sábado, 15 de dezembro de 2018

A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA - como entender este dogma proclamado por Pio XII

No próximo dia 15 de agosto celebramos a solene festa da Assunção de Maria. O que significa?
Primeiro que saber o que significa a palavra dogma. 
Dogma quer dizer:

Dogma é um termo de origem grega que significa literalmente “o que se pensa é verdade”. Na antiguidade, o termo estava ligado ao que parecia ser uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina.
Posteriormente passou a ter um fundamento religioso em que caracteriza cada um dos pontos fundamentais e indiscutíveis de uma crença religiosa. Pontos inquestionáveis, uma verdade absoluta que deve ser ensinada com autoridade.
Além do cristianismo, os dogmas estão presentes em outras religiões como o judaísmo ou islamismo. Os princípios dogmáticos são crenças básicas pregadas pelas religiões, que devem ser seguidas e respeitados pelos seus membros sem nenhuma dúvida.

Os dogmas proclamados pela Igreja Católica devem ser aceitos como verdades reveladas por Deus através da Bíblia. São irrevogáveis e nenhum membro da Igreja, nem mesmo o Papa, tem autoridade para os alterar. São exemplos de dogmas a Existência de Deus e da Santíssima Trindade, Jesus Cristo é Filho Natural de Deus, a Virgindade e Assunção de Maria, entre outros.
A Igreja acredita e nós também acreditamos que Nossa Senhora, depois de viver e morrer aqui como todo mortal, mas, por ser privilegiada sem a mancha do pecado original, por conta disso, e pelos méritos da concepção divina e da Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, ela foi elevada ao Céu de corpo e alma e se encontra na glória de Deus coroada como Rainha, Mãe de Jesus e da Igreja e nossa Mãe.
Importante observar que Jesus nada pede para obedecermos a sua Mãe, mas ela pede que obedeçamos ao seu Filho, e portanto, como não recusar diante de tanto amor?
Jesus não tinha problemas em obedecer a Deus e sua Mãe, pois claramente que Ele tinha em conta sua missão aqui neste mundo assim como tinha em conta os planos de Deus com relação à sua Mãe. 

Ele demonstrou isso quando entregou-nos aos seus cuidados quando ao pé da Cruz Maria assume não agora ser só a Mãe de Jesus mas a mãe de toda humanidade que ora foi ali redimida pelo seu Filho.(Cf. Jo19, 25-27). São João nos diz que tendo Jesus na sua pessoa entregado Maria como nossa Mãe, ele a levou para sua casa. 
Por que nós muitas vezes temos medo de assumir Nossa Senhora como Mãe?
Por que não a acolhemos em nosso coração? Porque não fazer habitar em nossa casa esse amor à Maria, e, cujo nos traria grande amor a Jesus? 
  
Quanto essa segunda missão de Nossa Senhora, não é belíssima? Quem mesmo diante de tamanho sofrimento confiaria tal missão? Somente a sua Mãe. A maternidade de Maria não acabou no Calvário de Jesus, mas começou após com a continuação da missão da Igreja e com ela Maria Santíssima caminha e a assiste.
A nova missão de Nossa Senhora, a maternidade da Igreja, isto é ser mãe de todo povo cristão, não só na terra mas também no céu, confiada pelo próprio Cristo.

O ódio dos protestantes de hoje é porque eles tentam tirar de Maria um privilégio que não lhe foi dado pela Igreja, mas, foi dado por Jesus, pelo qual nada pode lhe tirar. "Ser a Mãe de Deus e dos homens!" esse é o Ministério de Maria  - Tentam acusar-nos de idolatria como se aceitássemos Maria como uma deusa, lugar que ela nunca pretendeu ocupar. Pelo contrário ela mesma se fez a "serva do Senhor". Lc1, 38. Colocando sua vida em total humildade e subserviência ao Pai sofrendo com ele na alma (como uma espada de dor conforme disse o sacerdote Simeão - Lc2, 34-35) também as dores do martírio e do calvário. Nunca quis se igualar a Deus porque sabia de sua condição de criatura, embora soubesse que era agraciada do Pai nunca se orgulhou disso mas sempre esteve submissa a Ele em tudo.
 
Mas ... que isso importa para Jesus se ele mesmo aceitou ser gerado por ela? - Nós pelo contrário aceitamos Nossa Senhora porque ela primeiro aceitou seu Filho e nos aceitou ao Pé da Cruz. Ela não é uma deusa mas, depois de Deus quem pode mais do que ela? Quem está mais junto de Deus?     

Sendo assim a infabilidade de Maria é que ela é a Mãe da Igreja tanto aqui na Terra quanto no Céu. E sua missão é atrair para Jesus todos os que a ela recorrem e não há nada mais satisfatório para Mãe de Jesus que levar seus filhos prediletos para o Pai. Nisso ela é perfeita,  nossa advogada e intercessora. 

A única missão de Maria é nos orientar e conduzir até o Pai. E para isso ela usa todo seu privilégio de Mãe para nos oferecer todas as graças possíveis. Então como não pode haver filho sem mãe, nós cristãos não podemos viver sem a maternal proteção de Nossa Senhora.
      
Celebrar esta belíssima solenidade é celebrar junto com a Mãe de Jesus e nossa a sua vitória sobre a morte e o pecado, pois ela mais que tudo cumpriu a vontade do Pai sendo Mãe, discípula e Mestra.
Maria passou pela morte assim como seu Filho Jesus. Mas a morte não a reteu assim como não reteu Jesus porque ele é Deus, senhor da vida e da morte. Portanto quis Deus que ela também gozasse do prêmio da Glória eterna  antecipadamente pelos méritos de Cristo. 
A diferença da Assunção de Maria e da Ascenção de Jesus:
Na Assunção de Maria ela foi levada pelos anjos, Maria não é deusa, é criatura de Deus, mas por vontade divina dotada de especial graça que jamais foi dada nenhuma outra criatura, e portanto, não tinha o poder próprio para subir ao Céu como Jesus. Então Deus mandou seus anjos vir buscá-la e introduzi-la na Glória Celeste. Isto é, Maria foi elevada, foi assunta ao Céu pelos Anjos do Senhor.

Ao passo que na Ascensão de Jesus Cristo, por ser Deus subiu ao Céu pelo seu próprio poder diante dos olhos dos Apóstolos junto de seus anjos. (Cf. At1, 9)

Deus Pai, tendo escolhido Maria para ser a mãe de seu Filho Unigênito Jesus, desde o início ela foi preparada para esta missão e o seu ventre incorruptível e santo concebeu o Verbo de Deus. Deus Pai a preservou com todo amor sua Filha predileta a fim de colaborar com a história da Salvação, a qual ela mesma por livre decisão aceitou ser a  Mãe do Filho de Deus. 
Embora fosse desde já escolhida e Deus a fizesse imaculada, não foi forçada a aceitar tal missão. No entanto, seu "Sim" a fez portadora da Salvação e a Arca da Nova Aliança ao qual Deus mesmo viria morar. O seu "Sim" generoso e amoroso fez com ela fosse a mais agraciada das crituras que jamais apareceu, pois, foi de Maria que veio nos veio a Salvação. Por isso, as palavras do Arcanjo Gabriel: "Ave cheia de graça!" - Sim! Maria é plena de graça e até hoje na eternidade ela possui este privilégio que não lhe fora tirado!
(Cf. Lc 1, 38)
Ela não agiu como Eva que desperdiçou essa graça sublime e lançou a humanidade ao pecado e à morte. Maria ao contrário, assumiu ser a portadora da vida e da Salvação e nela em seu seio santo e puro foi encarnado o Filho de Deus autor de todas as graças.
Maria foi agraciada, por isso a Igreja a chama de Bendita, como ela mesmo havia proferido: "Porque o Senhor  fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome, todas as gerações hão de chamar-me de bendita!" (Lc 1, 46-49)
Sim! Maria é bendita entre todas as mulheres, este título não foi dado por nós, mas, pelo próprio Deus. Como está no Evangelho de Lucas - (Lc 1, 26-28). E quando Maria visita Isabel ela é surpreendida pela frase de recepção: "Como posso ter a honra de receber em minha casa aquela que é a mãe do meu Senhor?" "Porque tão logo a tua saudação chegou em meus ouvidos a criança pulou de alegria em meu ventre..." (Cf. Lc 1, 39-45)
Chamada pelo anjo bendita e cheia de graça, porque Deus Pai a fez pura e santa. Mas também por vontade própria aceitou ser a mãe de Jesus, não foi forçada, se tornou Cor redentora da humanidade junto a Jesus. 

Toda a história da Salvação parte da Concepção Imaculada de Maria. O versículo 45 de Lucas 1, Isabel ressalta que em Maria havia de se cumprir o que fora revelado pelas Escrituras. No seio imaculado de Maria já estava o autor da Salvação.

A Igreja através dos bispos e dos santos padres e de todo povo de Deus mesmo antes da proclamação deste dogma de verdade e fé, muito antes desde os primórdios e na Idade Média já acreditava na Assunção de Maria Santíssima, pois, não basta aprofundar muito teologicamente para saber que Deus jamais permitiria que seu corpo imaculado fosse corroído pela terra. Então nada mais natural que Deus a preservasse da morte e da corrupção corporal? Ela que foi o primeiro sacrário de Jesus seu Filho.

Como lemos nos Evangelhos Jesus prometeu o Céu aos seus Apóstolos que eram pecadores, porque não adiantaria tal privilégio àquela que foi preservada da mancha do pecado, sua própria mãe? 
Deus a colocou na honra dos primeiros santos, ela gerou e criou seu Filho Unigênito lhe tiraria tal mérito? Claro que não!
Os críticos e os protestantes de hoje não aceitam esta realidade, por puro ato desprezível ao próprio Cristo que quis nascer e vir a este mundo nos salvar e escolheu não nascer de uma mulher qualquer, mas de uma mulher virgem, santa e pura. Não aceitam não por falta de teologia (já que os primeiros reformadores protestantes aceitavam este dogma e alguns deles nunca desprezaram a Virgem Santíssima) ou de estudos, mas, por puro egoísmo e preconceito. Nós sabemos que ela nos devolveu através da concepção divina a graça que nossos primeiros pais nos tiraram que foi a graça da Salvação, isto é de entrar no Paraíso novamente. 

Foi através dela e de nenhuma outra mulher que a Salvação entrou neste mundo e hoje querendo ou não, Católicos e protestantes são redimidos graças ao "SIM" amoroso de Maria.
Mas, voltando ao dogma da Assunção de Nossa Senhora, a Igreja através do Papa Pio XII declara: Maria Assunta (levada) ao Céu de corpo e alma. Vamos ler abaixo a declaração de Pio XII sobre a definição deste dogma:
  


CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII

MUNIFICENTISSIMUS DEUS

DEFINIÇÃO DO DOGMA DA ASSUNÇÃO
DE NOSSA SENHORA
 EM CORPO E ALMA AO CÉU

  
Introdução 

1. Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida os povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).


2. o nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios.


3. De fato, Deus, que desde toda a eternidade olhou para a virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande liberalidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da assunção corpórea da Mãe de Deus.


4. Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.


5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.


6. Quando se definiu solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da assunção corpórea da virgem Maria ao céu.


Petições para a definição dogmática

7. De fato, sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.

8. Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em muitas partes congressos marianos nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, também se encontrava a assunção da virgem Maria ao céu. E de ordinário a consequência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.

9. Acompanhavam os fiéis nessa piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a esta cadeira de S. Pedro semelhantes petições em número muito considerável. Quando fomos elevado ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.


10. Por esse motivo, ao mesmo tempo que dirigíamos a Deus intensas súplicas, para que concedesse à nossa mente a luz do Espírito Santo para decidirmos tão importante causa, estabelecemos normas especiais em que determinamos que se procedesse com todo o cuidado a um estudo mais rigoroso da matéria, e se reunissem e examinassem todas as petições relativas à assunção da santíssima virgem, enviadas à Sé Apostólica desde o tempo do nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, até ao presente.(1)

Consulta ao episcopado

11. Mas como se tratava de assunto de tanta importância e transcendência, julgamos oportuno rogar direta e oficialmente a todos os nossos veneráveis irmãos no episcopado, que nos quisessem manifestar explicitamente a sua opinião. Para tal fim, no dia 1° de maio de 1946, dirigimos-lhes a carta encíclica "Deiparae Virginis Mariae" em que fazíamos esta pergunta: "Se vós, veneráveis irmãos, na vossa exímia sabedoria e prudência, julgais que a assunção corpórea da santíssima Virgem pode ser proposta e definida como dogma de fé, e se desejais que o seja, tanto vós como o vosso clero e fiéis".


Doutrina concorde do magistério da Igreja

12. E aqueles que "o Espírito Santo colocou como bispos para reger a Igreja de Deus" (At 20, 28) quase unanimemente deram resposta afirmativa a ambas as perguntas. Essa "singular concordância dos bispos e fiéis" (2) em julgar que a assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus podia ser definida como dogma de fé, mostra-nos a doutrina concorde do magistério ordinário da Igreja, e a fé igualmente concorde do povo cristão - que aquele magistério sustenta e dirige - e por isso mesmo manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar. (3) De fato, esse magistério da Igreja, não por estudo meramente humano, mas pela assistência do Espírito de verdade (cf. Jo 14,26), e portanto absolutamente sem nenhum erro, desempenha a missão que lhe foi confiada de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas; e pelo mesmo motivo transmite-as sem contaminação e sem lhes ajuntar nem subtrair nada. "Pois - como ensina o concílio Vaticano - o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que, por sua revelação, expressem doutrinas novas, mas para que, com sua assistência, guardassem com cuidado e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja o depósito da fé". (4) Por essa razão, do consenso universal do magistério da Igreja, deduz-se um argumento certo e seguro para demonstrar a assunção corpórea da bem-aventurada virgem Maria. Esse mistério, pelo que respeita à glorificação celestial do corpo da augusta Mãe de Deus, não podia ser conhecido por nenhuma faculdade da inteligência humana só com as forças naturais. É, portanto, verdade revelada por Deus, e por essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer firme e fielmente. Pois, como afirma o mesmo concílio Vaticano, "temos obrigação de crer com fé divina e católica, todas as coisas que se contêm na palavra de Deus escrita ou transmitida oralmente, e que a Igreja, com solene definição ou com o seu magistério ordinário e universal, nos propõe para crer, como reveladas por Deus".(5)


Testemunhos da crença na assunção

13. Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente.


14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo.


15. Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra da assunção de nossa Senhora, e as imagens neles expostas à veneração dos fiéis, que mostram aos olhos de todos este singular triunfo da santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao especial patrocínio e proteção da assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos com o nome deste privilégio. Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu. 


Testemunho da liturgia

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".(6)

17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: "É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não pode ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor".(7)

18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. O Sacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, "inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem". E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: "Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação".(8)


A festa da Assunção

19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.(9) A festa já se celebrava com o nome de assunção da bem-aventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão.

(10) Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S. Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns "que... desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana".(11)


20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.


Testemunho dos santos Padres

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloqüência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração transpassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus".(12)


22. Condizem com essas palavras de s. João Damasceno as de muitos outros que afirmam a mesma doutrina. E não são menos expressivas, nem menos exatas, as palavras que se encontram nos sermões proferidos pelos santos Padres mais antigos ou da mesma época, ordinariamente por ocasião dessa festividade. Assim, para citar outro exemplo, s. Germano de Constantinopla julgava que a incorrupção do corpo da virgem Maria Mãe de Deus, e a sua assunção ao céu são corolários não só da sua maternidade divina, mas até da santidade singular daquele corpo virginal: "Vós, como está escrito, aparecestes 'em beleza'; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita".(13) Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: "A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só ele sabe".(14)


23. À medida que a festa litúrgica se foi espalhando, e celebrando mais devotamente, maior foi o número de bispos e oradores sagrados que julgaram de seu dever explicar com toda a clareza o mistério que se venerava nesta solenidade e mostrar como ela estava intimamente relacionada com as outras verdades reveladas.

Testemunho dos teólogos

24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura.


25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima.


26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.


27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres" (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva. 


Na teologia escolástica

28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta - nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. "Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos".(16)


29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação". E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".(17)


No período áureo

30. Quando, na Idade Média, a teologia escolástica atingiu o maior esplendor, s. Alberto Magno, para demonstrar essa verdade, apresenta vários argumentos fundados na Sagrada Escritura, na tradição, na liturgia e em razões teológicas, e conclui: "Por estas e outras muitas razões e autoridades, é evidente que a bem-aventurada Mãe de Deus foi assunta ao céu em corpo e alma sobre os coros dos anjos. E cremos que isto é absolutamente verdadeiro".(18) E num sermão pregado em dia da Anunciação de nossa Senhora, ao explicar aquelas palavras do anjo: "Ave, cheia de graça...", o doutor universal compara a santíssima Virgem com Eva, e afirma clara e terminantemente que Maria foi livre das quatro maldições que caíram sobre Eva.(19)


31. O Doutor Angélico, seguindo as pisadas do mestre, ainda que nunca trate expressamente do assunto, no entanto sempre que se oferece a ocasião fala dele, e com a Igreja católica afirma que o corpo de Maria juntamente com a alma foi levado ao céu.(20)


32. É da mesma opinião, entre outros muitos, o Doutor Seráfico, o qual tem como certo que, assim como Deus preservou Maria santíssima da violação do pudor e da integridade virginal ao conceber e dar à luz o seu Filho, assim não permitiu que o seu corpo se desfizesse em podridão e cinzas.(21) Aplica a santíssima Virgem, em sentido acomodatício, aquelas palavras da Sagrada Escritura: "Quem é esta que sobe do deserto, cheia de gozo, e apoiada no seu amado?" (Ct 8,5), e raciocina desta forma: "Daqui pode concluir-se que ela está ali corporalmente (na glória celeste)... Porque... a sua felicidade não seria plena se ali não estivesse em pessoa; ora a pessoa não é só a alma, mas o composto; logo é claro que está ali segundo o composto, isto é, em corpo e alma; de outro modo não gozaria de felicidade plena".(22)


Na escolástica posterior

33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo - semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus - exige absolutamente que Maria "só deva estar onde está Cristo".(23) Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é "como que uma experiência sensível" da assunção.(24)


Nos tempos modernos

34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".(25)

35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?"(26) E s. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".(27)


36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama "coluna e sustentáculo da verdade" ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: "Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico".(28)


37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: "Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras".(29) E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas. 


Fundamento escriturístico

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.


39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; lCor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, "quando... este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória" (1Cor 15,14).

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" (30) de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).


Oportunidade da definição

41. Considerando que a Igreja universal - que é assistida pelo Espírito de verdade, que a dirige infalivelmente para o conhecimento das verdades reveladas - no decurso dos séculos manifestou de tantas formas a sua fé; considerando que os bispos de todo o mundo quase unanimemente pedem que seja definida como dogma de fé divina e católica a verdade da assunção corpórea da santíssima Virgem ao céu; considerando que esta verdade se funda na Sagrada Escritura, está profundamente gravada na alma dos fiéis, e desde tempos antiquíssimos é comprovada pelo culto litúrgico, e concorda, inteiramente, com as outras verdades reveladas, e tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos estudos, sabedoria e prudência dos teólogos - julgamos chegado o momento estabelecido pela providência de Deus, para proclamarmos solenemente este privilégio insigne da virgem Maria.

 (42). Nós, que colocamos o nosso pontificado sob o especial patrocínio da santíssima Virgem, à qual recorremos em tantas circunstâncias tristes, nós, que consagramos publicamente todo o gênero humano ao seu imaculado Coração, e que experimentamos muitas vezes o seu poderoso patrocínio, confiamos firmemente que esta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.


43. E é para nós motivo de imenso regozijo que este fato, por providência de Deus, se realize neste Ano santo que está a decorrer, e que assim possamos, enquanto se celebra este jubileu maior, adornar com esta pedra preciosa a fronte da Virgem santíssima, e deixar um monumento, mais perene que o bronze, da nossa ardente devoção para com a Mãe de Deus.


Definição solene do dogma

44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".


45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.


46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.


47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.



Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.



Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi.


Assunção e a Dormição


A festa católica romana da Assunção é celebrada em 15 de agosto enquanto que os ortodoxos e católicos orientais celebram a Dormição de Maria (a Mãe de Deus "indo dormir") na mesma data, mas precedido de um período de 14 dias de jejum. Os ortodoxos acreditam que Maria teria tido uma morte natural, que sua alma foi recebida por Cristo após a morte, que seu corpo foi ressuscitado no terceiro dia após a morte (depois do túmulo ter sido encontrado vazio) e que ela foi corporalmente elevada aos céus numa antecipação da ressurreição dos mortos geral. "...a tradição ortodoxa é clara e firme sobre o ponto central [da Dormição]: a Santa Virgem passou, como seu Filho, pela morte física, mas seu corpo - como o d'Ele - foi posteriormente ressuscitado dos mortos e ela foi elevada ao céu, de corpo e, também, alma. Ela passou para além da morte e o julgamento, e vive plenamente na era que está por vir. A ressurreição do corpo... foi, no caso dela, antecipada e já é um fato consumado. Isto não significa, porém, que ela teria se desassociado do resto da humanidade e se colocado numa categoria diferente: pois todos nós esperamos compartilhar um dia desta mesma glória da ressurreição dos corpos que ela já usufrui".


Muitos católicos também acreditam que Maria primeiro morreu antes de ser assumida, mas eles acrescentam que ela foi milagrosamente ressurrecta antes do evento, enquanto que outros acreditam que ela foi assumida com seu corpo ao céu antes de morrer. Como já foi explicado, ambas as crenças são aceitáveis do ponto de vista da doutrina católica. Os católicos orientais, por exemplo, celebram a festa como "Dormição". Muitos teólogos notam como forma de comparação que, para a Igreja Católica, a Assunção foi dogmaticamente definida, enquanto que para os ortodoxos, a Dormição é menos dogmática e mais litúrgica e misticamente definida. Esta diferença é resultado de um padrão maior em ambas as tradições, pelo qual as doutrinas católicas geralmente são dogmaticamente definidas - em parte pela estrutura centralizada da Igreja Católica - enquanto que na Ortodoxia, muitas doutrinas tem uma carga menos "autoritativa".

Anglicanismo


Embora a Assunção de Maria não seja uma doutrina anglicana, a data de 15 de agosto é observada por alguns fieis como uma festa em honra a Maria. o "Livro de Oração Comum", nas versões da Igreja Episcopal Escocesa e da Igreja Anglicana do Canadá, marcam a data como "Dormição da Abençoada Virgem Maria". Na Igreja Episcopal dos Estados Unidos da América, a data é observada como "Feriado de Santa Maria, a Virgem". Na Igreja da Inglaterra, a data é um "Festival da Abençoada Virgem Maria". Em algumas igrejas da Comunhão Anglicana e parte do movimento "Continuando Anglicano", muitos anglo-católicos geralmente observam o feriado como sendo a festa da Assunção.

A afirmação conjunta da Comissão Internacional Anglicana-Católica Romana sobre a Virgem Maria atribui um lugar tanto para a Dormição quanto para a Assunção de Maria na devoção anglicana.

Protestantismo


O reformador protestante Heinrich Bullinger acreditava na Assunção de Maria. Seu polêmico tratado de 1539 contra a idolatria . expressou sua crença de que o sacrosactum corpus de Maria havia sido levado ao céu por anjos: "Hac causa credimus ut Deiparae virginis Mariae purissimum thalamum et spiritus sancti templum, hoc est, sacrosanctum corpus ejus deportatum esse ab angelis in coelum." 


Contudo, a maioria dos protestantes modernos não ensina e não acredita na Assunção de Maria, uma vez que eles não veem uma base bíblica para a doutrina. Embora a maior parte das igrejas do luteranismo não ensinem a Assunção de Maria, o dia 15 de agosto é uma festa menor em honra a "Maria, Mãe de Nosso Senhor", de acordo com o calendário luterano de santos.

Nós, cristãos católicos, não adoramos Maria, mas, damos a ela uma lugar especial de destaque como sendo a primeira Mulher, Mãe e discípula do seu Filho Jesus.
Ora, Deus a levou para o Céu e a preservou de todo pecado, após sua morte ela está no Céu porque o próprio Deus quis que ela nos assistisse e como o faz. Não podemos considerar como afirma os protestantes modernos que o corpo de Maria está dormindo esperando o Juízo final porque Maria foi preservada pura, livre do pecado, como poderia Deus julgá-la?
Também seria negar todo o próprio poder salvífico de Jesus que se não pudesse salvar sua própria Mãe como salvaria então a humanidade?
Logo, Maria está no ápice de toda a glória oferecida por Deus Pai, porque Deus assim a escolheu dentre todas as mulheres antes de todos os séculos, Maria já estava nos planos do Pai.
Maria não é deusa, seu poder de interceder por nós no Céu é do próprio Deus. Sabemos bem disso que ela embora seja a mais privilegiada das criaturas não tem poder algum pois não é uma deusa, nem é digna de adoração. Nem ela mesma não aceitaria tal ousadia de ocupar um lugar à frente do Criador e de seu Filho Jesus. Mas, depois de Deus quem pode mais é ela. Pois ela é portadora de todas as graças. Ela nos aponta Jesus seu filho, como nas Bodas de Caná, está sempre a nos dizer: "Fazei tudo o que Ele vos disser!" (Jo2, 5); atendendo ao pedido da Mãe, Jesus nada pode recusar.

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