Como
sabemos o Papa Emérito Bento XVI nos deixou no dia 31/12/2022. Nascido na
região da Baviera, em Marktl no dia 16 de abril, de 1926, recebeu o nome de
Joseph Aloisus Ratnziger. Foi Cardeal e braço direito do Papa João Paulo II,
(hoje, S. João Paulo II). Pertencia a ala conservadora e era mestre em Teologia.
Na lista dos Papas que o antecederam ele é o 265º. Foi escolhido pelo Conclave
para o Papado com 78 anos em 19/04/2005.
Escreveu
várias obras e nos deixou grandes ensinamentos em suas Encíclicas, catequeses e livros.
Por
motivos de saúde e com idade avançada renunciou ao Papado no dia 28 de
fevereiro de 2013 e foi sucedido pelo Cardeal Jorge Mario Bergoglio que escolheu
o nome “Francisco”.
Como
último presente, seu Testamento Espiritual é seu último presente e suas
palavras uma catequese para nós. Que ao lermos possamos ser gratos a Jesus por ter
dado à sua Igreja esse pastor que cuidou e orientou seu rebanho enquanto pode
como “mestre da caridade” e por nos deixar seu exemplo de grande homem que foi sobretudo
no amor e no serviço à Igreja.
O
meu testamento espiritual
Se nesta tarda hora da
minha vida olho para as décadas que percorri, como primeira coisa vejo quantas
razões tenho para agradecer. Agradeço antes de tudo ao próprio Deus, o
dispensador de todo bom dom, que me doou a vida e me guiou através de vários
momentos de confusão; levantando-me sempre toda vez que começava a escorregar e
dando-me sempre novamente a luz da sua face. Retrospectivamente vejo e
compreendo que mesmo os trechos obscuros e cansativos deste caminho foram para
a minha salvação e que justamente neles Ele me guiou bem.
Agradeço aos meus pais,
que me doaram a vida num tempo difícil e que, a custa de grandes sacrifícios,
com o seu amor me prepararam uma magnífica morada que, com sua clara luz,
ilumina todos os meus dias até hoje. A lúcida fé de meu pai me ensinou a nós,
filhos, a crer, e como indicador sempre foi firme em meio a todas as minhas
aquisições científicas; a profunda devoção e a grande bondade de minha mãe
representam uma herança à qual jamais poderei agradecer suficientemente. Minha
irmã me assistiu por décadas de maneira desinteressada e com afetuoso cuidado;
meu irmão, com a lucidez dos seus juízos e a sua vigorosa determinação, sempre
me abriu o caminho; sem este seu contínuo preceder-me e acompanhar-me, não
poderia ter encontrado o caminho justo.
De coração agradeço a
Deus pelos muitos amigos, homens e mulheres, que Ele sempre colocou ao meu
lado; pelos colaboradores em todas as etapas do meu caminho; pelos mestres e os
estudantes que Ele me deu. Agradecido, confio a todos à Sua bondade. E quero
agradecer ao Senhor pela minha bela pátria nos pré-alpes bávaros, na qual
sempre vi transparecer o esplendor do próprio Criador. Agradeço às pessoas da
minha pátria, porque nelas pude sempre experimentar de novo a beleza da fé.
Rezo para que a nossa terra permaneça uma terra de fé e vos peço, queridos
compatriotas: não vos distraiais da fé. E finalmente agradeço a Deus por
todo o belo que pude experimentar em todas as etapas do meu caminho,
especialmente, porém, em Roma e na Itália, que se tornou a minha segunda
pátria.
A todos aqueles que de
algum modo tenha cometido um erro, peço perdão de coração.
Aquilo que antes disse
aos meus compatriotas, o digo agora a todos aqueles que na Igreja foram
confiados ao meu serviço: permanecei firmes na fé! Não vos deixeis confundir!
Com frequência, parece que a ciência – as ciências naturais de um lado e a
pesquisa histórica (em particular a exegese da Sagrada Escritura) de outro —
seja capaz de oferecer resultados irrefutáveis em contraste com a fé católica.
Vi as transformações das ciências naturais desde tempos remotos e pude
constatar como, ao contrário, tenham desaparecido aparentes certezas contra a
fé, demonstrando-se ser não ciência, mas interpretações filosóficas somente
aparentemente incumbentes à ciência; assim como, por outro lado, é no diálogo
com as ciências naturais que também a fé aprendeu a compreender melhor o limite
do alcance de suas afirmações e, portanto, a sua especificidade. São pelo menos
60 anos que acompanho o caminho da Teologia, em especial das Ciências Bíblicas,
e com o subseguir-se das várias gerações vi ruir teses que pareciam
inabaláveis, demonstrando-se serem simples hipóteses: a geração liberal
(Harnack, Jülicher ecc.), a geração existencialista (Bultmann ecc.), a geração
marxista. Vi e vejo como do emaranhado das hipóteses tenha emergido e emerja
novamente a razoabilidade da fé. Jesus Cristo é realmente o caminho, a verdade
e a vida — e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é realmente o Seu
corpo.
Por fim, peço humildemente:
rezem por mim assim que o Senhor, não obstante todos os meus pecados e
insuficiências, me acolher nas moradas eternas. A todos aqueles que me são
confiados, dia após dia, vai de coração a minha oração,
Benedictus PP XVI
29/08/2006
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