sábado, 29 de setembro de 2018

Heresia do Sabelianismo - As Heresias ao longo da história - O sabelianismo no meio evangélico


O que é o Sabelianismo?

Sabelianismo – doutrina herética do século III – defendida e criada por Sabélio que negava o dogma da Santíssima Trindade afirmando haver uma única substância ou pessoa em Deus.
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De Gordon H. Clark

A falha judaica em ver mais que uma Pessoa como Deus adentrou as igrejas cristãs – com esta tão importante diferença: Eles tinham algo a dizer sobre Cristo. As visões possíveis sãos essas: há três deuses independentes; há apenas um Deus que aparece e opera em três modos; há apenas uma Pessoa que é Deus e Cristo foi sua primeira criação; e finalmente há uma Divindade existindo em três Pessoas. Este tratado gastará algumas páginas sobre o Sabelianismo e então expandirá sobre o conflito entre arianos e atanasianos.
Até o ponto que Sabélio está pessoalmente envolvido, o único fato que precisa ser mencionado é que ele foi condenado em 263 d.C.. Sua teologia, portanto, não deve ser ignorada, apesar dos ecos de suas visões terem esporadicamente soado aqui e ali através dos últimos séculos.
Sabelianismo é a visão de que Deus é uma única pessoa; não há uma segunda pessoa chamada Filho, nem uma terceira chamada o Espírito. Antes, quando Deus é ativo na criação do universo e o controlando, ele deve ser chamado Pai; quando ele está ativo na redenção, ele deve ser chamado Filho; e quando ativo na santificação ele é chamado Espírito. Os três nomes significam três atividades diferentes da mesma Pessoa. Certamente os sabelianos poderiam reconhecer Cristo como Deus, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, e isso soa muito bom para o público cristão; mas Filho foi apenas um nome para um dos três tipos de atividades de Deus.

Sabelianismo, mesmo que uma justiça superficial seja feita ao Novo Testamento – e isso foi uma preocupação maior no século II do que no século XX – implica ou no mínimo coincide com o que foi chamado Patripassianismo, ou seja, que foi o Pai quem sofreu na cruz. Está não é realmente a dedução lógica do sabelianismo, porque os sabelianos diriam que Deus sofrendo na cruz é apropriadamente chamado Filho, e não Pai; e um historiador pode desejar manter certos grupos distintos; mas um não pode ficar surpreso com a confusão do terceiro século. Tertuliano causticamente comentou que essas pessoas “põem o Paracleto em fuga e crucificam o Pai.”.
Em resposta a tais visões, uma das evidências do Novo Testamento a ser citada que Deus não é uma Pessoa vem da fórmula batismal de Mateus 28:19, “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Romanos 6:3 e Gálatas 3:27 usam Cristo apenas e não mencionam o Pai nem o Espírito. As últimas das duas referências não harmonizam com o sabelianismo, porque, ao contrário, é sem sentido batizar em uma função de uma pessoa de três funções. Quanto à fórmula trinitariana alguém pode perguntar, se o Pai é simplesmente uma função, como o Filho e o Espírito são funções, essas são funções de quê? Quanto à interpretação sabeliana, há no verso nenhuma menção de qualquer Pessoa divina. Um batismo sabeliano requereria algo como “eu te batizo em nome da criação, redenção e glorificação.” Obviamente esta não é a fórmula cristã, e esta de modo algum pode se ajustar ao sabelianismo. Deve-se notar que no Novo Testamento o termo Pai nas passagens pertinentes não expressam uma relação com o homem. O Pai é o Pai do Filho. Mas atividades, como criação e redenção, não pode ser do pai e do filho. Em outras palavras, a fórmula tripla não salienta sobre o que Deus faz; ela salienta o próprio Deus como triplo.
Em adição à fórmula batismal há a Bênção Apostólica: “A graça do nosso Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo esteja com todos vocês. Amém.” A ordem dos nomes aqui é peculiar. Sabelianismo requereria Deus ser mencionado primeiro, e então, estranhamente eles encontrariam apenas duas das três atividades na fórmula. Mesmo um trinitariano é surpreendido por o Pai não ser mencionado primeiro. De fato, o Pai de modo algum é mencionado. O trinitarianismo pode permitir uma identificação de Deus com Pai e assim separar de Deus o Filho e o Espírito? Hodge estranhamente nem mesmo menciona a dificuldade em seu Commentary on II Corinthians [Comentário sobre II Coríntios]. Alguém pode, portanto, entender que à medida que o cristianismo começou a aparecer distinto do judaísmo contínuo, e, contudo não totalmente emerge da fraseologia do Antigo Testamento, que o termo Deus deve ser mantido como uma designação do Pai, no lugar de aplicá-lo uniformemente ao Filho e ao Espírito. Veja, por exemplo, Gálatas 1:1, 3; Efésios 3:14; et al., onde Paulo usa a frase: “Deus o Pai.” De fato, isso é de algum modo a razão que forçou Atanásio, no próximo século, a insistir na Deidade de Cristo.
Somando-se a essas duas fórmulas, o Novo Testamento contém muitas indicações maiores ou usualmente menores de que há três Pessoas, não apenas três atividades. Uma das passagens mais longas é a Oração Sacerdotal em João 17. Uma função não pode orar a uma função. Além do que, a passagem em muitos lugares distingue o Filho do Pai. Tome por exemplo o versículo 5: “E agora glorifica-me, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” Distinções pessoais dificilmente poderiam ser mais claramente postas. Ou abaixo no versículo 18: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” Mas funções não mandam funções.
Deve-se notar, e isso será mencionado posteriormente na seção sobre Agostinho, que os termos Pai, Filho e Espírito não expressam três relacionamentos para com os seres humanos criados. O Filho é o Filho do Pai. O Pai e o Filho enviam o Espírito Santo. Ele era o Espírito antes de ele ser enviado. Mesmo quando Cristo diz, “Eu e meu Pai somos um,” nós não apenas temos a distinção entre “eu” e o “Pai”, mas também o um é um neutro e não um masculino. O Pai e o Filho endereçam um ao outro como “Eu” e “Tu.” O Filho ora ao Pai. Essas distinções, que dificilmente podem ser negadas como sendo distinções pessoais, são conclusivas contra o Sabelianismo. Uma pequena lista de versículos pertinentes é: Mateus 3:17; 11:27; 26:53; Lucas 2:49; João 2:16; 5:22, 23: 8:54; 14:2, 13, 16, 21, 24, 26; I Coríntios 12:3; e Hebreus 1:5.
Sabelianismo agora está extinto. Teólogos recentes que categorizam este ou aquele herético como sabeliano, talvez Serveto, estão incorretos. Shedd (History of Christian Doctrine [História da Doutrina Cristã], 377) acusa Scotus Eriugena de sabelianismo e acrescenta que outros teólogos fazem a mesma acusação contra Abelardo. Caroli acusou Calvino de sabelianismo! Strong (I, 327, 328, notas) cuidadosamente e confusamente duas vezes faz referência a Horace Bushnell. A razão do sabelianismo está extinta é que desde o quarto século os descrentes tem regularmente admitido que Cristo é uma pessoa. Ele negava que ele era uma Pessoa divina. Nem eles agora tentam muito defender suas visões em bases bíblicas, porque eles repudiaram inerrância. Portanto, os unitarianos do século dezenove e os grupos apóstatas do século vinte não são sabelianos. Tanto em história – porque Atanásio deu pouca atenção a Sabélio – como em lógica, o próximo passo é mostrar que Jesus, a pessoa que andou pela Palestina, era Deus encarnado. Nós chegamos, portanto, no desenvolvimento da doutrina da Trindade à defesa da Deidade de Cristo, e disto Atanásio ocupou-se no Concílio de Niceia.

Fonte:  CLARK, Gordon H. The Trinity. 2. ed. Jefferson, Maryland (E.U.A.): Trinity Foundation, 1990. p 8-12.
Tradução: Jazanias Oliveira – fevereiro/2009
Sobre o Autor
Gordon H. Clark
Gordon Haddon Clark (1902–1985) was a philosopher and Calvinist theologian and taught philosophy at the college level for most of his life. He was an expert in pre-Socratic and ancient philosophy and was noted for his rigor in defending Platonic realism against all forms of empiricism, in arguing that all truth is propositional, and in applying the laws of logic. The Trinity Foundation continues to publish his writings and other books as well.
Desde as primeiras décadas do monarquianismo modalista século 111 também tomou o nome de "Sabelianismo" da Líbia origem herege Sabellius que condenado pelo Papa Calixto (por 220), difundir esta doutrina pelo Egito e Líbia. Defensor do monoteísmo rígido, Sabellius considerado como uma divindade manifestada Mônada (ou dilatação) em três operações distintas: Pai, no Antigo Testamento, Filho na encarnação, o Espírito Santo no Pentecostes.
Com esta concepção, Sabélio renovou o modalismo elementar de seus antecessores, pois introduziu o Espírito Santo na economia da salvação e evitou falar sobre a encarnação e a paixão do Pai.
Esta "heresia da união,” como a chama Hilário (De Synodis 26) - considera o Pai, o Filho e o Espírito Santo como um prosopon uma *hipóstase.
*Significado de Hipóstase – Há no dicionário português três significados mas, para nós interessa os dois primeiros.
[Teologia] Pessoa: há em Deus três hipóstases.
[Filosofia] Princípios e realidades divinas na doutrina de Plotino.
[Medicina] Sedimento feito pela acumulação das urinas; sarro.

* Para os pensadores da Antiguidade, realidade permanente, concreta e fundamental; substância. Segundo a reflexão moderna e contemporânea, equívoco cognitivo que se caracteriza pela atribuição de existência concreta e objetiva (existência substancial) a uma realidade fictícia, abstrata ou meramente restrita à incorporalidade do pensamento humano.
É muito difícil especificar a extensão e a duração do sabelianismo, que, salvaguardando rigidamente o princípio da monarquia divina, se opunha à Logostheologie.
A verdade é que nos quatro defensores desta orientação teológica Sabelianismo século riscado qualquer forma de monarquianismo. 
Isso demonstra a importância que alcançou Sabelianismo, mas também responde aos preceitos da retórica clássica, preferindo apelar para personagens desaparecidos e evitando show de animosidade pessoal com oponentes ao vivo.

Bibl.: M, Simonetti, Sabellian - Sabellians, em DPAC, 11, 1921-1922; 5. Cura Elena, Modalism, em DTDC, 916-922.
Dicionário da Teologia Católica
O SABELIANISMO NO MEIO EVANGÉLICO

Podemos dizer que ainda hoje a doutrina sabelianista está de volta em algumas igrejas?
Heresias e falsas doutrinas sempre irão aparecer. Aquilo que a Igreja não aceita como verdade de fé é chamada de heresia. Porque a heresia é um ensinamento falso e embora tenha alguma base de justificativa segundo o pensamento de quem a defende contraria a própria Sagrada Escritura e a doutrina da Igreja.
Os Apóstolos já desde o início advertia sobre esses falsos mestres que tentariam introduzir uma doutrina diferente daquilo que eles ensinavam como a verdade trazida pelo próprio Cristo. 
Ao longo dos anos surgiram muitas doutrinas heréticas de pessoas dentro da própria Igreja. Marcião e Ário são exemplos disso. Os grandes teólogos e doutores da Igreja como: Clemente de Alexandria, Policarpo de Esmirna, Agostinho de Ipona, Inácio de Antioquia, Atanásio de Alexandria, Irineu, Orígenes de Alexandria, etc. tiveram um duro combate para extirpar essas heresias.  
Nenhuma denominação cristã católica ou protestante pode ser considerada realmente Igreja se não professar a fé na Santíssima Trindade.
A doutrina da Santíssima Trindade está baseada em Mateus 28 onde neste capítulo, Jesus Cristo antes de sua ascensão deu ordem aos Apóstolos de batizar não em seu único nome, mas, em nome do Pai, do Filho (ele) e do Espírito Santo. Então Jesus revela de maneira indireta a existência de Deus em três pessoas distintas, mas de igual poder. Essa verdade bíblica foi debatida e aceita pelo Concílio de Nicéia e posteriormente com a Reforma Protestante foi conservada sem alteração. 

A palavra Trindade não está na Bíblia, mas ela foi usada para como disse, expressar essa manifestação das Pessoas em um só Deus. Não três deuses. Um só Deus em três pessoas. Como explicar isso? Não há explicação, pois, isso vai além das faculdades da inteligência humana. Porém, é assim que Deus quis ser revelado a nós.
A Santíssima Trindade aparece na Sagrada Escritura várias vezes:
Em Gênese cap. I - O Espírito caminha sobre as águas. Deus pousa seu Espírito Santo para abençoar a obra criada. Já em Gênese por causa do pecado de nossos
Ainda em Gênese – Deus Pai se manifesta aos Patriarcas Noé e Abraão e faz com eles uma aliança a primeira, com Noé de não enviar mais o dilúvio e a segunda prometendo fazer de Abraão uma grande nação.
Em Êxodo: Deus Pai se manifesta a Moisés e dá a ele a missão de libertar o seu povo escravo no Egito.  Deus liberta seu povo.
Deus inspira e fala pela boca dos profetas. E na sua Igreja pelos santos e doutores.
Já no Novo Testamento, Lc1, é pelo Espírito Santo que age com seu poder para a Encarnação do Verbo.
E o Espírito Santo paira sobre Jesus no momento de seu batismo. Em Jo16, Jesus promete o Espírito Santo Paráclito. A palavra Paráclito quer dizer advogado. É ele quem os fará compreender toda verdade. É ele a força motriz da Igreja, o consolador, vivificador e santificador.
É ele que em Atos2, no Cenáculo desce sobre os Apóstolos inaugurando a caminhada da Igreja que ali se inicia.
É Jesus quem disse que o único pecado que não se perdoa é o pecado contra o Espírito Santo, Mc3, 28-30.
Jesus distingue as três pessoas de Deus quando chama a Deus e Pai, “meu Pai”, quando à sua natureza humana diz: “o filho do homem”, “... quando o Filho do homem vier em sua glória”... Jesus é humano e divino ao mesmo tempo, as duas naturezas não se separam. “Quando o Paráclito vier”... referindo ao Espírito Santo.
Então a realidade Trinitária de Deus, embora não contenha esse nome na Sagrada Escritura é real. Não há como fugir dessa realidade bíblica e os santos padres só reafirmaram aquilo que a Sagrada Escritura já atestava.
É por isso que nenhuma denominação cristã, nem mesmo após a Reforma protestante ousou negar a Santíssima Trindade.      
O que parecia ser um assunto encerrado, já que todos os cristãos aceitavam a doutrina da Santíssima Trindade, em pleno século XXI surgem novas seitas negando esta verdade tão sólida para o cristianismo. É o Unicismo moderno, mas, com a mesma heresia sabeliana.

Essa doutrina surgiu em uma reunião pentecostal das igrejas Assembleias de Deus realizado em abril de 1913, em Arroyo Seco, nos arredores de Los Angeles, na Califórnia, numa cerimônia de batismo. O preletor, R. E. Mc Alister, disse que os apóstolos batizavam em nome do Senhor Jesus e não em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e quando as pessoas ouviram isso ficaram atônitas. Mc Alister foi notificado que seu ensino possuía elementos heréticos. Ele tentou esclarecer sua prédica, mas ela já havia produzido efeito.

Um de seus ouvintes era John Sheppe que após aquela mensagem, passou uma noite em oração, refletindo a mensagem de McAlister e concluiu que Deus havia revelado o batismo verdadeiro que seria somente em nome de Jesus. Também Franck J. Ewart, australiano, adotou essa doutrina e em 15 de abril de 1914 levantou uma tenda em Belvedere, ainda nos arredores de Los Angeles, e passou a pregar sobre a fórmula batismal de Atos 2.38.

Comparando com Mt 28.19, chegou à conclusão de que o nome de Deus seria então somente o nome Jesus.
É verdade que o batismo somente no nome de Jesus era praticado por pastores pentecostais como Howard Goss e Andrew Urshan, mas foi somente com Franck J. Ewart que o batismo em nome de Jesus desenvolveu teor teológico próprio. Assim, em 15 de abril de 1914, Franck J. Ewart e Glenn Cook se batizaram mutuamente com a nova fórmula. Esse movimento começou então a crescer em cima dessa polêmica e ficou conhecido por vários nomes como: Nova Questão, movimento Somente Jesus, o Nome de Jesus, Apostólico, ou Pentecostalismo Unicista.

A essência da doutrina unicista é a centralização no nome de Jesus. Os teólogos unicistas entendem que a expressão em nome, de Mateus 28.19 referindo ao Pai, Filho e Espírito Santo são apenas nomes singulares de Jesus. Assim, o que parecia ser apenas uma polêmica referente à fórmula batismal resultou na negação da doutrina da Trindade. Os unicistas não aceitam a pluralidade de pessoas na unidade Divina, qualquer referência à idéia de Trindade eles interpretam como sendo várias manifestações de Deus ou de Jesus. Logo não são contra a Trindade pelo fato de não crer que Jesus seja Deus, mas ironicamente pelo fato de crer que Deus é só Jesus.

O que diz o Unicismo?

O Unicismo diz que Jesus é Deus Pai e é o Espírito Santo... Será???
Dentro da unidade do único Deus existem três pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e estes três compartilham da mesma natureza e atributos; então, com efeito, estes três são o único Deus.
Mas então, porque em Mt28 está escrito que Jesus mandou batizar em nome das três pessoas: O Pai, O Filho e O Espírito Santo?

Há muitos cristãos evangélicos que consideram o movimento Pentecostal Unicista (também conhecido como "Só Jesus") como um movimento cristão evangélico. A realidade é que este movimento está muito longe de ser considerado como cristão; está mais para uma seita.

Uma das definições teológicas de seita é: Qualquer grupo que se desvia das doutrinas fundamentais do cristianismo, como a Trindade, a divindade de Jesus Cristo e a salvação pela graça, através da fé em Jesus Cristo somente.
Os maiores grupos os melhores conhecidos que compõe o movimento Pentecostal Unicista são:


  • Igreja Apostólica da Fé em Cristo Jesus
  • Igreja Pentecostal Unida
  • Igreja Pentecostal da Fé Apostólica
  • Igreja Evangélica Cristo Vive (Miguel Ângelo)


Outros grupos independentes que também creem na unicidade de Deus, como por exemplo, a "Igreja Voz da Verdade", "Pentecostal Unida do Brasil", "Tabernáculo da Fé", "Igreja de Deus do Sétimo Dia", etc...

Os unicistas negam uma doutrina fundamental do Cristianismo: a doutrina da Trindade.
Este artigo foi escrito exclusivamente para alertar ao corpo de Cristo acerca deste movimento sectário e demonstrar à luz das Escrituras como os unicistas estão equivocados sobre a verdadeira natureza de Deus. Seguimos a orientação de Judas III, que nos exorta a lutar ardentemente pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos.   


Outras Heresias acerca da baixa cristologia.

As heresias acerca da baixa cristologia se referem às doutrinas equivocadas que foram elaboradas em relação à humanidade de Jesus. Essas heresias podem ser delineadas da seguinte forma: 


(1) Docetismo
(2) Apolinarianismo 
(3) Eutiquianismo

O Docetismo - é um nome derivado do verbo grego “dokew/dokeo” que significa “parecer ou aparentar”. Esse movimento, o qual surgiu no final do século I, apregoava que Jesus era totalmente divino e que não se encarnou, logo, sua humanidade simplesmente aparentava ser, mas não era, ou seja, o seu espírito que estava ali. Sendo assim o sofrimento de Cristo na cruz foi apenas aparente, mas não real.[3] Diante disso entrou em dúvida o sacrifício vicário de Jesus como sua ressurreição. Essa doutrina foi construída, pois os docetas eram atraídos pelos escritos do gnosticismo que se tornou um movimento propriamente dito no século II. Os gnósticos ensinavam que o mundo material era o resultado da vitória do mal sobre o bem, isto é, o mundo do mal estava relacionado com o material, portanto a matéria não era boa, mas, sim, má. Sendo assim o Sagrado/Deus não se relacionava com a matéria, mas só com o espiritual. Diante dessa premissa os docetas acreditavam que o divino Jesus não poderia se misturar com a matéria.

O Apolinarianismo - tem esse nome, pois é derivado do homem que elaborou tal heresia, conhecido como Apolinário. Este era bispo de Laodicéia e ensinava que o Logos, isto é, a alma divina de Cristo tomou o lugar do espírito humano de Cristo. Ele acreditava na tricotomia, isto é, na doutrina que ensina que o homem é composto de três partes que são alma, corpo e espírito. Para ele Jesus possuía a alma humana como o corpo humano, mas o espírito humano foi substituído pelo Logos divino, e esse tomou conta de todo o ser de Jesus. Por quê? Porque se assim não fosse, o Logos, ou a alma divina teria sido contaminado pelos pecados e pelas fraquezas humanas, e a impecabilidade de Jesus seria comprometida. Para que a natureza humana possa ser divina ela deve se unir totalmente com a natureza divina, tornando-se assim uma só natureza a pessoa de Jesus. Essa heresia junto com a próxima que será vista foi propagada na escola de Alexandria, sendo assim também conhecida como a cristologia Alexandrina.

O Eutiquianismo - era conhecido também por monofisismo. O primeiro nome é derivado do seu precursor Êutiques, que era monge de Constantinopla e bispo em Alexandria. O segundo nome é derivado da sua crença em apenas uma natureza na pessoa de Cristo (do grego: monoj/monos “apenas uma”; fujij/physis “natureza”).
Essa heresia ensina praticamente a mesma coisa que o apolinarianismo, isto é, que a natureza divina absorveu a natureza humana de Cristo. Sendo que Cristo só tinha uma natureza, e essa era uma terceira natureza, que fora revestida da carne humana. Esse é o ponto diferencial do apolinarianismo, o ensinamento de que a natureza divina de Jesus não era totalmente divina, e nem a natureza humana era totalmente humana. Sendo assim se juntaram-se as duas naturezas e resultou em uma natureza única e mestiça.

Refutação apologética:

Os escritos do apóstolo João poderiam ter como propósito refutar a heresia docetista. Quando João relata no versículo 14 do 1° capítulo do seu evangelho que o Logos, isto é, o ser divino se tornou carne “sa,rx/sarx”, tem a conotação de um corpo físico inteiro e que tem ossos e sangue.[6] Diante disso ele estaria refutando a ideia de que Jesus não era um ser de carne e material. Chega-se ao cume desse ensinamento em 1 Jo 4.2 e 3:

Nisto conhecereis o Espírito de Deus”
“Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”.
E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio ao mundo em carne não é de Deus. Mas, este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo”.

Existem outros motivos para acreditar na sua existência carnal como o cumprimento da profecia (Is 7.14; 9.6), seu nascimento de mulher (Gl 4.4), sua genealogia (Mt 1.1 – 17; Lc 3.23 – 38), seu corpo que se desenvolveu (Lc 2.52), declarou-se como homem (Jo 8.40), sentiu fome (Mt 4.2), sentiu sede (Jo 19.28), cansou-se (Jo 4.6), teve sentimentos como amor e compaixão (Mt 9.36), chorou (Jo 11.35) e foi tentado (Mt 4.1 – 11; Hb 4.15). A própria declaração de Paulo mostra que Ele nasceu segundo a carne pela descendência de Davi (Rm 1.3).

Ainda contra a conotação gnóstica, elabora-se a seguinte pergunta retórica: Como a matéria é má se a mesma recebeu um ser divino e puro? A matéria não é uma consequência do mal, mas, sim, uma criação do próprio Deus (Gn 1), tendo seu Filho como agente dessa criação ((Jo 1.3; Cl 1.16 e 17; Hb 1.2; Ap 21.6) e a mesma declara a glória de Deus (Sl 19.1; Rm 1.20). Como pode ser mal algo criado por Deus e que declara sua glória e seu conhecimento?

Refutando neste momento o apolinarianismo deve-se recorrer mais uma vez a Jo 1.14. Outra conotação de carne que é existente no grego “sa,rx/sarx”, não é só o físico, mas, também, o modo geral de empregar aquilo que é humano.

Ou seja, quando é declarado nesse versículo que Jesus se tornou carne, refere tanto ao corpo físico como também a uma natureza humana, sendo assim ele também tinha dentro dele a possibilidade do pecado, mas, no entanto, não pecou. Ele se tornou humano para conhecer as fraquezas do homem e se compadecer dele (Hb 2.14 – 16; 5.7; 4.14 – 16), sabendo que em Hebreus a carne referente a Cristo é sua natureza humana completa.[8]

Refutando por último o eutiquianismo /monofisismo se vê que no prólogo de João, especialmente os versículos 1 e 14, que Cristo era um ser deificado, ou seja, Ele era Deus. Esse Cristo se tornou carne, ou seja, humano; e o texto não ensina que Ele se tornou menos Deus ao se tornar humano, como também não ensina que Ele foi menos humano por ser Deus, mas, sim, que uma natureza divina, isto é, o Logos encontrou outra natureza, que era humana, e ambas as naturezas fizeram parte de uma pessoa, que foi Jesus de Nazaré. Ele durante sua passagem pela terra se mostrou divino perdoando pecados (Mc 2.1 – 12), concedendo vida espiritual (Jo 5.21), ressuscitando mortos (Jo 11.43), mostrando sua onisciência (Mt 16.21; Lc 6.8; 11.17; Jo 4.29) e onipotência (Mc 5.11 – 15; Jo 11.38 – 44); e também se mostrou humano como já foi visto nos textos que combatem o docetismo e o apolinarianismo. Portanto, Jesus era Divino, mas, também, teve sua natureza humana. Só que, no entanto, pelas diferenças substanciais da natureza Divina e humana, elas não puderam se tornar uma só natureza, mas, sim, participar de um só corpo. Para melhor entendimento segue-se uma ilustração: Quando se mistura um copo de água (uma substância), com açúcar (outra substância), com uma laranja exprimida (outra substância), surge algo novo, que seria um suco de laranja. Isso ocorre, pois estas três substâncias diferentes podem se envolver entre elas. Porém, se pegar um copo, e colocar nele água (uma substância) e óleo (outra substância), eles não vão se tornar algo novo, pois não vão se misturar e uma ficará por cima, e outra embaixo, pois suas substâncias não se misturam pela diferença de suas “naturezas”.

Assim foi a realidade cristológica, não teve como produzir uma natureza nova, única e mestiça (como o suco de laranja), pois as diferenças substanciais das duas naturezas não permitiam que isso ocorresse (como a água e o óleo). Sendo assim, as duas naturezas tiveram que ficar juntas sem se comporem em algo novo, e isso em um só corpo, como a água e o óleo ficam em um só copo. Encerrando essa parte segue uma lógica: (Premissa A) Jesus teve duas naturezas que não têm como se compor em uma. (Premissa B) Jesus teve um corpo e foi uma pessoa. (Conclusão) Por conseguinte, Jesus teve duas naturezas em um só corpo, sendo uma só pessoa.

Outras heresias acerca da Alta Cristologia

As heresias acerca da alta cristologia se referem às doutrinas equivocadas que foram elaboradas em relação à divindade de Jesus. Essas heresias podem ser delineadas da seguinte forma:

  1. Ebionismo
  2. Monarquianismo
  3. Arianismo.

ebionismo era uma seita judaico-cristã que seguia a lei de Moisés e acreditavam em Jesus como Messias.
 Começou no 1° século da era cristã e o seu nome vêm do hebraico “wOybIa,/ebyôn”,] que significa “pobre”, “carente”, “necessitado” e “oprimido”. Como fora visto, eles apregoavam Jesus como o Messias, mas apenas como um profeta anunciado no Antigo Testamento que se identificava com os pobres, porém não era divino, mas um simples homem comum filho de José e Maria. Em seu batismo Jesus foi unido com o Cristo eterno, pois fora eleito para ser filho de Deus.

monarquianismo é divido em duas partes:

(1) Monarquianismo Dinâmico (adocianismo).
(2) Monarquianismo Modalista (sabelianismo).

 A palavra se deriva de “monarquia” que significa “governo de um só”, que tem como doutrina a crença na existência de um só Deus e uma só pessoa, e não três pessoas, como ensinava a doutrina da Trindade.

O primeiro tipo de monarquianismo (dinâmico) começou com Teodoro de Bizâncio o qual ensinava que Jesus era um simples homem, mas recebeu poderes de sua vocação messiânica no batismo, quando o Espírito Santo desceu sobre Ele, e assim se tornou um Cristo e Salvador por adoção (por isso o nome “adocianismo”). O segundo tipo de monarquianismo (modalista) teve como principal representante e líder Sabélio (apesar de ter surgido com Paulo de Samosata), ensinava que não existem três pessoas e um Deus; mas que simplesmente existe um Deus em uma pessoa que aparece de diversas maneiras, com três manifestações e três modos (por isso o nome modalista) diferentes.

A pessoa de Jesus só foi um modo de Deus se manifestar, sendo assim o próprio Deus Pai se encarnou e sofreu na crucificação, (por essa última conotação essa heresia também é conhecida no ocidente como “patripassionismo”).
(E no oriente ficou conhecido com o nome do seu precurssor “sabelianismo”).

O Arianismo -
é a heresia cristológica que mais repercutiu de todas essas, até nos dias atuais. O nome se deriva do seu sistematizador Ário (250 – 336), que era presbítero de Alexandria. Ário ensinava que só Deus Pai é eterno e Cristo era um ser pré-existente, porém finito, pois em algum tempo da eternidade Ele foi criado e não gerado pelo Pai.

A frase-chave dessa doutrina é: houve um tempo quando Cristo não era. Porém, Cristo não é como qualquer criatura, Ele é uma criatura perfeita e elevada acima das outras, pois possui a deidade parcialmente em si. Ele é um semideus, está entre Deus e os homens.
A natureza de Cristo era parecida com a de Deus (omoiousios) e não igual (homoousios).[16] Essa ideologia acompanhava os antigos heróis:

Esta foi a solução dada por Ário. Estava na mesma linha do culto aos heróis do mundo antigo.
Esse mundo era povoado por meio-deuses, derivados do único Deus e incapazes de plenitude divina, mesmo quando no Olimpo.
Jesus teria sido um desses deuses, quase Deus, mas não o próprio Deus”.

Diante disso, Ário considerava Cristo inferior a Deus Pai e usava os textos de Mt 28.18; Mc 13.32; 1 Co 15.28 para apoiar sua ideia. Informava que os textos do quarto Evangelho que falavam sobre a filiação (Jo 3.35; 10.30; 12.27; 14.10; 17.11) trataram de uma linguagem metafórica.


Refutação
Apologética:

O ebionismo e o monarquianismo dinâmico (adocionismo) não entenderam o versículo 1 do 1° capítulo de João. O texto é bem claro em dizer que o Logos já era existente, ou seja, Cristo já existia. Até aqui pode-se andar junto com eles, no entanto, torna-se problemático dizer que Cristo só se uniu a Jesus em seu batismo, pois o próprio versículo citado mostra que o Logos que é identificado como o Cristo eterno, tornou-se carne, isto é, não veio possuir uma carne já existente, porém se tornou e veio a ser em uma carne que ainda não existia. Pelo decorrer das Escrituras pode-se ver que o Cristo eterno já era existente na pessoa de Jesus antes do seu batismo: (1) Ele foi procurado para ser adorado pelos magos de Belém, e quando o acharam, foi realmente adorado (Mt 2.2 e 11a).

Como os magos adorariam simplesmente a pessoa de Jesus se o Cristo eterno não estivesse nele? (2) Os príncipes dos sacerdotes e os escribas perguntavam onde iria nascer o CRISTO (Mt 2.4); (3) O anjo do Senhor revelou para José que estava em Maria já era gerado do Espírito Santo (Mt 1.20), e não que viria a ser; (4) Jesus era para ser chamado de Emanuel, isto é, Deus conosco (Mt 1.23), e não Deus que viria a ser conosco; (5) O anjo revelou para Maria que Jesus já seria gerado pelo Espírito Santo em seu ventre, chamado o filho do Altíssimo e a virtude do mesmo iria a cobrir, e que o Santo que iria de nascer, já seria reconhecido como Filho de Deus (Lc 1.26 – 35), e não que iria só ser chamado um tempo depois; (6) Isabel já declarou que Jesus era bendito no ventre de sua mãe, sendo também já reconhecido como Senhor (Lc 1.42 – 43); (7) O anjo, ao revelar aos pastores de Belém sobre o nascimento de Jesus, já declarou que Ele era Salvador, o Cristo e o Senhor (Lc 2.10 e 11); (8) Simeão recebeu uma revelação do Espírito Santo que veria o Cristo, o Senhor antes de morrer (Lc 2.26), e ele o viu ainda quando era bebê (Lc 2.27 – 32); e (9) O próprio Jesus enquanto menino já se declarou como Filho de Deus (Lc 2.49).

Diante disso, pode-se afirmar que como os ebionitas e os o monarquianistas dinâmicos (adocionistas) entendiam realmente que Cristo era eterno e o Messias se cumpriu na pessoa de Jesus, todavia, esse Cristo eterno não veio por ocasião de seu batismo o tornando gerado pelo Espírito Santo e Filho de Deus, mas já veio junto com a pessoa de Jesus antes.

Como já dito e será repetido nesse momento, Jesus não foi apenas um profeta como pensavam os ebionitas, mas, sim, um ser divino que fez morada, pois Ele era Deus (Jo 1.1) e realizou obras que só Deus pode realizar: perdoando pecados (Mc 2.1 – 12), concedendo vida espiritual (Jo 5.21), ressuscitando mortos (Jo 11.43), mostrando sua onisciência (Mt 16.21; Lc 6.8; 11.17; Jo 4.29) e onipotência (Mc 5.11 – 15; Jo 11.38 – 44).

Refutando o monarquianismo modalista (sabelianismo) deve-se declarar que realmente existem três pessoas diferentes em uma mesma deidade. O prólogo do Evangelho de João mostra que o Logos estava com Deus. Ora se ele estava com Deus, oferece a ideia em que algum momento Ele não está mais com Deus. Mas como Ele não pode estar mais com Deus se Ele é uma pessoa com Deus? Não tem como responder, a não ser se reconhecer que o Logos era uma pessoa distinta de Deus.

O versículo 14 ensina que esse Logos revelou a glória do Pai. Como pode alguém revelar a glória de outro, se esse é a mesma pessoa? Então o texto deveria ensinar que Ele revelou sua glória e não a glória de outra pessoa. O versículo 18 culmina a ideia de que o Logos era outra pessoa distinta, pois o próprio Deus Pai nunca foi visto por ninguém, porém o Deus Filho (como é escrito no original) revelou a outra pessoa, que é o Deus Pai.

Porém, se essa doutrina for “correta” terá algumas perguntas a serem respondidas: (1) Quem é o Pai que faz as coisas pelo Filho? Quem é o Filho que o Pai faz as coisas por Ele? (Jo 5.19 e 20); (2) Quem foi que enviou Jesus? (Jo 7.29; 17.25); (3) Quem é esse Pai o qual o Filho fala que o ensinou? (Jo 8.58); (4) Quem é o Deus de quem o Filho veio e vai? (Jo 13.3); (5) Quem é esse Pai que o Filho tinha a glória junto antes da fundação do mundo? (Jo 17.5) e (6) Por último uma pergunta fora do Evangelho de João, se Deus fosse uma só pessoa como explicar a existência de três pessoas no batismo de Jesus (Mt 3.13 – 17; Lc 3.21 – 22)?

Continuando a refutar o monarquianismo, mas o modalista (sabelianismo) e, também o arianismo, deve-se declarar que a doutrina da trindade é bíblica e fundamentada. Quando é declarado que Deus é o único Senhor (Dt 6.4), é interessante notar que esse “único” é um termo hebraico “dx'(a,/ehad”, que tem a conotação de uma unidade composta, ou seja, Deus é o único Senhor em ser, porém tem mais composição de pessoas. Essas pessoas são o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28.19).

E ambos mostram de várias formas sua deidade. Deus Pai é Deus já reconhecido como tal desde o Antigo Testamento e por todas as classes de doutrinas surgidas, não há dificuldade em relação a sua deidade. Deus Filho, isto é, Jesus é Deus e já foi mostrado várias vezes ao longo deste estudo, como também já foi mostrado que Ele é uma pessoa.

Então, basta mostrar neste instante que o Espírito Santo é Deus e um ser pessoal. Para ver sua deidade pode ir para tais pontos: (1) Seu nome de “Espirito do Senhor” (1 Co 6.11) e “Espírito de Jesus” (1 Co 6.11); (2) Tem atributos divinos como onisciência (Is 40.13), onipresença (Sl 139.7), onipotência (Jó 33.4; Sl 104.30) e realização de milagres (At 8.39); (3) Realiza obras de Deus como o nascimento virginal de Jesus (Lc 1.35), inspiração das Escrituras (2 Pe 1.21).
Esteve envolvido na criação do mundo (Gn 1.2); (4) Mantém relação com as outras pessoas da trindade. Os textos do Antigo Testamento que aparecem Deus falando, são colocados no Novo Testamento sendo atribuídos ao Espírito Santo (At 28.25 – 27/Is 6.8 – 10; Hb 10.15 – 17/Jr 31.31 – 34), mentir para o Espírito Santo é mentir para Deus (At 5.3 e 4) e o Espírito Santo tem igualdade com o Pai e com o Filho (Mt 28.19; 2 Co 13.14) e (5) Quando Jesus fala que iria enviar outro consolador (Jo 14.16).

O termo “outro” se refere a outro da mesma espécie, e se Jesus era Deus, logo, o Espírito Santo é Deus.

Para vê-lo como um ser pessoal pode ir para tais pontos: (1) Tem atributos pessoais como a inteligência (1 Co 2.10, 11 e 13; Rm 8.27), emoções (Ef 4.30), vontade própria (1 Co 12.11); (2) Tem atitudes pessoais como ouvir, falar e anunciar (Jo 16.13), convencer do pecado (Jo 16.8), interceder (Rm 8.26); (3) Atribuições pessoais como ser obedecido (At 10.19 – 21), ser resistido (At 7.51), ser entristecido (Ef 4.30) e ultrajado (Hb 10.29).[19] Sendo assim Ele não é uma força ativa proposta pelo arianismo.

Encerrando esta parte, é preciso terminar de refutar o arianismo que diz que o Logos é um ser criado e não gerado. O Logos tem uma ligação com a Sabedoria do Antigo Testamento. No Antigo Testamento, a descrição da Sabedoria se encontra especialmente em Pv 8 e 9, mas especificamente no capítulo 8.22 – 31. Nesse texto em particular se veem duas características que são iguais entre a Sabedoria e o Logos: 1) Ambos os textos mostram a pré-existência de ambos com Deus; e (2) Continuando o versículo 3 vê-se que Cristo foi o meio pelo qual tudo foi criado, e no versículo 30 de provérbios 8 tem-se que a sabedoria era arquiteto. Outra questão interessante a ser notada é que a Sabedoria é a mesma coisa que a razão, uma das conotações do Logos, sendo assim oLogos de João 1 e a Sabedoria de Pv 8 e 9 se referem a mesma coisa, a saber, a Cristo (doutrina ensinada já por Tertuliano e Justino Mártir). Não se pode fugir da ligação que a sabedoria de Provérbios tem com o apócrifo de Sabedoria de Salomão que é a conotação de um ser divino que emana de Deus. O conceito é que Cristo estava dentro de Deus e em algum tempo da eternidade foi gerado/emanado por Deus (isso não pode se confundir com o ter sido criado por Deus). Os textos de Sabedoria de Salomão que dão essa ideia são 7.22 e 18.15, se aproximando-se de Hb 1.3. Porém, além de Hebreus há outros textos bíblicos que fortificam a consideração da geração do Filho (Cristo) do Pai (Deus), que são (Sl 2.7; Jo 1.18; Jo 5.26; Hb 1.5; 5.5). Além disso, a ideia de Filho unigênito (único gerado) ajuda para este argumento.

O Nestorianismo

Essa heresia será analisada a parte, pois a mesma fala sobre as duas partes da Cristologia, tanto a divina como a humana. Essa heresia tem por nome Nestorianismo, pois foi baseada nos ensinos de Nestório que foi bispo de Constantinopla e um pregador famoso em Antioquia. Ele ensinava que Maria não era “Mãe de Deus” (theotokos), mas somente mãe do Jesus humano, sendo “portadora de Cristo” (christotokos) ou “portadora da humanidade” (anthropotokos) de Jesus. Esse Jesus humano foi unido ao Logos divino, sendo assim Ele tinha dentro do seu corpo pessoas distintas, uma humana e outra divina.

A escola de Antioquia seguiu parcialmente a mentalidade de Nestório, porém seguia mais a mentalidade de Teodoro de Mopsuestia.

Esse último para confrontar o apolinarianismo e o eutiquanismo, argumentou que a natureza humana de Cristo foi unida com a natureza Divina, e vice – versa. As duas naturezas eram pessoais, porém elas foram unidas no ventre de Maria. Sendo assim, ele não dava margem para duas pessoas ou dois filhos, e acreditava que Maria era “Mãe de Deus” (theotokos).

Sobre essa última teoria, nasce à doutrina do diofisismo (Jesus tinha duas naturezas em si) e da União Hipostática (as duas naturezas unidas pela vontade Deus formando uma pessoa). Essas doutrinas são aceitas pelas igrejas que se mantêm na ortodoxia Cristã e pelo presente estudo. Pois, como já fora visto por várias vezes nesse estudo, Jesus era Divino como também era humano.

* É a partir daí que a Igreja Católica também declarou Maria como “Mãe de Deus”. Mas, não parece absurdo que Maria seja Mãe de Deus se ele é eterno e não criado? Pode uma criatura ser mãe de Deus?
Do ponto de vista unicista não. Mas, do ponto de vista da Trindade, sim.

Esse título dado à Maria não é mãe de Deus Pai, a primeira pessoa, mas, sim, do Verbo Encarnado. Logo, se Maria é a mãe de Jesus Cristo, que também é Deus ela se torna Mãe de Jesus não só do humano, mas, também se torna Mãe do Jesus divino, pois, as duas naturezas de Jesus não se separaram após a sua ressurreição. Jesus é homem e Deus. Deus e homem.

Então se conclui que Deus quis ao se encarnar no ventre de Maria o fez por vontade própria. Ele quis ter uma mãe. A esse respeito São Paulo escreveu:

“Quando chegou a plenitude dos tempos Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher, segundo a lei”. Gl4, 4

Essa maternidade é eterna como o Filho de Deus é eterno. Não é uma maternidade comum, mas, é a maternidade de um Deus que se fez homem. E não é um filho comum, mas, é o próprio Deus que se fez filho de uma mulher, Maria.

Por isso, muito antes da Igreja ter declarado esse título à Maria de “Mãe de Deus” – cuja solenidade é no dia 1º. De Janeiro – os primeiros cristãos já acreditavam nessa verdade de fé.        
Desde os primeiro séculos, já se acreditava neste dogma, Maria, a Mãe de Deus. Na biblioteca de Alexandria há papiros que dizem: “A vossa proteção nos recorremos Santa Mãe de Deus”. Essa oração é do século 200. E nessa região houve muitas perseguições e martírios. Quando chegou o ano 430, surgiu uma heresia: o Patriarca de Constantinopla dizia que Maria não era a Mãe de Deus. A Igreja precisou fazer o Concílio, na cidade de Éfeso, na Turquia, e ali a Igreja disse solenemente: “Maria é a Mãe de Deus (Theotokos).

Continuando...

O prólogo do Evangelho declara sua divindade (Jo 1.1) como sua forma humana aqui na Terra (Jo 1.14), e mostra que apesar dessas duas naturezas Ele foi somente uma pessoa como mostra o pronome possessivo no singular “vimos a sua glória” (Jo 1.14).
Como todas as outras singularidades que aparecem com o Logos no texto. Sendo assim Ele não foi duas pessoas como afirmou o nestorianismo.

Diante disso, outra heresia é refutada que é o monotelismo. Essa ensina que em Cristo só existia uma vontade. Essa vontade é única pela perfeita harmonia que houve entre a natureza divina e a natureza humana. Há daqueles que acreditam que era a vontade divina, e há daqueles que acreditam que era a vontade humana. Porém, a doutrina ortodoxa se mantém na doutrina do duotelismo, que ensina que Cristo tinha as duas vontades naturais, a divina e a humana, porém a humana era submissa à divina.

REFERÊNCIAS:
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BÍBLIA, Português. Bíblia Apologética de Estudo. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2° Edição. São Paulo: ICP, 2000, 1663 p.
BLOMBERG, Craig. L. Jesus e os evangelhos: uma introdução ao estudo dos 4 evangelhos. Tradutor Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 556.
BRUCE, F. F. João: Introdução e comentário. Tradutor Hans Udo Fiechs. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1987, p. 355.
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FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, 1218 p.
MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã. Tradutora Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2005, 659 p.
MORELAND, J.P; WILLIAM, Lane Craig. Filosofia e cosmovisão cristã. Tradutor Emirson Justino. São Paulo: Vida Nova, 2000, 790 p.
NETO, Antônio Lazarini. Apostila de Novo Testamento IV: Literatura Joanina e Petrina. Faculdade Teológica Batista de Campinas, 2005, p. 50 (material não publicado).
OSCAR, Cullman. Cristologia do Novo Testamento. Tradutores Daniel Costa e Daniel Oliveira. São Paulo: Líber, 2001, 440 p.
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RUSCONI, Carlo. Dicionário do Novo Testamento. 2° Edição. São Paulo: Paulus, 2003, 540 p.
SCHREINER, Josef; DAUTZENBERG, Gerhard. Forma e exigência do Novo Testamento. Tradutor Benôni Lemos. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 535.
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BRITO, Antônio Roberto. Heresias Primitivas. Disponivel em:
http://www.cacp.org.br/seitasdiversas/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=420&menu=8&submenu=1

NOTAS:
[1] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487 – 488.
[2] Não é a proposta do presente estudo mostrar as defesas contra essas heresias que foram feitas durante a época em que elas nasceram.
[3] MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 412.
[4] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487.
[5] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 289.
[6] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 274.
[7] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 277.
[8] COLIN, Brow; LOTHAR, Coenen. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000,  p. 280.
[9] BRITO, Antônio Roberto. Heresias Primitivas. Disponivel em: 
http://www.cacp.org.br/seitasdiversas/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=420&menu=8&submenu=1
[10] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 487.
[11] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 288.
[12] [12] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 64 – 65.
[13] TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Editora: ASTE, 2007, p. 81.
[14] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 488.
[15] FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 488.
[16] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 288.
[17] TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Editora: ASTE, 2007, p. 87.
[18] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 399 – 400.
[19] RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004,  p. 397 – 398.


AS HERESIAS DURANTE A HISTÓRIA
Estava prestes a acontecer.
Ao longo da História Cristã, homens sinceros têm frequentemente se encontrados no lado errado da verdade. Sabemos que em um mundo onde a verdade objetiva de fato existe, cada um de nós tem a obrigação de fazer o melhor possível para encontrar esta verdade e compartilhá-la com os outros, especialmente se a verdade que cremos é verdadeiramente uma cura para aquilo que aflige o mundo. Esta é a natureza da Afirmação Cristã; como Cristãos asseguramos não somente aquilo que cremos ser verdade sobre a natureza de Deus, mas também o que cremos ser verdade sobre a natureza daquilo que nos salva da morte. Se o que cremos ser verdade for de REALMENTE verdade, devemos compartilhá-lo com o mundo que está morrendo.

Muitos CATÓLICOS sinceros têm sido menos que cuidadosos sobre as afirmações Cristãs sobre a verdade que são descritas na Bíblia. CISTÃOS  sinceros têm sido sinceramente errados ao passo que estes têm deturpado as escrituras por uma ou outra razão. HERESIA é simplesmente a deturpação da Bíblia que leva à um FALSO entendimento sobre o que está sendo ensinado pelas Escrituras. Pedro escreveu e nos disse que aqueles que têm sido CUIDADOSOS em sua interpretação da Bíblia têm chagado à uma correta e verdadeira interpretação das Escrituras:
    1 Pedro 1:10-11
    Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a  Leva mais do que a sinceridade para ser correto; leva estudo CUIDADOSO.
A história nos têm mostrado que crentes sinceros estão frequentemente errados. Mas mais do que isto, havia muitas ocasiões na história quando homens havia deixado os seus próprios desejos guiá-los à alterar a verdade para satisfazer a natureza da base destes. Em essência, muitos têm simplesmente mentido para servir a si mesmos. Paulo, na verdade, nos advertiu que isto aconteceria. Veja o que Paulo escreveu para Timóteo:

    2 Timóteo 4:3-4

    Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.

Então, vamos ver algumas das formas históricas que os homens tem alterado ou mal entendido as afirmações Cristãs sobre a Verdade em relação à natureza de Deus o Pai, Jesus o Seu Filho, a Família de Deus, e a Natureza do Homem.
Lembre-se de que estas distorções são o resultado de esforços sinceros que foram menos que dos cuidadosos ou esforços insinceros que refletem os desejos dos homens que “voltaram às fábulas”.

Heresias Relacionadas à Natureza de Deus

Ao longo dos séculos, os crentes têm lutado para entender a natureza triuna de Deus. A pesar de tudo, Deus é consistentemente descrito como sendo “UM” em natureza, contudo, Deus o Pai, Jesus e o Espírito Santo são todos descritos como tendo a mesma natureza e são atribuídas às mesmas características. Aqui estão algumas das deturpações de como as três pessoas da Trindade existe em um Ser Divino, ou sobre como o Deus do Velho Testamento pode ser reconciliado com o Deus descrito no Novo Testamento:

O Marcionismo (2º Século)

Essa heresia rejeitou todo o Velho Testamento e ensinou que o Cristianismo era algo que foi completamente distinto do Judaísmo. Os marcionitas não tinham nenhum amor para o Deus do Velho Testamento e eles seguiram a sugestão de seu líder ao rejeitar todos os Evangelhos, menos o Evangelho de Lucas, e até mesmo este Evangelho havia sido redigido para omitir qualquer conexão ao Judaísmo. Os marcionistas acreditavam que o Deus do Velho Testamento era um Deus de Ira e julgamento que não podia ser reconciliado com o Deus de misericórdia descrita no Novo Testamento.

Líder(es) nesta heresia:

Marcião de Sinope em Roma (110 – 160AD)

Corretor(es) desta heresia:

Tertuliano escreveu um tratado de cinco livros contra a heresia chamada “Adversus Marcionem”.

Monarquianismo (2º e 3º Século)

Essa heresia é derivada das palavras gregas “mono” (“um”) e “arche” (“regra”). Esta heresia ensinava que havia somente um Deus e Ele existe como uma pessoa, o Pai. O monarquianismo ensina que ou o Pai é Deus e que o Filho (Jesus) é somente um homem (Monarquianismo Dinâmico), ou que o Pai, o Filho, e o Espírito Santo nunca estão presentes ao mesmo tempo. Ao invés, eles são simplesmente diferentes ‘modos’ do mesmo Deus (Monarquianismo Modal).

Líder(es) desta heresia:

Theodotians (190 AD) e Paulo de Samosata, Bispo da Antióquia na Síria (260 AD) ensinavam o Monarquianismo Dinâmicom e Praxeas (200 AD), um sacerdote romano da Ásia Menor, ensinava Monarquianismo Modal.

Corretor(es) da heresia:

Tertuliano escreveu contra esta heresia em seu folheto “Adversus Praxean” (213 AD)

Sabelianismo (3º Século)

Essa heresia, uma forma do Monarquianismo modalístico, ensinou que Deus o Pai, Jesus o Filho e o Espírito Santo são diferentes modos [ou modalidades] de um só Deus (em relacionamento com o homem), ao invés de três pessoas distintas (na realidade objetiva). Não acreditava-se que Jesus Cristo e Deus o Pai eram pessoas distintas, mas sim dois aspectos ou ofícios de uma só pessoa.

Líder(es) desta heresia:

Sabellius, um sacerdote romano e teólogo (215 AD?)

Corretor(es) desta heresia:

Tertuliano e Demetrius (Patriarca da Alexandria) escreveu contra a heresia

Maniqueísmo (3º Século)

Essa heresia é uma fusão de vários sistemas religiosos do mundo, incluindo o Cristianismo Gnóstico, Budismo e Zoroastrismo. É uma forma de dualismo religioso em que propõe que há dois princípios eternos, o bem e o mal, e estes são iguais em poder. Era parecido com o Gnosticismo em que esta afirmava que o gnosis poderia ser descoberto intelectualmente ou como era revelado por mensageiros como Buda, Jesus e Mani (o criador desta heresia). Jesus não é Deus, ele é somente outra fonte de gnosis. Mani declarou ser um discípulo e apostolo de Jesus e disse que ele era o “Paraclete” (o ‘consolador’ ou ‘ajudador’) que Jesus tinha prometido.

Líder(es) desta heresia:

Mani, da Babilônia (210-276 AD)

Corretor(es) desta heresia:

Imperador romano Teodósio I declarou que isto era herético e Agostinho de Hippo (que certa vez era um maniqieísta) escreveu contra isto.

Socinianismo (Século 16 e 17)

Esta heresia rejeitava a natureza triuna de Deus. Esta afirmava que Deus era um e que o Espírito Santo era simplesmente o poder de Deus. Rejeitava a pré-existência de Jesus, a Sua encarnação e deidade (esta heresia ensinava que Jesus era somente um homem que era deificado e, portanto, merecia adoração por ser um deus menor). De acordo com esta heresia, Jesus não nos salvou na cruz, mas [a Sua morte] simplesmente serviu como um exemplo de auto-sacrifício para todos nós.

Líder(es) desta heresia:

Laelius Socinus (morreu 1562 AD) e Faustus Socinus (morreu 1604 AD)

Corretor(es) desta heresia:

Outra forma de Psilantropismo (ensinamento que prega que Jesus foi meramente um homem); heresias como o socinianismo foram condenadas no Primeiro Conselho de Nicéia em 325 AD.

Heresias relacionadas à natureza de Jesus

Os crentes também têm lutado para entender a natureza de Jesus. A Bíblia descreve-O como tendo todo o poder de Deus, e o Evangelho de João nos diz que Ele existia antes que o universo começou (Ele é, de fato, o CRIADOR do universo). Ao mesmo tempo, vemos na Bíblia que Jesus era completamente humano e morreu na cruz. Aqui estão algumas más interpretações clássicas e históricas sobre a natureza de Jesus, o Deus-Homem, totalmente divino e totalmente humano:

Adocionismo (2º Século)

Esta heresia nega a pré-existência de Cristo e, portanto, nega a Sua divindade. Esta ensina que Jesus era simplesmente um homem que foi testado por Deus e depois que passou no teste. Ele recebeu poderes sobrenaturais e adotado como filho (isto aconteceu em Seu batismo). Jesus foi então recompensado por tudo o que Ele fez (e por Seu caráter perfeito) com a Sua própria ressurreição e adoção na Trindade.

Líder(es) desta heresia:

Teodoro da Bizantina

Corretor(es) desta heresia:

Papa Victor (190-198 AD)

Docetismo (2º século)

Esta heresia é cunhado da palavra grega “dokesis”, que significa “parecer”. Esta ensinava que Jesus apenas parecia ter um corpo e não era encarnado. Os docetistas viam a matéria como inerentemente má, e, portanto, não queria acreditar que Deus poderia realmente aparecer em forma corpórea. Ao negar que Jesus realmente não tinha um corpo, eles também negaram que Ele sofreu na cruz e ressuscitou dos mortos.

Líder(es) desta heresia:

Atribuído aos gnósticos e promovido pelo Evangelho de Pedro

Corretor(es) desta heresia:

Ignatius de Antíoca, Irenaeus, e Hippolytus refutaram-na. Esta heresia foi condenada no Conselho de Calcedon em 451 AD.
Apolinarianismo (4º século)
Esta heresia negava a humanidade verdadeira e completa de Jesus porque esta ensinava que Ele não tinha uma mente humana, mas, em vez disto, tinha uma mente que era completamente divina. A heresia diminuída a natureza humana de Jesus a fim de conciliar a maneira pela qual Jesus podia ser Deus e homem ao mesmo tempo.
Líder(es) desta heresia:
Appollinaris, o Mais Novo (bispo da Laodicéia na Síria), 360 AD
Corretor (es) desta heresia: O Conselho de Constantinopla em 381 AD.
Arianismo (4º século)
Esta heresia ensinava que Jesus era uma “criatura” que foi “gerada” do Pai. Só Deus o Pai é “não-gerado”. Nesta perspectiva, só o Pai é verdadeiramente Deus. Ele era muito puro e perfeito para aparecer aqui na terra, então Ele criou o Filho como Sua primeira criação. O filho, então, criou o universo. Deus, então, adoptou Jesus como filho (porque, afinal de contas, Jesus e Deus não são suposto ter a mesma natureza neste ponto de vista). Jesus é adorado apenas por causa de Sua proeminência como a primeira criação.
Líder(es) desta heresia:
Arius de Alexandria, Egypt (250-336 AD)
Corretor(es) desta heresia:
O Concelho de Niceia em 325 AD. O Credo de Niceia foi escrito para responder a esta heresia.
Nestorianismo (5º século)
Esta heresia ensinava que Maria somente deu à luz a natureza humana de Jesus. O fundador desta heresia, Nestório, nem queria que Maria fosse chamada de “Mãe de Deus”, mas ao invés, queria que ela fosse chamada de “Mãe de Cristo”. Em essência, a heresia sustentava que Jesus era, na verdade, duas pessoas distintas, e somente o Jesus humano estava no ventre de Maria. Se isto fosse verdade, então Jesus não era Deus encarnado quando estava no ventre.
Líder(es) desta heresia:
Nestório de Antioquia (Bispo de Constantinopla em 428 AD)
Corretor(es) desta heresia:
O Conselho de Efésios em 431 AD
Eutiquianismo [monofisitismo] (5º século) glória que se lhes havia de seguir.
As Heresias Cristológicas e Trinitárias


D. ESTEVÃO BETTENCOURT, OSB


Após verificar que o Filho de Deus é verdadeiro Deus com o Pai e o Espírito Santo, a atenção dos teólogos devia voltar-se mais detidamente para a questão: como Jesus pode ser autêntico Deus e autêntico homem? Como se relacionam entre si a Divindade e a humanidade de Jesus? A resposta a estas perguntas exigiu grande esforço por parte dos estudiosos, que a formularam em quatro etapas:
1) a fase apolinarista;
2) a fase nestoriana;
3) a fase monofisita;
4) a fase monotelita.

A seguir, estudaremos as três primeiras destas etapas.
1) O Apolinarismo
Em plena controvérsia ariana, o Bispo Apolinário de Laodicéia (Síria), 310-390, mostrava-se fervoroso defensor do Credo niceno contra os arianos, mas afirmava que em Cristo a natureza humana carecia de alma humana; tomava ao pé da letra as palavras de S. João 1,14: “O Lógos se fez carne”, entendendo carne no sentido estrito, com exclusão de alma. O Lógos de Deus faria as vezes de alma humana em Jesus, isto é, seria responsável pelas funções vitais da natureza humana assumida pelo Lógos.
Os argumentos em favor desta tese eram os seguintes: duas naturezas completas (Divindade e humanidade) não podem tornar-se um ser único; se Jesus as tivesse, Ele teria duas pessoas ou dois eu - o que seria monstruoso. Além disto, dizia, onde há um homem completo, há também o pecado; ora o pecado tem origem na vontade; por conseguinte, Jesus não podia ter vontade humana nem a alma espiritual, que é a sede da vontade.
Apolinário expôs suas idéias no livro “Encarnação do Verbo de Deus”, que ele apresentou ao Imperador Joviano e que os seus discípulos difundiram. - Foram condenadas num sínodo de Alexandria em 362; depois, pelo Papa S. Dâmaso em 377 e 382 e, especialmente, pelo Concílio de Constantinopla I (381). Verificando a oposição que lhe faziam bons teólogos, Apolinário limitou-se a negar a presença de mente (nous) humana em Jesus. S. Gregório de Nissa († 394) e outros autores lhe responderam mediante belo princípio: “O que não foi assumido pelo Verbo, não foi redimido” - o que quer dizer: Deus quer santificar e salvar a natureza humana pelo próprio mistério da Encarnação ou pela união da Divindade com a humanidade; se pois, a humanidade estava mutilada em Jesus, ela não foi inteiramente salva.
Em Antioquia, fundou-se uma comunidade apolinarista, tendo à frente o Bispo Vital. Por volta de 420 esta foi reabsorvida pela Igreja ortodoxa, mas nem todos os seus membros abandonaram o erro, que reviveu, de certo modo, na heresia monofisita.

2) O Nestorianismo.
Afirmada a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como humanidade e Divindade se relacionaram em Cristo. Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas principais escolas teológicas da antigüidade: a alexandrina e a antioquena, que muito influíram na elaboração da Cristologia.
A escola alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava exaltar o divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a S. Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos nas Sagradas Letras. Em assuntos cristológicos, portanto, era inclinada a realçar o divino, com detrimento do humano. Ao contrário, a escola antioquena era mais dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino. Interpretava a S. Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era mais racional, ao passo que a de Alexandria era mais mística.
Dito isto, voltemos à história do dogma cristológico. A primeira tentativa de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal de Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas, em Jesus - uma divina e outra humana - unidas entre si por um vinculo afetivo ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS. Trindade com a sua Divindade.
Nestório propunha suas idéias em pregações ao povo, nas quais substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo”. As suas concepções suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde S. Cirilo era Bispo ardoroso. Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório. As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S. Cirilo para que intimasse Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo enviou ao Patriarca de Constantinopla uma lista de doze anatematismos que condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de mais a mais que podia contar com o apoio do Imperador; além do mais, tinha muitos seguidores na escola antioquena, entre os quais o próprio Bispo João de Antioquia.
Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. S. Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembléia diante de 153 Bispos. Logo na primeira sessão, foram apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, isto é, a 26/06/431 chegou a Éfeso o Patriarca Jogo de Antioquia, com 43 Bispos seus seguidores, todos favoráveis a Nestório; não quiseram unir-se ao Concílio presidido por S. Cirilo, representante do Papa; por isto formaram um conciliábulo, qual depôs Cirilo.
O Imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo então mobilizou todos os seus recursos, para mover Teodósio II em favor da reta doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã mais velha do Imperador. Este finalmente apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia os antioquenos não se renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a apolinarismo. Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de acordo sobre uma fórmula de fé que professava um só Cristo e Maria como Theotókos. O Nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram procurar refúgio na Pérsia, onde fundaram a Igreja Nestoriana.
Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do século XIV em diante foi definhando por causa das incursões dos mongóis; em grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão da Igreja universal (são hoje os cristãos caldeus e os cristãos de São Tomé). Em nossos dias muitos estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece ser autor de uma apologia intitulada “Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-se crer que tenha tido reta intenção; mas certamente sustentou posições errôneas por se ter apegado demasiadamente à Escola Antioquena.

3) O Monofisismo
A luta contra o Nestorianismo, que admitia em Jesus duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é o monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”). O primeiro arauto desta tese foi Eutiques, arquimandrita de Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza divina e da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em Jesus: a divina.
Esta doutrina tornou-se a heresia mais popular e mais poderosa da antigüidade, pois, para os orientais, a divinização da humanidade em Cristo era o modelo do que deve acontecer com cada cristão. Eutiques foi condenado como herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o Patriarca Flaviano. Todavia não cedeu e reclamou contra uma pretensa injustiça, pois tencionava combater o Nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da corte. Solicitado pelo Patriarca Dióscoro de Alexandria, Teodósio II Imperador convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso, confiando a presidência do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Estiques. Dióscoro, tendo aberto o Concílio negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a Carta do Papa S. Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas em Cristo não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua atividade própria em comunhão com a outra; assim Cristo teve realmente fome, sede e cansaço, como homem, e pôde ressuscitar mortos como Deus. - Esse Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, Patriarca de Constantinopla, e outros Bispos contrários à tese monofisita... Todavia os seus decretos foram de curta duração. Os Bispos de diversas regiões o repudiaram como ilegítimo ou, segundo a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo Concílio que de fato foi convocado após a morte de Teodósio II pela Imperatriz Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general Marcião, que em 450 foi feito Imperador e se casou com Pulquéria.
O novo Concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da antigüidade, pois dele participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais. A assembléia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu de base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do Nestorianismo e do Monofisismo, propondo em Cristo uma só pessoa e duas naturezas: “Ensinamos e professamos um Único e idêntico Cristo... em duas naturezas, não confusas e não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas propriedades e se uniu com a outra numa Única pessoa e numa Única hipóstase”.
Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade da Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza e uma só pessoa, pois Cristo agiu como verdadeiro homem, sujeito à dor e à morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois, uma só pessoa (um só eu) divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na terra agindo ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o seu eu divino.
O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do monofisismo. Além da atração que esta doutrina exercia sobre os fiéis (especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo como modelo, motivos políticos explicam essa persistência da heresia; com efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no Monofisismo a expressão de suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo e à dominação bizantina. Por isto os monofisitas continuaram a lutar contra o Imperador, que havia exilado Dióscoro e Eutiques e ameaçado de punição os adeptos destes: ocuparam sedes episcopais; inclusive a de Jerusalém (ao menos temporariamente).
No século VII a situação se agravou, pois os muçulmanos ocuparam a Palestina, a Síria e o Egito, impedindo a ação de Bizâncio em prol da ortodoxia nesses países. Em conseqüência, os monofisitas foram constituindo Igrejas nacionais: a armena, a síria, a mesopotâmica, a egípcia e a etíope, que subsistem até hoje com cerca de 10 milhões de fiéis. No Egito, os monofisitas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra grega Aigyptos (g ou k, p, t ); são os antigos egípcios. Os ortodoxos se chamam melquitas (de melek, Imperador), pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada pelo Imperador em Calcedônia. Há coptas que se uniram a Roma em 1742, enquanto os outros permanecem monofisitas, mas professam quase o mesmo Credo que os católicos.
Na Abissínia os monofisitas também são chamados coptas pois receberam forte influência do Egito. "Dentre os melquitas, grande parte aderiu ao cisma bizantino, separando-se de Roma em 1054; certos grupos, porém, estão hoje unidos à Igreja universal. Na Síria e nos países vizinhos, os monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros chefes: Jacó Baradai (=o homem da coberta de cavalo, alusão às suas vestes maltrapilhas). Jacó, bispo de Edessa (541-578), trabalhou com zelo e êxito para consolidar as Comunidades monofisitas, as quais deu por cabeça o Patriarca Sérgio de Antioquia (544). A história das disputas cristológicas prosseguirá no capítulo seguinte.


As Heresias Cristológicas II

D.  Estêvão  Bittencour, OSB 

Continuemos a estudar as heresias cristológicas no intuito de compreender melhor a sutileza da disputa e a ação do Espírito de Deus através das vicissitudes humanas.

4) O Henotikón e o Teopasquismo
Vinte e cinco anos após o Concílio de Calcedônia, em 476, deu-se nova investida dos monofisitas contra a ortodoxia. Com efeito; os Patriarcas Pedro Mongo, de Alexandria, e Acácio de Constantinopla, adeptos do monofisismo, redigiram um Símbolo de fé que condenava tanto Nestório quanto Eutiques; rejeitava o Concílio de Calcedônia e afirmava que as normas de fé deveriam ser o símbolo niceno-constantinopolitano e as definições do Concílio de Éfeso (431). Tal fórmula de 476 podia ser interpretada de diversas maneiras. O Imperador Zenão promulgou esse símbolo de fé, dito Henotikón (Edito de União), com o vigor de lei do Estado. Assim esperava atingir a unidade religiosa dentro do Império.
Infelizmente, porém, causou mais acesas divisões. Muitos católicos e os monofisitas mais extremados recusaram obedecer ao Imperador por causa da ambigüidade do Henotikón. Ao saber das manobras do Imperador, o Papa Félix III enviou legados a Constantinopla para pedir a Zenão, e ao Patriarca Acácio fidelidade ao Concílio de Calcedônia. Como fossem vãs essas solicitações, o Papa resolveu depor Acácio, Patriarca de Constantinopla. Tal medida era muito grave, pois significava ruptura com os cristãos orientais em geral e com o Imperador, que os queria dirigir no sentido do monofisismo. O Papa, porém, foi corajoso no cumprimento do dever de preservar a reta fé.
A ruptura durou 35 anos (484-519). Foi chamada “cisma acaciano”, durante o qual o monofisismo se propagou amplamente entre os orientais. Zenão morreu em 491, tendo por sucessor o Imperador Anastásio (491-518), também simpático aos monofisitas. Por isto, as conversações que o Papa encaminhou com o monarca, foram infrutíferas. A situação se tornou ainda mais sombria por causa da questão teopasquita. Com efeito; a liturgia grega cantava a Triságion (três vezes santo) nos seguintes termos: “Santo (hágios) Deus, Santo Forte, Santo imortal, tem piedade de nós”. Ora o bispo monofisita Pedro Fulão de Antioquia acrescentou-lhe as palavras “que foste pregado na cruz por cause de nós”.
O Imperador Anastásio mandou recitar a fórmula ampliada em Constantinopla; donde resultou grande agitação. Diziam alguns monges e fiéis: “Um da Santíssima Trindade padeceu na carne”; foram chamados teopasquitas. A fórmula em foco podia ser entendida segundo a ortodoxia: a segunda Pessoa da SS. Trindade, tendo-se feito homem, padeceu na carne de Jesus. Mas, como a origem desses dizeres era monofisita, os ortodoxos desconfiaram dos mesmos, de mais a mais que os monofisitas lhes favoreciam calorosamente. Morto o Imperador Anastásio, sucedeu-lhe Justino (518-527), que se empenhou por restabelecer a comunhão com a Sé de Roma. O Papa Hormisdas (514-523) acolheu o propósito de Bizâncio e mandou legados a esta cidade com uma fórmula de união dita “Livro da Fé do Papa Hormisdas”: esta proclamava o símbolo de fé calcedonense e as cartas dogmáticas de Leão Magno; renovava o anátema sobre Nestório, Eutiques, Dióscoro e outros chefes monofisitas; além disto, declarava que, conforme a promessa de Cristo a Pedro em Mt 16,16-19, a fé católica se conservava intacta na Sé de Roma; por isto os fiéis deviam obediência às decisões tomadas por esta.
Era assim professado o primado do Papa em 515. O Patriarca João II, de Constantinopla, os bispos e os monges presentes nesta cidade assinaram tal fórmula. Estava terminado o cisma. O monofisismo perdeu muito da sua voga, mas as controvérsias continuaram.
5) Os Três Capítulos
O Imperador Justiniano (527-565) foi homem de grande ideal, que tencionou dar ao Império um período de fausto como não o tivera até então. Era, ao mesmo tempo, prepotente, de modo que exerceu forte cesaropapismo. Compreende-se então que as controvérsias teológicas tenham merecido sua zelosa atenção. O Imperador, querendo conciliar os ânimos, só fez provocar maiores tumultos. O bispo Teodoro Asquida de Cesaréia, muito influente na corte, sugeriu ao Imperador que condenasse três nomes de autores antioquenos tidos como inspiradores do nestorianismo; dizia que bastaria essa medida para obter a volta dos monofisitas: A comunhão da Igreja Universal.
Esses três nomes constituíram Três Capítulos, a saber: 1) Teodoro de Mopsuéstia († 428), sua pessoa e seus escritos; 2) os escritos de Teodoreto de Ciro († 458) contra Cirilo e o Concílio de Éfeso; 3) a carta do bispo Ibas de Edessa († 435) ao bispo Mário de Ardashir em defesa de Teodoro de Mopsuéstia e contra os anatematismos de Cirilo. O Imperador acolheu a proposta e publicou um edito que anatematizava os Três Capítulos em 543. Este decreto dividiu os ânimos, pois não se viam claramente os erros pretensamente cometidos pelos três autores. Justiniano, porém, obrigou o Patriarca Menas e os bispos orientais a assinar o anitema.
Os ocidentais deviam seguir-lhes o exemplo, tendo o Papa Vigilio à frente. Este relutou; por isto o Imperador mandou buscá-lo de Roma para Constantinopla. Um ano após sua chegada, Vigílio em 548 escreveu o ludicatum, em que condenava os Três Capítulos, ressalvando, porém, a autoridade do Concílio de Calcedônia. O gesto do Papa causou indignação entre os ocidentais, principalmente no Norte da África, pois era uma estrondosa vitória do cesaropapismo. Em conseqüência, o Papa e o Imperador em 550 decidiram convocar um Concílio Ecumênico para resolver o caso; entrementes nenhuma inovação seria praticada. Todavia em julho de 551 Justiniano repetiu o anátema sobre os Três Capítulos - o que provocou ruptura com o Papa Vigílio, que teve de procurar asilo em igrejas de Constantinopla e Calcedônia.
A respeito do Concílio, o Papa e o Imperador já não concordavam entre si. Por isto Justiniano convocou o Concílio por sua exclusiva iniciativa. Reunido sob a presidência de Eutíquio, novo Patriarca de Bizâncio, renovou a condenação dos Três Capítulos (maio e junho de 553). Vigílio então em 13/05/553, no decurso do próprio Concílio, publicou o Constitutum que se opunha à condenação dos Três Capítulos. Justiniano não aceitou a nova posição do Papa e mandou cancelar o nome de Vigílio nas orações da Liturgia. Finalmente, sob o peso das pressões e da doença, o Papa em dezembro de 553 retirou o seu Constitutum e aderiu às decisões do Concílio de Constantinopla de 553. Num segundo Constitutum de 23/02/554, expôs as razões da sua atitude. Em conseqüência, o Imperador permitiu-lhe voltar para Roma; todavia morreu em viagem (555). Era vítima da sua inconstância de caráter.
Os Papas que lhe sucederam, a começar por Pelágio I (556-561), reconheceram o Concílio de 553 como ecumênico; é o de Constantinopla II. As dioceses do Ocidente aos poucos também o foram reconhecendo, embora tivessem consciência de que significava uma humilhação para o Papado. Notemos que as hesitações do Papa Vigílio não versavam sobre assuntos de fé propriamente dita, mas sobre a oportunidade ou não de se condenarem três nomes de escritores antigos. "O episódio também é interessante por evidenciar quanto era prestigiada a Sé Romana; o Imperador quis absolutamente ganhar o consenso do Papa Vigílio; por isto mandou buscá-lo em Roma e pressionou-o repetidamente para que subscrevesse ao decreto imperial, como se este precisasse da assinatura do Papa para ser válido.

6) Monergetismo e monotelitismo
Os monofisitas insistiam em se auto-afirmar. Por isto a heresia reapareceu no século VII sob nova forma. O Patriarca Sérgio de Constantinopla desde 619 ensinava que em Jesus havia uma só enérgeia ou uma só capacidade de agir (monergetismo); a capacidade humana estaria absorvida na divina e não teria suas expressões naturais. O Imperador Heráclio (610-641) aceitou a nova fórmula e conseguiu assim reconciliar grupos monofisitas com o Império.
Todavia o monge palestinense Sofrônio resolveu resistir à nova doutrina, denunciando-a como monofisismo velado. O Patriarca Sérgio de Constantinopla deixou então de falar de uma só faculdade operativa, para afirmar uma só vontade (a Divina tendo absorvido a humana) em Jesus (monotelitismo). Muito habilmente Sérgio tentou ganhar os favores do Papa Honório I (625-638); este, tendo recebido informações unilaterais, escreveu duas cartas ao Patriarca de Constantinopla, em que aderia genericamente à sua posição, embora não compartilhasse propriamente nem o monergismo nem o monofisismo; para evitar escândalos ordenava que não se falasse de uma ou duas energias.
Levando adiante a causa de Sérgio, o Imperador Heráclio em 638 promulgou a profissão de fé dita “Ectese”, redigida pelo Patriarca, que reafirmava o monotelitismo. Os bispos orientais a aceitaram quase unanimemente, ao passo que os sucessores do Papa Honório (morto em 638) a condenaram.
O Imperador Constante II (641-648), sobrinho de Heráclio, retirou a “Ectese”, mas, aconselhado pelo Patriarca Paulo de Constantinopla, publicou novo edito dogmático, chamado Typos, em 648, que proibia falar de uma ou duas vontades em Cristo. O monarca tencionava assim pôr fim à contenda. Ora no Ocidente o Papa Martinho I (649-653), percebendo a sutileza dos bizantinos, reuniu um Concílio no Latrão (Roma) em 649, o qual declarou que em Cristo havia dois modos de operar e duas vontades naturais, e puniu com a excomunhão os fautores das novas idéias. O Imperador, indignado, mandou prender o Papa e leva-lo para Constantinopla (653); aí foi humilhado como traidor e, por fim, exilado para a Criméia, onde morreu de maus tratos. Vários cristãos orientais foram tratados de modo semelhante por resistirem ao Imperador, merecendo especial destaque o abade São Máximo o Confessor, que foi cruelmente martirizado.
Constantino IV Pogonato (668-685), filho de Constante II, procurou a paz e, para tanto, decidiu convocar um Concílio Ecumênico, idéia que o Papa Agatão (678-681) aprovou com solicitude. Tal foi o sexto Concílio Ecumênico, o de Constantinopla III, celebrado de novembro de 680 a setembro de 681, com a presença de 170 participantes. Os conciliares elaboraram uma profissão de fé, que completava a de Calcedônia:
“Nós professamos, segundo a doutrina dos Santos Padres, duas vontades naturais e dois modos naturais de operar, indivisos e inalterados, inseparados e não misturados, duas vontades diversas, não, porém, no sentido de que uma esteja em oposição à outra, mas no sentido de que a vontade humana seque e se subordina à divina"
Isto quer dizer que em Jesus havia duas faculdades de querer - a divina e a humana - de tal modo, porém, que a vontade humana se sujeitava à divina, como atesta a oração no horto das Oliveiras, conforme Mc 14,36.
O Concílio condenou os defensores do monotelitismo e o próprio Papa Honório, tido como fautor de tal doutrina. A condenação de Honório suscitou longos debates entre historiadores e teólogos modernos. Na verdade, pode-se tranqüilamente dizer o seguinte:
O Papa Honório, intervindo na controvérsia, não quis proferir definições ex cathedra, nem quis discutir como teólogo. Unilateralmente informado por Sérgio, julgou que a discussão a respeito de uma ou duas vontades em Cristo era mero litígio de palavras, como estava nos hábitos dos bizantinos; por isto julgou que podia aprovar a posição de Sérgio sem afetar a reta fé. A expressão “uma vontade”, aliás, foi explicada pelo próprio Honório em sua carta a Sérgio, no sentido de conformidade do querer humano com o divino. Quanto às faculdades de operar (energeias), Honório esclareceu, seu ponto de vista referindo-se à epístola dogmática de São Leão a Flaviano, que diz: ambas as naturezas operam na única pessoa de Cristo, não misturadas, não separadas e não confusas, aquilo que é próprio de cada uma delas. Donde se vê que o juízo proferido sobre Honório pelo Concílio de 681 foi severo demais; a Sé de Roma nunca o aprovou integralmente.

As Heresias Trinitárias

D. Estêvão Bittencourt, OSB


Tendo estudado a expansão do Cristianismo até o século VI, passamos a considerar a história das doutrinas da fé na antigüidade. Um dos mais sérios problemas doutrinários que se puseram na Igreja antiga, foi o da conciliação da unidade de Deus (firmemente professada pelo Antigo Testamento) com a Trindade de Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo, tais como nos foram revelados pelo Novo Testamento). A inteligência dos cristãos se pôs à procura de uma fórmula satisfatória, que, após duras controvérsias, foi definida pelos Concílios de Nicéia I (325) e Constantinopla I (381). É a história dessa longa reflexão que vamos estudar.

7) O monarquianismo
Nos séculos II/III alguns escritores cristãos julgavam que o Verbo (Lógos) ou o Filho de Deus só se tornara pessoa no tempo; em vista da criação do mundo, o Pai teria gerado ou emitido o Lógos, de modo a constituir a segunda Pessoa da SS. Trindade - Esta concepção negava a eternidade do Filho de Deus e o subordinava ao Pai. Todavia os defensores dessa teoria afirmavam a Divindade do Filho, de modo que não suscitavam grave polêmica na sua época.
Podemos dizer que a primeira tentativa sistemática de conciliar unidade e pluralidade em Deus professava a unidade com detrimento da pluralidade. Chamou-se, por isto, monarquianismo, expressão derivada da exclamação: “Monarchiam tenemus. - Conservamos a monarquia” ( Tertuliano, Adversus Praxeam 3). Apresentava duas fórmulas:

8) O monarquianismo dinamista
O monarquianismo dinamista professou que Jesus era mero homem, o qual no momento do Batismo terá sido revestido de poder (dynamis) divino; foi, portanto, um homem adotado por Deus como Filho, com intensidade especial. O fundador desta corrente foi Teódoto de Bizâncio, cristão de notável cultura grega, que o Papa São Vítor excomungou (190). Os seus discípulos, Asclepiódoto e Teódoto o jovem, quiseram organizar uma comunidade própria, para qual nomearam um Bispo chamado Natal; este foi o primeiro antipapa, o qual, arrependido, tornou-se ao seio da Igreja. Tal corrente teve novo representante na pessoa de Paulo de Samosata, homem ambicioso. Este via em Jesus um mero homem no qual terá habitado “como num templo” o Logos ou a Sabedoria de Deus, que em escala menor habitava em Moisés e nos profetas. Um concílio regional reunido em Antioquia excomungou Paulo (268); mas os numerosos adeptos deste continuaram a professar a sua doutrina, de modo que o Concílio ecumênico de Nicéia teve que se ocupar com a escola dos paulanos (325).
É de notar que o mencionado Concílio de Antioquia em 268 rejeitou a afirmação de que o Filho ou Logos é da mesma substância ou natureza (homoousios) que o Pai. Ora precisamente esta expressão foi consagrada pelo Concílio de Nicéia I (325) como fórmula de fé. Para entender os fatos, devemos observar que Paulo de Samosata usava a palavra homoousios para significar que o Logos ou o Filho era uma só pessoa com o Pai.

9) Monarquianismo modalista
Esta corrente ensinava que o Filho era o próprio Pai ou uma modalidade pela qual o Pai se manifestava; por conseguinte, o Pai terá padecido na cruz (donde o nome patri, de pater, pai; passianismo, de passus, padecido).Tal doutrina, devida a Noeto de Esmirna, foi levada para Roma e Cartago (África), dando origem ao partido patripassiano, que muito agitou a comunidade de Roma. O Papa Zeferino (198-217), numa declaração oficial, afirmou a Divindade de Cristo e a unidade de essência em Deus, sem, porém, negar, como faziam os patripassianos, a diversidade de pessoas do Pai e do Filho.
O modalismo foi estendido por Sabélio, em Roma, ao Espírito Santo. Este pregador professava três revelações de Deus: uma, como Pai, na criação e na legislação do Antigo Testamento; outra, como Filho, na Redenção; e a terceira, como Espírito Santo, na obra de santificação dos homens. Designava cada uma dessas manifestações como prósopon, palavra grega que significava originariamente “máscara ou papel de ator de teatro“, visto que posteriormente prósopon significou também pessoa, a doutrina de Sabélio tornou-se ambígua e conquistou muitos adeptos, que de boa fé lhe aderiram sem querer negar a trindade de Pessoas em Deus. Como se vê, o grande problema consistia em afirmar a Trindade de Pessoas em Deus sem cair no triteísmo ou sem professar três deuses.
A controvérsia havia de arder por todo o século IV, envolvendo todas as camadas da população, desde o Imperador até os mais simples fiéis; a ingerência do poder imperial, que desde 313 era simpático ao Cristianismo, contribuiu para tornar difíceis e penosas essas discussões teológicas; elas assumiam, não raro, um caráter direta ou indiretamente político. A problemática suscitou na Igreja os esforços de numerosos santos e doutores, que, com seus talentos intelectuais e sua vida, colaboraram decisivamente para a reta formulação da fé cristã. O período áureo da literatura cristã está precisamente ligado às disputas teológicas.
Estudemos agora as controvérsias do século IV: Arianismo e semiarianismo. Rejeitando o monarquianismo dinamista e modalista, a lgreja afirmava sua fé em Cristo, Pessoa Divina e distinta do Pai. Todavia não estava explicada a maneira como se relacionam entre si o Filho e o Pai. No século IV muitos admitiram a Divindade do Filho, subordinando-o, porém, ao Pai; donde resultou a tese do subordinacionismo, que teve em Ário de Alexandria o seu principal arauto.

10) Arianismo
O presbítero Ário de Alexandria foi mais longe do que os pensadores anteriores: afirmava que o Filho é criatura do Pai, a primeira e a mais digna de todas, destinada a ser instrumentos para a criação de outros seres. Em virtude da sua perfeição, o Filho ou Logos poderia ser chamado “Filho de Deus”, como reza a tradição. O Bispo Alexandre de Alexandria reuniu um Sínodo local, contando cerca de cem Bispos, que condenaram a doutrina de Ário e dos seus seguidores em 318. A decisão foi comunicada a outros Bispos, inclusive ao Papa S. Silvestre. Ário, porém, conseguiu novos defensores para a sua causa o que tornou mais árdua a controvérsia. Diante dos fatos, o imperador Constantino, que em 324 vencera Licínio, tornando-se Onico senhor do Império, resolveu intervir: tinha como assessor teológico o santo Bispo Ósio de Córdoba (Espanha), que Constantino enviou a Alexandria para aproximar Ário do Bispo Alexandre; a missão, porém, fracassou.
Então Constantino resolveu convocar um Concílio ecumênico para Nicéia na Ásia Menor em 325, ao qual compareceram cerca de 300 Bispos, provenientes de todas as partes do mundo cristão; o Papa Silvestre, de idade avançada, mandou dois presbíteros seus representantes. As discussões foram longas e agitadas. Por fim, os padres conciliares redigiram o Símbolo de Fé de Nicéia, que afirmava ser o Filho “Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, consubstancial (homoousios) ao Pai; por Ele foram feitas todas as coisas”. A palavra homoousios torna-se, de então por diante, a senha da reta doutrina. Significava que o Filho é da mesma natureza (= Divindade) que o Pai; não saiu do nada como as criaturas, mas desde toda a eternidade foi gerado sem dividir a natureza divina.
O Imperador Constantino tomou aos seus cuidados a defesa do Concílio ecumênico de Nicéia. Exilou Ário e quatro Bispos que não queriam aceitar, na íntegra, definição do Concílio. Condenou às chamas os escritos de Ário; seria punido quem os guardasse às ocultas.

11 ) As divisões do Arianismo
lnfelizmente, porém, as controvérsias não terminaram. O termo homoousios parecia a alguns suspeito de sabelianismo ou de modalismo. Por isto alguns Bispos e monges puseram-se a combater o Concílio, apoiados pelos Imperadores Constâncio (337) e Valente (364-78), sucessores de Constantino. Do lado da ortodoxia, destacam-se: S. Atanásio, Bispo de Alexandria desde 328, que sofreu vários exílios; e o Papa Libério, que em 355 foi deportado pelo Imperador Constâncio; alguns historiadores antigos dizem que Libério conseguiu voltar à sua sede de Roma, subscrevendo uma fórmula de fé antinicena e deixando de apoiar S. Atanásio; se isto é verdade, deve-se à fraqueza humana, mas não se tratava de definição solene e sim de um pronunciamento pessoal que o Papa fazia.
De resto, sabe-se que Libério, uma vez retornado a Roma, combateu eficazmente o arianismo. Os antinicenos, com o respaldo do Imperador, julgaram-se vencedores, depondo Bispos e reunindo Concílios regionais. Acontece, porém, que se dividiram: tendo negado a identidade de substância entre o Pai e o Filho ou afirmaram uns que o Filho era semelhante (homoiousios) ao Pai, enquanto outros o tinham como dissemelhante (anhomoios). A controvérsia era alimentada também pela sutileza do linguajar; palavras próximas umas das outras tinham significados diferentes: assim homoousios e homoiousios; genetós (feito) e gennetós (gerado), Nikainon (de Nikaia, sede do Concílio ortodoxo de 325) e Nikenon (de Nike, sede de um Concílio herético).
Finalmente, após mais de cinqüenta anos de disputas ardentes, a ortodoxia foi prevalecendo, especialmente por obra dos três doutores da Capadócia (Ásia Menor): S. Basílio de Cesaréia († 379), S. Gregório de Naziano († 390) e S. Gregório de Nissa († 394). Estes elaboraram a fórmula grega: mía ousía kaí treis hypostáseis, uma essência (ou substância) e três pessoas, fórmula que exprimia fielmente o pensamento dos padres nicenos e o conteúdo da reta fé: há uma só Divindade, que se afirma três vezes ou em três Pessoas. O grande protetor da ortodoxia, no fim do século IV, foi o Imperador Teodósio (379´395), que, pouco depois de subir ao trono, convidou todos os habitantes do Império a aderir “aquela fé que professam Dâmaso em Roma e Atanásio em Alexandria”; mandou também entregar as igrejas de Constantinopla aos católicos. O Concílio Ecumênico de Constantinopla I (381) havia de consolidar a proclamação da reta fé contra o arianismo. Isto, porém, não quer dizer qual tal heresia se tenha extinto logo; várias tribos germânicas, entrando dentro das fronteiras do Império, foram evangelizadas por arianos, de modo que abraçaram o Cristianismo ariano sob forma de religião nacional. Resta agora estudar a discussão relativa ao Espírito Santo.

12) O Macedonianismo
O Espírito Santo, embora atestado por numerosos textos bíblicos (como Jo 14-16), foi menos considerado no decorrer do século IV. É certo, porém, que quem julgava ser o Filho criatura do Pai tinha o Espírito Santo na conta de criatura do Filho; seria um dos espíritos servidores (cf. Hb 1,14), diferente dos anjos apenas por gradação. S. Atanásio, ao combater o arianismo, defendia também a divindade e a consubstancialidade do Espírito Santo. Por isto, um sínodo de Alexandria em 362 reconheceu a Divindade do Espírito Santo.
Isto, porém, não bastou para dissipar os erros: Macedôneo, Bispo ariano de Constantinopla deposto em 360, era ferrenho adversário da Divindade do Espírito, reunindo, em torno de si bom número de discípulos, que se chamavam macedonianos ou pneumatômacos (pneuma = espírito; máchomai = combater). Vários Sínodos rejeitaram a doutrina de Macedônio; o mesmo foi feito pelos padres capadócios. Mas o pronunciamento definitivo se deve ao Concílio de Constantinopla I realizado em 381: 150 padres ortodoxos, depois do afastamento de 36 macedonianos, condenaram o macedonianismo e, para explicitar claramente a fé ortodoxa, retomaram o artigo 32 do Símbolo de fé niceno, que rezava apenas: “Cremos no Espírito Santo”; foram-lhe acrescentadas as palavras: “Senhor e Fonte de Vida, que procede do Pai (cf. Jo 15,26), adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho, e falou pelos Profetas”.
Assim teve origem o Símbolo de fé niceno-constantinopolitano, que refuta tanto a heresia ariana quanto a macedônia. Restava, porém, dirimir ainda uma dúvida: se o Espírito procede do Pai, como se relaciona com o Filho? A resposta foi diversa no Oriente e no Ocidente; todavia a diversidade consiste mais na formulação do que na própria doutrina. Os gregos, desde o século IV afirmam que o Espírito procede do Pai através do Filho, ao passo que os latinos ensinam que procede do Pai e do Filho (Filioque). Na Espanha o Filioque foi inserido no Credo niceno-constantinopolitano em 589 e oficialmente recitado, passando depois para outras regiões de língua latina. Os gregos se recusam a aceitar tal inserção, que se tornou pomo de discórdias nos séculos IX-XI.
Atualmente as dificuldades vão sendo superadas, pois em última instância se trata mais de palavras do que de conteúdo.




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