trento, Sessão VI, Decreto sobre a Justificação, 8: DH 1532.

 

[172] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 114, a. 5, co.: “Uma pessoa que já possui a graça não pode ‘merecer’ a graça que já tem”. A pessoa justificada pode, de fato, “merecer” o crescimento na vida da graça, mas o fato de já ser justificada, de ser amiga de Deus pela graça, será sempre gratuito e sem custo.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “preparação final” que acompanha a efusão da graça santificante é a obra imediata da própria graça. É “a preparação final que necessariamente dá origem à forma (a essência de uma coisa)”: São Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae , livro 5, palestra 2, n.º 5; cf. Idem, Scriptum super Sententiis , I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Idem, Summa contra gentiles , livro 2, cap. 19, n.º 6; Idem, Compendium theologiae , I, n.º 105.

 

[174]II. O Vaticano. Conselho, Dogma. Const. Lumen gentium, nº. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium, n.º 53, AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[181] São Paulo VI, Carta Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​​​Dicastery para a Doutrina da Fé, Normas para o Procedimento de Avaliação de Alegados Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024), nº 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência Geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Idem, Carta Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013) , n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI., Enz. Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), Nr. 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. ibid ., nº 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV., Erster Apostolischer Segen Urbi et Orbi (8. maio 2025): L'Osservatore Romano , 9. maio 2025, 3.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Idem, Carta Apostólica Evangelii gaudium (24 de novembro de 2013) , n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), nº 265.

 

[194] Cf. São João Paulo II, Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia para a Solenidade de Maria, Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[196] Conselho Episcopal Latino-Americano, Quinta Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), nº 259.

 

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DICASTÉRIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

 

Mãe Fiel do Povo

 

Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos

 

referidos à cooperação de Maria

 

na obra da Salvação

 

Apresentação

 

Esta Nota responde a inúmeras consultas e propostas que chegaram à Santa Sé nas últimas décadas – de modo especial a este Dicastério – sobre questões relacionadas à devoção mariana e, particularmente, sobre alguns títulos marianos. São questões que preocuparam os recentes Pontífices e que foram repetidamente tratadas nos últimos trinta anos nos diversos âmbitos de estudo do Dicastério, como Congressos, Assembleias ordinárias etc. Isso permitiu a este Dicastério contar com um farto e rico material que alimenta a presente reflexão.

 

O texto, ao mesmo tempo que esclarece em que sentido são aceitáveis, ou não, alguns títulos e expressões referentes a Maria, propõe-se aprofundar nos adequados fundamentos da devoção mariana precisando o lugar de Maria em sua relação com os fiéis, à luz do Mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isso implica uma profunda fidelidade à identidade católica e, ao mesmo tempo, um esforço ecumênico particular.

 

O eixo que atravessa todas estas páginas é a maternidade de Maria em relação aos fiéis, questão que aparece reiteradamente, com afirmações que são retomadas muitas vezes, enriquecendo-as e completando-as, em modo espiral, com novas considerações.

 

A devoção mariana, que a maternidade de Maria suscita, é apresentada aqui como um tesouro da Igreja. Não se trata de corrigir a piedade do Povo fiel de Deus que encontra refúgio, fortaleza, ternura e esperança em Maria, mas, sobretudo, de valorizá-la, admirá-la e encorajá-la; visto que esta é uma expressão mistagógica e simbólica de uma atitude evangélica de confiança no Senhor que o mesmo Espírito Santo suscita livremente nos fiéis. Realmente, os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho». [1]

 

Ao mesmo tempo, existem alguns grupos de reflexão mariana, publicações, novas devoções e inclusive solicitações de dogmas marianos, que não apresentam as mesmas características da devoção popular, mas acabam por propor um determinado desenvolvimento dogmático e divulgam-se intensamente através das redes sociais despertando, com frequência, dúvidas nos fiéis mais simples. Às vezes, tratam-se de reinterpretações de expressões utilizadas no passado com diversos significados. Este documento leva em consideração estas propostas para indicar em qual sentido algumas respondem a uma devoção mariana genuína e inspirada no Evangelho, ou em qual sentido outras devem ser evitadas, pois não favorecem uma adequada compreensão da harmonia da mensagem cristã em seu conjunto.

 

Por outro lado, em diversas passagens desta Nota se oferece um amplo desenvolvimento bíblico que ajuda a mostrar como a autêntica devoção mariana não aparece apenas na rica Tradição da Igreja, mas já nas Sagradas Escrituras. Esta destacada marca bíblica é aqui acompanhada por textos dos Padres e Doutores da Igreja e dos últimos Pontífices. Deste modo, mais que limitar, a Nota busca acompanhar e sustentar o amor a Maria e a confiança na sua materna intercessão.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

[1] Conferência Episcopal Latino-Americana e do Caribe, V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265. Citado no n. 78 desta Nota doutrinal.

 

Introdução

 

1. [Mater Populi fidelis] A Mãe do Povo fiel[1] é contemplada com afeto e admiração pelos cristãos porque, se a graça nos quer semelhantes a Cristo, Maria é a expressão mais perfeita de sua ação que transforma nossa humanidade. Ela é a manifestação feminina de tudo quanto pode operar a graça de Cristo no ser humano. Diante de tal formosura, movidos pelo amor, muitos fiéis sempre procuraram se referir à Mãe com as palavras mais belas e exaltaram o lugar peculiar que ela tem junto a Cristo.

 

2. Recentemente este Dicastério publicou as Normas para proceder no discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais.[2] É freqüente que, em relação a esses fenômenos, sejam utilizados certos títulos[3] e expressões referidas à Virgem Maria. Esses títulos, alguns dos quais já aparecem nos Santos Padres, nem sempre são usados ​​com precisão; às vezes você muda seu significado ou eles são mal interpretados. Além dos problemas terminológicos, alguns títulos apresentam dificuldades importantes no que se refere ao conteúdo, pois, com frequência, levam a uma compreensão equivocada da figura de Maria, o que tem sérias repercussões a nível cristológico,[4] eclesiológico[5] e antropológico.[6]

 

3.Na interpretação desses títulos aplicados à Virgem Maria, o principal problema é como se compreende a associação de Maria na obra redentora de Cristo, ou seja, «qual é o significado dessa singular cooperação de Maria no plano da salvação?».[7] O presente documento, sem querer esgotar a reflexão, nem ser exaustivo, busca preservar o equilíbrio necessário que, dentro dos mistérios cristãos, deve ser estabelecido entre a única mediação de Cristo e a cooperação de Maria na obra da Salvação, e pretende mostrar também como isso se expressa em diversos títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da Salvação

 

4. Tradicionalmente a cooperação de Maria na obra da Salvação foi abordada a partir de uma dupla perspectiva: a sua participação na Redenção objetiva, realizada por Cristo durante sua vida e particularmente na Páscoa, e a influência que ela tem atualmente sobre os que foram redimidos. Na realidade, estas questões estão interligadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvadora de Cristo é atestada nas Escrituras, que apresentam o evento salvador realizado em Jesus Cristo como uma promessa nos escritos do Antigo Testamento e como uma realização no Novo Testamento. Assim, Maria é prefigurada em Gn 3, 15, porque é a mulher que participa da vitória definitiva contra a serpente. Por isso, não chama a atenção que Jesus se dirija a Maria com a denominação de “Mulher” na cena do Calvário (Jo 19, 26). Em Caná, também, Jesus a chama de “Mulher” (Jo 2, 4) remetendo a Maria e sua função, junto a Ele, na “Hora” da Cruz.

 

6. Ali, naquela “Hora”, aparece a cooperação de Maria, que novamente pronuncia o “sim” da Anunciação e, nesse momento sagrado, o Evangelho deixa de colocar nos lábios de Jesus a palavra “Mulher” (Jo 19, 26), apresentando-a como “Mãe” (Jo 19, 27). Quando o Evangelho explica que, como resposta, o discípulo que nos representa a todos a recebeu, ele usa um verbo que no Evangelho assume o sentido de “acolher” (lambanō) na fé (cf. Jo 1, 11-12; 5, 43 e 13, 20). O mesmo verbo que usa o quarto Evangelho para expressar que a Luz veio para os seus e eles não a “acolheram” (Jo 1, 11). Ou seja, o discípulo que ocupava nosso lugar junto a Maria, a acolheu como mãe na fé. Somente depois de nos entregar Maria como mãe, Jesus reconhece que “tudo se consumara” (Jo 19, 28). Essa alusão solene à consumação impede que o episódio seja interpretado superficialmente. A maternidade de Maria a nosso respeito constitui parte da consumação do plano divino que se realiza na Páscoa de Cristo. Em modo semelhante, o Apocalipse apresenta a “Mulher” (Ap 12, 1) como mãe do Messias (cf. Ap 12, 5) e como mãe do “resto de sua descendência” (Ap 12, 17).

 

7. Convém lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada a “testemunha privilegiada” [8] dos eventos narrados nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2) que marcaram a infância de Jesus.[9] Lucas, no prólogo do seu Evangelho, adverte os seus leitores: «Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares», ele também decidiu escrever «depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem» (Lc 1, 1-3). Dentre essas testemunhas oculares destaca-se Maria, protagonista direta da concepção, nascimento e infância do Senhor Jesus. Pode-se dizer o mesmo dos relatos da paixão, já que estava “junto à cruz de Jesus” (Jo 19, 25), e esperando o Pentecostes, quando os apóstolos se entregavam “à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus” (At 1, 14).

 

8.No Evangelho de Lucas, Maria é a nova Filha de Sião que recebe e transmite a alegria da salvação. Lucas recorre às promessas proféticas que anunciavam a alegria messiânica (cf. Sf 3, 14-17; Zc 9, 9). Nela se cumprem as promessas que fizeram João Batista saltar de alegria (cf. Lc 1, 41). Isabel se apresenta como indigna de receber a visita de Maria: "E de onde me é dado que a mãe do meu Senhor venha a mim?" (Lc 1, 43). Isabel não diz: “De onde me é dado que meu Senhor venha a mim?”. Refere-se diretamente à mãe, com a qual podemos advertir a conexão inseparável entre a missão de Cristo e a de Maria. Isabel fala cheia do Espírito Santo (cf. Lc 1, 41), de modo que sua atitude diante de Maria se apresenta como modelo de fé. Movida pelo Espírito Santo, ela diz as seguintes palavras: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!" (Lc 1, 42). Chama a atenção que, sob a ação do Espírito, não basta chamar Jesus de “bendito”, mas também chama a mãe de “bendita”. Contempla-os intimamente unidos neste momento de gozo messiânico. Maria aparece aqui como a “Feliz” por excelência: “Feliz de ti que acreditaste” (Lc 1, 45); «meu espírito se alegra» (Lc 1, 47); «me chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1, 48). Isso adquire maior importância se se adverte que, no Evangelho de Lucas, essa felicidade não aparece como um estado de ânimo, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nos pequenos (cf. Lc 6, 20-22), que têm uma grande recompensa no céu (cf. Lc 6, 23).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Santos Padres interessaram-se principalmente pela maternidade divina de Maria (Theotokos), pela sua virgindade perpétua (Aeiparthenos), pela sua perfeita santidade, livre do pecado durante toda a sua vida (Panagia) e pela sua função de nova Eva,[10] concentrando no mistério da Encarnação a reflexão sobre a associação de Maria à Redenção de Cristo. O “sim” de Maria em resposta à saudação do Arcanjo Gabriel, para que o Verbo de Deus se fizesse carne no seu ventre (cf. Lc 1, 26-27), dá ao ser humano a possibilidade de ser divinizado. Por isso, Santo Agostinho chama a Virgem de «cooperadora» na Redenção, sublinhando tanto a ação de Maria junto a Cristo como a sua subordinação a Ele, porque Maria coopera com Cristo para que nasçam «na Igreja os fiéis»[11] e, por isso, a podemos chamar Mãe do Povo fiel.

 

10. Durante o primeiro milénio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja remete à liturgia. A grande e rica diversidade das tradições litúrgicas do Oriente cristão quis ser um eco fiel das Sagradas Escrituras, dos Concílios e dos Padres da Igreja. A lex orandi que se transformou em lex credendi, configura a mariologia oriental desde a hinografia, iconografia e a piedade popular.[12] Por exemplo, a partir do século V estabelecem-se no Oriente as festas marianas que depois, no século VII, passaram ao Ocidente. A participação da Mãe de Deus na obra da salvação comemora-se, especialmente, não apenas em todas as anáforas e liturgias eucarísticas das Igrejas orientais, mas, sobretudo, através dos textos hinográficos utilizados nas Horas canônicas, presentes nas diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. Na hinografia abundam as composições dedicadas à Maria com alegorias bíblicas,[13] que permitiram aprofundar no mistério fundamental da Encarnação e do seu significado para a redenção em Cristo, na linguagem lírica de simbolismo poético capaz de expressar o espanto e a maravilha de quem, sendo da mesma estirpe de Maria, contempla os prodígios que o Todo-poderoso realizou nela.[14]

 

11. O ensinamento dos primeiros Concílios Ecuménicos começa a delinear o dogma de Maria, Mãe de Deus, que será proclamado no Concílio de Éfeso. O Oriente cristão sempre sustentou doutrinalmente aqueles dogmas definidos por estes primeiros concílios, ao menos naquelas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, acolheu em suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas as narrações e as lendas marianas populares referidas aos relatos da infância e da morte de Jesus. Estes relatos buscam alimentar a piedade do Povo de Deus, dando voz ao lirismo das imagens poéticas, que não tem outro objetivo senão aquele de despertar o espanto. Essa veneração à Mãe de Deus, manifesta-se também por meio da iconografia que oferece uma imagem de Maria e do Verbo encarnado. É significativo que as iconografias tradicionais dessas Igrejas, vinculadas aos Concílio de Éfeso e de Calcedônia, representem Maria majoritariamente como «Theotokos»,[15] e tenham sido criadas para contemplar nelas a Virgem-Mãe que abraça e apresenta ao mundo seu Filho, o Menino Jesus, enquanto intercede pela humanidade perante Ele. Assim, a iconografia mariana oriental, como kerygma e recordação visual da teologia dos primeiros Concílios e dos Santos Padres, quer ser uma tradição visual dos títulos específicos que se aplicam à Virgem.[16] Por isso, os ícones tem que ser “lidos” a partir da liturgia e dos hinos. Maria não é objeto de um culto que se equipara ao de Cristo, mas que se insere no mistério de Cristo através da Encarnação.[17] Ela é a Theotokos, a Virgem Mãe que apresenta seu Filho Jesus, o Cristo, e é, ao mesmo tempo, a Odēgētria que mostra, apontando com sua mão, o único Caminho que é Cristo.

 

12. A partir do século XII a teologia ocidental[18] dirige seu olhar para a relação que une a Virgem Mãe com o mistério da Redenção cruenta do Calvário e relaciona a cena da espada de Simeão com a Cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da Cruz é entendida como sinal de fortaleza cristã, cheia de amor materno. São Bernardo fala da cooperação de Nossa Senhora no sacrifício redentor em um comentário sobre a apresentação de Jesus no templo[19]. Arnaldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval (+ depois de 1159), considera pela primeira vez a cooperação de Maria com o sacrifício do Calvário junto a seu Filho Jesus Cristo.[20]

 

13. A cooperação de Maria com o Filho na obra da Salvação foi exposta pelo Magistério da Igreja.[21] Como diz o Concílio Vaticano II, «consideram com razão os Santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens».[22] Esta associação da Virgem está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e ressurreição) como no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição destaca a primazia e unicidade de Cristo na Redenção, porque também a primeira dos redimidos é redimida por Cristo e transformada pelo Espírito, antes de qualquer possibilidade de uma ação própria.[23] É a partir desta especial condição de primeira redimida por Cristo, de primeira transformada pelo Espírito Santo, que Maria pode cooperar mais intensa e profundamente com Cristo e com o Espírito, convertendo-se em protótipo,[24] modelo e exemplo do que Deus quis realizar em cada pessoa redimida.[25]

 

15. A colaboração de Maria na obra da Salvação tem uma estrutura trinitária, porque é fruto de uma iniciativa do Pai, que olhou a pequenez de sua Serva (cf. Lc 1, 48); brota da kenōsis do Filho, que se humilhou tomando a forma de Servo (cf. Fl 2, 7-8) e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1, 28.30) que dispôs o coração da jovem de Nazaré para responder na Anunciação e durante toda a vida de comunhão com seu Filho. São Paulo VI ensinou que “na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e dependente d’Ele: foi em vista d’Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos”. [26] O sim de Maria não é uma simples condição prévia a algo que poderia ter chegado ao fim sem seu consentimento e colaboração. Sua maternidade não é simplesmente biológica e passiva,[27] mas é uma maternidade “plenamente ativa”[28] que se une ao mistério salvífico de Cristo como um instrumento querido pelo Pai em seu projeto de salvação. Ela «é a garantia de que Ele, enquanto “nascido de mulher” (Gl 4, 4), é autêntico homem, porém ela é também, desde a proclamação do dogma de Nicéia, a Theotokos, a que dá à luz a Deus».[29]

 

Títulos referidos à cooperação de Maria na Salvação

 

16. Dentre os títulos com os quais se invocaram Maria (Mãe da Misericórdia, Esperança dos pobres, Auxílio dos cristãos, Socorro, Advogada, etc.) há alguns que fazem referência, em maior medida, à sua cooperação na obra redentora de Cristo, como por exemplo Corredentora e Medianeira.

 

Corredentora

 

17. O título de Corredentora aparece no século XV como correção à invocação de Redentora (como abreviação de Mãe do Redentor) que Maria vinha recebendo desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um papel aos pés da Cruz que dá lugar ao título de Corredentora e que aparece pela primeira vez num hino anônimo do século XV em Salisburgo.[30] Mesmo que a denominação de Redentora tenha permanecido durante os séculos XVI e XVII, ela desapareceu totalmente no século XVIII para ser substituída por Corredentora. A investigação teológica da cooperação de Maria na Redenção, durante a primeira metade do século XX, chegou a aprofundar mais o conteúdo do título de Corredentora.[31]

 

18. Alguns Pontífices usaram esse título sem se deter demais em explicá-lo.[32] Geralmente apresentaram-no de duas maneiras diversas: em relação à maternidade divina, enquanto Maria, como mãe, tornou possível a Redenção realizada em Cristo,[33] ou ainda, em referência à sua união com Cristo junto à Cruz redentora.[34] O Concílio Vaticano II evitou usar o título de Corredentora por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas. São João Paulo II utilizou-o, ao menos em sete ocasiões, relacionando-o especialmente com o valor salvífico da nossa dor oferecida junto à de Cristo, ao qual se une Maria sobretudo na Cruz[35].

 

19. Na Sessão Ordinária (Feria IV) de 21 de fevereiro de 1996, o Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, diante da pergunta se era aceitável a petição do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para uma definição do dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as graças, respondeu em seu voto particular: «Negativo. O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles não está madura. Uma doutrina definida de fé divina pertence ao depósito da fé, ou seja, à revelação divina vinculada na Escritura e na tradição apostólica. Desta maneira, não se vê em modo claro como a doutrina expressa nos títulos esteja presente na Escritura e na tradição apostólica». [36] Mais adiante, em 2002, expressou publicamente sua opinião contrária a este título: «A fórmula “Corredentora” distancia-se em demasia da linguagem da Escritura e da Patrística e, portanto, provoca mal-entendidos... Tudo procede d'Ele, como dizem sobretudo as Cartas aos Efésios e aos Colossenses. Maria é o que é graças a Ele. A palavra “Corredentora” obscureceria essa origem». O Cardeal Ratzinger não negava que houvesse na proposta de uso deste título boas intenções e aspectos válidos, porém sustentava que era um «vocábulo equívoco».[37]

 

20. O então Cardeal mencionava as Cartas aos Éfesios e aos Colossenses, onde o vocabulário utilizado e o dinamismo teológico dos hinos apresenta, de tal modo, a centralidade redentora única e fontalidade do Filho encarnado que resta excluída a possibilidade de agregar outras mediações, porque «toda a espécie de bênçãos espirituais» nos são dadas «em Cristo» (Ef 1, 3), porque por Ele somos filhos adotivos (cf. Ef 1, 5) e n'Ele fomos agraciados (cf. Ef 1, 6), “pelo seu sangue, [...] temos redenção” (Ef 1, 7) e Ele “derramou sobre nós” (Ef 1, 8) sua graça. Nele “fomos escolhidos como sua herança” (Ef 1, 11) e estávamos predestinados. E Deus quis nele “fazer habitar toda a plenitude” (Cl 1, 19) “e, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas” (Cl 1, 20). Semelhante louvor, sobre o lugar único de Cristo, convida a situar qualquer criatura num lugar claramente receptivo, bem como a uma religiosa e delicada cautela na hora de colocar qualquer forma de possível cooperação no âmbito da Redenção.

 

21. O Papa Francisco expressou, ao menos por três vezes, sua posição claramente contrária ao uso do título de Corredentora, alegando que Maria «jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!».[38] A obra da redenção foi perfeita e não necessita de acréscimo algum. Por isso, «Nossa Senhora não quis tirar nenhum título a Jesus [...]. Ela não pediu para ser uma quase-redentora ou corredentora: não. O Redentor é um só e este título não se duplica».[39] Cristo «é o único Redentor: não existem corredentores com Cristo».[40] Porque «o sacrifício da Cruz, oferecido com coração amante e obediente, apresenta uma satisfação superabundante e infinita».[41] Se bem que nós possamos prolongar no mundo os seus efeitos (cf. Cl 1, 24), nem a Igreja, nem Maria podem substituir, ou aperfeiçoar, a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que foi perfeita e não necessita de acréscimos.

 

22. Levando em consideração a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, é sempre inoportuno o uso do título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Esse título corre o risco de obscurecer a única mediação salvífica de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã, pois “não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar” (At 4, 12). Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie de um significado correto, ela não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e se torna inconveniente. Nesse caso, não ajuda a exaltar Maria como primeira e máxima colaboradora na obra da Redenção e da graça, porque o perigo de obscurecer o lugar exclusivo de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por nossa salvação, único capaz de oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não seria uma verdadeira honra à Mãe. Com efeito, ela, como “serva do Senhor” (Lc 1, 38), nos orienta para Cristo e nos pede para fazer “o que ele vos disser” (Jo 2, 5).

 

Medianeira 

 

23. O conceito de mediação é utilizado na Patrística oriental a partir do século VI. Nos séculos seguintes, Santo André de Creta,[42] São Germano de Constantinopla[43] e São João Damasceno[44] usam esse título com diferentes significados. No Ocidente, tornou-se mais freqüente seu uso a partir do século XII, ainda que somente no século XVII será enunciado como tese doutrinária. Em 1921 o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malinas, com a colaboração científica da Universidade Católica de Lovaina e o apoio dos bispos, do clero e do povo belga, pediu ao Papa Bento XV a definição dogmática da mediação universal de Maria, porém o Papa não consentiu. Aprovou apenas uma festa com a missa própria e o ofício de Maria Medianeira.[45] Desde então, até o ano de 1950 desenvolveu-se uma investigação teológica sobre a questão, que chegaria à fase preparatória do Concílio Vaticano II. O Concílio não entrou em declarações dogmáticas,[46] mas preferiu apresentar uma extensa síntese “da doutrina católica sobre o lugar que Maria Santíssima ocupa no mistério de Cristo e da Igreja”. [47]

 

24. A expressão bíblica referida à exclusiva mediação de Cristo é peremptória. Cristo é o único Mediador, “pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos” (1 Tm 2, 5-6). A Igreja explicou este lugar único de Cristo porque, sendo o Filho eterno e infinito, a Ele está unida hipostaticamente a Humanidade que Ele assumiu. Este lugar é exclusivo dessa Humanidade e as consequências que derivam disso só podem se aplicar a Cristo. Nesse sentido preciso, o papel do Verbo encarnado é exclusivo e único. Diante de tal clareza da Palavra revelada, requer-se uma prudência especial na aplicação do título “Medianeira” a Maria. Face à tendência de ampliar os alcances da cooperação de Maria a partir deste termo, é conveniente precisar tanto o seu valioso alcance quanto os seus limites.

 

25. Por um lado, não podemos ignorar que há um uso muito comum da palavra “mediação” nos mais diversos âmbitos da vida social, onde é entendido simplesmente como cooperação, ajuda, intercessão. Por conseqüência, é inevitável que se aplique a Maria no sentido subordinado e de nenhum modo se pretenda acrescentar alguma eficácia, ou potência, à única mediação de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que houve um modo real de mediação de Maria para tornar possível a verdadeira encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, porque era requerido que o Redentor fosse "nascido de uma mulher" (Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que não se tratou de uma mediação unicamente biológica, já que destaca a presença ativa de Maria perguntando (cf. Lc 1, 29.34) e aceitando com uma firme decisão: «Faça-se» (Lc 1, 38). Essa resposta de Maria abriu as portas da Redenção que toda a humanidade esperava e que os santos descreveram com poético dramatismo.[48] Também nas bodas de Caná, Maria cumpriu uma função de mediadora quando apresentou a Jesus a necessidade dos esposos (cf. Jo 2, 3) e quando pediu aos servidores que seguissem as indicações de Jesus (cf. Jo 2, 5).

 

27. A terminologia da mediação no Concílio Vaticano II aparece referida sobretudo a Cristo, mas, às vezes, também à Maria, porém de maneira claramente subordinada[49]. Com efeito, para ela preferiu-se usar outra terminologia centrada na cooperação[50] ou na ajuda maternal.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspectiva da intercessão materna de Maria, com expressões como «múltipla intercessão» e «proteção maternal».[52] Estes dois aspectos unidos configuram a especificidade da cooperação de Maria na ação de Cristo pelo Espírito. Em sentido estrito, não podemos falar de outra mediação na graça que não seja a do Filho de Deus encarnado.[53] Por isso, é necessário recordar sempre, e não obscurecer, a convicção cristã de que «deve crer-se firmemente, como dado perene da fé da Igreja, a verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que no seu evento de encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem n’Ele a sua plenitude e o seu centro».[54]

 

Maria na mediação única de Cristo

 

28. Ao mesmo tempo, necessitamos recordar que a unicidade da mediação de Cristo é “inclusiva”, ou seja, Cristo possibilita diversas formas de participação no cumprimento do seu projeto salvífico porque, em comunhão com Ele, todos podemos ser, de alguma maneira, cooperadores de Deus, “mediadores” uns para com os outros (cf. 1 Cor 3, 9). Precisamente porque Cristo tem um poder infinitamente supremo, Ele pode promover seus irmãos e torná-los capazes de verdadeira cooperação na realização de seus desígnios. O Concílio Vaticano II sustentou que a “a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte”. [55] Por isso, “é preciso aprofundar o conteúdo dessa mediação participada, que deve ser, no entanto, regulada pelo princípio da única mediação de Cristo”. [56] É verdade que a Igreja prolonga no tempo e comunica, em todos os lugares, os efeitos do evento pascal de Cristo[57] e que Maria tem um lugar único no coração da Igreja mãe.[58]

 

29.Se partimos dessa convicção de que o Senhor ressuscitado promove, transforma e capacita os crentes a colaborar com Ele em sua obra, a participação de Maria na obra de Cristo resulta evidente. Isso não ocorre por uma fraqueza, incapacidade ou necessidade de Cristo mesmo, mas justamente por seu poder glorioso, que é capaz de nos assumir, generosa e gratuitamente, como colaboradores de sua obra. Aquilo que deve ser destacado neste caso é, precisamente, o seguinte: que quando Ele nos permite que o acompanhemos e, sob o impulso da sua graça, demos o melhor de nós mesmos, é o seu próprio poder e a sua misericórdia que, por fim, são glorificados.

 

Fecundos em Cristo glorioso

 

30. Particularmente iluminador é o texto: «quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai» (Jo 14, 12). Os cristãos, unidos a Cristo ressuscitado que voltou para o seio do Pai, podem realizar obras que superam os prodígios do Jesus terreno, porém sempre graças à sua união pela fé com Cristo glorioso. Foi o que se manifestou, por exemplo, na admirável expansão da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado fez a sua Igreja participante nesta sua obra (cf. Mc 16, 15). Deste modo, a sua glória não foi diminuída, mas manifestou-se ainda mais, ao mostrar-se com um poder capaz de transformar os cristãos, tornando-os fecundos com Ele.

 

31. Nos Padres da Igreja essa idéia encontrou uma expressão peculiar no comentário a Jo 7, 37-39, porque alguns interpretaram a promessa dos "rios de água viva" como referida aos cristãos. Isso significa que os próprios cristãos, transformados pela graça de Cristo, convertem-se em mananciais para os demais. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em Jo 7, 38 porque fez brotar de nós correntes de água: “a alma do ser humano, que é à imagem de Deus, pode conter em si e produzir a partir de si poços, fontes e rios”. [59] Santo Ambrósio recomendou beber do lado aberto de Cristo “para que abunde em você a fonte da água que jorra para a vida eterna”. [60] São Tomás de Aquino expressou isso afirmando que se um cristão “se apressa em comunicar aos outros os diversos dons da graça que recebeu de Deus, a água viva flui de seu seio”. [61]

 

32. Se isto vale para cada cristão, cuja cooperação com Cristo se torna cada vez mais fecunda quanto mais se deixa transformar pela graça, com maior razão se deve afirmar de Maria, de um modo único e supremo. Porque ela é a “cheia de graça” (Lc 1, 28) que, sem colocar obstáculos à obra de Deus, disse: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Ela é a mãe que deu ao mundo o Autor da Redenção e da graça, que se manteve firme junto à Cruz (cf. Jo 19, 25), sofrendo com o Filho, oferecendo a dor do seu coração materno transpassado pela espada (cf. Lc 2, 35). Ela esteve unida a Cristo desde a Encarnação até a Cruz e a Ressurreição, de um modo exclusivo e superior a quanto poderia ocorrer com qualquer fiel.

 

33. Tudo isto não por méritos próprios, mas porque a ela se aplicaram plenamente, de forma peculiar e antecipada, os méritos de Cristo na Cruz, para glória do único Senhor e Salvador.[62] Ela é, por fim, um canto à eficácia da graça de Deus, de modo que qualquer reconhecimento da sua beleza remete imediatamente à glorificação da fonte de todo bem: a Trindade. A grandeza incomparável de Maria está no que ela recebeu e na sua disponibilidade confiante a deixar-se preencher pelo Espírito. Quando nos esforçamos em atribuir-lhe funções ativas, paralelas às de Cristo, distanciamo-nos da beleza incomensurável que é especificamente sua. A expressão “mediação participada” pode expressar um sentido preciso e precioso do lugar de Maria, porém, se inadequadamente compreendida, poderia facilmente obscurecê-lo e até contradizê-lo. A mediação de Cristo, que sob alguns aspectos pode ser “inclusiva” ou participada, sob outros aspectos é exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos fiéis

 

34. No caso de Maria, essa mediação se dá de forma maternal,[63] assim como fez em Caná[64] e como confirmado na Cruz.[65] Assim explicou o Papa Francisco: “Ela é Mãe. E este é o título que ela recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da Cruz (cf. Jo 19, 26-27). Teus filhos, tu és mãe. [...] Recebeu o dom de ser sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser nossa Mãe”. [66]

 

35. O título de Mãe tem as suas raízes na Sagrada Escritura e nos Santos Padres; é proposto pelo Magistério e a formulação do seu conteúdo teve um progresso até à exposição do Concílio Vaticano II[67] e à expressão maternidade espiritual na encíclica Redemptoris Mater.[68] A maternidade espiritual de Maria brota da sua maternidade física do Filho de Deus. Gerando fisicamente a Cristo, a partir da aceitação livre e fiel desta missão, a Virgem gerou na fé todos os cristãos que são membros do Corpo Místico de Cristo, ou seja, gerou o Cristo total, cabeça e membros.[69]

 

36. A participação da Virgem Maria, como Mãe, na vida de seu Filho, desde a Encarnação até à Cruz e à Ressureição, dá um caráter único e singular à sua cooperação na obra redentora de Cristo, de maneira especial para a Igreja, «quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; em invocação confiante, quando experimenta a necessidade de intercessão da sua advogada e auxiliadora».[70] Este aspecto materno é o que caracteriza a relação da Virgem com Cristo e sua colaboração em todos os momentos da obra da Salvação. Na sua missão como Mãe, Maria tem uma relação singular com o Redentor e, também, com os que foram redimidos, dos quais ela mesma é a primeira. Maria é typos (modelo) da Igreja e do novo nascimento que acontece nela, porém ainda mais, Maria é símbolo e «síntese da mesma Igreja».[71] É uma maternidade que nasce do dom total de si e da chamada a converter-se em servidora do mistério.[72] Na maternidade de Maria sintetiza-se tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria na Igreja inteira.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui algumas características determinadas:

 

a) Encontra seu fundamento na realidade de ser Mãe de Deus e se prolonga na maternidade para com os discípulos de Cristo[73] e ainda com todos os seres humanos.[74] Nesse sentido, a cooperação de Maria é singular e se distingue das cooperações “das outras criaturas”. [75] Sua intercessão tem uma característica que não é de uma mediação sacerdotal, como aquela de Cristo, mas que se situa na ordem e na analogia da maternidade[76]. Associando Maria à sua obra, os dons que nos chegam do Senhor apresentam-se a nós com um aspecto materno, cheios da ternura e da proximidade da Mãe[77] que Jesus quis partilhar conosco (cf. Jo 19, 27).

 

b) A cooperação materna de Maria é em Cristo e, portanto, participada, ou seja, «como participação nesta única fonte, que é a mediação do próprio Cristo».[78] Maria entra de uma maneira peculiar na única mediação de Cristo.[79] A função materna de Maria «de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens» brota da «abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia».[80] Na sua maternidade, Maria não é um obstáculo interposto entre os seres humanos e Cristo; pelo contrário, a sua função materna está indissoluvelmente unida à de Cristo e orientada a Ele. Assim entendida, a maternidade de Maria não pretende debilitar a única adoração que se deve somente a Cristo, mas estimulá-la.[81] Por isso, devem-se evitar os títulos e expressões referidas a Maria que a apresentem como uma espécie de “para-raios” diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária diante da insuficiente misericórdia de Deus. O Concílio Vaticano II reafirmou como deveria ser o culto dado a Maria: «um culto orientado ao centro cristológico da fé cristã, de forma que, “honrando a Mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho”».[82] Com efeito, a maternidade de Maria está subordinada[83] à eleição por parte do Pai, à obra do Filho e à ação do Espírito Santo.

 

c) A Igreja não é somente um ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria, mas é, precisamente, na dimensão sacramental da Igreja que se desenvolve sempre a sua função materna.[84] Maria atua com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. O exercício da sua maternidade encontra-se na comunhão eclesial, e não fora dela; conduz à Igreja e acompanha-a. A Igreja aprende de Maria a própria maternidade:[85] no acolhimento da Palavra de Deus que evangeliza, converte e anuncia Cristo; no dom da vida sacramental do Batismo e da Eucaristia; e na educação e formação maternal que ajuda no nascimento e crescimento dos filhos de Deus.[86] Por isso, pode dizer-se que «a fecundidade da Igreja é a mesma fecundidade de Maria; e realiza-se na existência dos seus membros na medida em que eles revivem, em menor dimensão, o que a Mãe viveu, isto é, amam segundo o amor de Jesus».[87] Do mesmo modo que a Igreja, Maria, como Mãe, espera que Cristo seja gerado em nós[88], sem ocupar o lugar d’Ele. Por isso, «graças à imensa fonte que brota do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os fiéis, de diferentes maneiras, tornam-se canais de água viva. Deste modo, o próprio Cristo revela a sua glória na nossa pequenez».[89]

 

Intercessão

 

38. Maria está unida a Cristo de modo único, por causa da sua maternidade e por ser cheia de graça. Isto percebe-se na saudação do anjo (cf. Lc 1, 28), que utiliza uma palavra (kecharitōmenē) que é única e exclusiva em toda a Bíblia. Ela, que acolheu no seu ventre a força do Espírito Santo e foi Mãe de Deus, torna-se, por esse mesmo Espírito, Mãe da Igreja.[90] Por essa peculiar união de maternidade e graça, a sua oração por nós tem um valor e uma eficácia que não se podem comparar com qualquer outra intercessão. São João Paulo II relacionava o título de “medianeira” com esta função de intercessão materna, porque ela «põe-se de “permeio”, isto é, faz de mediadora, não como uma estranha, mas na sua posição de mãe, consciente de que como tal pode ― ou antes, “tem o direito de” ― fazer presente ao Filho as necessidades dos homens».[91]

 

39. A fé católica lê nas Escrituras que aqueles que estão junto a Deus no céu podem continuar a realizar semelhantes atos de amor, intercedendo por nós e nos acompanhando. Vemos, por exemplo, que os anjos são “espíritos encarregados de um ministério, enviados a serviço daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1, 14). Fala-se de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5, 4; 12, 12; At 12, 7-11; Ap 8, 3-5). Havia anjos auxiliando Jesus no deserto das tentações (cf. Mt 4, 11) e durante a paixão (cf. Lc 22, 43). Num dos Salmos, nos é prometido que “Ele deu ordens aos seus anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos” (Sl 91, 11).

 

40. Esses textos nos indicam que o céu não está completamente separado da terra. O que abre a possibilidade de que os que já estão no céu intercedam por nós. O livro de Zacarias nos apresenta um anjo de Deus que diz: «Senhor do universo, até quando tardarás a compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá, às quais fazes sentir a tua cólera, desde há setenta anos?» (Zc 1, 12). De modo análogo, o Apocalipse nos fala dos “imolados”, dos mártires no céu, que intervêm pedindo a Deus que atue na terra para nos libertar das injustiças: “vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: “Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até quando esperarás para julgar e tirar vingança do nosso sangue sobre os habitantes da terra?”” (Ap 6:9-10). Já na tradição judaico-helenística aparecia a convicção que os justos falecidos intercedem pelo povo (cf. 2 Mac 15, 12-14).

 

41. Maria, que no céu ama o “resto de sua descendência” (Ap 12, 17), assim como acompanhava a oração dos apóstolos, quando receberam o Espírito (cf. At 1, 14), também, agora, acompanha nossas súplicas com sua intercessão materna. Dessa forma, ele continua a atitude de serviço e compaixão que mostrava nas bodas de Caná (cf. Jo 2, 1-11) e ainda hoje se dirige a Jesus, dizendo-lhe: “Eles não têm vinho” (Jo 2, 3). Em seu canto de louvor, vemos Maria como uma mulher de seu povo, que louva a Deus porque “exaltou os humildes [e] aos famintos encheu de bens” (Lc 1, 52-53), porque “acolheu a Israel, seu servo, lembrado de sua misericórdia, como prometera a nossos pais” (Lc 1, 54-55), e reconhecemos sua prontidão quando se aproxima sem demora para ajudar sua prima Isabel (cf. Lc 1, 39-40). Portanto, o Povo de Deus confia firmemente em sua intercessão.

 

42. Entre os eleitos e glorificados junto a Cristo está, em primeiro lugar, a Mãe. Por isso podemos afirmar que existe uma colaboração singular de Maria na obra salvífica que Cristo realiza na sua Igreja. Trata-se de uma intercessão que a converte em sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta maneira, porque Ele assim quis livremente, o Senhor outorga à sua própria ação em nosso favor um rosto materno.[92]

 

Proximidade materna

 

43. A presença das diversas invocações, das imagens e dos santuários marianos manifestam a maternidade real de Maria que se faz próxima à vida dos seus filhos. Um exemplo disso é a manifestação da Mãe ao índio São Juan Diego no monte de Tepeyac. Maria o chama com as ternas palavras de uma mãe: «Meu filho, o menor, Juanito». E, diante das dificuldades que São Juan Diego lhe manifesta para levar a termo a missão encomendada, Maria revela a força de sua maternidade: “Não estou aqui, a que tenho a honra e a felicidade de ser sua mãe? [...] Não estás na prega do meu manto, na dobra dos meus braços?”[93].

 

44. A experiência do afeto maternal de Maria que viveu São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que recebem o afeto de Maria e que colocam em suas mãos «as necessidades da vida quotidiana, abrindo confiantes o seu coração para pedirem a sua intercessão materna e obterem a sua alentadora proteção».[94] Além das manifestações extraordinárias da sua proximidade, existem constantes expressões quotidianas da sua maternidade na vida de todos os seus filhos. Ainda que não peçamos a sua intercessão, ela mostra-se próxima como Mãe, para nos ajudar a reconhecer o amor do Pai, a contemplar a entrega salvadora de Cristo, a acolher a ação santificadora do Espírito. É tão grande o seu valor para a Igreja que os pastores devem evitar qualquer instrumentalização política desta proximidade da Mãe. O Papa Francisco advertiu, em diversas ocasiões, e mostrou a sua preocupação pelas «propostas ideológicas e culturais de todos os géneros que querem apropriar-se do encontro de um povo com a sua Mãe».[95]

 

Mãe da graça

 

45. Esse sentido de “Mãe dos fiéis” permite falar de uma ação de Maria também em relação à nossa vida da graça. No entanto, convém advertir que certas expressões, que podem ser teologicamente aceitáveis, com facilidade estão carregadas dum imaginário e simbolismo que transmitem, efetivamente, outros conteúdos menos aceitáveis. Por exemplo, apresenta-se Maria como se ela tivesse um depósito de graça separado de Deus; então, não se percebe de modo tão claro que o Senhor, em sua generosa e livre onipotência, quis associá-la à comunicação dessa vida divina que brota de um único centro que é o Coração de Cristo, não Maria.[96] É frequente também que ela seja apresentada ou imaginada como uma fonte da qual emana toda graça. Se for levado em conta que a inabitação trinitária (graça incriada) e a participação da vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos pensar que esse mistério pode estar condicionado a uma “passagem” pelas mãos de Maria. Imaginários desse tipo enaltecem a Maria de tal forma que a centralidade do mesmo Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionada. O Cardeal Ratzinger expressou que o título de Maria medianeira de todas as graças não foi claramente fundado na Revelação,[97] e em sintonia com essa convicção podemos reconhecer as dificuldades que esse título implica tanto na reflexão teológica quanto na espiritualidade.

 

46. Para evitar estas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve entender-se como dispositiva. Por um lado, pelo seu caráter de intercessão,[98] já que a intercessão maternal é expressão dessa «ajuda materna»[99] que permite reconhecer em Cristo o único Mediador entre Deus e os homens. Por outro lado, a sua presença materna nas nossas vidas não exclui diversas ações de Maria que motivam a abertura dos nossos corações à ação de Cristo no Espírito Santo. Assim, de diversas maneiras, nos ajuda a dispormo-nos à vida da graça que somente o Senhor pode infundir em nós.

 

47. Nossa salvação é obra somente da graça salvadora de Cristo e de nenhum outro. Santo Agostinho afirmou que “esse reino da morte é destruído em cada ser humano apenas pela graça do Salvador”[100] e o explicou claramente com a redenção do homem injusto: “Quem gostaria de morrer por um injusto, por um ímpio, por um iníquo, exceto somente Cristo que por ser tão justo aos injustos quis justificar? Portanto, meus irmãos, não tivemos obra meritória, mas apenas deméritos. Porém, ainda que tais eram as obras dos homens, sua misericórdia não os abandonou e [...] no lugar do castigo devido, outorgou-lhes a graça que não mereciam [...] para resgatar-nos, não a preço nem de ouro nem de prata, mas a preço do seu sangue derramado».[101] Por isso, quando São Tomás de Aquino se pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que “ninguém, exceto Cristo, pode merecer para outrem a primeira graça”. [102] Nenhum outro ser humano pode merecê-la em sentido estrito (de condigno), e neste ponto não existe nenhuma dúvida: «embora ninguém possa ser justo senão pela comunicação dos méritos da paixão de nosso Senhor Jesus Cristo».[103] Também a plenitude de graça de Maria existe porque ela a recebeu gratuitamente, antes de qualquer ação sua, “em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano”. [104] Somente os méritos de Jesus Cristo, entregue até o fim, são os que se aplicam à nossa justificação, pois «maior obra é a justificação do ímpio, que termina pelo bem eterno da participação divina, do que a criação do céu e da terra».[105]

 

48. No entanto, um ser humano pode participar com seu desejo do bem do irmão e é razoável (congruo) que Deus atenda esse desejo de caridade que a pessoa expressa «orando» ou «pelas próprias obras de misericórdia».[106] É verdade que este dom da graça pode ser derramado apenas por Deus, já que excede «à capacidade da nossa natureza»[107] e que existe uma distância infinita[108] entre a nossa natureza e a sua vida divina. Todavia, pode fazê-lo cumprindo o desejo da Mãe, que deste modo se associa alegremente à obra divina como humilde serva.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que ela tem que fazer. Ela intercede manifestando a Cristo as nossas carências e necessidades, e os nossos sofrimentos, para que Ele atue com seu poder divino:[109] «Não têm vinho» (Jo 2, 3). Também hoje ela nos ajuda a nos dispormos à ação de Deus:[110] “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Suas palavras não são uma simples indicação, mas se convertem em uma verdadeira pedagogia materna que introduz a pessoa, sob a ação do Espírito, no sentido profundo do mistério de Cristo[111]. Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir a existência a Cristo e à sua graça,[113] porque Ele é o único que opera no mais íntimo do nosso ser.

 

Lá onde só Deus pode chegar

 

50. Como nos lembra o Catecismo, a graça santificante é “antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica”[114]. Não é simplesmente uma ajuda, uma energia que se possui, mas “é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma”[115] que pode ser descrito como inabitação da Trindade no mais íntimo, como amizade com Deus, como aliança com o Senhor. Exclusivamente Deus pode fazê-lo, porque implica superar uma desproporção "infinita". [116] Essa doação de si da Trindade, esse “penetrar na alma”[117] (illabitur) por parte de Deus mesmo, implica um efeito de transformação inerente no mais íntimo do cristão[118]. São Tomás de Aquino, para esta penetração no íntimo do ser humano, utilizava este verbo que somente poderia aplicar-se a Deus, illabi, já que apenas Deus, não sendo uma criatura, pode chegar a essa intimidade pessoal sem violentar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Somente Deus chega ao mais íntimo da pessoa para realizar sua elevação e transformação quando ela se entrega como amigo e, portanto, “nenhuma criatura pode conferir graça”. [120] São Tomás repete ao falar da graça sacramental: como causa principal “só Deus causa o efeito interior do sacramento. Quer porque só Deus penetra na alma, no que recebe o efeito do sacramento, e não pode nenhum agente obrar imediatamente onde não está. Quer também porque a graça, efeito interior do sacramento, vem só de Deus”. [121]

 

51. Outros autores expressaram-se em modo semelhante,[122] entre os quais destaca-se São Boaventura. Ele ensinava que quando Deus opera com a graça santificante num ser humano, torna-o absolutamente imediato a Ele.[123] Deus, por graça, faz-se plenamente próximo ao ser humano, com uma absoluta imediatez, com um “entranhar-se” no íntimo do ser humano que somente Ele pode realizar.[124] A mesma graça criada, então, não opera como um “intermediário”, mas é um efeito direto da amizade que Deus presenteia tocando diretamente o coração humano. E assim, sendo Deus quem realiza a transformação da pessoa quando se entrega como amigo, não existe meio algum entre Deus e o ser humano transformado.[125] Somente Deus é capaz de penetrar assim, tão profundo, para santificar, até fazer-se absolutamente imediato, e apenas Ele pode fazê-lo sem anular a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus[127] assume uma natureza humana que ocupa um lugar único na economia da salvação. Hipostaticamente unida ao Filho por uma graça que «é sem dúvida alguma infinita»,[128] essa Humanidade «recebeu a graça segundo uma eminência máxima. Por isso, pela eminência da graça que recebeu, compete-lhe [competit sibi] distribuir essa graça aos outros, o que pertence à razão de cabeça».[129] Essa Humanidade participa na efusão da graça santificante, que dela transborda ou «abunda»[130]. Em consequência, «segundo sua humanidade, é princípio de toda graça» como Cabeça desde a qual esta chega aos demais («in alios transfunderetur»).[131] Essa natureza humana é inseparável da nossa salvação, já que «com a encarnação, todas as ações salvíficas do Verbo de Deus fazem-se sempre em unidade com a natureza humana, que Ele assumiu para a salvação de todos os homens».[132] Através da natureza humana assumida, o Filho de Deus «uniu-se de certo modo a cada homem» e «mereceu-nos a vida com a livre efusão do seu sangue».[133] Pela graça, os fiéis se unem a Cristo e participam em seu mistério pascal, de modo que podem viver uma união íntima e única com Ele que São Paulo expressava com estas palavras: «já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).

 

53. Nenhuma pessoa humana, nem sequer os apóstolos ou a Santíssima Virgem, pode atuar como dispensadora universal da graça. Apenas Deus pode conceder a graça[134] e fá-lo por meio da humanidade de Cristo,[135] já que «a plenitude da graça de Cristo homem ele a tem como unigênito do Pai».[136] Ainda que a Santíssima Virgem Maria seja preeminentemente “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela, como nós é filha adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, «filha do teu Filho».[137] Ela coopera na economia da salvação por uma participação derivada e subordinada; portanto, qualquer linguagem sobre sua “mediação” na graça deve entender-se em analogia remota com Cristo e sua mediação única».[138]

 

54. Na perfeita imediatez entre um ser humano e Deus na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo, nem a inabitação trinitária podem conceber-se como algo que nos chega através de Maria ou dos santos. Em todo caso, o que podemos dizer é que Maria deseja esse bem para nós e o pede conosco. A liturgia, que também é lex credendi, nos permite reafirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas na intercessão materna. Com efeito, na liturgia da Solenidade da Imaculada Conceição, quando se explica em que sentido o privilégio concedido a Maria foi dado em vista do bem do Povo, afirma-se que ela foi disposta como “advogada de graça”[139], ou seja, que intercede pedindo para nós o dom da graça.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II, «o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens [...] de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece».[140] Por este motivo, se deve evitar qualquer descrição que faça pensar, de um modo neoplatónico, em uma espécie de derramamento da graça por etapas, como se a graça de Deus descesse, através de distintos intermediários – como Maria –, enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse desconectada do nosso coração. Estas interpretações afetam negativamente a adequada compreensão do encontro íntimo, direto e imediato que a graça realiza entre o Senhor e o coração do fiel.[141] O certo é que somente Deus justifica.[142] Só o Deus Trindade. Somente Ele nos eleva para superar a desproporção infinita que nos separa da vida divina, só Ele atua em nós sua inabitação trinitária, só Ele penetra em nós e nos faz participar da sua vida divina. Não se honra Maria atribuindo-lhe alguma mediação na realização desta obra exclusivamente divina.

 

Água viva que jorra

 

56. Não obstante isto, dado que Maria está cheia de graça, e que o bem tende sempre a comunicar-se, facilmente aparece a ideia de uma espécie de “transbordamento” da graça que tem Maria, que só poderá ter um sentido adequado se não contradisser quanto foi dito até agora. Não apresentará dificuldade se se tratar, antes de tudo, das formas de cooperação que já mencionamos (intercessão, proximidade materna que convida a abrir o coração para a graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação variada por parte das criaturas «que participam dessa única fonte».[143]

 

57. O caráter fundamentalmente dispositivo da cooperação dos fiéis – principalmente de Maria – na comunicação da graça, aparece plasmado na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que brotam do coração deles (cf. Jo 7, 38). Embora seja uma imagem potente, que se poderia interpretar como se os fiéis fossem canais de uma transmissão perfeita da graça santificante, contudo, os Padres da Igreja, na hora de concretizar como se realiza esta efusão dos rios do Espírito, plasmaram-no em ações de tipo dispositivo. Por exemplo, a oração, o ensinamento e outras formas de transmissão do dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica-o à ciência das Escrituras ou à percepção de seus sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria este transbordamento de águas é o ensinamento dos mistérios da fé,[145] a “pura mistagogia” no sentido profundo, que não é meramente intelectual, mas disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém sustenta que é o ensinamento da Escritura quando leva à luz.[147] São João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estevão ou à autoridade da palavra de Pedro[148]. Santo Ambrósio afirma: «estes são os rios que ouvem a Palavra de Deus e falam, para infundir a palavra nos corações dos indivíduos»,[149] e aplica-o desta maneira: «que a água da doutrina celestial flua [...] que a seiva da palavra do Senhor aspirja»[150] o coração de cada um.[151] Também para São Jerônimo a água é ensinamento do Salvador,[152] como para São Gregório Magno, que ensina ser “uma vontade piedosa para com o próximo”. [153] Estas interpretações dos rios de água viva que derramam os cristãos concentram-se no conhecimento das Escrituras e seus mistérios, e não se referem, em geral, a um conhecimento meramente intelectual, mas sapiencial e de iluminação do coração para se abrir à realidade mesma dos Mistérios.

 

59. Em distintos Padres e Doutores da Igreja encontramos, também, uma explicação mais ampla, onde se integram, para além da pregação ou da catequese, as obras que oferecem ajuda ao próximo em suas necessidades, ou um testemunho de amor. Assim, Santo Hilário entende os rios de água viva como as obras do Espírito Santo através das virtudes que atuam para o benefício do próximo[154]. Santo Agostinho aplica a imagem à “benevolência, com a qual se deseja ajudar o próximo”. [155] Na Idade Média continua-se esta perspectiva que chega até São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva se manifestam porque quando alguém «se apressa a aconselhar o próximo e comunica aos outros diversos dons da graça, de seu seio jorram águas vivas».[156]

 

60. Quando São Tomás fala dos “diversos dons da graça” para o serviço do próximo, ele se refere aos diversos dons carismáticos, porque “como se diz (1 Cor 12, 10), a um se dá o dom das línguas, a outro o de curas, etc.”. [157] Esse aspecto também está presente em São Cirilo de Jerusalém: ele indica que os rios de água do Espírito, que se comunicam através dos cristãos, são manifestados quando Este «se serve da língua de uns para o carisma da sabedoria; ilumina a mente de outros com o dom da profecia; concede a alguém o poder de expulsar demônios [...]. [O Espírito] fortalece, em alguns, a temperança; em outros, misericórdia; ensina a alguém a prática do jejum e da vida ascética.”[158]

 

61. Algo semelhante podemos dizer com relação à interpretação de Jo 14, 12, referido aos fiéis que realizam “obras maiores” (meizona) que as do Cristo terreno. Os fiéis participam da obra de Cristo enquanto eles também, de algum modo, estimulam a fé de outros com o anúncio da Palavra. Assim se diz explicitamente em Jo 17, 20b: “aqueles que crerão em mim, por meio da sua palavra”. O mesmo se sugere em Jo 14, 6-11, onde as obras de Cristo são as que manifestam o Pai (v. 8). As obras dos fiéis, concentradas no anúncio do Evangelho pela palavra, se colocam em paralelismo com as obras de Cristo. Jesus anuncia: “se cumpriram a minha palavra, também cumprirão a vossa” (Jo 15, 20c). E assim como quem ouve a palavra de Cristo tem a vida eterna (cf. Jo 5, 24), Jesus anuncia que outros crerão através da palavra dos que creem (cf. Jo 17, 20). No entanto, isso implica não apenas as palavras, mas também o testemunho eloquente dos cristãos e, por isso, Jesus pede ao Pai que os cristãos estejam unidos para que “o mundo creia” (Jo 17, 21).

 

Amor que se comunica no mundo

 

62. O Evangelho de João une estreitamente a caridade fraterna a essa comunicação do bem. Com efeito, a afirmação “se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos” (Jo 14, 15), é paralela àquela outra: “quem crê em mim também fará as obras que eu realizo” (Jo 14, 12). Quando Cristo fala do fruto que espera de seus discípulos, termina identificando-o com o amor fraterno (cf. Jo 15, 16-17). São Paulo também, depois de falar sobre as obras extraordinárias que os fiéis podem realizar (cf. 1 Cor 12), propõe um caminho mais excelente quando diz “Aspirai, porém, aos melhores dons (ta meizona). Aliás, vou mostrar um caminho que ultrapassa (kath'hyperbolēn) todos os outros»: o amor (1 Cor 12, 31; cf. 13, 1). As obras de amor ao próximo, também o trabalho cotidiano ou o empenho por mudar este mundo, convertem-se então num canal de cooperação com a obra salvífica de Cristo.

 

63. Neste sentido se expressaram também os últimos Pontífices. São João XXIII ensinava que «todo o trabalho e todas as atividades, mesmo as de caráter temporal, que se exercem em união com Jesus, divino Redentor, se tornam um prolongamento do trabalho de Jesus e d’Ele recebem virtude redentora [...] para estender e difundir aos outros os frutos da Redenção».[159] São João Paulo II entendia esta colaboração como reconstrução, junto com Cristo, do bem que foi danificado no mundo por causa do pecado, porque «o Coração de Cristo quis precisar da nossa colaboração para reconstruir a bondade e a beleza», e «é esta a verdadeira reparação pedida pelo Coração do Salvador»[160]. O Papa Bento XVI sustentava que sendo «destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade. A esta dinâmica de caridade recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja».[161] E o Papa Francisco ensinou que, para Santa Terezinha do Menino Jesus, «não se trata apenas de deixar que o Coração de Cristo difunda a beleza do seu amor no nosso coração, através de uma confiança total, mas também que, através da própria vida, chegue aos outros e transforme o mundo [...] isto acontece se o nosso amor [...] se transforma em atos de amor fraterno com os quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Deste modo, oferecemos novas expressões da força restauradora do Coração de Cristo».[162]

 

64. Esta é a cooperação possibilitada por Cristo e suscitada pela ação do Espírito que, no caso de Maria, distingue-se da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que Cristo mesmo, na Cruz, lhe atribuiu.

 

Critérios

 

65. Qualquer outro modo de compreender esta cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir-lhe alguma forma de intervenção ou de instrumentalidade perfectiva ou de causa secundária na comunicação da graça santificante,[163] deveria prestar especial atenção a alguns critérios já indicados na Constituição dogmática Lumen Gentium:

 

a) Devemos refletir sobre como Maria pode favorecer nossa união "imediata"[164] com o Senhor, que ele mesmo realiza ao conferir a graça que só de Deus podemos receber,[165] sem entender, porém, a união com Maria como mais imediata do que aquela com Cristo. Esse risco está presente, sobretudo, na ideia de que Cristo nos entrega Maria como um instrumento ou causa secundária perfectiva na comunicação de sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II sublinhou que “todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade”. [166] Esse influxo pode ser pensado apenas a partir da livre decisão de Deus que, apesar de sua própria ação ser transbordante e superabundante, quer associar – livre e gratuitamente – Maria à sua obra. Portanto, não é lícito apresentar a ação de Maria como se Ele precisasse dessa ação para operar a Salvação.

 

c) Devemos entender a mediação de Maria não como um complemento, para que Deus possa operar plenamente, com maior riqueza e beleza, mas “de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo”. [167] Ao explicar a mediação de Maria, deve ressaltar-se que Deus é o único Salvador que aplica de modo exclusivo os méritos de Jesus Cristo, os únicos necessários e completamente suficientes para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em algo que ele não faz (não subtrai nem acrescenta). Se, na comunicação da graça, ela não acrescenta nada à mediação salvífica de Cristo, não se deve pensar em Maria como instrumento primário dessa doação[168]. Se ela acompanha uma ação de Cristo, por obra do mesmo Cristo, de modo nenhum isto deve ser entendido como uma ação paralela. Ou melhor, sendo associada a Ele, é Maria que recebe do seu Filho um presente que a situa mais além de si mesma, porque é-lhe concedido acompanhar a obra do Senhor com seu caráter materno. Voltemos então ao ponto mais seguro: a contribuição dispositiva de Maria, a partir da qual se pode pensar em uma ação em que ela contribua com algo próprio, na medida em que “pode dispor de algum modo”[169] aos outros. Porque “pertence à potência suprema conduzir ao fim último, enquanto as potências inferiores ajudam à consecução deste fim dispondo”. [170]

 

66. Tudo o que foi dito anteriormente não ofende ou humilha Maria, porque todo o seu ser reporta ao seu Senhor. «A minha alma glorifica o Senhor» (Lc 1, 46). Para ela não existe outra glória que a de Deus. Sendo Mãe, duplica a sua alegria vendo como Cristo manifesta a beleza inesgotável e superabundante de sua glória curando, transformando e enchendo de si o coração desses filhos, que ela acompanhou no seu caminho até ao Senhor. Portanto, um olhar dirigido a ela que nos distraia de Cristo, ou a coloque no mesmo nível do Filho de Deus, ficaria fora da dinâmica própria de uma fé autenticamente mariana.

 

As graças

 

67. Alguns títulos, como por exemplo o de Medianeira de todas as graças, tem limites que não facilitam a correta compreensão do lugar único de Maria. Com efeito, ela, a primeira redimida, não pode ter sido medianeira da graça que ela mesma recebeu. Este não é um pormenor de pequena importância, porque manifesta algo central: que também nela o dom da graça a precede, procedendo da iniciativa absolutamente gratuita da Trindade, em atenção aos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu a sua justificação por alguma ação sua precedente,[171] porém nem mesmo por uma ação posterior.[172] Também para Maria, a sua amizade com Deus pela graça será sempre gratuita. A sua figura preciosa é testemunha suprema da receptividade fiel de quem, mais e melhor do que qualquer outro, se abriu com docilidade e plena confiança à obra de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Por outro lado, o título antes mencionado corre o perigo de ver a graça divina como se Maria se convertesse em uma distribuidora dos bens ou energias espirituais em desconexão com a nossa relação pessoal com Jesus Cristo. Contudo, a expressão “graças”, referida à materna ajuda de Maria, em distintos momentos da vida, pode ter um sentido aceitável. O plural expressa todos os auxílios, também materiais, que o Senhor pode nos dar ouvindo as intercessões da Mãe; auxílios que, por sua vez, dispõem os corações para se abrirem ao amor de Deus. Dessa forma, Maria, como mãe, tem uma presença na vida cotidiana dos fiéis muito superior à proximidade que qualquer outro santo possa ter.

 

69. Ela, com sua intercessão, pode implorar para nós os impulsos internos do Espírito Santo que chamamos de “graças atuais”. Trata-se daqueles auxílios do Espírito Santo que operam também nos pecadores para dispô-los à justificação,[173] e também nos já justificados pela graça santificante, para estimulá-los ao crescimento. Nesse sentido preciso, deve-se interpretar o título de “Mãe da graça”. Ela humildemente colabora para que abramos o coração ao Senhor, que é o único que pode justificar-nos com a ação da graça santificante, ou seja, quando Ele derrama em nós a sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos faz partícipes da sua vida divina. Isto é exclusivamente obra do mesmo Senhor, porém não exclui que, através da ação materna de Maria, possam chegar aos fiéis aquelas palavras, imagens e estímulos diversos que os ajudem a seguir adiante na vida, a dispor o coração à graça que o Senhor infunde ou a crescer na vida da graça, recebida gratuitamente.

 

70. Estas ajudas chegam até nós do Senhor e nos são apresentadas com um aspecto materno, cheias da ternura e da proximidade da Mãe que Jesus quis compartilhar conosco (cf. Jo 19, 25-28). Maria desempenha assim uma ação singular para nos ajudar a abrir nossos corações a Cristo e à sua graça santificante que eleva e cura. Quando ela se comunica fazendo chegar diversas “moções”, estas devem ser entendidas sempre como estímulos para abrir nossas vidas ao Único que opera no mais íntimo do nosso ser.

 

A nossa união com Maria

 

71. O Concílio preferiu chamar Maria de “mãe na ordem da graça”,[174] que expressa melhor a universalidade da cooperação materna de Maria e que é inegável em um sentido preciso: ela é a Mãe de Cristo, que é a graça por excelência e o Autor de toda graça.

 

72. Essa maternidade de Maria na ordem da graça – que brota do mistério pascal de Cristo – implica também que cada discípulo estabeleça com Maria “uma relação única e irrepetível”. São João Paulo II falava de uma “dimensão mariana da vida dos discípulos de Cristo”, que se expressa como “resposta ao amor de uma pessoa e, em particular, ao amor da mãe”. [175] A vida da graça inclui nosso relacionamento com a Mãe. A união com Cristo por graça, nos une, ao mesmo tempo, a Maria em uma relação feita de confiança, ternura e afeto sem reservas.

 

A primeira discípula

 

73. Ela é «a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Jesus».[176] Maria é a primeira daqueles que «escutam a Palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 28); é a primeira a colocar-se entre os humildes e pobres do Senhor para nos ensinar a esperar e receber, com confiança, a salvação que vem apenas de Deus. Deste modo, Maria «tornava-se, em certo sentido, a primeira “discípula” do seu Filho, a primeira a quem ele parecia dizer: “Segue-me”, mesmo antes de dirigir este chamamento aos Apóstolos ou a quaisquer outros (cf. Jo 1, 43)».[177] Ela é modelo de fé e caridade para a Igreja pela sua obediência à vontade do Pai, cooperação na obra redentora do seu Filho e abertura à ação do Espírito Santo.[178] Por isso, diz santo Agostinho que vale «mais para Maria ser discípula de Cristo do que ter sido mãe de Cristo».[179] O Papa Francisco insistiu que ela «é mais discípula que mãe».[180] Maria é, definitivamente, «a primeira e a mais perfeita discípula de Cristo».[181]

 

74. Maria é, para todo o cristão, «a primeira na fé: é “aquela que acreditou”; e, precisamente com esta sua fé de esposa e de mãe, ela quer atuar em favor de todos os que a ela se entregam como filhos».[182] E fá-lo com um afeto cheio de sinais de proximidade que os ajudam a crescer na vida espiritual, ensinando-os a deixar que a graça de Cristo atue cada vez mais. Nesta relação de afeto e confiança, ela, que é a “cheia de graça”, ensina cada cristão a receber a graça, a conservar a graça recebida e a meditar a obra que Deus faz nas suas vidas (cf. Lc 2, 19).

 

75. Face a pretensos fenômenos sobrenaturais, que receberam um juízo positivo por parte da Igreja e nos quais aparecem algumas das expressões ou títulos, como os anteriormente citados, ter-se-á em conta que «no caso em que seja concedido por parte do Dicastério um Nihil obstat [...], tais fenômenos não se tornam objeto de fé – isto é, os fiéis não são obrigados a prestar a eles um assentimento de fé ».[183]

 

Mãe do Povo fiel

 

76. «Maria, a primeira discípula, é a Mãe».[184] Na Cruz, Cristo nos entrega a Maria, e dessa forma “nos conduz a ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe”. [185] Ela é a Mãe fiel que se tornou “Mãe de todos os que creem”,[186] e, ao mesmo tempo, é “a Mãe da Igreja evangelizadora”,[187] que nos acolhe assim como Deus quis nos convocar, não apenas como indivíduos isolados, mas como Povo que caminha:[188] “nossa Mãe, Maria, quer sempre caminhar conosco, estar perto, nos ajudar com sua intercessão e seu amor”. [189] Ela é a Mãe do Povo fiel que, “movida por uma ternura amorosa, caminha em meio ao seu povo e cuida de suas angústias e vicissitudes”[190].

 

O amor detém-se, contempla o mistério, desfruta em silêncio

 

77. O Povo fiel não se distancia de Cristo, nem do Evangelho, quando se aproxima dela, mas é capaz de ler “nesta imagem materna [...] todos os mistérios do Evangelho”. [191] Porque nesse rosto materno vê refletido o Senhor que nos busca (cf. Lc 15, 4-8), que vem ao nosso encontro com braços abertos (cf. Lc 15, 20), que se detém diante de nós (cf. Lc 18, 40) que se inclina e nos levanta até a altura do seu rosto (cf. Os 11, 4), que nos olha com amor (cf. Mc 10, 21) e não nos condena (cf. Jo 8, 11; Os 11, 9). Em seu rosto materno muitos pobres reconhecem o Senhor que “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc 1, 52). Esse rosto de mulher canta o mistério da Encarnação. Nesse rosto de Mãe, transpassada pela espada (cf. Lc 2, 35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e esse mesmo rosto, banhado pela luz pascal, percebe que Cristo está vivo. E ela, que recebeu o Espírito Santo em plenitude, é quem sustenta aos apóstolos em oração no cenáculo (cf. At 1, 14). Por isso, podemos dizer que, “a fé de Maria, atendo-nos ao testemunho apostólico da Igreja, torna-se, de alguma maneira, incessantemente a fé do Povo de Deus que está a caminho”. [192]

 

78. Como diziam os Bispos latino-americanos, os pobres “encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem essencial do Evangelho».[193] O Povo simples e pobre não separa a Mãe gloriosa de Maria de Nazaré, que encontramos nos Evangelhos, pelo contrário, reconhece a simplicidade atrás da glória e sabe que Maria não deixou de ser uma deles. É aquela que, como toda mãe, carregou seu filho no ventre, o amamentou e o criou com carinho e com a ajuda de São José, não lhe faltando os sobressaltos e as dúvidas da maternidade (cf. Lc 2, 48-50). Ela é aquela que: canta ao Deus que “aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1, 53); sofre com os noivos que ficam sem vinho para a festa (cf. Jo 2, 3); sabe correr para dar uma mão à sua prima que necessitava ajuda (cf. Lc 1, 39-40); se deixa ferir, como que atravessada por uma espada, por causa da história de seu povo, onde seu filho é “sinal de contradição” (Lc 2, 34); compreende o que é ser migrante ou exilado (cf. Mt 2, 13-15); em sua pobreza só pode oferecer um par de pombinhos (cf. Lc 2, 24) e sabe o que é ser desprezada por ser da família do pobre carpinteiro (cf. Mc 6, 3-4). Os povos sofredores reconhecem que Maria caminha com eles lado a lado e, por isso, recorrem a ela, sua Mãe, implorando por ajuda[194].

 

79. A proximidade da Mãe produz uma piedade mariana “popular”, que tem expressões diversas nos distintos povos. Os mais variados rostos de Maria – coreano, mexicano, congolês, italiano e tantos outros – são formas de inculturação do Evangelho que refletem, em cada lugar da terra, «a ternura paterna de Deus»[195] que chega até as entranhas dos nossos povos.

 

80. Contemplamos a fé do Povo de Deus, onde tantos irmãos que creem reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, tal como Cristo mesmo nos propôs na Cruz. O Povo de Deus gosta de peregrinar aos diferentes santuários marianos, onde encontra consolo e fortaleza para seguir adiante, como quem, no meio do cansaço e da dor, recebe a carícia de sua Mãe. A Conferência de Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teologal dessa experiência. Nada melhor que terminar esta Nota com estas palavras:

 

«Destacamos as peregrinações, onde é possível reconhecer o Povo de Deus a caminho. Aí o cristão celebra a alegria de se sentir imerso em meio a tantos irmãos, caminhando juntos para Deus que os espera. O próprio Cristo se faz peregrino e caminha ressuscitado entre os pobres. A decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé, o caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino se deposita sobre uma imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor se detém, contempla o mistério, desfruta dele em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui confiante, é a melhor expressão de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que sozinho nada pode. Um breve instante condensa uma viva experiência espiritual».[196]

 

Mãe do Povo fiel, rogai por nós.

 

O Sumo Pontífice Leão XIV, no dia 7 de outubro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, aprovou a presente Nota, decidida na Sessão Ordinária deste Dicastério do dia 26 de março de 2025, e ordenou sua publicação.

 

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, aos 4 de novembro de 2025, memória litúrgica de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Card. Fernandez

 

Prefeito

 

Monsenhor Armando Matteo

 

Secretário

 

para a Seção Doutrinal

 

Leão PP. XIV

 

7 de outubro de 2025

 

______________

 

[1] Cf. Santo Agostinho de Hipona, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para proceder no discernimento de presumidos fenômenos sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns fenômenos, ou aparições, a Virgem Maria é denominada com títulos de Corredentora, Redentora, Sacerdote, Medianeira, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe espiritual, etc.

 

[4] Cf. S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. ibid. , n. 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. ibid. , n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] S. João Paulo II, Catequese na Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 3: L’Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4.

 

[8] Francisco, Homilia no Jubileu extraordinário da Misericórdia: Santa Missa e abertura da Porta santa (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8.

 

[9] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação que aparece nos textos de São Paulo entre Adão e Cristo (Rm 5, 18-19 e 1Cor 15, 22) serviu aos Santos Padres para estabelecer o paralelo Eva-Maria. Por exemplo, S. Justino, Dialogus cum Tryphone, 100: PG 6, 710CD-711A; S. Irineu de Lião, Adversus haereses, III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, De carne Christi, 17, 5: PL 1, 782B. Esse paralelismo antitético Eva-Maria é a primeira aproximação dos Santos Padres ao tema da cooperação da Virgem na obra redentora de Cristo: se Eva trouxe a perdição, a fé de Maria trouxe-nos a salvação. A grande abundância de testemunhas na Patrística, sobre o tema da Virgem como nova Eva, oferece elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher, porque em Maria a mulher retoma seu esplendor primitivo e encontra seu cumprimento definitivo; b) Maria e Cristo como esposa-sócia, que constitui com seu Filho o binômio exemplar e salvífico da recapitulação ou restauração messiânica; c) Maria e a Igreja, estabelecendo-se em Maria uma dupla relação com a Igreja, a de exemplaridade, como protótipo, e a de Mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399.

 

[12] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Por exemplo, cf. Santo Efrém, Hinos da Natividade : SCh 459; São João Damasceno, In dormitionem Deiparae I, 8: SCh 80, 100-104.

 

[14] Por exemplo, cf. Octoëchus magnus, Roma 1885, 152: “Por ti nos tornamos partícipes da natureza divina, Ó sempre Virgem, Theotokos, pois destes à luz para nós ao Deus encarnado. Por isso, come é justo, todos te exaltamos com devoção” (trad. do original grego do Theotokion do Kathisma poético após a primeira stasis). Outro exemplo, mais significativo, de expressão devocional mariana é o célebre Hymnus Akathistos (do século V), em 24 estrofes; o título significa simplesmente que se escuta de pé, não sentado, como se escuta o Evangelho em sinal de especial reverência à Virgem-Mãe Maria, a qual o poeta adorna com os mais belos adjetivos e metáforas simbólicas pedindo a ela que aceite sua oferta poética e interceda pela salvação do gênero humano do pecado terreno: cf. E. M. Toniolo, O.S.M., Akathistos Inno alla Madre di Dio, Roma 2017.

 

[15] O testemunho mais antigo deste título provém do Egito e é do século III. Cf. Papyrus 470 da John Rylands Library (Manchester, Inglaterra) que transmite em grego grande parte da invocação mariana. A versão latina desta oração diz: «Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus, sed a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta».

 

[16] As representações iconográficas tradicionais da Virgem, seguem uma série de modelos estáveis, em particular, trata-se: da Odēgētria , é a que mostra com a mão 'o caminho' até seu filho Jesus Cristo em seu regaço; da Eleousa , é a Ternura, onde se mostra o íntimo vínculo entre Maria e o Filho, que apoia seu rosto no de Maria; e da Platytera é a maior dos céus, porque leva a Cristo em si mesma, representando em seu peito o Menino Jesus. Destes três modelos deriva a maioria dos demais como a Galaktotrophousa , que alimenta com seu leite o Menino; a Kyriōtissa ou Senhora, que sustenta o Menino em seus joelhos como em um trono; a Panagia, ou Toda Santa, vestida de manto vermelho que expressa a plenitude da santidade; ou a Deēsis , que aparece à direita de seu Filho entronizado na majestade ( Pantokratōr ) intercedendo com João Batista, que aparece à esquerda, por nós. Em outros ícones, Maria aparece intercedendo com os demais santos – muitas vezes com João Batista – como últimos representantes da Antiga Aliança e, ao mesmo tempo, como os primeiros membros do novo Povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Catequese na Audiência Geral (27 de maio de 2009): L’Osservatore Romano, 28 de maio de 2009, 1; S. Gregório de Narek, Prex 26 et 30, Ad Deiparam: SCh 78, 160-164; 428-432.

 

[18] Autores orientais como Santiago de Sarug (+521), São Romano o Cantor (+555-562), São João Damasceno (+749) e São João, o Geômetra (+1000) já haviam abordado o tema da cooperação de Maria no sacrifício redentor de Cristo na Cruz.

 

[19] Cf. São Bernardo de Claraval, Sobre a Purificação da Mãe de Deus , III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Cf. Arnaldo de Bonneval, De laudibus BM Virginis I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] No magistério anterior ao Concílio Vaticano II destacam-se: Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma, (1854) 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Iucunda semper expecte (8 de setembro de 1894): ASS 27 (1894-1895), 177-184; Id., Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Carta Encíclica Inter sodalicia , à Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Carta Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Pio XII, Carta Encíclica Ad caeli Reginam , (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635 .

 

[22] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 56: AAS 57 (1965), 60.

 

[23] Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616; DH 2803: «…a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original»; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium , n. 53: AAS 57 (1965), 58: «Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho».

 

[24] Cf. Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Alocução do Angelus na Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria (15 de agosto de 2013): L’Osservatore Romano, 17-18 de agosto de 2013, 8.

 

[26] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135.

 

[27] Ela não é apenas uma “mãe-nutriz”. Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987) , b. 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Homilia na Concelebração eucarística para a entrega do anel cardinalício aos novos purpurados (25 de março de 2006): L'Osservatore Romano , 26 de março de 2006, 4; cf. S. Paulo VI, Exort. ap. Signum magnum (13 de maio de 1967), n. 5: AAS 59 (1967), 469: «Maria, logo que obteve a certeza pela voz do Anjo Gabriel que Deus a elegia para Mãe do seu Filho unigênito, sem qualquer hesitação, deu o seu consentimento para uma obra na qual teria de empregar todas as energias da sua frágil natureza, declarando: “Eis a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1, 38)».

 

[29] H. U. von Balthasar, Teodramática. Las personas del drama: el hombre en Cristo, Vol. 3, Madrid 1993, 274; cf. S. Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium: DH 251: «Por isso, eles [os santos Padres] não duvidaram chamar a santa Virgem de Deípara [Mãe de Deus]»; Conc. Ecum. de Éfeso, can.1: DH 252.

 

[30] Pelo que sabemos até hoje, isso ocorreu no século XV, num hinógrafo beneditino, que nos deixou a seguinte oração manuscrita, conservada no mosteiro de São Pedro de Salisburgo: « Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ». «Pia doce e benigna / que de nenhuma dor és digna / se daqui o pranto extirpas / sofrendo com o Redentor / para o escravo transgressor / te tornas Corredentora»: De compassione BVM , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi, XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127.

 

[31] Os teólogos entendem o título de corredentora em modos diversos: a) Cooperação imediata, cristotípica, ou maximalista, que situa a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata à Redenção mesma (Redenção objetiva). Neste sentido os méritos de Maria, se bem que subordinados aos de Cristo, teriam um valor para a salvação; b) Cooperação mediada, ou minimalista, que estaria limitada ao “sim” da Anunciação. Se trataria de uma cooperação mediada, que tornou possível a Encarnação como passo prévio à Redenção; c) Cooperação imediata receptiva ou eclesiotípica, cooperando à Redenção objetiva no sentido de que ela aceitou os frutos do sacrifício redentor do Salvador representando a Igreja. Uma cooperação imediata, porém, receptiva, pois Maria simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, convertendo-se na “primeira Igreja”.

 

[32] Sob o Pontificado de São Pio X, o título de corredentora encontra-se em um documento da Sagrada Congregação dos Ritos e em dois da Sagrada Congregação do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Sagrada Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, no qual se louva o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome «de sua mãe, corredentora nossa, a bem-aventurada Maria»; Id., Oração indulgenciada (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, na qual se chama Maria de «corredentora do gênero humano». O primeiro dentre os Papas a usar o termo Corredentora foi Pio XI, em um Breve do dia 20 de julho de 1925, dirigindo-se à Rainha do Rosário de Pompéia: «Recorda-te também que no Calvário te tornaste Corredentora, cooperando por meio da crucifixão do teu coração à salvação do mundo, junto com teu Filho crucificado»: Pio XI, Ad B. V. M. a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana, in: Sacra Paenitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum, Roma 1952, n. 628. Cf. Id., Discurso “Ecco di nuovo” a um grupo de peregrinos de Vicenza (30 de novembro de 1933): L’Ossevatore Romano, 1 de dezembro de 1933, 1.

 

[33] Cf. Id., Radiomensagem com motivo do encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes, (28 de abril de 1935): L’Ossevatore Romano, 29-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Eu ia . , À Bem-Aventurada Virgem Maria do Santíssimo Rosário do Vale de Pompeia , em: Sacra Penitentiaria Apostolica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. S. João Paulo II, Catequese na Audiência geral (10 de dezembro de 1980): L'Osservatore Romano , 11 de dezembro de 1980, 2; Id., Catequese na Audiência Geral (8 de setembro de 1982): L'Osservatore Romano , 10 de setembro de 1982, 2; Id., Alocução do Angelus (4 de novembro de 1984): L'Osservatore Romano , 5-6 de novembro de 1984, 7; Id, Homilia no Santuário de Nossa Senhora da Alvorada em Guayaquil, Equador (31 de janeiro de 1985): L'Osservatore Romano , 2 de fevereiro de 1985, 6; Id., Alocução do Angelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): L'Osservatore Romano , 1º-2 de abril de 1985, 10; Id., Discurso aos Peregrinos da “Opera Federativa Trasporto Ammalati a Lourdes” – OFTAL (24 de março de 1990): L'Osservatore Romano , 25 de março de 1990, 4; Id., Alocução do Angelus (6 de outubro de 1991): L'Osservatore Romano , 7-8 de outubro de 1991, 7. Depois da Sessão Ordinária ( Feria IV ), da então Congregação para a Doutrina da Fé, de 21 de fevereiro de 1996, São João Paulo II não voltará a usar o título de Corredentora. É importante assinalar também que este título não aparece na Carta encíclica Redemptoris Mater de 25 de março de 1987, que é o documento, por excelência, no qual São João Paulo II explica o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J. Card. Ratzinger, Verbal da Feria IV de 21 de fevereiro 1996, no Arquivo do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[37] P. Seewald - J. Ratzinger, Deus e o Mundo. Uma conversa com Peter Seewald, Madrid 2005, 287-288.

 

[38] Francisco, Homilia na Festa de N. Sra. de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9.

 

[39] Id., Meditações matutinas: Nossa Senhora das Dores, discípula e mãe (3 de abril de 2020): L’Osservatore Romano, 4 de abril de 2020, 8.

 

[40] Id., Catequese na Audiência geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.

 

[41] Pio XII, Carta enc. Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), n. 20: AAS 48 (1956), 321.

 

[42] Cf. Santo André de Creta, Sobre o Nascimento da Virgem Maria , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Cf. São Germano de Constantinopla, Na Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria : PG 98, 322 AC.

 

[44] Cf. São João Damasceno, Sobre a Dormição da Mãe de Deus, I: PG 96, 712B–713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, Bento XV, atendendo ao pedido do Cardeal Désire-Joseph Mercier, concedeu a toda a Bélgica o Ofício e a Missa de Santa Maria Virgem “Medianeira de todas as graças”, para serem celebrados no dia 31 de maio. A Sé Apostólica concedeu posteriormente a muitas outras Dioceses e Congregações religiosas, mediante solicitação prévia, o mesmo Ofício e Missa. Cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63; Pontifícia Academia Mariana Internacional, “Um novo dogma mariano?”: L’Osservatore Romano, 4 de junho de 1997, 10: «a Constituição Lumen gentium, que após una meditada escolha não contém a definição dogmática da mediação, foi aprovada com 2.151 votos favoráveis entre 2.156 eleitores […] e, apenas 33 anos depois da promulgação da Lumen gentium, […] o panorama eclesial, teológico e exegético substancialmente não mudou». Esta afirmação da Pontifícia Academia Mariana Internacional se somava à Declaração da Comissão teológica criada no marco do XII Congresso Mariológico Internacional (Częstochowa, de 12 a 24 de agosto de 1996) que considerou inadequado proceder com a definição dogmática de Maria como “medianeira”, “corredentora” e “advogada”. Cf. Comissão Teológica do Congresso de Częstochowa, Petição da definição do dogma de Maria Medianeira, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão teológica do Congresso de Częstochowa: L’Osservatore Romano, 4 de junho de 1997, 10.

 

[47] S. Paulo VI, Discurso no encerramento da III Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014.

 

[48] ​​Cf. São Bernardo de Claraval, Hom. em louvor da Virgem Mãe, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 5-71, 59-63.

 

[50] Cf. Ibid., nn. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. Ibid., nn. 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65.

 

[52] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Catequese na Audiência geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n.14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 1: AAS 57 (1965), 5; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013), 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. em Números , XII, 1: PG 12, 657.

 

[60] S. Ambrósio, Ep. 11, 24: PL 16, 1106D.

 

[61] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[62] Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854, 616: DH 2803: «… por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano».

 

[63] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. Ibid., n. 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. Ibid., n. 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações matutinas: Nossa Senhora das Dores, discípula e mãe (3 de abril de 2020): L’Osservatore Romano, 4 de abril de 2020, 8.

 

[67] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[68] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 44: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. S. Paulo VI, Discurso no encerramento da III Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015: «Maria, pois como Mãe de Cristo, também é Mãe dos fiéis e dos pastores todos, isto é, da Igreja»; Catecismo da Igreja Catolica, n. 963.

 

[70] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133.

 

[71] Cf. HU von Balthasar, Theodramatics. The Persons of Drama: Man in Christ, Vol . 3, Madrid 1993, 307.

 

[72] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 56: AAS 57 (1965), 60: «Consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção».

 

[73] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 69: AAS 57 (1965), 66: «Mãe de Deus e mãe dos homens».

 

[75] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm., Lumen Gentium , n. 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos textos mais remotos da patrística, tendo seu fundamento bíblico principalmente no Evangelho de São João e, mais especificamente, na cena da Cruz.

 

[76] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: «se manifesta concretamente esta maternidade nova, segundo o espírito e não somente segundo a carne, ou seja, a solicitude de Maria pelos homens , o seu ir ao encontro deles, na vasta gama das suas carências e necessidades».

 

[77] Cf. Francisco, Homilia na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. S. João Paulo II, Catequese na Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 2: L'Osservatore Romano, 10 de abril de 1997, 4: «O concurso de Maria [...] atuou-se durante o evento mesmo e a título de mãe; estende-se, portanto, à totalidade da obra salvífica de Cristo».

 

[80] Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; Catecismo da Igreja Católica, n. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Catequese na Audiência geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8: «[Maria] indica o Mediador: Ela é a Odēgētria. Na iconografia cristã a sua presença está em toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele».

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4, que cita o Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium , n. 66: AAS 57 (1965), 65.

 

[83] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63: “Função subordinada de Maria”.

 

[84] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. Ibid., n. 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da Oração do Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior, (4 de maio de 2013): L’Osservatore Romano, 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia no Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025): L’Osservatore Romano, 10 de junho de 2025, 2.

 

[88] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1019-1137, 1135.

 

[89] Id., Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.

 

[90] Cf. Id., Catequese na Audiência geral (18 de novembro de 2020): L’Osservatore Romano, 18 de novembro de 2020, 11.

 

[91] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican mopohua: Aqui se conta… el grande evento , Cuatitlán 2023, nn. 23 e 119.

 

[94] S. João Paulo II, Catequese na Audiência geral (13 de agosto de 1997), n. 4: L’Osservatore Romano, 14 de agosto de 1997, 4.

 

[95] Francisco, Homilia na festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2022, 8; cf. Id., Homilia Na festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2023, 11.

 

[96] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Cf. J. Card. Ratzinger, Verbal da Feria IV do 21 de fevereiro de 1996, no Arquivo do Dicastério para a Doutrina da Fé.

 

[98] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este caráter de intercessão da mediação materna de Maria é um ensinamento constante dos últimos Papas. Cf. Pio IX, Const. ap. Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima, Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta enc. Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; S. Pio X, Carta enc. Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 (1903-1904), 455; Pio XII Carta enc. Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46 (1954), 636.

 

[99] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[100] Santo Agostinho, Sobre os méritos e remissão dos pecados e sobre o batismo de crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Id., Sermão 23/A: CCSL 41, 322.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 6. com.

 

[103] Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530.

 

[104] Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid., q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid., q. 114, a. 5, co.

 

[108] Cf. Ibid., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. S. João paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Catequese na Audiência geral (8 de junho de 2016): L’Osservatore Romano, 9 de junho de 2016, 8.

 

[111] Cf. Id., Catequese na Audiência geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8; Catecismo da Igreja Católica, n. 2674.

 

[112] Cf. Francisco, Palavras do Santo Padre na Oração do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L’Osservatore Romano, 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica, n. 2003.

 

[115] Ibid., n. 1999.

 

[116] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a.1, co.; Id., Quaestiones disputatae de Veritate, 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Cf. Id., Suma Teológica, III, q. 64, a. 1, co.: «[…] Só Deus guiará a alma».

 

[118] Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; Ibid ., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Cf. São Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Eu ia. Summa contra gentios , II, cap. 98, n. 18; ibid ., III, cap. 88, n. 6.

 

[120] Cf. Id. , Questões Disputadas sobre a Verdade, q. 27, a. 3, sc 5.

 

[121] Id., Suma Teológica, III, q. 64, a. 1, co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, Sobre os Dogmas Eclesiásticos , 83: PL 58, 999B. Também São João Cassiano, Colações , VII, 13: PL 49, 683A. Também Dídimo, o Cego, Sobre o Espírito Santo , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Cf. São Boaventura, Collationes in Hexaemeron, XXI, 18: Opera Omnia, V, Quaracchi 1891 , 434.

 

[124] Cf. Id., Sententiarum Lib. Eu ia. 14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia, I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Cf. Ibid ., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Cf. Ibid ., q. 2, fund. 4 e 8, 251-252.

 

[127] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae I, q. 33, a. 3; ibid. , III, q. 23, a. 4.

 

[128] Id., Compendium theologiae , I, n. 215; cf. Id., Suma Teológica III, q. 2, a. 10.

 

[129] Id., Suma Teológica III, q. 8, a. 5, co.; cf. ibid. , q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[131] Id. , Questões Disputadas sobre a Verdade, q. 29, a. 5, co.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), no. 10; cf. Francisco, Carta enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Concílio Pastoral Gaudium et Spes , n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043.

 

[134] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Cf. Id., Super Ioannem, cap. 1, v. 16, leção 10; Id., Summa Theologiae I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Id., Compendium theologiae , I, n. 214.

 

[137] Dante Alighieri, Paradiso , XXXIII, 1.

 

[138] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade do Concílio Ecumênico Vaticano II, promulgado sob os cuidados de São Paulo VI, revisado sob os cuidados de São João Paulo II, terceira edição típica, Vatican Press 2008, 8 de dezembro, Na Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Maria Virgínia, Prefácio: Sobre o Mistério de Maria e da Igreja , 879.

 

[140] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964) , n. 60: AAS 57 (1965), 5-71, 62.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2002.

 

[142] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae I, q. 25, a.3, ad 4. Justificar, como criar, “por natureza, só pode ser feito por Deus”.

 

[143] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[144] Cf. Origens, Hom. em Gênesis XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD.

 

[145] Cf. São Cirilo de Alexandria, Comm. sobre João , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Cf. Id., Comentário sobre Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. S. Cirilo de Jerusalém, Catechesis mystagogica, XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, Hom. em Ioannem, 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explanatio Psalmorum , XII, Sal. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Id., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Cfr. Id., Explicação Psalmorum , XII, Sal. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. São Jerônimo, Comm. sobre Zacarias , III, 14, 8.9: PL 25, 1528C.

 

[153] S. Gregório Magno, Hom. em Ezechielem , I, 10, 6: PL 76, 888B.

 

[154] Cf. S. Hilário, Tractatus in Psalmos , 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho, In Ioannis Evangelium, 32, 4: PL 35, 1643D.

 

[156] São Tomás de Aquino, Sobre João , cap. 7, lect. 5.

 

[157] Ibid.; cf. Id., Summa Theologiae, II-II, q.178, a. 1, sc

 

[158] S. Cirilo de Jerusalém, Catechesis mystagogica , XVI, 12: PG 33, 933B.

 

[159] São João XXIII, Carta Encíclica Mater et Magistra (15 de maio de 1961): AAS 53 (1961), 462.

 

[160] S. João Paulo II, Carta ao Prepósito-geral da Companhia de Jesus , Paray-le-Monial (5 de outubro 1986): L'Osservatore Romano , 6 de outubro de 1986, 7, citado por Francisco, Carta enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 5, a. 6, co. e ad 1; Id., Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos que usava São Tomás de Aquino para explicar porque nenhuma criatura pode conferir a graça, mas somente Deus, não podem ser considerados superados, nem ao interno da sua própria obra, nem posteriormente.

 

[164] Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 25, a. 3, anúncio 4; Id., Scriptum Super Sententiis, II, d. 26, q.1, a. 2 co; Ibidem . IV, d. 5, q.1, a. 3, qc.1, anúncio 1.

 

[165] Cf. Id., Quaestiones disputatae de Veritate, q. 27, a. 3, sc 5. Novamente, é lembrado que: «Mas da mente, na qual há graça, nenhuma criatura pode escapar».

 

[166] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 60: AAS 57 (1965), 62.

 

[167] Ibid , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[168] Cf. São Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios , livro 2, capítulo 21, n. 7. Um instrumento contribui com algo próprio: «Todo agente instrumental realiza a ação do agente principal por meio de alguma ação própria e connatural a si mesmo».

 

[169] Ibid., livro 3, capítulo 147, n. 6; cf. Id., Suma Teológica I, q. 45, a. 5 co.

 

[170] Id., Summa Theologiae I-II , q. 5, a. 6, anúncio 1.

 

[171] Cf. Concílio Ecumênico de Trento, Sessão VI. Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532.

 

[172] Cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 114, a. 5 co.: “o homem que já está na graça, não é possível que mereça a graça que já tem”. Se bem que o justificado pode merecer um crescimento na vida da graça, o fato de estar justificado, de ser amigo de Deus pela graça, será sempre absolutamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás chama de “disposição final”, simultânea ao derramamento da graça santificante, é obra imediata da mesma graça. Trata-se da «disposição última, à qual necessariamente segue a forma»: S. Tomás de Aquino, Sententia Metaphysicae , lib. 5, lect. 2, n. 5; cf. Id., Scriptum Super Sententiis, I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Id., Summa contra Gentiles , lib. 2, cap. 19, n. 6; Id., Compendium theologiae , I, 105.

 

[174] Segundo Concílio Ecumênico Vaticano, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[175] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Catequese na Audiência geral (18 de novembro de 2020): L’Osservatore Romano, 18 de novembro de 2020, 11.

 

[177] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 53: AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho, Sermão 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117.

 

[180] Francisco, Catequese na Audiência geral (24 de março de 2021): L’Osservatore Romano, 24 de março de 2021, 8.

 

[181] S. Paulo VI, Exort. ap. Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas para proceder no discernimento de fenômenos sobrenaturais presumidos (17 de maio de 2024), n. 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Catequese na Audiência geral (16 de fevereiro de 2022): L’Osservatore Romano, 16 de fevereiro de 2022, 2.

 

[185] Id., Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013) , n. 285: AAS 105 (2013), 1134-1135.

 

[186] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 284: AAS 105 (2013), 1134.

 

[188] Cf. Ibid. , n. 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Benção apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025): L'Osservatore Romano , 9 de maio de 2025, 3.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013) , n. 285: AAS 105 (2013), 1135.

 

[192] S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conferência Episcopal Latino-americana, V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265.

 

[194] Cf. S. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus (1 de janeiro de 2024): AAS 79 (2024), 20.

 

[196] Conferência Episcopal Latino-americana, V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259.

 

[01462-PO.01] [Texto original: Espanhol]

 

 

 

Texto em polonês

 

DICASTERIO DA DOUTRINA DA FÉ

 

Mãe Fiel do Povo

 

Nota doutrinária sobre certos títulos marianos

 

relacionado à cooperação de Mary

 

na obra da salvação

 

Apresentação

 

Esta Nota responde a inúmeras perguntas e propostas que foram submetidas à Santa Sé – e particularmente a este Dicastério – nas últimas décadas, referentes a questões relacionadas à devoção mariana, especialmente a certos títulos marianos. Essas questões têm sido motivo de preocupação para os Papas recentes e foram abordadas repetidamente ao longo dos últimos trinta anos em diversas áreas de atuação do Dicastério, como congressos, sessões ordinárias, etc. Isso proporciona ao Dicastério uma vasta gama de material que serve de base para esta reflexão.

 

Este texto esclarece o sentido em que certos títulos e expressões referentes a Maria são permitidos e o sentido em que não o são, e, ao mesmo tempo, visa aprofundar os fundamentos da devoção mariana, definindo o lugar de Maria na sua relação com os fiéis à luz do mistério de Cristo como único Mediador e Redentor. Isto implica uma profunda fidelidade à identidade católica e, simultaneamente, um compromisso ecuménico particular.

 

O tema central destas páginas é a maternidade de Maria para com os fiéis , um tema que se repete frequentemente, com afirmações recorrentes que o enriquecem e complementam – como numa espiral – com novas reflexões.

 

A devoção mariana, animada pela sua maternidade, é aqui apresentada como um tesouro da Igreja. Não se trata de corrigir a devoção dos fiéis, que encontram refúgio, força, ternura e esperança em Maria, mas sobretudo de a apreciar, reconhecer a sua beleza e promovê-la, pois é uma expressão mistagógica e simbólica da atitude evangélica de confiança no Senhor, que o próprio Espírito Santo desperta nos crentes. De facto, os pobres «descobrem também a ternura de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem fundamental do Evangelho»[1].

 

Ao mesmo tempo, existem grupos dedicados à reflexão mariológica, publicações, novas formas de piedade e reivindicações de dogmas marianos que não compartilham as mesmas características da piedade popular, mas que, em última análise, propõem um desenvolvimento dogmático específico e encontram forte expressão na mídia, muitas vezes suscitando dúvidas entre os fiéis comuns. Por vezes, tratam-se de reinterpretações de expressões usadas no passado com significados diferentes. Portanto, este documento analisa essas propostas para indicar em que sentido algumas delas correspondem à autêntica piedade mariana inspirada no Evangelho e em que sentido outras devem ser evitadas por não promoverem uma compreensão adequada da natureza harmoniosa de toda a mensagem cristã.

 

Por outro lado, diversas seções desta Nota oferecem extensas reflexões bíblicas que ajudam a demonstrar que a autêntica devoção mariana se encontra não apenas na Tradição da Igreja, mas também nas Sagradas Escrituras. Esses essenciais vestígios bíblicos complementam os textos dos Padres da Igreja, dos Doutores da Igreja e dos Papas recentes. Assim, a Nota busca não tanto impor limitações, mas sim acompanhar e apoiar o amor a Maria e a confiança em sua intercessão materna.

 

Victor Manuel Kard. Fernandez

 

Prefeito

 

[1] Conselho Latino-Americano de Bispos, Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265: Tradução polonesa: Aparecida. Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe. Documento Final. Somos discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que as nossas nações tenham vida nEle , traduzido por Krzysztof Zabawa, Krzysztof Łukoszczyk, encomendado pela Equipe KEP para a Nova Evangelização, Gubin, 2014, n. 265, p. 132. Citado na n. 78 desta Nota .

 

Entrada

 

1. ( Mater Populi fidelis ) A Mãe do Povo Fiel [1] é rodeada de amor e admiração entre os cristãos, porque se a graça nos configura a Cristo, e Maria é a expressão máxima da ação pela qual Ele transforma a nossa humanidade, ela é também a expressão feminina de tudo o que a graça de Cristo pode fazer no homem. Diante desta beleza, muitos fiéis, movidos pelo amor, sempre procuraram dirigir-se à Mãe com as mais belas palavras e exaltaram o lugar especial que ela ocupa junto a Cristo.

 

2. Este Dicastério publicou recentemente as Normas de Procedimento para o Discernimento dos Presumidos Fenômenos Sobrenaturais [2] . Certos títulos[3] e expressões referentes à Virgem Maria são frequentemente usados ​​em conexão com esses fenômenos . Esses títulos, alguns dos quais já apareceram nos Padres da Igreja, nem sempre são usados ​​com precisão; seu significado às vezes é alterado ou são mal interpretados. Além dos problemas terminológicos, alguns títulos apresentam sérias dificuldades em termos de conteúdo, uma vez que frequentemente resultam em uma incompreensão da figura de Maria, com graves consequências nos níveis cristológico[4], eclesiológico[5] e antropológico[6].

 

3. Na interpretação desses títulos referentes à Virgem Maria, a questão é como compreender a relação de Maria com a obra redentora de Cristo, ou seja: “Qual o significado desta extraordinária cooperação de Maria no plano da salvação?”[7]. Este documento, sem pretender esgotar o tema ou apresentá-lo em detalhe, procura manter o necessário equilíbrio que deve existir nos mistérios cristãos entre a mediação única de Cristo e a cooperação de Maria na obra da salvação, e mostrar como isso se expressa nos diversos títulos marianos.

 

A cooperação de Maria na obra da salvação.

 

4. Tradicionalmente, a cooperação de Maria na obra da salvação tem sido considerada sob uma dupla perspectiva: tanto do ponto de vista de sua participação na redenção objetiva realizada por Cristo em sua vida, especialmente em sua Ressurreição, quanto do ponto de vista da influência que Maria exerce agora sobre os redimidos. Na realidade, essas perspectivas estão interligadas e não podem ser consideradas isoladamente.

 

5. A participação de Maria na obra salvífica de Cristo é confirmada pelas Sagradas Escrituras, que apresentam o evento salvífico realizado em Jesus Cristo como uma promessa predita nos escritos do Antigo Testamento e como cumprimento no Novo Testamento. Assim, já em Gênesis 3:15, Maria pode ser vista, pois ela é a Mulher que participa da vitória final sobre a serpente. Portanto, não é surpreendente que Jesus se dirija a Maria no Calvário usando o termo "Mulher" ( João 19:26). Também em Caná da Galileia, Jesus diz "Mulher" ( João 2:4), referindo-se a Maria e ao seu papel com Ele na "hora" da cruz.

 

6. Nessa “hora”, revela-se a cooperação de Maria, ao repetir o “sim” da Anunciação, e nesse momento santo o Evangelho passa de colocar a palavra “Mulher” nos lábios de Jesus ( Jo 19,26) para apresentar Maria como “Mãe” ( Jo 19,27). Quando o Evangelho explica que, em resposta, o discípulo — que representa todos nós — a acolheu, usa um verbo ( lambano ) que no Evangelho assume o significado de “receber” pela fé (cf. Jo 1,11-12; 5,43 e 13,20). Este é o mesmo verbo usado no Quarto Evangelho para dizer que a Luz veio aos seus, e os seus não o “receberam” ( Jo 1,11). Isto significa que o discípulo, que tomou o nosso lugar ao lado de Maria, acolheu-a como Mãe pela fé. Só depois de confiar Maria como Mãe é que Jesus reconheceu que “tudo se cumpriu” ( Jo 19,28). Essa referência solene ao cumprimento impede uma interpretação superficial desse evento. A maternidade de Maria para nós faz parte do cumprimento do plano divino, que se concretiza com a Páscoa de Cristo. Da mesma forma, o livro do Apocalipse apresenta a "Mulher" ( Ap 12:1) como a mãe do Messias (cf. Ap 12:5) e a mãe do "resto da sua descendência" ( Ap 12:17).

 

7. Vale lembrar que Maria de Nazaré pode ser considerada uma “testemunha privilegiada”[8] dos acontecimentos da infância de Jesus[9], tal como apresentados nos Evangelhos (cf. Lc 1-2; Mt 1-2). No prólogo do seu Evangelho, Lucas informa os seus leitores: “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos acontecimentos que se cumpriram entre nós, tal como nos foram transmitidos por aqueles que desde o princípio foram testemunhas e servos”. Ele também resolveu “investigar cuidadosamente tudo desde o princípio” ( Lc 1,1-3). Entre estas testemunhas oculares, destaca-se Maria, a protagonista direta da conceção, do nascimento e da infância do Senhor Jesus. O mesmo se pode dizer das descrições da Paixão, quando "sua mãe estava junto à cruz de Jesus" ( Jo 19,25), e enquanto aguardavam a descida do Espírito Santo, quando os apóstolos "permaneciam unanimemente em oração, juntamente com as mulheres e Maria, mãe de Jesus" ( At 1,14).

 

8. No Evangelho de Lucas, Maria é a nova Filha de Sião, que acolhe e comunica a alegria da salvação. Lucas reúne as promessas proféticas que anunciam a alegria messiânica (cf. Zc 3,14-17; Zc 9,9). Nela, cumprem-se as promessas que fizeram João Batista exultar de alegria (cf. Lc 1,41) . Isabel considera-se indigna da visita de Maria: "E por que me acontece que a mãe do meu Senhor venha me visitar?" ( Lc 1,43). Isabel não diz: "Quem sou eu para que o Senhor venha me visitar?". Ela se refere diretamente à Mãe , e assim podemos ver o vínculo indissociável entre a missão de Cristo e a missão de Maria. Isabel fala cheia do Espírito (cf. Lc 1,41) de tal forma que sua atitude para com Maria emerge como um modelo de fé. Sob a influência do Espírito, ela profere as seguintes palavras: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!” ( Lc 1,42). É surpreendente que, sob a influência do Espírito Santo, não lhe baste chamar Jesus de “bem-aventurado”, mas também chame Sua Mãe de “bem-aventurada”. Num momento de alegria messiânica, ela contempla a Sua profunda unidade. Maria aparece aqui como aquela que é “bem-aventurada” por excelência : “Bem-aventurado aquele que acreditou” ( Lc 1,45); “O meu espírito exulta” ( Lc 1,47); “Desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada” ( Lc 1,48). Isto é ainda mais significativo se notarmos que, no Evangelho de Lucas, esta felicidade não aparece como um estado de alma, mas como o cumprimento das promessas messiânicas nos pequeninos (cf. Lc 6,20-22), que recebem uma grande recompensa no céu (cf. Lc 6,23).

 

9. Nos primeiros séculos do cristianismo, os Padres da Igreja estavam principalmente interessados ​​na maternidade divina de Maria ( Theotókos ), em sua virgindade perpétua ( Aeiparthenos ), em sua santidade perfeita, em sua liberdade vitalícia do pecado ( Panagia ) e em seu papel como a Nova Eva,[10] concentrando-se no mistério da Encarnação para reflexão sobre a participação de Maria na Redenção realizada por Cristo. O "sim" de Maria, dito em resposta à saudação do Arcanjo Gabriel ao Verbo de Deus que se fez carne em seu ventre (cf. Lc 1,26-37), oferece à humanidade a possibilidade da divinização. Portanto, Santo Agostinho chama a Virgem Maria de "cooperadora" na Redenção, enfatizando tanto a ação de Maria unida a Cristo quanto sua subordinação a Ele, porque Maria coopera com Cristo para que "os fiéis na Igreja" possam nascer[11] e, portanto, podemos chamá-la de Mãe do Povo fiel .

 

10. No primeiro milênio, a reflexão sobre a Virgem Maria na Igreja centrou-se na liturgia. A vasta e rica diversidade das tradições litúrgicas do Oriente cristão refletia fielmente as Sagradas Escrituras, os Concílios e os Padres da Igreja. A lex orandi , que se tornou a lex credendi , molda a Mariologia Oriental, da hinografia à iconografia e à piedade popular.[12] Por exemplo, a partir do século V, as festas marianas foram instituídas no Oriente, difundindo-se posteriormente para o Ocidente no século VII. A participação da Mãe de Deus na obra da salvação é comemorada não só nas anáforas e liturgias eucarísticas das Igrejas Orientais, mas sobretudo nos textos hinográficos utilizados na Liturgia das Horas canônica, presente nas diversas tradições litúrgicas do Oriente cristão. A hinografia é rica em composições com alegorias bíblicas dedicadas a Maria[13], nas quais se invoca a mediação da Mãe de Deus, o que permite uma compreensão mais profunda do mistério fundamental da Encarnação e do seu significado na perspetiva da Redenção em Cristo, utilizando uma linguagem repleta de simbolismo poético, capaz de expressar o espanto e o deleite daqueles que, sendo da mesma linhagem de Maria, contemplam as maravilhas que o Todo-Poderoso operou nela[14].

 

11. Os ensinamentos dos primeiros Concílios Ecumênicos começam a definir o dogma de Maria, Mãe de Deus, posteriormente proclamado na forma do Dogma de Éfeso. O Oriente cristão sempre defendeu doutrinariamente os dogmas definidos por esses primeiros Concílios, pelo menos nas Igrejas que aceitaram os Concílios de Éfeso e Calcedônia. Ao mesmo tempo, incorporou às suas tradições litúrgicas, hinográficas e iconográficas histórias e lendas marianas populares sobre a infância e a morte de Jesus. Essas histórias visam nutrir a piedade do Povo de Deus, expressando o lirismo de imagens poéticas cujo único propósito é evocar admiração. Essa devoção à Mãe de Deus também se manifesta na iconografia , que fornece uma imagem visual de Maria e do Verbo Encarnado. É significativo que a iconografia tradicional dessas Igrejas, associada aos Concílios de Éfeso e Calcedônia, apresente Maria principalmente como Theotókos [15] e tenha sido criada para contemplar nela a Virgem Mãe que se apresenta ao mundo e acolhe seu Filho, o Menino Jesus, intercedendo diante Dele pela humanidade. Dessa forma, a iconografia mariana oriental, como querigma e memória visual da teologia dos primeiros Concílios e dos Santos Padres, visa ser uma tradução visual dos títulos específicos atribuídos à Virgem [16]. Por essa razão, os ícones devem ser "lidos" levando-se em consideração a liturgia e os hinos. Maria não é um objeto de veneração colocado ao lado de Cristo, mas, por meio da Encarnação, está inscrita no mistério de Cristo [17]. Ela é o ícone no qual o próprio Cristo é venerado. Ela é a Theotókos — a Virgem Mãe que representa seu Filho Jesus, o Cristo, e ao mesmo tempo é a Hodegetria , que aponta com a mão para o único caminho, que é Cristo.

 

12. A partir do século XII, a teologia ocidental[18] chama a atenção para a ligação entre a Virgem Maria e o mistério da Redenção sangrenta no Calvário e relaciona a profecia de Simeão com a cruz de Cristo. A presença de Maria aos pés da cruz é entendida como um sinal da força cristã, repleta de amor materno. São Bernardo, em seu comentário sobre a Apresentação de Jesus no Templo, fala da cooperação da Mãe de Deus no sacrifício redentor.[19] Arnoldo, amigo de São Bernardo e abade beneditino de Bonneval († após 1159), foi o primeiro a considerar a participação de Maria no sacrifício do Calvário, juntamente com seu Filho Jesus Cristo.[20]

 

13. A cooperação da Mãe com o Filho na obra da salvação foi demonstrada pelo Magistério da Igreja.[21] Como afirma o Concílio Vaticano II: “Os santos Padres julgam corretamente que Maria não foi meramente usada passivamente por Deus, mas cooperou com fé livre e obediência na obra da salvação humana.”[22] Esta união da Virgem Maria está presente tanto na vida terrena de Jesus Cristo (concepção, nascimento, morte e ressurreição) como no tempo da Igreja.

 

14. O dogma da Imaculada Conceição destaca a primazia e a singularidade de Cristo na obra da Redenção, porque ela, que é a primeira dos redimidos, também foi redimida por Cristo e transformada pelo Espírito antes de poder empreender qualquer ação pessoal.[23] Neste estado especial de ser “a primeira redimida” por Cristo e “a primeira transformada” pelo Espírito Santo, Maria pode cooperar com Cristo e o Espírito de uma maneira mais profunda e plena, tornando-se o protótipo,[24] o modelo e o exemplo daquilo que Deus deseja realizar em cada pessoa redimida.[25]

 

15. A cooperação de Maria na obra da salvação tem uma estrutura trinitária, pois é fruto da iniciativa do Pai, que olhou para a humildade de sua serva (cf. Lc 1,48); decorre da kenōsis do Filho, que se humilhou assumindo a forma de Servo (cf. Fl 2,7-8); e é efeito da graça do Espírito Santo (cf. Lc 1,28.30), que moldou o coração da jovem de Nazaré para responder, tanto na Anunciação como ao longo de sua vida, em comunhão com o Filho. São Paulo VI ensinou: “Na Virgem Maria, tudo se refere a Cristo e depende dele. Por amor a ele, Deus Pai, desde a eternidade, escolheu-a para ser sua Mãe, santa em todos os sentidos, e o Espírito Santo a adornou com dons que não concedeu a mais ninguém.”[26] O “sim” de Maria não é uma simples condição prévia para algo que poderia ter sido realizado sem o seu consentimento e cooperação. Sua maternidade não é simplesmente biológica e passiva[27], mas é uma maternidade “plenamente ativa ”[28], que se une ao mistério salvífico de Cristo como instrumento amado pelo Pai em Seu plano de salvação. Ela “é a garantia de que Ele, como ‘nascido de mulher’ ( Gl 4:4), é verdadeiramente humano e, ao mesmo tempo – desde a promulgação do dogma niceno – ela é a Theotókos , isto é, aquela que dá à luz a Deus”[29].

 

Títulos que fazem referência à cooperação de Maria na obra da salvação.

 

16. Entre os títulos pelos quais Maria tem sido invocada (Mãe da Misericórdia, Esperança dos Pobres, Auxílio dos Cristãos, Auxiliadora, Advogada, etc.), alguns se referem mais diretamente à sua cooperação na obra redentora de Cristo, como Corredentora e Medianeira.

 

Co-Redentora

 

17. O título Corredentora surge no século XV como uma correção ao título Redentora (abreviação de "Mãe do Redentor"), que havia sido atribuído a Maria desde o século X. São Bernardo atribui a Maria um papel aos pés da cruz que deu origem ao título Corredentora ; este título aparece pela primeira vez num hino anônimo do século XV de Salzburgo.[30] Embora o termo Redentora tenha persistido nos séculos XVI e XVII, desapareceu completamente no século XVIII, dando lugar a Corredentora . A pesquisa teológica sobre a cooperação de Maria na obra da Redenção, realizada na primeira metade do século XX, levou a uma compreensão mais profunda do título Corredentora .[31]

 

18. Alguns Papas usaram este título sem tentar explicá-lo.[32] Geralmente o apresentaram de duas maneiras: em referência à maternidade divina, visto que Maria, como Mãe, tornou possível a realização da Redenção por Cristo.[33] e em referência à sua união com Cristo sob a Cruz da Redenção.[34] Por razões doutrinais, pastorais e ecumênicas, o Concílio Vaticano II evitou usar o título de Corredentora . São João Paulo II usou-o pelo menos sete vezes, ligando-o sobretudo ao valor salvífico do nosso sofrimento, oferecido juntamente com o de Cristo, ao qual Maria está unida de modo especial, sobretudo sob a Cruz.[35]

 

19. Durante a sessão ordinária da Feria IV , em 21 de fevereiro de 1996, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da então Congregação para a Doutrina da Fé, foi questionado se o pedido do movimento Vox Populi Mariae Mediatrici para proclamar o dogma de Maria como Corredentora ou Medianeira de todas as graças poderia ser aceito. Ele respondeu em sua posição pessoal ( votum ): “ Negativo . O significado preciso desses títulos não é claro, e a doutrina que eles contêm ainda não está madura. A doutrina declarada de fide divina pertence ao depositum fidei , isto é, à Revelação Divina transmitida na Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica. Ainda não está claro como a doutrina expressa nesses títulos está presente na Escritura e na Tradição Apostólica.”[36] Então, em 2002, ele expressou publicamente sua oposição ao uso desse título: “(...) a fórmula 'Corredentora' se afasta significativamente da linguagem da Bíblia e dos Padres da Igreja e, portanto, gera mal-entendidos. (...) tudo vem d'Ele, como lemos especialmente na Carta aos Efésios e na Carta aos Colossenses; Maria também deve tudo o que é a Cristo. A expressão 'Corredentora' obscureceria essa fonte.” O cardeal Ratzinger não negou que a proposta de usar este título continha boas intenções e aspetos valiosos, mas considerou-a uma "terminologia incorreta"[37].

 

20. O mesmo Cardeal citou as Epístolas aos Efésios e Colossenses, nas quais o vocabulário utilizado e a dinâmica teológica dos hinos demonstram a centralidade exclusiva do papel redentor e a primazia do Filho encarnado de uma forma que exclui a possibilidade de acrescentar qualquer outra mediação, visto que “toda bênção espiritual” nos foi dada “em Cristo” ( Ef 1,3), porque nele fomos adotados como filhos (cf. Ef 1,5), nele fomos dotados de graça (cf. Ef 1,6), “nele temos a redenção pelo seu sangue” ( Ef 1,7) e ele “derramou” ( Ef 1,8) a sua graça sobre nós . Nele “recebemos uma herança” ( Ef 1,11) e fomos predestinados. Deus também quis que nele "habitasse toda a plenitude" ( Colossenses 1:19) e que "por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas" ( Colossenses 1:20). Tal louvor ao lugar único de Cristo, ao se considerar qualquer forma de possível cooperação na obra da Redenção, encoraja tanto a colocação de cada ser criado em um papel receptivo quanto a cautela religiosa e prudente.

 

21. Em pelo menos três discursos, o Papa Francisco expressou inequivocamente sua avaliação negativa do uso do título de Corredentora , enfatizando que Maria "nunca quis guardar para si nada que pertencesse a seu Filho. Ela nunca se apresentou como corredentora, mas como discípula".[38] A obra da Redenção foi realizada perfeitamente e não requer acréscimos. Portanto, “Maria não quis tirar nenhum título de Jesus (...). Ela não pediu para si ser uma quase-redentora ou corredentora – não. Há apenas um Redentor, e este título não pode ser duplicado.”[39] Cristo “é o único Redentor – não há corredentores com Cristo”[40] porque “o sacrifício da cruz, oferecido com amor e humildade, trouxe reparação infinita pelos pecados da raça humana.”[41] Embora possamos prolongar os seus frutos no mundo (cf. Col 1,24), nem a Igreja nem Maria podem substituir ou aperfeiçoar a obra redentora do Filho de Deus encarnado, que é perfeita e não precisa de acréscimos.

 

22. Dada a necessidade de esclarecer o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, o uso do título Corredentora para designar a cooperação de Maria é sempre inadequado . Este título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e pode, portanto, levar à confusão e à ruptura da harmonia das verdades da fé cristã, pois "não há salvação em nenhum outro, porque debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" ( Atos 4:12). Quando uma expressão exige numerosas e constantes explicações para evitar mal-entendidos, ela não serve à fé do Povo de Deus e torna-se inadequada . Neste caso, não contribui para a exaltação de Maria como a primeira e mais importante colaboradora na obra da Redenção e da graça, pois o risco de obscurecer o papel exclusivo de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se fez homem para a nossa salvação e que somente ele pôde oferecer ao Pai um sacrifício de valor infinito, não constituiria uma verdadeira honra para a Mãe. Na verdade, como "serva do Senhor" ( Lc 1,38), ela nos aponta para Cristo e nos encoraja: "Fazei tudo o que ele vos disser" ( Jo 2,5).

 

Mediatrix

 

23. O conceito de "mediação" tem sido usado na patrística oriental desde o século VI. Nos séculos seguintes, Santo André de Creta[42], São Germano de Constantinopla[43] e São João Damasceno[44] usaram este título com vários significados. No Ocidente, a partir do século XII, começou a ser usado com mais frequência, embora não tenha sido estabelecido como tese doutrinal até o século XVII. Em 1921, o Cardeal Mercier, Arcebispo de Malines, com a colaboração científica da Universidade Católica de Leuven e o apoio dos bispos, do clero e do povo da Bélgica, solicitou ao Papa Bento XV a aprovação dogmática da mediação universal de Maria; no entanto, o Papa não a concedeu. Ele apenas aprovou uma festa com sua própria Missa e fórmulas litúrgicas em honra de Maria Medianeira[45]. A partir de então, até 1950, foram realizadas pesquisas teológicas sobre este tema, que se estenderam até a fase preparatória do Concílio Vaticano II. No entanto, o Concílio não adotou uma definição dogmática do tema[46], propondo, em vez disso, uma ampla síntese do “ensinamento católico sobre o lugar de Maria no mistério de Cristo e da Igreja”[47].

 

24. A expressão bíblica que se refere à mediação exclusiva de Cristo é inequívoca. Cristo é o único Mediador: “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos” (1 Tm 2,5-6). A Igreja explica esta posição única de Cristo pelo fato de que — como Filho eterno e infinito — Ele uniu a si hipostaticamente a natureza humana que assumiu. Esta posição pertence exclusivamente à sua humanidade, e as consequências que dela decorrem só podem ser aplicadas a Cristo. Neste sentido precisamente definido, o papel do Verbo Encarnado é exclusivo e único. Dada esta clareza do Verbo revelado, é necessária particular cautela ao aplicar o título de Medianeira a Maria . Quanto à tendência de ampliar o alcance da cooperação de Maria ao se referir a este termo, é necessário definir com precisão tanto o valioso alcance desta cooperação quanto os seus limites.

 

25. Por um lado, não podemos deixar de notar que o termo "mediação" é frequentemente usado em diversas áreas da vida social, onde significa simplesmente cooperação, assistência, intercessão. Consequentemente, esse termo é inevitavelmente aplicado a Maria em um sentido subordinado e não pretende, de forma alguma, acrescentar eficácia ou poder à mediação única de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

26. Por outro lado, é evidente que Maria mediou verdadeiramente a possibilidade da verdadeira Encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, visto que o Redentor tinha de “nascer de uma mulher” ( Gl 4,4). O relato da Anunciação mostra que esta não foi uma mediação puramente biológica, pois enfatiza a presença ativa de Maria, que faz perguntas (cf. Lc 1,29.34) e expressa decisivamente a sua aceitação com o seu “ fiat ” ( Lc 1,38). Esta resposta de Maria abriu a porta à Redenção que toda a humanidade aguardava e que os santos descreveram com drama poético.[48] Nas bodas de Caná, Maria também desempenha o papel de mediadora, apresentando a Jesus as necessidades dos noivos (cf. Jo 2,3) e pedindo aos servos que seguissem as suas instruções (cf. Jo 2,5).

 

27. Nos documentos do Concílio Vaticano II, o termo mediação refere-se principalmente a Cristo e, por vezes, também a Maria, embora de forma claramente subordinada.[49] De facto, utilizou-se um termo diferente em referência a ela, que se centrava na cooperação[50] ou na assistência materna.[51] O ensinamento do Concílio formula claramente a perspetiva da intercessão materna de Maria , utilizando expressões como “intercessões múltiplas” e “amor materno”.[52] Estes dois aspetos, em conjunto, constituem a especificidade da cooperação de Maria na obra de Cristo através do Espírito. Em sentido estrito, não podemos falar de outra mediação da graça senão a do Filho de Deus encarnado.[53] Por esta razão, a convicção cristã deve ser sempre lembrada e não negligenciada: «a verdade sobre Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único Salvador, deve ser firmemente crida como um ensinamento constante da fé da Igreja. Através do evento da sua encarnação, morte e ressurreição, ele levou à plenitude a história da salvação, que tem nele a sua plenitude e centro»[54].

 

Maria na mediação única de Cristo

 

28. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que a natureza única da mediação de Cristo é "inclusiva", ou seja, Cristo torna possíveis várias formas de mediação na realização do seu plano salvífico, porque em comunhão com ele todos podemos ser, de certo modo, ajudadores de Deus, "mediadores" uns dos outros (cf. 1 Cor 3,9). Precisamente porque Cristo possui poder supremo e infinito, ele pode capacitar seus irmãos e irmãs a cooperarem verdadeiramente na realização dos seus planos. O Concílio Vaticano II afirmou que “a mediação única do Redentor não exclui, mas antes evoca nas criaturas uma cooperação múltipla que resulta da participação na única fonte”.[55] Por esta razão, “devemos procurar uma compreensão mais profunda do que consiste esta cooperação na mediação, que, no entanto, deve estar sempre subordinada ao princípio da mediação única de Cristo”.[56] Permanece verdade que a Igreja prolonga no tempo e em todo o lado transmite os efeitos do evento pascal de Cristo[57] e que Maria ocupa um lugar único no coração da Mãe Igreja[58].

 

29. A participação de Maria na obra de Cristo torna-se evidente se partirmos da convicção de que o Senhor Ressuscitado sustenta, transforma e capacita os crentes a cooperarem com Ele em Sua obra. Isso não acontece por causa de qualquer fraqueza, incapacidade ou necessidade da parte do próprio Cristo, mas precisamente por causa de Seu glorioso poder, que é capaz de nos envolver como colaboradores generosos e altruístas em Sua obra. É importante enfatizar aqui que, quando Ele nos permite acompanhá-Lo e — sob a influência de Sua graça — dar o nosso melhor, Seu poder e Sua misericórdia são, em última análise, glorificados.

 

Frutificantes em Cristo glorificado

 

30. A seguinte passagem é particularmente eloquente: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço; e fará obras ainda maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” ( Jo 14,12). Os crentes, unidos a Cristo ressuscitado, que retornou ao seio do Pai, podem realizar obras que superam os milagres do Jesus terreno — mas sempre graças à sua unidade, pela fé, com o Cristo glorificado. Isso se manifesta, por exemplo, na expansão surpreendente da Igreja primitiva, porque o Ressuscitado deu à sua Igreja participação nesta sua obra (cf. Mc 16,15). Desta forma, a sua glória não foi diminuída, mas revelada ainda mais plenamente — como um poder capaz de transformar os crentes e torná-los fecundos juntamente com ele.

 

31. Nos escritos dos Padres da Igreja, essa visão encontrou expressão particular no comentário de João 7:37-39, porque alguns interpretaram a promessa de "rios de água viva" como referente aos crentes. Isso significa que os próprios crentes, transformados pela graça de Cristo, tornam-se fontes para os outros. Orígenes explicou que o Senhor cumpre o que anunciou em João 7:38 porque faz fluir rios de água de nós: "a alma humana, sendo imagem de Deus, pode ter em si mesma e fazer brotar de si mesma fontes, nascentes e rios".[59] Santo Ambrósio nos encorajou a beber do lado aberto de Cristo, "para que a fonte de água que jorra para a vida eterna transborde em vós".[60] São Tomás de Aquino expressou isso afirmando que, se um crente "se apressasse em ajudar o seu próximo e comunicasse aos outros os vários dons da graça recebidos de Deus, águas vivas fluiriam de dentro dele".[61]

 

32. Se isso é verdade para todo crente, cuja cooperação com Cristo se torna tanto mais frutífera quanto mais ele se deixa transformar pela graça, então isso deve ser dito com muito mais propriedade de Maria – de modo único e supremo. Pois ela é “cheia de graça” ( Lc 1,28), que, sem impedir a obra de Deus, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” ( Lc 1,38). Ela é a Mãe que deu ao mundo o Doador da Redenção e da graça, que perseverou sob a cruz (cf. Jo 19,25), sofrendo com o Filho, oferecendo a dor de um coração materno transpassado por uma espada (cf. Lc 2,35). Ela permaneceu unida a Cristo – da Encarnação à cruz e à Ressurreição – de modo único e incomparável na vida de qualquer outro crente.

 

33. Tudo isso aconteceu não por seus próprios méritos, mas porque os méritos de Cristo crucificado foram aplicados a ela de forma plena — de maneira especial e prioritária — para a glória do único Senhor e Salvador.[62] Em suma, Maria é um hino à eficácia da graça divina, de modo que qualquer apreciação de sua beleza leva imediatamente à adoração da fonte de todo o bem: a Santíssima Trindade. A incomparável grandeza de Maria consiste no que ela recebeu e em sua confiante disposição de ser cheia do Espírito. Quando tentamos atribuir a ela funções ativas paralelas às de Cristo, nos distanciamos daquela incomparável beleza que lhe é própria. A expressão "mediação participativa" pode muito bem transmitir um significado preciso e precioso do lugar de Maria, mas, se não for devidamente compreendida, pode facilmente obscurecê-lo ou mesmo contradizê-lo. A mediação de Cristo — que em alguns aspectos pode ser "inclusiva" ou participativa — é, em outros, exclusiva e incomunicável.

 

Mãe dos crentes

 

34. No caso de Maria, esta mediação assume uma forma materna [63] – precisamente como o fez em Caná da Galileia [64] e como foi confirmado aos pés da cruz [65]. O Papa Francisco explicou isto com as seguintes palavras: «Ela é Mãe. E este é o título que recebeu de Jesus, ali mesmo, no momento da sua morte na cruz (cf. Jo 19,26-27). Vossos filhos, tu és Mãe. (...) Ela aceitou o dom de ser a Sua Mãe e o dever de nos acompanhar como Mãe, de ser a nossa Mãe» [66].

 

35. O título de Mãe tem suas raízes nas Sagradas Escrituras e nos Padres da Igreja, foi proposto pelo Magistério e seu conteúdo foi gradualmente desenvolvido, até ser apresentado no Concílio Vaticano II[67] e na expressão “ maternidade espiritual” na Encíclica Redemptoris Mater [68]. Esta maternidade espiritual de Maria deriva de sua maternidade física do Filho de Deus. Ao dar à luz Cristo segundo a carne, por seu livre e fiel consentimento a esta missão, a Virgem Maria deu à luz na fé todos os cristãos, que são membros do Corpo Místico de Cristo – em outras palavras, ela deu à luz o Cristo inteiro , Cabeça e membros[69].

 

36. A participação da Virgem Maria como Mãe na vida do Filho — da Encarnação à Cruz e à Ressurreição — confere à sua cooperação na obra redentora de Cristo um caráter único e excepcional. Isso tem um significado particular para a Igreja “quando contempla a maternidade espiritual de Maria, pela qual ela abarca todos os membros do Corpo Místico; na súplica confiante, quando experimenta a intercessão de seu Advogado e Auxiliador”.[70] Essa dimensão materna determina a relação da Virgem Maria com Cristo e sua cooperação em cada momento da obra de salvação. Em sua missão como Mãe, Maria mantém uma relação única tanto com o Redentor quanto com os redimidos, dos quais ela é a primeira. “Maria é o tipo (modelo) da Igreja e do novo nascimento que nela ocorre”, e mais ainda, ela é o símbolo e a “síntese da própria Igreja”.[71] Essa maternidade nasce da doação total de si e da vocação ao serviço do mistério.[72] É precisamente nessa maternidade de Maria que encontramos, em síntese, tudo o que podemos dizer sobre a maternidade segundo a graça e sobre o lugar atual de Maria em relação a toda a Igreja.

 

37. A maternidade espiritual de Maria possui certas características específicas:

 

a) Tem a sua origem em ser a Mãe de Deus e em estender a sua maternidade aos discípulos de Cristo[73] e a todas as pessoas.[74] Neste sentido, a cooperação de Maria é única e difere da de «outros seres criados».[75] A sua intercessão não tem o caráter de mediação sacerdotal, como a de Cristo, mas está inscrita na ordem e analogia da maternidade.[76] Quando a intercessão de Maria se une à Sua obra, os dons que recebemos do Senhor são-nos apresentados numa luz materna, cheia da ternura e proximidade de uma Mãe,[77] que Jesus quis partilhar connosco (cf. Jo 19,27).

 

b) A cooperação materna de Maria tem sua origem em Cristo e, portanto, é de natureza participativa , isto é, é “uma cooperação derivada da participação em uma única fonte”[78], que é a mediação única de Cristo. Maria entra de maneira completamente pessoal na mediação única de Cristo[79]. Seu papel materno “de modo algum obscurece ou diminui essa mediação única de Cristo, mas antes manifesta seu poder. Pois toda a influência salvífica da Bem-Aventurada Virgem sobre a humanidade” flui “da superabundância dos méritos de Cristo, baseia-se em sua mediação, depende inteiramente dessa mediação e dela extrai todo o seu poder” [80] . Em sua maternidade, Maria não constitui um obstáculo entre as pessoas e Cristo ; pelo contrário, seu papel materno está indissoluvelmente ligado ao de Cristo e dirigido a Ele. Compreendida dessa maneira, a maternidade de Maria não visa diminuir a honra única devida a Cristo, mas antes a fortalece.[81] Devemos, portanto, evitar títulos e expressões referentes a Maria que a apresentem como uma espécie de “para-raios” contra a justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária à misericórdia insuficiente de Deus. O Concílio Vaticano II recordou o que deveria ser o culto de Maria: “culto dirigido ao centro cristológico da fé cristã, para que ‘enquanto a Mãe é honrada, o Filho também... seja devidamente conhecido, amado e glorificado’”[82]. Em última análise, a maternidade de Maria está subordinada [83] à escolha do Pai, à obra de Cristo e à ação do Espírito Santo.

 

c) A Igreja não é o único ponto de referência para a maternidade espiritual de Maria: é precisamente a dimensão sacramental da Igreja que expressa constantemente a sua função materna.[84] Maria age com a Igreja, na Igreja e para a Igreja. A sua maternidade realiza-se na comunhão eclesial, não fora dela; ela guia e acompanha a Igreja. A Igreja aprende com Maria a sua própria maternidade.[85] na recepção da Palavra de Deus, que evangeliza, converte e proclama Cristo; no dom da vida sacramental – o Batismo e a Eucaristia – e na educação e formação materna que ajuda os filhos de Deus a nascer e a crescer.[86] Pode-se, portanto, dizer que “a fecundidade da Igreja é a mesma fecundidade de Maria, e realiza-se na vida dos seus membros na medida em que vivem ‘nas pequenas coisas’ o que a sua Mãe experimentou, isto é, amam à imitação de Jesus”.[87] Maria, como Mãe – tal como a Igreja – alimenta a esperança de que Cristo nascerá em nós,[88] e não para tomar o Seu lugar. Por conseguinte, “através da fonte inesgotável que brota do lado aberto de Cristo, a Igreja, Maria e todos os crentes tornam-se, de diferentes maneiras, canais de água viva. Desta forma, o próprio Cristo revela a sua glória na nossa pequenez”.[89]

 

Intercessão

 

38. Maria está unida a Cristo de modo único pela sua maternidade e pelo facto de ser cheia de graça. Isto é indicado pela saudação do anjo (cf. Lc 1,28), que usa uma palavra ( kecharitōmenē ) – única e excecional em toda a Bíblia. Ela, que recebeu no seu ventre o poder do Espírito Santo e se tornou Mãe de Deus, torna-se, graças ao mesmo Espírito, Mãe da Igreja.[90] Graças a esta combinação única de maternidade e graça, a sua oração por nós possui um valor e uma eficácia que não se comparam a qualquer outra forma de intercessão. São João Paulo II associou o título de Medianeira a esta função de intercessão materna, porque ela «está entre», isto é, intermedia, não como uma estranha, mas a partir da posição de mãe, consciente de que, como mãe, pode – ou ainda mais: «tem o direito» – de falar ao Filho sobre as necessidades das pessoas.[91]

 

39. A fé católica deduz das Sagradas Escrituras que aqueles que estão com Deus no céu podem continuar a realizar atos semelhantes de amor, intercedendo por nós e acompanhando-nos. Vemos, por exemplo, que os anjos são "espíritos enviados para servir aqueles que herdarão a salvação" ( Hb 1,14). Falamos de missões realizadas por anjos (cf. Tb 5,4; 12,12; At 12,7-11; Ap 8,3-5). Há anjos que ajudam Jesus no deserto quando ele é tentado (cf. Mt 4,11) e nos momentos de sua Paixão (cf. Lc 22,43). No Salmo, somos prometidos que Deus "deu ordens aos seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos" ( Sl 91,11).

 

40. Esses textos mostram que o céu não está completamente separado da terra. Isso abre a possibilidade de recebermos a intercessão daqueles que estão no céu. O livro de Zacarias apresenta um anjo de Deus que diz: “Ó Senhor dos Exércitos, até quando não perdoarás Jerusalém e as cidades de Judá, com as quais tens estado irado por setenta anos?” ( Zacarias 1:12). De modo semelhante, o Apocalipse fala dos “mortos”, os mártires no céu, que intercedem por nós, pedindo a Deus que aja na terra, libertando-nos da injustiça: “Vi debaixo do altar as almas daqueles que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam com grande voz: ‘Até quando, ó Senhor, santo e verdadeiro, não julgarás e vingarás o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’” ( Apocalipse 6:9-10). Já na tradição judaico-helenística existia a crença de que os justos intercediam pelo povo após a morte (cf. 2 Mac 15:12-14).

 

41. Maria, que no céu ama “o restante da sua descendência” ( Ap 12,17), assim como acompanhou a oração dos Apóstolos quando receberam o Espírito Santo (cf. At 1,14), continua agora a acompanhar as nossas orações com a sua intercessão materna. Desta forma, mantém a atitude de serviço e compaixão que demonstrou nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), e continua a dirigir-se a Jesus, dizendo: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). No hino de louvor, vemos Maria como uma mulher do seu povo que louva a Deus porque “ele exaltou os humildes e saciou os famintos com bens” ( Lc 1,52-53), porque “ajudou Israel, seu servo, lembrando-se da sua misericórdia, como prometeu aos nossos pais” ( Lc 1,54-55), e vemos a sua disponibilidade quando vai sem hesitar em ajudar a sua prima Isabel (cf. Lc 1,39-40). Portanto, o povo de Deus tem profunda confiança em sua intercessão.

 

42. Entre os escolhidos e glorificados juntamente com Cristo, a Mãe ocupa o primeiro lugar, graças ao qual podemos afirmar que Maria tem uma cooperação única na obra de salvação que Cristo realiza na sua Igreja. Esta intercessão transforma-a num sinal materno da misericórdia do Senhor. Desta forma — porque Ele próprio assim o escolheu — o Senhor dá à sua ação para conosco um rosto materno.[92]

 

Proximidade materna

 

43. A presença de várias formas de devoção, imagens e santuários marianos demonstra a maternidade concreta de Maria, que se inclina sobre a vida de seus filhos. Um exemplo disso é a aparição de Nossa Senhora a São Juan Diego, um índio, no Monte Tepeyac. Maria dirige-se a ele com as ternas palavras de uma mãe: “Meu filho, meu Juanito”. E diante das dificuldades que São Juan Diego encontra no cumprimento da missão que lhe foi confiada, Maria revela-lhe o poder de sua maternidade: “Não estou eu aqui, eu, tua Mãe? (...) Não estás tu no dobramento do meu manto, no abraço dos meus braços?” [93].

 

44. A experiência do amor materno de Maria, vivida por São Juan Diego, é a experiência pessoal dos cristãos que acolhem o amor de Maria e colocam “as necessidades da vida diária em suas mãos. Cheios de confiança, abrem seus corações para implorar sua intercessão materna e receber sua proteção infalível”.[94] Além dessas extraordinárias manifestações de sua proximidade, há constantes expressões diárias de seu amor materno na vida de todos os seus filhos. Mesmo quando não pedimos sua intercessão, ela, como Mãe, está perto de nós, ajudando-nos a reconhecer o amor do Pai, a contemplar o dom salvífico de Cristo e a acolher a ação santificadora do Espírito. Seu valor para a Igreja é tão grande que o clero deve evitar qualquer exploração política dessa proximidade materna. O Papa Francisco tem advertido repetidamente contra isso e expressado preocupação com “diversas propostas ideológico-culturais que buscam se apropriar do encontro entre o povo e sua Mãe”.[95]

 

Mãe da Graça

 

45. O significado do conceito “Mãe dos crentes”, discutido acima, permite-nos falar da ação de Maria também em relação à nossa vida de graça. Contudo, convém notar que algumas expressões que poderiam ser teologicamente aceitáveis ​​adquirem facilmente um caráter imaginativo e simbólico, transmitindo, na realidade, outros significados menos aceitáveis. Por exemplo, Maria é apresentada como se possuísse um reservatório separado de graça de Deus , quando não se vê tão claramente que o Senhor, na sua generosa e livre onipotência, quis associá-la à transmissão daquela vida divina que flui de um único centro — o Coração de Cristo, e não de Maria.[96] Ela é frequentemente apresentada ou imaginada como a fonte de onde flui toda a graça. Se considerarmos que a habitação da Santíssima Trindade (graça incriada) e a participação na vida divina (graça criada) são inseparáveis, não podemos supor que este mistério possa ser condicionado por “passar” pelas mãos de Maria. Estas representações elevam Maria de tal forma que o papel central de Cristo pode desaparecer ou, pelo menos, ser condicionado. O Cardeal Ratzinger explicou que o título de Maria Medianeira de todas as graças não se baseia claramente na Revelação Divina,[97] e em consonância com esta crença podemos ver as dificuldades que isto cria tanto na reflexão teológica como na espiritualidade.

 

46. ​​Para evitar essas dificuldades, a maternidade de Maria na ordem da graça deve ser entendida como preparatória. Por um lado, por causa de sua natureza intercessora ,[98] porque a intercessão materna é uma expressão daquele “cuidado materno”[99] que nos permite reconhecer Cristo como o único Mediador entre Deus e a humanidade. Por outro lado, a presença materna de Maria em nossas vidas não exclui suas diversas ações que motivam nossos corações a se abrirem à ação de Cristo no Espírito Santo. E assim, de várias maneiras, ela nos ajuda a nos prepararmos para a vida de graça que só o Senhor pode infundir em nós.

 

47. Nossa salvação é obra exclusiva da graça salvadora de Cristo e de mais ninguém. Santo Agostinho afirmou que "somente a graça do Salvador destrói este reino da morte em cada homem"[100] e explicou isso claramente através da redenção do homem injusto: "Mas quem desejaria sofrer a morte por um pecador, um homem ímpio e perverso, senão somente Cristo, tão justo que justificou os pecadores? Não havia boas obras em nós, irmãos; todas eram más. E embora tais fossem as obras dos homens, a misericórdia de Deus não os abandonou. Deus enviou seu Filho para nos salvar. Não com ouro ou prata, mas com o preço do seu sangue derramado."[101] Portanto, quando São Tomás de Aquino pergunta se alguém pode merecer por outro, ele responde que "ninguém, exceto somente Cristo, pode merecer por outro a primeira graça em sentido estrito."[102] Nenhum outro ser humano merece isso no sentido estrito da palavra ( de condigno ), e não há dúvida sobre isso: "pois ninguém pode ser justo senão pelos méritos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo."[103] No entanto, a plenitude da graça de Maria A graça também existe porque ela a recebeu livremente, antes de qualquer ação, "tendo em vista os méritos previstos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana".[104] Somente os méritos de Jesus Cristo, que se entregou ao fim, são aplicáveis ​​à nossa justificação; esta, tendo como objetivo: "o bem eterno da participação em Deus, é uma obra maior do que a criação do céu e da terra".[105]

 

48. No entanto, o homem pode participar, por meio de seu desejo, no bem do próximo, e é justo ( congruente ) que Deus ouça esse desejo de amor ao próximo, que o homem expressa “por meio da oração” ou “somente por meio de obras de misericórdia”.[106] É verdade que esse dom da graça só pode ser concedido por Deus, porque “ultrapassa a medida da natureza”[107] e há uma distância infinita[108] entre a nossa natureza e a Sua vida divina. Ele pode fazer isso, porém, atendendo ao desejo da Mãe, que assim se une alegremente à obra de Deus como uma humilde serva.

 

49. Como em Caná, Maria não diz a Cristo o que fazer. Ela intercede por nós, revelando a Cristo nossas falhas, necessidades e sofrimentos, para que Ele possa agir com seu poder divino[109]: “Eles não têm vinho” ( Jo 2,3). Também hoje, ela nos ajuda a nos abrirmos à ação de Deus[110]: “Fazei tudo o que ele vos disser” ( Jo 2,5). Suas palavras não são uma simples instrução, mas se tornam uma verdadeira pedagogia materna que, sob a influência do Espírito Santo, nos conduz às profundezas do mistério de Cristo[111]. Maria escuta, decide e age[112] para nos ajudar a abrir nossas vidas a Cristo e à sua graça[113], porque só Ele age na parte mais profunda do nosso ser.

 

Onde só Deus pode chegar

 

50. Como nos recorda o Catecismo , a graça santificante é “acima de tudo um dom do Espírito Santo que nos justifica e santifica”.[114] Não é meramente uma ajuda, uma energia que se possui, mas “um dom livremente concedido pelo qual Deus nos dá a sua vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma”.[115] Isto pode ser descrito como a habitação da Trindade na sua mais profunda intimidade, no sentido de amizade com Deus, aliança com o Senhor. Só Deus pode fazer isto, porque requer vencer uma desproporção “infinita”.[116] Este dom da Santíssima Trindade – “só Deus pode entrar na alma”[117] ( illabitur ) – está ligado a uma transformação que ocorre no mais profundo ser do crente.[118] Para indicar essa penetração no interior do ser humano, Tomás de Aquino usou este verbo, referindo-se exclusivamente a Deus, illabi , porque somente Deus, não sendo uma criatura, pode alcançar a intimidade pessoal sem violar a liberdade e a identidade da pessoa.[119] Somente Deus alcança a essência mais profunda do homem para efetuar sua elevação e transformação quando se dá como amigo, e, portanto, “nenhuma criatura pode conceder a graça”.[120] São Tomás repete isso ao falar da graça sacramental: como causa principal , “só Deus produz o efeito interior do sacramento: primeiro porque só Deus pode penetrar a alma na qual o efeito do sacramento ocorre, e não se pode fazer nada diretamente onde não se está; segundo porque a graça, que é o efeito interior do sacramento, vem de Deus”.[121]

 

51. Outros autores expressaram opinião semelhante.[122] Entre eles, destaca-se São Boaventura, que ensinou que, quando Deus opera a graça santificante no homem, Ele o aproxima de Si de forma absolutamente direta .[123] Deus, por meio da graça, aproxima-se completamente do homem, com absoluta imediatidade, “penetrando” seu interior, algo que só Ele pode fazer.[124] Essa mesma graça criada não age como um “mediador”, mas é o efeito direto da amizade que Deus concede, tocando diretamente o coração humano. Portanto, como é Deus quem transforma a pessoa quando concede a amizade, não há mediador entre Deus e a pessoa transformada.[125] Somente Deus é capaz de penetrar tão profundamente a ponto de santificar, até o ponto de se tornar completamente imediato , e somente Ele pode fazer isso sem aniquilar a pessoa.[126]

 

52. Na Encarnação, o Filho eterno e natural de Deus[127] assumiu uma natureza humana, que ocupa um lugar único na economia da salvação. Ela está unida hipostaticamente ao Filho por meio de uma graça que “é sem dúvida infinita”[128]; nessa humanidade, “a graça recebida pela alma de Cristo é intensificada ao mais alto grau. A superabundância dessa graça permite a Cristo ( competit sibi ) derramá-la sobre os outros, e esta é, de fato, a função característica da Cabeça”[129]. Tal humanidade participa da efusão da graça santificante, que dela flui ou “transborda”[130]. ​​Consequentemente, “ segundo a sua natureza humana, ela é a fonte de toda a graça”, como a Cabeça da qual a graça flui sobre os outros ( in alios transfundetur )[131]. Esta natureza humana é inseparável da nossa salvação, porque «pela Encarnação todos os atos salvíficos do Verbo são sempre realizados em união com a natureza humana que ele assumiu para a salvação de todos os homens».[132] Ao assumir a natureza humana, o Filho de Deus «uniu-se de certo modo a cada homem» e «ao derramar voluntariamente o seu sangue, mereceu a vida por nós».[133] Pela graça, os fiéis estão unidos a Cristo e participam no seu Mistério Pascal de tal modo que podem viver em íntima e única unidade com ele, como São Paulo expressou nas seguintes palavras: «Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim» ( Gl 2,20).

 

53. Nenhuma pessoa humana, nem mesmo os Apóstolos ou a Bem-Aventurada Virgem Maria, pode agir como o doador abrangente da graça. Somente Deus pode conceder a graça[134] e o faz por meio da humanidade de Cristo[135], pois “é a graça especial do homem Cristo que ele está unido a Deus na unidade de pessoa”. [136] Embora a Bem-Aventurada Virgem Maria seja de modo único “cheia de graça” e “Mãe de Deus”, ela mesma, como nós, é filha adotiva do Pai e também, como escreve o poeta Dante Alighieri, “Filha de seu Filho”.[137] Ela coopera na economia da salvação por meio de uma mediação derivada e subordinada; portanto, todas as expressões referentes à sua “mediação” da graça devem ser entendidas em analogia remota a Cristo e à sua mediação única.[138]

 

54. Na perfeita proximidade entre o homem e Deus, na comunicação da graça, nem mesmo Maria pode intervir. Nem a amizade com Jesus Cristo nem a habitação da Santíssima Trindade (em nós) podem ser vistas como algo que nos chega por meio de Maria ou dos santos. Em todo caso, podemos dizer que Maria deseja esse bem para nós e o pede juntamente conosco. A liturgia, que também é lex credendi , permite-nos afirmar essa cooperação de Maria, não na comunicação da graça, mas em sua intercessão materna. De fato, na liturgia da festa da Imaculada Conceição, ao explicar o sentido em que o privilégio concedido a Maria foi concedido para o bem do Povo, afirma-se que ela “implora a graça para o seu povo” ( advocata gratiae ),[139] isto é, como aquela que intercede por nós, pedindo o dom da graça.

 

55. Como ensina o Concílio Vaticano II: “Pois toda a influência salvífica da Bem-Aventurada Virgem sobre os homens... não impede de modo algum a união imediata dos fiéis com Cristo, mas antes a fortalece.”[140] Por esta razão, devemos evitar qualquer descrição que possa sugerir, de maneira neoplatônica, uma espécie de efusão multifásica da graça, como se a graça divina fluísse por meio de vários mediadores – como Maria – enquanto sua fonte última (Deus) permanecesse separada de nossos corações. Essas interpretações impactam negativamente a compreensão correta do encontro íntimo, imediato e direto que a graça proporciona entre o Senhor e o coração do crente.[141] O fato é que somente Deus justifica.[142] Somente o Deus Trino, somente Ele nos eleva para superar a infinita desproporção que nos separa da vida divina; somente Ele faz habitar a Santíssima Trindade em nós; somente Ele entra em nós, transformando-nos e nos tornando participantes de Sua vida divina. Não honra Maria atribuir-lhe qualquer mediação na realização desta obra, que pertence unicamente a Deus.

 

Água viva jorrando

 

56. Não obstante, como Maria é cheia de graça, e a bondade tende sempre a comunicar-se, surge facilmente a ideia de uma espécie de “transbordamento” de graça que Maria possui, e esta só pode ter o seu significado próprio se não contradizer o que foi dito até agora. Não há nada de difícil nisto, especialmente quando se trata das formas de cooperação que já mencionamos (intercessão e proximidade materna, que incentivam a abertura do coração à graça santificante) e que o Concílio Vaticano II apresentou como uma cooperação multifacetada por parte da criação “originada da participação na única fonte”[143].

 

57. A natureza essencialmente dispositiva da cooperação dos fiéis – sobretudo de Maria – na transmissão da graça expressa-se na interpretação tradicional dos “rios de água viva” que fluem dos corações dos fiéis (cf. Jo 7,38). Embora esta seja uma imagem poderosa que poderia ser interpretada como se os fiéis fossem canais para a transmissão perfeita da graça santificante, os Padres da Igreja, ao definirem o modo como os rios do Espírito são derramados, expressaram-no através de ações preparatórias, como a pregação, o ensino e outras formas de comunicação do dom da Palavra revelada.

 

58. Orígenes aplica isso ao conhecimento das Sagradas Escrituras ou à percepção dos sentidos espirituais.[144] Para São Cirilo de Alexandria, este abundante derramamento de água é o ensinamento sobre os mistérios da fé,[145] “pura mistagogia” em seu profundo significado, que não é meramente intelectual, mas toca a disposição ou preparação de toda a pessoa.[146] São Cirilo de Jerusalém afirma que é o ensinamento das Sagradas Escrituras que conduz à luz.[147] São João Crisóstomo refere-se à sabedoria de Estêvão ou à autoridade das palavras de Pedro.[148] Santo Ambrósio declara: “estes são os rios que ouvem com seus ouvidos a Palavra de Deus e falam para derramá-la no coração de cada homem,”[149] e explica assim: “deixe fluir a água da doutrina celestial, (...) deixe saturar”[150] o coração de todos.[151] Para São Jerônimo, a água também é o ensinamento do Salvador,[152] assim como no caso de São Gregório Magno, que também ensina que é “uma vontade benevolente para com os próximos”.[153] Essas interpretações das correntes de água viva que fluem dos crentes e se concentram no conhecimento da Sagrada Escritura e dos mistérios a ela relacionados geralmente não se referem ao conhecimento puramente intelectual, mas sim ao conhecimento sapiencial e à iluminação do coração para que ele possa se abrir à própria realidade dos Mistérios.

 

59. Vários Padres e Doutores da Igreja também oferecem uma explicação mais ampla, que, além da pregação ou catequese, inclui também obras de auxílio ao próximo necessitado ou o testemunho de caridade. Assim, Santo Hilário compreende os rios de água viva como obras do Espírito Santo por meio das virtudes que atuam para o bem dos outros.[154] Santo Agostinho relaciona essa imagem à “benevolência que busca ajudar o próximo”.[155] Na Idade Média, essa perspectiva persistiu até a época de São Tomás de Aquino, para quem os rios de água viva aparecem porque “quem se apressa em ajudar o seu próximo e comunica aos outros os diversos dons da graça recebidos de Deus, de dentro dele fluirão águas vivas”.[156]

 

60. Quando São Tomás fala de “diferentes dons de graça” para o serviço dos outros, ele se refere a diferentes dons carismáticos, porque “o Apóstolo, ao enumerar os carismas, escreve: ‘A outro é dada a graça da cura, a outro o dom de operar milagres’”[157]. Este aspecto também aparece em São Cirilo de Jerusalém, que indica que os rios da água do Espírito, transmitidos pelos crentes, aparecem quando Ele “usa a linguagem da sabedoria em um, ilumina a alma de outro na profecia, dá a outro o poder de expulsar demônios (...), fortalece um na abstinência, ensina a outro a misericórdia, a outro o jejum e a mortificação”[158].

 

61. Algo semelhante pode ser dito sobre a interpretação de João 14:12, que fala de crentes que realizam “obras maiores” ( meizona ) do que Cristo fez na terra. Os crentes participam da obra de Cristo no sentido de que eles também, de alguma forma, inspiram a fé de outros ao proclamarem a Palavra. Isso é claramente declarado em João 17:20b: “aqueles que crerem em mim por meio da palavra deles”. O mesmo é sugerido em João 14:6-11, onde as obras de Cristo são aquelas que revelam o Pai (v. 8). As obras dos crentes, focadas na proclamação do Evangelho por meio da palavra, são paralelas às obras de Cristo. Jesus proclama: “Se me perseguiram, também perseguirão vocês” ( João 15:20c). E, visto que quem ouve a palavra de Cristo tem a vida eterna (cf. João 5:24), Jesus anuncia que outros crerão por meio da palavra dos crentes (cf. João 17:20). No entanto, não se trata apenas de palavras, mas também do testemunho eloquente dos crentes, razão pela qual Jesus pede ao Pai que os crentes sejam um, para que "o mundo creia" ( João 17:21).

 

Amor que se espalha pelo mundo

 

62. O Evangelho de São João associa intimamente o amor fraternal a esta comunicação da bondade. De fato, a afirmação "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos" ( Jo 14,15) equivale a: "Quem crê em mim fará também as obras que eu faço" ( Jo 14,12). Quando Cristo fala dos frutos que espera de seus discípulos, ele os identifica, em última análise, com o amor fraternal (cf. Jo 15,16-17). São Paulo, após discutir as diversas obras extraordinárias que os crentes podem realizar (cf. 1 Cor 12), indica também um caminho ainda mais excelente, dizendo: "Mas buscai os dons maiores ( ta meizona ), e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente ( kath'hyperbolēn )": o amor ( 1 Cor 12,31). As obras de amor para com o próximo, mesmo o trabalho diário ou os esforços para mudar este mundo, tornam-se, então, um meio de cooperação com a obra salvífica de Cristo.

 

63. Papas recentes também se expressaram no mesmo espírito. São João XXIII ensinou que “quando [os cristãos] dedicam seu trabalho às coisas materiais, seu trabalho realmente parece constituir uma espécie de extensão da obra do próprio Jesus Cristo, e dele extrai seu poder e força salvadores... [e] pode contribuir para comunicar aos outros e difundir os frutos da Redenção de Cristo”.[159] São João Paulo II compreendeu essa cooperação como a reconstrução, junto com Cristo, do bem que havia sido destruído no mundo pelo pecado, porque “o Coração de Cristo desejava precisar de nossa cooperação para reconstruir a bondade e a beleza”, e “esta é a verdadeira satisfação que o Coração do Salvador aguarda”.[160] O Papa Bento XVI afirmou que “amadas por Deus, as pessoas se tornam sujeitos do amor e são chamadas a ser instrumentos da graça para difundir o amor de Deus e expandir a 'rede do amor'”. Esta dinâmica de amor aceito e oferecido reflete-se na doutrina social da Igreja."[161] E o Papa Francisco ensinou que para Santa Teresa do Menino Jesus, "não se trata apenas de permitir que o Coração de Jesus expanda a beleza do seu amor nos nossos corações, através da confiança plena, mas também de permitir que ele, através das nossas próprias vidas, alcance os outros e transforme o mundo (...) [o que] se manifesta em atos de amor fraterno com os quais curamos as feridas da Igreja e do mundo. Desta forma, damos nova expressão ao poder renovador do Coração de Cristo."[162]

 

64. É uma cooperação possibilitada por Cristo e realizada pela ação do Espírito, que, no caso de Maria, difere da cooperação de qualquer outro ser humano pelo caráter materno que lhe foi dado pelo próprio Cristo na cruz.

 

Critérios

 

65. Em qualquer outra forma de entender a cooperação de Maria na ordem da graça, especialmente se se pretende atribuir a Maria alguma forma de intervenção ou de ser um instrumento aperfeiçoador ou uma causa secundária na transmissão da graça santificante,[163] deve-se prestar especial atenção a certos critérios já mencionados na Constituição Dogmática Lumen Gentium :

 

a) Devemos refletir sobre como Maria fortalece nossa união “direta”[164] com o Senhor, que Ele mesmo realiza concedendo a graça e que só podemos receber de Deus[165], mas sem entender a união com Maria como mais imediata do que a união com Cristo. Esse risco surge sobretudo na crença de que Cristo nos dá Maria como instrumento ou causa secundária e aperfeiçoadora na transmissão de Sua graça.

 

b) O Concílio Vaticano II enfatizou que “toda a influência salvífica da Bem-Aventurada Virgem Maria sobre a humanidade não deriva de qualquer necessidade material, mas da boa vontade de Deus”.[166] Esta influência só pode ser compreendida com base na livre decisão de Deus, que, embora a sua ação seja incalculável e superabundante, livre e gratuitamente deseja uni-la à sua própria obra. Portanto, a ação de Maria não pode ser apresentada como se Deus precisasse dela para realizar a salvação.

 

c) Devemos entender a mediação de Maria não como um suplemento, por meio do qual Deus pode agir em plenitude, com maior riqueza e beleza, mas “de tal modo que não diminuem nem acrescentam à dignidade e eficácia da ação de Cristo, o único Mediador”.[167] Ao explicar a mediação de Maria, deve-se enfatizar que Deus é o único Salvador que usa exclusivamente os méritos de Jesus Cristo, o único necessário e inteiramente suficiente para a nossa justificação. Maria não substitui o Senhor em nada que Ele próprio não faça (ela não subtrai nem acrescenta nada). Se, ao transmitir a graça, ela não acrescenta nada à mediação salvífica de Cristo, então Maria não pode ser considerada o principal instrumento desse dom.[168] Se ela acompanha a ação de Cristo, isso não deve ser entendido de modo algum como uma mediação paralela. Ao estar associada a Ele, Maria recebe do Filho um dom que a coloca acima de si mesma, porque lhe é permitido acompanhar a obra do Senhor por meio de sua natureza materna. Voltemos então ao ponto mais certo: a contribuição preparatória de Maria , graças à qual podemos pensar numa ação em que ela contribui com algo próprio na medida em que pode, de certa forma, “preparar”[169] os outros, porque “entre as forças ativas e ordenadas, apenas a superior conduz ao objetivo final, enquanto as forças inferiores apenas ajudam a alcançar esse objetivo preparando -o”[170].

 

66. O que foi dito até agora não ofende nem degrada Maria, porque todo o seu ser se refere ao seu Senhor. "A minha alma engrandece ao Senhor" ( Lc 1,46): para ela não há outra glória senão a glória de Deus. Como Mãe, ela se alegra duplamente ao ver Cristo revelando a beleza inexaurível e transbordante da sua glória, curando, transformando e preenchendo com si os corações daqueles filhos que ela acompanhou na sua caminhada até o Senhor . Portanto, um olhar dirigido a ela que nos afastasse de Cristo ou a equiparasse ao Filho de Deus seria estranho à autêntica fé mariana.

 

Graça

 

67. Alguns títulos, como Medianeira de todas as graças , têm limitações que não facilitam uma compreensão correta do papel único de Maria. De fato, como a primeira redimida, ela não poderia ter sido a mediadora da graça que ela mesma recebeu. Este não é um detalhe insignificante, pois revela algo essencial: que mesmo nela, o dom da graça a precede e flui da iniciativa inteiramente gratuita da Santíssima Trindade, em antecipação aos méritos de Cristo. Ela, como todos nós, não mereceu sua justificação por nenhuma ação anterior[171] ou, muito menos, por qualquer ação posterior.[172] Para Maria também, a amizade com Deus pela graça será sempre gratuita. Sua preciosa figura é o supremo testemunho da abertura crente daquela que, mais do que qualquer outra, se abriu com docilidade e completa confiança à obra de Cristo e, ao mesmo tempo, é o melhor sinal do poder transformador dessa graça.

 

68. Em outro sentido, o título mencionado corre o risco de apresentar a graça de Deus como se Maria fosse a dispensadora de bens ou poderes espirituais, sem conexão com nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo. No entanto, a expressão "graças", referindo-se ao apoio materno de Maria em vários momentos da vida, pode ter um significado permissível. O plural expressa toda a ajuda, inclusive material, que o Senhor pode nos dar ao ouvir a intercessão da Mãe; ajuda que, por sua vez, prepara os corações para se abrirem ao amor de Deus. Desta forma, Maria — como Mãe — está presente na vida diária dos fiéis de um modo muito maior do que qualquer outro santo.

 

69. Por sua intercessão, ela pode obter para nós movimentos interiores do Espírito Santo, que chamamos de “graças atuais”. Estas são as ajudas do Espírito Santo que atuam também nos pecadores para prepará-los para a justificação,[173] e também naqueles que já são justificados pela graça santificante, para encorajar o seu crescimento. É neste preciso sentido que o título “Mãe da graça” deve ser compreendido. Maria coopera humildemente para que possamos abrir nossos corações ao Senhor, que somente ele pode nos justificar pela ação da graça santificante: isto é, quando ele derrama em nós a sua vida trinitária, habita em nós como amigo e nos torna participantes da sua vida divina. Esta é obra exclusiva do próprio Senhor, mas não exclui a possibilidade de que, por meio da ação materna de Maria, diversas palavras, imagens e estímulos possam alcançar os fiéis, ajudando-os a progredir na vida e a preparar seus corações para a graça que o Senhor derrama, bem como a crescer na vida com a graça recebida gratuitamente.

 

70. A ajuda que nos chega do Senhor revela-se com características maternas, repleta da ternura e proximidade de uma Mãe que Jesus quis partilhar connosco (cf. Jo 19,25-28). Desta forma, Maria desenvolve uma ação singular, ajudando-nos a abrir o coração a Cristo e à sua graça santificante, que eleva e cura. Quando nos dá vários "movimentos", estes devem ser sempre entendidos como incentivos para abrirmos a nossa vida Àquele que age na parte mais íntima do nosso ser.

 

Nossa união com Maria

 

71. O Concílio decidiu chamar Maria de "mãe na ordem da graça"[174], expressão que melhor expressa a universalidade da cooperação materna de Maria e que é inegável no sentido estrito: ela é a Mãe de Cristo, que é a Graça perfeita e a Fonte de toda a graça.

 

72. A maternidade de Maria na ordem da graça – que brota do Mistério Pascal de Cristo – significa também que cada discípulo estabelece com Maria “uma relação única e irrepetível”. São João Paulo II falou da “dimensão mariana da vida de um discípulo de Cristo”, que “é uma resposta ao amor de uma pessoa, e em particular ao amor de uma mãe”.[175] A vida da graça abrange a nossa relação com a Mãe. A união com Cristo pela graça une-nos simultaneamente a Maria numa relação repleta de confiança, ternura e amor sem limites.

 

Primeiro aluno

 

73. Maria é “a primeira discípula que melhor conheceu Jesus”.[176] Ela é a primeira entre aqueles que “ouvem a palavra de Deus e a guardam” ( Lc 11,28); ela é a primeira a estar ao lado dos humildes e pobres do Senhor, a nos ensinar a esperar e a aceitar com confiança a salvação que vem somente de Deus. Maria “tornou-se, assim, em certo sentido, a primeira ‘discípula’ de seu Filho , a primeira a quem ele pareceu dizer: ‘Segue-me’, antes de dirigir este chamado aos Apóstolos ou a qualquer outra pessoa ( Jo 1,43)”.[177] Ela é um modelo de fé e amor para a Igreja graças à sua obediência à vontade do Pai, à sua cooperação na obra redentora do Filho e à sua abertura à ação do Espírito Santo.[178] É por isso que Santo Agostinho disse que "Maria era mais discípula de Cristo do que sua mãe".[179] E o Papa Francisco enfatizou que "ela é mais discípula do que mãe".[180] Em última análise, Maria é "a primeira e mais perfeita discípula de Cristo".[181]

 

74. Para cada cristão, Maria é “aquela que primeiro ‘creu’ – e é com esta fé, como Esposa e Mãe, que ela deseja influenciar todos os que se confiam a ela como filhos”.[182] Ela faz isso com um amor cheio de sinais de proximidade que os ajuda a crescer na sua vida espiritual e os ensina a deixar que a graça de Cristo atue cada vez mais profundamente. Nesta relação de amor e confiança, ela, que é “cheia de graça”, ensina cada cristão a acolher a graça, a guardá-la e a contemplar a obra que Deus realiza nas suas vidas (cf. Lc 2,19).

 

75. No que diz respeito aos supostos fenómenos sobrenaturais que já foram positivamente avaliados pela Igreja, onde aparecem algumas das expressões ou títulos acima mencionados, deve-se ter em conta que «no caso de um Nihil obstat concedido pelo Dicastério (...) tais fenómenos não se tornam objeto de fé – isto é, os fiéis não são obrigados a aceitá-los por um ato de fé»[183].

 

Mãe do povo fiel

 

76. “Maria, a primeira discípula, é uma Mãe.”[184] Na Cruz, Cristo nos dá Maria e assim “nos conduz a ela, porque não quer que andemos sem mãe.”[185] Ela é a Mãe crente que se tornou “a Mãe de todos os crentes.”[186] Ao mesmo tempo, ela é “a Mãe da Igreja evangelizadora.”[187] Ela nos acolhe como Deus quis nos reunir, não apenas como indivíduos, mas como um Povo em peregrinação.[188] “Nossa Mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto, nos ajudar com sua intercessão e seu amor.”[189] Ela é a Mãe do Povo fiel, que “caminha no meio do seu povo, movida por uma ternura carinhosa, assumindo as preocupações e vicissitudes da vida.”[190]

 

O amor para, pondera o mistério, regozija-se no silêncio.

 

77. Os fiéis não se distanciam de Cristo nem do Evangelho quando se aproximam dela, mas permanecem capazes de ler “nesta imagem materna todos os mistérios do Evangelho”[191], porque nesse rosto materno veem refletido o Senhor que nos procura (cf. Lc 15,4-8), que vem ao nosso encontro de braços abertos (cf. Lc 15,20), que para diante de nós (cf. Lc 18,40), que se inclina sobre nós e nos eleva à sua face (cf. Os 11,4), que nos olha com amor (cf. Mc 10,21) e não nos condena (cf. Jo 8,11; Os 11,9). Em seu rosto materno, muitos pobres reconhecem o Senhor que “derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes” ( Lc 1,52). O rosto desta mulher canta o mistério da Encarnação. Neste rosto da Mãe, transpassado pela espada (cf. Lc 2,35), o Povo de Deus reconhece o mistério da Cruz, e neste rosto, iluminado pela luz da Páscoa, vê que Cristo vive. Ela, que recebeu plenamente o Espírito Santo, sustenta os Apóstolos reunidos em oração no Cenáculo (cf. At 1,14). Portanto, podemos dizer que “deste modo a fé de Maria – fundamento do testemunho apostólico da Igreja – torna-se sempre, em certo sentido, a fé do Povo de Deus peregrino”.[192]

 

78. Como afirmaram os bispos latino-americanos, os pobres “descobrem também a ternura de Deus no rosto de Maria. Nela veem refletida a mensagem fundamental do Evangelho”.[193] Os simples e os pobres não separam a Mãe gloriosa da Maria de Nazaré que encontramos nos Evangelhos. Pelo contrário, percebem a simplicidade por detrás da glória e sabem que Maria não deixou de ser uma deles. Foi ela, como toda mãe, que carregou o seu Filho no ventre, amamentou-o e criou-o com amor junto de São José, não sem as dificuldades e dúvidas que a maternidade acarreta (cf. Lc 2,48-50). É ela quem canta a Deus que “encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” ( Lc 1,53); é ela quem sofre com os esposos que ficaram sem vinho num casamento (cf. Jo 2,3); é ela quem corre em auxílio de um parente necessitado (cf. Lc 1,39-40); É ela quem se deixa ferir, como que transpassada por uma espada, pelo destino do seu povo, para quem o seu Filho é “um sinal de contradição” ( Lc 2,34); é ela quem compreende o que significa ser migrante ou exilada (cf. Mt 2,13-15), quem na sua pobreza só pode oferecer duas pombinhas (cf. Lc 2,24) e quem sabe o que significa ser desprezada por pertencer à família de um pobre carpinteiro (cf. Mc 6,3-4). As nações sofredoras reconhecem Maria que caminha ao seu lado e, por isso, procuram a Mãe para lhe implorar ajuda.[194]

 

79. A proximidade da Mãe dá origem a uma devoção mariana “popular”, que tem expressões diferentes em diferentes povos. As muitas faces de Maria – coreana, mexicana, congolesa, italiana e muitas outras – são formas de inculturação do Evangelho que refletem em todos os lugares da terra “a ternura paterna de Deus”,[195] que toca as profundezas mais íntimas dos nossos povos.

 

80. Admiremos a fé do Povo de Deus, na qual multidões de fiéis irmãos e irmãs reconhecem espontaneamente Maria como Mãe, assim como o próprio Cristo nos mostrou da cruz. O Povo de Deus ama peregrinar a diversos santuários marianos, onde encontra consolo e força para seguir em frente, como aqueles que, em meio ao cansaço e à dor, recebem o carinho de sua Mãe. A Conferência de Aparecida soube expressar com clareza e beleza o profundo valor teológico dessa experiência. Nada melhor para concluir esta Nota do que com as seguintes palavras: “Chamamos a atenção para as peregrinações, durante as quais o Povo de Deus pode ser reconhecido em sua jornada. Ali, o cristão celebra a alegria de estar imerso na companhia de irmãos e irmãs que caminham juntos para Deus, que os espera. O próprio Cristo torna-se peregrino e caminha, ressuscitado, entre os pobres. A própria decisão de partir para um santuário é uma profissão de fé, a jornada um verdadeiro cântico de esperança e a chegada um encontro de amor. O olhar do peregrino repousa na imagem que simboliza a ternura e a proximidade de Deus. O amor detém-se, contempla o mistério e dele se beneficia em silêncio. É também movido ao derramar todo o peso de sua dor e anseios. A oração sincera, transbordando confiança, é a melhor linguagem de um coração que renunciou à autossuficiência, reconhecendo que nada pode fazer por si mesmo. Em um instante tão breve, contém-se uma experiência espiritual viva.”[196]

 

Mãe do povo fiel, rogai por nós!

 

O Santo Padre Leão XIV, em 7 de outubro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora do Rosário, aprovou a presente Notificação, adotada durante a Sessão Ordinária deste Dicastério em 26 de março de 2025, e ordenou a sua publicação.

 

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, em 4 de novembro de 2025, o memorial litúrgico de São Carlos Borromeu.

 

Victor Manuel Kard. Fernandez

 

Prefeito

 

Padre Monsenhor Armando Matteo

 

Secretário da Seção Doutrinária

 

Leão PP. XIV

 

7 de outubro de 2025

 

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[1] Cf. Santo Agostinho, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399: Tradução polonesa: Santo Agostinho, Escritos Monásticos , traduzido por Przemysław Nehring, Cracóvia-Tyniec 2002, p. 277.

 

[2] Dicastério para a Doutrina da Fé, Normas de Procedimento no Discernimento de Presumidos Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024): AAS 116 (2024), 771-794.

 

[3] Em alguns desses fenômenos ou aparições, a Virgem Maria é chamada Corredentora, Redentora, Sacerdotisa, Auxiliadora, Medianeira de todas as graças, Mãe da graça, Mãe Espiritual, etc.

 

[4] Cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 26: AAS 66 (1974), 136-139.

 

[5] Cf. Ibid. , n. 28: AAS 66 (1974), 139-141.

 

[6] Cf. Ibid. , n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.

 

[7] São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n.º 3: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4: Tradução polaca: Maria – uma colaboradora especial da redenção : L'Osservatore Romano , edição polaca 6(193)/1997, p. 45.

 

[8] Francisco, Homilia. Enquanto o Sumo Pontífice celebra a Eucaristia na Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria e abre a Porta Santa da Basílica Vaticana (8 de dezembro de 2015): AAS 108 (2016), 8: traduzido por: Como o Bom Samaritano : L'Osservatore Romano , ed. pol. 12(378)/2015, p. 5.

 

[9] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 26: AAS 79 (1987), 396.

 

[10] A relação entre Adão e Cristo, que aparece nos textos de São Paulo ( Rm 5,18-19 e 1 Cor 15,22), serviu aos Padres da Igreja para estabelecer um paralelo entre Eva e Maria. Por exemplo, São Justino, Diálogo com Trifão, o Judeu , n. 100, 5-6: PG 6, 710CD-711A; Santo Irineu de Lyon, Contra as Heresias , III, 22, 4: PG 7/1, 959C-960A; Tertuliano, Sobre o Corpo de Cristo , XVII, 5: PL 1, 782B. Este paralelo antinomiano entre Eva e Maria é a primeira abordagem dos Padres da Igreja ao tema da cooperação da Virgem na obra da redenção realizada por Cristo: assim como Eva trouxe a ruína, a fé de Maria nos trouxe a salvação. Os numerosos testemunhos patrísticos sobre a Virgem como a nova Eva nos fornecem elementos interessantes do ponto de vista teológico: a) Maria e a mulher , porque em Maria a mulher retorna ao seu esplendor original e atinge sua plenitude final; b) Maria e Cristo como esposo-cooperador, realizando com o Filho uma importante e salvífica obra de renovação ou renovação messiânica; c) Maria e a Igreja , porque em Maria se estabelece uma dupla relação com a Igreja: uma relação exemplar, como protótipo, e a relação de ser Mãe da Igreja.

 

[11] Santo Agostinho de Hipona, Sobre a Santa Virgindade , 6: PL 40, 399: Tradução polonesa: Santo Agostinho, Escritos Monásticos , p. 277.

 

[12] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 31: AAS 79 (1987), 402-403.

 

[13] Veja, por exemplo, Santo Efrém, Hinos da Natividade : SC 459; São João Damasceno, In dormitionem Deiparae I, 8: SC 80, 100-104.

 

[14] Cf., por exemplo, Octoëchus magnus , Roma 1885, 152: "Por ti nos tornamos participantes da natureza divina, ó sempre Virgem Theotókos , porque por nós deste à luz Deus encarnado. Portanto, todos te adoramos com devoção, como devemos" (tradução do texto grego original do Theotokion do Kathisma poético após a primeira estase ). Outro exemplo mais significativo de devoção mariana é o famoso Hino Akathistos (do século V), composto por 24 estrofes. O título significa simplesmente que deve ser lido em pé, não sentado, como expressão de especial respeito à Mãe Maria. O poeta dirige-se a ela usando os mais belos adjetivos e metáforas repletos de simbolismo, pedindo-lhe que aceite sua oferenda poética e interceda pela salvação da raça humana do pecado: cf. EM Toniolo, OSM, Akathistos. Inno alla Madre di Dio , Roma 2017.

 

[15] A evidência mais antiga deste título vem do Egito, datada do século III. Veja o Papiro 470 da Biblioteca John Rylands em Manchester (Grã-Bretanha), que contém em grande parte o texto grego desta oração mariana. A versão latina desta oração é a seguinte: " Sub tuum praesidium confugimus, Sancta Dei Genetrix. Nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus, sed a periculis cunctis libera nos semper, Virgo gloriosa et benedicta " ("Refugiamo-nos sob a vossa proteção, ó Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas nas nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os males, ó Virgem gloriosa e bendita": Tradução polaca: Compêndio do Catecismo da Igreja Católica , traduzido por Roman Murawski, Kielce 2005, p. 203).

 

[16] As representações iconográficas da Virgem Maria baseiam-se em vários modelos estabelecidos, nomeadamente: Odēghētria , mostrando “o caminho” com a mão para o seu filho, ainda no ventre; Eleousa , ou a Misericordiosa (Terna), mostrando o profundo laço entre a Mãe e o Filho, que repousa o rosto no da Mãe; e Platytera , ou “a mais ampla no céu”, porque ela própria contém Cristo, representada com o menino Jesus no peito. Destes três modelos derivam a maioria das outras representações, como Galaktotrophousa , alimentando uma criança com leite; Kyriōtissa ou a Senhora, segurando uma criança no colo como um trono; Panagia , ou a Santíssima, vestindo uma túnica vermelha que expressa a plenitude da santidade; Na Deēsis , Maria é mostrada à direita de seu Filho crucificado em majestade ( Pantokratōr ), intercedendo junto com João Batista, que está à esquerda, em nome de todos nós. Em outros ícones, Maria é representada em união com os santos na mensagem de intercessão, frequentemente com João Batista, como os últimos representantes da Antiga Aliança e, simultaneamente, como os primeiros membros do novo povo.

 

[17] Cf. Bento XVI, Audiência Geral (27 de maio de 2009): L'Osservatore Romano , 28 de maio de 2009, 1: Tradução polonesa: São Teodoro Estudita : L'Osservatore Romano, edição polonesa 9(316)/2009, pp. 40-42; São Gregório de Narek, Prex 26 e 80: Ad Deiparam : SC 78, 160-164, 428-432.

 

[18] Autores orientais como Jacó de Seruga (†521), São Romano, o Melodista (†555-562), São João Damasceno (†749) e João, o Geômetra (Quiriotas) (†1000) já haviam abordado o tema da união de Maria com o sacrifício redentor de Cristo na cruz.

 

[19] Ver São Bernardo de Claraval, In Purificationem Deiparae , III, 2: PL 183, 370C.

 

[20] Tenente Arnaldo de Bonneval, De laudibus BM Virginis , I, 3c. 12, 4: PL 189, 1727A.

 

[21] W nauczaniu poprzedzającym Sobór Watykański II przysna się: Bł. Pio IX, Const. depois de O Deus Inefável (8 grudnia 1854): Pontificis Maximi Acta. A primeira parte , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Enc. Sempre uma expectativa agradável (8 września 1894): ASS 27 (1894-1895), 177-184; Tenze, Enc. Ajudante do povo (5 września 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; Claro. Pio X, Enc. Ad diem illum laetissimum (2 de fevereiro de 1904): ASS 36 (1903-1904), 453; Bento XV, Lista após. Entre os membros da Cofradía de Ntra Sra de la Buena Muerte (22 de março de 1918): AAS 10 (1918), 182; Pio XI, Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928): AAS 20 (1928), 165-178; Pio XII, Encíclica Mystici corporis Christi (29 de junho de 1943): AAS 35 (1943), 193-248; Além disso, Encíclica Ad caeli Reginam (11 de outubro de 1954): AAS 46 (1954), 634-635.

 

[22] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 56: AAS 57 (1965), 60: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações. Texto polonês. Nova tradução , Poznań 2002, p. 157.

 

[23] Cf. Beato Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616: (DH 2803): “A Santíssima Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção — por uma graça e privilégio singular de Deus todo-poderoso e em vista dos méritos previstos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano — foi preservada livre de toda mancha do pecado original”: Tradução polonesa: Imaculada Mãe de Cristo. Materiais do Simpósio Mariológico de Lublin, 23-24 de abril de 2024 , eds. Krzysztof Kowalik, Kazimierz Pek, Sociedade Mariológica Polonesa, Częstochowa-Lublin 2004, p. 267. Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 53: AAS 57 (1965), 58: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 155: "Redimida de modo sublime por causa dos méritos de seu Filho."

 

[24] Cf. Santo Ambrósio, Exposição do Evangelho segundo Lucas , II, 7: PL 15, 1555.

 

[25] Cf. Francisco, Angelus na Festa da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria (15 de agosto de 2013): L'Osservatore Romano , 17-18 de agosto de 2013, 8: Tradução polonesa: Cada "sim" dito a Deus é um passo em direção ao céu : L'Osservatore Romano , edição polonesa 10(355)/2013, p. 54.

 

[26] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 25: AAS 66 (1974), 135: Tradução polonesa: Assim, para honrar a Mãe de Deus. Paulo VI sobre o culto da Bem-Aventurada Virgem Maria , ed. Stanisław Celestyn Napiórkowski, Niepokalanów 2004, p. 70.

 

[27] Ela não é simplesmente uma “mãe que alimenta”: cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 384-387.

 

[28] Bento XVI, Sacrum Pontificale cum novis Cardinalibus (25 de março de 2006): AAS 98 (2006), 330; cf. São Paulo VI, Exortação Apostólica Signum magnum (13 de maio de 1967), n. 5: AAS 59 (1967), 469: Tradução polonesa: Assim para honrar a Mãe de Deus. Paulo VI sobre o culto da Bem-Aventurada Virgem Maria , p. 16: “Assim que Maria foi assegurada pelas palavras do Arcanjo Gabriel de que Deus a havia escolhido para ser a Virgem Mãe de Seu Filho Unigênito, ela consentiu sem hesitar em uma obra que consumiria todas as forças de sua natureza frágil e declarou: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’ ( Lc 1,38).”

 

[29] HU von Balthasar , Teodramática. Las personas del drama: el hombre en Cristo , vol. 3, Madrid 1993, 274; cf. São Cirilo de Alexandria, Ep. II ad Nestorium : DH 251: "Assim eles (os santos padres) permitiram que a santa Virgem fosse chamada Mãe de Deus": DH 251; e Concílio de Éfeso, cân. 1: DH 252.

 

[30] Por ora, sabemos que isso aconteceu no século XV, pelas mãos de um hinógrafo beneditino, que nos legou a seguinte oração manuscrita, preservada no mosteiro de São Pedro em Salzburgo: " Pia dulcis et benigna / nullo prorsus luctu digna / si fletum hinc eligeres / ut compassa Redemptori / captivato transgressori / tu corredemptrix fieres ": De compassione BMV , 20: GM Dreves (ed.), Analecta Hymnica Medii Aevi , XLVI, Leipzig 1905, n. 79, 127 ("Pia, doce e graciosa, / de modo algum digna de qualquer pesar, / se tivesses escolhido lágrimas aqui, / para ter piedade do Redentor, / escravizado pelo pecador, / terias te tornado corredentora").

 

[31] Os teólogos entendem o título de Corredentora de diferentes maneiras: a) Cooperação direta, cristotópica ou maximalista , que considera a cooperação de Maria como próxima, direta e imediata a esta Redenção (objetiva). Nesse sentido, os méritos de Maria, embora bem subordinados aos méritos de Cristo, teriam valor redentor para a salvação; b) Cooperação indireta ou minimalista , limitada ao “sim” de Nazaré. Esta seria uma cooperação indireta que tornou possível a Encarnação como um passo precedente à Redenção; c) Cooperação direta receptiva ou eclesiotípica , a cooperação na Redenção objetiva consiste em Maria receber os frutos do sacrifício redentor do Salvador, representando a Igreja. No entanto, esta é uma cooperação direta receptiva, pois Maria simplesmente aceitou a Redenção de Cristo, tornando-se a “primeira Igreja”.

 

[32] Durante o pontificado de São Pio X, o título Corredentora aparece num documento da Sagrada Congregação dos Ritos e do Santo Ofício. Cf. Sagrada Congregação dos Ritos, Dolores Virginis Deiparae (13 de maio de 1908): ASS 41 (1908), 409; Congregação do Santo Ofício, Decreto Sunt Quos Amor (26 de junho de 1913): AAS 5 (1913), 364, que aprova o costume de acrescentar ao nome de Jesus o nome " Matris suae, corrdemptricis nostrae, beatae Mariae " ("Sua Mãe, nossa corredentora, bem-aventurada Maria"); Ibid., Preghiera di riparazione alla beata Vergine Maria (22 de janeiro de 1914): AAS 6 (1914), 108, onde Maria é chamada de "corredentrice del genere umano" ("co-redentora da raça humana"). O primeiro papa a usar o termo "Corredentora" foi Pio XI, num breve de 20 de julho de 1925, dirigindo-se à Rainha do Santo Rosário de Pompéia: Pio XI, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , em: Sagrada Penitenciária Apostólica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628: "Ma ricordati pure che sul Calvario divenisti la Corredentrice, cooperando per la crocifissione del tuo cuore alla salvezza del mondo, insieme col tuo Figliuolo crocifisso" ("Lembra-te, porém, que no Calvário te tornaste Corredentora, cooperando, através da crucificação do teu coração, para a salvação do mundo, juntamente com o teu Filho crucificado"); Ibid., Discorso “Ecco di nuovo” ad ungruppo di pellegrini di Vicenza (30 de novembro de 1933): L'Osservatore Romano , 1 dicembre 1933, 1.

 

[33] Por. Tenże, Mensagem radiofônica no encerramento do Ano Santo da Redenção em Lourdes (28 de abril de 1935): L'Osservatore Romano , 20-30 de abril de 1935, 1.

 

[34] Cf. Além disso, Ad BVM a sacratissimo Rosario in Valle Pompeiana , em: Santa Penitenciária Apostólica, Enchiridion Indulgentiarum , Roma 1952, n. 628.

 

[35] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (10 de dezembro de 1980): L'Osservatore Romano , 11 de dezembro de 1980, 2: Tradução polonesa: O significado dos conceitos de “impureza” e “pureza” , em: Ibid., Ensinamentos Papais , III, 2, preparado para impressão por Eugeniusz Weron, Antoni Jaroch, Poznań-Varsóvia 1986, pp. 817-821; Ibid., Audiência Geral (8 de setembro de 1982): L'Osservatore Romano , 10 de setembro de 1982, 2: Tradução polonesa: Os fundamentos da sacramentalidade de toda a vida cristã , em: Ibid., Ensinamentos Papais , V, 2, Poznań 1996, pp. 343-349; Ibid., Angelus (4 de novembro de 1984): L'Osservatore Romano , 5-6 de novembro de 1984, 7: Tradução polonesa: Em comunhão com São Carlos, dirijo-me à Mãe da Igreja , em: Ibid., Ensinança Papal , VII, 2, Poznań 2002, pp. Ibid., Omelia nel Santuario di Nostra Signora di Alborada a Guayaquil (Equador) (31 de janeiro de 1985): L'Osservatore Romano , 2 de fevereiro de 1985, 6: Tradução polonesa: “Alborada” o amanhecer que anuncia o dia , em: Ibid., Ensino Papal , VIII, 1, Poznań 2003, pp. 174-177; Ibid., O Angelus do Domingo de Ramos (31 de março de 1985): L'Osservatore Romano , 1-2 de abril de 1985, 10: Tradução polonesa: Eis a Mãe da tua juventude , em: Ibid. , pág. 459; Ibid., Discorso ai Pellegrini dell'Opera Federativa Transporto Ammalati a Lourdes (OFTAL) (24 de março de 1990): L'Osservatore Romano , 25 de março de 1990, 4; Ibid., The Angelus (6 de outubro de 1991): L'Osservatore Romano , 7-8 ottobre 1991, 7: Tradução polonesa: Maria na vida de Santa Brígida : L'Osservatore Romano , edição polonesa. 11(137)/1991, pág. 55. Após a reunião da Feria IV da então Congregação para a Doutrina da Fé, em 21 de fevereiro de 1996, João Paulo II deixou de usar o título "Corredentora". Vale ressaltar também que esse título não consta da Encíclica Redemptoris Mater , de 25 de março de 1987, documento por excelência que contém a explicação de São João Paulo II sobre o papel de Maria na obra da Redenção.

 

[36] J.Card. Ratzinger, Ata da Feira IV de 21 de fevereiro de 1996 , Archiwum Dykasterii Nauki Wiary.

 

[37] J. Ratzinger – P. Seewald, Deus e o Mundo. Fé e Vida em Hoje. Peter Seewald em Conversa com o Cardeal Joseph Ratzinger Bento XVI , traduzido por Grzegorz Sowinski, Cracóvia 2005, pp. 281-282.

 

[38] Franciszek, Homilia por ocasião da celebração litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe (12 de dezembro de 2019): AAS 112 (2020), 9 .

 

[39] Ibid., Meditações. La Dolorosa, discepola e madre (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8: Tradução polonesa: Nossa Senhora das Dores – discípula e mãe : L'Osservatore Romano , edição polonesa 5(422)/2020, p. 38.

 

[40] Ibid., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 marzo 2021, 8: Tradução polonesa: Oração em comunhão com Maria: L'Osservatore Romano , edição polonesa 4-5(432)/2021, p. 29.

 

[41] Pio XII, Carta Encíclica Haurietis Aquas (15 de maio de 1956), n. 10: AAS 48 (1956), 321: Tradução polaca: Deus está perto. História e teologia do culto do Sagrado Coração de Jesus , eds. Czesław Drążek, Ludwik Grzebień, Cracóvia 1984, pp. 300-329.

 

[42] Cf. Santo André de Creta, In Nativitatem Mariae , IV: PG 97, 865A.

 

[43] Por. Św. German I, Sobre a Anunciação da Bem-Aventurada Virgem Maria : PG 98, 322BC.

 

[44] Cf. São João Damasceno, In dormitionem Deiparae , I: PG 96, 712B-713A.

 

[45] Em 12 de janeiro de 1921, Bento XV, a pedido do Cardeal Désiré-Joseph Mercier, permitiu que a Igreja na Bélgica tivesse um Ofício e Missa em honra da Bem-Aventurada Virgem Maria, "Mediadora de todas as graças", a ser celebrado em 31 de maio. A Santa Sé concedeu posteriormente permissão semelhante para as mesmas celebrações do Ofício e Missa a muitas outras dioceses e congregações religiosas, após pedido prévio: cf. AAS 13 (1921), 345.

 

[46] Por. Sobór Watykański II, Konst. dogmat. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63; Papieska Międzynarodowa Akademia Mariologiczna, Um novo dogma mariano? : L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10: „A Constituição Lumen gentium , que, por escolha ponderada, não contém a definição dogmática de mediação, foi aprovada com 2151 votos a favor de 2156 votantes. (…) Apenas 33 anos após a promulgação da Lumen gentium (…) o panorama eclesial, teológico e exegético não mudou substancialmente”. Esta declaração da Pontifícia Academia Mariana Internacional foi acrescentada à Declaração da Comissão Teológica criada no âmbito do XII Congresso Mariológico Internacional (Czestochowa, de 12 a 24 de agosto de 1996) que considerou inadequado prosseguir com a definição dogmática de Maria como "medianeira", "co-redentora" e "advogada" ("Konstytucja Lumen gentium , która w wyniku przemyślanej decyzji nie zawiera dogmatycznej definicji pośrednictwa, została przyjęta 2151 glosami za spośród 2156 glosujących (…) Zaledwie 33 lata po głoszeniu Lumen gentium (…) sytuacja kościelna, teologiczna i egzegetyczna nie uległa zasadniczej zmianie”. Mariologicznego (Częstochowa, 12-24 sierpnia 1996 r.), która uznała za niewłaściwe kontynuowanie prac nad dogmatyczną definicją Maryi jako „Pośredniczki”, „Współodkupicielki” eu “Orędowniczki”. Por. Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa , Solicitação de Definição do Dogma de Maria Medianeira, Corredentora e Advogada. Declaração da Comissão Teológica do Congresso de Czestochowa : L'Osservatore Romano , 4 de junho de 1997, 10.

 

[47] São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1014: Tradução polonesa: A Mãe do Redentor, Mãe da Igreja. Documentos , selecionados e editados pelo Instituto Primaz dos Votos da Nação, Varsóvia 1990, p. 209.

 

[48] ​​Veja São Bernardo de Claraval, Homilias em louvor da Virgem Mãe, IV, 8: PL 183, 83CD-84AB.

 

[49] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63.

 

[50] Cf. Ibid ., n. 53, 56, 61, 63: AAS 57 (1965), 59; 60; 63; 64.

 

[51] Cf. Ibid ., n. 60, 62, 63, 65: AAS 57 (1965), 62; 63; 64; 65.

 

[52] Ibid. , n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[53] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8.

 

[54] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 13: AAS 92 (2000), 754-755.

 

[55] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática. Lumen Gentium , n. 62: AAS 57 (1965), 63: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 160.

 

[56] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 14: AAS 92 (2000), 755.

 

[57] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 1: AAS 92 (2000), 755; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 112: AAS 105 (2013), 1066.

 

[58] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium , n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24 de novembro de 2013), n. 288: AAS 105 (2013) 1136.

 

[59] Orígenes, Hom. in Numeros , XII, 1: PG 12, 657: Tradução polonesa: Orígenes, Homilias sobre o Livro de Números , da tradução latina de Rufino, traduzida por Stanisław Kalinowski, introdução de Henryk Pietras, Cracóvia 2016, p. 132.

 

[60] Santo Ambrósio, Ep. 11, 24: PL 16 , 1106D: Tradução polonesa: Cartas , vol. 1, traduzido por Józef Naumowicz, Cracóvia 2012, p. 109.

 

[61] São Tomás de Aquino, Super Ioannem , cap. 7, aula. 5: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de João , traduzido por Tadeusz Bartoś, Kęty 2002, p. 511: " sed qui proximo festinat consulere, et diversa dona gratiarum recepta a Deo aliis communicare, de ventre eius fluent aquae vivae " – a tradução deste fragmento do texto latino está faltando na tradução polonesa citada.

 

[62] Cf. Beato Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854): Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616 (DH 2803): “por singular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso e em vista dos méritos previstos de Jesus Cristo”: tradução polonesa: Imaculada Mãe de Cristo. Materiais do Simpósio Mariológico Lublin, 23-24 de abril de 2024 , p. 267.

 

[63] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411.

 

[64] Cf. Ibid. , n. 21: AAS 79 (1987), 387-389.

 

[65] Cf. Ibid. , n. 23: AAS 79 (1987), 390-391.

 

[66] Francisco, Meditações Diárias. Dolorosa, Discípula e Mãe : L'Osservatore Romano , 4 de abril de 2020, 8: Tradução polonesa: Nossa Senhora das Dores – Discípula e Mãe (3 de abril de 2020): L'Osservatore Romano , edição polonesa 5(422)/2020, p. 38.

 

[67] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), nn. 55-62: AAS 57 (1965), 59-63: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , pp. 156-160.

 

[68] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 4: AAS 79 (1987), 421.

 

[69] Cf. São Paulo VI, Discurso no encerramento da Terceira Sessão do Concílio Vaticano II (21 de novembro de 1964): AAS 56 (1964), 1015, 32: tradução polonesa: Matka Odkupiciela Matka Kościółką Kościół. Dokumenty , selecionado e editado pelo Instituto Primaz dos Votos da Nação, Varsóvia 1990, pp. 210-211: “Portanto, Maria, a Mãe de Cristo, deve também ser considerada a Mãe de todos os fiéis e de todos os pastores, isto é, da Igreja”; Catecismo da Igreja Católica , n. 963.

 

[70] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 22: AAS 66 (1974), 133: Tradução polaca: Assim se honra a Mãe de Deus. Paulo VI sobre o culto da Bem-Aventurada Virgem Maria , p. 66.

 

[71] Por HU von Balthasar, Theodramatics. The Persons of Drama: Man in Christ, Vol . 3, Madrid 1993, 307.

 

[72] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 56: AAS 57 (1965), 6: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 157: “ela se consagrou totalmente, como serva do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, sob a Sua autoridade e com Ele, pela graça de Deus Todo-Poderoso, servindo ao mistério da redenção”.

 

[73] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 23: AAS 79 (1987), 391.

 

[74] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática. Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 69: AAS 57 (1965), 66: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 163: “Mãe de Deus e Mãe dos homens”.

 

[75] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 61: AAS 57 (1965), 63. O conteúdo da maternidade espiritual de Maria está presente nos textos patrísticos mais antigos e tem seus fundamentos bíblicos principalmente no Evangelho de São João, especialmente na cena da cruz.

 

[76] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388: “é delineado o modo como esta nova maternidade segundo o Espírito, e não apenas segundo a carne, se manifesta concretamente. Manifesta-se assim na preocupação de Maria com as pessoas , no atendimento das suas necessidades e deficiências em grande escala.

 

[77] Tenente Franciszek, Homilia. Na Solenidade da Bem-Aventurada Virgem Maria e no 53º Dia Internacional para a Promoção da Paz (1 de janeiro de 2020): AAS 112 (2020), 19.

 

[78] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 38: AAS 79 (1987), 411-412; cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63.

 

[79] Cf. São João Paulo II, Audiência Geral (9 de abril de 1997), n. 2: L'Osservatore Romano , 10 de abril de 1997, 4: Tradução polaca: Maria – uma colaboradora especial da redenção : L'Osservatore Romano , edição polaca 6(193)/1997, p. 45: “Maria, porém, participou neste evento quando este estava a acontecer, e fê-lo como Mãe. A sua participação abrange, portanto, toda a obra salvífica de Cristo.”

 

[80] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 159; Catecismo da Igreja Católica , n. 970.

 

[81] Cf. Francisco, Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 marzo 2021, 8: Tradução para o inglês: Audiência Geral. Oração em comunhão com Maria (24 de março) : L'Osservatore Romano , edição em inglês 4-5(432)/2021, p. 29: "(Maria) indica o Mediador: Ela é Hodegetria . Na iconografia cristã, sua presença é universal, às vezes até muito pronunciada, mas sempre em relação ao Filho e dependente Dele. Suas mãos, seus olhos, sua postura são um 'catecismo' vivo e sempre indicam o fundamento, o centro – Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele."

 

[82] São João Paulo II, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002), n. 4: AAS 95 (2003), 8, onde o Concílio Vaticano II é citado, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 66: AAS 57 (1965), 65: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 162.

 

[83] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 158: “o papel subordinado de Maria”.

 

[84] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 40: AAS 79 (1987), 414-415.

 

[85] Cf. Ibid . , n. 43: AAS 79 (1987), 420.

 

[86] Cf. Francisco, Discurso por ocasião da devoção do Rosário na Basílica de Santa Maria Maior em Roma (4 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 6-7 de maio de 2013, 7.

 

[87] Leão XIV, Homilia por ocasião do Jubileu da Santa Sé (9 de junho de 2025), 2: L'Osservatore Romano , 10 jugno 2025, 2: Tradução polonesa: Homilia durante a Santa Missa por ocasião do Jubileu da Santa Sé : L'Osservatore Romano Edição polonesa 7-8(474)/2025, pp. 24-25.

 

[88] Por. Franciszek, Adhort. após. O Evangelho Gaudium (24 de agosto de 2013), n. 285: AAS 105(2013),1135.

 

[89] Ibid., Enc. Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 176: AAS 116 (2024), 1424.

 

[90] Cf. Ibid., Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11: Tradução polonesa: Maria, uma mulher de oração : L'Osservatore Romano , edição polonesa 12(428)/2020, pp. 28-30.

 

[91] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 388-389.

 

[92] Cf. Francisco, Homilia. In sollemnitatem Sanctae Dei Genetricis Mariae et pro 57 Die Mundiali Pacis (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20: trad. pol.: Kościół potrzebu Maryi: L'Osservatore Romano , pol. Ed. 1(459)/2024, pp.

 

[93] JL Guerrero Rosado, Nican mopohua: Aqui é contado… o grande evento , Cuautitlán 2003, n. 23, 119.

 

[94] São João Paulo II, Audiência Geral (13 de agosto de 1997), n.º 4: L'Osservatore Romano , 14 de agosto de 1997, 4: Tradução polaca: O modelo da maternidade da Igreja : L'Osservatore Romano , edição polaca 11(197)/1997, p. 22.

 

[95] Francisco, Homilia. Em celebração à Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe (12 de dezembro de 2022): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2022, 8: AAS 115 (2023), 53; cf. Tenże, Homilia. Em celebração à Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe (12 de dezembro de 2023): L'Osservatore Romano , 13 de dezembro de 2023, 11: AAS 116 (2024), 12.

 

[96] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 8: AAS 57 (1965), 11; Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 96: AAS 116 (2024), 1398.

 

[97] Por. Cartão J. Ratzinger, Ata da Feira IV de 21 de fevereiro de 1996 , Archiwum Dykasterii Nauki Wiary.

 

[98] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389. Este carácter intercessor da mediação de Maria tem sido o ensinamento constante dos papas recentes. Cf. Beato Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854), Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 597-619; Leão XIII, Carta Encíclica Adiutricem populi (5 de setembro de 1895): ASS 28 (1895-1896), 129-136; São Pio X, Carta Encíclica Ad diem illum (2 de fevereiro de 1904): AAS 36 (1903-1904 ) , 455; Pio XII, Carta Encíclica Ad Caeli Reginam (11 de outubro de 1954), n. 17: AAS 46 (1954), 625-640, 636.

 

[99] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 160.

 

[100] Santo Agostinho, Sobre os Méritos e Remissão dos Pecados e sobre o Batismo de Crianças , I, 11, 13: CSEL 60, 14.

 

[101] Ibid., Sermo 23/A: CCSL 41, 322: Tradução polonesa: Fortalecidos pela Palavra. Leituras da Liturgia das Horas , vol. IV, parte 1, comentário de Antoni Paciorek, Katowice 1988, p. 110.

 

[102] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a. 6, co.

 

[103] Concílio de Trento, Sessão VI: Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1530: Tradução polaca: O que é a justificação de um pecador e quais são as suas causas ; em: Breviarium Fidei. Pronunciamentos doutrinais selecionados da Igreja , Poznań 2007, n. 322.

 

[104] Beato Pio IX, Constituição Apostólica Ineffabilis Deus (8 de dezembro de 1854), Pontificis Maximi Acta. Pars prima , Roma 1854, 616: Tradução polonesa: Imaculada Mãe de Cristo. Materiais do Simpósio Mariológico Lublin, 23-24 de abril de 2024 , p. 267.

 

[105] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 113, a. 9, co.

 

[106] Ibid. , q. 114, a. 6, ad 3.

 

[107] Ibid. , q. 114, a. 5, co.

 

[108] Ver Ibid ., q. 114, a. 1, co.

 

[109] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 21: AAS 79 (1987), 389.

 

[110] Cf. Francisco, Audiência Geral (8 de junho de 2016): L'Osservatore Romano , 9 jugno 2016, 8: Tradução polonesa: O bom vinho da família : L'Osservatore Romano , edição polonesa 7-8(384)/2016, pp. 47-48.

 

[111] Cf. Ibid., Audiência Geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 marzo 2021, 8: Tradução polonesa: Oração em comunhão com Maria : L'Osservatore Romano , edição polonesa 4-5(432)/2021, pp. 28-30; Catecismo da Igreja Católica , n. 2674.

 

[112] Pr. Franciszek, Palavras do Santo Padre durante a Recitação do Santo Rosário (31 de maio de 2013): L'Osservatore Romano , 2 de junho de 2013, 8.

 

[113] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 61: AAS 57 (1965), 63.

 

[114] Catecismo da Igreja Católica , n. 2003.

 

[115] Ibid ., n.º 1999.

 

[116] São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 114, a. 1, co.; Quaestiones disputatae de Veritate , 27, a. 3, anúncio 10 .

 

[117] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 64, a. 1, co.: "(…) solus Deus illabitur animae ": tradução polonesa: Ibid., Summa theologiczna , vol. 27, traduzido por Pius Maria Bełch, Londres 1984.

 

[118] Ver Concílio de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 7: DH 1528-1531; ibid ., Cânones sobre a Justificação , 11: DH 1561.

 

[119] Ver São Tomás de Aquino, Quaestiones disputatae de Veritate , q . 28, a. 2, anúncio 8; Summa contra gentios , II, cap. 98, n. 18; Tamże , III, cap. 88, n. 6.

 

[120] Por. Tenże, Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, pb 5.

 

[121] Além disso, Summa Theologiae , III, q. 64, a.1 co.

 

[122] Entre outros, Genádio de Marselha, De ecclesiastical dogmatibus , 83: PL 58, 999B. Também São João Cassiano, Collationes , VII, 13: PL 49, 683A. Além disso, Dídimo, o Cego, De Spiritu Sancto , 60: PL 23, 158C.

 

[123] Ver São Boaventura, Collationes in Hexaemeron , XXI, 18: Opera Omnia , V, Quaracchi 1891, 434.

 

[124] Ver Tenże, Sententiarum Lib . Eu ia. 14, a. 2, q. 2, anúncio 2: Opera Omnia , I, Quaracchi 1891, 250.

 

[125] Ver Ibid ., q. 2, fund. 3, 251.

 

[126] Ver Ibid . , q. 2, fund. 4 e 8, 251-252.

 

[127] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 33, a. 3; Ibid ., III, q. 23, a. 4.

 

[128] Ibid., Compendium theologiae , I, n. 215: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, On Faith , traduzido e editado por Jacek Salij, introdução de Paweł Milcarek, Poznań 2000, p. 267; cf. Ibid., Suma Teológica , III, q. 2, a. 10.

 

[129] Além disso, Summa Theologiae , III, q. 8, a. 5, co.; cf. Além disso , q. 2, a. 12; q. 7, a. 9; q. 48, a. 1.

 

[130] Ibid., Compendium theologiae , I, n. 214: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Sobre a Fé , p. 266.

 

[131] Ibid., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 29, a. 5 co.: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Questões discutidas sobre a verdade , vol. II, traduzido por Adam Aduszkiewicz, Leszek Kuczyński, Jacek Ruszczyński, traduzido e revisado por Mikołaj Olszewski, Poznań 1998.

 

[132] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus (6 de agosto de 2000), n. 10: AAS 92 (2000), 750-751; cf. Francisco, Carta Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), nn. 59-63: AAS 116 (2024), 1386-1387.

 

[133] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes (7 de dezembro de 1965), n. 22: AAS 58 (1966), 1042-1043: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , pp. 541-542.

 

[134] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I-II, q. 112, a. 1, co.

 

[135] Ver também Tenże, Super Ioannem , cap. I, v. 16, leção 10; Suma Teológica , I-II, q. 112, a. 1, anúncio 1.

 

[136] Ibid., Compendium theologiae , I, n. 214: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Sobre a Fé , p. 264.

 

[137] Dante Alighieri, Paradiso , XXXIII, 1: Tradução polonesa: Raj , Song XXXIII, 1, em: Dante Alighieri, Divine Comedy , traduzido por Edward Porębowicz, Varsóvia 1909, p. 706.

 

[138] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de Novembro de 1964), nn. 60, 62: AAS 57 (1965), 62-63; São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , III, q. 26.

 

[139] Missal Romano restaurado pela autoridade do Concílio Ecumênico Vaticano II, promulgado sob os cuidados de São Paulo VI, reconhecível por São João Paulo II, terceira edição típica , Vatican Press 2008, 8 de dezembro, Na Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, Prefácio: Sobre o Mistério de Maria e da Igreja , 879: traduzido para o polonês: Prefácio sobre a Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria , n.º 59, em: Missal Romano para a Diocese Polonesa , Poznań 2010, p. 76*.

 

[140] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 159.

 

[141] Cf. Catecismo da Igreja Católica , n. 2002.

 

[142] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I, q. 25, a.3, ad 4. Justificar , assim como criar , “só Deus pode fazê-lo imediatamente”.

 

[143] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 62: AAS 57 (1965), 63: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 160.

 

[144] Cf. Orígenes, Hom. in Genesim , XIII, 3-4: PG 12, 232B-234CD: Tradução polonesa: Orígenes, Homilias sobre o Livro do Gênesis. Homilias sobre o Livro do Êxodo , tradução e notas: Stanisław Kalinkowski, introdução: Henryk Pietras, Cracóvia 2012, pp. 136-141.

 

[145] Cf. São Cirilo de Alexandria, Com. em Ioannem , II, 4, 13-14: PG 73, 300C.

 

[146] Veja também Tenze, Comentário sobre Isaías , V, II, 55, 1-2: PG 70, 1220A.

 

[147] Cf. São Cirilo de Jerusalém, Catequese mistagógica XVI, 11: PG 33, 932C.

 

[148] Cf. São João Crisóstomo, Hom. em Ioannem , 51, 1: PG 59, 283.

 

[149] Santo Ambrósio, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[150] Ibid., De Noe , 19, 70: PL 14, 395A.

 

[151] Veja também Tenże, Explicação dos Salmos XII, Ps. 48, 4, 2: PL 14, 1157A.

 

[152] Cf. São Jerônimo, Comm. sobre Zacarias , III, 14, 8.9: PL 25, 1528 C.

 

[153] São Gregório Magno, Homilias sobre o Livro de Ezequiel , I, 10, 6: PL 76, 888B: Tradução polonesa: Gregório Magno, Homilias sobre o Livro de Ezequiel. Parte Um , 10, 6, tradução e introduções: Adam Wilczyński, Cracóvia 2019, pp. 313-352.

 

[154] Veja Santo Hilário, Tractatus in Psalmos , 64, 14: PL 9, 421B.

 

[155] Santo Agostinho, In Ioannis Evangelium , 32, 4: PL 35, 1643D: Tradução polonesa: Santo Agostinho, Homilias sobre os Evangelhos e a Primeira Carta de São João. Parte Um , traduzido por Władysław Szołdrski, Wojciech Kania, introdução e edição por Emil Stanula, Varsóvia 1977, p. 420.

 

[156] São Tomás de Aquino, Super Ioannem , cap. 7, aula. 5.

 

[157] Ibid .; cf. Ibid., Summa Theologiae , II-II, q. 178, a. 1, sc: tradução polonesa: Ibid., Suma theologiczna , vol. 23, traduzido por Pius Maria Bełch, Londres 1982.

 

[158] São Cirilo de Jerusalém, Catechesis mystagogica XVI, 12: PG 33, 933B: Tradução polonesa: São Cirilo de Jerusalém, Catecheses , traduzido por Wojciech Kania, introdução: Jacek Bojarski, editado por Mateusz Bogucki, Varsóvia 1973, p. 246.

 

[159] São João XXIII, Carta Encíclica Mater et Magistra (15 de maio de 1961), n. 259: AAS 53 (1961), 462: tradução polonesa: Jan XXIII, Mater et Magistra , Paris 1963.

 

[160] São João Paulo II, Paray-le-Monial. Carta entregue ao Superior Geral dos Jesuítas (5 de outubro de 1986): L'Osservatore Romano , 6 ottobre 1986, 7; citado em: Francisco, Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 182: AAS 116 (2024), 1427.

 

[161] Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate (29 de junho de 2009), n. 5: AAS 101 (2009), 643.

 

[162] Francisco, Encíclica Dilexit nos (24 de outubro de 2024), n. 198, 200: AAS 116 (2024), 1432.

 

[163] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 5, a. 6, co. e ad 1; Ibid., Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Os argumentos que São Tomás de Aquino usou para explicar por que nenhuma criatura pode conceder graça, mas somente Deus, não podem ser considerados obsoletos, nem dentro de sua própria obra nem posteriormente.

 

[164] Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , pág. 159; cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae , I, q. 25, art. 3, anúncio 4; Ibidem, Scriptum super Sententiis , lib. 2, d. 26, q. 1, a. 2, co.; Ibid ., IV, d. 5, q.1, a. 3, qc. 1, anúncio 1.

 

[165] Cf. também Quaestiones disputatae de Veritate , q. 27, a. 3, sc 5. Recordamos mais uma vez que: “ Mas na mente, na qual há graça, nada criado cai ”.

 

[166] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 60: AAS 57 (1965), 62: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 159.

 

[167] Ibid. , n. 62: Tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p.

 

[168] Cf. São Tomás de Aquino, Summa contra gentiles , lib. 2, boné. 21, n. 7. O instrumento contribui com algo de si mesmo: " Omne agens instrumentale exequitur actionem principalis agentis per aliquam actionem propriam et connaturalem sibi " ("Todo agente agindo como instrumento realiza a ação do agente principal por meio de alguma ação própria e natural a si mesmo"): Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Summa filosófica (Contra Gentiles). Tradução da edição latina feita a mando do Papa Leão XIII , livro II, Cracóvia 1930, p. 36.

 

[169] Ibid. , lib. 3, cap. 147, n. 6: Tradução polonesa: São Tomás de Aquino, Suma filosófica (Contra os Gentios). Tradução da edição latina feita por ordem do Papa Leão XIII , livro II, Cracóvia 1933, p. 408; cf. Ibid., Suma Teológica , I, q. 45, a. 5 co.

 

[170] Ibid., Summa Theologiae , I-II, q. 5, a. 6, anúncio 1: vol. 9: Tradução polonesa: Ibid., Summa theologiczna , vol. 9, traduzido por Feliks Wojciech Bednarski, Londres 1963.

 

[171] Ver Concílio de Trento, Sessão VI . Decreto sobre a Justificação , 8: DH 1532.

 

[172] Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica , I-II, q. 114, a. 5, co.: ”: Tradução polonesa: Ibid., Suma Teológica , vol. 14, traduzido por Romuald Kostecki, Londres 1984: “Como alguém já possui a graça, a graça já possuída não pode ser objeto de mérito.” Embora uma pessoa justificada possa merecer desenvolvimento na vida da graça, o fato de ser justificado, de ser amigo de Deus pela graça, será sempre completamente gratuito.

 

[173] O que São Tomás de Aquino chama de “disposição final”, que é ao mesmo tempo um dom da graça santificante, é uma obra direta dessa mesma graça. É uma questão de “disposição final, que necessariamente segue a forma”: São Tomás de Aquino, Sententiae Metaphysicae , lib. 5, lect. 2, n. 5; cf. Ibid., Scriptum super Sententiis , I, d. 17, q. 2, a. 3, co.; Ibid., Summa contra gentiles , lib. 2, cap. 19, n. 6; Compendium theologiae , I, n. 105.

 

[174] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 61: AAS 57 (1965), 63: tradução polonesa: Concílio Vaticano II, Constituições. Decretos. Declarações , p. 159.

 

[175] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 45: AAS 79 (1987), 422-423.

 

[176] Francisco, Audiência Geral (18 de novembro de 2020): L'Osservatore Romano , 18 de novembro de 2020, 11: Tradução polonesa: Maria, uma mulher de oração : L'Osservatore Romano , edição polonesa 12(428)/2020, p. 29.

 

[177] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 20: AAS 79 (1987), 387.

 

[178] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), n. 53: : AAS 57 (1965), 58-59.

 

[179] Santo Agostinho, Sermo 72/A, 7: CCSL 41Ab, 117: Tradução polonesa: Agostinho de Hipona (Augustinus), Sermões sobre o Evangelho segundo São Mateus , tradução, introdução e edição de Antoni Żurek, Cracóvia 2022, p. 266.

 

[180] Francisco, Audiência geral (24 de março de 2021): L'Osservatore Romano , 24 de março de 2021, 8: Tradução polonesa: Oração em comunhão com Maria : L'Osservatore Romano 4-5(432)/2021, p. 29.

 

[181] São Paulo VI, Exortação Apostólica Marialis cultus (2 de fevereiro de 1974), n. 35: AAS 66 (1974), 147.

 

[182] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 46: AAS 79 (1987), 424.

 

[183] ​​​​Dicastery para a Doutrina da Fé, Normas de Procedimento no Discernimento de Presumidos Fenômenos Sobrenaturais (17 de maio de 2024), n. 12: AAS 116 (2024), 782.

 

[184] Francisco, Audiência geral (16 de fevereiro de 2022): L'Osservatore Romano , 16 de fevereiro de 2022, 2: Tradução polonesa: São José – padroeiro da Igreja universal : L'Osservatore Romano , edição polonesa 3-4(441)/2022, p. 19.

 

[185] Tenże, Adhort. após. O Evangelho Gaudium (24 de agosto de 2013), n. 285: AAS 105 (2013), 1134–1135.

 

[186] Bento XVI, Encíclica Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), n. 42: AAS 98 (2006), 252.

 

[187] Franciszek, Adhort. após. O Evangelho Gaudium (24 de agosto de 2013), n. 284: AAS 105(2013),1134.

 

[188] Cf. Ibid. , n. 113: AAS 105 (2013), 1067.

 

[189] Leão XIV, Primeira Bênção Apostólica “Urbi et Orbi” (8 de maio de 2025): L'Osservatore Romano , 9 de maio de 2025, 3: Tradução polonesa: Queremos ser uma Igreja que sempre busca a paz : L'Osservatore Romano , edição polonesa 5(472)/2025, p. 10.

 

[190] Francisco, Mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (15 de agosto de 2022): AAS 114 (2022), 1255.

 

[191] Tenże, Adhort. após. O Evangelho Gaudium (24 de agosto de 2013), n. 285: AAS 105(2013),1135.

 

[192] São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 28: AAS 79 (1987), 398.

 

[193] Conselho Latino-Americano de Bispos, Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 265: Tradução polonesa: Aparecida. Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe. Documento Final. Somos discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que as nossas nações tenham vida nEle , traduzido por Krzysztof Zabawa, Krzysztof Łukoszczyk, encomendado pela Equipe KEP para a Nova Evangelização, Gubin, 2014, n. 265, p. 132.

 

[194] Cf. São João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris Mater (25 de março de 1987), n. 35: AAS 79 (1987), 407.

 

[195] Francisco, Homilia. Sobre a Solenidade da Mãe de Deus, Maria, e para o 57º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2024): AAS 116 (2024), 20: trad. polonês: A Igreja precisa de Maria: L'Osservatore Romano , ed. pol. 1(459)/2024, p. 18.

 

[196] Conselho Latino-Americano de Bispos, Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe (Aparecida, 13-31 de maio de 2007), n. 259: Tradução polonesa: Aparecida. Quinta Conferência Geral dos Episcopados da América Latina e do Caribe. Documento Final. Somos discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que as nossas nações tenham vida nEle , traduzido por Krzysztof Zabawa, Krzysztof Łukoszczyk, encomendado pela Equipe KEP para a Nova Evangelização, Gubin 2014, n. 259, pp. 129-130.

 

[01462-PL.01] [Texto original: espanhol] 

[B0829-XX.02]

Fonte: Vatican News


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