segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A CORREÇÃO FRATERNA, O PERDÃO DOS PECADOS E O USO DA MISERICÓRDIA.








No Capítulo 18, 15-18:21-35 do evangelho de São Mateus encontramos o ensinamento do Senhor Jesus a respeito de três coisas:

a)      A correção fraterna

b)      O perdão dos pecados

c)      O uso da misericórdia

Como o cristão deve proceder diante dos seus próprios erros e diante dos erros do irmão e como fazer o uso da misericórdia.

Esta narrativa é o centro do Sermão da Comunidade (Mateus 18). Ali, encontramos o evangelho de hoje e nele estão os assuntos da correção fraterna (18,15-18), da oração em comum (18,19) e da presença de Jesus na comunidade (18,20).



Em Mateus, a organização das palavras de Jesus em cinco grandes Sermões mostra que, já no fim do primeiro século, as comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade, por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder, caso algum conflito surgisse entre os seus membros. E o evangelho de hoje propõe três setas no caminho que apontavam o rumo da caminhada e ofereciam critérios concretos para solucionar conflitos.

            Logo, no início do versículo 15, o Senhor Jesus já nos mostra que somos uma família, a família de Deus e portanto, somos irmãos. E como irmãos devemos ter atitudes de irmãos. Se somos filhos de Deus, o Senhor Jesus é nosso irmão “mais velho”. E não podemos nos esquecer que Ele também é nosso Senhor e também é Senhor da Igreja. E como tal nos ensina como proceder diante de um irmão que errou. 


1     Tratar a pessoa humana com dignidade. Uma boa conversa em particular, procurando mostrar que a pessoa está errada. Oferecer ajuda. Não se deve repreender a pessoa em público. Muitas vezes uma boa conversa resolve melhor do que provocando escândalos. Saber ouvir o outro lado. Saber as palavras certas na hora certa. Aconselhar se preciso lembrando sempre que um bom conselho também é um gesto de caridade. 

Repreender não é falar mal, não é dizer xingamentos, mas é dizer a verdade, a verdade dói, mas, ela também liberta.  

É preciso lembrar que todos têm o direito de uma segunda chance e que atitudes arbitrárias levam às piores consequências. A falta de diálogo cria situações irreversíveis muitas vezes sem necessidades. É por isso que Jesus pede que evitemos o escândalo. Lembremos que cada um de nós batizados somos templos do Espírito Santo e por isso, quando nos escandalizamos ou escandalizamos nosso irmão estamos escandalizando o Espírito Santo que mora em cada um de nós.

A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades, o rigor de alguns na observância da Lei levava para a convivência os mesmos critérios injustos da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começaram a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão, falar e calar, carisma e poder, homem e mulher, raça e religião. Em vez de a comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação. Juntando palavras de Jesus neste Sermão da Comunidade, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma boa-nova para os pobres.

2      Depois de uma boa conversa, se ele não te escutar, mesmo assim, não queira tomar decisão pelas próprias mãos procure duas ou três pessoas para que vejam e sejam testemunhas de que você está tentando fazer com o irmão saia do erro e se arrependa.

Mas, veja bem! Jesus não está dizendo que as testemunhas devem se intrometer no problema em questão. Mas, que elas em decisão conciliadora após conhecer de perto o problema ajude-a a resolver.

Veja que Jesus se preocupa com a dignidade humana. Ele não quer que nenhum de nós fiquemos no erro.

Jesus é o Bom Pastor. Ele é aquele Pastor que vai atrás da ovelha perdida e não descansa até encontrá-la. (Mt18, 12-13) 

O Pecado se não corrigido pela conversão nos tira a dignidade. Ele é como o vício das drogas. Sabendo disso o Senhor Jesus insiste para que ajudemo-nos uns aos outros a se livrar dele.  

3      Se o irmão não te ouvir e nem ouvir as pessoas pelas quais você convidou para ajudar. Deves então apresenta-lo à Igreja. Como última tentativa. Porque levá-lo à Igreja. Porque a Igreja representa a autoridade de Deus na terra.

Veja que há dois capítulos atrás (Cap. 16) o Senhor Jesus dá a Pedro a autoridade divina do Governo Igreja representado pelas chaves. É Pedro e os Apóstolos que agora recebem de Jesus autoridade para ensinar e perdoar os pecados, de ligar e desligar.

E por essa autoridade que Jesus está dizendo: “leve-o à Igreja” – para que a Igreja com a autoridade conferida por Jesus admoeste-o na Verdade. Para que com a Palavra de Deus e da Igreja ele possa buscar a conversão.

E se mesmo assim ele não quiser ouvir nem a você, nem as outras pessoas, nem a Igreja não é preciso brigar, se estressar, você já cumpriu sua obrigação.

Então nada mais resta a fazer senão deixá-lo com suas escolhas.

Não se trata se deixar a pessoa ao abandono, deixar-lhe de oferecer ajuda, mas, de aceitar e respeitar sua escolha.

Deus nos criou livres, ele respeita nossa liberdade e quer que nós respeitemos a liberdade uns dos outros. Cada um é livre para escolher o caminho do bem e do mal e terá que arcar com suas consequências de suas escolhas. No entanto, o senhor Jesus sempre está de braços abertos para quem voltar a Ele de coração sincero.



No versículo 21 do Cap. 18, Pedro faz uma pergunta a Jesus. Essa pergunta tem uma justificativa:

Ora, recordamos o que Jesus dito "se o irmão que errou não ouvir Igreja esse deve ser tratado como um qualquer". O Evangelho diz que a pessoa deve ser tratado como um fariseu ou um publicano.

Na literatura bíblica, a comunidade judaica considerava o fariseu e o publicano como  as pessoas mais baixas, consideradas as mais pecadoras depois das prostitutas e eram tidos como impuros e tratavam essas pessoas com preconceito. O mendigo, o pobre, o cego, o deficiente, o leproso, a viúva - todos aqueles que estavam à margem da sociedade eram tratados com desprezo e indiferença. Jesus acolheu a todos.

Os judeus não tinham consideração pelos publicanos porque eles eram os "funcionários públicos" da época que exploravam as pessoas aumentando o valor dos impostos, além dos valores estabelecidos por Roma e com isso ficavam ricos com apropriação indébita. 

E os fariseus porque sobrecarregavam o povo com as leis e seus dízimos, mas, eles mesmos não cumpriam. Tanto é verdade que o Senhor Jesus censurou os fariseus e chamou-lhes de  hipócritas e sepulcros caiados tamanha era a falsidade em que viviam.

Jogavam pesados fardos da Lei sobre as pessoas mas eles mesmos não as cumpriam. Não entram no céu e nem deixam os outros entrarem. Porque para Jesus e para nós de nada vale cumprir os Mandamentos simplesmente por obediência e preceito se não for por amor a Deus. (Cf. Mt23, 1-32) - Essa é uma observação que devemos estar atentos. 
Devemos também ser cumpridores das leis de Deus e de nosso País. Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Não podemos apontar os  erros dos outros sem antes corrigir nossos próprios erros.


Pedro estava preocupado, queria entender e pergunta a Jesus: -"Quantas vezes então eu devo perdoar?" "Sete vezes como diz a  Lei judaica?"

Jesus responde a Pedro: - “Não sete vezes mas, setenta vezes sete”. Isto é, devemos perdoar quantas vezes for necessário. Perdoar sempre. Esta deve ser a atitude do cristão, pois, se Deus que é amor enviou seu Filho para nos Salvar e perdoar nossas dívidas, não temos o direito de negar o perdão aos nossos irmãos. O perdão não só nos aproxima do irmão, mas, também nos aproxima de Jesus, o Filho de Deus que  está na pessoa do irmão.  

Não importa a situação. O perdão deve ser dado a quem pede. Teu irmão errou, se arrependeu e pediu perdão você deve perdoar. Sempre perdoar. Essa é nossa missão e a missão da Igreja pois, Jesus veio para Salvar e não para condenar. Todas as vezes que perdoamos um irmão, Deus também nos perdoa de nossos pecados.  

Varias vezes por dia, e com diversas pessoas, nós sentimos a necessidade de pedir perdão. Isto acontece principalmente quando nossas atitudes magoam as pessoas que amamos e/ou quando vemos nos rostos destas pessoas a tristeza que causamos. Esse pedido de perdão nem sempre é tão simples, principalmente se temos o orgulho latente em nós e não queremos reconhecer o erro. Quando as pessoas magoadas não são as que amamos, esta atitude de humildade torna-se ainda mais difícil.

Esse ensinamento do Senhor Jesus não é apenas para ser aplicado lá fora mas, também deve ser aplicado em nossas casas. É dentro de nossas casas que os mais variados conflitos acontecem causados muitas vezes por falta de diálogo e de respeito pelos pais e irmãos. 
Uma família cristã não resolve seus problemas atirando pedras, ou seja, atirando acusações para todos os lados. A família cristã resolve seus problemas pela oração, pelo perdão, pela compreensão, pelo diálogo e pela escuta da Palavra de Deus. E quando não achar respostas suficientes, estas devem ser buscadas também na autoridade da Igreja. A Igreja é uma mãe e como mãe zela pelos seus filhos.

 A GRAÇA DO PERDÃO

Jesus não deseja que desprezemos o irmão que errou, mas respeitemos suas decisões. Há um ditado que diz que a maior escola que temos é a escola da vida. É uma verdade que outrora o Senhor Jesus retratou na parábola do filho pródigo. 

Na história o filho mais novo saiu de casa e percebeu com os sofrimentos que passou lá fora que o maior tesouro não era as riquezas. Não era os falsos amigos e as prostitutas, mas, era sua família. E quando voltou a si reconheceu o erro e voltou para seu pai que o acolheu, perdoou e restaurou-lhe a dignidade perdida. Seu irmão mais velho censurou a atitude do pai mas, recebeu a resposta mais bonita: "era preciso que fosse assim, pois teu irmão estava morto e agora vive, estava perdido e foi encontrado". Nessa história há um detalhe muito importante: O filho lá fora, sem dar notícias, gastando tudo que tinha sem se preocupar com o pai. Enquanto que o Pai olhava todos os dias o horizonte à espera do regresso do filho. 

Não é assim que agimos com Deus nosso Pai? - Pedimos várias coisas e quando Deus nos concede nós deixamos sua casa, esquecemos seus conselhos e vamos para o mundo. No entanto, quando chega os problemas ao invés de tentarmos superá-los corremos para Deus e é claro, Deus nos acolhe. Mesmo não atendendo na hora, mesmo não fazendo nossas vontades na hora ele nos acolhe de volta pois, é um pai amoroso e zeloso e não quer que nenhum de seus filhos se perca. 
Assim também nós somos filhos pródigos, desobedientes. Somos pecadores!
Por isso não podemos cair na prepotência de achar que o outro deve ser igual a nós, o santo, o perfeito... É nesse sentido que Deus quer enxergamos o irmão que mesmo diante do erro seja ela qual for merece o arrependimento e o perdão.  

Lembremos que o perdão do alto da Cruz, não foi para um povo mas, foi para toda humanidade!
Quando perdoamos, perdoamos com o amor de Jesus porque quando somos perdoados, somos perdoados com o amor de Jesus.     



Mas apesar de tudo saiba que Perdoar é uma decisão. Ora veja!




Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas, até setenta vezes sete. Há pessoas que dizem que é difícil perdoar. No entanto, creio que esta afirmação surge porque muita gente não sabe ao certo o que é perdoar.




Neste ensinamento de Jesus aprendemos que devemos perdoar setenta vezes sete. Mas, então, o que é perdoar? Perdoar não é um sentimento. Perdoar não é esquecer tudo, ou melhor, não é ter uma amnésia!



Perdoar é uma decisão. O que sente não interessa, porque a decisão de perdoar está no seu coração e você está livre. Você pode perdoar e continuar a sentir-se incomodado, aborrecido com a pessoa, mas pela Palavra de Deus, podemos ver que perdoar é fácil: não é um sentimento, é uma decisão.



Há pessoas que se recusaram a perdoar a outros e acabaram doentes ou paralisadas, sem que nada funcionasse na sua vida. Você sabia que a falta do perdão pode causar doenças terríveis em nós? Muitas doenças estão relacionadas com a falta de perdão. Você tem que perdoar a esposa, ao marido, ao seu vizinho, ao colega, ao patrão, seja a quem for. Senão é você que vai ficar mal na vida, pois se não perdoarmos os nossos pecados uns dos outros, também Deus não nos perdoará os nossos.



Em Mateus 18:33-35, Jesus disse que se nós não perdoarmos do coração, cada um ao seu irmão, as suas ofensas, Deus também não nos perdoaria as nossas ofensas e até nos deixaria nas mãos dos atormentadores que são demônios. Deus perdoou-nos as nossas maiores ofensas e nos deu salvação. Nós não temos o direito de não perdoar aos outros.



Veja este exemplo: Você também pode ter que acordar cedo para ir trabalhar e não lhe apetecer, mas você sabe que tem que ir, por isso, levanta-se não porque lhe apeteça, mas porque é uma obrigação. Quando tiver que perdoar alguém faça-o quer sinta ou não. Diga a Deus: Oh Deus, eu perdoo aquela pessoa que me magoou e partir de agora não guardo nada no meu coração contra ela. Mesmo que no dia seguinte você se sinta ainda magoado, o que interessa é a sua decisão feita na véspera e a pessoa está perdoada e o seu coração está limpo. Se a outra pessoa não quiser perdoar o problema é dela, já não é seu.



Ouvimos a pouco que certo homem devia muito dinheiro ao rei, e quando foram fazer contas, o rei teve misericórdia, e perdoou-lhe toda a dívida. Quando este homem saiu da presença do rei foi ter com aqueles que lhe deviam pequenas quantias, e como não lhe podiam pagar, lançou-os na prisão. Quando o rei soube disto entregou este homem aos carrascos, confiscou todos os seus bens, e toda a sua família foi vendida como escravos, até que pagasse toda a dívida.



E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um, a seu irmão, as ofensas.



Algumas pessoas dizem: Eu perdoo, mas não posso esquecer. Mas, quando Deus lhe perdoa alguma falta, você fica como se nunca tivesse pecado. Ele não se lembra mais disso. Nós também temos que fazer o mesmo, i.é., perdoar e esquecer o mal que nos fizeram; é apagar de coração as ofensas cometidas contra si.



A razão de algumas pessoas sofrerem de artrite, úlceras no estômago e até esgotamentos cerebrais, noites sem dormir, etc., é porque elas se recusam a perdoar. E porque não perdoam Deus também não lhes pode perdoar; por conseguinte, sofrem as maldições que o diabo lhes quiser pôr.



Se alguém o ofender perdoe-lhe nesse mesmo instante, não deixe passar um dia sem perdoar. Por quê? Porque está a dar lugar ao diabo, que virá a si com pensamentos errados acerca dessa pessoa. E à medida que o tempo passa, rancor começa brotar do seu coração e a sua comunhão com Deus fica cortada.



Quando Jesus ensinou que nos devemos perdoar 70 vezes sete, estava a dizer que, se for necessário devemos perdoar 490 vezes por dia, isto é perdoar sempre sem esmorecer, porque é assim que Deus faz também. Portanto, trata-se de tomar uma decisão. Perdoar é uma decisão hoje aqui e agora! Decida-se!



E para terminar, Jesus conta a parábola do rei justo e do servo cruel.

Mat18, 13-35

“Por isso, o Reino dos céus pode comparar-se com um rei que quis fazer contas com os seus servos; e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos.  E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher, e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.

Então, aquele servo, prostrando-se por terra suplicava-lhe: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Então, o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.

Saindo dali encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o e quase estrangulou, dizendo: Paga-me o que me deves!

Então, o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis; antes, foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.  Vendo, pois, os seus servos o que acontecia, contristaram-se muito e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.

Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo mau, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?  E, indignado, o seu senhor o entregou aos algozes, até que pagasse toda a dívida.

 Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.



Qual é a mensagem que Jesus nos ensina nesta parábola?


Esta parábola é uma das mais fortes e delicadas quanto a interpretação e aplicação de seus ensinos. Mateus usa como pano de fundo o Reino dos céus.

Ela se divide claramente em duas partes distintas: A primeira é inspiradora e maravilhosa. Ela aborda a atitude nobre e graciosa de um Rei que ao observar o desespero e a suplica de seu servo que lhe devia uma quantia impagável, perdoa-lhe completamente a dívida deixando-o livre para seguir em frente de cabeça erguida e sem temores. Entretanto, a segunda parte é vergonhosa e deprimente. Este mesmo servo alvo do perdão e da graça do Rei, encontra-se com um de seus companheiros que lhe devia uma quantia irrisória tendo o coração endurecido o maltrata, lançando-o na prisão sem misericórdia, mesmo diante do desespero e da súplica desse pobre homem.

Os servos do Rei observam a cena triste e a comunicam ao Rei que chama este homem perverso, lembra-lhe da grandeza do perdão e da misericórdia as quais lhe foram dadas. Irado o lança na prisão para ser atormentado até que pague a dívida. No final, Jesus ainda comenta e ratifica que da mesma forma o Pai celestial agirá se de todo o coração não perdoarmos.

Antes de adentrarmos, como de costume, nas lições práticas da parábola preciso elucidar uma questão:

1-Embora a parábola pareça sugerir que o “perdão de Deus esteja associado ao perdão ao próximo” tal conceito precisa ser analisado com cuidado à luz do restante das Escrituras.

 É espantoso alguém aceitar esta interpretação sem perceber o que ela traz em seu bojo. Há pelo menos duas razões pelas quais não compartilho esta interpretação: 

1.  Se esse fosse o critério, quem seria perdoado? Quem alcançaria misericórdia? O perdão de Deus seria impossível para nós.

2.  Sabemos que nossa salvação é dada por Jesus mediante a graça alcançada pela Fé e pelo uso das boas obras (Ef 2:8-9); O perdão dos pecados e a justificação se dão pelo sangue de Cristo (Ef 1:13; Ef 5:1) mediante ao arrependimento e ao ato de crer (Atos 3:19;16:31). Crer não é só acreditar em Deus. Crer significa confiar e depender de Deus em tudo.    

Aceitar tal posição nos obrigaria a descartar a mais central e essencial das doutrinas: A doutrina da graça!

Assim, entendo que não se trata de um ensino sobre a revogação do perdão justificador e salvador de Jesus, imputando sobre nós novamente a dívida que outrora tínhamos com Deus por causa de nossos pecados.

Mas uma exaltação da graça de Deus a nosso favor e um alerta bastante incisivo sobre as consequências da falta de perdão daquele que já foi por Ele perdoado. Baseio-me também no fato de que no tempo de Jesus o Rei não voltava atrás na sua palavra. Uma vez concedido o perdão este não poderia ser de forma alguma revogado. Sendo assim, a primeira dívida não poderia ser cobrada uma segunda vez. Em termos espirituais entendo que se aplica de modo ainda mais severo. Se concebermos a ideia de que Deus pode revogar o perdão a nós concedido teremos que admitir que tal atitude invalidaria a perfeição de Deus em seus atributos e tornaria o seu perdão condicionado a atitudes humanas, o que não se sustenta pelas Escrituras. A dívida aqui cobrada agora era outra: o fruto da ingratidão e do comportamento inadequado deste servo.



Abaixo listo algumas lições que podemos aprender acerca desta parábola:



1-O reino de Deus deve ser compreendido sob o enfoque bidimensional:  Vertical (Deus-Homem) e horizontal (Homem-homem). Estas duas dimensões estão intimamente ligadas. Não há como dissociar o relacionamento com Deus e o relacionamento com o outro (1 João 1:9-11). A falta de perdão ao próximo interferirá certamente na sua relação com Deus. A dívida, as atitudes que se temos com o próximo são levadas em conta diante de Deus (Mt 6:14-15).

2 – No Reino de Deus o perdão não é opcional – Quando adentramos no Reino de Deus por meio da graça e do amor incondicional de Jesus se torna nosso dever perdoar. E isto fica evidente por algumas razões:

2.1) Porque o perdão ao próximo sempre estará ao nosso alcance – Não importa o tamanho da dívida que o outro tem para conosco, ela nunca se comparará com a dívida que tínhamos para com Deus da qual fomos perdoados; Se estamos imersos no oceano da graça, do amor e do perdão de Deus o perdão ao próximo sempre será possível e estará ao nosso alcance. Enxergamos o próximo sob a ótica cristã.

2.2) Porque perdão ao próximo é incondicional: Ele não depende do outro, não depende de sentimentos, não depende de fé extraordinária, mas de uma decisão sensata de quem já foi alvo do perdão de Deus;

2.3) Porque o perdão ao próximo é uma atitude natural de um coração cheio de gratidão e da graça de Deus – Uma vez convertido você tem o Espírito de Deus e todos os recursos para ser capaz de perdoar alguém. A falta de perdão pode ser um indicio bastante significativo que você ainda não entendeu e nem recebeu o perdão de Deus. Seu coração ainda está endurecido e por natureza incapaz de reproduzir o perdão de Deus ao próximo.

3 – No Reino de Deus a falta de perdão gera terríveis consequências:

3.1 – O aprisionamento da vida e das Emoções - A falta de perdão nos torna reféns de sentimentos altamente destrutivos como: mágoa, ressentimento, ira, vingança, além de nos fazer carregar o ofensor o tempo todo. Não fomos projetados por Deus para abrigar tais sentimentos e é por isso que são tão nocivos a nossa saúde. Como se não bastasse, os malefícios se estendem por todos os lados e em todas as dimensões (família, amigos etc).

3.2-A retenção das bênçãos e do favor de Deus sobre minha vida – Enquanto não libero perdão o meu relacionamento com Deus fica estagnado. O meu culto não é recebido. Minha oferta não é aceita. Além disso, as bênçãos do fluir de Deus e de seu Espírito em minha vida ficam retidas. É uma atitude de disciplina de Deus sobre os que não exercitam a graça e a misericórdia que receberam.

O perdão é um dos temas principais do Reino de Deus. Por meio do perdão de Deus somos ingressados nele e somente quando mantemos a mesma atitude e o mesmo coração perdoador é que usufruímos integralmente de seus benefícios. Por isto, não caia na armadilha de satanás, não se prive da graça de Deus, não permita a retenção das bênçãos dele sobre sua vida. Permita que suas atitudes sejam coerentes com o coração transformado e cheio da graça e do amor de Jesus que você recebeu.   

                           

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário, em breve será respondido.

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

VATICANO APROVA RITO PAGÃO MAIA PARA IGREJA DO MÉXICO - Incensárias mulheres e liderança leiga em partes da missa

A Diocese de San Cristóbal - uma das mais antigas do país - liderou os pedidos ao Vaticano para reconhecer oficialmente a liturgia nas língu...