terça-feira, 16 de abril de 2019

NÃO TENHA MEDO OLHE PARA A CRUZ DE CRISTO - Meditação para Semana Santa




OLHAI SEM MEDO PARA A CRUZ DE CRISTO


Nesta Semana em que de modo especial meditamos sobre o mistério da Redenção, ou seja, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo vamos meditar aqui um pouco sobre este sublime mistério de amor de Deus por nós.  

De tal maneira Deus amou tanto o mundo que nos deu seu Filho Unigênito para todo o que nele crê não pereça mas, tenha a vida eterna. (Jo 3, 16)



O que vemos ao contemplar o Crucificado?



A Cruz é expressão da máxima compaixão e comunhão, com Jesus e com os sofredores. Ela aponta para Aquele que foi fiel ao Pai e ao Reino. Por isso, a Cruz não é um “peso morto”.


Não tenha medo de olhar para a Cruz e para o Crucificado, ela mostra o grande amor de Deus que numa medida extrema de amor  quis que os crentes n'Ele fossem salvos.

Não tenha medo da Cruz porque ela é a grande prova de um Deus que nos ama e que está disposto a tudo para salvar os homens.
Ele veio para isso, se encarnou no seio da Virgem Maria e se tornou nosso amigo e quis conosco sofrer para nos resgatar de uma vez por todas do julgo do pecado.

Quando olhares para o Crucificado lembre-se que Ele morreu por mim e por você. Ele veio para salvar os pecadores e não os santos. 
Ele veio consumar num único, verdadeiro puro e amor o santo sacrifício para os que estavam nas trevas do pecado.
Ele se fez alimento, sustento e remédio para as almas.

Quando olhares para a Cruz, não faça como os pagãos, não se escandalize, pois, como disse São Paulo: "A Cruz que antes era sinal de maldição, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, agora é sinal de salvação" (1Cor1, 23)
Ela, por causa do Crucificado se tornou um sinal de salvação.

Quando olhardes para a Cruz, não seja covarde. Veja quem está nela, Jesus Crucificado de braços abertos oferece ao mundo dilacerado pelo pecado um abraço. Ele acolhe a todos.
A Cruz de Cristo nos lembra que é preciso suportar as nossas cruzes. Mesmo em frente às dificuldades e as situações de trevas, de dores e de perdas como Jesus passou por ela e venceu também venceremos.

 
Ele morreu pelos pecadores, morreu pelos incrédulos, morreu pelas prostitutas, pelos assassinos, pelos abortistas, pelos adúlteros, pelos infanticidas, pelos corruptos, pelos ladrões... enfim, morreu para salvar todo homem que sendo pecador busque-o de coração sincero possa mediante seu Sangue derramado se converter.

Quando olhardes para o Cruz, exposta em nossos pingentes, não a tenha como um amuleto ou um adorno, mas, como sinal de salvação. 
Quando verdes a Cruz do Senhor exposta nas igrejas, salas de nossas casas, nas Câmaras,  nas salas de aula, nos tribunais, lembre-se que até o Filho de Deus se sujeitou à lei para nos salvar. 
Ninguém deve estar acima da lei e da Justiça. O Filho de Deus cumpriu toda a Lei. Cabe a nós sermos cumpridores de nossos deveres.

Olhai os braços do Crucificado, braços que curou, que abençoou, que libertou, que abraçou, que acolheu.
Olhai o coração transpassado pela lança e lembre-se de um Deus que quis sofrer por amor, que se entregou. 
Olhai, contemplai o coração de Jesus aberto como uma porta, ferido de amor. Amor sem medida que atraia todos, que salva a todos, que cura a todos que dele se aproximam.
"Oh pobre alma quanto sofro de amor por ti!"

Olhai os pés do Crucificado, pés que caminharam nesta em solo pedregoso mas, pés que foram ao encontro e socorro de muitos. Pés que andaram pela cura e salvação de muitos.
Pés que andaram por toda parte anunciando a chegada de um novo tempo, a Salvação. Pés cravados no madeiro da Cruz para a nossa Salvação.  
  
Olhai aqueles braços que defenderam e acolhram a mulher acusada de adultério e pedindo um julgamento injusto "quem não tiver pecado atire a primeira pedra" - converteu Levi (Matheus) o cobrador de impostos; comoveu o coração de Zaqueu,  com uma frase de amor perdoou o ladrão na cruz.
A Cruz de Jesus nos ensina que não devemos condenar, mas amar! 
A Cruz de Jesus nos lembra que Deus ama a todos. Ele prefere salvar que condenar um pecador. 
Olhai e contemplai suas feridas, feridas que nos curam, pois, como disse o Profeta Isaías: "Por suas chagas fomos curados" - (Is 53) - Ele foi aniquilado por nossos pecados.



Olhai-o! Ele  seus abraçou por ti a cruz.
Braços que unem o Céu e a terra.
Braços santos estendidos na Cruz a nos dizer: "Venham todos!" "Provai e vede do meu amor!"

Olhai para as mãos do Crucificado. Mãos que abençoaram, que expulsaram demônios, que curaram os cegos, coxos, leprosos, que ressuscitaram os mortos, que transformaram vidas fragilizadas em esperanças.


Olhai agora! Quem é ele? O Filho de Deus está suspenso no madeiro como a serpente de bronze conforme ele mesmo profetizou. (Jo3, 14) Suspenso no madeiro da Cruz atrai para si todos os olhares para que vendo-o  busquem experimentar desse amor de um Deus que se apaixonado pela sua obra deixou crucificar.

Olhai! Oh Santa Paixão. Foi pelos homens ingratos que Ele sofreu.
Na Cruz está, não a derrota de um condenado, mas, a vitória, pois, Ele vencendo a morte deu-nos Salvação. 

Olhai para a Cruz e para o Crucificado. Eis o Novo Adão!
Pela obediência conquistou-nos o Paraíso um dia perdido.
Oh! Santa Cruz, árvore da vida trazida do Paraíso. 

Olhai para Cruz! Ele nos diz: "Tenho esperado que estivesses aqui!". "Eu sei de tudo, sei das suas fraquezas, sei do seu pranto, mas sempre estive ao seu lado. E se estou aqui é por amor. Se entreguei-me na Cruz foi por você".
"Creia, ame, espere...   abandone-se em mim, pois eu sofri as tuas dores e te dei a salvação".

"Não tenha vergonha da Cruz, pois, ela é a maior prova de que eu sou seu amigo. Amor de amigo, amor de irmão..." 
E não há maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos". (Jo15, 13) 

Olhai para Cruz, não tenhas vergonha dela. 
Não existe Jesus sem Cruz, nem Cruz sem Jesus.
Não existe amor maior sem passar pela Cruz. 
Olhai para o Crucificado mas, lembre-se de que Ele venceu a Cruz. Ela não é sinal de derrota, mas, de vitória. Jesus passou por ela e venceu. Ela é sinal de salvação e nos lembra que cada um de nós deve carregar a sua Cruz e como Jesus vencer as nossas próprias cruzes.


Olhai para a Cruz! Ela é a ponte por onde devemos passar se quisermos seguir os passos do Mestre. 
Não serre a sua cruz, não a torne mais leve e mais curta, pois o pedaço que você serrou faltará um dia para completar a sua ponte para a eternidade.
Faça como o Salvador que carregou sua cruz até o Calvário, mas, depois de tudo a deixou vazia e ressuscitou. 

Olhai o Crucificado, contemplai a cabeça do Salvador coroada de espinhos. Espinhos que ferem a cabeça do Cristo. Fizeram dele um escárnio. Tudo ele sofreu, como disse o profeta: "Tão desfigurado estava que nem parecia um ser humano",( Is52, 14) não tinha mais fisionomia. Pisado, cuspido, flagelado, chagado, a quem poderia compará-lo?

Pilatos disse: "Ecce Homo!" - Eis o homem! - apresenta-o assim a humanidade do Filho de Deus - escarnecido, com as carnes dilaceradas pelo flagelo romano, vestido de púrpura, era Ele o mais belo dos homens e estava irreconhecível.

Banhado em sangue seguia-o a humanidade de um Deus que não queria outra coisa senão Salvar-nos.  
Vale a pena? Porque sofrer tanto? Porque desde a criação Deus viu que tudo era bom. 

Mesmo que satanás quisesse não podia tirar sua bondade e seu amor pelos homens.
Ele foi até as últimas consequências por nós.
Não há nele uma queixa, uma reclamação. Vede sua cabeça, não pode se apoiar, não existe lugar como ele mesmo disse: "Os pássaros do céu tem seus ninhos, as raposas suas tocas, mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça!" Mt8, 20

Olhai para a Cruz! e bendiga ao Senhor porque foi pela Cruz que o Filho de Deus passou e abriu para todos nós as portas do Céu. Portanto, a Cruz de Jesus não é um mero símbolo, ela é a chave por onde Deus quis abrir para nós as portas da libertação.  

Olhai para a inscrição na Cruz, I.N.R.I. - Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum - Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Ele não é apenas um rei dos judeus, ele é o nosso Rei, o Senhor dos Senhores. O Messias, o Salvador.    
Olhai para a Cruz com amor e confiança. 
Só Satanás tem pavor da Cruz porque ela testemunhou a vitória de Cristo sobre o mal e ao mesmo tempo testemunhou a derrota dele. 
Ela é a chave que abriu as portas do Paraíso e trancou as portas do inferno.

Nela uma nova humanidade nasceu, um novo povo foi conquistado para Deus quando Jesus foi elevado no madeiro. Nela foi consumada a Antiga Aliança e inaugurada uma Nova. A Nova Aliança de Deus com seu povo. 
Não um sacrifício feito com sangue de cordeiros e bezerros. Mas, uma aliança selada com seu próprio Sangue.  

Todos nós devemos gloriar-nos na Cruz de Nosso Senhor, que é nossa salvação, nossa vida e nossa esperança de ressurreição, pois através dela, fomos salvos e libertos.


Abracemos a cruz como Maria e sejamos agradecidos a Jesus pela sua entrega por nós. No silêncio do nosso coração escutemos e sejamos agradecidos, porque mesmo diante de tanta dor, Jesus nos quis ainda mais deixar-nos por Mãe  a sua Santíssima Mãe. 

Ela, que aos pés da Cruz, chorosa, vendo seu Filho morto, sem nada poder fazer, ainda escuta antes uma terna palavra: "Mulher eis ai o teu filho!" ... "Filho eis aí a tua mãe". Como se dissesse: "Mãe cuida desses pobres pecadores!"
Oh Mãe chorosa, sofreu na alma a espada de dor predita por Simeão.
 
Olhai para a Cruz e contemplai essas palavras. Oh! não há dor maior, mas também não há maior amor senão daquele que morreu por ti.
     
Guardai as palavras da Santa Escritura:

Romanos 6, 11

Assim, desta mesma maneira, considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.




Romanos 7:6

Mas, agora, fomos libertos da Lei, havendo morrido para aquilo que nos aprisionava, para servimos de acordo com a nova ministração do Espírito, e não conforme a velha forma da Lei escrita. A Lei condena, Jesus liberta

Gálatas 6:14
Quanto a mim, no entanto, que eu jamais venha a me orgulhar, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio da qual o mundo já foi crucificado para mim, e eu para o mundo.

Colossenses 2:20
Considerando que morrestes com Cristo para as tradições humanas e a falsa religiosidade deste mundo, por que vos sujeitais ainda a tais ordenanças como se pertencêsseis a este sistema de valores? Não mais obedeçais a regras como estas:

Colossenses 3:3
Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.

1 Pedro 2:24
Ele levou pessoalmente todos os nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e, então, pudéssemos viver para a justiça; por intermédio das suas feridas fostes curados.
 

AS SETE ÚLTIMAS PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ   


De: Adroaldo Palaoro
Site: Domtotal.com
 




1. PERDÃO. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34)



Jesus, na sua vida pública, sempre revelou o perdão do Pai; no encontro com os pecadores deixou transparecer a misericórdia reconstrutora de Deus. O perdão foi a marca de sua vida e deve ser também a marca dos seus seguidores.

É difícil perdoar: a dor, o orgulho, a própria dignidade, quando é violentada, grita pedindo “justiça”, buscando “reparação”, exigindo “vingança”... Mas, perdão?

Surpreende-nos que Jesus na Cruz seja capaz de continuar vendo humanidade em seus verdugos; Ele é capaz de continuar crendo que há esperança para aqueles que cravam seus semelhantes na Cruz.

Porque, esta palavra de perdão, dita a partir do madeiro, é sobretudo uma declaração eterna: o ser humano, todo homem e toda mulher, conserva sua capacidade de amar nas circunstâncias mais adversas. E todo ser humano, até aquele que é capaz das ações mais atrozes, continua tendo um germe de humanidade em seu interior e que permite que haja esperança para ele.  Perdoar é atrever-se a ver o que há de verdadeiro, de beleza em cada um. O perdão é capaz de ver dignidade e faísca de humanidade escondida no coração do verdugo. O perdão abre futuro, destrava a vida e não se deixa determinar pelos erros do passado; ele quebra distâncias, nos faz descer em direção à fragilidade do outro, ao mesmo tempo em que revela nossa fragilidade. É enquanto pecadores que somos chamados a perdoar e não enquanto justos. Por isso, no perdão é onde mais nos assemelhamos a Deus, pois só Ele podia inventar o perdão.

Deus também continua me perdoando hoje, pelas atitudes pecaminosas em minha vida que destroem, rompem, ferem os outros e o meu mundo.

    Deixar ressoar esta expressão de Jesus: Fiz experiência de perdão? Sou capaz de perdoar e acolher o perdão?

2. CONTIGO. “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43)

Jesus sempre viveu “em más companhias” e agora morre entre dois ladrões. Mais uma vez, não assume o papel de juiz sobre dos outros, mas oferece uma nova chance de salvação. O moribundo que dá vida: presença solidária, que, mesmo em meio ao pior sofrimento, oferece companhia a outros sofredores.

Um dos ladrões, impactado pela serenidade e testemunho de Jesus “rouba o paraíso”.

Jesus revela uma promessa que muitas pessoas precisam ouvir hoje, sobretudo aqueles que carregam cruzes injustas e pesadas, que vivem realidades atravessadas pela dor, pela solidão, dúvida, incompreensão ou pranto... Como soarão estas palavras no interior de cada um de nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso”

Hoje: porque as mudanças, a nova criação, a humanidade reconciliada, não tem que esperar mais; hoje, agora, já...; talvez esse “hoje” não chega é por causa de tantas pessoas que não decidem, não optam, esperam sentadas...

Comigo: promessa de viver em sua companhia e desperta ecos de uma plenitude que não conseguimos entender.

No paraíso: que não é um mítico Eden, mas lugar de plenitude de vida, onde não haverá mais pranto, nem dor; realidade já presente onde habitará a justiça e a paz.

    Deixar ressoar esta expressão de Jesus para construir, hoje, o Paraíso em nosso cotidiano.
    Como viver hoje no paraíso? Neste momento, a quem podemos despertar a esperança?

3. APOIO. “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo 19,26)

Maria, mulher do “sim”; “sim” que se prolonga até à Cruz, onde, de pé, revela sua presença materna e consoladora junto a seu Filho Jesus.

A presença de Maria na vida de Jesus não é acidental: foi aquela que mais amou, conheceu e seguiu Jesus. Ela agora é nossa referência fiel no seguimento do seu Filho.

Despojado de tudo, Jesus tem um tesouro a nos dar: entrega sua própria mãe para que ela seja presença cuidadora e de ternura junto aos seus filhos sofredores.

Jesus não nos deixa órfãos; sempre precisamos dos cuidados e do consolo de uma mãe; alguém para nos acompanhar nas horas mais obscuras e difíceis; alguém que nos sustenta nos momentos trágicos; alguém que compartilha nossas perdas... e que também está presente nas horas boas, que chegarão.

É como se Jesus nos dissesse: “Para viver o meu seguimento, inspire-se nela, tenha-a como referência”.

Não estamos sozinhos: muitas presenças marianas em nossas vidas – amigos, pais, filhos... São tantas pessoas junto ao pé da cruz, inumeráveis homens e mulheres de Igreja que foram e são companheiros de caminho, de esforço, de apoio, de buscas e de amor.

João, também de pé junto à Cruz, representa todo seguidor fiel de Jesus, mesmo nos momentos de crise.

    Deixar ressoar estas palavras de Jesus: ser presença materna e cuidadora junto aos sofredores; prolongar o modo solidário de Maria junto aos crucificados.

4. SOLIDÃO. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46)

O grito de Jesus na Cruz condensa o grito da humanidade sofredora; é o próprio Deus que grita seu abandono.

Esse grito de Jesus revela uma Presença no próprio abandono, embora, de imediato não se sinta esta presença. Grito que não fica no vazio, mas aponta para a Vida.

Todos perguntamos: “Onde está Deus no sofrimento, na violência, na morte...?” E Deus responde, perguntando: “Onde está você no meu sofrimento, na violêncio que sofro, na morte... de meus filhos/as?”

O sofrimento da humanidade é o sofrimento de Deus; Deus não é insensível e distante da dor dos seus filhos.

Quem não passa por momentos de noite escura, de insegurança, de absoluta incerteza...?

Quem não viveu experiências de abandono, de falta de sentido na vida, de solidão, de rejeição...?

Quem não tem momentos de ceticismo, de amargura, de medo, de dúvida...?

Quem não se pergunta, talvez por um instante fugaz mas pungente, onde está Deus agora?

Nesses momentos temos a impressão de que todas as nossas opções foram equivocadas, que cada decisão nos levou por um caminho sem saída... Nesses tempos nos remorde o fracasso, a miséria, própria e alheia.

É do meio desta situação que brota um grito desesperador, como o de Jesus... No entanto, nos atrevemos a seguir adiante, com nossos projetos, compromissos e esforços em seu nome.

O desafio está em não ceder, em não crer que tudo tem sido uma mentira. O desafio é não abandonar, não render-se, não capitular nesses momentos.

Entende-se, assim, o grande “grito” que brotou das profundezas da dor de Jesus na Cruz e que continua ecoando como clamor angustiado. Não são poucos os gritos dos mais pobres e excluídos. É um clamor forte pela intensidade de suas carências. Um clamor surdo porque não consegue impactar de modo a conseguir respostas prontas e imediatas aos graves problemas que os afligem.

O grito dos sofredores é sempre forte. Forte pela violência das necessidades e das urgências para a garantia de uma vida mais digna. Em Cristo se condensam todos os gritos da humanidade sofredora.

Sua força, no entanto, não consegue incomodar a todos os que precisam ser interpelados pela exigência deste clamor. Um grito, pois, é a expressão do mais forte sentimento que está no centro do próprio coração; é, também, a expressão mais concreta do que aflige o coração.

Um grito é, na verdade, um convite a um compromisso solidário.

O grande grito de Jesus é a certeza de tudo o que sustenta o seu coração; ao ecoar junto aos crucificados, provocará grandes novidades. Um grito que não fica no vazio mas aponta para a vida.

    Deixar ressoar este grito de Jesus: quais são os gritos surdos que brotam da realidade hoje?

5. SEDE. “Tenho sede...” (Jn 19,28)

Jesus sempre foi um homem “sedento”: fazer a vontade do Pai, realizar o Reino, compromisso com a vida, presença solidária junto aos sofredores, fazer conhecido a Deus como Pai/Mãe...

Agora grita sua derradeira sede: um mundo sem dor, sem exclusão, sem violência

Grita o homem com a garganta ressequida: sede na garganta e sede no coração. Sede expansiva, sede que descentra.

Grito que se multiplica em milhares de gargantas espalhadas pelo mundo: quero “justiça”, clamam os injustiçados deste mundo; quero “pão”, pede a criança com a barriga inchada de ar e de fome; quero “paz”, exclama a testemunha de atrocidades sem fim; quero “amor”, pede o jovem solitário por ser estranho; quero “moradia”, sonha o morador de rua que dorme em um banco da praça; quero “trabalho”, suspira uma jovem que se sente fracassar; quero liberdade escreve o presidiário em seus poemas; quero saúde, recita o enfermo em seu leito... Vozes de compaixão, vozes de pranto, vozes que refletem as dores do mundo.

Há alaridos, e também sussurros, todos carregados de sensibilidade dolorida.

O grito de Jesus na Cruz recolhe todos esses brados da humanidade quebrada. E não há explicação; não há sentido; não há justiça. Só um grito a mais.

A sede de Jesus desperta em nós outras “sedes”: de quê tenho sede? Sede de sonhos, de mundo novo...

Sede mobilizadora que ativa as melhores energias dentro de nós, que desperta nossa criatividade...

Sede que purifica nossa capacidade de escutar os gritos, de perto e de longe. O quê fazer?

“Quem tem sede venha a mim e beba”. Quem não tem sede não busca, não cria.

    Deixar ressoar essa súplica de Jesus: A quem precisamos nos atrever a escutar?

6. COMPROMISSO. “Tudo está consumado” (Jo 19,30)

Parece contradição alguém dependurado na Cruz afirmar que tudo está consumado; tem-se a impressão de fracasso total. Mas na Cruz Jesus leva até às últimas consequências sua Encarnação: mergulha e se faz solidário com todos os crucificados da história. “Desce” até às profundezas do sofrimento humano e ali revela a presença do Deus compassivo.

No alto da Cruz, Jesus tem consciência que não viveu em vão; sua presença fez a diferença; viveu para os outros. Jesus morre com as mãos cheias de vida; gastou a vida a serviço da vida; deixou pegadas nos corações de quem encontrou pela vida. “Jesus morreu de tanto viver”. Morreu de bondade, de compaixão, de justiça.

Jesus teve um “caso de amor” com a vida; viveu intensamente.

Uma vida consumada faz fecunda a morte. Uma história consumada de Amor. Vida consumada quando se consome no serviço aos outros. Jesus desencadeou um movimento de vida.

    Deixar ressoar esta afirmação de Jesus: quão plenificante é poder dizer a cada dia: tudo está consumado. É poder dizer como Pablo Neruda: “Confesso que vivi”.

7. SENTIDO. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46)

Só quem viveu intensamente uma vida expansiva pode acolher a própria morte com paz, confiança, serenidade e abandono nos braços do Pai. Jesus morre como tinha vivido: ancorado na confiança do Pai.

Jesus, que sempre prolongou as mãos do Pai, agora entrega-se confiadamente nos braços do mesmo Pai.

Jesus sempre viveu em profunda sintonia com o Pai; agora Ele dá um “salto vital” nos braços do Pai.

Ao “entregar seu espírito” Jesus é “aspirado” para dentro de Deus.

A morte nos inspira medo; mas na morte, somos todos iguais, sozinho diante de Deus.

A morte é a última ponte que nos conduz ao Pai. Seremos abraçados do outro lado da ponte. Nosso destino é o coração de Deus.

Não só na hora da morte, mas a cada dia somos chamados a “entregar o espírito”; num mundo em que todos buscam seguranças, que em tudo querem ter “salva-vidas”, num mundo que nos convida a ter as costas cobertas... Queremos arriscar, apostar pelo Reino; queremos nos sentir confiados, atravessar tormentas ou espaços serenos, sentindo-nos protegidos pelas mãos do Pai. Mãos que curam, acariciam, sustentam...

    Deixar ressoar em nosso interior as palavras de entrega de Jesus: vivemos amparados pelas mãos providentes e cuidadosas do Pai; sentir-nos movidos a prolongar as mãos do Pai.

Estas palavras, proferidas por Jesus no alto da Cruz, causam um profundo impacto em nosso coração.

Tal impacto nos faz ter os olhos fixos no Crucificado; a partir do Crucificado ativar um olhar comprometido com os crucificados da história. Só podemos crer no Crucificado se estivermos dispostos a tirar da Cruz aqueles que estão dependurados nela.
(Jon Sobrino).


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