terça-feira, 21 de maio de 2019

PADRE NILSON REIS MENDES - UM LINDO TEXTO EM HOMENAGEM AO SACERDOTE QUE NÃO SÓ FUNDOU UMA PARÓQUIA MAS, REESTRUTUROU UM BAIRRO INTEIRO



Introdução:

Encontrei este texto de Vinícios Borges, no Facebook, postando por um amigo e cujo, fala da vida e trajetória de um ser humano formidável que é o Revmo. Pe. Nilson Reis Mendes, hoje padre emérito da Paróquia São Sebastião, da Diocese de Oliveira. Um homem de um coração enorme que fundou não só a Paróquia mas, que reestruturou toda uma comunidade.
Pe. Nilson é exemplo para muitos jovens que seguiram a vocação sacerdotal e religiosa e da sua Paróquia saiu jovens para o sacerdócio inspirados com certeza no seu exemplo de vida.
Este mesmo escritor deste Blog e cujo ele foi formador para a catequese e depois para o trabalho como evangelizadores. Não há como não reconhecer a grande pessoa e a enorme contribuição deste que sem dúvida merece ser lembrado não só uma mas, muitas vezes no coração dos seus paroquianos.


Elmando Toledo 


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O PADRE LÁ DO ALTO

"Tudo posso naquele que me fortalece" - Fl 4, 13



Texto de: Vinicius Borges

A ensolarada tarde de abril dourava o Alto São Sebastião. Ali mesmo, onde fez seu lar, o octogenário sacerdote aguardava para a conversa agendada no dia anterior. Litúrgico, solene e curioso, Pe. Nilson assentou-se à ponta da mesa. O andador deixado de lado é como um auxílio mal aceito para quem espera rapidamente se recuperar de uma cirurgia na perna. Algo que parece totalmente possível, dada a lucidez e saúde cheias de vigor demonstradas por aquele santiaguense de grande memória para as datas.

O olhar para o horizonte ajudava Pe. Nilson a buscar as melhores memórias

Pouco a pouco, ele ficou à vontade. Esqueceu-se do gravador e seu olhar viajou. Voou como voa um condor altaneiro em suas memórias cheias de sabor. Orgulhou-se de cada um dos muitos passos dados na porção do centro-oeste mineiro onde se fez missionário. Destino feliz para quem um dia sonhou ir para o nordeste. Mas foi na Diocese de Oliveira que ele teve sua “vida severina”.

A sala onde me recebeu é adornada pelas memórias de sua caminhada. Alguns banners de homenagem dos fiéis estão pendurados nas paredes como um gesto de respeito pelo carinho do povo. Dividem espaço com o quadro dos pais, José Augusto Mendes e Antônia Reis Mendes. Em um dos grandes cartazes, a homenagem pelos 80 anos de vida, celebrados há dois anos. No outro, uma foto inesperada com uma de suas maiores paixões estampada no boné: o Cruzeiro Esporte Clube. O futebol, aliás, é um assunto relevante nessa história. Antes de adentrar nesse campo, voltemos à São Tiago dos anos 40 e 50, quando uma vocação emergiu.

O menino Nilson, como grande parte dos padres de sua geração, começou no serviço ao altar. “Acordava cedo para ajudar na missa do Pe. José Duque”, recordou. Era coroinha assíduo, incentivado também na escola a seguir a vocação. Nunca teve muitas dúvidas do caminho que iria seguir. E um dos ícones da história de sua cidade natal teria papel central em sua trajetória: Monsenhor Francisco Elói.

José Augusto e Dona Antônia sempre lembrados pelo filho que tornou-se padre

“Encontrei na figura do Monsenhor Elói a figura de um verdadeiro pai. Foi aquele que teve a coragem de tirar a batina dele para fazer a minha batina de seminário”. O gesto inesperado foi também uma obra do acaso – ou providência? O jovem Nilson seria encaminhado ao seminário de Mariana pelo então bispo, Dom José Medeiros Leite, o primeiro pastor diocesano. Porém, a casa de formação estava sem vagas e o postulante teve de preparar o enxoval para o seminário de Belo Horizonte. Mas o destino estava mesmo o encaminhando para a cidade histórica, onde conviveria com grandes amigos no serviço presbiteral: Dom Francisco Barroso Filho e Pe. Guido Evangelista, colegas de seminário e companheiros de time de futebol. Ao receber a notícia de que havia surgido uma vaga para o seminário que sempre fora a primeira opção, o seu então pároco preparou a batina rapidamente, afinal essa era uma exigência naquele período.

Nilson permaneceu no seminário de 1949 a 1961, quando recebeu o sacramento da ordem, em São Tiago, pelas mãos de Dom José. No ano seguinte, fora nomeado para a Paróquia de Nossa Senhora das Necessidades, em Piracema. O fato curioso deve ser pouco conhecido da maioria dos fiéis, porque Pe. Nilson ficou poucos dias na cidade, tendo sido transferido para Carmo da Mata alguns dias depois. Na cidade ele faria um tratamento de relaxamento e recuperação. Com a doença do então pároco, Pe. Tomé Peixoto, Pe. Nilson assumiu os trabalhos da paróquia por três anos e acabou acolhendo o serviço junto às comunidades.

No ano de 1965 foi para Oliveira, onde começou a trabalhar no seminário. Tornou-se também professor. “Eu trabalhei em Oliveira em todos os colégios, exceto no Polivalente”, contou orgulhoso. Além de lecionar, dava palestras e era solicitado no auxílio em vários trabalhos escolares.

O sacerdote de muitas histórias contou minunciosamente todos os serviços prestados em sua caminhada. Alguns deles se destacam, é verdade. Foi Vigário Geral da Diocese de Oliveira por 25 anos, sendo três anos junto de Dom Antônio Carlos Mesquita e outros 22 junto ao bispo emérito, Dom Francisco Barroso Filho. No período de vacância, quando Dom Antônio fora nomeado para a Diocese de São João del-Rei, também assumiu a administração diocesana até a nomeação de Dom Barroso.

“Eu conheço todas as paróquias da Diocese. Seja servindo por um tempo ou em participação em festas de padroeiro”, afirmou categórico. Em outro momento, lembrou-se também de seu serviço como auxiliar de Pe. Guido na Catedral de Nossa Senhora de Oliveira, da capelania junto às freiras ou da direção espiritual do Movimento Serra Clube, que atua no serviço às vocações e aos seminários. No Movimento de Cursilhos de Cristandade, uma história construída ao longo dos anos. “Participei de 74 cursilhos na Diocese. Desde o primeiro, que foi realizado em Oliveira, na antiga Escola Normal, com a equipe de Uberaba”, destacou.

De todas as histórias, serviços e missões a que foi chamado, algumas se destacam. O período como pároco em Santo Antônio do Amparo o fez amado pela comunidade. “Eu ficaria alguns meses e acabei ficando 11 anos”, recordou tranquilo, como quem nunca teve problemas em aceitar a providência. “Eu nunca soube dizer não”, afirmou. E de aceitação em aceitação se fez um sacerdote referencial. Uma história cheia de capítulos inesquecíveis, mas que tem um período ímpar dos 56 anos de servidor na vinha do Senhor: a trajetória no Alto São Sebastião, onde encontrou sua Galileia missionária.

Profeta do “Alto”: a construção de um chão missionário

Descer à realidade do povo teve outro sentido para Pe. Nilson quando se recorda o aspecto literal do termo. Ele teve que subir; e subiu. Em 1966 fincou os pés no bairro São Sebastião, em Oliveira. Ali foi precursor de uma história marcante. Fundou, junto ao povo, a Paróquia local. Foram 28 anos de serviço. Batizou, ouviu confissões, testemunhou numerosos casamentos, acolheu enfermos e viveu a Eucaristia em comunidade.

Quando se lembra dos momentos, o olhar parece marejar. Ele sabe que não existe a história do Alto São Sebastião sem falar de seu nome. Curiosamente, uma das regiões mais carentes de Oliveira. Realidade que só o instigou a estar junto. Missão que abraçou com tanto ardor que fez do bairro sua casa. Mora a poucos metros da Igreja Matriz.

No dia da entrevista ele se preparava para celebrar numa comunidade a festa de Santo Expedito. Contou que sempre contribui nas celebrações e ainda recebe muita gente em sua casa para aconselhamento. O fato de ser pároco emérito da Paróquia São Sebastião não tirou dele a disposição em se doar ao outro. Princípio que ele carrega e repete em cada fala.

“Toda pessoa tem uma riqueza muito grande dons. Então a gente precisa aprender e saber colocar esses dons à serviço dos irmãos na comunidade; uns para os outros e pelos outros. É aquilo que São Paulo fala: ‘Tudo posso naquele que me conforta’ (Fl 4,13) ou ‘Se Deus é por nós, quem será contra nós?’ (Rm 8, 31). Ninguém e nada poderá nos separar do amor de Deus se realmente a gente sente que ele é uma força na gente e que deve ser comunidade. Não podemos armazenar os dons de Deus”, divagou ao seu próprio estilo catequético.

O sacerdote lembra que a vida em comunidade é sua alegria. Ali mesmo no Alto recebe os outros seis irmãos, que com ele celebram o dia a dia e as datas em família. Também aproveita para estar próximo ao povo, não somente nas celebrações as quais continua se dedicando incansável. Como ele diz, a sua característica de não saber dizer não a um chamado missionário tem a ver com seu lema sacerdotal: “Tudo para todos” (Cl 3,11). Para Pe. Nilson, ser doação total está na mística do trecho que escolheu para marcar sua caminhada vocacional.

“Se a gente tem essa oportunidade de comungar e participar da família, com os paroquianos e a comunidade de modo geral, isso traz um apoio e uma segurança muito grande para todos aqueles que procuram a gente. Porque quando alguém procura é porque precisa. E a gente precisa ter força, apoio e segurança para atender. A pessoa nunca procura o outro por diversão e sim por um objetivo. E essa finalidade implica uma riqueza muito grande de doação. A pessoa vai ao encontro do outro para comungar com ele a realidade da vida”, sustentou.

Histórias e causos

Vez ou outra, Pe. Nilson interrompia um assunto para uma história cômica ou que o fazia emocionar. Os que o conhecem sabe que ele gosta de uma boa piada. Tem destreza para contar. Por vezes, evangeliza com elas. Hoje, com os 82 anos de vida, tem um acervo de vivências invejável.

Um contador de histórias e causos, Pe. Nilson sorri a cada episódio que relembra

“Eu saí um dia para celebrar um casamento no Ouro Fino (comunidade rural pertencente à Morro do Ferro), que estava marcado para duas da tarde. Ele foi se realizar oito dias depois”. O motivo foi uma forte chuva que o fez ficar preso na estrada de terra. E ele diz conhecer como poucos os caminhos que cortam as cidades que compreendem a Diocese. Em outro momento, contou ter celebrado em Carmo da Mata, Oliveira, Bom Sucesso, Mercês de Água Limpa e São Tiago em um mesmo dia.

Dos amigos que conservou, ele faz questão de destacar um homem que muito o marcou em sua passagem por Santo Antônio do Amparo: Orlando Vargas. O fiel o acompanhava a muitas celebrações, especialmente as que se realizavam aos domingos de manhã. “Depois da missa ele vinha comigo para tomar café na casa paroquial. Adorava andar de carro”, lembrou sorrindo. Pe. Nilson disse que Orlando era alguém que tinha muito a oferecer. “Ele sempre chegava uma hora antes da missa começar e assentava-se no mesmo lugar. Era uma excelente pessoa”, recordou saudoso do amigo peculiar já falecido.

O compromisso com os pobres não foi uma ação vista somente no Alto São Sebastião. Nos 11 anos em que permaneceu em Santo Antônio do Amparo acabou tocado pela espiritualidade franciscana que o padroeiro também viveu. E isso o levou a olhar para o bairro São Judas Tadeu, uma das regiões mais carentes do município. Ali construiu uma igreja voltada ao patrono do bairro. No local funcionou um projeto social, além de levar a vivência da fé em comunidade. O engenheiro responsável o questionou se aquele templo não ficaria melhor em um lugar mais central. Ao lembrar-se do caso, Pe. Nilson bateu na mesa várias vezes recordando sua resposta convicta: “quero uma igreja boa para gente pobre ter alegria e uma coisa boa para apresentar!”.

Hoje, encantado com o exemplo dado pelo Papa Francisco, descrito como “uma benção para a nossa época”, Pe. Nilson destaca a linguagem simples do pontífice e o modo como dialoga com o povo. Ao falar do papa, o sacerdote rapidamente se lembrou de um episódio que o emociona até hoje. Foi o encontro com São João Paulo II, em Brasília, no ano de 1980. “Eu conheci um santo de carne e osso. Ele estava celebrando e eu estava na primeira fila de frente ao primeiro degrau. Se eu estendesse a mão, apertava a mão dele. Um santo homem. Uma maravilha”, lembrou erguendo as mãos como quem quer agradecer.

O sorriso, aliás, o acompanha em todas as histórias salteadas por uma trajetória rica de detalhes, rostos e sonhos. O padre que batizou outros três sacerdotes, incluindo seu sobrinho, Pe. Wellington Mendes, e o pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus, de Campo Belo, Pe. Sebastião Lino, além de um outro presbítero que vive em Taubaté, sabe que muitos seguem seu exemplo. E ele acredita que mostrar o quanto é feliz no ministério pode arrastar ainda mais gente para discernir, assumir e viver com radicalidade a vocação. Coisa que ele continua fazendo no auge da idade, mas com a jovialidade de prosear que sempre o identificou.

Palavras de um discípulo paulino

São Paulo é, para a Igreja, um dos nomes mais importantes e respeitados pela sua doação no anúncio do Evangelho. As epístolas ou cartas apostólicas compõem grande parte do segundo testamento. Foi na figura deste santo e mártir que Pe. Nilson dos Reis Mendes encontrou uma figura de grande devoção e base de sua catequese.

“Eu sempre recorro a São Paulo em minhas pregações”, enfatizou. E foi da carta aos Colossenses que extraiu a inspiração de toda sua vida: “Tudo para todos” (Cl 3,11). Doou-se, porque acreditou que é na força da fé em Deus que viveria aquilo que acredita. Por isso nunca disse não ao serviço. Talvez, como São Paulo que, ao converter-se, não cessou em seguir a vocação até o martírio.

Pe. Nilson tem a serenidade de um apóstolo convicto do caminho que fez. Continua sorrindo e exalando amorosidade para com as pessoas. É um misto de quem está feliz na missão que cumpre, mas que também sabe que fez a vontade Daquele a quem serve. É como um craque de futebol aposentado orgulhoso dos muitos gols que fez. A maioria fora das quatro linhas, é verdade. Mas o paralelo com o esporte também faz sentido: o padre foi um ponta esquerda goleador.

Nas cartas paulinas Pe. Nilson encontrou a inspiração da mensagem que transmite incansável.

Preferiu as estradas da vida de missionário aos gramados. Mas também jogou, divertiu-se e até contrariou outros colegas. Um dia, quando jogou em São Francisco de Paula, contou ter feito os dois tentos da vitória do time que defendia. Foi criticado na igreja. Lembrou-se sorrindo. Sabia que era uma incompreensão pequena para aquela época. Do jogo ele jamais se esqueceu.

Como um apóstolo paulino sabe que a coroa dos justos nem sempre é a glória de um campeão dos campos. E ele é feliz assim, como demonstrou em todo o tempo de conversa livre, agradável e memorial. Aliás, da mente de um padre de 82 anos emergiam datas certeiras sem nenhum auxílio de anotação. Está tudo ali gravado num olhar oceânico, que remexia um baú de vivas lembranças.

Nilson dos Reis Mendes é, sobretudo, um contador de histórias. Ele que fez de sua vida tudo para e por todos e todas que passaram e passam pelo seu caminho. Ali, no Alto São Sebastião, onde conserva a vida simples e doce, caminha com uma sabedoria altiva. Não tem medo e nem parece abater-se com tristezas. Tudo leva a crer que ele assimilou de modo profundo a frase que tomou quase como um bordão: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8, 31).


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