CATÓLICO PODE SER MAÇON?
Ao longo de sua história a
Igreja Católica condenou e desaconselhou seus fiéis à pertença a associações
que se declaravam atéias e contra a religião, ou que poderiam colocar em perigo
a fé. Entre essas associações encontra-se a maçonaria. É indicado, juntamente,
que os princípios da maçonaria seguem sendo incompatíveis com a doutrina da
Igreja, e que os fiéis que pertençam a associações maçônicas não podem ter
acesso à Sagrada Comunhão.
Quase desde a sua aparição, a
maçonaria gerou preocupações na Igreja. Clemente XII, “In eminenti”, havia
condenado a maçonaria. Mais tarde, Leão XIII, em sua encíclica “Humanum genus”,
de 20 de abril de 1884, a qualificava de organização secreta, inimigo astuto e
calculista, negadora dos princípios fundamentais da doutrina da Igreja.
Segundo a confederação dos
bispos da Alemana “a maçonaria não mudou em sua essência. A pertença à mesmas
questiona os fundamentos da existência cristã. (…) As principais razões
alegadas para isso foram as seguintes: a cosmologia ou visão de mundo dos
maçons não é unitária, mas relativa, subjetiva, e não pode se harmonizar com a
fé cristã; o conceito de verdade é, também, relativista, negando a
possibilidade de um conhecimento objetivo da verdade, o que não é compatível
com o conceito católico”.
Também o conceito de religião é
relativista e não coincide com a convicção fundamental do cristão, o conceito
de Deus simbolizado através do “Grande Arquiteto do Universo” é de tipo
deístico e não há nenhum conhecimento objetivo de Deus no sentido do conceito
pessoal de Deus do teísmo, e está impregnado de relativismo, o qual mina os
fundamentos da concepção de Deus dos católicos.
Os católicos que derem seu nome
à seita maçônica e a outras associações do mesmo gênero estão excomungados da
Igreja Católica Apostólica Romana.
Fonte: acidigital.com.br
Três séculos após a fundação da
primeira Grande Loja Maçônica, os princípios dessa instituição continuam
frontalmente incompatíveis com a doutrina católica
Por Ed Condon [*] — O
antagonismo recíproco entre a Igreja Católica e a Maçonaria está bem firmado e
é de longa data. Durante a maior parte dos últimos 300 anos, as duas
instituições têm sido reconhecidas, mesmo pela mentalidade secular, como
implacavelmente opostas uma à outra. Em décadas recentes, a animosidade entre
elas tem-se apagado da consciência pública em grande medida, devido ao menor
envolvimento direto da Igreja em assuntos civis e à derrocada dramática da
Maçonaria, tanto em números quanto em importância. Mas, por ocasião dos 300
anos da Maçonaria, vale a pena rever o que sempre esteve no “núcleo” da
absoluta oposição da Igreja a esse grupo. Aparentemente, a Maçonaria pode não
passar de um clube esotérico masculino, mas ela já foi, e continua sendo, um
movimento filosófico altamente influente — e que impactou de modo dramático,
ainda que sutil, a sociedade e a política modernas no Ocidente.
A história da Franco-maçonaria
preenche, por si só, vastas páginas. A sua gradual transformação de guildas de
pedreiros medievais em uma rede de sociedades secretas, com uma filosofia e um
rito gnósticos próprios, pode ser lida com grande interesse. A versão mais
recente da Franco-maçonaria teve início com a formação da Grande Loja da
Inglaterra, em 1717, em um bar chamado Goose & Gridiron, próximo à Catedral
londrina de São Paulo Apóstolo. Nos primeiros anos, antes que a Igreja fizesse
qualquer pronunciamento formal sobre o assunto, muitos católicos já faziam
parte da associação e a “diáspora” dos católicos e jacobitas ingleses foi
crucial para espalhar a Franco-maçonaria na Europa continental. Ela chegou a se
tornar, em alguns lugares, tão popular entre os católicos que o Rei Francisco I
da Áustria serviu de protetor formal da instituição.
Mesmo assim, a Igreja se
converteu na maior inimiga das lojas maçônicas. Entre o Papa Clemente XII, em
1738, e a promulgação do primeiro Código de Direito Canônico, em 1917, oito
papas ao todo escreveram condenações explícitas à Franco-maçonaria. Todas
previam a mais estrita pena eclesiástica para quem se associasse: excomunhão
automática reservada à Sé Apostólica.
Mas o que a Igreja entendia, e
entende hoje, por Franco-maçonaria? Que características fizeram com que ela merecesse
uma tal condenação?
É comum ouvirmos dizer que a
Igreja se opôs à Franco-maçonaria por causa do caráter supostamente
revolucionário ou sedicioso das lojas. Está relativamente difundida a ideia de
que as lojas maçônicas eram células essencialmente políticas para republicanos
e outros reformistas, e a Igreja se opunha a elas para defender o velho regime
absolutista, ao qual ela estava institucionalmente atrelada. No entanto, embora
a sedição política eventualmente se sobressaísse na oposição da Igreja à
Maçonaria, essa não era, em hipótese alguma, a razão originária de sua
rejeição. O que Clemente XII denunciou originalmente não era uma sociedade
republicana revolucionária, mas um grupo que propagava o indiferentismo
religioso: a ideia de que todas as religiões (e nenhuma delas) têm igual
validade, e que na Maçonaria estão todas unidas para servirem a um entendimento
comum e mais elevado da virtude. Os católicos, como membros, deveriam colocar
sua adesão à loja acima de sua pertença à Igreja. Em outras palavras, a
proibição rigorosa da Igreja devia-se não a motivos políticos, mas ao cuidado
com as almas.
Desde o princípio, a preocupação
primária da Igreja foi a de que a Maçonaria submete a fé de um católico à da
loja, obrigando-o a colocar uma fraternidade secularista fundamental acima da
comunhão com a Igreja. A linguagem legal e as penalidades aplicadas nas
condenações à Franco-maçonaria eram, na verdade, muito similares àquelas usadas
na supressão dos albigenses: a Igreja vê a Franco-maçonaria como uma forma de
heresia. Ainda que os próprios ritos maçônicos contenham um material
considerável que pode ser chamado de herético — e até de explicitamente
anticatólico, em alguns casos —, a Igreja sempre esteve muito mais preocupada
com a filosofia geral da Franco-maçonaria do que com a ostentação de seus
rituais.
Ao longo dos séculos XVIII e
XIX, a Igreja Católica e o seu lugar de privilégio no governo e na sociedade de
muitos países europeus tornaram-se objeto de crescente oposição secular e até
mesmo de violência. Existem, é verdade, poucas evidências históricas — se é que
as há — de que as lojas maçônicas tenham desempenhado um papel ativo no início
da Revolução Francesa. De qualquer modo, a causa dos horrores anticlericais e
anticatólicos da Revolução pode ser encontrada na mentalidade secularista
descrita pelas várias bulas papais que condenam a Maçonaria. As sociedades
maçônicas foram condenadas não porque pretendessem ameaçar as autoridades civis
e eclesiásticas, mas porque uma tal ameaça, na verdade, constituía a
consequência inevitável de sua existência e crescimento. A revolução era o
sintoma, não a doença.
A coincidência de interesses
entre Igreja e Estado, e o ataque a elas empreendido por sociedades secretas
revolucionárias, foram mais claros nos Estados Papais da Península Itálica,
onde a Igreja e o Estado eram uma só coisa. Assim que começou o século XIX,
ganhou notoriedade uma imitação da Franco-maçonaria, de caráter revolucionário
explícito e oposição declarada à Igreja: eles se chamavam de Carbonari
(“carbonários”, palavra italiana para “carvoeiros”) e, em sua campanha por um
governo constitucional secular, praticavam tanto o assassinato quanto a
insurreição armada contra os vários governos da Península Itálica, sendo
identificados como uma ameaça imediata à fé, aos Estados Papais e à própria
pessoa do Pontífice Romano.
A ligação entre a ameaça passiva
da filosofia secreta maçônica e a conspiração ativa da Carbonária foi explicada
na Constituição Apostólica Ecclesiam a Jesu Christo, do Papa Pio VII,
promulgada em 1821. Mesmo tratando e condenando a oposição aberta e declarada
dos Carbonari à governança temporal dos Estados Papais, ainda assim era claro
que a mais grave ameaça colocada por essas células violentamente
revolucionárias era a sua filosofia secularista.
Ao longo de todas as várias
condenações papais à Franco-maçonaria, mesmo quando as lojas financiavam
ativamente campanhas militares contra o papa, como fizeram com a conquista de
Garibaldi e a unificação da Itália, o que sempre constituiu a primeira objeção
da Igreja à Loja foi a ameaça que ela representava à fé dos católicos e à
liberdade da Igreja de agir em sociedade. O fato de os ensinamentos da Igreja
serem minados nas lojas, e a sua autoridade em matéria de fé e moral ser
questionada, era repetidamente descrito como uma conspiração contra a fé, tanto
nos indivíduos quanto em sociedade.
Um cartum de 1891 mostra o Papa
Leão XIII combatendo a Maçonaria.
Na encíclica Humanum Genus, o
Papa Leão XIII descreveu a agenda maçônica como sendo a exclusão da Igreja da
participação em assuntos públicos e a perda gradual de seus direitos como um
membro institucional da sociedade. Durante o seu tempo como papa, Leão escreveu
um grande número de condenações à Franco-maçonaria, tanto no âmbito pastoral quanto
no âmbito legislativo. Ele sublinhou em detalhes o que a Igreja considerava ser
a agenda maçônica, agenda esta que, lida com um olhar contemporâneo, ainda é de
uma relevância surpreendente.
Ele se referiu especificamente
ao objetivo de secularizar o Estado e a sociedade. Ressaltou em particular a
exclusão do ensino religioso das escolas públicas e o conceito de que “o
Estado, que deve ser absolutamente ateu, tem o inalienável direito e dever de
formar o coração e os espíritos de seus cidadãos” ( Dall’Alto dell’Apostolico
Seggio, n. 6). Também denunciou abertamente o desejo maçônico de tirar da
Igreja qualquer forma de controle ou influência sobre escolas, hospitais,
instituições de caridade públicas, universidades e qualquer outra associação
que servisse ao bem comum. Também deu um destaque específico ao impulso
maçônico de repensar o matrimônio como um mero contrato civil, promover o
divórcio e apoiar a legalização do aborto.
É praticamente impossível ler
esta agenda e não reconhecer nela a base de quase todo o nosso discurso
político contemporâneo. O fato de muitos de nossos principais partidos
políticos, se não todos, apoiarem tranquilamente essas ideias, e o próprio
conceito de Estado secular e suas consequências sobre a sociedade ocidental,
incluindo a pervasiva cultura do divórcio e a disponibilidade quase universal
do aborto, tudo isso é uma vitória da agenda maçônica. E isso levanta questões
canônicas muito sérias sobre a participação católica no atual processo político
secular.
Ao longo de séculos de
condenações papais à Franco-maçonaria, era normal que cada papa incluísse nomes
de novas sociedades que compartilhavam da filosofia e da agenda maçônicas e
que, por isso, também deveriam ser entendidas pelos católicos, nos termos da
lei canônica, como “maçônicas”. No século XX, isso chegou a incluir partidos
políticos e movimentos como o comunismo.
Quando o Código de Direito
Canônico foi reformado, após o Vaticano II, o cânon específico que proibia os
católicos de aderirem a “seitas maçônicas” foi revisado. No novo código,
promulgado em 1983 por São João Paulo II, a menção explícita à Franco-maçonaria
foi retirada completamente. O novo cânon 1374 refere-se somente a associações
“que maquine[m] contra a Igreja”. Muitos entenderam essa mudança como um
indicativo de que a Franco-maçonaria não mais era considerada má aos olhos da
Igreja. Na verdade, os membros do comitê responsável pela reforma esclareceram
que eles queriam se referir não apenas aos franco-maçons, mas a muitas outras
organizações; a conspiração da agenda secularista maçônica tinha-se espalhado
para tão além das lojas que continuar usando um termo abrangente como
“maçônico” seria confuso. O então Cardeal Ratzinger emitiu um esclarecimento da
nova lei em 1983, no qual deixou claro que o novo cânon havia sido formulado
para encorajar uma interpretação e uma aplicação mais abrangentes.
Dado o entendimento cristalino,
no ensinamento da Igreja, do que a conspiração ou a agenda maçônica incluem — a
saber, o matrimônio como um mero contrato civil aberto ao divórcio à vontade; o
aborto; a exclusão do ensino religioso das escolas públicas; a exclusão da
Igreja do provimento de bem-estar social ou do controle de instituições de
caridade —, parece-nos impossível não perguntar: quantos de nossos partidos
políticos no Ocidente não estariam agora sob a proibição do cânon 1374? A
resposta talvez não agrade muito aqueles que querem ver um fim para a chamada
“guerra cultural” dentro da Igreja.
Mais recentemente, o Papa
Francisco tem falado repetidas vezes de sua grave preocupação com uma
infiltração maçônica na Cúria e em outras organizações católicas. Ao mesmo
tempo, ele alertou contra a Igreja se tornar uma mera ONG em seus métodos e
objetivos — perigo que vem diretamente dessa mentalidade secularista a que a
Igreja sempre chamou “filosofia maçônica”.
A infiltração maçônica na
hierarquia e na Cúria tem sido tratada há muito tempo como uma espécie de
versão católica do “bicho-papão” embaixo da cama, ou da paranoia macarthista
com infiltrados comunistas. De fato, quando se conversa com pessoas que
trabalham no Vaticano, rapidamente se descobre que, para cada dois ou três que
riem dessa história, há pelo menos um que deparou diretamente com esse fato. Eu
mesmo conheço pelo menos duas pessoas que, durante o tempo em que trabalharam
em Roma, foram abordadas para se associarem. O papel das lojas maçônicas como
ponto de encontros confidencial para pessoas com ideias e agendas heterodoxas
mudou pouco desde a França pré-revolucionária até o Vaticano de hoje. 300 anos
após a fundação da primeira Grande Loja Maçônica, o conflito entre a Igreja e a
Franco-maçonaria nunca esteve tão vivo.
(Via Pe. Paulo Ricardo)
[*] Ed Condon é canonista e
escreveu sua dissertação de doutorado sobre a história das sanções legais da
Igreja contra os franco-maçons.
Fonte: pt.ateleia.org
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