domingo, 16 de setembro de 2018

A IGREJA E A PALAVRA DE DEUS - Setembro o mês da Bíblia





Estamos em Setembro. Mês dedicado à Palavra de Deus escrita, isto é, à Bíblia Sagrada. 
Ela é o livro de fé e conduta de todos os cristãos pois, ela é o livro que traz para nós a Palavra de Deus no Antigo Testamento e no Novo Testamento; a Lei, os Profetas, os Salmos, os Evangelhos e as Cartas Apostólicas, que são os ensinamentos de Jesus e dos Apóstolos; escritos segundo a Tradição pelos Apóstolos e os evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João. 

Ela traz para nós os ensinamentos dos Apóstolos através das Cartas Apostólicas de Pedro, Paulo, Tiago, João, Judas, os Atos dos Apóstolos escrito por Lucas e o Apocalipse de São João. Portanto ela está dividida em duas partes: a primeira é o Antigo Testamento, (AT) (ou Antiga Aliança) e a segunda é o Novo Testamento (NT) (ou Nova Aliança). 
A palavra testamento significa legado, aliança ou tratado. Ela é a Aliança que Deus fez com seu povo através dos tempos desde Abraão até Jesus Cristo.
Não se pode entender o Novo Testamento sem antes conhecer o Antigo, pois, o Novo Testamento se completa no Antigo Testamento e os dois se  complementam.
A Sagrada Escritura como assim é chamada, é uma carta de amor de um Pai para os seus filhos. Ela aconselha e repreende. 

Em 2Tim3, 16 assim está escrito:

➤"Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar a verdade, para repreender, para corrigir, para formar a justiça. Por ela o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda obra". (B. Ave Maria pág. 1523)


O ANTIGO TESTAMENTO

“Quanto ao Antigo Testamento, temos três idiomas originais. A maior parte foi escrita e chegou até nós em língua hebraica. Alguns capítulos dos livros de Esdras e Daniel, e um versículo de Jeremias estão em aramaico, que foi o idioma falado na Palestina depois do exílio babilônico (séc. VI a.C.). Dois livros, o segundo dos Macabeus e a Sabedoria, foram escritos originalmente em grego. Dos livros de Judite, Tobias, Baruc e Eclesiástico, e parte também de Daniel e Ester, perdeu-se como no caso do Evangelho de Mateus, o texto original hebraico ou aramaico, sendo substituído pela versão grega. Essas diferenças linguísticas não deixavam de exercer a sua influência sobre a extensão do cânon dos livros sagrados. Enquanto os Judeus disseminados no mundo greco-romano não tinham dificuldade em introduzir os livros redigidos em grego, os judeus da palestina não queriam conformar-se com isso” (Bíblia Sagrada, São Paulo, 1982, pág. 8).

O Antigo Testamento nos foi legado pelos Hebreus. Tínhamos, no início do Cristianismo, duas versões, uma Palestina (Cânon restrito), composta por 39 livros que foram escritos na Terra Santa, em hebraico, divididos em: a Lei (Torá), os Profetas e os Escritos (Hagiógrafa); e uma Alexandrina (Cânon completo), composta de 46 livros, que é uma tradução grega, da versão Palestina, feita na cidade de Alexandria entre 250 a.C e 100 a.C, através de setenta sábios judeus (ou setenta e dois, segundo outras tradições), fato este que originou o termo “Versão dos Setenta” (LXX) ou “Alexandrina”. Os sete livros que só figuram na versão dos Setenta ou Alexandrina são: Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2Macabeus, além dos fragmentos de Ester (10,4 a 16), Daniel (3,24-20; 13; 14).

No ano 100 d.C. (séc. I d.C.), época em que se difundia o Novo Testamento com os Evangelhos e as cartas dos Apóstolos que surgiam (e que os judeus não acreditavam nem aceitavam), os Doutores da Sinagoga (rabinos judeus) realizaram um Sínodo na cidade de Jâmnia (ou Jabnes), perto de Jafa, na Palestina, para definir quais seriam os livros da sua Bíblia (somente o Antigo Testamento em que eles acreditavam) e definiram como critério para isso os seguintes itens, como assevera o teólogo Felipe Aquino:

1. Deveria ter sido escrito na Terra Santa;

2. Escrito somente em hebraico (não aramaico nem grego);
3. Escrito antes de Esdras (455-428 a.C.);
4. Sem contradições com a Torah ou Lei de Moisés.

Esses critérios eram racionalistas mais do que religiosos, fruto do retorno do exílio da Babilônia. Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia Judaica da Palestina os livros que posteriormente também deixaram de constar no Antigo Testamento da Bíblia protestante (cf. “Escola da Fé II – A Sagrada Escritura”, Lorena-SP, 2000, pág. 32).
– “Foi-se formando (…) a opinião de que, depois de Esdras (séc. IV a.C.), faltando ou sendo incerto o dom profético (cf. 1Mac 4,46;14,41), nem sequer admitiam pudessem ser escritos livros inspirados por Deus. Por isso, quando nos fins do séc. I d.C. os Doutores da Sinagoga fixaram o cânon das Sagradas Escrituras, foram excluídos até os livros escritos em hebraico depois daquela época, como o Eclesiástico. Daí resultou o cânon hebraico em que faltam sete livros” (Bíblia Sagrada, São Paulo, 1982, pág. 8).
A definição do Cânon Bíblico para os cristãos partiu da autoridade apostólica da Igreja Católica, tanto para os livros do Velho Testamento, quanto para os livros do Novo Testamento, como pode ser evidenciado histórica e teologicamente. No que diz respeito ao Antigo Testamento, os judeus nos legaram as duas versões acima descritas (Palestina e Alexandrina ou dos LXX), e a Igreja, após dirimir suas dúvidas através da análise teológica dos livros, juntamente com o discernimento do Espírito Santo, optou pelo Cânon completo da versão dos LXX (Alexandrina).
– “A palavra cânon é grega e significa literalmente uma regra ou medida, ou varinha direita. No seu principal sentido metafórico de ‘regra de fé’ aparece a palavra cânon no Novo Testamento: ‘a todos quanto andarem nesta regra, paz e misericórdia sobre eles’ (cf. Gál 6,16). Parece ter sido neste sentido, na verdade muito apropriado, que no século IV a palavra cânon começou a ser aplicada às Escrituras, que continham a regra autorizada pela qual deve ser moldada a vida do homem. Mas foi a Igreja que, guiada por Deus, formou o Cânon, determinando depois de largos debates, quais livros deveriam ser recebidos como sagrados e quais deveriam ser rejeitados. A Igreja, pois é que primeiramente canonizou os livros santos, que ficaram sendo canônicos, isto é, conforme o cânon à regra” (“História, Doutrina e Interpretação da Bíblia”, São Paulo, 1951, pág. 6).
Após a “reforma luterana”, os protestantes começaram a rejeitar os sete livros acima citados, da versão dos LXX, e em meados dos séculos XIX os retiraram de suas Bíblias, como afirma o teólogo Felipe Aquino:
– “Lutero, ao traduzir a Bíblia para o alemão, traduziu também os sete livros (deuterocanônicos) na sua edição de 1534; e as Sociedades Bíblicas protestantes, até o século XIX, incluíam os sete livros nas suas edições da Bíblia”. Depois do 
 


Ou seja, a Palavra de Deus, que foi semeada, plantada no meio do povo de Deus, para ser nosso livro de regra e conduta e, quando falhamos ela também nos repreende com amor e nos põe de volta no caminho da salvação.
Ela não é um livro para discussões, mas é um livro de diálogo. Quem usar a Palavra de Deus para discussão possui espírito enganador. Ela não é de particular interpretação como ensina os protestantes.

 Quando Lutero se separou da Igreja Católica estabeleceu a "Sola Scriptura" ou "Somente as Escrituras" que segundo ele, a) Qualquer pessoa poderia interpretar a Sagrada Escritura, b) e que só ela era Palavra de Deus e portanto a Tradição Oral e a doutrina da Igreja ficava fora deste contexto. Para romper com a Tradição Apostólica adotaram a Bíblia judaica que continha 7 livros a menos que são: Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico ou Sirádice e Baruc. 

Porque segundo ele tais livros não eram usados pelos judeus, e eram considerados apócrifos. Lutero ainda queria retirar os escritos: a Carta de Tiago (que ele chamava de "carta de palha" e o Apocalipse que ele considerava nem ser evangelho nem profético.
Martinho Lutero preferiu adotar o Antigo Testamento Hebraico (a Bíblia hebraica) que não usava esses 07 livros.   
No século III a.C o Rei Ptolomeu II do Egito convocou 76 rabinos sábios dos mais renomados para reescrever aqueles livros que julgava-se necessários a Fé judaica. Foi daí que surgiu a Septuaginta ou a tradução dos 70. Provavelmente  essa foi a Bíblia que Jesus teve contato e a usou quando viveu aqui na terra. Talvez seja essa a razão pela qual os Apóstolos conservaram a tradução dos 70 que o Concílio de Trento no séc. XVI admitiu como sendo ela o Cânone do Antigo Testamento.

Ou seja, Apóstolos ao traduzirem a Bíblia para o Grego ( a língua mais falada antigamente fora o Hebraico),  utilizaram a Versão dos  Setenta (LXX). A Bíblia de Alexandria que continha todos os 07 livros que Lutero retirou.
Esse primeiro Cânon era chamado de Septuaginta.  
Quanto a interpretação particular da Sagrada Escritura Martinho Lutero desobedeceu a própria autoridade de São Pedro que assim escreveu:

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.
Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo"
. (2Pd1, 20-21)




Ou seja, à ninguém é dado o direito de livre interpretação da Sagrada Escritura. 
Somente o Magistério Igreja Católica, ou seja, aos Bispos cabe a interpretação da Sagrada Escritura e a ninguém mais.

Para os Apóstolos os 07 livros que Lutero não adotou no AT eram considerados inspirados  pois, se não fossem eles não os usariam.
Muito antes no século IV, (325), durante o Concílio de Nicéia a Igreja definiu que os Evangelhos inspirados seriam apenas quatro: Mateus, Marcos, Lucas e João. 
Para não gerar mais confusão a Igreja Católica no século XVI, durante o Concílio de Trento definiu manter os 73 livros da Bíblia. 

Fonte: Veritatis Splendor: https://www.veritatis.com.br/como-e-quem-definiu-quais-seriam-os-livros-da-biblia/

Os Critérios de Definição do Cânon 



“A palavra cânon é grega e significa literalmente uma regra ou medida, ou varinha direita. No seu principal sentido metafórico de ‘regra de fé’ aparece a palavra cânon no Novo Testamento: ‘a todos quanto andarem nesta regra, paz e misericórdia sobre eles’ (cf. Gál 6,16). Parece ter sido neste sentido, na verdade muito apropriado, que no século IV a palavra cânon começou a ser aplicada às Escrituras, que continham a regra autorizada pela qual deve ser moldada a vida do homem. Mas foi a Igreja que, guiada por Deus, formou o Cânon, determinando depois de largos debates, quais livros deveriam ser recebidos como sagrados e quais deveriam ser rejeitados. A Igreja, pois é que primeiramente canonizou os livros santos, que ficaram sendo canônicos, isto é, conforme o cânon à regra”


Em que a Igreja se apoia para definir o cânon dos livros sagrados?

Uma primeira resposta, do ponto de vista católica, que precisa de uma reflexão, nos é dada pelo último Concílio Vaticano II, segundo o qual é “a mesma tradição que faz a Igreja conhecer o cânon dos livros sagrados” (DV 8). Porém a tradição precisa, por sua vez, de critérios para ter certeza de qual tradição se trate: por exemplo, se esteja em jogo a tradição apostólica, ou simplesmente uma tradição eclesiástica. Esta é a questão dos critérios de canonicidade que foi objeto de disputas sobretudo a partir do século XVI com Erasmo e com os protestantes. Erasmo espalhou as dúvidas dos primeiros séculos sobre a origem apostólica de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, e de algumas perícopes evangélicas, tais como Mc 16,9-20; Lc 22,43s; Jo 7,57-8,11.

Estas seções foram submetidas ao juízo do Concílio de Trento que, depois de ter exibido o elenco definitivo da Bíblia, declarou: “Se alguém não aceitar como livros sagrados e canônicos estes livros, inteiros com todas as suas partes, assim como se é costume lê-los na Igreja católica e se encontrem na edição antiga da Vulgata latina, e desprezará as preditas tradições, seja anátema” (DS, 1501). Lutero considerava secundários, em relação ao testemunho dado a Cristo, os mesmos escritos rejeitados por Erasmo e os colocava no fim de sua tradução em alemão da Bíblia.

Movido por um evangelismo radical, Lutero considerava que o critério determinante para reconhecer um escrito canônico fosse o seu urgere Christum (propor energicamente, fazer valer Cristo), o seu levar e comunicar Cristo (was Christum treibt). Escrevia Lutero: “Isso que não ensina Cristo, não é apostólico, mesmo se o ensinassem Pedro ou Paulo. Vice-versa, isto que anuncia Cristo é apostólico, mesmo se o fazem Judas, Ana, Pilatos ou Herodes”. Em resumo, para Lutero era determinante o critério cristológico que lhe fazia dizer: “Enquanto os adversários fazem valer a Escritura contra Cristo, nós fazemos valer Cristo (urgemus Christum) contra a Escritura”.

Não podemos negar que a fixação do cânon é um ato da Igreja, ou da Tradição, que opera na Igreja. O concílio de Trento acrescenta para a definição do cânon dois argumentos: o uso de ler determinados livros na Igreja e a sua presença na Vulgata latina. Na verdade esses dois argumentos servem para dizer que se reconhecem como canônicos aqueles livros que a tradição da igreja lê. A tradição dos primeiros séculos deveu articular os próprios critérios de canonicidade. Eles são três: a autoridade apostólica, enquanto livros escritos pelos apóstolos ou por seus colaboradores diretos; A ortodoxia dos escritos, enquanto conformes à regra de fé, ou seja, à fé transmitida pelos apóstolos e professada na Igreja apostólica; a catolicidade dos escritos, enquanto reconhecidos por todas ou maior parte das igrejas.
Repetimos de novo a pergunta: de onde vem a certeza para a Igreja sobre os livros canônicos? É claro que à Igreja não foi dada uma revelação especial sobre isso. Assim a resposta é: a Igreja, querendo exprimir fielmente a mensagem de Cristo, reconheceu sempre mais claramente a insuperável importância daqueles 27 escritos que lhe eram transmitidos desde a idade apostólica.   


A Bíblia Católica, também chamada de Vulgata foi traduzida por São Jerônimo, do hebraico e do grego para o Latim conservando a tradição Apostólica da primeira tradução dos 70. 
Apenas o Novo Testamento, já muito antes da tradução de São Jerônimo teve muitos livros retirados, os Apócrifos.
Os Apócrifos saíram do Cânon bíblico por dois motivos: 1) porque não eram considerados inspirados devido ao tempo tardio em que foi escrito, muitos deles posteriores a era apostólica, depois do século III. 2) Porque continham muitas heresias escritas pelos *gnósticos* e histórias discrepantes, muito fantasiosas que não condiziam com a realidade.
**O termo “gnóstico” foi aplicado pelos Padres da Igreja a certos hereges que tiveram notável relevo entre os séculos II e IV. O nome de “gnóstico” vem da palavra grega “gnosis” que significa conhecimento; gnóstico é, portanto, quem adquire um especial conhecimento e vive segundo esse conhecimento. O termo “gnose” não tem, portanto, um sentido pejorativo. Alguns Santos Padres como Clemente de Alexandria e São Irineu falam da “gnose” no sentido do conhecimento de Jesus Cristo obtido pela fé: “a verdadeira gnose – escreve Santo Irineu – é a doutrina dos Apóstolos” (Adversus Haereses,IV, 33).


Apócrifos referentes ao Novo Testamento rejeitados pela Igreja Católica:
Apócrifo significa: à parte ou separado.

A palavra apócrifo quer dizer aculto.

Nem todos escritos apócrifos são desconsiderados pela Igreja Católica; como por exemplo, o proto-evangelho de Tiago. Alguns deles são usados pela Igreja como históricos, mas, não considerados como palavra de Deus.

É dos Apócrifos que temos como exemplo, os nomes dos avós de Jesus: Joaquim e Ana. Os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João não mencionam estes dados. 
Também é do apócrifo que que se tem a primeira referência sobre a morte ou dormicio ou dormição de Nossa Senhora e e sua Assunção. Que mais trade veio se tornar um dogma de Fé.
Os apócrifos são divididos em 2 categorias:

1) Os pseudo epigráficos - são aqueles livros que foram escritos a um personagem, mas, que na verdade seu personagem não tem relação direta com os escritos. Por exemplo, o livro de Enoque é um pseudo apócrifo porque esse livro não foi escrito por Enoque. Na verdade foi escrito muito tempo depois por outra pessoa, um escriba judeu, cujo conhecia a história de Enoque e atribuiu o nome de sua obra a ele.
2) Os apócrifos - que são aqueles de natureza oculta que de alguma forma foram retirados do Cânon bíblico pela Igreja. 

Os apócrifos não são livros malditos, foram retirados da Bíblia por conterem certas discrepâncias com os outros livros considerados inspirados. Em sua grande maioria foram escritos muito tempo depois da era apostólica.
 
A questão do descrédito e desuso dos evangelhos apócrifos acontece porque não há referência da verdadeira autoria de seus escritos ou porque não continham elementos suficientes que os julgassem inspirados.
Mas, eles contém elementos históricos importantes e foram colocados à parte e não desprezados. Fato é que a Igreja os utiliza até hoje quando precisa levando em consideração as verdades que neles contém, até porque alguns deles são citados pelos livros canônicos do AT e até pelos Apóstolos.  Portanto, é possível aproveitar os apócrifos para estudo. Hoje já existem vários livros dos apócrifos para baixar em PDF e para compra nas diversas livrarias católicas e evangélicas.

Existem pseudo epigráficos  do Antigo e Novo Testamento  e apócrifos do Antigo e Novo Testamento.

 Assim, os apócrifos não dá para definir uma autoria própria. Por exemplo: O Evangelho de Judas, Tomé e Maria Madalena, etc. Não dá para acreditar que foram eles os verdadeiros autores destes livros. Mesmo porque foram escritos tardios demais e as pessoas, cujas  se referem serem os a obra já tinham morrido.       

1. Evangelho segundo os Hebreus (gnóstico) – Fim do Séc I d.C.
2. Proto-Evangelho de Tiago.
3. Evangelho do Pseudo Tomé.
4. O Evangelho de Pedro – Meados do Séc II d.C.
5. O Evangelho de Nicodemos.
6. O Evangelho dos Ebionitas ou dos Doze Apóstolos – Meados do Séc II d.C.
7. Evangelho segundo os Egípcios – Meados do Séc II d.C.
8. Evangelho de André – Séc II/III d.C.
9. Evangelho de Felipe – Séc II/III d.C.
10. Evangelho de Bartolomeu – Séc II/III d.C.
11. Evangelho de Barnabé – Séc II/III d.C.
12. O drama de Pilatos.
13. A morte e assunção de Maria.
14. A Paixão de Jesus.
15. Descida de Jesus aos Infernos.
16. Declaração de José de Arimatéia.
17. História de José o garimpeiro.
18. Atos de Pedro.
19. Atos de Paulo.
20. Atos de André.
21. Atos de João.
22. Atos de Tomé.
23. Atos de Felipe.
24. Atos de Tadeu.
25. Epístola de Barnabé.
26. III Epístola aos Coríntios – Séc. II d.C.
27. Epistola aos Loadicenses – Fim do Séc. II d.C.
28. Carta dos Apóstolos – 180 d.C.
29. Correspondência entre Sêneca e São Paulo – Séc. IV d.C.
30. Apocalipse de Pedro – Meados do Séc. II d.C.
31. Apocalipse de Paulo – 380 d.C.
32. Sibila Cristã – Séc. III d.C.

Também em relação ao Antigo Testamento a Igreja Católica, rejeitou diversos livros como apócrifos, utilizando-se mais uma vez da sua autoridade para a delimitação do Cânon Bíblico.

Apócrifos referentes ao Antigo Testamento rejeitados pela Igreja Católica:
1. A vida de Adão e Eva.
2. 1Henoque.
3. 2Henoque.
4. Apocalipse de Abraão.
5. Testamento de Abraão.
6. Testamento de Isaac.
7. Testamento de Jacó.
8. Escada de Jacó.
9. José e Asenet.
10. Testamento dos Doze Patriarcas.
11. Assunção de Moisés.

12. Testamento de Jô.
13. Salmos de Salomão.
14. Odes de Salomão.
15. Testamento de Salomão.
16. Apocalipse de Elias.
17. Ascensão de Isaías.
18. Paralipômenos de Jeremias.
19. Apocalipse Siríaco de Baruc.
20. Apocalipse de Sofonias.
21. Apocalipse de Esdras.
22. Apocalipse de Sedrac.
23. 3Esdras.
24. 4Esdras.
25. Sibilinos.
26. Pseudo-Filemon.
27. 3Macabeus.
28. 4Macabeus.
29. Salmos 151-155.
30. Oração de Manassés.
31. Carta de Aristeu.
32. As Dezoito Bênçãos.
33. Ahigar.
34. Vida dos Profetas.
35. Recabitas.

Pequena relação de citações implícitas dos livros deuterocanônicos do Antigo Testamento nos escritos do Novo Testamento:
Sabedoria 13,1-9 > Romanos 1,19-32; Sabedoria 6,1-4 > Romanos 13,1; Sabedoria 2,13.18 > Mateus 27,43; Eclesiástico 4,34 > Tiago 1,19; Eclesiástico 27,30-28,1-7 > Lucas 11,4; Mateus 6,15; Eclesiástico 31,1–11 > Lucas 18,24-25; Eclesiástico 35,11–24 > Lucas 18,1-8; 1Macabeus 2,29-48 > Marcos 2,27; 2Macabeus 6,18-7,42 > Hebreus 11,34-40; Tobias 12,15 > Apocalipse 8,2; Tobias 12,1-22 > Mateus 6,1-18; Tobias 13,11-18 > Apocalipse 21,1-22,1-5


Concílio Ecumênico de Trento – Sessão XXV- Celebrada pelo Sumo Pontífice o Papa Paulo III – em 08/04/1546 

AS SAGRADAS ESCRITURAS - CONSTITUIÇÃO DA BÍBLIA CATÓLICA

Decreto sobre as Escrituras Canônicas

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, congregado legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos três legados da Sé Apostólica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas próprias palavras, Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apóstolos a pregassem a toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz à nossa salvação, e também é uma regra de costumes, considerando que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros escritos e nas traduções não escritas, que recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apóstolos ou ainda ensinadas pelos apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, chegaram de mão em mão até nós.
Seguindo o exemplo dos Padres católicos, recebe e venera com igual afeto de piedade e reverência, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois Deus é o único autor de ambos assim como as mencionadas traduções pertencentes à fé e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou pelo Espírito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupção pela Igreja Católica.
Resolveu também unir a este decreto o índice dos Livros Canônicos, para que ninguém possa duvidar quais são aqueles que são reconhecidos por este Sagrado Concílio. São então os seguintes:
Do antigo testamento: cinco de Moisés a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Ainda: Josué, Juízes, Rute, os quatro dos Reis, dois do Paralipômenos, o primeiro de Esdras, e o segundo que chamam de Neemias, o de Tobias, Judite, Ester, Jó, Salmos de Davi com 150 salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias com Baruc, Ezequiel, Daniel, o dos Doze Profetas menores que são: Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, e os dois dos Macabeus, que são o primeiro e o segundo.
Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos escritos por São Lucas Evangelista, catorze epístolas escritas por São Paulo Apóstolo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito, a Filemon, aos Hebreus. Duas de São Pedro Apóstolo, três de São João Apóstolo, uma de São Tiago Apóstolo, uma de São Judas Apóstolo, e o Apocalipse do Apóstolo São João.
Se alguém então não reconhecer como sagrados e canônicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, como é de costume desde antigamente na Igreja católica, e se acham na antiga versão latina chamada Vulgata, e os depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas traduções, seja excomungado.
Fiquem então todos conhecedores da ordem e método com o qual, depois de haver estabelecido a confissão de fé, há de proceder o Sagrado concílio e de que testemunhos e auxílios servirão principalmente para comprovar os dogmas e restabelecer os costumes da Igreja.
Decreto sobre a Edição e Uso da Sagrada Escritura
Considerando também que deste mesmo Sacrossanto Concílio, do qual se poderá tirar muita utilidade à Igreja de Deus, se declara que a edição da Sagrada Escritura deverá ser autêntica entre todas as edições latinas existentes, estabelece e declara que se tenha como tal, as exposições públicas, debates, sermões e declarações, esta mesma antiga edição da Vulgata, aprovada na Igreja pelo grande uso de tantos séculos, e que ninguém, por nenhum pretexto se atreva ou presuma desprezá-la.
Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da doutrina Cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações.
Aos medíocres, sejam declarados contraventores e castigados com as penas estabelecidas por direito. E querendo também, como é justo, colocar um freio nesta parte aos impressores que sem moderação alguma, e persuadidos de que lhes é permitido a quanto se lhes queira, imprimirem sem licença dos superiores eclesiásticos, a Sagrada Escritura, notas sobre ela, e exposições indiferentemente de qualquer autor, omitindo muitas vezes o lugar da impressão, ou muitas vezes falsificando, e o que é de maior consequência, sem nome de autor, e além disso tais livros impressos alhures, são vendidos sem discernimento e temerariamente, este Concílio decreta e estabelece que de ora em diante seja impressa, com a maior compreensão possível, a Sagrada Escritura principalmente a antiga edição da Vulgata, e que a ninguém seja lícito imprimir nem fazer com que seja impresso livro algum de coisas sagradas ou pertencentes à religião, sem o nome do autor da impressão, nem vende-los, nem ao menos tê-los em sua casa, sem que primeiro sejam examinados e aprovados pela Igreja, sob pena de excomunhão e de multa estabelecida no Canon do último Concílio de Latrão.
Se os autores forem [do clero] Regulares, deverão além do exame e aprovação mencionados, obter a licença de seus superiores, depois que estes tenham revisto seus livros segundo os estatutos prescritos em suas constituições. Aqueles que comunicam ou publicam manuscritos, sem que antes sejam examinados e aprovados, fiquem sujeitos às mesmas penas que os impressores. E os que os tiverem ou lerem, sejam tidos como autores, se não declararem quem o há sido. Seja dado também por escrito a aprovação desses livros, e que apareça essa autorização nas páginas iniciais, sejam manuscritos ou impressos, e tudo isto, a saber, o exame e a aprovação deverá ser feita gratuitamente, para que assim se aprove apenas o que seja digno de aprovação e se reprove o que não a mereça.
Além disso, querendo o Sagrado Concílio reprimir a temeridade com que se aplicam e distorcem qualquer assunto profano, as palavras e sentenças da Sagrada Escritura podem ser utilizadas para se escrever bobagens, fábulas, futilidades, adulações, murmúrios, superstições, ímpios e diabólicos encantos, adivinhações, sortes, libelos de infâmia, ordena e manda estripar esta irreverência e menosprezo, que ninguém daqui para frente se atreva a valer-se de modo algum de palavras da Sagrada Escritura para estes e nem outros semelhantes abusos que todas as pessoas que profanem e violem deste modo a Palavra Divina, sejam reprimidas pelos Bispos, com as penas de direito a sua atribuição.

O QUE O CONCÍLIO VATICANO II NOS ENSINA SOBRE A SAGRADA ESCRITURA?

Nada mais importante que estudar a própria Encíclica do Papa Paulo VI sobre a Constituição Dogmática que fala da Revelação Divina.  

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
DEI VERBUM
SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA

PROÊMIO

Intenção do Concílio
1. O sagrado Concilio, ouvindo religiosamente a Palavra de Deus proclamando-a com confiança, faz suas as palavras de S. João: «anunciamos-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu: anunciamos-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós vivais em comunhão conosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo. 1, 2-3). Por isso, segundo os Concílios Tridentino e Vaticano I, entende propor a genuína doutrina sobre a Revelação divina e a sua transmissão, para que o mundo inteiro, ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando espere, e esperando ame (1).
  
CAPÍTULO I
A REVELAÇÃO EM SI MESMA
Natureza e objeto da revelação
2. Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cfr. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cfr. Bar. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de acções e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (2).
Preparação da revelação evangélica
3. Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cfr. Jo. 1,3), oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação (cfr. Rom. 1, 1-20) e, além disso, decidindo abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da salvação (cfr. Gén. 3,15), e cuidou contìnuamente do género humano, para dar a vida eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação (cfr. Rom. 2, 6-7). No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo (cfr. Gén. 12,2), povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho.
Consumação e plenitude da revelação em Cristo
4. Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1, 1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1, 1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» (3), «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4). Por isso, Ele, vê-lo a Ele é ver o Pai (cfr. Jo. 14,9), com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está connosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna.
Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não se há-de esperar nenhuma outra revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo (cfr. 1 Tim. 6,14; Tit. 2,13).
Aceitação da revelação pela fé
5. A Deus que revela é devida a «obediência da fé» (Rom. 16,26; cfr. Rom. 1,5; 2 Cor. 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo «a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade» (4) e prestando voluntário assentimento à Sua revelação. Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá «a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade» (5). Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons.
Necessidade da revelação
6. Pela revelação divina quis Deus manifestar e comunicar-se a Si mesmo e os decretos eternos da Sua vontade a respeito da salvação dos homens, «para os fazer participar dos bens divinos, que superam absolutamente a capacidade da inteligência humana»(6).
O sagrado Concílio professa que Deus, princípio e fim de todas as coisas, se pode conhecer com certeza pela luz natural da razão a partir das criaturas» (cfr. Rom. 1,20); mas ensina também que deve atribuir-se à Sua revelação «poderem todos os homens conhecer com facilidade, firme certeza e sem mistura de erro aquilo que nas coisas divinas não é inacessível à razão humana, mesmo na presente condição do gênero humano» (7).
 
CAPÍTULO II
A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA

Os apóstolos e seus sucessores, transmissores do Evangelho
7. Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma (cfr. 2 Cor. 1,20; 3,16-4,6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente (1), comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação (2).
Porém, para que o Evangelho fosse perenemente conservado integro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram os Bispos como seus sucessores, «entregando lhes o seu próprio ofício de magistério» (3). Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura dos dois Testamentos são como um espelho no qual a Igreja peregrina na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2).
A sagrada Tradição
8. E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé recebida dama vez para sempre (cfr. Jud. 3)(4). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos, abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita.
Esta tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo (5). Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (cfr. Lc. 2, 19. 51), quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus.
Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo - por quem ressoa a voz do Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo - introduz os crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cfr. Col. 3,16).
Relação entre a sagrada Tradição e a Sagrada Escritura
9. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência (6).
Relação de uma e outra com a Igreja e com o Magistério eclesiástico
10. A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a este, todo o Povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fração do pão e na oração (cfr. At. 2,42 gr.), de tal modo que, na conservação, atuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis (7).
Porém, o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição (8), foi confiado só ao magistério vivo da Igreja (9), cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo. Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, a ouve piamente, a guarda religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado.
É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.
 
CAPÍTULO III
A INSPIRAÇÃO DIVINA DA SAGRADA ESCRITURA
E A SUA INTERPRETAÇÃO

Natureza da inspiração e verdade da Sagrada Escritura
11. As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canónicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo. 20,31; 2 Tim. 3,16; 2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja (1). Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades (2), para que, agindo Ele neles e por eles (3), pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria (4).
E assim, como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras (5). Por isso, «toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em todas as obras boas» ( Tim. 3, 7-17 gr.).
A quem cabe  a interpretação da Sagrada Escritura?
12. Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana (6), o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras.
Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem ser tidos também em conta, entre outras coisas, os «géneros literários». Com efeito, a verdade é proposta e expressa de modos diversos, segundo se trata de géneros histéricos, proféticos, poéticos ou outros. Importa, além disso, que o intérprete busque o sentido que o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, pretendeu exprimir e de facto exprimiu servindo se os géneros literários então usados (7). Com efeito, para entender rectamente o que autor sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos modos nativos de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer àqueles que costumavam empregar-se frequentemente nas relações entre os homens de então (8).
Mas, como a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita (9), não menos atenção se deve dar, na investigação do recto sentido dos textos sagrados, ao contexto e à unidade de toda a Escritura, tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé. Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo de algum modo preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a palavra de Deus (10).
Condescendência de Deus
13. Portanto, na Sagrada Escritura, salvas sempre a verdade e a santidade de Deus, manifesta-se a admirável «condescendência» da eterna sabedoria, «para conhecermos a inefável benignidade de Deus e com quanta acomodação Ele falou, tomando providência e cuidado da nossa natureza» (11). As palavras de Deus com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se ìntimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens tomando a carne da fraqueza humana.  


CAPÍTULO IV
O ANTIGO TESTAMENTO
 
A história da salvação consignada nos livros do Antigo Testamento
14. Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o género humano, escolheu por especial providência um povo a quem confiar as suas promessas. Tendo estabelecido aliança com Abraão (cfr. Gén. 15,18), e com o povo de Israel por meio de Moisés (cfr. Ex. 24,8), revelou-se ao Povo escolhido como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, de tal modo que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, ouvindo o mesmo Deus falar por boca dos profetas, e os difundisse mais amplamente entre os homens (cfr. Salm. 21, 28-29; 95, 1-3; Is. 2, 1-4; Jer. 3,17). A «economia» da salvação de antemão anunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento como verdadeira palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam um valor perene: «Tudo quanto está escrito, para nossa instrução está escrito, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança» (Rom. 15,4).
Importância do Antigo Testamento para os cristãos
15. A «economia» do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar profèticamente (cfr. Lc. 24,44; Jo. 5,39; 1 Ped. 1,10) e a simbolizar com várias figuras (cfr. 1 Cor. 10,11) o advento de Cristo, redentor universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do género humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia divina (1). Por isso, os fieis devem receber com devoção estes livros que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação.
Unidade de ambos ao Testamentos
16. Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos, dispôs tão sàbiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo está patente no Novo (2). Pois, apesar de Cristo ter alicerçado à nova Aliança no seu sangue (cfr. Lc. 22,20; 1 Cor. 11,25), os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente assumidos na pregação evangélica (3) adquirem e manifestam a sua plena significação no Novo Testamento (cfr. Mt. 5,17; Lc. 24,27; Rom. 16, 25-26; 2 Cor. 3, 1416), que por sua vez iluminam e explicam.
 
CAPÍTULO V
O NOVO TESTAMENTO
 
Excelência do Novo Testamento
17. A palavra de Deus, que é virtude de Deus para a salvação de todos os crentes (cfr. Rom. 1,16), apresenta-se e manifesta o seu poder dum modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou a plenitude dos tempos (cfr. Gál. 4,4), o Verbo fez-se carne e habitou entre nós cheio de graça e verdade (cfr. Jo. 1,14). Cristo estabeleceu o reino de Deus na terra, manifestou com obras e palavras o Pai e a Si mesmo, e levou a cabo a Sua obra com a Sua morte, ressurreição, e gloriosa ascensão, e com o envio do Espírito Santo. Sendo levantado da terra, atrai todos a si (cfr. Jo. 12,32 gr.), Ele que é o único que tem palavras de vida eterna (cfr. Jo. 6,68). Este mistério, porém, não foi descoberto a outras gerações como foi agora revelado aos seus santos Apóstolos e aos profetas no Espírito Santo (cfr. Ef. 3, 46 gr.) para que pregassem o Evangelho, e despertassem a fé em Jesus Cristo e Senhor, e congregassem a Igreja. Os escritos do Novo Testamento são um testemunho perene e divino de todas estas coisas.
Origem apostólica dos Evangelhos
18. Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador.
A Igreja defendeu e defende sempre e em toda a parte a origem apostólica dos quatro Evangelhos. Com efeito, aquelas coisas que os Apóstolos, por ordem de Cristo, pregaram, foram depois, por inspiração do Espírito Santo, transmitidas por escrito por eles mesmos e por varões apostólicos como fundamento da fé, ou seja, o Evangelho quadriforme, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João (1).
Carácter histórico dos Evangelhos
19. A santa mãe Igreja defendeu e defende firme e constantemente que estes quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus. durante a sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu (cfr. Act. 1. 1-2). Na verdade, após a ascensão do Senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que eles, instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade (2) gozavam (3), as coisas que Ele tinha dito e feito. Os autores sagrados, porém, escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo algumas coisas entre as muitas transmitidas por palavra ou por escrito, sintetizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das igrejas, conservando, finalmente, o carácter de pregação, mas sempre de maneira a comunicar-nos coisas autênticas e verdadeiras acerca de Jesus (4). Com efeito, quer relatassem aquilo de que se lembravam e recordavam, quer se baseassem no testemunho daqueles «que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra», fizeram-no sempre com intenção de que conheçamos a «verdade» das coisas a respeito das quais fomos instruídos (cfr. Lc. 1, 2-4).
Os restantes escritos do Novo Testamento
20. O cânon do Novo Testamento contém igualmente além dos quatro Evangelhos, as Epístolas de S. Paulo e outros escritos apostólicos redigidos por inspiração do Espírito Santo, com os quais, segundo o plano da sabedoria divina, é confirmado o que diz respeito a Cristo Senhor, é explicada mais e mais a sua genuína doutrina, é pregada a virtude salvadora da obra divina de Cristo, são narrados os começos da Igreja e a sua admirável difusão, e é anunciada a sua consumação gloriosa.
Com efeito, o Senhor Jesus assistiu os seus Apóstolos como tinha prometido (cfr. Mt. 28,20) e enviou-lhes o Espírito consolador que os devia introduzir na plenitude da verdade (cfr. Jo. 16,13).
 
CAPÍTULO VI
A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA
A Igreja venera as Sagradas Escrituras

21. A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas, com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez para sempre, continuam a dar-nos imutàvelmente a palavra do próprio Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os santificados», (Act. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13).
Traduções da Sagrada Escritura
22. É preciso que os fiéis tenham acesso patente à Sagrada Escritura. Por esta razão, a Igreja logo desde os seus começos fez sua aquela tradução grega antiquíssima do Antigo Testamento chamada dos Setenta; e sempre tem em grande apreço as outras traduções, quer orientais quer latinas, sobretudo a chamada Vulgata. Mas, visto que a palavra de Deus deve estar sempre acessível a todos, a Igreja procura com solicitude maternal que se façam traduções aptas e fiéis nas várias línguas, sobretudo a partir dos textos originais dos livros sagrados. Se porém, segundo a oportunidade e com a aprovação da autoridade da Igreja, essas traduções se fizerem em colaboração com os irmãos separados, poderão ser usadas por todos os cristãos.
Investigação Bíblica
23. A esposa do Verbo encarnado, isto é, a Igreja, ensinada pelo Espírito Santo, esforça-se por conseguir uma inteligência cada vez mais profunda da Sagrada Escritura, para poder alimentar contìnuamente os seus filhos com os divinos ensinamentos; por isso, vai fomentando também convenientemente o estudo dos santos Padres do Oriente e do Ocidente, bem como das sagradas liturgias. É preciso, porém, que os exegetas católicos e os demais estudiosos da sagrada teologia, trabalhem em íntima colaboração de esforços, para que, sob a vigilância do sagrado magistério, lançando mão de meios aptos, estudem e expliquem as divinas Letras de modo que o maior número possível de ministros da palavra de Deus possa oferecer com fruto ao Povo de Deus o alimento das Escrituras, que ilumine o espírito, robusteça as vontades, e inflame os corações dos homens no amor de Deus (1). O sagrado Concilio encoraja os filhos da Igreja que cultivam as ciências bíblicas para que continuem a realizar com todo o empenho, segundo o sentir da Igreja, a empresa felizmente começada, renovando constantemente as suas forças (2).

Importância da Sagrada Escritura para a Teologia
24. A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita e na sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de Deus, e, pelo facto de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia (3). Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora com a palavra da Escritura.
Leitura da Sagrada Escritura
25. É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legìtimamente ao ministério da palavra, mantenham um contacto íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo aturado, a fim de que nenhum deles se torne «pregador vão e superficial da palavra de Deus. por não a ouvir de dentro» (4), tendo, como têm, a obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina, sobretudo na sagrada Liturgia. Do mesmo modo, o sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os religiosos, a que aprendam «a sublime ciência de Jesus Cristo» (Fil. 3,8) com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo» (5). Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvàvelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem; porque «a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos» (6).
Compete aos sagrados pastores «depositários da doutrina apostólica» (7), ensinar oportunamente os fiéis que lhes foram confiados no uso recto dos livros divinos, de modo particular do Novo Testamento, e sobretudo dos Evangelhos. E isto por meio de traduções dos textos sagrados, que devem ser acompanhadas das explicações necessárias e verdadeiramente suficientes, para que os filhos da Igreja se familiarizem dum modo seguro e. útil com a Sagrada Escritura, e se penetrem do seu espírito.
Além disso, façam-se edições da Sagrada Escritura, munidas das convenientes anotações, para uso também dos não cristãos, e adaptadas às suas condições; e tanto os pastores de almas como os cristãos de qualquer estado procuram difundi-las com zelo e prudência.
Influência e importância da renovação escriturística
 26. Deste modo, pois, com a leitura e estudo dos livros sagrados, «a palavra de Deus se difunda e resplandeça (2 Tess. 3,1), e o tesouro da revelação confiado à Igreja encha cada vez mais os corações dos homens. Assim como a vida da Igreja cresce com a assídua frequência do mistério eucarístico, assim também é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela palavra de Deus, que «permanece para sempre» (Is. 40,8; cfr. l Pedr. 1, 23-25).


Roma, 18 de Novembro de 1965
PAPA PAULO VI
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 A  Bíblia é a única fonte de Fé? 
Como já lemos Martinho Lutero defendeu o livre exame da Bíblia e também defendeu que somente a Bíblia era a única fonte de fé. 
É óbvio que para quem desprezou 15 séculos de tradição e ensinamento da Igreja Católica não caberia a ele como "separado" dela conservar e admitir seus ensinamentos. Esperto que era tentando justificar sua doutrina e a igreja que ela mesmo criara adotou a "Sola Scriptura" isto é só a Escritura basta.
Para nós cristãos Católicos não temos problema em admitir que a Bíblia não é a única fonte de fé. Não é nenhuma heresia, pois, ao longo de mais de 2000 anos de história da Igreja ela é depositária da Palavra de Deus oral e escrita. 
Nós católicos temos como fonte de fé a Bíblia, a palavra de Deus Oral (também chamada de Sagrada Tradição) e o Catecismo.
Para existir a Bíblia, a palavra de Deus escrita é preciso lembrar que houve antes Palavra de Deus Oral. Ou seja, foi através dos ensinamentos dos Patriarcas, (no AT) dos Apóstolos e dos Santos Padres que hoje temos a Bíblia formada. Mas não é tudo. Falta muito mais coisas porque ela foi escrita por mãos e mentes humanas. 
São João disse que Jesus fez tantas coisas, tantos milagres, que se fosse escrever tudo nem o mundo inteiro poderiam escrever. (Jo21, 24-25) - Então não podemos achar que somente a Bíblia é a única fonte de fé da Igreja; mesmo porque os escritos do Novo testamento surgiram muito tempo depois. Antes disso, os Apóstolos pregavam oralmente a Palavra de Deus e os ensinamentos de |Jesus e foram das pregações, do testemunho dos apóstolos que surgiram os livros do Novo Testamento. Tais escritos surgiram entre 60-95 d.C sendo que o último livro a ser escrito foi o Apocalipse de Jesus escrito por São João.
Jesus quando veio a este mundo não pediu e não deixou nada escrito.
Aliás, o único livro que Jesus mandou escrever foi o Apocalipse. 
..."O que vês escreve-o num livro e envia às sete Igrejas"...  Apoc1, 10  - foi a única vez em da Bíblia que Jesus (já ressuscitado) deu essa ordem para escrever alguma coisa. 
A Bíblia não é um livro de história. Seus escritores não eram historiadores e não estavam preocupados em registrar acontecimentos históricos. Ela é um livro que mostra a ação e a presença de Deus na História da humanidade. Ela é uma carta de amor de um Deus que traz a libertação de seu povo.     
Crer que a Bíblia é a única fonte de fé como afirmam os protestantes é não crer que o Espírito Santo esteve este tempo todo com sua Igreja e que Ele pode até os nossos dias inspirar os homens como têm ao longo da história inspirado muitos santos e doutores da Igreja. Sendo a Igreja o Corpo Místico de Cristo e o Espírito Santo a sua Alma que a plenifica e a santifica, não seria cabível crer na Bíblia como somente uma única fonte de fé.
Lutero errou feio, e até hoje conduz seus seguidores em diversas denominações ao erro. Pois, achar que a Bíblia é a única fonte de fé é puro orgulho, pois, nem mesmo os santos padres se valiam se tal pensamento.      
  



 
 

 

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