D. Murilo S. R. Krieger, scj
Fonte: Revista Brasil Cristão - edição n. 178; de maio/12
Tendo diante de si as palavras do Apóstolo Paulo: "Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos" (ITm2, 5-6). Muitos perguntam: "Como é que os católicos ousam falar em mediação de Maria?"
Já nos primeiros tempos da Igreja havia o costume de se invocar Maria. Prova disso é a oração: "Sob tua proteção, ó Mãe de Deus...", que é aproximadamente do ano 200 d.C. O título de mediadora, referente a Ela, começou a ser usado no século VI d.C, e tornou-se mais popular no século XII d.C.
O único mediador entre Deus e o homem é Jesus: "Ninguém vai ao Pai a não ser por mim" (Jo14,6); é preciso estar atento, porém, ao seguinte: toda vez que usamos uma mesma palavra referindo-nos a Deus e a nós, seu sentido é totalmente diferente. Pensemos, por exemplo, na palavra santidade. Mas o significado, num e no outro caso, é totalmente diferente. Deus é santo, no sentido absoluto, original.
Podemos até dizer que Deus é "a" Santidade. Os santos, ao contrário são santos no sentido relativo, isto é, limitados e dependentes. Eles participam, por um Dom especial da Santidade Divina. Jamais poderíamos dizer que os santos "são" a Santidade. Entendendo esses diferentes usos para a palavra "santo" é legítimo continuar dizendo que os santos são "santos".
O mesmo poderemos dizer da bondade, da misericórdia ou da perfeição "Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito!" - {aqui, nota-se que, se for atribuída a Perfeição absoluta ou de Deus, ninguém alcançaria tal Perfeição, mas os atributos relativos de que se referem Jesus, à pureza e à busca da santidade, da vida correta e leal diante de Deus que todos devem ter}. Referindo-se a Deus trata-se de atributos originais. Referindo-se a pessoas, trata-se de uma participação nos atributos divinos - participação limitada e dependente.
Assim quando dizemos que Jesus é o mediador, que é o único mediador, entendemos essa palavra no sentido absoluto, original e exclusivo. Já quando dizemos que Maria é mediadora, essa palavra é usada no sentido relativo e subordinado, como participação na única mediação (absoluta) de Cristo.
É o critério que vale para todos os atributos divinos. Assim a palavra "mediadora" não causa mais problemas, já que não se tira nada da Mediação de Cristo, e passa a ser compreendida em seu sentido exato.
Nesse sentido, poderemos ir além e dizer que há outros mediadores: os Apóstolos, os missionários e todos os que pregam o Evangelho. São também mediadores os párocos e catequistas, bem como os pais que educam seus filhos segundo a fé cristã. Cada batizado é chamado a ser um mediador: "Sereis minhas testemunhas!"... (At 1,8) - E é tão importante essa mediação que o Evangelho só chegará a muitas pessoas e lugares através dela:
"Ide pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo quando vos prescrevi". (Mt 28, 19-20a). "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". (Jo13, 35)
Em síntese, toda mediação está sempre subordinada e dependente a Cristo, que é o único Mediador entre nós e o Pai. Ele não perde essa prerrogativa pelo fato de deixar que os outros participem de Sua mediação.
A mediação de Maria é especial, tendo em vista seu lugar (principal) único no Mistério de Cristo e da Igreja.
(Aliás a Igreja começou a caminhada, à partir de Pentecostes, com a presença e participação de Maria - At1, 4.12-14).
Basta pensar em sua colaboração para que acontecesse a Encarnação. Mais: levou Jesus, que nela havia se encarnado, à sua prima Isabel e a João Batista; colocou-O nos braços de Simeão; intercedeu em Caná quando na festa, o vinho acabou.
(Como não seria diferente?) No Céu Maria não é mediadora junto ao Mediador, mas n'Ele e por Ele; ela está em comunhão total com Cristo. Assim a mediação universal de Maria, no sentido que temos hoje, nada mais é que sua maternidade universal em relação aos homens. (cf. Jo 19, 25-27). Logo, quando o povo de Deus, iluminado pelo Espírito Santo, recorre à Maria em suas necessidades, sabe que a mediação de Maria depende da única mediação de Cristo, e que todas as graças tem a mesma fonte: o Coração aberto de seu Filho.
POR ISSO - com essa belíssima explicação de D. Murilo, podemos entregar com confiança e suplicante nos braços de Maria, podemos sempre lembrar as palavras de São Bernardo:
"Ó Santa Mãe de Deus, Maria Santíssima, que nunca se ouviu dizer que alguns daqueles que tenha recorrido à vossa proteção fosse por vós desamparado!" ...
É com essa confiança que lançamos nos braços de nossa Mãe Maria, pois dentre todas ela é a Cheia de Graça, e como amada por Deus Pai, nunca deixou de atender e distribuir sobre nós as graças de seu Filho Jesus.
Maria é medianeira e ao mesmo tempo ela ela é co-redentora da humanidade junto de Jesus, pois ela pelo seu "sim" foi favorável ao mistério da Encarnação do Filho de Deus, isto é, Jesus.
Anunciada e escolhida por Deus, Maria é aquela que se fez a mais humilde de todas, mas diante de Deus é a criatura mais sublime, porque somente uma pessoa tão pura na alma e no corpo poderia conceber o Filho de Deus, que quis vir a este mundo nascido de uma mulher.
Se Jesus com sua obediência até a morte, conforme mesmo disse São Paulo, veio para recuperar e trazer para nós a graça que Adão, o primeiro homem tinha perdido por causa do pecado e da desobediência, e por isso, é também, Jesus é chamado simbolicamente de o "Novo Adão", Maria Santíssima , igualmente veio como co-redentora, sendo obediente, aceitando ser a Mãe do Filho de Deus e estando com Ele até a Cruz, essa serva obediente trouxe para nós Jesus o autor da graça; ao contrário de Eva, (primeira mulher) que também pecou desobedecendo a Deus, Maria Santíssima é chamada simbolicamente de a "Nova Eva" - sendo ao contrário, fiel a Jesus e a Deus em tudo.
Maria Santíssima ainda é chamada de um outro título ainda mais belo, a "Arca da Aliança". Como todos sabemos, a Arca da Aliança era uma caixa, ornamentada de ouro, onde era guardado os 10 Mandamentos, escritos por Deus na pedra e dado à Moisés. E sobre a Arca estavam dois querubins de ouro um de frente pro outro, donde Deus manifestava seu poder.
Assim, o ventre materno de Maria trouxe para nós Jesus, autor da Nova Aliança e todo o Novo Testamento passou pelo ventre santo de Maria, porque trouxe ao mundo o Filho de Deus. Por isso ela é chamada Arca da Aliança, porque guardou no seu ventre o autor da Nova Aliança que é Jesus.
E por fim, dos inúmeros títulos que Maria Santíssima recebeu e recebe, o mais importante e significativo foi o de Mãe de Deus, porque concebeu em seu ventre o Filho de Deus, Jesus Cristo, conforme fora anunciado pelo Anjo Gabriel: "Eis que conceberás e darás a luz a um filho e lhe porás o nome de Jesus, ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo". ( Lc 1, 31-32. )
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